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Representações dos alunos de 6º (ef) e do 3º anos (em) a respeito do edifício escolar de uma escola pública

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Revista Exitus Santarém, PA Vol. 5 N° 1 p. 38 – 48 Jan./Jun.2015 ISSN: 2237-9460

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REPRESENTAÇÕES DOS ALUNOS DE 6º (EF) E DO 3º ANOS (EM) A

RESPEITO DO EDIFÍCIO ESCOLAR DE UMA ESCOLA PÚBLICA

Fábio Luiz da Silva8 Fabiane Tais Muzardo9

RESUMO

Este artigo tem por objetivo analisar representações emitidas por alunos da rede pública de ensino sobre a estrutura física de sua escola localizada na cidade de Londrina, estado do Paraná. Para isto, utilizou-se de questionários previamente aplicados pela própria instituição que encontravam-se arquivados. Foram selecionados os questionários de alunos de sexto ano do ensino fundamental e do terceiro ano do ensino médio. Partiu-se do pressuposto teórico de que a arquitetura escolar influencia no processo de ensino-aprendizado. As respostas dos alunos apontam para uma estrutura física inadequada ao processo educativo, demonstrando que estes estão bastante conscientes da relação entre espaço físico escolar e ensino/aprendizagem.

Palavras-Chave: Escola pública. Arquitetura escolar. Ensino-aprendizagem.

REPRESENTATIONS ABOUT THE SCHOOL BUILDING FOR THE SIXTH GRADERS AND THE HIGH SCHOOL SENIORS IN A PUBLIC SCHOOL

ABSTRACT

Here it’s shown what the students from a public school represent when thinking of the physical estructure of their school located on Londrina, Paraná. For that, were used questionaries previously aplyied and filed in the schools. The sixth graders and high schoolers questionaries were chosen from the files. We started from the theorical assumption that the school architecture influences the learning process. The student’s answers point out an

8 Professor do Programa de Mestrado em Ensino da Unopar. E-mail: fls.londrina@yahoo.com.br. 9 Professora de História Moderna da Unopar. E-mail: biumuzardo@yahoo.com.br.

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inadequate physical structure for the learning process , showing that the students are well aware of the relation between the physical space and the learning.

Keywords: Public school. School architecture. Learning.

INTRODUÇÃO

Estamos acostumados a pensar na escola como uma abstração, quase esquecendo de sua dimensão material. Funari e Zarankin (2005) chamam nossa atenção para esta questão quando afirmam que a escola possui historicidade que pode ser estudada a partir da sua arquitetura. Neste caso, segundo estes autores, ela deve ser considerada um tipo de comunicação que nos permite compreender os discursos materializados nas paredes da escola. Neste mesmo sentido, estudando casos em diversos países, Burke e Grosvenor (2008) complementam esta ideia quando entendem que os edifícios escolares não podem ser vistos apenas como locais onde professores e alunos realizam aquilo que chamamos de educação, mas também como lugares que, em sua materialidade, projetam um sistema de valores.

No Brasil, Kowaltowski (2011) fez amplo estudo sobre a arquitetura escolar no Brasil. Através de minuciosa pesquisa, a autora discutiu as relações entre projeto arquitetônico – determinante do conforto ambiental – e as práticas pedagógicas. Considerando que a boa arquitetura manifesta-se através dos aspectos perceptivos dos edifícios, ela elaborou parâmetros para a avaliação da qualidade dos edifícios escolares. Paes (2008), que estudou os materiais de construção utilizados em escolas públicas, nos diz:

O processo educacional é fortemente influenciado pelas condições sanitárias e de conforto oferecidas pela edificação escolar a seus usuários. Condições insatisfatórias põem em risco não apenas a saúde, mas também o desempenho e a motivação tanto de alunos quanto de professores (2008, p. 157).

Com a mesma preocupação de Kowaltowski (2011), mas procurando descobrir os valores sociais comunicados pelos edifícios escolares, Sales (2000) estudou as representações sociais ligadas à arquitetura de 20 escolas das cidades de Teresina e Natal. Em sua pesquisa, o autor utilizou-se do conceito de cultura enunciado por John B. Thompson (1998), para quem a cultura é constituída pelos significados incorporados nas formas simbólicas, que podem ser ações, palavras ou objetos de todo tipo. Assim, Sales (2000) considerou os edifícios escolares como formas simbólicas, perspectiva teórica que também adotamos na pesquisa descrita neste

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artigo. A pesquisa realizada por ele constituiu-se em apresentar fotografias de diferentes edifícios escolares e verificar a opinião sobre a qualidade do ensino oferecido naqueles estabelecimentos. Após coletar as informações dos 240 sujeitos pesquisados, o pesquisador concluiu, entre outras coisas, que a aparência arquitetônica é determinante na constituição das representações sociais a respeito da qualidade de ensino em determinada escola. Em outras palavras, quanto melhor a aparência física da escola melhor deveria ser a educação oferecida, segundo a percepção dos entrevistados.

Seguindo um caminho semelhante, nosso estudo procurou compreender as representações comunicadas pela estrutura física de uma escola pública brasileira. Diferentemente de Sales (2000), que se utilizou de sujeitos externos às instituições escolares, contemplamos a opinião de alunos da escola estudada. Partimos do pressuposto que, sendo a arquitetura escolar um tipo de comunicação, ela pode facilitar ou dificultar o processo de ensino/aprendizagem. Concordamos, portanto, com Soares (2004) que fez ampla revisão da literatura sobre o efeito da escola no desempenho cognitivo dos alunos e concluiu que, no caso brasileiro, há muitas evidências de que melhorias na infraestrutura têm efeitos positivos no desempenho escolar.

METODOLOGIA

A escola pesquisada é o Colégio Estadual Professor José Aloísio Aragão, localizado na cidade de Londrina, estado do Paraná (Figura 1). Trata-se de uma escola que oferece ensino fundamental e médio, além de dois cursos profissionalizantes. A instituição possui três endereços diferentes, mas esta pesquisa refere-se ao edifício principal, localizado no centro da cidade. Neste espaço há 11 salas de aula onde estudam aproximadamente 1100 alunos, divididos em três turnos de aulas.

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41 Figura 1: Entrada do colégio. (Acervo dos autores)

A estrutura física da escola é composta basicamente de dois espaços separados para as salas de aula. O maior ocupa o primeiro e o segundo andares de um edifício onde, no térreo, funciona uma clínica odontológica ligada à universidade local. O menor é composto por quatro salas pré-fabricadas que ficam no térreo, ao lado do edifício maior. A escola possui ainda duas quadras cobertas. A construção do colégio é da década de 60 e, originalmente, o edifício foi planejado para receber os cursos superiores que funcionaram neste local até a construção do campus da Universidade Estadual de Londrina, na década de 70.

Os colégios de aplicação foram criados em todo o Brasil com o objetivo de fornecer aos futuros professores um lugar onde pudessem entrar em contato com o dia a dia das escolas. A ideia era aperfeiçoar a formação docente, preparando-os para uma atuação profissional mais eficiente. Tais colégios poderiam ser comparados aos escritórios de aplicação dos cursos de Direito ou a um hospital universitário. Além disso, os colégios de aplicação deveriam fornecer um local apropriado para a realização de pesquisas pedagógicas, que deveriam contribuir para a compreensão do processo educacional.

As fontes de informações para esta pesquisa foram questionários que a própria escola havia aplicado aos alunos. Estes documentos estavam arquivados e alguns deles foram por nós analisados. Quase todos os alunos responderam ao questionário, mas para esta pesquisa selecionamos aqueles produzidos pelos alunos dos sextos anos do ensino fundamental e dos terceiros anos do ensino médio. A decisão por este recorte deveu-se à intenção de verificar

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possíveis mudanças na forma de ver a estrutura escolar, uma vez que analisamos a opinião dos alunos que estavam começando e de alunos que estavam terminando sua estada na escola. O questionário aplicado constituía-se de duas perguntas: “Que escola temos” e “Que escola queremos”.

Foram considerados para esta pesquisa, 91 questionários referentes a três turmas de sextos anos e 159 questionários de cinco turmas de terceiros anos. A análise das respostas dos alunos foi realizada buscando localizar as expressões que comunicassem as representações que estes estudantes tinham a respeito do edifício escolar. Cabe ressaltar que o questionário permitia vários tipos de respostas e não apenas referentes ao edifício escolar. No entanto, comentários a respeito dos aspectos materiais da escola apareceram em muitos questionários.

A leitura atenta das respostas permitiu categorizá-las em quatro tipos: espaço físico, quando indicavam alguma espécie de espaço que era inadequado ou inexistente; condições

ambientais, referentes à ventilação, iluminação ou temperatura; mobilidade, que englobava as

condições de locomoção dentro da escola, inclusive com preocupação de acessibilidade;

manutenção das instalações, que se referia à limpeza, conservação e funcionamento das

estruturas físicas do edifício em questão. Evidentemente que tais categorias de análise estão intimamente relacionadas no cotidiano escolar e somente podem ser compreendidas a partir destas relações, inclusive com outras dimensões da realidade escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio da análise dos questionários foi possível perceber alguns pontos complementares no que diz respeito às queixas e desejos dos alunos. Em relação ao espaço

físico, podemos verificar que apesar de os alunos terem respondido um questionário amplo,

com as perguntas “Que escola temos” e “Que escola queremos”, as principais queixas referem-se ao espaço físico do colégio, com destaque para a falta de espaço. O interessante é que, mesmo em se tratando de alunos com faixas etárias significativamente diferentes, esta menção se fez presente demasiadas vezes nos dois casos analisados, o que deixa claro a importância do aspecto físico no ambiente escolar. Na análise a seguir são apresentados alguns exemplos das respostas dos alunos, identificados por “A6”, quando alunos do sexto ano e “A3”, quando alunos do terceiro ano.

Dos alunos do 3º ano do ensino médio, 51 destacaram que a infraestrutura do colégio é precária. “Estrutura precária, cadeiras e carteiras desgastadas, causando desconforto e dores

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lombares, poucos recursos, laboratórios pequenos” (A3). Kowaltowski (2011) aponta que o mobiliário é a maior queixa dos alunos e defende a necessidade de se adotarem móveis macios para as escolas. Esta expressão, contudo, não apareceu nos questionários preenchidos pelos alunos do 6º ano, provavelmente pelo fato de tal termo não fazer parte do vocabulário destes. Mesmo assim, estes alunos fizeram menção a aspectos da infraestrutura, como a idade da construção (1 aluno), o refeitório considerado pequeno (1 aluno), e os banheiros ruins (3 alunos). Entre os alunos do 3º ano, por sua vez, 2 responderam que os banheiros são ruins (Figura 2) e 6 disseram que a estrutura das salas de aula é inadequada. A opinião dos alunos parece reforçar a posição defendida por Kowaltowski de que as “[...] novas metodologias de ensino demonstram que os atuais ambientes de ensino devem possibilitar maior variedade de configurações de aprendizagem” (2011, p. 175). Por outro lado, 5 alunos do fundamental e 3 do ensino médio responderam que a escola possui uma boa infraestrutura. Percebe-se, neste caso, uma contradição nos questionários analisados: enquanto a maior parte posicionou-se de forma negativa em relação aos aspectos estruturais, 8 alunos apontaram aspectos positivos sobre a arquitetura da escola. Ao responderem sobre a “Escola que queremos”, 63 alunos do 3º ano disseram que desejam uma infraestrutura melhor, sendo este o ponto mais mencionado por eles. Novamente, percebe-se a importância da arquitetura escolar, nosso objeto de análise.

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Apesar das constantes críticas ao espaço físico, tanto no que diz respeito aos ambientes existentes quanto aos inexistentes, apenas 3 alunos do 3º ano disseram desejar uma escola mais bonita, e somente 1 disse que a cor atual da escola é feia. Dentre os alunos do 6º ano, por sua vez, 2 disseram achar a escola bonita. Note-se, dessa forma, uma nova contradição entre o que é considerado bonito, e entre as duas turmas; além de uma maior importância dada à necessidade e praticidade dos ambientes do que as características puramente estéticas.

Nos questionários, o problema da falta de ambientes adequados é ressaltado tanto sobre as salas de aulas como aos espaços extra-sala. Do ensino médio, 7 alunos reivindicaram mais áreas de lazer, uma vez que a escola, além de possuir uma área bastante limitada (Figura 3), foi perdendo espaço para o COU, um dos departamentos da universidade local, que, como já mencionado, divide este endereço com o colégio. Kowaltowski (2011) também indica a existência e o planejamento de espaços livres (pátios) como essenciais para a qualidade e humanização do ambiente escolar.

Figura 3: Pátio destinado aos alunos; apenas as salas à esquerda são do colégio. (Acervo dos autores)

Sete alunos também escreveram sobre o desejo de estudar em salas melhores, e 1 mencionou a falta de sala de aula própria para a disciplina de Artes. No 6º ano, 5 alunos escreveram sobre o desejo de a escola possuir um refeitório maior. Sobre a inexistência de cantina, a menção se fez presente em ambos os anos: 8 alunos do 6º ano e 9 do 3º ano do ensino médio se posicionaram favoráveis a instalação deste ambiente. Tanto a necessidade de espaços

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apropriados para as aulas de artes – de todas as modalidades – quando de se repensar os refeitórios escolares são apontadas por Kowaltowski (2011).

Em referência às condições ambientais, o destaque foram os problemas referentes à ventilação e à iluminação deficientes, apesar de não mencionada no “A escola que temos”, foi inúmeras vezes lembrada nas respostas referentes “A escola que queremos”. Do 6º ano, 12 alunos escreveram sobre a necessidade de instalação de aparelhos de ar condicionado; enquanto 3 do ensino médio também ressaltaram este aspecto. “Com mais ventiladores ou com ar condicionado [...]” (A6), “Sem espaço, sem estrutura. As salas são horríveis, no inverno são muito geladas. As pré-fabricadas no verão são muito quentes e no inverno, geladas” (A3) (Figura 4). Novamente, acredita-se que estes alunos pensaram de forma mais ampla ao utilizarem a expressão “estrutura melhor”, a qual apareceu 63 vezes. A iluminação e a ventilação são objetos de três parâmetros de uma boa escola, segundo Kowaltowski (2011), que enfatiza a importância do uso da luz natural sempre que possível.

Figura 4: Sala de aula pré-fabricada. Pé direito baixo. (Acervo dos autores)

A mobilidade, também ligada à questão do espaço, foi elemento destacado pelos alunos. Do ensino médio, 11 alunos criticaram de forma enfática a falta de acessibilidade no colégio, o qual, dentre outros fatores, é repleto de escada e 10 também ressaltaram esse aspecto quando questionados sobre a escola que queremos. “[...] o nosso colégio deixa muito a desejar na questão estrutural e nos materiais oferecidos aos alunos; as salas, as carteiras, cadeiras e a

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merenda são de péssima qualidade, há muitos anos o prédio não recebe uma reforma e a acessibilidade é nula” (A3). O termo ‘acessibilidade’ não apareceu nos questionários dos alunos do 6º ano, mas a dificuldade de mobilidade e locomoção foi mencionada de outras formas, com críticas ao excesso de escadas, sendo que 10 alunos inclusive escreveram sobre a necessidade de um elevador na escola. “[...] com pouca ventilação e com muitas escadas [...]” (A6) (Figura 5). A ausência do termo ‘acessibilidade’ deve ter ocorrido pelo fato de tal expressão também não fazer parte do vocabulário destes alunos, ainda em fase inicial de formação.

Figura 5: Escadas. (Acervo dos autores)

Sobre esta questão, Kowaltowski afirma,

Para equiparação nas possibilidades de uso, deve-se impedir a segregação por meio do uso de elementos arquitetônicos que permitam o acesso ao ambiente para diferentes pessoas, com diferentes equipamentos para a circulação, como rampas, elevadores e plataformas colocadas nos lugares mais apropriados para o percurso; [...] pela inclusão das diversas formas de comunicação existentes como mapas táteis, pictogramas, sinalização sonora, informações em Braille (2011, p. 199).

Sobre a questão da manutenção das instalações, o destaque foi o aspecto da limpeza. Do 6º ano, 23 alunos disseram que desejam uma escola mais limpa; 2 alunos do 3º ano também fizeram menção a isto. Também do 6º ano, 7 alunos mencionaram a precariedade do estado de conservação de equipamentos como portas, janelas e luzes. “Uma escola ruim, as janelas são

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muito sujas, a TV não presta, a porta não tranca, a merenda não é muito boa, as cadeiras estão ruins, os ventiladores ficam fazendo barulho, as tomadas não prestam, o dia que chove a quadra alaga [...]” (A6). Tal ponto não foi abordado pelos alunos do ensino médio, contudo, acredita-se que estes alunos tenham feito referência a estes equipamentos ao utilizar a expressão “infraestrutura precária”, que apareceu 51 vezes. Apesar desse aspecto não ter sido elencado nos parâmetros sugeridos por Kowaltowski (2011), a autora reconhece que sem manutenção regular mesmo um bom projeto não funcionaria.

CONCLUSÃO

No início da discussão, afirmamos, citando Burke e Grosvenor (2008), que os edifícios escolares não são meros lugares diariamente frequentados por professores e alunos, visto que estes espaços projetam um sistema de valores. Estes valores, dentre outros aspectos, são representados por meio da forma como os alunos percebem o ambiente escolar.

Ao verificar que 18 alunos do 6º ano disseram desejar uma escola mais limpa, quando questionados sobre “A escola que queremos”, temos um exemplo significativo desta simbologia, afinal, em uma turma cuja faixa etária é de aproximadamente 11 anos, mais alunos escreveram sobre a limpeza da escola do que sobre o desejo de possuir uma quadra poliesportiva maior (somente 3 alunos fizeram esta menção). As queixas e desejos dos alunos representam um sistema educacional que pouco valoriza o ambiente escolar e, por consequência, os alunos e professores também. Apesar da diferença na forma de expressar as opiniões, podemos considerar que há consenso entre os alunos investigados de que a escola não contempla os aspectos físicos que deveriam existir e que sua manutenção também não é adequada.

Considerando que se trata de um colégio de aplicação, poderíamos supor que o ambiente escolar fosse o mais adequado possível, de maneira a motivar alunos e professores, tal como sugere Paes (2008). No entanto, não é isto que a percepção dos alunos revela. Esta realidade tem uma importância muito grande, pois, a “[...] arquitetura escolar é suporte material e simbólico do ensino e também se realiza no significado que o usuário vai lhe atribuindo durante o uso desta arquitetura” (GONÇALVES, 1999, p. 47).

Temos, de modo geral, uma tendência a relacionar o aprendizado somente aos livros e à aula ministrada, sem dar a devida importância aos aspectos arquitetônicos em questão, vistos, muitas vezes, como supérfluos. O fato de os próprios alunos, em um questionário amplo, em que poderiam ter abordado quaisquer perspectivas, terem destacado as questões estruturais

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põem esta análise em xeque e valida ainda mais a teoria defendida por Salles (2000), de que a arquitetura escolar pode facilitar e/ou dificultar o processo de ensino-aprendizagem.

Recebido em: Fevereiro de 2014 Aceito em: Setembro de 2014

REFERÊNCIAS

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FUNARI, P. P.; ZARANKIN, A. Cultura material escolar: o papel da arquitetura. In: Revista

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GONÇALVES, R. de C. A Arquitetura escolar como direito desigual à educação. In: Ponto de

Vista, v.1, n.1, jul./dez., 1999. Disponível em: <

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KOWALTOWSKI, D. C. C. K. Arquitetura escolar: o projeto do ambiente escolar. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.

PAES, R. F. de S. Materiais de construção e acabamento para escolas públicas na cidade

do Rio de Janeiro: uma reflexão sob critérios de sustentabilidade. 2008. 183f. Dissertação

(Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008. SALES, L. C. O Valor simbólico do prédio escolar. Teresina: Edufpi, 2000.

SOARES, J. F. O Efeito da escola no desempenho cognitivo de seus alunos. In: Revista

Electrónica Iberoamericana sobre Calidad, Eficacia y Cambio en Educación, v. 3, n. 2,

2004. Disponível em: < http://www.ice.deusto.es/RINACE/reice/vol2n2/Soares.htm>. Acesso em: 24 de nov. de 2013.

Imagem

Figura 2: Banheiro masculino. (Acervo dos autores)
Figura 3: Pátio destinado aos alunos; apenas as salas à esquerda são do colégio. (Acervo dos autores)
Figura 4: Sala de aula pré-fabricada. Pé direito baixo. (Acervo dos autores)
Figura 5: Escadas. (Acervo dos autores)

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