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Quem escreve e quem fotografa nos meios de comunicação: os desafios multitarefa para a “geração multimédia”

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Academic year: 2020

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Sara Isabel Silva Lopes

Quem escreve e quem fotografa

nos meios de comunicação: os desafios

para a “geração multimédia”

Sa ra Isabel Si lva Lopes Outubro de 2018 UMinho | 2 01 8 Quem esc re ve e quem fo to gr af

a nos meios de comunicação:

os desafios multi tasking pa ra a “ ge ração multimédia”

Universidade do Minho

Instituto de Ciências Sociais

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Outubro de 2018

Relatório de Estágio

Mestrado em Ciências da Comunicação

Área de Especialização em Informação e Jornalismo

Trabalho efetuado sob a or ientação do

Professor Doutor Joaquim Manuel Martins Fidalgo

Sara Isabel Silva Lopes

Quem escreve e quem fotografa nos meios

de comunicação: os desafios multitarefa

para a “geração multimédia”

Universidade do Minho

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Declaração

Nome: Sara Isabel Silva Lopes

Endereço eletrónico:

saralopes_95@live.com.pt

Número do Cartão de Cidadão: 14774684

Título do Relatório/ Dissertação: Quem escreve e quem fotografa nos meios de

comunicação: os desafios

multitasking

para a “geração multimédia”

Orientador: Professor Doutor Joaquim Manuel Martins Fidalgo

Ano de conclusão: 2018

Designação do Mestrado: Mestrado em Ciências da Comunicação-

Especialização em Informação e Jornalismo

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO DE ESTÁGIO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE

Universidade do Minho, __ de __________________________ de ________

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Agradecimentos

À família de sangue e de coração: aos meus pais, à Maria, ao Sandro, ao Rui, à Tina, à Rita e à Luísa,

Ao professor Joaquim Fidalgo,

Aos jornalistas do Público, em especial ao Abel Coentrão, Ao grande camarada Pedro Esteves.

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Quem escreve e quem fotografa nos meios de comunicação: os desafios

multitasking

para a “geração multimédia”

Resumo

Cada vez mais os estudantes de Ciências da Comunicação saem das universidades preparados para saber fazer de tudo um pouco. Quando anteriormente se privilegiava a especialização, agora torna-se necessário dominar praticamente todas as linguagens e suportes do jornalismo, incluindo o vídeo e a fotografia. A verdade é que existe cada vez mais uma forte aposta no jornalismo multimédia, devido à presença das tecnologias de informação e comunicação, que vieram pôr em questão a forma como se fazia jornalismo. Como consequência, há novos profissionais que acabam o seu percurso académico capacitados para produzir peças escritas, fotográficas ou em vídeo, quer seja pela formação que receberam nas instituições de Ensino Superior ou por instrução que procuraram autonomamente.

No entanto, constata-se que essa mudança de paradigma ainda não se transpôs para todos os meios de comunicação empregadores. Nesse sentido, e a partir da experiência de estágio, o presente Relatório procura compreender porque é que existe uma barreira entre fotojornalistas e jornalistas e porque é que muitos meios de comunicação não aceitam que os seus profissionais façam ambas as coisas, se forem capacitados para tal. Para isso, são apresentadas características do jornalismo multimédia, utilizando como pontos de ligação algumas características do

fotojornalismo e do jornalismo impresso, bem como uma investigação sobre as razões que levam os jornais a aceitar ou não profissionais que produzam simultaneamente fotografia e texto. Essa investigação consiste em entrevistas feitas a jornalistas, a fotojornalistas, a profissionais que façam as duas coisas, a editores de fotografia e a diretores das seguintes publicações: Público, Revista Rua e Jornal de Barcelos.

Palavras- chave: jornalismo multimédia, jornalismo

multitasking, evolução do paradigma

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Who writes and who photographs in the media: the multitasking

challenges for the “multimedia generation”

Abstract

Nowadays, more and more students of Communication Sciences leave the universities

prepared to know how to do everything a little. When previously the specialization was privileged, it now becomes necessary to dominate practically all the languages and products of journalism, including video and photography. The truth is that there is a strong bet in Multimedia Journalism, due to the presence of information and communcation technologies, which put into question the way in which journalism has been done. As a consequence, there are new professionals who finish their academic degree able to produce written, photographic or video pieces, either by the training they received in higher education institutions or by instructions that they seek autonamously.

However, it is noted that this paradigm shift has not yet transpired for all media employers. In this sense, and reflecting from the internship experience, this report seeks to understand why there is a barrier between photojournalists and journalists and why many media do not accept that their professionals do both jobs, if they are trained to do so. For this, characteristics of multimedia journalism are presented, using as points of attachment some characteristics of photojournalism and printed journalism, as well as an investigation into the reasons why media companies accept or not professionals who simultaneously produce photography and text. This research consists of interviews with journalists, photojournalists, professionals who do both things, photo editors and publishing editors from Público, Revista Rua e Jornal de Barcelos.

Key words: Multimedia Journalism, Multitasking Journalism, evolution of journalistic

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Índice

Introdução ... 1

Primeira Parte: O Estágio ... 3

I. Learn by doing (Aprende-se, fazendo-se) ... 3

1.1) A minha experiência ... 3

1.2) O Público ... 4

1.2.1) Informações gerais ... 6

II. Uma realidade diferente durante três meses ... 7

2.1) À segunda é de vez ... 7

2.2) O voltar a um tema familiar: acesso às fontes de Informação ... 9

2.3) Um comediante e uma viagem de metro: como definir o ângulo de uma história ... 11

2.4) Takes da LUSA: o papel importante das agências noticiosas ... 15

2.5) Uma notícia de última hora: a necessidade de simplificar informação ... 18

2.6) As diferentes secções: a polivalência do jornalista ... 19

2.7) Considerações finais: um jornal em papel que não funciona sem fotografias ... 24

Segunda Parte: O jornalismo multitasking ... 29

I. Enquadramento teórico ... 29

1.1) A evolução do jornalismo: o online ... 29

1.1.1) Modelos de jornalismo online ... 31

1.1.2) O caso português ... 33

1.2) O fenómeno da convergência nos meios de comunicação ... 39

1.2.1) O jornalismo multimédia ... 42

1.3) Mudanças no perfil do jornalista: a polivalência ... 44

1.4) A crise nos media e os prós e contras da convergência ... 51

II. Investigação Empírica ... 55

2.1) A questão de investigação... 55

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2.3) Metodologia ... 55

2.3.1) A amostra ... 57

2.3.2) Guião da entrevista semiestruturada ... 59

2.4) Resultados ... 61

2.4.1) Em que fase do jornalismo online nos encontramos? ... 61

2.4.2) Mudanças na redação: ainda se deve pensar só em fotografia e texto? ... 64

2.4.3) O jornalista multitasking é bem-vindo? ... 66

2.4.4) O que leva os jornais a contratar jornalistas multitasking? ... 70

2.4.5) Quais as vantagens e desvantagens do jornalista multitasking? ... 72

2.4.6) O que é que isto significa para os jornalistas? ... 77

III. Considerações finais ... 79

Bibliografia ... 85

Anexos ... 89 1. Câmara de Braga não promete manter interior do Cinema S.Geraldo

2. Diogo Faro está “Na Boa” porque em Portugal “um gajo desenrasca”

3. Em dia de promoções, houve enchente na nova estação do Outlet e MarShopping acaba com transporte gratuito

4. A Bazuuca de Braga que entrou a matar 5. Um hotel moderno no Porto tradicional

6. Lista de links dos trabalhos realizados durante o período de estágio 7. Entrevistas: jornal Público

Diretor: Manuel Carvalho Diretor-adjunto: David Pontes

Diretor- adjunto e responsável P3: Amílcar Correia Editor fotografia: Manuel Roberto

Jornalista Público: Abel Coentrão Jornalista P3: Renata Monteiro Fotógrafo: Adriano Miranda 8. Entrevistas: revista Rua

Diretora: Andreia Ferreira e Editor de fotografia: Nuno Sampaio Jornalista: Maria Inês Neto

Colaborador: Rita Almeida 9. Entrevistas: Jornal de Barcelos

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iii Diretor: Paulo Vila

Editor de Fotografia: Eduardo Morgado Colaborador 1: Cristina Barbosa Colaborador 2: Gonçalo Costa

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Introdução

Este Relatório surge na sequência de um estágio curricular, com duração de três meses, realizado na redação do jornal Público, na delegação do Porto, em 2017, no âmbito da unidade curricular “Estágio” do Mestrado em Ciências da Comunicação - ramo profissionalizante de Informação e Jornalismo - da Universidade do Minho. Durante três meses, de 17 de Julho a 17 de Outubro, pude experienciar e aprender como é o dia-a-dia de um jornalista e o funcionamento da redação do jornal Público. Decorrente disso, essa experiência inspirou uma reflexão sobre o futuro do papel do jornalista. Centrando o debate nas mudanças que ocorreram com a chegada do jornalismo multimédia e do jornalismo online, procura-se estudar o novo papel do jornalista, enquanto ser capaz de produzir peças em vários formatos, sejam escritos, fotográficos, videográficos ou

infográficos e como essas capacidades são ou não utilizadas pelos meios de comunicação. Assim, este Relatório irá ser dividido em duas partes, sendo que na primeira será apresentada uma análise reflexiva do período de estágio, que por sua vez irá conduzir à segunda parte, onde se pretende investigar o que leva os media a apostarem ou não em jornalistas multitasking e o que isso implica para os novos profissionais.

É certo que este não é um problema recente. A precariedade da profissão, a diminuição da venda dos jornais em papel, a cada vez mais crescente presença da informação grátis online e a crise económica vieram alterar o modelo de negócio do jornalismo. Com chegada do jornalismo

multimédia, cada vez mais os empregadores deixaram de dar tanta importância à especialização e começaram a escolher o profissional que sabia fazer de tudo um pouco. No entanto, apesar de esta ser uma realidade muito presente, a verdade é que nem todos os meios, como é o exemplo do Público, escolheram adotar essa nova prática.

Mesmo sabendo que corro o risco de não trazer novas conclusões para esta problemática, considerei importante, ainda assim, abordar esta temática por um motivo muito pessoal. Enquanto aluna de Ciências da Comunicação, quer durante a licenciatura na Universidade Católica Portuguesa, quer durante o mestrado na Universidade do Minho, sempre tive presente o meu ambivalente interesse tanto pelo texto como pela fotografia. Como gostaria de poder conciliar os dois formatos no futuro, razão que me levou a escolher o Público tal como irei explicar mais adiante, considerei relevante entender os motivos por detrás das escolhas feitas pelos meios de comunicação.

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Este Relatório, baseado na experiência concreta de três meses de trabalho numa redação, conduz, dessa forma, a uma questão de investigação que irá ser esmiuçada na segunda parte do presente documento: Até que ponto é que, atualmente, um novo profissional da comunicação,

que esteja capacitado para produzir simultaneamente peças em vários formatos (texto e fotografia), é chamado a utilizar essas competências no local de trabalho?-

Esta investigação tem como objetivos permitir compreender a evolução do jornalismo na era das novas tecnologias da informação e comunicação, perceber as principais mudanças na redação com o advento da convergência, analisar a emergência do jornalista “multitasking” e do jornalista “backpack”, perceber porque é que alguns meios de comunicação aceitam profissionais que produzam fotografia e texto e outros não, avaliar as vantagens e desvantagens de ter profissionais a produzir tanto fotografia como texto e compreender qual é o perfil do jornalista que os meios procuram.

Na Primeira Parte, o ponto I inicia-se com uma breve nota biográfica, na qual é explicada a razão pela qual eu escolhi o jornal Público como local de estágio, assim como uma pequena descrição do jornal. De seguida, no ponto II, são relatados alguns momentos dos quais pude retirar lições valiosas para o futuro enquanto jornalista. Finda essa descrição, começa a Segunda

Parte, a qual inclui uma pequena investigação teórica e empírica. No ponto I, com base na

literatura especializada, procura-se perceber a evolução do jornalismo, desde o aparecimento do jornalismo online até à presente crise dos media, passando pelo desenvolvimento do jornalismo multimédia e pelo fenómeno da convergência. Para além disso, serão ainda tidas em

consideração a necessidade de os profissionais diversificarem as suas competências, a emergência do jornalista multitasking e do jornalista “backpack”, não esquecendo os aspetos positivos e negativos da autonomia profissional. Feita a revisão da literatura e a contextualização do tema a investigar, o ponto II vem trazer a vertente mais empírica do Relatório, com o recurso a três estudos de caso: o Público, a Revista Rua e o Jornal de Barcelos. Nessa parte serão então apresentadas e analisadas uma série de entrevistas feitas a jornalistas, editores e diretores dos meios de comunicação previamente referidos. Por fim, serão delineadas as considerações finais no ponto III.

Em anexo, encontram-se as transcrições das entrevistas, bem como uma lista com os links para todos os trabalhos realizados durante os três meses de estágio.

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Primeira Parte: O Estágio

I.

Learn by doing (Aprende-se, fazendo-se)

1.1) A MINHA EXPERIÊNCIA

Tal como a maioria dos jovens, nem sempre soube o que queria fazer, profissionalmente falando. Quando me decidi pelo jornalismo, por volta dos 17 anos, tinha consciência que era uma

profissão um tanto ou quanto arriscada de perseguir. No entanto, isso não me demoveu. Ingressei em Ciências da Comunicação, na Universidade Católica Portuguesa, com um interesse pelo fotojornalismo já presente. Inocentemente, pensava que fotojornalismo conciliava fotografia e jornalismo, duas áreas de que gostava. Com o decorrer da licenciatura, fui percebendo que um fotojornalista não fazia as duas coisas- texto e foto. Era apenas um “fotógrafo” que tirava

fotografias para os jornais. Apesar de esta noção me ter desanimado na altura, não foi o suficiente para me fazer desistir. Assim, tomei a decisão de continuar a minha formação nas duas áreas - em fotografia e em jornalismo - com a esperança de um dia poder conciliar as duas.

Mesmo tendo noção da falta de formação em fotografia, na altura de escolher um local de estágio de licenciatura em 2016, decidi candidatar-me à Global Imagens, no Porto. Foram três meses de muita aprendizagem na área do fotojornalismo que, para além de melhorar as minhas

capacidades técnicas e profissionais, me permitiram perceber o funcionamento de um jornal nacional como o Jornal de Notícias. Pode parecer irrelevante, mas essa visão veio influenciar a minha escolha pelo jornal Público para um novo estágio curricular, desta vez já no âmbito de mestrado.

Terminada a licenciatura, e tendo em vista o meu desejo de continuar a minha especialização nas duas áreas, candidatei-me ao mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade do Minho, ao mesmo tempo que fazia um curso profissional de fotografia no Instituto Português de

Fotografia, no Porto. Quando chegou a altura de escolher um local de estágio novamente, sabia que a minha escolha iria recair sobre um meio que tivesse redação na cidade do Porto, de forma a poder conciliar as aulas com o estágio, e que fosse dentro da área do jornalismo impresso, tendo já em vista o meu ideal de futuro profissional.

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Como não é fácil encontrar um local de trabalho onde tenha de produzir texto e fotografia, há já algum tempo que tenho considerado uma vertente mais freelancer do jornalismo. Assim, tendo em conta que já tinha realizado um estágio em fotojornalismo, que estava a receber a formação académica nessa área e que já tinha formação na área de jornalismo, estava na altura de realizar um estágio em jornalismo impresso. Ao inicio ainda ponderei o Jornal de Noticias por ser uma realidade que já conhecia e com a qual estava, em certa medida, familiarizada. No entanto, a minha escolha final voltou-se para o Público por considerar um jornal com uma melhor “escola” para me dar.

Assim, tendo por base o lema britânico “learn by doing”, incutido em mim durante o programa Erasmus em Manchester, que realizei durante a licenciatura, preparei-me para o estágio. Em Julho de 2017, decidida e motivada por poder estagiar num jornal de referência nacional, iniciei a minha pequena caminhada de três meses no Público, com a certeza de que iria pôr em prática muitos dos conhecimentos que tinha aprendido na sala de aula e que iria adquirir novos.

1.2) OPÚBLICO

A experiência do jornal Público começou ainda antes de se iniciar o estágio. Cerca de dois meses antes, eu e mais três colegas fomos convidados a passar pela redação no Porto para uma entrevista. Como fomos quatro, pensamos que dificilmente iriamos ficar todos, trazendo esse facto, consequentemente, um sentimento nervoso. Eu sabia que os meus colegas tinham escolhido o Público porque era o jornal que eles costumavam ler e conheciam, ao passo que eu só ia lendo notícias no site do jornal esporadicamente. Portanto, quando surgiu a pergunta do “porquê o Público?”, o nervosismo aumentou. Admitindo logo à partida que o motivo da minha escolha pelo jornal era diferente do dos meus colegas, apontei que a decisão tinha sido tomada com base num desejo do futuro: quero ser capaz de produzir bons trabalhos com texto e

fotografias e o Público é a melhor escolha para complementar as minhas competências a nível de escrita. Em tom de aprovação da resposta e considerando-a irreverente, o entãoeditor executivo do jornal, Amílcar Correia, responsável pela entrevista, aceitou-me a mim – e aos meus colegas- para estágio, dizendo-me que talvez fosse possível incluir alguma fotografia durante a minha estadia no Público. Tal acabou por não acontecer, pelo menos não da forma que o editor Amílcar Correia sugerira, mas conduziu-me, de certa forma, ao tema do presente Relatório de estágio, facto que irá ser abordado mais adiante.

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Antes de passar à descrição propriamente dita da experiência de estágio, bem como das funções que desempenhei, vou apresentar algumas informações relevantes sobre a instituição que me recebeu - o Público, mais propriamente a delegação do Porto.

Estava previsto que a primeira edição do Público fosse para a rua a 2 de Janeiro de 1990. Meses antes, quando o jornal ainda não passava de um emaranhado de ideias e folhas, um grupo de jornalistas, composto por Vicente Jorge Silva, Joaquim Fidalgo, Jorge Wemans, José Manuel Fernandes, Nuno Pacheco, José Vitor Malheiro, José Queirós e Augusto M. Seabra, tinha como ideal criar uma publicação diferente de tudo o que existia na altura em Portugal. O objetivo passava por fazer um jornal que se equiparasse aos principais títulos internacionais de referência. O sonho concretizou-se três meses depois do previsto. O Público chegou aos portugueses a 5 de Março de 1990.

Para o conseguir, os jornalistas começaram por apresentar a ideia do jornal a Francisco

Balsemão, que decidiu não levar o projeto adiante, e depois a Belmiro de Azevedo (presidente do grupo Sonae) que decidiu investir nela. Segundo Nuno Pacheco, Belmiro de Azevedo queria investir num jornal, na altura, e até tinha pensado comprar o Comércio do Porto, publicação que lia. “Depois achou graça também a um projeto completamente novo e vindo de uns rapazes, na altura, que lhe disseram ‘Nós queremos fazer um jornal que corte com tudo o que existe’”, afirmou Nuno Pacheco na conversa “Público: passado e futuro”, que decorreu no Hard Club, no Porto, a 3 de Março de 2018, em jeito de celebração pelos 28 anos do jornal.

“Nós tínhamos um projeto feito, mais ou menos delineado, com 130 mil caracteres, em 75 páginas. Tudo aquilo era papel e ideias. A partir do momento em que houve dinheiro e avançamos com o resto, materializamos aquilo. Mas de uma maneira completamente louca. Avançamos para a criação de uma redação em Lisboa e outra no Porto, a tal ideia de aproximar as cidades. Por outro lado, havia também o como se vai montar? Houve as maiores dificuldades e peripécias. Na altura, andamos a apalpar terreno para pôr em prática a extraordinária ideia de ter o melhor jornal. Conseguimos pôr na rua um jornal que desafiou toda a imprensa, por causa da nossa ousadia e loucura de tentar fazer um jornal de referência tabloide, com cores na capa e com suplementos a cores todos os dias. Nós não inventamos propriamente a roda, mas chocalhamos a roda num tempo em que ela já estava perra e não mexia. O que o Público fez foi quebrar o marasmo.” (Nuno Pacheco no Festival P, organizado pelo jornal Público, no Porto, em Março de 2018) Um projeto de modernização que influenciou e estimulou os outros meios de comunicação, o Público foi o primeiro jornal a conseguir um bom equilíbrio entre Lisboa e o Porto, a nível de cobertura. Segundo Joaquim Fidalgo, também presente na conversa realizada no Festival P, “de

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um modo geral, os jornais de Lisboa eram 90% Lisboa e 10% Porto”, ao passo que os do Porto eram o oposto: 90% Porto- 10% Lisboa. O Público, pelo contrário, repartia-se de modo mais equilibrado pelo país, com cerca de 60% Lisboa/Sul e 40% Porto/Norte.

“Nos primeiros anos, o jornal foi sempre aumentando a sua média anual de vendas em banca, passando dos 33 mil exemplares, em 1990, para 59 mil, número que conseguiu em 1994” (Nobre citado em Pereira, 2016). Ao longo dos anos, o modelo de negócio em que o jornal foi criado deixou de ser lucrativo e daí resultaram uma série de despedimentos e mudanças de direção que trouxeram o jornal até aos dias de hoje. Jorge Wemans, um dos fundadores do jornal, durante o Festival P, referiu que o jornalismo não pode ser visto como um negócio porque, atualmente, “toda a gente está disponível para pagar entretenimento, mas ninguém está disponível para pagar informação”. No entanto, e contrastando com esta ideia, David Dinis, na altura diretor do Público, adiantou que 2017 foi um bom ano para o jornal, tendo este mantido a venda em papel em banca e aumentado 20% em assinaturas digitais.

O site do Público foi lançado em 1995, ainda antes da saída de Vicente Jorge Silva, o primeiro diretor. A ele seguiram-se, na Direção Editorial, Nicolau Santos, Francisco Sarsfield Cabral, José Manuel Fernandes, Bárbara Reis, David Dinis e Manuel Carvalho, que presentemente dirige a publicação.

1.2.1) Informações gerais

O Público é um jornal diário, generalista e de âmbito nacional, que pretende fazer um jornalismo de referência e procura ter informação nova, rigorosa, testada e verificada, tão completa quanto possível. É publicado pela PÚBLICO Comunicação Social SA, empresa pertencente à Sonaecom, a sub-holding da Sonae para a área da comunicação.

A edição impressa do Público divide-se em 8 secções: Política, Sociedade, Local, Economia, Mundo, Ciência, Cultura e Desporto. Além dessas secções, o jornal tem páginas destinadas aos classificados - denominada de Classificados -, a sugestões culturais - denominadas Sair, Ficar, Jogos e Iniciativas- e a opinião - denominado Espaço Público. As primeiras páginas de cada edição dão especial atenção a determinado acontecimento da atualidade, o que dá corpo ao Destaque. Acompanhando a edição impressa, a cada sexta-feira é publicado uma edição do “Inimigo Público”, caderno de carácter humorístico que surge dentro do jornal, e do Ípsilon, o suplemento especializado em arte e cultura. Por sua vez, aos sábados, o jornal vem acompanhado pelo Fugas,

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um suplemento dedicado ao lazer e às viagens. Durante o verão de 2017, o suplemento P2 também foi para as bancas, com textos de leituras mais longa, como por exemplo reportagens. O jornal tem o preço de 1,20€, de segunda a quinta-feira, e de 1,70€, de sexta-feira a domingo. O Público é produzido a partir de uma redação no Porto e outra em Lisboa, tal como desde a sua criação, e tem duas edições distintas: a edição Norte e a edição Sul.

Quanto ao online, o Público.pt divide-se em 21 secções: Política, Sociedade, Local, Economia, Mundo, Ciência, Cultura, Desporto, Tecnologia, Opinião, Multimédia, Podcasts, P2, Ípsilon, Culto, Fugas, Cinecartaz, Guia de Lazer e Inimigo Público. Este site é alimentado por todos os jornalistas e reúne, para além do que é criado especificamente para o online, todos os conteúdos publicados na versão impressa.

Em Setembro de 2017, o Público criou o domínio Cidades, que permite pesquisar todas as publicações online tanto do jornal como dos seus parceiros, tal como o nome indica, por cidades. Para além deste domínio, o Público tem também o P3, um site-satélite direcionado para um público mais jovem, que está dividido em Cultura, Atualidade, Vícios, Pet e Fotografia.

II.

Uma realidade diferente durante três meses

2.1) À SEGUNDA É DE VEZ

Apesar de o estágio no Público não ter sido a minha primeira experiência em jornalismo impresso, a verdade é que não sabia bem o que esperar. Acreditava que ao início iria acompanhar alguns jornalistas e que só depois iria começar a escrever e, quiçá, publicar alguma peça. Tinha sido essa a realidade que tinha visto no Jornal de Notícias, quando estive na Global Imagens e tive a oportunidade de conhecer o funcionamento da redação do jornal por dentro. No entanto, logo na primeira semana percebi que as coisas iam ser diferentes.

O primeiro dia, 17 de Julho, não correu bem como eu esperava. O nervosismo era maior do que a expectativa, e a incógnita de saber o que iria fazer quando chegasse à redação fez-me ficar mais 10 minutos do lado de fora do edifício, antes de entrar. Quando eu e o meu colega Pedro Esteves – que também começava o seu estágio nesse dia- entramos no edifício cor-de-rosa, junto à escola de Comunicação da Universidade do Porto1, descobri que ninguém estava à espera que

1 Depois de findo o meu período de estágio, as instalações do Público mudaram de localização. Atualmente, o jornal situa-se na Rua Júlio Dinis,

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chegássemos. O orientador do estágio, Amílcar Correia, estava de folga e tinha-se esquecido que íamos começar naquele dia. Sem saber bem o que fazer connosco, um dos jornalistas, Abel Coentrão, mostrou-nos os cantos à casa e ao backoffice, e por volta da hora de almoço eu e o meu colega fomos dispensados. Cerca de uma hora depois, recebi uma chamada, avisando-me para só voltar ao jornal dois dias depois, altura em que o meu estágio iria efetivamente começar. A segunda tentativa de primeiro dia foi mais auspiciosa. Por volta das 10h30, eu e o meu colega estagiário voltamos a entrar no Público e desta vez já estavam à nossa espera. Amílcar Correia, agora diretor-adjunto do jornal, indicou-nos onde sentar e instruiu uma das estagiárias para nos voltar a explicar como funcionava o backoffice do Público e do P3. Em seguida, foi altura de sermos apresentados aos editores das várias secções.

À medida que as apresentações iam sendo feitas, o coordenador do estágio foi dizendo para propormos trabalhos. Essa tinha sido uma das coisas que mais tinha sublinhado no dia da entrevista. Era preciso trazer ideias novas, ideias arrojadas, algo que fizesse a diferença. Ao longo dos três meses de estágio fui percebendo que propor temas não é assim tão fácil. Mais por uma necessidade de conseguir ter algum trabalho para fazer do que para procurar ser diferente, precisei, ao longo do meu tempo no Público, de procurar notícias, quer na agência Lusa, quer em meios de comunicação regionais. Por muito que se queira ser arrojado, a verdade é que durante o verão não há muito trabalho e nem todos os recursos do jornal estão disponíveis. Uma

reportagem, por exemplo, só pode ser feita se houver um fotógrafo disponível para a fotografar. Este será um tema ao qual irei regressar mais adiante.

Regressando ao relato do primeiro dia, foi-me dito que iria colaborar com a secção Local, sendo que poderia sugerir trabalhos para qualquer secção sempre que assim o desejasse. Ao contrário do que acontece com Cultura ou Sociedade, não há editor de Local no Porto. Apesar de haver dois jornalistas dessa secção na cidade invicta, o Abel Coentrão e a Patrícia Carvalho, a editora, Ana Fernandes, está em Lisboa. Foi-me então explicado que todo o contacto seria feito por telefone e email. Assim, da parte da tarde foram-me fornecidos os dados para a conta de correio eletrónico e para o backoffice e, depois de ligar à editora Ana Fernandes para me apresentar, foi-me atribuída a minha primeira tarefa: uma notícia para o online sobre o Folk Celta.

Contrariamente ao que pensava, comecei a produzir conteúdos para o jornal logo no primeiro dia na redação. Ainda com um misto de nervosismo e ansiedade, acabei por descobrir que me sentia muito mais à vontade na redação do que esperava. Talvez isso tenha acontecido por já ter estado

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num ambiente semelhante, durante o estágio da licenciatura na Global Imagens. A verdade é que a possibilidade de escrever para o Local, tal como pretendia, relembrou-me de como as

estagiárias do Jornal de Notícias iam muitas vezes para o terreno. Isso entusiasmou-me ainda mais. Terminei o dia sabendo que ia também colaborar com o P3, quando estivesse livre. Isso iria colmatar os tempos mortos que poderiam surgir.

Ao longo do estágio, que não me levou tanto ao terreno e que não teve um ritmo de trabalho tão elevado como eu pensava, tive a oportunidade de escrever para Local, Economia, Cultura, P3 e ainda para o Fugas. Escrevi reportagens, entrevistas, notícias longas e breves. Para além disso, tive também a oportunidade de fotografar. De um modo geral, mesmo não tendo sido tudo o que imaginei, esta foi uma experiência extremamente enriquecedora, intensa e diversificada.

Passo, em seguida, para um relato mais detalhado dos momentos que considero mais importantes do estágio.

2.2) O VOLTAR A UM TEMA FAMILIAR: ACESSO ÀS FONTES DE INFORMAÇÃO

O primeiro dia no jornal já tinha sido mais produtivo do que eu antecipava, mas o segundo dia acabou por ser um dos mais desafiantes. Depois de ter passado a manhã a escrever duas notícias breves, tarefa que me levou muito mais tempo a realizar do que eu esperava, foi-me atribuída a minha primeira notícia que iria fazer parte da edição impressa do Local Porto. O tema: o cinema S. Geraldo em Braga.

Ao longo do meu percurso académico, nomeadamente na licenciatura, fui-me deparando com várias pessoas com projetos no mundo do jornalismo. A Revista Rua foi um desses projetos. No ano em que a publicação foi criada, em 2016, fui convidada para fazer parte da lista de

colaboradores, sendo que o primeiro tema que me deram para as mãos foi precisamente o cinema São Geraldo. Na altura, fiz uma reportagem sobre o edifício e a polémica em volta dele devido à sua reconstrução. Quando me atribuíram o mesmo tema no Público, estando lá apenas há dois dias, pareceu-me uma ironia do destino. A minha primeira peça impressa no jornal de referência nacional seria sobre a minha cidade e sobre um tema que me era familiar.

Em Abril de 2016, veio a público que o edifício do Cinema S. Geraldo, no Largo Carlos Amarante, em Braga, ia ser transformado num mercado urbano. Em causa estava a destruição de património cultural valioso, segundo Luís Tarroso Gomes, um dos fundadores do movimento S.Geraldo Cultural, que visa proteger o espaço. O S. Geraldo, originalmente chamado Salão Recreativo

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Bracarense, foi um espaço cultural que recebeu concertos, festivais de música, teatro e, claro está, sessões de cinema. Propriedade da Arquidiocese de Braga, o S. Geraldo fechou nos anos 90 e, em 2016, a Câmara Municipal de Braga decidiu reabilitar o espaço. Depois de muita polémica e projetos apresentados, em julho de 2017, saiu um comunicado de imprensa afirmando que o edifício iria se tornar num espaço de arte, ciência e tecnologia como outrora fora.

Sabendo isto, pus mãos à obra, utilizando alguns contactos que já tinha devido à Revista Rua e procurando novos, com a ajuda dos jornalistas do Público. Foi aqui, também, que entendi a importante necessidade de ter vários contactos, uma das coisas que sempre fui ouvindo desde que entrei no mundo do jornalismo. “A vossa lista de contactos é o bem mais valioso que têm enquanto profissionais”, lembro-me de ouvir o docente de Teorias e Práticas do Jornalismo, Domingos de Andrade, dizer no primeiro dia de aulas da licenciatura.

Para obter um conteúdo diversificado para a minha notícia, falei com Luís Tarroso Gomes, um dos contactos que já possuía, mas faltava-me falar com uma fonte oficial, o Presidente da Câmara de Braga. Foi-me sugerido pelo jornalista Abel Coentrão que entrasse em contacto com Samuel Silva, colaborador do jornal que costumava cobrir a zona de Braga, para lhe pedir o contacto do

assessor do executivo. Assim o fiz e dessa forma foi-me muito mais fácil chegar à fala com o presidente da Câmara de Braga, Ricardo Rio, e questioná-lo sobre o tema, do que seria se tivesse sido eu a procurar e descobrir uma forma de estabelecer esse contacto.

Começar uma ligação entre jornalista e fonte foi bastante simples. Tal como tinha aprendido durante o mestrado, os assessores procuram ser sempre muito disponíveis quando o assunto é do seu interesse. Assim, falar com o presidente da Câmara não foi difícil. Mais complicado e, olhando agora para trás, caricato, foi o que aconteceu durante a conversa. Não sabendo bem como, a chamada foi abaixo durante uma das minhas perguntas. Tentei ligar de volta, quer para o assessor, quer para a Câmara, mas não fui bem-sucedida. Um pouco sem saber o que fazer, voltei a entrar em contacto com o jornalista Samuel Silva, que tentou ajudar-me como pôde. Uns minutos depois, o assessor ligou de volta e eu terminei a entrevista, apesar do percalço. Este foi um problema que não me voltou a acontecer durante o estágio, mas a verdade é que, ao depender de telefones, esta é uma situação que não pode ser completamente evitada.

Demorei a tarde toda a escrever a notícia. Cerca de três mil caracteres. Mais uma vez, uma tarefa que demorou um tempo muito superior ao que esperava. O à vontade com o tema, que ao início me tinha entusiasmado, tornou-se depois um bloqueador de ideias. Estava muito presa ao que

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sabia e não encontrava maneira de dar a volta ao texto. Além disso, tinha mais caracteres do que os que me eram pedidos. O colega Abel Coentrão, que corrigiu a notícia, disse-me na altura que era um problema normal e que, à medida que fosse escrevendo, o processo ia-se tornar mais rápido e natural. Ajudou-me a reorganizar o texto, dando mais ênfase à novidade presente na peça, e mostrou-me como é necessário ter em extrema consideração o português utilizado. Ao longo dos três meses de estágio, fui notando que esse era um cuidado muito presente nos textos do jornalista Abel Coentrão. Diversidade de vocabulário, correção nos termos, ideias simples e bem explicadas. “É a diferença entre um bom texto e um texto excelente”, disse-me ele uma vez, recomendando a leitura de livros para aumentar e melhorar o meu vocabulário. Quando ficava alguma dúvida sobre a forma como utilizar uma palavra ou se esta era escrita com caixa alta ou não, podia-se sempre recorrer ao copy editor Aurélio Moreira, que pegava no dicionário ou no Livro de Estilo do Público e esclarecia sobre qual a forma correta de escrever.

Apresentar peças ao jornalista Abel Coentrão para ele corrigir era uma das tarefas mais

desafiantes e assustadoras ao mesmo tempo. Sabendo que ele era exigente com o trabalho, ficava sempre nervosa por mostrar os textos, com receio de ter cometido alguma falha ou de ter

interpretado mal alguma informação, coisas que inevitavelmente aconteceram. No entanto, era também, ao mesmo tempo, uma das melhores experiências, porque resultava num feedback imediato. Com base no meu estágio de licenciatura e nas colaborações que ia fazendo, não estava habituada a que me dessem uma opinião sobre o meu trabalho. Muitas vezes, viam, corrigiam e publicavam, não dizendo nada. Com o jornalista Abel Coentrão isso não acontecia. Todo o texto era revisto e corrigido comigo ao lado, para que eu pudesse perceber todas as correções e esclarecesse quaisquer dúvidas. Acredito que essa experiência foi, em grande medida, uma das maiores mais-valias deste estágio.

A notícia em causa saiu na secção Local, na edição do Porto, no dia 21 de Julho, com o título: Câmara de Braga não promete manter interior do cinema S. Geraldo [Anexo 1].

2.3) UM COMEDIANTE E UMA VIAGEM DE METRO: COMO DEFINIR O ÂNGULO DE UMA HISTÓRIA

O terceiro dia chegou e eu já escrevia para o P3. Como, na altura, só estavam duas pessoas nessa secção, muita coisa ia chegando ao meu correio eletrónico para eu fazer. Desde galerias, a notícias ou entrevistas.

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A primeira entrevista foi-me atribuída três dias depois de começar o estágio. Recebi um email que dizia: “Vou-te deixar um livro na mesa. Lê e entrevista o autor”. No segundo em que acabei de ler estas frases, o jornalista Luís Octávio Costa, na altura um dos redatores responsáveis pelo P3, pousou o livro em cima da mesa.

O livro em questão, Na boa, tinha sido escrito por um comediante, Diogo Faro, que se autoproclamava “guru da felicidade”. Depois de ter ficado conhecido como o “sensivelmente idiota” enquanto comediante, veio afirmar, com o livro, que tinha deixado a comédia para se focar em algo “mais sério”: o ramo vocacional e motivador.

Eu não conhecia nada sobre o autor, nem sobre o seu trabalho. Comecei a ler o livro assim que cheguei a casa e, no dia seguinte, fiz uma pesquisa intensiva. Entre publicações do humorista no Facebook, entrevistas antigas e o seu programa “Somos todos idiotas” no Youtube, consegui delinear uma mão cheia de perguntas. Com as informações todas apontadas numa folha e o gravador pronto, fui até ao local estipulado para a entrevista de táxi, forma de transporte utilizada pelos jornalistas do Público.

Foi uma entrevista diferente de qualquer uma que já tinha feito. Mais habituada a entrevistar músicos devido às colaborações com a Revista Rua, desta vez deparei-me com um comediante que parecia dizer uma coisa, mas pensar outra. Depois de uma boa conversa, levada a sério, mas com um toque de ironia, Diogo Faro acabou por despir a personagem e falar abertamente sobre o seu projeto. O seu livro, Na Boa, era uma crítica cómica aos chamados “escritores motivacionais”. Esta dualidade de comportamentos foi o lado mais desafiante desta tarefa. Por um lado, um autor de um livro sobre a felicidade que se leva a sério, por outro, um comediante que põe tudo em questão. Como conseguir transmitir essas duas personagens numa só entrevista?

O resultado a que cheguei, em conjunto com o jornalista que me delegou esta tarefa, foi manter o discurso sério durante toda a entrevista e, no final, acrescentar dois parágrafos em que

descrevesse essa mudança de personagem. Mesmo parecendo um pouco confuso, por não ser uma situação habitual, esta foi a forma encontrada para conseguir transmitir ao leitor a mesma sensação que eu tivera durante a entrevista, e que a meu ver a tornou mais interessante. Para além deste aspeto, uma das coisas em que tive de trabalhar bastante foi no tamanho da entrevista. Apesar de o P3 ser online e não haver um limite específico de caracteres, foi importante ter em atenção que a entrevista não podia ser demasiado extensa, caso contrário o

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leitor não a iria ler até ao fim, o que neste caso significava perder uma parte importante da conversa.

Entender o tamanho certo de uma peça para a web foi um dos desafios que o jornalismo online trouxe aos jornalistas. Seria de esperar que sem limite de caracteres o jornalista podia escrever livremente, sem se preocupar tanto em resumir a informação ao estritamente necessário.

Contudo, é sempre importante ter em consideração se um texto se torna muito extenso e maçudo. Quanto mais longos os textos, menor é a probabilidade de o leitor os ler até ao fim. Assim, apesar de não haver um limite específico de caracteres a escrever, é necessário produzir notícias

concisas que o público possa ler rapidamente. Este é um aspeto que eu própria experienciei durante a minha passagem pelo Público. Nos tempos mortos, aproveitava para ler as notícias do dia que estavam no site e, quando elas eram muito longas, era mais difícil lê-las até ao fim, quer porque ficavam muito cansativas e densas, quer porque havia outra tarefa a fazer. Estas situações têm de ser tidas em conta quando se está a escrever para o online.

A entrevista esteve no backoffice durante alguns dias e foi publicada no dia 27 de Julho, com o título Diogo Faro está “Na Boa” porque em Portugal “um gajo desenrasca” [Anexo 2].

Continuando a escrever para o online e para o P3 a oportunidade para a primeira reportagem surgiu uma semana depois. Uma nova estação de metro ia ser inaugurada junto ao Vila do Conde Porto Fashion Outlet. A tarefa: descobrir como é que esta nova estação ia mudar a vida dos utilizadores do metro, dos funcionários do shopping e das pessoas que lá iam fazer compras. Existem muitas formas de contar uma história. Definir o ângulo com que se vai escrever é

provavelmente uma das decisões mais importantes numa reportagem. É, ao mesmo tempo, o que a meu ver a torna este género mais desafiante e interessante. Permite ao jornalista ser mais criativo. Pensei, ao início, que me iriam dizer que ângulos escolher, mas a verdade é que me foi dada uma total liberdade nesse aspeto, o que me desafiou a perceber a importância de olhar para as histórias de várias formas.

No dia 27 de Julho, entrei no metro por volta das 8h30 em direção à nova estação Vila de Conde Fashion Outlet- Modivas. Não sabia com quem ia falar, nem que informação iria conseguir retirar dali, então ia atenta a todos os detalhes até que reparei numa senhora sentada do outro lado do metro. Ela ia a explicar à criança que a acompanhava como é que costumava ir para o centro comercial e como as coisas iam ser diferentes dali para diante. Encontrei aí a minha ligação.

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Fui estando atenta ao que a senhora ia dizendo e, quando as três - eu, a senhora e a menina- saímos na nova paragem, dirigi-me a ela e fiz-lhe as perguntas que tinha apontado no caderno. Descobri que a antiga solução que aquela mulher utilizava passava por sair na paragem anterior e esperar por um autocarro que fazia ligação ao centro comercial ou então ir de carro, situação que causava alguns picos de trânsito, tal como pude testemunhar.

A partir da primeira conversa, fui contando as pessoas que iam saindo do metro, cada vez que ele passava, e fui questionando alguns dos passageiros sobre a vantagem de ter aquela nova

paragem. Sempre com conversas muito curtas porque, como se tratava da última quinta-feira do mês, dia de promoções especiais, os passageiros do metro iam sempre muito apressados. Por sorte, acabei por ainda conseguir falar com o presidente da Metro do Porto, Jorge Delgado, que estava lá para inspecionar a plataforma. Depois das suas declarações, decidi ainda falar com o motorista do antigo autocarro que fazia a ligação entre o metro e o shopping. Aí, encontrei outro testemunho que enriqueceu a reportagem, mostrando a visão dos funcionários do centro comercial que trabalhavam até mais tarde.

Contente com o que tinha recolhido, voltei à redação e comecei imediatamente a escrever. Relembrando o que me tinha sido dito na universidade, havia urgência para lançar aquela reportagem no online. Pensava eu. Estávamos em cima do acontecimento e eu não tinha visto mais nenhum jornalista no local. Até à hora de almoço consegui escrever a reportagem e liguei para Lisboa para avisar a editora que o texto estava no backoffice. A reportagem só foi revista e lançada para o online três horas depois. Não sofreu muitas alterações, o que me levou a crer que a urgência que eu tinha imaginado não existia. Ao longo do estágio acabei por concluir o mesmo. Contrariamente ao que eu pensava, não experienciei aquela pressão para escrever tudo muito rápido para o site.

Com o aparecimento do jornalismo online, os leitores passaram a consumir informação a uma velocidade muito maior. Como tal, espera-se dos jornalistas uma maior rapidez em processar, preparar e publicar a informação em formato notícia ou reportagem. Quanto mais “em cima do acontecimento”, melhor. No entanto, fui percebendo que essa rapidez era mais necessária em assuntos de última hora, como por exemplo incêndios ativos ou acidentes. Quando se tratava de notícias ou reportagens com um carácter menos urgente, não existia a pressão do tempo. Foi o que aconteceu com a reportagem sobre a abertura do novo apeadeiro do metro. Nesses casos, os

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textos eram colocados no backoffice e assim que a editora da secção tivesse disponibilidade para os rever publicava-os ou agendava a sua publicação para o dia seguinte.

Contudo, quando se tratava de material para a edição em papel, o cenário era diferente. Cada secção tinha a sua hora de fecho e, normalmente, a secção Local fechava as páginas por volta das 19h. Isso significava que todos os textos que iam sair na edição do dia seguinte tinham de estar no backoffice até essa hora. Foi nessa situação que notei, durante o estágio, uma maior pressão quanto aos prazos de entrega. Como seria de esperar, o jornal tem de estar pronto a determinada hora para ser enviado para a gráfica, e os textos não podem ser a última coisa a fazer. Depois de terminada e editada, a peça jornalística tem de ser paginada, assim como a fotografia que a vai acompanhar. É um trabalho em equipa em que todos se atrasam se uma das partes não cumprir horários.

Ora, no online isso não acontece. Nesse caso o jornalista põe a peça no backoffice, coloca hiperlinks, anexa uma imagem para acompanhar, escreve a legenda dessa mesma imagem e publica a notícia- no meu caso, enquanto estagiária, era necessário guardá-la no backoffice, para um jornalista a rever e só depois a publicar. Nesta situação, o jornalista é muito mais autónomo, o que também vem contribuir para o aumento da velocidade com que a notícia chega ao

consumidor final.

Regressando ao dia da reportagem, tive ainda de fazer uma peça com 1500 caracteres sobre um autocarro do MarShopping que fazia a ligação entre o centro comercial e a Maia. Foi um dia em que os transportes estiveram em destaque. Para escrever a notícia tive de entrar em contacto com a STCP, usando um contacto que tinha arranjado da parte da manhã na plataforma de Vila de Conde Fashion Outlet- Modivas, uma vez que a Metro do Porto e a STCP estão interligadas. A reportagem e a notícia foram publicadas em Publico.pt a 27 de Julho e fizeram parte da edição impressa do dia seguinte, com os títulos Em dia de promoções extra, a nova estação de Modivas abriu alas a centenas de clientes e MarShopping acaba com os serviços de transporte gratuitos, respetivamente [Anexo 3].

2.4) TAKES DA LUSA: O PAPEL IMPORTANTE DAS AGÊNCIAS NOTICIOSAS

Apesar de saber a importância das agências de notícias, como a agência Lusa, no funcionamento de uma redação, confesso que a sua excessiva presença no Público me surpreendeu. Não posso

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afirmar com certeza em relação às outras secções, mas ao longo do meu estágio notei que os takes da Lusa são muito utilizados na secção Local.

Normalmente, na edição impressa do Porto, o Local tem duas ou três páginas. Tendo em conta que uma redação do Porto permitiu descentralizar a informação há 28 anos, era de esperar que fosse dado mais espaço às notícias mais locais. No entanto, o que mais me surpreendeu foi o facto de, por vezes, a secção ser composta por uma abertura feita por um jornalista do Público e a segunda página ter um ou dois takes da Lusa, mais nada.

Por diversas vezes, entrei em contacto com a minha editora, perguntando se havia trabalho para fazer, e ela, sem ter nada, pedia-me para dar uma vista de olhos pela Lusa. Por vezes, surgiam takes interessantes, que raramente se transformaram em reportagem, o que significava a utilização integral do texto tal como tinha sido posto no site da Lusa. Bastava copiar, corrigir para o antigo acordo ortográfico - porque é o utilizado pelo Público - e colar no backoffice.

Este fenómeno intensificou-se com a implementação do jornalismo online. Segundo Bastos (2013, p.3) com o uso da internet “acresce que a maior parte do material usado nas secções de notícias de ‘última hora’ é proveniente de agências noticiosas”, o que leva a dois problemas: o da

“verificação nula” e o da “validação cega”.

Esta situação intensificou-se nas eleições autárquicas de 2017. Enquanto redatora da secção Local, não tive de cobrir as autárquicas, pois essa tarefa ficou a cargo da secção de Política. No entanto, os redatores de Política cobriam essencialmente os candidatos ao Porto e a Lisboa. Dessa forma, a cobertura dada às outras cidades era feita, na sua maioria e segundo a experiência que vivi, através dos takes da Lusa. Lembro-me como passei os dois últimos dias antes do fim-de-semana das eleições entre a página da Lusa e o backoffice do Público.

Neste caso, é bastante compreensível e importante o papel de uma agência de notícias. Durante as autárquicas era impraticável para o jornal ter um jornalista a cobrir cada cidade. Por vezes, nem havia jornalistas para acompanhar cada candidato à Câmara do Porto, quanto mais aplicar isso a todo o país. Contudo, considero que para situações mais comuns do dia-a-dia se poderia recorrer menos ao trabalho já feito.

Não é de hoje que se fala num jornalismo que se tem tornado cada vez mais uma prática

preguiçosa, onde se vai buscar o trabalho dos outros, confiando cegamente sem sequer confirmar as informações. Tal como dizia Joaquim Fidalgo no Festival P, numa conversa sobre o passado e

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o futuro do Jornalismo, “hoje em dia é mais fácil falar com as fontes e é mais fácil ficar com o trabalho feito”. Utilizando esta premissa, o ex-diretor adjunto e ex-provedor do Público afirmou que está convencido de que “há mais jornalismo de pé de microfone do que havia antes”, realçando que é preciso ir para diante, é preciso “levantar da cadeira e ir falar com as pessoas cara-a-cara”. Este foi um dos aspetos menos positivo que encontrei no meu estágio. Tal como já referi

anteriormente, o ficar todo o dia numa redação, sem sair em reportagem, não me agradou. Acredito que o jornalismo é uma profissão que exige sair e conhecer pessoas e histórias. Não basta telefonar ou enviar um email. É preciso ir para o terreno porque, por vezes, o pormenor que vai dar vida à notícia ou à reportagem está onde menos se espera. Esta é uma luta que merece ser travada, caso contrário temo que o jornalismo se torne num trabalho somente de secretária. Como a minha passagem no Público aconteceu maioritariamente durante o verão, altura em que há menos trabalho para fazer, mesmo havendo menos jornalistas a trabalhar também, deparei-me com vários momentos mortos. Tendo acontecido durante mais dias do que eu gostaria de admitir, a minha tarefa nesses dias era descobrir histórias, quer através da Lusa, quer através das mais diversas pesquisas, como em sites das Câmaras Municipais ou ainda outros meios de

comunicação. Pelo que eu percebi, esta altura é tão crítica e escassa em notícias que certa altura a minha editora atribuiu-me uma tarefa com base numa notícia de outro meio de comunicação: a NIT.

A revista online NIT tinha publicado uma notícia sobre mariolas, construções de pedras

empilhadas utilizadas para sinalizar trilhos nas serras e montanhas. Essa notícia tinha derivado de uma publicação no Facebook de Luís Nunes, cidadão que costuma realizar trilhos, onde se mostrava indignado por estarem a aparecer cada vez mais mariolas criadas por turistas e que não tinham o intuito de indicar o caminho. Na verdade, afirmava que elas faziam exatamente o oposto: confundiam quem fazia os trilhos. A editora viu essa notícia, achou interessante e pediu-me para pegar na história a partir dali e desenvolver.

Comecei por procurar o que eram ao certo os tais “mariolas” e com quem poderia falar sobre isso. Entrei em contacto com Luís Nunes, pelo Facebook, pedindo-lhe mais informações do que as que ele tinha fornecido à NIT e procurei o contacto de parques naturais e de outros grupos de caminheiros que me pudessem falar sobre o aparecimento das pedras empilhadas. Ao que parecia, era moda fazer essas estruturas para tirar fotografias para o Instagram, em sítios aleatórios. Depois de recolhido o material, a editora avisou-me para não me esquecer de

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mencionar a NIT, sítio onde tinha ido buscar a informação original. Esta notícia acabou por ser o trabalho que fiz que mais foi partilhado, com 2465 partilhas 2, tendo sido publicado com o título Gosta de empilhar pedras? Não o faça nas serras. É que estes mariolas indicam os trilhos. Um dos aspetos que trabalhei muito durante o estágio foi a construção de bons títulos. Apesar de as universidades incentivarem os alunos a fazer títulos simples e informativos, a verdade é que nunca me senti muito confortável e confiante com o que propunha. Não existe uma fórmula para criar um bom título, mas apercebi-me que no Público gostam de utilizar títulos com duas frases. De forma a responder a isso, esforcei-me para utilizar essa fórmula sempre que possível, tal como no exemplo dado anteriormente. Infelizmente, acabei por nunca questionar nenhum jornalista sobre este aspeto, pelo que não sei qual a razão por esta opção.

2.5) UMA NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA: A NECESSIDADE DE SIMPLIFICAR INFORMAÇÃO

Desde o início da licenciatura que ouço que uma das grandes funções do jornalismo é simplificar a informação para que todos a entendam. Contudo, nem sempre é assim tão fácil simplificar. Deparei-me mais recentemente com esse problema quando me foi pedido para escrever algumas breves durante o estágio. Sendo breves, o objetivo era dizer o essencial, da forma mais direta e curta possível. Confesso que foi bastante mais difícil ao início do que pensava. Demorava muito tempo a fazê-lo e tinha tendência para complicar mais do que era preciso. Foi-me dito, por um dos jornalistas, que com os anos ia aprender a “desligar” e a escrever somente o essencial. Ele disse que com a experiência nos tornamos capazes de dividir as nossas capacidades consoante o tipo de trabalho: breves exigem menos do que reportagem ou notícias.

Ao longo do estágio fui fazendo breves, mais ou menos elaboradas, e chegou uma altura em que essa simplificação e rapidez se tornaram necessárias. A 17 de Outubro, altura em que o país estava a ser atingido pela segunda vaga de incêndios de 2017, a redação do Público tomou conhecimento que um troço de estrada tinha sido cortado na A17. Foi-me pedido que ligasse para os bombeiros da zona para perceber o motivo pelo qual a estrada tinha sido cortada.

Publicada como notícia de última hora e em atualização - mais tarde, atualizada e concluída por outros jornalistas -, a breve dava conta de que a estrada tinha sido cortada e que tinha sido criado um perímetro de segurança superior a 800 metros, devido a um incêndio alimentado por resíduos

2 Link da notícia: https://www.publico.pt/2017/09/07/local/noticia/ja-nem-todos-os-mariolas-indicam-o-caminho-a-seguir-1784757

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industriais, que produziu fumos tóxicos. Eu e o colega Abel Coentrão tentamos perceber a localização exata do local através do Google Maps e tentamos ainda entrar em contacto com outras empresas daquela zona industrial, sem qualquer resultado, sendo os bombeiros a única fonte de informação.

Esta foi a segunda vez que precisei ligar para uma corporação de bombeiros. A primeira estava relacionada com um ferido devido a uma explosão numa pedreira. Em ambas as vezes, tratou-se de situações de stress. Como saber se ia fazer as perguntas certas, da maneira certa? Onde encontrar os números das corporações? Apesar de eu pensar que na redação havia os números de todas as corporações de bombeiros, a verdade é que me mandaram procurar na internet. Durante os meus dias na Global Imagens era comum passar pela zona do Grande Porto- secção que cobre as notícias locais- e ouvir os jornalistas a fazer as rondas. A ronda não era mais do que ligar para as corporações de bombeiros e polícia mais próximas para saber se havia alguma ocorrência que merecesse ser noticiada. Pensei que no Público também se faziam rondas, mas com o passar do tempo foi-me dito que essa era uma tarefa que já não se fazia. Assim, restou-me ir procurar o contacto da corporação em causa à internet e perguntar tudo o que considerei importante. Tentei ao máximo dizer tudo o que tinha de ser dito, da forma mais simples e direta possível, confirmando várias vezes as informações que possuía.

O resultado foi publicado com um título que referia que a A17 estava encerrada, sendo que entretanto, depois de atualizada, ficou online com o título A17 já reabriu ao trânsito, circulação na N109 também foi retomada 3.

2.6) AS DIFERENTES SECÇÕES: A POLIVALÊNCIA DO JORNALISTA

Apesar de ter sido colocada na secção Local, tive oportunidade de colaborar com outras secções como Cultura, Economia, P3 e o suplemento Fugas. A verdade é que o lugar que ocupamos na redação afeta, em grande medida, as tarefas que nos são designadas. Pelo menos no Público. Quando comecei o estágio, já havia duas estagiárias na redação, o que significava que não havia mais secretárias vazias. Dessa forma, eu e o meu colega tivemos de ocupar lugares de jornalistas que estavam de férias. Quando os mesmos regressavam, era necessário mudar de lugar e

encontrar outro que estivesse vago. Assim, durante o estágio estive em dois lugares diferentes: um

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situado a meio da redação, onde estava mais isolada, e outro perto das mesas dos gráficos e do jornalista Abel Coentrão. Enquanto estive no meio da redação tive menos trabalhos relacionados com a secção em que estava inserida. Talvez devido à proximidade com o jornalista, assim que me mudei para mais perto do colega Abel Coentrão comecei a ter cada vez mais trabalho, especialmente durante as semanas em que este esteve responsável pela editoria da secção. Assim que surgiam novos trabalhos, ele passava-os para mim. Relacionei, dessa forma, a quantidade de trabalho que me era atribuída com base na minha localização na redação. No caso da secção Economia e do site- satélite P3, as colaborações foram feitas a pedido do editor Amílcar Correia e das jornalistas responsáveis pelo P3, Amanda Ribeiro e Ana Maria Henriques, respetivamente. No entanto, no caso de Cultura e do suplemento Fugas o processo de colaboração foi diferente. Foi por iniciativa própria que procurei escrever para essas duas secções, devido ao conteúdo distinto que abordam.

Desde o primeiro dia que fui encorajada a propor notícias ou reportagens, quer na secção que me tinha sido designada, quer noutras. A secção Cultura sempre despertou o meu interesse. Na verdade, na altura em que foi preciso escolher uma secção, fiquei dividida entre Cultura e Local. Ora, devido às colaborações com a Revista Rua, onde cobria maioritariamente temas relacionados com música e teatro, estava mais familiarizada com temáticas relacionadas com cultura. Como tal, e tendo em conta que via esta secção do jornal Público como uma referência para mim, o entusiasmo em escrever uma peça para lá era imenso.

Dirigi-me à editora da secção, Inês Nadais, com um tema relacionado com a minha cidade, Braga: os The Grandfather’s House, uma banda da cidade, estavam prestes a lançar um novo disco. Tal como me explicou, este não era um bom tema porque os lançamentos de CDs estavam a cargo dos críticos da secção. No entanto, durante a nossa conversa, a jornalista detetou uma informação que ainda não tinha sido tratada pelo jornal: o Braga Music Week.

O Braga Music Week é um evento anual organizado por João Pereira, tal como o nome indica, em Braga, no início de Outubro. O objetivo é promover a música bracarense e portuguesa, dando oportunidade a bandas que ainda estão a começar no mundo da música. Durante essa semana, há concertos na rua e em estabelecimentos espalhados pela cidade. Para além deste evento, João Pereira, o protagonista da história, é também o agente de várias bandas, como os Bed Legs, os The Grandfather’s House ou Maquina del Amor. A minha tarefa era escrever sobre a Braga Music Week e sobre o trabalho de João Pereira.

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Não era a primeira vez que eu noticiava este evento e, como me era pedido para fazer uma antecipação, só necessitava do contacto do organizador. Como já o tinha, foi bastante fácil marcar uma pequena entrevista com João Pereira para falar sobre as novidades da edição de 2017. O desafio surgiu, como seria de esperar, na altura de escrever a notícia. Qual seria o melhor tom para utilizar? A natureza do tema não era tão séria como as outras notícias que escrevia para a secção Local, o que me levou a pensar que poderia escrever de forma diferente. Uma notícia de leitura mais leve e corrida, com um potencial toque de humor e jogos de palavras.

Quando a editora Inês Nadais me chamou para revermos a notícia em conjunto, foi com agrado que descobri que tinha feito uma boa aposta. A editora estava de facto à espera de um texto divertido e informativo.

Foi nessa altura que consegui entender a importância da especialização de um jornalista, apesar de agora não ser tão comum. A verdade é que cada secção tem uma maneira diferente de abordar os temas, sendo que cada uma utiliza diferentes vocábulos e diferentes tipos de escrita. Na secção Cultura, por exemplo, pode-se utilizar uma escrita mais literária, enquanto na secção Local é necessário uma linguagem mais simples e direta. Quando havia uma maior especialização dos profissionais, cada um estava preparado para escrever de certa maneira de acordo com a secção em que estava destacado. Contudo, hoje em dia, é necessário saber escrever para todas as secções. É comum um jornalista pertencer a uma secção específica, mas colaborar com outras de quando em vez. Isto resulta, obviamente, numa maior polivalência dos jornalistas, o que hoje em dia é visto como uma mais-valia. Já em 2005, Canavilhas afirmava que “o trabalho em diferentes editorias é prática habitual” (Canavilhas, 2005, p.4).

A notícia foi publicada na edição impressa do dia 30 de Setembro, com o título A Bazuuca de Braga que entrou a matar [Anexo 4].

Por sua vez, a colaboração com o suplemento Fugas surgiu de uma forma distinta. A poucas semanas do fim do estágio, dirigi-me à responsável pelo suplemento, Sandra Silva Costa, e mostrei o meu interesse em colaborar com o Fugas antes de ir embora. Em jeito de concordância, a editora disse que assim que surgisse uma tarefa que eu pudesse fazer entraria em contacto comigo. Isso aconteceu poucos dias depois.

A cadeia de hotéis Vila Galé tinha acabado de abrir um novo hotel na baixa do Porto e estava a convidar os meios de comunicação para pernoitarem lá uma noite, de forma a noticiarem as

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novas instalações. Uma estratégia de Relações Públicas comum em hotelaria. Os hotéis ou restaurantes convidam os jornais/ revistas de turismo para experimentarem as instalações para que depois eles façam uma notícia sobre esses mesmos hotéis ou restaurantes. Foi o que aconteceu com o Vila Galé Porto Ribeira. Estava em causa comparecer a um jantar, onde seriam apresentadas as características diferenciadoras do novo hotel, pernoitar lá e, no dia seguinte, fazer uma visita ao Museu dos Descobrimentos, andar de elétrico e de helicóptero.

Com um conceito paper free, o hotel evita utilizar papel na emissão de recibos, por exemplo, apostando assim mais numa vertente tecnológica, quer através da utilização de tablets quer de televisões instaladas nos quartos. A minha tarefa, segundo explicou a editora, incluía perceber em concreto as diferenças entre este novo hotel do grupo Vila Galé e os restantes, assim como recolher informações que pudessem interessar aos leitores, tal como os preços dos quartos, os serviços prestados pela unidade hoteleira e as atividades de lazer a ele associadas.

Quando cheguei ao hotel, fui preparada para tirar apontamentos sobre tudo o que me parecesse relevante. Descrição dos espaços, primeiras sensações, etc. Tudo que pudesse vir a enriquecer sensorialmente a minha peça. Como forma de preparação para o trabalho que me esperava, dias antes tinha pesquisado outras reportagens feitas para o Fugas sobre hotéis e notei que era utilizado um tom narrativo bastante descritivo, pelo que fui bastante decidida a recolher material para poder fazer o mesmo. Depois de chegar ao Vila Galé e de me instalar no quarto, a

responsável pelas relações públicas do hotel entrou em contacto comigo para ter a certeza de que estava tudo a correr bem. Apercebi-me logo aí que durante o próximo dia e meio iria ter alguém a acompanhar toda a experiência para ter a certeza que tudo corria da melhor forma.

Primeiro um jantar, depois uma explicação do conceito do hotel e uma sessão de perguntas e respostas. Foram-me aí explicadas todas as informações que precisava saber. No dia seguinte, tudo o que tinha a fazer era aproveitar o dia, o que fez com que toda a experiência fosse um tanto ou quanto estranha. Estava a ser diferente de tudo o que estava habituada a fazer. Era como se estivesse de férias, sendo que depois tinha de escrever sobre o que tinha vivido. Senti, nessa altura, que tinha passado de narradora a personagem principal.

Quando regressei ao jornal, a editora questionou-me se tinha gostado e disse-me para escrever o texto com calma. Com um limite de cerca de cinco mil caracteres, tinha apenas de descrever tudo o que os leitores precisavam de saber sobre o hotel, deixando de parte do texto principal as

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atividades extra que tinham sido feitas, como a viagem de helicóptero ou de elétrico. Dessas experiências deveria escolher uma que iria aparecer numa caixa de texto adicional.

Como esta tarefa me foi dada na minha última semana de estágio, não tive a oportunidade de rever o texto com a editora. No último dia, enviei-o via email e fiquei a aguardar por um feedback que acabou por não chegar. Uma semana mais tarde, vi que o texto tinha sido publicado no suplemento e fui comparar com o que tinha enviado. Estava praticamente igual, o que me levou a concluir que devo ter feito um bom trabalho. Escrever para o Fugas revelou-se um desafio

totalmente diferente em comparação com o restante que tinha feito. É como se o suplemento fosse um mundo completamente à parte do Público que eu tinha conhecido naqueles três meses, o que me levou a refletir sobre as revistas/ suplementos de turismo.

O fugas, suplemento do Público, equipara-se a revistas como a Time Out – dou este exemplo por esta ter sido uma revista que também esteve presente na experiência Vila Galé. Este tipo de revistas tem, na sua maioria, conteúdos voltados para o turismo, como artigos sobre hotéis ou restaurantes. Quando os jornalistas escrevem sobre esses sítios costumam experimentar os serviços que oferecem. Tal como no resto do jornalismo, é esperado que depois relatem a sua experiência da forma mais isenta possível, mantendo-se pelos factos. Atrevo-me, no entanto, a dizer que é um tipo de jornalismo mais leve.

Segundo Avighi (citado em Brandão, 2016) o jornalismo especializado em turismo surgiu para incrementar “uma atmosfera predisposta à curiosidade e à viagem”. Por vezes transmite uma grande “mistura entre fantasia e facto”, o que estimula os leitores, mas pode criar falsas expectativas quanto aos destinos. A verdade é que neste tipo de experiências organizadas pelos hotéis, é tudo organizado para que pareça perfeito, para que só sejam vistos os aspetos positivos da unidade hoteleira. Nenhuma publicação sobre turismo vai querer fazer uma reportagem sobre o lado negativo, o que em certa medida se aproxima da publicidade.

No entanto, é preciso refletir e procurar compreender por onde passa a linha que separa a publicidade do jornalismo, nestes casos. Nem sempre é uma distinção preto-no-branco. O jornalismo especializado em turismo não deixa de seguir as mesmas regras éticas que segue qualquer outra vertente do jornalismo. É verdade que não se lida com hard-news, mas não deixa de ser preponderante a utilização de uma linguagem simples, direta, informativa e verdadeira. Uma reportagem sobre um hotel não é uma publi-reportagem, exceto caso esteja identificada como tal. Ou pelo menos não o deve ser. No caso do Público, fui notando que eles identificavam

Referências

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