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Educação à Distância O perfil dos professores de Matemática que utilizam softwares de geometria dinâmica em suas aulas

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Academic year: 2019

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Educação Matemática: Novas Tecnologias e Educação à Distância

O perfil dos professores de Matemática que utilizam

softwares de geometria dinâmica em suas aulas

Rúbia Barcelos Amaral Zulatto1 UNESP – Rio Claro rubiaba@uol.com.br

Este artigo tem como objetivo central apresentar parte dos resultados da pesquisa, em nível de mestrado, por mim desenvolvida, junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – UNESP – Rio Claro, com apoio financeiro da CAPES. Nesta pesquisa, realizei um estudo teórico sobre softwares de geometria dinâmica e, a partir deste, focalizei o perfil de professores de Matemática que utilizam softwares dessa natureza em suas aulas e suas perspectivas quanto aos mesmos. Neste artigo, apresentarei os resultados referentes ao perfil desses professores.

Introdução

Nos últimos anos, muito se tem falado na utilização de tecnologias informáticas (TI) na prática docente. Diversos estudos têm sido feitos e hoje podemos dizer que existe uma linha de pesquisa sobre este tema na Educação Matemática.

Esses recursos tecnológicos, no entanto, podem ser usados no desenvolvimento de diversos conteúdos matemáticos. Neste artigo estaremos focalizando aqueles que foram criados para o estudo da Geometria, chamados softwares de geometria dinâmica.

O termo “geometria dinâmica” está fortemente relacionado aos softwares que permitem que construções geométricas possam ser arrastadas pela tela mantendo-se os vínculos estabelecidos durante a realização da construção. Assim, as transformações das figuras “ocorrem continuamente em tempo real, determinadas pelos movimentos do cursor controlados pelo usuário” (Shumann & Green, 1994).

1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática – UNESP – Rio Claro, membro

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No Brasil, o Cabri-Géomètre (Baulac, Bellemain & Laborde, 1992, 1994) é

atualmente o mais conhecido e utilizado. Mas além dele existem outros, como o

Geometricks (Sadolin, 2000), Geometer’s Sketchpad (Jackiw, 1991, 1995), Geometric Supposer (Schwartz & Yerushalmy, 1983-91, 1992), Geometry Inventor (Brock et al,

1994), Geoplan (CREEM, 1994), Cinderella (Kortenkamp & Gebert, 1998) e Dr. Geo

(Fernades, 1997-2000).

Os softwares de geometria dinâmica apresentam recursos com os quais os alunos podem realizar, com muito mais rapidez, construções geométricas que são feitas usualmente com régua e compasso. Sua utilização permite também o desenvolvimento de atividades de livre exploração, onde o aluno interage com o computador, num universo próximo ao que ele já conhece e está acostumado, que é o do “lápis e papel” (Silva, 1997). Além disso, é possível realizar construções que com esta mídia tradicional seria difícil.

Ademais, o aluno pode formular suas próprias conjecturas e tentar verificar se elas são válidas. Ou seja, o próprio aluno irá realizar a verificação e validação da conjectura que formulou. Isso é possível devido aos recursos dos softwares, como o arrastar, que possibilita a simulação de diferentes casos da figura, como se o aluno estivesse verificando “todos” os casos possíveis de uma mesma família de configuração. É possível afirmar, então, que os softwares de geometria dinâmica possuem recursos que permitem um trabalho diferenciado de ensino e aprendizagem de Geometria. No entanto, seu uso é muito restrito na prática docente de Matemática. Muitos professores até o conhecem, mas poucos se sentem seguros e preparados para utilizá-los no seu dia-a-dia de sala de aula.

Na tentativa de amenizar este quadro, procurei estudar, em minha pesquisa de mestrado (Zulatto, 2002), o perfil dos professores que utilizam esses softwares em suas aulas, na tentativa de conhecer um pouco desses professores. Ao invés de olhar para os que não usam e tentar analisar porque não o fazem, preferi o caminho daqueles que já o fazem. Talvez, com este perfil, seja possível subsidiar cursos de formação, inicial e continuada, visando suprir as deficiências que impossibilitam que a maioria dos professores incorpore as TI em sua prática docente.

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profissional, que os individualiza e os faz diferentes entre si. Porém, essas pessoas possuem características comuns, como alguns anseios e necessidades, que podem ajudar a vislumbrar caminhos que levem outros profissionais a também incorporar os softwares de geometria dinâmica em suas aulas.

O estudo

Para a realização desta pesquisa foram entrevistados quinze professores que utilizaram, em algum momento de sua prática docente nos Ensinos Fundamental e Médio, softwares de geometria dinâmica em suas aulas de Matemática. A partir desses critérios, também considerei importante encontrar pessoas de diferentes localidades, que vivessem realidades distintas, o que facilitaria uma futura triangulação dos dados no período de sua análise. Para tanto, entrei em contato com escolas e, através de listas de discussões virtuais, tentei localizar os professores. Assim sendo, apesar da dificuldade nesse processo de encontrar os professores, foram envolvidas onze cidades.

Foram, então, desenvolvidas entrevistas do tipo semi-estruturadas, com duração média de uma hora, baseadas num roteiro que guiava o pesquisador, mas que permitia as alterações que julgasse necessária durante sua realização.

Tentei destacar, no tocante ao perfil desses professores, a formação, inicial e continuada; o estímulo recebido para usar tecnologia em suas aulas; as dificuldades encontradas, e, em contrapartida, o suporte recebido; e o caminho percorrido na preparação das atividades.

O perfil dos professores que utilizam softwares de geometria dinâmica

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No entanto, é importante observar que este tipo de formação não determina que o professor fará uso destes recursos, mas, por outro lado, abre espaço para que ele possa conhecer suas potencialidades e limitações. Possibilitar este contato, segundo Ponte (2002), é propiciar um dos princípios essenciais, atualmente, da formação docente, associada à “formação científica, tecnológica, técnica ou artística na respectiva especialidade”.

Então, o que os fez optar por essa alternativa de trabalho? Um percentual significativo aponta dois fatores determinantes. Um deles é a “necessidade”. Os professores afirmam que, como o computador está cada vez mais presente nas escolas, a pressão dos alunos, dos pais e da direção em utilizá-lo tem aumentado, fazendo-os sentir necessidade de se atualizar e incorporar essa tecnologia em sua prática. Neste caso, o uso do computador na escola é legitimado pela demanda social e cultural. Alguns deles até afirmam que temem perder o emprego, caso não optem por essa inserção.

O outro fator determinante refere-se às potencialidades que esses softwares apresentam para o ensino da Matemática. Alguns professores afirmam que, quando tomaram conhecimento dos recursos disponíveis nos mesmos, decidiram inseri-los em suas aulas.

A decisão por utilizar os softwares, por qualquer dos dois motivos apresentados acima, ressalta a importância da formação continuada, visto que a participação em cursos auxilia os professores a aprender a manusear os softwares, e, desse modo, poder incorporá-los em sua prática, pois, como afirma Nóvoa (1995, p.27), “a formação pode estimular o desenvolvimento profissional dos professores”, dando a eles autonomia no decorrer de sua prática docente.

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Alguns dos professores que não tiveram acesso a cursos que envolvem a utilização de TI fazem parte de grupos de estudo ou de pesquisa ligados a alguma área da Educação Matemática. Assim, interagem em um ambiente propício para se sentirem estimulados a se arriscar em uma nova prática, a entrar na “zona de risco”2 (Penteado, 2001). Nessa pesquisa foram destacados grupos regionais da SBEM – Sociedade Brasileira de Educação Matemática – de São Paulo e do Distrito Federal. Eles também dão abertura para a troca de experiências e materiais, sendo essas as suas principais atividades. Neles, os professores questionam sobre os softwares e sua utilização, e aperfeiçoam seus conhecimentos sobre os recursos disponíveis para o estudo da Geometria.

Entretanto, muitos professores observam que partiu deles a iniciativa de utilizar os softwares, procurar cursos, livros e, em alguns momentos, tiveram que aprender sozinhos as ferramentas dos softwares, mesmo que de forma limitada. Além dos cursos, é necessário um investimento pessoal, destinando tempo para estudar, preparar atividades, buscar recursos como livros, entre outras necessidades “extra-curso”.

Além desse investimento pessoal, essencial para que a Informática seja inserida na prática docente, outro aspecto facilitador desta inserção, comum à maioria dos professores, pode ser observado: o suporte. É possível observar que a maioria deles possui algum tipo de suporte. Parte deles se reúne com colegas de trabalho que conhecem os softwares e têm experiência em utilizá-lo. Esses encontros são esporádicos, de acordo com as dificuldades sentidas pelo professor, seja no processo de preparação das atividades, ou durante o desenvolvimento das aulas.

Há também professores que se reúnem periodicamente com pesquisadores que se dedicam ao estudo de TI, que através dos encontros possibilitam um ambiente de troca de atividades e experiências, discussões sobre dificuldades, medo, insegurança dos professores, e eventual dúvida sobre o manuseio do software, que possa ter surgido no decorrer de sua utilização em sala de aula. Esses encontros são semelhantes às redes defendidas por Nóvoa (1995), Penteado (2000) e Itacarambi (2000), em que “a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua”. O professor desempenha o “papel de formador e formando” (Nóvoa, 1995, p.27).

2 Penteado diz que uma zona de risco é caracterizada como uma situação de alto grau de incerteza e

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Acredito, portanto, que a formação continuada é fundamental no processo de inserção das TI na prática docente. Observo que a iniciativa parte principalmente do professor, mas este é apenas o ponto inicial de uma longa caminhada, em que é imprescindível o acesso a ambientes que proporcionem discussões acerca dos diversos aspectos que envolvem a utilização das TI na sala de aula.

Considerações finais

Para finalizar este artigo, alguns apontamentos são importantes. Há de se notar que os professores precisam se envolver com os processos de mudança educacional, neste caso, a inserção da Informática. Esta não pode ser apenas uma decisão da escola, ou dos órgãos governamentais, é preciso que seja relevante também para o professor, que ele sinta sua necessidade, para que possa participar ativamente neste processo, utilizando a Informática convencido de sua importância, suas possibilidades e limitações, e não por imposição alheia.

Neste sentido, o professor precisa ter consciência de seu papel. Utilizando as TI, como em outras situações, ele é um mediador no processo de construção do conhecimento e, assim sendo, precisa ter autonomia para decidir sobre as questões que envolvem esse processo.

Para que todas essas decisões não sejam empecilho para o professor, desestimulando-o e fazendo-o desistir de utilizar TI em suas aulas, é essencial a existência do suporte. É importante possibilitar um ambiente onde o docente possa discutir sobre aspectos de dimensão pessoal, como insegurança, dúvida, angústia, assim como de dimensão prática, como potencialidades do software, seu manuseio, preparação de atividades, abordagens das mesmas, etc. Nesta pesquisa, o que se observa é que a grande maioria dos participantes teve esse acesso, considerando-o relevante na sua prática.

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A formação inicial também pode ser um fator positivo neste sentido. As práticas desenvolvidas durante os cursos de Licenciatura podem refletir-se nas práticas de sala de aula do futuro professor. Assim sendo, é importante que esses cursos criem oportunidades para que os futuros professores possam conhecer e aprender a manusear alguns softwares e discutir sobre suas potencialidades e limitações na Educação Matemática.

Todas as discussões aqui apresentadas podem ser sementes para propostas futuras, em cursos de formação inicial e continuada, ou localmente, em escolas. Temos que lembrar sempre que cada professor é um indivíduo com particularidades, e estas são determinantes na decisão de inserir ou não as TI na prática docente. Desta forma, as práticas com o uso de softwares de geometria dinâmica precisam de adaptações, que considerem estas particularidades de cada professor e, também, de cada classe de alunos, para que destas sementes brotem bons frutos, que poderão ser sementes no futuro também.

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Referências

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