Artes circenses contribuindo para o desenvolvimento da linguagem corporal em
jovens
Circus arts contributing to the development of young people’s body language
DOI:10.34117/bjdv6n5-555
Recebimento dos originais: 24/04/2020 Aceitação para publicação: 27/05/2020
Emanuély Przendziuk Berlezi
Graduada em Educação Física pelo Instituto Federal do Paraná - IFPR Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil
E-mail: manu-prz@hotmail.com
Gesiliane Aparecida Lima Kreve
Mestre em Educação pelo Centro Universitário Diocesano do Sudoeste do Paraná Docente do Instituto Federal do Paraná
Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil E-mail: gesiliane.kreve@ifpr.edu.br
Márcio Flávio Ruaro
Doutor em Educação Física pela Universidade São Judas Tadeu - USJT Docente do Instituto Federal do Paraná
Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil E-mail: marcio.ruaro@ifpr.edu.br
Kleber Farinazo Borges
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília - UnB Docente do Instituto Federal do Paraná
Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil E-mail: kleber.borges@ifpr.edu.br
Renato Salla Braghin
Mestre em Educação Física pela Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP Docente do Instituto Federal do Paraná
Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil E-mail: renato.braghin@ifpr.edu.br
Diogo Bertella Foschiera
Mestrando em Educação Física pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Docente do Instituto Federal do Paraná
Endereço: Av. Bento Munhoz da Rocha Neto, s/nº, PRT-280, Palmas – PR, Brasil E-mail: diogo.foschiera@ifpr.edu.br
RESUMO
Visto que as artes circenses desenvolvem a criatividade e a sensibilidade, sugere-se quepossam também contribuir para o desenvolvimento da linguagem corporal. Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivo analisar a influência da prática de atividades circenses no desenvolvimento da linguagem corporal. Foi realizada umapesquisa quantitativa e transversal, utilizando o Protocolo deComunicação Não Verbal proposto por Martins (2006). A amostra foi composta por 38 observações a 19jovens de um projeto de artes circenses, de ambos os sexos, com idade de 12,62±2,43, escolhidos de maneira intencional. Os participantes foram divididos em Experientes (com um ano ou mais de prática) e Iniciantes (com menos de umano de prática). Os resultados indicaram que 29,16% dos participantes do grupo Experientes possuemníveis altos de gesticulação e nenhum participante do grupo Iniciantes alcançou este nível. Os participantes do grupo Experientes repetem mais movimentos no corpo inteiro, em comparação com o grupo Iniciantes. O grupo de Experientes alcançou um escore de 2,73 em relação à “atenção à linguagem corporal”, contra 1,93 do grupo de Iniciantes. Conclui-se que um maior tempo de prática de artes circenses está associado a um melhor desenvolvimento da linguagem corporal.
Palavras-Chaves:Gestualidade. Expressividade. Linguagem Corporal. Desenvolvimento. Atividades Circenses.
ABSTRACT
Given that the circus arts promote creativity and sensibility, and they can possibly contribute to the development of body language, the purpose of this study is to analyze the influence of the practice of circus activities in body language development. We carried out a quantitative and cross-sectional research by using Martins’ Non-Verbal Communication Protocol (2006). The sample was composed of 38 observations to 19 young people of a circus arts project, of both sexes, with ages from 12.62±2.43, intentionally chosen. The participants were divided as Adept (with a year or more of experience) and Beginners (with less than a year of experience). The results have shown that 29.16% of the participants of the Adept group have high levels of gesticulation and no participants of the Beginners group have reached this level. The participants of the Adept group repeat more movements with their entire body than those of the Beginners group. The Adept group has reached a score of 2.73 in relation to body language attention, and the score of the Beginners group, in turn, was 1.93. We conclude that the practice of circus arts for a longer period of time is associated to a better body language development.
Key words: Gesture. Expressiveness. Body Language. Development. Circus Activities.
1 INTRODUÇÃO
A expressão ou linguagem corporal tem um importante papel no cotidiano das pessoas, a todo momento passamos mensagens através do nosso corpo, dando ênfase ao que está sendo verbalizado ou ainda, transmitindo uma mensagem diferente (SOUSA; LEAL; SENA, 2010; WEIL; TOMPAKOW, 2015). Contrapondo o que se acreditava em outros momentos, a linguagem verbal não monopoliza a comunicação humana e, junto a ela, pode-se incluir a escrita, o olhar, os movimentos das mãos, a postura, entre outras, como formas de comunicação não verbalizadas, muito precisas no envio de informações (VEZALI, 2012). Este tipo de comunicação ainda é conhecido por outras nomenclaturas como gestualidade, linguagem não-verbal, comunicação não-verbal,
corporeidade,expressividade, linguagem corporal, dentre outros, referindo-se desta forma ao mesmo objeto de estudo (SOUSA; LEAL; SENA, 2010; GRUNNENVALDT et al., 2012).
A linguagem corporal faz uso dos gestos enquanto unidades de comunicação. Para tanto, tais unidades não podem ser analisadas de maneira individual, sendo necessários pelo menos três gestos subsequentes para uma conclusão precisa (WEIL; TOMPAKOW, 2015). Esses gestos podem ser considerados como símbolos, sinais que o corpo transmite sem emitir palavras (PEASE;PEASE 2005; WEIL; TOMPAKOW, 2015; GRUNENNVALDT et al., 2012). A postura do corpo, as expressões faciais e os gestos também esclarecem muito sobre o que se está falando, entende-se assim que comunicação não se restringe somente ao falar, mas ao mover-se e ao expressar alguma reação através da face. Esta é a forma mais verdadeira de comunicar-se, pois muitas vezes, o corpo fala o que a voz não foi capaz de transmitir (TAETS; FIGUEIREDO, 2009).
Os movimentos, fundamentais na elaboração dos códigos de comunicação na linguagem corporal, fazem com que esse tipo de linguagem seja investigado e utilizado também pela Educação Física (GOMES-DA-SILVA; SANT’AGOSTINO; BETTI, 2005). De acordo com a BNCC (2018), a Educação Física está na área de linguagens, estendendo-se assim a capacidade comunicativa para todos os seus conteúdos, embora, observa-se que alguns temas sejam percebidos como mais próximos da linguagem corporal, caso das danças e demais atividades rítmicas, bem como as brincadeiras cantadas (GOMES-DA-SILVA; SANT’AGOSTINO; BETTI, 2005).
As artes circenses, que vem ganhando visibilidade nas últimas décadas, se caracterizam como um conteúdo da Educação Física (MIRANDA; BORTOLETO, 2018) que também faz uso da linguagem corporal e de toda a capacidade de comunicação desse recurso, embora ainda sejam pouco abordadas no contexto da educação brasileira (MIRANDA, 2014; TUCUNDUVA, 2015). Atualmente a arte circense é dividida em três principais ramificações, a tradicional, que é a visão mais romântica do circo, os artistas de rua, que são uma constante, desde os tempos do Brasil Império e o novo circo, inovando a linguagem dessa arte, inserindo elementos teatrais e multimídia, buscando uma concepção contemporânea(CUNHA, 2010; TORRES; DANTAS, 2017). Esse novo modelo de circo chamou a atenção para os diferentes saberes sobre a cultura corporal, estes trazidos para a Educação Física de forma mais clara e objetiva, propiciando aos praticantes um conhecimento sobre estas artes que antes eram restritas apenas às companhias de circo (DUPRAT; BORTOLETO, 2007).No contexto educacional as artes circenses vão além de requisitos técnicos, o que se observa é uma cultura totalmente inclusiva (TORRES; DANTAS, 2017), como um resgate de culturas diversas, inovando e viabilizando o seu uso, pois o corpo é o objeto principal desta prática (HENRIQUES, 2006).
Há indícios na literatura de que a prática de atividades circenses proporciona experiências corporais que desenvolvem a criatividade e sensibilidade (VENTURINI et al., 2010). Sendo assim o presente estudo tem por objetivo analisar a influência da prática de atividades circenses no desenvolvimento da linguagem corporal. Como hipótese, a expectativa dos autores é de que a prática de artes circenses auxilia no desenvolvimento da linguagem corporal.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 PARTICIPANTES
A amostra foi composta por 38 observações a alunos de um projeto de artes circenses de um município Paranaense. O grupo foi escolhido de forma intencional, devido a ser único projeto de artes circenses do município onde o estudo foi desenvolvido. Fizeram parte do estudo dezenove jovens, de ambos os sexos, com idades entre 09 e 16 anos com idade média de 12,62±2,43. O poder da amostra foi calculado através do programa G*Power 3.1.9.4, indicando valores post hoc deα= 0,05 e β = 0,80. A participação no estudo foi voluntária e o mesmo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa do Instituto Federal do Paraná –IFPR, através do parecer nº3.340.739.
2.2 DELINEAMENTO E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
A presente pesquisa se caracteriza como de campo, transversal e quantitativa (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012). A coleta de dados foi realizada através da aplicação do Protocolo de Comunicação Não Verbal – PCNV de Martins (2006), instrumento composto por nove questões de múltipla escolha a serem preenchidas pelo pesquisador ao observar os gestos do avaliado. O instrumento avalia o nível de gestualidade, as regiões de gestualidade, a gestualidade facial e o nível de atenção à linguagem corporal. O objetivo da aplicação do protocolo no presente estudofoi identificar os níveis de gestualidade dos praticantes de artes circenses durante os treinamentos. A pesquisadora responsável pela coleta passou por estudos piloto, com o intuito de familiarizar-se com o instrumento. A aplicação foi realizada através da observação individual, utilizando papel e caneta esferográfica, anotando e transcrevendo o nível de expressão ou gestos que o observado executava. Cada participante passou por duas sessões de observações com 30 minutos cada, em dias e semanas distintas. Toda a gestualidade de ambas as observações foram inclusas nos resultados do estudo.
2.3 TRATAMENTO DE DADOS
Após coletados, os dados foram transferidos para planilhas do programa Microsoft Excel® para posterior exportação e análise estatística no programa StatisticalPackage Social Sciences
menos de um ano de participação no projeto (iniciantes) e; II – com experiência igual ou superior a um ano de participação no projeto (experientes). Os grupos foram comparados a fim de identificar se os indivíduos com mais tempo de prática possuíam maior nível de comunicação não-verbal.
2.4 ANÁLISE DE DADOS
A estatística descritiva foi utilizada para caracterização da amostra através de média e desvio padrão. A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste Shapiro-Wilk. O coeficiente de
Kappa foi utilizado para atestar a estabilidade temporal das observações. As diferenças nos escores
de linguagem corporal de cada grupo foram analisados através dos testes Qui-Quadrado e
U-Mann-Whitney. Um valor de significância de p<0,05 foi utilizado em todos os testes.
3 RESULTADOS
Participaram do estudo 19 praticantes de artes circenses com idade média de 12,62±2,43, com tempo médio de prática de 26,7±24 meses e escore médio de atenção à linguagem corporal de 2,4±0,7 em uma escala com intervalo de 0-4. Um total de 38 observações, com no mínimo 30 minutos, foram realizadas no presente estudo, onde coeficientes de Kappa, com valores entre 0,5 e 1,0 (<0,01), atestam a estabilidade temporal das observações. Um total de 14 observações constituíram o grupo “Iniciantes”, seus participantes apresentaram idade média de 11,7±2,1, com 5,8±0,8 meses de tempo de prática de artes circenses. Já o grupo “Experientes” constituiu-se de 24 observações, onde seus participantes apresentaram idade média de 12,5±2,5 e 39±22,4 meses de tempo de prática.
Observa-se na Tabela 01 que, em relação ao nível de gestualidade, a maioria das observações ao grupo de Iniciantes foi considerada como baixa (n= 13/ 92,85%) e nenhuma foi considerada de nível alto (n=0/ 0%). Já no grupo de Experientes foram 13observações de nível médio (54,17%) e 07 de nível alto (29,16%). Os resultados do grupo Experientes indicam que este possui maior nível de gestualidade em comparação com o grupo de Iniciantes, a diferença observada é estatisticamente significativa (p<0,01).
Tabela 01: Nível de gestualidade, região predominante de gestualidade, região de gestualidade (movimentos repetidos), gestualidade facial e atenção à linguagem corporal (n=38).
Variáveis Iniciantes (%) Experientes (%) p
Nível de Gestualidade Baixo 13 (92,85%) 04(16,67%) <0,01x Médio 01 (7,15%) 13(54,17%) Alto 00 07(29,16%) Região Predominante de Gestualidade Corpo todo 04(28,56%) 07(29,16%) >0,80x
Peito 09(64,29%) 16(66,67%) Cabeça 01(7,15%) 01(4,17%) Região de Gestualidade (movimentos repetidos) Rosto 02(14,29%) 02(8,33%) <0,03x Mãos e braços 11(78,56%) 10(41,67%) Corpo inteiro 01(7,15%) 12(50%) Gestualidade Facial Boca 05(35,71%) 04(16,67%) >0,40x Olhos 04(28,56%) 10(41,67%) Sobrancelha 03(21,44%) 08(33,33%) Testa 02(14,29%) 02(8,33%) Atenção à Linguagem Corporal 1,93±0,2 ( ±) 2,73±0,7 ( ±) <0,01u Fonte: dados da pesquisa.
: média; ±: desvio padrão; xQui-Quadrado; uMann-Whitney.
Em relação à região predominante de gestualidade, foram analisadas três partes do corpo, sendo o corpo todo, peito e cabeça. Nos dois grupos foram observados movimentos de maneira mais frequente na altura do peito 64,29% e 66,67% para os grupos Iniciantes e Experientes, respectivamente. As observações para o “corpo todo” ficaram com valores pouco abaixo dos 30% para ambos os grupos e as observações na altura da cabeça foram as menos incidentes. Diante desses dados, não foi observada significância entre os grupos (p>0,80).
Tratando-se da região de gestualidade (movimentos repetidos), eram analisados gestos no rosto, mãos e braços e corpo inteiro. No grupo dos Iniciantes, o item “mãos e braços” obteve maior número de observações, seguido rosto e corpo inteiro. Já no grupo de Experientes obteve-se mais observações para o“corpo inteiro”, seguido “mãos e braços” e “rosto”. Nesta variável o teste
Qui-Quadrado indicou diferença significativa (p<0,03) entre os grupos, com destaque para o item “corpo
inteiro” com 12 observações no grupo deExperientes e apenas 01 no grupo de Iniciantes.
Na variável Gestualidade Facial, foram observados movimentos com a boca, os olhos, sobrancelhas e testa. Embora não tenham sido observadas diferenças significativas entre os grupos, pode-se destacar o item “olhos” do grupo de Experientes, que obteve 41,67 das observações, alcançando o maior índice nesta variável. Na variável Atenção à Linguagem Corporal o grupo de Iniciantes obteve o escore médio de 1,93±0,2 contra 2,73±de 0,7 do grupo de Experientes.Sendo observada diferença estatisticamente significativa entre os grupos (p<0,01).
4 DISCUSSÃO
O presente estudo buscou investigar a influência das artes circenses nodesenvolvimento da linguagem corporal. Os principais achados do estudo indicam que a) há estabilidade temporal entre as duas observações de cada participante, indicando que os mesmos apresentaram o mesmo comportamento corporal em ambos os momentos; b) os participantes com mais tempo de prática (grupo de Experientes) possuem maior nível de gestualidade; c) o “peito” foi a região com maior manifestação de gestos, tanto para o grupo de Iniciantes como para o grupo de Experientes; d) no grupo de participantes Experientes,foi observada maior ocorrência de repetições de gestos pelo “corpo inteiro”; e) não foi observada diferença no uso da gestualidade facial entre os dois grupos e; f) o grupo de participantes com mais tempo de prática de atividades circenses alcançou maiores escores de “atenção à linguagem corporal”.
Tratando-se do nível de gestualidade, observa-se que o grupo de experientes apresenta escores superiores aos dos iniciantes. Martins (2006), em estudo realizado com parlamentares brasileiros, encontrou prevalência do nível médio de gestualidade, onde 69% dos participantes encontravam-se classificados neste nível, contra 16% de nível baixo e 14% de nível alto. O referido estudo apresenta algumas semelhanças com os resultados encontrados na presente pesquisa, visto que 15% do grupo de participantes Experientes encontram-se no nível baixo, diferindo bastante do grupo de Iniciantes, dos quais, 95% dos observados estão nesse nível. Em relação ao nível alto, no grupo de Iniciantes nenhum participante alcançou essa classificação, já o grupo Experiente, com 35%dos participantes nesse nível, apresentou valores duas vezes maiores do que os dados encontrados noestudo de Martins. A aprendizagem inicia quando o indivíduo ainda é um bebê,na medida em que o indivíduo passa pelas experiênciasde vida, vai adquirindo novos conhecimentos, capacidades e habilidades(HAGE; PEREIRA; ZORZI, 2012; GALLAHUE; OZMUN, 2005; COHEN, 2017). Tanto os parlamentares investigados por Martins, como o grupo de participantes Experientes do presente estudo, possuem experiência comunicativa mais ampla, seja pela idadeou pelo tempo de prática de artes circenses respectivamente, o que pode justificar os melhores resultados destes dois grupos, frente aos resultados obtidos pelo grupo de participantes Iniciantes. Nesse sentido, os resultados do presente estudo sugerem que a experiência deprática de atividades circenses proporciona um melhor nível de gestualidade.
Com relação à região de gestualidade, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos de participantes Iniciantes e Experientes. Porém, quando as regiões de gestualidade foram observadas no intuito de identificar movimentos repetidos, o grupo de participantes Experientes se sobressaiu no item “corpo inteiro”, o qual recebeu 50 % do total de observações. Silva e Beresford (2004), afirmam que os movimentos são repetidos conforme o sentimento doexecutante naquele
momento, para cada uma das emoções, há gestos pré-estabelecidos que, provavelmente, poderão ser observados. A linguagem corporal não pode ser vista como uma só,mas como um conjunto de ações que levam ao entendimento de umamensagem a ser repassada, entendendo o movimento sempre como um gestonovo e interligado com o mundo (SANTOS; SILVA 2016). Além da influência dos sentimentos na repetição de movimentos, o momento situacional onde o indivíduo se encontra também parece impactar esse aspecto (ANDRADE et al., 2014), nesse sentido, a maneira como os participantes mais experientes se sentem durante a prática das artes circenses parece influenciar narepetição de movimentos.
A gestualidade facial é uma das variáveis que não apresentou diferençaestatisticamente significativa entre os grupos de Iniciantes e Experientes. Osgestos e movimentos sempre procuram condizer com aquilo que quer transmitir (NEIVA; GAMA; TEIXEIRA, 2016) e para Taets e Figueiredo (2009), o rosto é umadas áreas mais expressivas do corpo, talvez por ser a parte mais exposta. Silva et al. (2000) afirmam queos gestos são aprendidos de formas diferentes dentro da sociedade na qual estáinserido, havendo apenas um gesto considerado o mesmo em todos os lugares– o sorriso. O fato das expressões faciais serem tão utilizadas nas mais diversas experiências comunicativas do indivíduo, seja em casa, na escola, no trabalho, etc., pode explicar o fato de ambos os grupos do presente estudo possuírem características parecidas de uso da gestualidade.
Quando observados os resultados da variável “atenção à linguagem corporal”, há fortes indíciosde que o grupo de participantes Experientes possuem maior capacidade de prender a atenção de quem os observa para seus gestos corporais. Santos (2006), em seu estudo com objetivo de investigar a capacidade de candidatos políticosprenderem a atenção de expectadores, identificou que dentre os 03 investigados, 02apresentaram capacidade médiae 01 apresentou capacidade baixa de preensão da atenção. Ao compararmos os achados de Santos com os resultados do presente estudo, percebe-se que os candidatos 02 e 03, classificados com capacidade média, apresentam equivalênciacom o grupo de participantes Iniciantes. O candidato 01 apresenta capacidade de prendera atenção abaixo dos demais candidatos do estudo de Santos (2006) e do grupo deIniciantes do presente estudo. O grupo de Experientes apresenta resultados superiores a todos os indivíduos analisados por Santos. Para Weil e Tompakow (2015), na medida em que o ser humano vai vivenciando experiências comunicativas, amplia suas capacidades, chegando a estágios mais avançados de comunicação e Miranda e Bortoleto (2018) destacam a característica expressiva das atividades circenses. Nesse sentido, os resultados sugerem que para além das experiências comunicativas comuns a todas as pessoas, a vivencia de atividades expressivas, como as artes circenses, pode contribui para o processo de desenvolvimento da comunicação, em especial da linguagem corporal.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo buscou investigar as possíveis associações entre a prática das artes circenses e o desenvolvimento da linguagem corporal. A expectativa à priori era de que um maior tempo de prática de artes circenses estaria associado a um melhor desenvolvimento da linguagem corporal. Os resultados indicaram que os participantes com maior experiência na prática de artes circenses possuem maior nível de gestualidade, que repetem mais gestos pelo corpo inteiro e possuem uma maior capacidade de reter a atenção de quem os observa para seus gestos corporais, confirmando assim a hipótese do estudo.Conclui-se que um maior tempo de prática de artes circenses está associado a um melhor desenvolvimento da linguagem corporal.
O presente estudo encontrou dificuldade em revisar a literatura devido aos poucos trabalhos que tematizam as artes circenses, a linguagem corporal bem como seu relacionamento. Fica nítida a necessidade de mais estudos em ambas as áreas. Por fim, em uma perspectiva educacional, a partir dos resultados da presente pesquisa, a tematização das artes circenses no ambiente escolar torna-se relevante, uma vez que pode contribuir para com o desenvolvimento dos recursos comunicativos dos alunos.
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