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A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS, PORTADORES DE DOENÇA GRAVE, NA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS | Anais do Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas - ISSN 2526-8678

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Anais do I Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas Porto Velho/RO 29 e 30 de novembro de 2016 P. 220 a 235 A RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DOS AVÓS, PORTADORES DE DOENÇA

GRAVE, NA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS

Fabiana Corrêa Leão1 Carina Gassen Martins Clemes2

RESUMO

O objetivo deste artigo é conceituar a definição de alimentos em geral, bem como, apreciar o momento adequado para a propositura da ação de alimentos impetrada pelos netos, equacionando da melhor forma a base como parâmetro de fixação de alimentos à luz do binômio necessidade/possibilidade. Levando em consideração que, por estarem ambos em situações opostas da vida, e estarem em uma situação de vulnerabilidade e necessidades, os direitos que os protegem devem ser respeitados a fim de que todos tenham uma qualidade digna de vida e não se submetam a situações de riscos. A abordagem do tema tem como base de estudo não só a parte doutrinária, mas também jurisprudencial, a fim de melhor entender os reflexos que atingem a família na sociedade.

Palavras-chaves: Pensão alimentícia. Direito à saúde do idoso. Direito a alimentos da criança. Avós portadores de doenças graves. Necessidade. Possibilidade.

ABSTRACT

The purpose of this article is to conceptualize the definition of aliments in general, as well as value the right time for the bringing of alimony action by grandchildren, equating the best base as aliments setting parameter by the light of the binomial need/possibility. Considering that, because they are both in opposite situations of life, and in a situation of vulnerability and needs, the rights that protect them must be respected so that all have a decent quality of life and are not subjected to risk situations. The theme approach is not only based in the study of the doctrinal part, but also case law, to better understand the consequences that affect the family in society.

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Acadêmica do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. Email: ffabs@live.com. 2

Docente da disciplina de Direito Civil do Curso de Direito da Faculdade Católica de Rondônia. Orientadora do trabalho. Email: carinaclemes@yahoo.com.br.

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Keywords: Alimony. Right to health of the elderly. Right to aliments of the child. Grandparents with serious diseases. Need. Possibility.

INTRODUÇÃO

O presente artigo analisa a responsabilidade dos avós, na provisão dos netos, que é subsidiária e complementar, já que os responsáveis primários da obrigação são os genitores. Tratando-se de uma obrigação alimentar a qual confronta, juntamente com o direito à saúde do idoso, o direito a alimentos a criança. Conforme previsto no artigo 1.696 do Código Civil: “o direito a prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.”

Este artigo terá como objeto de estudo analisar o fato de idosos portadores de doença grave terem que, por força do princípio da solidariedade familiar, assumir uma obrigação subsidiária dos pais na complementação de alimentos. Visto que, ainda que os genitores possuam capacidade laborativa, muitas vezes, por ambição, requerem complementação para o sustento da criança, recaindo tal obrigação aos avós que, no caso estudado, estão passando por tratamentos de saúde, bem como, necessitam de medicamentos para sua subsistência. A pergunta chave é: Sabendo que o custeio de tratamentos e medicamentos para sua saúde são altos, é constitucional se responsabilizarem subsidiariamente à obrigação de prestar alimentos, mesmo quando incapacitados?

Não será discutido o direito garantido à criança pela Constituição Federal em seu artigo 227, mas, sim, serão observados com cautela os dois direitos que conflitam entre si. Dado que muitas ações com o pedido de alimentos tem como fundamentação base o artigo 1698 do Código Civil.

As necessidades da criança devem ser observadas de forma mais delicada, apreciando o que de fato é realmente necessário para seu sustento e se baseando nas condições financeiras que possuem seus pais, e não seus avós. É isso abordaremos a seguir.

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222 MÉTODO DE PESQUISA

Para a realização do estudo deste artigo será utilizada pesquisa bibliográfica e documental, bem como, jurisprudências e decisões decorrentes acerca da análise subjetiva de diversos magistrados no que se refere ao critério de fixação de alimentos como parâmetro para a obrigação alimentar.

1. DOS ALIMENTOS EM GERAL

O ser humano necessita, desde o nascimento até a sua morte, do amparo de seus semelhantes, e de bens necessários para sua sobrevivência. Como por exemplo, na Grécia Antiga, o pai tinha obrigação de prover educação à prole e, por lei, obrigação de alimentar os filhos. Os descendentes, por outro lado, tinham o dever de alimentar, para com os seus ascendentes, visando uma forma de reconhecimento e gratidão.

O artigo 230 da Constituição Federal prevê que: “A família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida” (BRASIL, 1988).

Entretanto, diante da incapacidade do Estado de garantir tal direito, este transferiu a obrigação de prestar alimentos ao particular, mediante relação de parentesco.

1.2 CONCEITO DE ALIMENTOS

Diversos autores conceituam juridicamente o termo “alimentos”. Entretanto, de certo modo, todos os conceitos são voltados para a mesma definição, uns complementando os outros, não existindo assim, divergências importantes entre os doutrinadores, e nem na jurisprudência.

O termo “alimentos” nos leva a uma interpretação de alimentos de fato, ou seja, o que está presente na alimentação de uma pessoa no dia a dia, para que ela possa sobreviver com saúde. Entretanto, para o direito civil, a compreensão desse

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conceito é mais ampla, pois não abrange só os alimentos propriamente ditos, e sim, todas as necessidades essenciais que uma pessoa precisa para sobreviver em sociedade, como por exemplo, o acesso à saúde e à educação. (VENOSA, 2008, p. 347).

Em síntese, os alimentos constituem uma quantia paga pelo alimentante ao alimentado, a título de assistência ou manutenção às suas necessidades, tendo em vista que, alimento não é só aquilo que nutre, mas sim um rol infinito de coisas imprescindíveis para preservar a vida da pessoa, como a habitação, educação, vestuário, assistência médica, lazer, entre tudo aquilo que é necessário ao sustento de uma pessoa. (DINIZ, 2007, p. 535).

O artigo 1.920 do Código Civil de 2002 conceitua amplamente, o termo alimentos: “O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor”.

Acerca da conceituação dos alimentos, Fiúza (2008, p. 981) preleciona que:

Considera-se alimento tudo o que for necessário para a manutenção de uma pessoa, aí incluídos os alimentos naturais, habitação, saúde, educação, vestuário e lazer. A chamada pensão alimentícia, soma em dinheiro para prover os alimentos, deve, em tese, ser suficiente para cobrir todos esses itens ou parte deles, conforme e obrigação do alimentante seja integral ou parcial.

Nas palavras de Rodrigues (2002, p. 418):

Alimentos, em Direito, denomina-se a prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou em espécie, para que possa atender às necessidades da vida. A palavra tem conotação muito mais ampla do que na linguagem vulgar, em que significa o necessário para o sustento. Aqui se trata não só do sustento, como também do vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença, enfim de todo o necessário para atender às necessidades da vida; e, em se tratando de criança, abrange o que for preciso para sua instrução.

Nos dizeres de Gama (2000, p. 11):

Por alimentos, entenda-se a obrigação de dar um montante, em dinheiro ou não, a outra pessoa, para a sua subsistência. Subentendem-se incluso em alimentos, o vestuário, a habitação, a educação, o lazer, a assistência médica e os medicamentos.

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Sendo assim, os alimentos não se reduzem somente à noção de sustento, mas englobam todas as necessidades vitais básicas do alimentando.

2.2 ESPÉCIES DE ALIMENTOS

As espécies de alimentos são classificadas quanto à sua natureza, quanto à causa jurídica, quanto à finalidade e quanto ao momento da prestação.

Passar-se-á a análise de cada uma dessas espécies.

2.2.1 Quanto à Natureza Jurídica

Denominam-se em alimentos naturais ou côngruos, e alimentos civis ou necessários. (VENOSA, 2008, p. 348)

Os alimentos naturais ou côngruos são aqueles indispensáveis à sobrevivência do alimentando, como, por exemplo, alimentação, remédios, vestuário e habitação. Os alimentos civis ou necessários são aqueles destinados a manter a qualidade de vida do credor, ou seja, concernentes à educação, instrução, assistência e recreação. (VENOSA, 2008, p. 348)

Ambas as espécies encontram-se no Código Civil, artigo 1.694 e seus parágrafos, in litteris:

Art.1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender as necessidades de sua educação.

§ 1º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2º. Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

De acordo com o artigo supracitado, os alimentos podem ser pleiteados entre os parentes, cônjuges ou companheiros, sendo fixados conforme a necessidade do alimentando. No entanto, os alimentos serão apenas aqueles indispensáveis à subsistência, quando resultarem de culpa do próprio reclamante.

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São classificados em legítimos ou legais, voluntários, e ressarcitórios ou indenizatórios. (DINIZ, 2007, p. 554)

Os alimentos decorrentes em razão da lei são chamados de legítimos ou legais e são devidos por imposição de lei, em virtude de existir entre as pessoas, um vínculo familiar. Temos, como exemplo, os alimentos devidos entre ex-cônjuges e ex-companheiros; como também, os alimentos pagos pelo Poder Público a título de pensão por morte e aposentadoria por invalidez. (DINIZ, 2007, p. 554)

Já os alimentos decorrentes em razão da vontade são também conhecidos como voluntários, pois resultam de uma livre declaração de vontade, inter vivos ou causa mortis. Nesse caso, os alimentos pertencem ao Direito das Obrigações ou ao Direito de Sucessões. Nos atos entre vivos, os alimentos podem assegurar os meios para subsistência de uma pessoa, exemplo: alimentos contratuais, acordados entre partes sem necessidade de vínculo de parentesco entre as mesmas. (DINIZ, 2007, p. 554).

Por fim, decorrentes em razão do delito, temos os alimentos ressarcitórios ou indenizatórios, que são destinados a indenizar a vítima de um ato ilícito, como por exemplo, o autor de um homicídio ficará responsável pela prestação de alimentos aos credores do falecido. (DINIZ, 2007, p. 554).

2.2.3 Quanto à Finalidade

Os alimentos denominam-se quanto à sua finalidade em provisionais, provisórios e regulares. (DINIZ, 2007, p. 553).

Os alimentos provisionais têm natureza antecipatória e cautelar, e são concedidos antes do julgamento de uma ação principal (alimentos, divórcio, dissolução de união estável). Por ser ação cautelar, tem caráter acessório, não sendo definitivo, pois ainda depende da decisão de uma ação principal. Os alimentos provisionais visam apenas prevenir o alimentado que está na pendência da lide, e custear despesas processuais e honorários advocatícios, desde que o periculum in mora e o fumus boni juris sejam comprovados. (DINIZ, 2007, p. 553).

Os alimentos provisórios são concedidos na própria ação de alimentos, antecipando a decisão final da ação, ou seja, tem natureza antecipatória.

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(...) denominam-se alimentos provisionais ou provisórios aqueles que precedem ou são concomitantes a uma demanda de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação de casamento, ou mesmo ação de alimentos. Sua finalidade é propiciar meios para que a ação seja proposta e prover a mantença do alimentando e seus dependentes durante o curso do processo.

Os alimentos regulares ou definitivos serão concedidos mediante vontade das partes, a partir de um acordo, ato unilateral ou decisão judicial em que se fixam alimentos estabelecidos como pensão periódica ou permanente, sujeitas à revisão, ao final da ação judicial. (DINIZ, 2007, p.553).

2.2.4 Quanto ao Momento da Reclamação

São classificados em futuros e pretéritos. (VENOSA, 2008, p. 353)

Os alimentos futuros são aqueles devidos após prolatada a decisão da ação. Enquanto os pretéritos são os alimentos que antecedem a ação, ou seja, aqueles pleiteados a partir do ajuizamento da ação. (VENOSA, 2008, p. 353)

Na concepção de Cahali (2007, p. 26), os alimentos futuros “se prestam em virtude de decisão judicial ou de acordo, e a partir dela, e os alimentos pretéritos são anteriores a qualquer desses momentos”.

Gonçalves (2010, p. 461) explica que os alimentos pretéritos são aqueles pedidos anteriormente ao ajuizamento da ação, enquanto os alimentos futuros são postulados a partir da sentença.

Ante o exposto, verifica-se que os alimentos pretéritos são pleiteados antes do ajuizamento da ação, e os futuros, são devidos somente com o findo processo.

2.3. Critérios de Fixação de Alimentos

Existem duas variáveis que compõem o critério de fixação dos alimentos, que são: a necessidade do alimentando versus a possibilidade do alimentante. Na fixação dos alimentos, deve-se observar tanto o direito assegurado à criança, quanto a subsistência digna dentro das possibilidades do alimentante.

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Nas palavras em acórdão proferido pelo respeitado Des. RICARDO OLIVEIRA3: “É cediço que a fixação da prestação alimentícia deve respeitar o binômio necessidade/possibilidade. O arbitramento dos alimentos não pode converter-se em gravame insuportável ao alimentante nem mesmo em enriquecimento ilícito do alimentado. Deve-se observar o equilíbrio entre a situação financeira daquele que os presta e a real necessidade daquele que recebe, conforme disposto no art. 1.694, § 1.º do Código Civil, vejamos:

"Art. 1694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1.º Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada."

No que se refere à obrigação dos avós, surge a seguinte questão: Qual a base utilizada para que seja realizado o pedido judicial de alimentos, e seus critérios de fixação? Sabendo disso, o Código Civil, juntamente com a Lei de alimentos, colocam em vigor, como pressuposto para fixação de alimentos, o chamado binômio necessidade e possibilidade.

No tocante à obrigação dos avós de prestarem alimentos, é importante ressaltar que tal responsabilidade é subsidiária, é exceção; em regra, a responsabilidade primária será dos pais. Não sendo conveniente sacrificar aqueles idosos que, cansados das responsabilidades da vida e de terem que se preocupar com sua saúde, serem obrigados a prestar determinada obrigação apenas por meros devaneios dos pais que não atestam a dificuldade de cumprir com o sustento de sua prole.

Ainda assim, é necessária a apreciação de todos os casos com a devida cautela, em razão de especialidades e de fatos específicos, pois, fixar pensão alimentícia a idosos portadores de doenças graves que possuem diversos problemas financeiros consequentes da idade avançada é uma responsabilidade delicada.

Em contrapartida, a situação em que a criança se encontra também é caracterizada uma circunstância de vulnerabilidade. Porém, no caso dos avós,

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idosos que se encontram em uma situação crítica de saúde, é preciso uma atenção especial ao critério de possibilidade, para que possa ser apreciado se a sua subsistência será prejudicada com a prestação de alimentos em favor do neto.

Faz-se necessário apreciar com ponderação a determinação judicial referente à pensão ao alimentado, uma vez que tal obrigação direcionada aos avós poderá ser caracterizada como fonte de abuso, dado que existem casos em que a genitora, que não recebe contribuição do ex cônjuge, propende a cobrar quantias exorbitantes aos avós, em consequência da omissão de seu filho com a criança. Tal omissão, de acordo com o Código Penal, em seu artigo 244, é qualificada como crime de abandono material, alterada pela Lei 5. 478/68,que preleciona que:

Art. 244. Deixar, sem justa causa, de prover a subsistência

do cônjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente inválido ou maior de 60 (sessenta) anos, não lhes proporcionando os recursos necessários ou faltando ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo.

O desemprego que o impede de prestar alimentos, caracterizado por “pais faltosos”, porém, com capacidade laborativa, deve ser explorado com atenção, visto que deve ser comprovado a sua impossibilidade para qualquer que seja a ocupação de cargo laborioso.

O posicionamento apresentado pelo Rel. Des. Enio Santarelli4 em Julgado a seguir enfatiza a problemática:

PEDIDOS AO AVÔ PATERNO. Não comprovação da impossibilidade de o pai suprir as necessidades fundamentais do menor. Afasta-se a comprovação dos avós, de forma subsidiária ou complementar, a cumprir tal encargo, nos termos do art. 1.696 do CC. Não provimento.

No caso em apreço, como evidente, suposta impossibilidade do genitor em arcar com o pensionamento e, assim, suprir as necessidades fundamentais do menor alimentando foi alegada visando justificar o pedido de que a obrigação de alimentos recaísse, então, sobre o avô paterno.

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Tem-se, contudo, que, da análise dos elementos probatórios carreados, não se pôde extrair a efetiva impossibilidade do genitor em cumprir, por si, a obrigação que lhe competia, afastando, por conseguinte, a assunção da referida obrigação pelos avós.

O entendimento manifestado pelos julgadores no caso sob análise, se dito de outra forma, e em apertada síntese, corresponderia à ideia de que não basta mera alegação de que o cumprimento da obrigação de prestar alimentos é impossível ao genitor. Para que os avós sejam levados a cumprir, de forma subsidiária ou complementar, a obrigação de prestar alimentos; é imprescindível que reste inconteste a impossibilidade do genitor em fazê-lo às suas expensas.

Diante desse cenário, vale mencionar, por oportuno, que a mudança da capacidade financeira do genitor ao longo do período em que subsiste a obrigação de prestar alimentos, por vezes, é utilizada como fundamento para o pleito de que a obrigação passe a recair sobre os avós.

Por isso mesmo, não raro o Judiciário é instado a se manifestar sobre a questão, valendo, assim, trazer a colação o julgado pelo iminente Rel. Des. Izaias Edua5, explica-se:

Ora, segundo consta, a mudança na capacidade financeira do genitor, de igual modo, não serve para o fim de liberá-lo da obrigação de prestar alimentos e, eventualmente, transferi-la aos avós ou mesmo elidir a obrigação, ou ainda, autorizar a extinção de uma execução proposta em seu desfavor.

Mais adequado, neste caso, em termos de defesa do genitor alimentante, haverá de ser a apresentação de pleito revisional que vise, em última análise, compatibilizar a obrigação com a capacidade financeira do genitor.

É de se concluir, assim, que a obrigação de prestar alimentos, uma vez reconhecida em face do genitor, subsistirá contra ele, ainda que sofra diminuição em sua capacidade econômica ou que os avós possuam melhor capacidade financeira, por exemplo.

A possibilidade de os avós assumirem a obrigação alimentícia não pode, como se tem defendido, dar-se de qualquer modo.

A dimensão a ser diagnosticada na pensão alimentícia qualificada pelo critério da proporcionalidade, propõem o equilíbrio entre a necessidade do alimento e a

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capacidade de pagar, variando cada entendimento de diversos magistrados em suas apreciações.

3. OBRIGAÇÃO DE ALIMENTAR ENTRE ASCENDENTES E DESCENDENTES

De acordo com o Código Civil, a obrigação alimentar é organizada conforme uma ordem de responsabilidade a ser seguida. Os primeiros chamados a prestar alimentos são os pais. Em segundo, os ascendentes, recaindo a obrigação aos avós, na falta dos pais. E posteriormente, na falta dos avós, a obrigação será do bisavô e, assim, sucessivamente.

Art. 1.696 O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.

A obrigação dos parentes mais distantes é subsidiária e complementar, isto é, uma forma de auxílio que se limita a completar o valor devido.

Ainda sobre a obrigação entre ascendentes e descendentes, MIRANDA (2000, p 278) a respeito da matéria, diz que:

“Por isso que os ascendentes de um mesmo grau são obrigados em conjunto, a ação de alimentos deve ser exercida contra todos, e a quota alimentar é fixada de acordo com os recursos dos alimentantes e as necessidades do alimentário. Assim, intentada a ação, o ascendente (avô, bisavô, etc.) pode opor que não foram chamados a prestar alimentos os outros ascendentes do mesmo grau.”

4. A SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE DO IDOSO X A NECESSIDADE DA CRIANÇA NA PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS

É imperioso destacar a grande importância do papel do Ministério Publico em face da pessoa idosa. Tendo como fundamento a nossa Constituição Federal, em seu artigo 230, amparando que:

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhe o direito à vida.

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Posto isso, a Lei Federal de nº 8.842 de 1994 implantou a primeira medida estatal de âmbito nacional, a Política Nacional do Idoso, que pretende ratificar os direitos sociais aos idosos, bem como, efetivar sua participação na sociedade e criar condições para promover sua autonomia, por meio do órgão público responsável pela assistência social.

Em resultado disso, a Lei Federal nº 10.741 de 2003 criou o Estatuto do Idoso que assegura, em seu artigo 3º, a prioridade dos idosos em atendimentos preferenciais imediatos, e individualizados junto aos órgãos públicos e privados, bem como a inviolabilidade física, psíquica moral, em detrimento de outros. Da mesma maneira que proíbe sua vitimização, em consequência de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, maldade ou opressão.

Podemos observar que a saúde do idoso, assim como sua integridade física e moral está sendo amparada por Legislação Federal, Estatutos e defendida pelo Ministério Publico. Em razão de serem pessoas já fragilizadas, os idosos estão mais propensos a adquirirem doenças graves que necessitam de tratamentos e medicações especializadas. E a grande chave da questão é: qual direito é priorizado pelo MP, sem que haja desequilíbrio social, o direito à saúde do idoso, ou o direito a alimentos da criança?

O Ministério Público é parte legítima para ajuizar ação de alimentos em benefício de menor e pode fazê-lo independentemente do exercício do poder familiar pelos pais, da existência de risco prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ou da capacidade da Defensoria Pública de atuar.

Mas o problema trazido em questão ocorre quando os pais possuem capacidade laborativa, mas não o fazem, seja por descuido ou falta de interesse em prover o sustento de seus filhos, ou ainda, quando os cônjuges são divorciados e ambos possuem condições financeiras, posteriormente um deles não cumprindo com a obrigação imposta, e tal obrigação recai aos avós. Sendo assim, é cabível que a ação de alimentos seja imposta aos avós? Mesmo que possuam necessidade de tratamentos médicos e gastos com medicamentos?

Foi criada em 1977 a Lei do Divórcio, (Lei nº 6.515/77), que traz, em seu artigo 20, que para a manutenção dos filhos, os cônjuges, separados judicialmente, contribuirão na proporção de seus recursos. Nestes casos, o Superior Tribunal de Justiça vem decretando que, é necessário que os pais

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comprovem a impossibilidade da prestação, e não somente deixem de prestar alimentos, uma vez que a obrigação imposta aos avós é apenas subsidiária e não solidária.

De fato, é importante ser estudado os direitos que protegem a criança. A prole em hipótese nenhuma deve ser desamparada por seus familiares. O que se discute é quando o direito a criança se sobressai mais que o direito a saúde do idoso, caracterizando, entre as partes, o enriquecimento exagerado de um e gerando o empobrecimento de outro.

5. DO JULGADO PROCEDENTE/IMPROCEDENTE

Tendo como critério subjetivo as jurisprudencias no que concerne a responsabilidade subsidiária e complementar dos avós, é importante estudar cada caso e suas agravantes. Posto isso, a Terceira Câmara de Direito Civil do TJ-SC em julgado, de relatoria de Juiz Saul Steil6, reconhece que:

“A obrigação dos avós de pagar alimentos para os netos é sucessiva e complementar, de sorte que a ação contra eles somente se justifica nos casos de falta ou comprovada impossibilidade dos pais, o que não ocorre na hipótese em questão, onde os genitores dos autor são pessoas jovens, saudáveis e exercem atividade remunerada, de modo que podem perfeitamente prover alimentos para o filho menor. Portanto, a exoneração da obrigação da requerida é medida que se impõe.”

Foi possível observar que, independentemente da situação em que se encontra a idosa que reside em casa de apoio para tratamento de saúde no julgado acima, a ação foi recebida e julgada procedente. Os genitores são pessoas jovens e com capacidade laborativa, não sendo necessário, portanto, a complementação de alimentos por parte da avó. O chamamento ao processo desta, somente deveria ocorrer quando comprovada a inexistência dos pais, ou a incapacidade laborativa dos mesmos.

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SANTA CATARINA, Tribunal de Justiça, AC nº 20140267342, 3ª Câmara Cível, Relator: Saul Steil, julgado em 07/07/2014, provimento negado.

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Em outras palavras, para que os filhos possam reclamar alimentos aos avós é necessária a falta dos pais, seja pela morte ou pela ausência. A necessidade da criança deve ser pautada na condição financeira de seus pais, e não de seus avós. Necessário é observar e respeitar o que defende o princípio da igualdade: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades.

Dessarte que, a Segunda Turma Cível do Distrito Federal, julgada pelo Rel. Teófilo Caetano7, a respeito de outro caso semelhante no que se refere aos abusos que ocorre contra idosos nas ações pensionistas, entendeu que:

“[...]AFIGURANDO-SE OS DESCONTOS DETERMINADOS COMO FORMA DE SER VIABILIZADO O ADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTÍCIA APTOS A AFETAR O EQUILÍBRIO DA ECONOMIA DOMÉSTICA DO AGRAVANTE, AFETANDO SUA SOBREVIVÊNCIA QUANDO PADECE DE GRAVE ENFERMIDADE, DEVEM SER SOBRESTADOS ATÉ QUE SEJA APURADA A OBRIGAÇÃO E SUA EXTENSÃO, NOTADAMENTE QUANDO OS ALIMENTANDOS HÁ MUITO JÁ ALCANÇARAM A MAIORIDADE CIVIL, ENSEJANDO A ILAÇÃO DE QUE SÃO APTOS A VIABILIZAR OS MEIOS NECESSÁRIOS À SUA SOBREVIVÊNCIA. [...]

A análise do caso cuja ementa foi acima reproduzida tem elevada utilidade, considerando ser possível observar verdadeiro exercício de ponderação pelos julgadores em relação ao descumprimento de prestações alimentícias pelo alimentante.

Cumpre destacar que as condições especiais experimentadas pelo genitor alimentante, notadamente portador de grave enfermidade, quando confrontadas com as condições do alimentando, maior e capaz, acabam por justificar, ao menos em tese, a análise mais apurada da adequação dos descontos das prestações nos proventos do alimentante, para que não haja onerosidade excessiva.

Nessa perspectiva, é de se ter em vista que, em casos de justificada necessidade, em que reste inconteste o desequilíbrio da relação entre obrigações e direitos de alimentante e alimentando, é possível que os meio de execução, por exemplo, sejam abrandados para a restauração do equilíbrio no que diz respeito ao

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TJ-DF - AG: 147044220068070000 DF 0014704-42.2006.807.0000, Relator: TEÓFILO CAETANO, Data de Julgamento: 02/05/2007, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: 04/09/2007, DJU Pág. 135 Seção: 3.

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pagamento de verba alimentícia, sem prejuízo da dignidade de quaisquer das partes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Ministério Público tem como papel fundamental, analisar ambos os lados, tanto a necessidade da criança quanto a possibilidade dos idosos. Porém, o Judiciário que conserva a última palavra, tendo o dever de julgar todos os casos de acordo com seus entendimentos à luz do princípio da legalidade e dignidade da pessoa humana. Porém, quando uma das partes ingressa com pedido de alimentos, é comum presumir que ela se encontra em um estado de vulnerabilidade. Com isso, é necessário se fazer uma análise rigorosa e detalhista de aspectos relacionados aos critérios de fixação dos alimentos, para que, futuramente, no decorrer do processo, os idosos não sofram com o desequilíbrio da decisão que os obriguem a prestar alimentos, visto que os mesmos também se encontram na mesma realidade, na situação de vulnerabilidade.

A diferença está contida na condenação do alimentante, equacionando da melhor maneira o parâmetro de fixação à luz do binômio possibilidade/necessidade, assim como a possibilidade contributiva dos avós, contraponto a necessidade de alimentos da criança. Conclui-se que, necessária se faz a utilização dos princípios fundamentais à dignidade humana para as ações que envolvam avós idosos, portadores de doenças graves, e seus netos possuaem nível igual de vulnerabilidade e necessidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Código Civil. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 07 de setembro de 2016

BRASIL. Código Penal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 24 de outubro de 2016.

_____. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 08 de outubro de 2016.

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______. Lei Federal nº 8.842 de 4 de Janeiro de 1994. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conselho Nacional do Idoso e dá outras providências. Brasília, DF, 04º janeiro de 1994. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 23 de outubro de 2016.

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Referências

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