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A GESTÃO HÍDRICA COMO INDUTORA DA SUSTENTABILIDADE NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO – ACRE | Anais do Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas - ISSN 2526-8678

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Academic year: 2021

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Anais do I Congresso Rondoniense de Carreiras Jurídicas Porto Velho/RO 29 e 30 de novembro de 2016 P. 675 a 697 Ana Carolina Couto Lima de Carvalho1

Andreia Alves de Almeida2 Flávio Henrique de Melo3

RESUMO

O objeto da pesquisa é a gestão dos recursos hídricos no território acreano e a sustentabilidade, justifica-se porque água é recurso essencial à vida. O problema é evidenciar a insustentabilidade ambiental da gestão dos recursos hídricos em Rio Branco. Parte-se da hipótese que a gestão hídrica deve ser indutora da sustentabilidade. O objetivo geral é conscientizar os acreanos do uso responsável e a necessária gestão eficiente dos recursos hídricos. Os objetivos específicos são: apresentar um conceito de sustentabilidade; colocar em prática a gestão ambiental no Acre; destacar a urgência do esgotamento sanitário; diminuir os impactos dos resíduos sólidos sobre o meio ambiente; reduzir o desmatamento da mata ciliar e desperdício de água; fiscalizar a abertura de poços e a qualidade da água. Será utilizado método de abordagem indutivo, fonte de pesquisa bibliográfica, legal e jurisprudencial, as técnicas do referente, da categoria, do conceito operacional e do fichamento.

Palavras-chave: Sustentabilidade. Gestão Ambiental. Recursos Hídricos. Rio

Branco – AC.

ABSTRACT

1 Doutoranda em Ciência Jurídica – DINTER entre FCR e UNIVALI. Mestre em Direito pela UNIPAR.

Especialista em Direito Tributário pela UnP. Pós-graduada em Direito Constitucional pela UVB. Graduada em Direito pela Toledo. Professora Adjunta do Curso de Direito da UFAC. Bolsista Prodoutoral CAPES. Advogada. E-mail: carolcoutomatheus@hotmail.com.

2 Doutoranda em Ciência Jurídica – DINTER entre FCR e UNIVALI. Mestre em Direito Ambiental pela

Fundação de Ensino Eurípides Soares da Rocha. Especialista em Direito Penal pela Toledo. Especialista em Segurança Pública e Direitos Humanos pela UNIR. Professora da UNIRON. Professora da Faculdade Católica de Rondônia. E-mail: andreiatemis@gmail.com.

3 Doutorando em Ciência Jurídica – DINTER entre FCR e UNIVALI. Mestre em Poder Judiciário pela

FGV-RJ. MBA em Poder Judiciário pela FGV-RJ. Especialista em Direito Constitucional e Eleitoral pela PUC-GO. Professor da EMERON. Juiz de Direito da comarca de Jaru – RO. Juiz Eleitoral da 27ª Zona Eleitoral de Jaru – RO. E-mail: flaviorondonia@gmail.com.

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The object of the research is the management of water resources in Acre territory and sustainability, is justified because water is an essential resource for life. The problem is to highlight the environmental unsustainability of water resources management in Rio Branco. It started from the hypothesis that water management must be inducing sustainability. The overall goal is to educate the Acre of responsible use and required efficient management of water resources. The specific objectives are: to present a concept of sustainability; put into practice environmental management in Acre; highlight the urgency of sewage; to reduce the impacts of solid waste on the environment; reduce deforestation of riparian vegetation and water waste; oversee the opening of wells and water quality. It will be used inductive approach method, literature source, legal and jurisprudential, the techniques of the referent, category, the operational concept and the book report.

Key-words: Sustainability. Environmental Management. Water Resources. Rio

Branco – AC.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto a gestão dos recursos hídricos no território acreano e a sustentabilidade. A escolha do tema justifica-se em razão da água ser um recurso indispensável e ter influência decisiva na qualidade de vida das populações. A humanidade vive um momento crítico no que tange a manutenção da vida humana no planeta. Aquecimento global, crise grave de falta de água e extinção de várias espécies.

Nesse contexto urge aprofundar os debates sobre os recursos hídricos no município de Rio Branco, no Estado do Acre, com o objetivo principal de conscientizar a sociedade do uso responsável e mobilizar as autoridades competentes sobre a gestão eficiente dos recursos hídricos. Para atingir o objetivo proposto a pesquisa em testilha abordará a importância da sustentabilidade no que toca ao desenvolvimento e ao meio ambiente.

Os objetivos específicos são: apresentar um conceito de sustentabilidade; colocar em prática o modelo teórico de gestão ambiental no território acreano; destacar a necessidade e urgência do esgotamento sanitário; reduzir o desmatamento da mata ciliar; diminuir os impactos dos resíduos sólidos sobre o meio ambiente; reduzir o desperdício de água; diminuir os impactos dos resíduos

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sólidos sobre o meio ambiente; controlar a abertura de poços e fiscalizar a qualidade da água.

As questões centrais da pesquisa em tela são: Qual o caminho percorrido pelo Direito Ambiental em âmbito mundial? Quais os aportes teóricos que foram surgindo nesse caminho e que se relacionam com a sustentabilidade? Qual é o conceito de sustentabilidade? O que significa gestão ambiental? Como é a gestão hídrica no município de Rio Branco – AC? A gestão hídrica no território acreano é sustentável?

Para tanto a pesquisa em epígrafe foi organizada em três partes. A primeira parte aborda de forma sucinta os distintos enfoques relativos à evolução histórica do Direito Ambiental, destacando as dimensões da sustentabilidade, o princípio da sustentabilidade e o conceito de sustentabilidade. A segunda parte estuda a gestão dos recursos hídricos no território acreano. A terceira e última parte objetiva responder à seguinte indagação: a gestão hídrica no território acreano é sustentável?

O problema da pesquisa em testilha é evidenciar a insustentabilidade da gestão dos recursos hídricos em Rio Branco – AC. A hipótese que norteia esse trabalho é no sentido de que a gestão hídrica no território acreano deve ser indutora da sustentabilidade. O marco de referência privilegia a construção teórica do conceito de sustentabilidade visando sua aplicação na gestão dos recursos hídricos no território acreano.

Pelo método de abordagem indutivo, fonte de pesquisa bibliográfica, legal e jurisprudencial relativa à proteção dos recursos hídricos e a sustentabilidade serão pesquisadas e confrontadas as partes de um todo para que se possa ter uma visão generalizada. Durante as diversas fases da pesquisa serão utilizadas as técnicas do Referente, da Categoria, do Conceito Operacional, do Fichamento e com base em documentação indireta será realizada Pesquisa Bibliográfica, bem como a pesquisa por meio eletrônico.

1 O DIREITO AMBIENTAL E A SUSTENTABILIDADE

Em uma visão internacional, inúmeras etapas marcaram a evolução do Direito Ambiental. A primeira etapa compreende o século XIX até a metade do século XX,

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os Tratados serviam para a proteção dos recursos naturais como a fauna e a flora. Desde 1950 já era gestado na Europa e nos Estados Unidos o movimento ambientalista.

Em 1962, Carson (2010) publicou a obra Primavera Silenciosa na qual contou a “Fábula para o Amanhã” e lançou a semente do que se tornaria mais tarde uma revolução social e cultural. A escritora americana impulsionou diversos movimentos globais sobre o meio ambiente e projetou para o espaço público o debate sobre a responsabilidade da ciência, os limites do progresso tecnológico e a relação entre ser humano e natureza.

O Direito Ambiental admite seu estudo por vários enfoques. O enfoque no progresso cronológico e impulso político se chamam ondas. Em relação ao surgimento da primeira onda do Direito Ambiental, Ferrer (2002, p. 75) explica:

En efecto, si hubiera que dar fecha a este acontecimiento diría que fue diciembre de 1969 cuando en Estados Unidos se adopta la National Environmental Policy Act que incluye la exigencia, para determinadas actuaciones, de realizar una Evaluación de Impacto Ambiental, primera institución jurídica propiamente ambiental.

A primeira onda foi responsável pela constitucionalização do Direito Ambiental em vários países. O marco foi a primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente Humano, realizada em 1972, em Estocolmo.

O surgimento de organizações não governamentais e o aumento de novos agentes sociais implicados na proteção ambiental ocorrem na segunda onda. Em 1992, no Rio de Janeiro foi realizada a segunda grande Conferência Mundial sobre o Meio Ambiental e Desenvolvimento e adotada a Agenda 21, aprovado o convênio sobre a mudança climática e sobre a diversidade biológica. Para alcançar o desenvolvimento sustentável é necessário observar a dimensão econômica e social, estudo iniciado na segunda onda.

A Terceira Conferência Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, ocorrida em 2002, em Johannesburg na África do Sul marcou a terceira onda. Em relação à quarta onda, Vieira (2012, p. 50) destaca dois temas centrais: “a transição para a economia verde e a governança global do desenvolvimento sustentável”. Para Ferrer (2012, p. 318) a quarta onda foi caracterizada pela Conferência de 2009, que reforçou o compromisso político dos Estados em relação ao desenvolvimento

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sustentável, identificou os progressos nos compromissos já firmados na ONU e novos desafios.

Para se alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento. Para Godoy (2007, p. 16) o marco do debate relativo ao desenvolvimento sustentável surgiu com o informe “Os limites do crescimento”, publicado em 1972 pelo Clube de Roma.

É um desafio fazer com que as relações ambientais se harmonizem com as relações econômicas, porém essa é uma “busca que não se pode descartar para uma utilização adequada, racional e equilibrada dos recursos naturais, sendo este um interesse para as presentes e futuras gerações” (SOUZA, 2012, p. 240).

A sustentabilidade consiste no pensamento de capacitação global para a preservação da vida humana equilibrada, consequentemente, da proteção ambiental, mas não só isso, também a extinção ou diminuição de outras mazelas sociais que agem contrárias à esperança do retardamento da sobrevivência do homem na Terra.

Trata-se de um princípio constitucional que determina, com eficácia direita e imediata, a responsabilidade do Estado e da sociedade pela concretização solidária do desenvolvimento material e imaterial, socialmente inclusivo, durável e equânime, ambientalmente limpo, inovador, ético e eficiente, no intuito de assegurar, preferencialmente de modo preventivo e precavido, no presente no futuro, o direito ao bem-estar (FREITAS, 2012, p. 41). Na convicção de Garcia (2015, p. 23) “o princípio da sustentabilidade é mais que um princípio constitucional, é um princípio global”. Para Ferrer (2002, p. 42) o princípio da sustentabilidade precisa ser visto de forma diferente para os países desenvolvidos e para os países em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos o enfoque é mais direcionado ao ambiental e econômico. Os países em desenvolvimento observam também o lado social, pois se a população não possui condições mínimas de vida, não haverá preocupação em preservação ambiental, pois urge a preservação imediata da vida. É necessário unir crescimento econômico, redução da pobreza e preservação ambiental.

A corrente doutrinária majoritária reconhece três dimensões da sustentabilidade: ambiental, social e econômica. A ambiental está relacionada à importância da proteção do meio ambiente e do Direito Ambiental, objetiva “garantir

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a sobrevivência do planeta por meio da preservação e melhora dos elementos físicos e químicos que a trazem possível, considerando sempre o alcance da melhor qualidade de vida do homem na terra” (GARCIA; GARCIA, 2014, p. 53).

O conceito de meio ambiente há que ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza original e artificial, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, paisagístico, turístico e arquitetônico. O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas (SILVA, 2013, p. 6).

A dimensão econômica visa ao desenvolvimento da economia com a finalidade de gerar melhor qualidade de vida às pessoas. Não há como retroceder nas conquistas econômicas alcançadas pela sociedade mundial.

A economia verde promove a melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, com a redução dos riscos ambientais. Uma economia com baixas emissões de carbono, que utiliza os recursos de forma eficiente e é socialmente inclusiva.

A dimensão social da sustentabilidade consiste no aspecto relacionado às qualidades dos seres humanos. Baseia-se na melhoria da qualidade de vida da sociedade por meio da “redução das discrepâncias entre a opulência e a miséria” (GARCIA, 2011, p. 215), como o nivelamento do padrão de renda, acesso à educação, moradia, alimentação.

O enfrentamento dos problemas sociais passa, necessariamente pela correção do quadro de enfrentamento de desigualdade social e da falta de acesso da população pobre aos seus direitos sociais básicos, o que potencializa a degradação ambiental.

O mínimo existencial deve ser identificado como o núcleo sindicável da dignidade humana, incluindo como proposta para sua concretização os direitos à educação fundamental, à saúde básica, à assistência no caso de necessidade e ao acesso à justiça, todos exigíveis judicialmente de forma direta. Para Barbieri (1997, p. 32) “a pobreza, a exclusão social e o desemprego devem ser tratados como problemas planetários, tanto como a chuva ácida e o efeito estufa”.

Renomados doutrinadores, como Ferrer (2012, p. 24), Cruz e Bodnar (2012, p. 112), a dimensão tecnológica da sustentabilidade surge devido aos grandes avanços da globalização e da evolução do homem. A dimensão tecnológica é

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imprescindível na realidade atual, pois é a inteligência humana individual e coletiva acumulada e multiplicada que poderá gerar um futuro sustentável, novas tecnologias sustentáveis e a Internet ligada a uma sociedade do futuro.

Todas as dimensões identificam direitos humanos fundamentais, como o meio ambiente e o desenvolvimento de direitos prestacionais sociais, cada qual com suas peculiaridades e riscos. A construção evolutiva do Direito Ambiental está altamente ligada aos ditames da sustentabilidade.

A proteção ao meio ambiente é dever de todos, inclusive daqueles que ainda não nasceram, “não excluindo ninguém do dever de defender e proteger o meio ambiente, a fim de que esteja disponível tanto para a geração atual quanto para a geração que ainda está por vir” (NALINI, 2013, p. 27). Ressalta-se o entendimento do Supremo Tribunal Federal na ADI 3540 MC/DF, de relatoria do Ministro Celso de Mello, julgado em 01 set. 2005:

Meio ambiente – Direito à preservação de sua integridade (Cf., art. 225) – Prerrogativa qualificada por seu caráter de metaindividualidade – Direito de terceira geração (ou de novíssima dimensão) que consagra o postulado da solidariedade – Necessidade de impedir que a transgressão a esse direito faça irromper, no seio da coletividade, conflitos intergeneracionais – Espaços territoriais especialmente protegidos (Cf., art. 225, § 1º, III).

Nesta perspectiva, a proteção ao meio ambiente é de necessária observância, Freitas (2012, p. 41) considera sustentabilidade um “princípio fundamental” que gera novas obrigações e “determina o direito ao futuro, de forma que o crescimento deve ser pautado na melhoria das condições de vida da população, vinculando ética e juridicamente as atitudes governamentais”.

A economia enfrenta dificuldades para compatibilizar desenvolvimento e sustentabilidade. Sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades. A luta pela sustentabilidade é condição fundamental para a estabilidade da mais nova concepção de soberania em nível regional.

Conforme Ferrajoli (1999, p. 116) se vive hoje uma “crise histórica não menos radical do que a que aconteceu com as revoluções burguesas do Século XVII”. Wolkmer (2013, p. 271) afirma que “em uma sociedade multicultural, o pluralismo

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fundado numa democracia expressa o reconhecimento dos valores coletivos materializados na dimensão cultural de cada grupo e de cada comunidade”.

Como o bem protegido é dotado de forte componente valorativo, Alexy (2005, p. 5) entende que o sistema jurídico deve ter uma base axiológica consistente como condição legitimadora e levada a discussão ao seu limite. Deve ser agregado um conteúdo material substantivo às normas para que efetivamente estejam a serviço da justiça corretiva e distributiva. Só assim o direito será efetivamente um instrumento revolucionário de transformação social, por fomentar a cooperação e a solidariedade em todas as suas dimensões.

Segundo Cruz e Bodnar (2012, p. 50) “um dos objetivos mais importantes de um projeto de futuro com sustentabilidade é a busca constante pela melhoria das condições sociais das populações mais fragilizadas socialmente”.

O paradigma da sustentabilidade consiste na busca de uma sociedade global capaz de perpetuar-se indefinidamente no tempo em condições de dignidade. A sustentabilidade é transnacional, é ajustar nosso comportamento à capacidade de resiliência do planeta. A transição para a sustentabilidade exige uma revolução cultural, tecno-científica e política, é um desafio urgente para a ciência, educação e cidadania. É necessário politizar a globalização e colocar ciência e técnica a serviço do objetivo comum.

Na concepção holística de Boff (2012, p. 27) sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais, físico-químicas que sustenta todos os seres, especialmente da Terra, da comunidade e da vida humana, buscando sua continuidade, e atender também as necessidades de geração presente e das gerações futuras, de tal forma que o capital natural se mantenha e se enriqueça sua capacidade de regeneração, reprodução e ecoevolução.

Sustentabilidade social – visa maior equidade na distribuição de bens e renda, reduzindo a diferença entre padrões de vida de ricos e pobres; sustentabilidade econômica – visa eficiência econômica, avaliada em termos macrossociais, pressupõe alocação e gerenciamento eficiente de recursos, além de constantes investimentos públicos e privados; sustentabilidade ecológica – através de um conjunto de medidas como redução do consumo de recursos não renováveis, diminuição do volume de resíduos e poluição, aumento da capacidade de carga da Terra, definição de normas de proteção ambiental, intensificação de pesquisas de novas tecnologias etc.; sustentabilidade espacial – visa a obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e melhor distribuição

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territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas; sustentabilidade cultural – visa mudanças baseadas na continuidade cultural, de raízes endógenas, com soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área (SACHS, 1993, p. 37-38).

Na concepção crítica de Boff (2012, p. 60), em Sachs “não se percebe ainda claramente a força argumentativa que vem da nova cosmologia e da ecologia da transformação”. O centro é ocupado pelo ser humano e não pelo capital, pela solidariedade e não pela competição, pela autogestão democrática e não pela centralização de poder dos patrões, pela melhoria da qualidade de vida e do trabalho e não pela maximalização do lucro.

Sustentabilidade implica mudança de racionalidade social e produtiva. Entretanto, frear o crescimento é apostar numa crise econômica de efeitos incalculáveis. Leff (2010, p. 49) sugere transição para uma economia sustentável: outra economia fundamentada em outros princípios produtivos. Decrescimento no sentido de desconstruir a economia e construir uma nova racionalidade produtiva.

Para Daly (1991, p. 32-46) restringir a economia para que não cresça além da possibilidade de regeneração dos recursos e absorção de seus dejetos, mas a economia não tem consciência e não permite essa receita ecológica. Passar da economia mecanizada para economia ecológica e socialmente sustentável.

O atual modelo produtivo e a racionalidade econômica são insustentáveis, geram crescimento baseado no consumo de recursos naturais de baixa entropia, destruição das condições ecológicas de sustentabilidade e produção de calor. A nova racionalidade produtiva, nova ética e pensamento criativo em que a diversidade cultural possa conviver com suas solidariedades e diferenças, a criatividade possa orientar os potenciais da natureza e levar a história humana a um futuro sustentável.

2 A GESTÃO HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO – AC

Rio Branco é a capital do estado do Acre, fundada em 28 de dezembro de 1882. Em 1904, após a anexação definitiva do Acre ao Brasil, foi elevada à categoria de vila, tornando-se sede do departamento do Alto Acre.

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Em 1909 passou a ser denominada Penapólis (em homenagem ao então Presidente Afonso Pena) e em 1912, Rio Branco, em homenagem ao Barão de Rio Branco, chanceler brasileiro cuja ação diplomática resultou no Tratado de Petrópolis.

Em 1913 tornou-se município. Em 1920 capital do território do Acre e em 1962 à capital do estado. O Acre localiza-se no extremo oeste da Amazônia ocidental e faz fronteira com os países da Bolívia e Peru.

Rio Branco é o centro administrativo, econômico e cultural do estado do Acre, distante três mil e trinta quilômetros de Brasília, capital federal, localiza-se às margens do Rio Acre, no Vale do Acre e na microrregião homônima. É a sexta cidade mais populosa da Região Norte do Brasil e o quinto município do estado em tamanho territorial.

Nos últimos anos, o Governo do Acre adotou como eixo de desenvolvimento econômico a utilização sustentável dos recursos naturais, tendo a floresta como fonte precípua da política desenvolvimentista. Entretanto, um dos recursos naturais cujo conhecimento local não avançou foram os recursos hídricos.

Integrantes de bacias hidrográficas importantes da região Amazônica, os rios do Acre são, em sua maioria, de competência da União, sendo seu principal rio (Rio Acre) um rio fronteiriço cuja nascente encontra-se no Peru, passa pela Bolívia e a maior parte está no Acre, nos municípios de Assis Brasil, Brasiléia, Xapuri e Rio Branco.

Com a orientação emanada pela Lei 9.433/97, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos, o Acre fez publicar no ano de 2003, a Lei Estadual 1.500, como instrumento para gestão dos recursos hídricos de seu território.

Os Municípios do Alto Acre (Rio Branco, Xapuri, Brasiléia e Assis Brasil) integrantes do eixo de desenvolvimento da estrada BR 317, que interliga-os à fronteira com Peru e Bolívia, denominada na Região como Estrada do Pacífico, com grandes áreas degradadas em virtude da forte antropização, reuniram-se em consórcio para gestão ambiental de seus recursos naturais e estão em fase de formação do Comitê Trinacional dos Municípios de Fronteira para gestão do Alto Acre, que, face à peculiaridade fronteiriça, terá que envolver necessariamente os países Peru e Bolívia.

Dentro de uma nova política de valorização da identidade, da memória e da territorialidade do “povo da floresta” e consciente da dependência da água para a

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manutenção da cobertura vegetal, o Governo do Acre vem desde o final dos anos 1990 construindo uma economia de base florestal robusta. Nesta concepção a água tem caráter transversal e importante tanto do ponto de vista de sua ocorrência natural no meio físico do território acreano, como do ponto de vista socioambiental e político- cultural, por seus diversos usos, o que inclui múltiplos aspectos ligados às tradições que deram origem ao seu povo.

Neste sentido foi elaborado o Plano Estadual de Recursos Hídricos (PLERH/AC) visando atender não somente a demanda da legislação brasileira, mas da própria população acreana, de forma a institucionalizar a política de gestão dos recursos hídricos no Estado.

O Estado do Acre foi dividido em seis Unidades de Gestão de Recursos Hídricos, consideradas recortes espaciais de referência para o estabelecimento dos objetivos estratégicos de gestão de recursos hídricos correspondentes às bacias hidrográficas dos principais rios do Estado: as porções estaduais das bacias hidrográficas dos rios Juruá, Tarauacá, Envira-Juruparí, Purus, Acre-Iquiri e Abunã.

Conforme o disposto na Lei Federal 9.433/1997 e em compatibilidade com o artigo 7º da Lei Estadual 1.500/2003, a Política de Recursos Hídricos do Estado do Acre se fundamenta no conceito da água como um recurso natural de disponibilidade limitada e dotado de valor econômico, que enquanto bem público e de domínio do Estado, terá sua gestão definida, por meio de uma Política de Recursos Hídricos, prevista em lei específica.

Conforme o disposto no PLERH/AC, os recursos hídricos são considerados na unidade do ciclo hidrológico, compreendendo a fase aérea, superficial, e subterrânea, e tendo a bacia hidrográfica como unidade básica de planejamento e intervenção.

A Política de Recursos Hídricos do Estado do Acre deverá promover a harmonização entre os múltiplos e competitivos usos dos recursos hídricos e sua limitada e aleatória disponibilidade temporal e espacial, para assegurar o prioritário abastecimento da população humana e permitir a continuidade e desenvolvimento das atividades econômicas; combater os efeitos adversos das enchentes, das estiagens e da erosão do solo; impedir a degradação e promover a melhoria da qualidade e o aumento da capacidade de suprimento dos corpos de água superficial e subterrânea, a fim de que as atividades humanas se processem em um contexto

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de desenvolvimento socioeconômico que assegure a disponibilidade hídrica aos seus usuários atuais e as gerações futuras, em padrões quantitativos e qualitativamente adequados.

No território acreano, a elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre (ZEE) de forma participativa, envolveu estudos sobre os sistemas ambientais, as potencialidades e as limitações para o uso sustentável dos recursos naturais; relações entre a sociedade e o meio ambiente, bem como a identificação de cenários, de modo a subsidiar a gestão do território no presente e no futuro, em um grande pacto de construção da sustentabilidade, a partir de uma economia de base florestal, com foco na melhoria da qualidade de vida da população.

Desde os primórdios da colonização do Acre os rios e paranás tiveram papel relevante tanto no processo de ocupação do território como no desenvolvimento da economia do estado. Índios, seringueiros e ribeirinhos ligaram ao rio sua noção de territorialidade, o sentimento de pertencimento e a construção da própria identidade.

O PLERH/AC faz uso do ZEE como importante instrumento para implementação da Política de Recursos Hídricos no Estado. Desta forma a água ocupa papel transversal na gestão do território, sabendo-se que a mesma se insere no processo de gestão do território acreano desde a base, como elemento da sustentabilidade da floresta.

Além do ZEE a Educação Ambiental também se insere na política estadual de recursos hídricos como parte do processo participativo, através do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, adquirem conhecimentos, atitudes e competências voltadas para a conquista e a manutenção do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Neste contexto se definiu o Programa de Educação Ambiental do Estado do Acre, que se inter-relaciona com o PLERH/AC para formar competências no tema dos recursos hídricos na esfera da educação formal e não formal, auxiliando no atendimento das diretrizes desse programa.

As diretrizes propostas no PLERH-AC visam a orientar a implantação do Sistema Estadual de Gestão dos Recursos Hídricos do Acre (SEGRH/AC) dentro de uma visão sustentável de desenvolvimento, garantindo a integração interinstitucional e a participação efetiva dos usuários, sociedade civil e governo, conciliando conservação ambiental, crescimento econômico e equidade social.

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O Acre vem enfrentando novos desafios para seu desenvolvimento, principalmente a manutenção do desenvolvimento socioeconômico dentro de uma matriz de sustentabilidade com qualidade de vida. Neste contexto os recursos hídricos são importante peça, cuja transversalidade permite uma abordagem sistêmica da gestão e uma visão de planejamento dentro uma perspectiva baseada em diretrizes com programas direcionados aos acreanos.

De forma pioneira na região Norte, o PLERH/AC congrega em seu Plano de ação o incentivo à formação de organismos de bacias hidrográficas, a modernização e ampliação da rede hidrometeorológica para monitoramento de eventos hidrológicos críticos, o estabelecimento da rede de monitoramento da qualidade quantidade da água, o apoio à gestão municipal de bacias hidrográficas, a formação e capacitação em recursos hídricos, o estabelecimento do programa de conservação e recuperação de nascentes e matas ciliares que tem hoje como piloto a Bacia do Rio Acre.

As principais questões levantadas pelo PLERH/AC representam um ponto de partida para a criação no Estado a cultura do cuidar da água, semelhante ao que o Acre vem fazendo em relação à floresta. O Pacto das Águas que o PLERH/AC quer ser depende da capacidade de articulação na esfera de governo e conscientização quanto ao problema da água. Agricultura, pecuária, pesca e expansão urbana são realidades do Acre. Urge implementar uma cultura de monitoramento qualitativo e quantitativo das águas.

A integração da política de recursos hídricos com as demais políticas públicas do Estado e a estruturação de ações que valorizam a questão transfronteiriça tem papel estratégico e demonstram um grau de amadurecimento do Estado no caminho para a sustentabilidade. Ações coordenadas com Peru, Bolívia, Amazonas e Rondônia devem ser fortalecidas. O Acre está posicionado a jusante desses países, vulnerável a possíveis ações negativas e impactantes geradas nos mesmos. O Acre pode incrementar esses problemas e transferir parte deles para os Estados do Amazonas e Rondônia.

Eventos extremos, em especial face aos problemas de desmatamento/queimadas frequentes no Acre, representam questões muito relevantes. Apesar dos efeitos diretos nos rios ainda não serem quantificáveis, as certezas quanto às mudanças em termos de aumento de temperatura, os recentes

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eventos, o fato de a Amazônia ser considerada um hot spot no assunto e de o Acre estar numa porção de cabeceira de rios torna importante a estruturação de atividades de prevenção e adaptação.

As perspectivas para o sucesso do PLERH/AC, juntamente com as ações do ZEE/AC dependerão da dinâmica que for dada aos programas do Plano e à participação efetiva dos atores no processo. O PLERH/AC é um documento dinâmico, revisões são previstas a cada quatro anos e esta é a primeira versão, uma iniciativa de grande importância para o Estado do Acre.

2.1 ALGUNS PROBLEMAS DA GESTÃO HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO – AC

O Igarapé Dias Martins localizado em área rural e urbana no município de Rio Branco – AC recebe efluentes poluentes originários dos diversos tipos de solo a ele associado, tais como: esgotos sanitários “in natura”, agrotóxicos, resíduos sólidos e de atividades industriais, principalmente a moveleira, desenvolvida no município, sofrendo diversas perturbações que prejudicam a sua biota.

O Igarapé Dias Martins deságua no Igarapé São Francisco e este no Rio Acre. O Rio Acre nasce dos Igarapés Eva e das Pedras a oeste de Porto Maldonado no Peru, o Rio Acre deságua no Rio Purus depois de percorrer mil e cem quilômetros. No decorrer de sua trajetória, o rio de águas barrentas recebe mais de cinquenta afluentes até chegar a capital acreana. Trazendo consigo e levando a diante toda a poluição de oito cidades que também se utilizam de suas águas para beber.

O principal manancial da capital tem sua biodiversidade destruída por conta do esgoto “in natura” que é jogado em seu leito. A omissão do Município de Rio Branco nas atribuições que lhe são impostas tem causado sérios danos à população e ao meio ambiente.

Existem três estruturas de tratamento de esgoto em Rio Branco que podem ser consideradas como uma das melhores da região norte, mas é preciso reorganizar as redes e as formas que se levam os esgotos dos bairros até o tratamento, antes de jogá-los ao rio, pois destrói grande parte de sua biodiversidade de vida.

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Os trabalhos que estão sendo realizados não representam significativamente ações efetivas para garantir a médio ou longo prazo, por exemplo, a diminuição da poluição domiciliar e química industrial. É necessário dimensionar essa poluição e mapear todos os lugares que poluem o Rio Acre no sentido de combater e tratar os resíduos. Este deve ser um trabalho conjunto do Estado, dos Municípios, das Câmaras Municipais, da associação de moradores e, principalmente, dos parlamentares estaduais e federais.

Todos os impactos devem ser avaliados para envolver a sociedade no objetivo de apresentar alternativas de combater essa grande poluição. As ações de reflorestamento das margens do Rio Acre não resolvem o problema, eis que falta colocar em ação efetiva o PLERH/AC.

Existe um grande projeto de recomposição da mata ciliar feito pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Acre, uma parceria entre o Acre e a Agência Nacional de Águas para montar um laboratório com o objetivo de monitorar a qualidade da água no Rio Acre. O programa de conservação e recuperação da mata ciliar da bacia do Rio Acre abrange a calha do rio e vários afluentes. O programa nacional de monitoramento da qualidade da água está sendo articulado entre os órgãos ambientais ligados para garantir a efetivação do projeto em todas as áreas do Rio Acre.

Entretanto, os esgotos “in natura” jogados no Rio Acre podem transformá-lo no Rio Tietê do Norte. Caso atitudes efetivas e urgentes não forem tomadas nos próximos anos o Rio Acre se transformará no maior córrego de esgoto do Acre e deixará a cidade sem o abastecimento de água potável. Muitos esgotos estão sendo jogados ao longo do rio, depois de sua nascente até o município de Porto Acre, antes de desaguar no Rio Purus.

O Rio Acre começa a ser poluído nas cidades de Inapari e São Pebra no Peru, em seguida pelas cidades de Assis Brasil, Cobija (Bolívia), Brasiléia, Epitaciolândia, Xapuri, Rio Branco e Porto Acre. Em todas essas cidades os esgotos são jogados “in natura” no rio e o maior contaminador é a cidade de Rio Branco e nos próximos anos outras cidades aumentarão seu consumo e a estrutura urbana.

Enquanto diversas cidades brasileiras sofrem com a escassez de água, Rio Branco possui abundância de água, no entanto medidas efetivas devem ser executadas visando reduzir os impactos ambientais e proteger a saúde dos

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acreanos. Urge implantar o sistema de tratamento do esgoto e implantar o programa de monitoramento da qualidade e quantidade da água.

3 A GESTÃO AMBIENTAL E A SUSTENTABILIDADE

O Relatório sobre Desenvolvimento Humano Sustentável elaborado em 2002 pelo PNUD desenvolveu o conceito “governança democrática”. Defendia que as liberdades civis e políticas, bem como a participação, têm valor fundamental como fim ao desenvolvimento em si mesmo. Sua essência significa além das instituições eficientes e ambiente previsível ao desenvolvimento econômico e político para o crescimento econômico e efetivo funcionamento dos serviços públicos, liberdades fundamentais, respeito aos direitos humanos, remoção da discriminação de raça, gênero e grupo étnico, necessidades das futuras gerações quanto a políticas desenvolvidas.

Os princípios de gestão ambiental são: sustentabilidade; direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado; responsabilidade ambiental: ônus na recuperação dos impactos e danos ambientais ao agente causador dos impactos e danos ambientais.

Sustentabilidade é o conjunto de normas e preceitos mediante os quais se desenvolvem e garantem os direitos fundamentais. Para Ferrer (2002, p. 15) “dentro de todo esse contexto é preciso ter em mente que o direito ambiental tem como seu principal objetivo atrasar o desaparecimento do homem do planeta, pois o que está em risco imediato não é a natureza”. Gestão ambiental é a maneira pela qual o cidadão, o empresário e o governo agem para fazer um mundo melhor.

São as diretrizes e as atividades administrativas e operacionais, tais como planejamento, direção, controle, alocação de recursos e outras realizadas com o objetivo de obter efeitos positivos sobre o meio ambiente, tanto reduzindo, eliminando ou compensando os danos ou problemas causados pelas ações humanas, quanto evitando que eles surjam (BARBIERI, 1997, p. 120).

Conjunto de diretrizes e atividades administrativas e operacionais que têm por finalidade obter efeitos positivos sobre o meio ambiente. Tanto no direito ambiental como na gestão ambiental a sustentabilidade deve ser abordada sob vários prismas:

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o econômico, o social, o político, o tecnológico e o jurídico. Busca o equilíbrio entre o homem e seu ambiente, que se manifesta por meio do desenvolvimento sustentável.

A consciência ambiental gerou debates relativos à gestão ambiental. Essa consciência começou a surgir entre os anos 60 e 70, ganhou dimensão e situou o meio ambiente como um dos princípios fundamentais do homem. Nos anos 80 os gastos com proteção ambiental começaram a ser vistos, pelas empresas não como custos, mas como investimentos no futuro e consequentemente como uma vantagem competitiva.

A gestão ambiental está sustentada nos seguintes pontos: gestão ambiental empresarial; gestão ambiental governamental e a gestão da sociedade civil. A gestão ambiental trata do sistema de gestão ambiental, gestão de resíduos sólidos, estudo de aspectos e impactos ambientais, emissão atmosférica e mercado de créditos de carbono, matriz energética sustentável e a gestão de recursos hídricos.

A dimensão espacial da gestão ambiental concerne a área na qual se espera que as ações de gestão tenham eficácia, considerada no âmbito global, nacional, local, setorial e empresarial. A dimensão temática delimita as questões ambientais às quais as ações se destinam. É escolha da questão ambiental a ser tratada: água, solo, ar, fauna, flora, recursos minerais e aquecimento global. A dimensão institucional está relacionada aos agentes que tomam as iniciativas de gestão. Seria analisar a iniciativa que poderia ser da empresa, governo, organização não governamental, sindicato, instituição de ensino e pesquisa.

Barbieri (1997, p. 143) acrescenta a dimensão filosófica da gestão ambiental, que seria aquela que trata da visão de mundo e da relação entre o ser humano e a natureza, questões que sempre estiveram entre as principais preocupações humanas como mostram incontáveis obras artísticas, filosóficas e científicas de todos os tempos.

Responsabilidade socioambiental é o compromisso permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo. Trata-se de um sistema de gestão adotado por empresas públicas e privadas para providenciar a conservação ambiental.

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3.1 É SUSTENTÁVEL O MODELO ATUAL DE GESTÃO HÍDRICA NO MUNICÍPIO DE RIO BRANCO – AC?

Na teoria a atual gestão hídrica em Rio Branco – AC é sustentável, porém não é efetiva na prática. O Poder Público desempenha papel fundamental na superação dos desafios da sustentabilidade na gestão dos recursos hídricos. Água é essencial ao desenvolvimento e indispensável à existência humana, no entanto esse “bem essencial” vem sendo muito mal utilizado atualmente.

Além dos graves problemas de quantidade e de distribuição, a vertente qualitativa também deve ser englobada na análise do conjunto dos problemas atrelados ao bem fundamental ora estudado. Os resultados da crescente poluição dos corpos d’água podem levar ao envenenamento dos seres humanos, despertaram a ciência para o fato de que estes recursos não têm capacidade ilimitada de absorção e atenuação dos impactos causados pelos agentes poluentes.

Embora a gravidade do cenário dos recursos hídricos seja clara, notadamente em âmbito global, a sensação de segurança e inesgotabilidade desse bem, ainda que falsa, parece se propagar com maior facilidade no Brasil, detentor de cerca de quinze por cento da água doce existente no mundo. O território brasileiro apresenta bacias hidrográficas de enorme relevância, a exemplo do Amazonas, do Tocantins, do São Francisco, do Paraná, do Paraguai e do Uruguai, possuindo a maior rede hidrográfica do mundo, com extensas reservas subterrâneas.

Há um oceano subterrâneo de água doce na Amazônia, denominado Aquífero da Amazônia, com volume maior que o Aquífero Guarani, que sempre se apresentou como a principal reserva subterrânea de água doce do mundo. Equivocada a ideia de que a água é “inesgotável”, razão pela qual a população brasileira nunca se preocupou com o correto uso da água, não atribuindo a devida importância à problemática.

O território brasileiro passa atualmente por uma crise de abastecimento de água que, enquanto recurso, reflete diretamente no setor energético. Isto porque, no Brasil, a maior parte da energia advém da produção derivada das usinas hidrelétricas, que dependem, por sua vez, de um bom abastecimento dos corpos d’água. A crise da água pode ser iminente na totalidade do território brasileiro, eis

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que por muito tempo sua exploração ocorreu de maneira desorganizada, sem preocupação com a sustentabilidade ambiental.

Cada Estado precisa assegurar a utilização dos seus corpos d’água como recursos que devem ser protegidos e regularizados. A gestão e a proteção pública destes recursos, portanto, deve ser empregada a fim de garantir um sistema de utilização eficiente, capaz de garantir a manutenção da quantidade, qualidade e distribuição desses recursos.

O regime aplicável aos recursos hídricos é aquele que demonstra com maior clareza as peculiaridades do Direito Ambiental. É inegável, porém, mesmo com vasta normatização e disponibilidade dos instrumentos que podem assegurar o cumprimento e a segurança do ordenamento jurídico ambiental, que alguns dos problemas relacionados aos recursos hídricos não podem ser devidamente solucionados apenas por instrumentos legislativos. Neste diapasão, cabe ao poder público assumir outros papéis na gestão das águas.

Os trabalhos que estão sendo realizados pela gestão hídrica no território acreano não representam ações efetivas para garantir a médio ou longo prazo, a diminuição da poluição domiciliar e química industrial. É necessário dimensionar essa poluição e mapear todos os lugares que poluem o Rio Acre no sentido de combater e tratar os resíduos, reduzir o desmatamento da mata ciliar e desperdício de água, diminuir impactos dos resíduos sólidos no ambiente, fiscalizar a abertura de poços e a qualidade da água.

Deve ser um trabalho conjunto do Estado, dos Municípios, das Câmaras Municipais, da associação de moradores e, principalmente, dos parlamentares estaduais e federais. Todos os impactos devem ser avaliados para envolver a sociedade no objetivo de apresentar alternativas para enfrentar os desafios da gestão hídrica em Rio Branco – AC e, principalmente, colocar em ação efetiva o PLERH/AC a fim de que seja alcançada a desejada sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho em testilha enfrentou o importante tema da gestão hídrica no território acreano como indutora da sustentabilidade. Constatou que a água é

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essencial ao desenvolvimento e indispensável à existência humana. Em Rio Branco – AC esse “bem essencial” vem sendo muito mal utilizado.

O Direito Ambiental percorreu várias fases que marcaram sua evolução, admitindo-se o seu estudo por vários enfoques. A pesquisa estudou as quatro Conferências Mundiais que trataram sobre o meio ambiente. O estudo da evolução do Direito Ambiental desembocou no termo sustentabilidade. Foram analisadas as dimensões ambiental, econômica, social e tecnológica da sustentabilidade, bem como foi estudado o princípio constitucional da sustentabilidade.

O objetivo geral da pesquisa em testilha foi conscientizar os acreanos do uso responsável e a necessária gestão eficiente dos recursos hídricos. Os objetivos específicos foram apresentar um conceito de sustentabilidade ambiental, colocar em prática a gestão ambiental no Acre, destacar a urgência do esgotamento sanitário, reduzir o desmatamento da mata ciliar e desperdício de água, fiscalizar a abertura de poços e a qualidade da água. Desta forma, o trabalho cumpriu os objetivos propostos.

O estudo destacou que existe um grande projeto de recomposição da mata ciliar feito pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Acre, uma parceria entre o Acre e a Agência Nacional de Águas para montar um laboratório com o objetivo de monitorar a qualidade da água no Rio Acre. O programa de conservação e recuperação da mata ciliar da bacia do Rio Acre abrange a calha do rio e vários afluentes. O marco de referência privilegiou a construção teórica do conceito de sustentabilidade ambiental visando sua aplicação na gestão dos recursos hídricos no território acreano.

O problema da pesquisa em testilha foi evidenciar a insustentabilidade ambiental da gestão dos recursos hídricos em Rio Branco, no Estado do Acre. A hipótese que norteou o trabalho é no sentido de que a gestão hídrica no território acreano deve ser indutora da sustentabilidade ambiental. Destacou a necessidade de conscientizar a população para o consumo mais consciente e responsável da água, bem como o desenvolvimento de uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos em Rio Branco.

Recomendou-se a construção de estações de tratamento de esgotos, proteger e restaurar o ambiente de mata ciliar, manter um sistema de monitoramento contínuo pela autoridade de saúde pública para verificar se a água consumida pela

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população atende aos padrões de potabilidade exigidos pelo Ministério da Saúde, bem como avaliar os riscos que as soluções alternativas de abastecimento de água representam para a saúde humana.

Urge mobilizar as autoridades competentes, conscientizar a população e aprofundar os debates, bem como atitudes efetivas sobre a questão da água no território acreano para evitar que os esgotos “in natura” jogados no Rio Acre o transformem no Rio Tietê do Norte.

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