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Abordagem da actividade de um país com base numa matriz de contabilidade social : aplicação a Portugal

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ESTUDOS DE HOMENAGEM A JOÃO FERREIRA DO AMARAL

coordenadores

João Carlos Lopes, Jorge Santos, Miguel St. Aubyn e Susana Santos

editor

EDIÇÕES ALMEDINA, S.A. Rua Fernandes Tomás, nºs 76, 78 e 79 3000­167 Coimbra Tel.: 239 851 904 · Fax: 239 851 901 www.almedina.net · editora@almedina.net designdecapa FBA. pré-impressão

EDIÇÕES ALMEDINA, S.A.

impressãoeacabamento PAPELMUNDE Outubro, 2013

depósitolegal 366242/13

Apesar do cuidado e rigor colocados na elaboração da presente obra, devem os diplomas legais dela constantes ser sempre objeto de con­ firmação com as publicações oficiais.

Toda a reprodução desta obra, por fotocópia ou outro qualquer pro­ cesso, sem prévia autorização escrita do Editor, é ilícita e passível de procedimento judicial contra o infrator.

__________________________________________________

biblioteca nacional de portugal – catalogaçãona publicação

ESTUDOS DE HOMENAGEM A JOÃO FERREIRA DO AMARAL

Estudos de homenagem a João Ferreira do Amaral

ISBN 978-972-40-5198-7 CDU 33

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base numa Matriz de Contabilidade Social.

Aplicação a Portugal

*

.

Susana Santos** 1. Introdução

Matrizes de Contabilidade Social, vulgarmente conhecidas por

SAMs, (da abreviatura da designação em inglês – Social Accounting Matrices, que passaremos a adoptar) são ferramentas ou instrumen­

tos de trabalho com características específicas para estudar a activi­ dade de países. Tais características permitem a leitura da reali dade em estudo e um trabalho empírico que pode não só evidenciar as­ pectos específicos dessa realidade mas também simular interven­ ções no seu funcionamento. Será apresentada uma pro posta de

SAM básica e identificadas taxonomias possíveis, mostrando como

a mesma pode ser usada como suporte alternativo para estudos em diversas áreas, bem como para os intervenientes no pro cesso de deci são política.

* Texto trabalhado a partir do artigo da autora, publicado no International

Journal of Humanities and Social Science, Vol. 3 No. 9, 2013.

** ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão) / UTL (Universidade Técnica de Lisboa) – UECE (Unidade de Estudos sobre a Complexidade e Economia) e DE (Departamento de Economia)

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Admitindo que o conhecimento da actividade dos países en­ volve a utilização das respectivas contas nacionais, a Secção 2 justi­ fica a opção pela forma matricial das mesmas com a melhor evidên­ cia empírica no estudo dessa actividade que tal forma proporciona com a possibilidade de captar e trabalhar com redes de ligações.

Adoptando um quadro metodológico baseado essencialmente nos trabalhos de Richard Stone, Graham Pyatt e Jeffery Round, a Sec­ ção 3 especifica as principais características da abordagem ba seada numa SAM. Segundo aquela abordagem a SAM pode des crever a acti vidade de países tanto empírica como teoricamente, dependendo da sua apresentação numa versão numérica ou algébrica, respec­ tivamente. Indo ao encontro das conclusões do trabalho mais re­ cente de Pyatt e Round (2012) será realçada a recomendação de que a definição da estrutura e construção de SAMs deverá preceder a sua modelização.

A partir da última versão, ou seja, da versão de 2008 do Sistema de Contas Nacionais, vulgarmente conhecido por SNA (da abreviatura da designação em inglês – System of National Accounts, que passaremos a adoptar), a Secção 4 apresentará uma proposta de versão numérica de SAM. Inicialmente – Secção 4.1, será apresentada uma estrutura básica e enfatizada a consistência com todo o sistema. Essa enfase será retomada na Secção 4.2 com a análise de possíveis desagregações e extensões daquela estrutura. Já fora do formato matricial, na Secção 4.3, sistematizar­se­ão agregados, indicadores e saldos que podem ser calculados ou extraídos, de versões numéricas construídas de acordo com as Secções 4.1 e 4.2. Uma aplicação a Portugal ilustrará a apresen­ tação.

A Secção 5 sistematizará as principais ideias das outras secções, realçando os aspectos considerados capazes de mostrar até que ponto os países podem utilizar SAMs para estudar sistemas (socio­) económicos e apoiar processos de decisão politica.

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2. Pesquisa de evidência empírica na actividade dos países

As estatísticas registam factos. A actividade de um país é um conjunto de factos. Portanto, o conhecimento desses fatos envolve a utilização de estatísticas. No entanto, a complexidade dessa acti­ vidade e os inúmeros factos e estatísticas tornam a tarefa difícil e, por vezes, não exequível. O desafio está na definição da melhor hie­ rarquia de factos, na identificação da correcta rede de ligações entre eles, na disponibilidade de estatísticas e na utilização de boas fer­ ramentas de trabalho. Essas ferramentas ou instrumentos de traba­ lho devem permitir a leitura da realidade em estudo e um trabalho empírico que possa não só evidenciar aspectos específicos dessa ac­ tividade, mas também simular intervenções no seu funcionamento. No prefácio ao livro “Understanding National Accounts“, Gio­ vannini, E. refere as contas nacionais actuais como o núcleo do sis­ tema moderno de estatísticas económicas, cuja base conceptual tem condições para tornar coerentes centenas de fontes estatísticas dis­ poníveis nos países desenvolvidos (Lequiller F. e Blades D., 2006: 3). Acreditando na veracidade de tal constatação, as contas nacionais serão, certamente, a fonte de informação de base plausível para o estudo da actividade dos países – mesmo daqueles que não sejam considerados desenvolvidos, mas que tenham a intenção de produ­ zir contas nacionais. No entanto, devemos não esquecer que subja­ cente às contas nacionais existe um sistema (base conceptual) que define os factos que devem ser observados e como devem ser regis­ tados, que irá influenciar o desafio acima referido. Mesmo assim, adoptá­las­emos como ponto de partida.

Por outro lado, o trabalho com as contas nacionais na forma matricial pode ser visto como uma forma adequada para captar a rede de ligações entre os factos caracterizadores da actividade do país em estudo e, portanto, para dispormos de um conteúdo analí­ tico acrescido. Esta forma permitirá também o uso da álgebra ma­ tricial em possíveis tratamentos matemáticos, associados ao traba­ lho empírico acima referido, o qual pode passar pela simulação de intervenções no funcionamento da realidade em estudo. Algumas

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outras vantagens na utilização da forma matricial serão referidas na Secção 4.

Assim, procurando evidência empírica na actividade dos paí­ ses, a nossa proposta de SAM passará pela utilização da hierarquia dos factos que é suposto serem observados de acordo com o sis­ tema de contas nacionais. Tal possibilitará a identificação de redes de liga ções que podem ser trabalhadas consoante os nossos objecti­ vos de trabalho, sempre num contexto macroeconómico. A partir de tal proposta, que supõe um trabalho que explora exaustivamente as especificidades das contas nacionais e do sistema que lhes está sub­ jacente; mais trabalho pode ser feito ensaiando hierarquias alterna­ tivas de factos, identificando a importância dos factos não observa­ dos, criticando a forma como os factos observados são registrados, etc.

Sendo o comportamento dos fatos explicados por teorias, tal trabalho empírico permitirá também não só o teste mas também uma melhor definição dessas teorias.

3. Abordagem baseada numa Matriz de Contabilidade Social

Sobretudo Richard Stone, Graham Pyatt e Jeffery Round desem­ penharam um papel fundamental na implementação da abordagem baseada numa SAM. – que passaremos a referir como abordagem

SAM. Todos trabalharam sobre os detalhes conceptuais dessa abor­

dagem: o primeiro trabalhou mais em termos numéricos, no quadro de um sistema de contas nacionais, enquanto os outros trabalharam mais em termos algébricos, no âmbito da análise input­output. Tais trabalhos têm sido decisivos para a compreensão da importância da

SAM enquanto instrumento de medição.

No prefácio ao livro que agora pode ser considerado como um trabalho pioneiro da abordagem SAM, “SocialAccounting for Develo­

pment Planning with special reference to Sri Lanka”, Stone afirmou que

o contexto do sistema de contas nacionais pode ser reorganizado na forma de matriz em que, dos registos das entradas nas várias

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contas, por convenção os recursos ou receitas, são representados em linha e os empregos ou despesas em coluna; e em que, reflectindo o facto de que as contas são equilibradas, os totais em linha são iguais aos totais em coluna. Essa matriz, com um número igual de linhas e colunas, é a SAM, em cuja construção se pode adoptar um tra­ tamento hierárquico, primeiro ajustando as entradas numa matriz agregada, que representará os totais de controlo, e depois ajustando níveis sucessivos de desagregação, ou subconjuntos de estimativas a partir desses totais (Pyatt, G. e Roe, A., 1977: xix, xxiii).

Por sua vez, no resumo de seu artigo “A SAM approach to mo­

deling”, Pyatt refere a utilidade da explicitação na forma de uma SAM, das contas subjacentes ao sistema contabilístico implícito em

qualquer modelo económico. De acordo com o mesmo autor, a SAM pode representar quer a base de dados consistente, quer a estrutura teórica subjacente a um modelo económico específico. Na última (estrutura teórica), as células da SAM são preenchidas por expres­ sões algébricas que descrevem como a primeira (base de dados) pode ser determinada (Pyatt, G., 1988: 327; 337).

Olhando para a questão a partir das perspectivas acima referi­ das, pode dizer­se que uma SAM pode ter duas versões: uma versão numérica, que descreve empiricamente a actividade de um país, e uma versão algébrica, que descreve teoricamente essa mesma acti­ vidade. Na primeira versão, cada célula tem um valor numérico específico, com as somas em linha iguais às somas em coluna. Na última versão, cada célula é preenchida com uma ou mais expres­ sões algébricas que, em conjunto com as de todas as outras células, formam um modelo baseado na SAM, cuja calibragem envolve a réplica da versão numérica.

De acordo com Pyatt, a essência da abordagem SAM passa pela utilização da mesma matriz na descrição empírica e teórica da eco­ nomia (Pyatt, G., 1988: 337).

Em 1953, com a primeira e mais fundamental contribuição escrita por Stone, as Nações Unidas implementaram o Sistema de Contas Nacionais (SNA), que continuou a ser publicado em ver­ sões sucessivas, até 2008. Nas duas últimas versões desse sistema,

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publicadas em 1993 e 2008, além das Nações Unidas, trabalharam também o Fundo Monetário Internacional (FMI) o Banco Mundial, a Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento (OCDE) e o Serviço de Estatística das Comunidades Europeias (Eu­

rostat), formando o Inter­Secretariat Group on National Accounts (ISW­ GA). Este sistema define as regras para a medição da actividade de

países ou grupos de países, as quais, por sua vez, têm sido adopta­ das e adaptadas às realidades específicas pelos institutos estatísti­ cos correspondentes.

A construção de versões algébricas (ou modelos baseados em

SAMs) pode ser vista, entre outros, em: Pyatt G. (1988 e 2001); Pyatt,

G. e Roe, A. (1977); Pyatt, G. e Round, J. (1985 e 2012); Santos, S. (2009 e 2010).

No seu artigo mais recente, Pyatt e Round exploram e obtêm condições para um fenómeno que identificam de invariância dis­ tributiva num modelo baseado numa SAM. Esse fenómeno, a que também chamam de “fenómeno Stone”, está associado ao estudo de uma componente dos efeitos multiplicadores identificados num trabalho de investigação sobre a inter­relação entre a estrutura de produção e de distribuição do rendimento num contexto de desen­ volvimento económico. Foram ainda identificadas implicações des­ sas condições na estrutura da SAM utilizada e na consequente qua­ lidade dos resultados gerados através da modelização subsequente. Consequentemente, aqueles autores concluem, apelando a que se­ jam feitos esforços renovados na definição da estrutura e na cons­ trução de SAMs por forma a obter pontos de partida mais realistas para modelos subsequentes (Pyatt, G. e Round, J., 2012).

As SAMs que têm sido utilizadas nos trabalhos de referência sobre a abordagem SAM foram construídas para realidades espe­ cíficas, por equipas com acesso a fontes primárias de informação e com estruturas concebidas de acordo com esses casos específicos. Tal não é exequível na maioria dos casos em que a abordagem pode ser considerada adequada para atingir determinados fins. Nessas circunstâncias, uma atenção especial tem sido dada pela autora à

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construção de versões numéricas de SAMs a partir do SNA, con­ forme veremos a seguir.

4. Construção de versões numéricas de Matrizes de Contabilidade Social a partir do Sistema de Contas Nacionais. Aplicação a Portugal.

As últimas versões do SNA têm dedicado alguns parágrafos à discussão de SAMs. A versão de 2008 refere­as na parte D do Ca­ pítulo 28, intitulado “Input­output and other matrix­based analysis” (ISWGA, 2008: 519­522), e associa­as a uma representação matricial do conjunto das contas identificadas e descritas no SNA. Esta re­ presentação não se identifica com SAM aqui apresentada, embora ambas cubram praticamente todos os fluxos registados pelas contas nacionais.

Por sua vez, o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regio­

nais na União Europeia de 20101 (a adaptação para a Europa da ver­

são 2008 do SNA), faz uma referência à SAM constatando que, entre outras características, ela pode ser pensada como uma extensão das contas (satélite) do emprego (Capítulo 22).

A SAM que será apresentada a seguir resulta do trabalho que a autora tem desenvolvido no contexto metodológico apresentado na Secção 3, baseado especialmente nos trabalhos de Graham Pyatt, Jeffery Round e seus seguidores (Pyatt, G., 1988 e 1991; Pyatt, G. e Roe, A., 1977; Pyatt, G. e Round, J., 1985 e 2012), e dos esforços desenvolvidos para conciliar esse quadro metodológico com o que tem vindo a ser definido pelas sucessivas versões do SNA (Pyatt, G., 1985 e 1991a; Round, J., 2003; Santos, S., 2009). Assim, a autora proporá uma versão de SAM, que procura ser tão exaustiva quanto possível em relação aos fluxos observados pelo SNA. Pyatt e Round

1 Na forma de Proposta de Regulamento do Parlamento e Conselho Euro­

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também abordam esse mesmo problema com as suas próprias ver­ sões (Pyatt, G., 1999; Round, J., 2003).

A proposta seguinte será acompanhada de uma aplicação a Portugal em 2009 – ano mais recente (quando este texto foi escrito) para o qual estava disponível toda a informação necessária para a construção de uma SAM com o nível de agregação apresentado. Nesse ano, as contas nacionais portuguesas adoptavam o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais na Comunidade Euro­ peia de 1995, a adaptação para a Europa da versão 1993 do SNA. Porque as diferenças gerais entre as contas identificadas nessa apli­ cação e as descritas nas versões 1993 e 2008 do SNA não são signifi­ cativas, a exposição seguinte usá­la­á a título ilustrativo.

Assim, retomando a Secção 3, será trabalhada uma matriz qua­ drada, em que as somas em linha serão iguais às correspondentes somas em coluna. De acordo com o que é convencionalmente aceite e com algumas adaptações ao SNA, as entradas em linha represen­ tarão recursos, rendimentos, receitas ou variações de passivos e do património líquido. Por sua vez, as entradas em coluna representa­ rão empregos, utilizações, despesas, ou variações de activos. Cada fluxo irá, portanto, ser registado apenas uma vez em cada célula. A descrição que se segue será feita de acordo com a versão de 2008 do SNA. O ponto de partida para a construção da versão numé­ rica de uma SAM deverá ser a concepção da sua estrutura, ou seja, a defi nição da classificação ou taxonomia das suas contas – a que, muitas vezes, associamos simplesmente a designação de design. Essa taxonomia e os níveis de desagregação adoptados dependerão dos fins para os quais a SAM é concebida, bem como da organiza­ ção da informação disponível. Adoptando as contas nacionais como fonte de informação de base (na sequência da Secção 2), propor­se­ ­á a seguir uma estrutura básica considerando o SNA como subja­ cente e destacando a consistência do sistema como um todo. Será mostrada a flexibilidade dessa estrutura de base juntamente com as possibilidades que a mesma apresenta para a caracterização de problemas e para a prossecução de fins específicos. Tal flexibilidade e tais possibilidades serão também vistas como formas de ir além do SNA – sistema subjacente à fonte de informação de base.

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A esse propósito, está presente a noção dos perigos associados à adopção de padrões e sistemas de classificação internacionais e suas falhas no reconhecimento de questões e realidades importan­ tes. Tal também é referido por Pyatt e Round quando consideram a escolha de taxonomias num contexto SAM e a influência estratégica que a mesma pode ter sobre a potencial utilidade de subsequentes aplicações. De acordo com aqueles autores as taxonomias subjacen­ tes a uma estrutura SAM predeterminam os resultados de qualquer exercício de modelização subsequente e a consequente resposta a questões específicas de distribuição (Pyatt, G. e Round, J., 2012: 270).

4.1. A estrutura básica da SAM e a sua consistência com todo o sistema

Adoptando o método de trabalho recomendado por Stone no segundo parágrafo da Secção 3, a estrutura básica da SAM, abaixo apresentada, será um resumo das contas nacionais e os totais de controlo para outros níveis de desagregação, que serão analisado na Secção 4.2. Assim, em consonância com as convenções e nomen­ claturas definidas pelo SNA, a SAM proposta, além de uma conta do resto do mundo, incluirá também contas produção e instituições.

O Quadro 1 mostra essa estrutura básica, representando ope­ rações ou transacções nominais (“t”) às quais estão associados dois índices. A localização destas transacções no âmbito da matriz é des­ crita por esses índices, o primeiro dos quais representa a conta em linha e o segundo a conta em coluna. Cada célula desta matriz será convertida numa submatriz, com o número de linhas e de colunas correspondente ao nível de desagregação das contas em linha e em coluna. Este mesmo quadro também identifica blocos, que são sub­ matrizes ou conjuntos de submatrizes com características comuns. A especificação destes blocos será feita a seguir, e envolve a iden­ tificação dos fluxos das contas nacionais, que continuarão a ser os mesmos se for realizada alguma desagregação – preservando, desse modo, a consistência de todo o sistema.

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Descrição dos blocos (as letras seguidas de números, entre pa­ rêntesis, incluídas nos textos, são os códigos dos fluxos das contas nacionais, de acordo com a versão de 2008 do SNA):

a) Produção – P (célula: ta,p) representa a produção de bens e

serviços (P1).

b) Comércio Interno, representa o valor dos produtos transac­ cionados internamente, os quais tanto podem ter sido pro­ duzidos internamente como importados.

b.1) Consumo Intermédio – IC (célula: tp,a) consiste no va­

lor dos bens e serviços consumidos como elementos do processo de produção, excluindo os activos fixos, cujo consumo é registado como consumo de capital fixo (P2).

Quadro 1: SAM básica por blocos

Fonte: Santos (2009; 2010; 2011) Notas:

1. As primeiras três contas (p = produtos (ou bens e serviços), a = actividades e f = factores (de produção)) são as contas representativas da produção, ou actividade produtiva da econo­ mia (interna), as três contas seguintes (dic = corrente; dik = capital; dif = financeira) são as contas das instituições (internas). A última conta (rw = resto do mundo) representa a parte “fora” da economia (interna).

2. As siglas associadas à descrição das células e blocos derivam das correspondentes descri­ ções em inglês (conforme trabalho de base: Santos, S., 2009).

Homenag-001-1084.indd 998 03-08-2013 16:57:53

p a f dic dik dif rw total

p – produtos TTM(t p,p) IC (tp,a) 0 FC (tp,dic) GCF (tp,dik) 0 (tEX p,rw) AD (tp.. ) a – actividades (tP a,p) 0 0 0 0 0 0 VPT (ta. ) f – factores 0 CFP_GAV(t f,a) 0 0 0 0 CFP (tf,rw) AFIR (tf. )

dic – conta corrente

das instituições NTP (tdic,p)

NTA (tdic,a) CFP_GNI (tdic,f) CT (tdic,dic) 0 0 (tCT dic,rw) AI (tdic. )

dik – conta capital

das instituições 0 0 0 S (tdik,dic) (t )KT (t )NLB (t )KT INVF(t . )

dif – conta financeira

das instituições 0 0 0 0 0 (t )FT (t )FT TFTR (t .) rw – resto do mundo IM&NTP(t

rw,p) NTA (trw,a) CFP (trw,f) CT (trw,dic) KT (trw,dik) FT (trw,dif) 0 TVRWP (trw.) total (t.AS p) VCT (t.a) AFIP (t.f) AIP (t.dic) AINV (t.dik) TFTP (t.dif) TVRWR (t..rw) 998 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral  Quadro 1: SAM básica por blocos 

dik,dik dik,dif dik,rw dik dif,dif dif,rw dif

Fonte: Santos (2009; 2010; 2011)  Notas:  1. As primeiras três contas (p = produtos (ou bens e serviços), a = actividades e f = factores (de  produção)) são as contas representativas da produção, ou actividade produtiva da econo‐  mia (interna). As três contas seguintes (dic = corrente; dik = capital; dif = financeira) são  as contas das instituições (internas). A última conta (rw = resto do mundo) representa a  parte “fora” da economia (interna).  2. As siglas associadas à descrição das células e blocos derivam das correspondentes descri‐  ções em inglês (conforme trabalho de base: Santos, S., 2009).  Descrição dos blocos (as letras seguidas de números, entre pa‐  rêntesis, incluídas nos textos, são os códigos dos fluxos das contas  nacionais, de acordo com a versão de 2008 do SNA): 

a) Produção – P (célula: ta,p) representa a produção de bens e 

serviços (P1). 

b) Comércio Interno, representa o valor dos produtos transac‐  cionados internamente, os quais tanto podem ter sido pro‐ 

duzidos internamente como importados. 

b.1)  Consumo Intermédio – IC (célula: tp,a) consiste no va‐  lor dos bens e serviços consumidos como elementos do  processo de produção, excluindo os activos fixos, cujo  consumo  é  registado  como  consumo  de  capital  fixo  (P2). 

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b.2) Consumo Final – FC (célula: tp,dic) consiste na despesa efectuada pelas unidades institucionais residentes com os bens ou serviços utilizados para a satisfação directa de necessidades ou carências individuais, ou das neces­ sidades colectivas de membros da comunidade (P3).

b.3) Formação Bruta de Capital – GCF (célula: tp,dik;) inclui a

formação bruta de capital fixo, a variação de existências e as aquisições líquidas de cessões de objectos de valor (P5).

c) Comércio Externo – inclui as transacções de bens e servi­ ços de não residentes para residentes, ou importações (P7),

ou IM (célula: trw,p), e as transacções de bens e serviços de

residentes para não residentes, ou exportações (P6), ou EX

(célula: tp,rw).

d) Margens Comerciais e de Transporte – TTM (célula: tp,p) tota­

lizam zero e, quando são desagregadas e tomam a forma de uma submatriz, afectam a produção dos serviços de comércio e de transporte utilizados no comércio interno aos produtos oferecidos.

e) Impostos líquidos sobre a produção e importações

e.1) Impostos Líquidos sobre a Produção – NTA (células: tdic,a; trw,a) representam os (outros) impostos sobre a pro­ dução (D29) menos os (outros) subsídios à produção (D39).

e.2) Impostos Líquidos sobre os Produtos – NTP (células: tdic,p; trw,p) representam os impostos sobre os produtos (D21) menos os subsídios aos produtos (D31).

f) Remuneração dos Factores de Produção – CFP (células: tf,a;

tdic,f; tf,rw; trw,f) consiste no rendimento dos sectores institucio­ nais proveniente da remuneração dos empregados (D1), da remuneração dos empregadores e trabalhadores por conta própria (empresas familiares não constituídas em socieda­ de) e da remuneração do capital, incluindo rendimentos de propriedade (D4; B2G­B3g). A sua distribuição funcional é representada pelo Valor Acrescentado Bruto – GAV (célula:

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1000 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

tf,a), enquanto a sua distribuição institucional é repre sentado

pelo Rendimento Nacional Bruto – PNB (cé lula: tdic,f).

g) Transacções Correntes – CT (células: tdic,dic; tdic,rw; trw,dic) in­

cluem: impostos correntes sobre o rendimento, património, etc. (D5); contribuições sociais líquidas (D61); prestações sociais, excepto transferências sociais em espécie (D62); outras transferências correntes (D7); ajustamento pela varia­ ção em direitos associados a pensões (D8).

h) Transacções de Capital – KT (células: tdik,dik; tdik,rw; trw,dik)

incluem: impostos de capital (D91); ajudas ao investi mento (D92); outras transferências de capital (D99); aquisições líquidas de cessões de activos não produzidos (NP1­3).

i) Transacções Financeiras – FT (células: tdif,dif; tdif,rw; trw,dif)

incluem: ouro monetário e direitos de saque especiais (F1); numerário e depósitos (F2); títulos de dívida (F3); emprés­ timos (F4); acções e outras participações (F5); regimes de seguros, pensões e garantias­standard (F6); derivados finan­ ceiros, incluindo opções sobre acções concedidas a empre­ gados (F7); outros débitos e créditos (F8).

j) Poupança Bruta – S (célula: tdik,dic) mede a parcela do ren­

dimento agregado que não é utilizado em despesas de con­ sumo final e transferências (transacções) correntes para ins­ tituições nacionais ou para o resto do mundo (B9g).

k) Capacidade/necessidade líquida de financiamento – NLB

(célula: tdik,dif).

A capacidade ou necessidade de financiamento do total da economia é a soma da capacidade ou necessidade de finan­ ciamento dos sectores institucionais. Representa, respectiva­ mente, os recursos líquidos que o total da economia dispo­ nibiliza para o resto do mundo ou recebe do resto do mundo para financiar as necessidades de fundos de investimento correspondentes (B9).

Aqui, esses montantes são registados na(s) linha(s) da conta de capital, ou seja como variações do passivo e do patrimó­ nio líquido, e na coluna da conta financeira, ou seja como

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variações de activos. É por isso que os sinais matemáticos deste item foram trocados, em relação ao SNA.

A construção de uma SAM é mais fácil quando trabalhada por blocos.

Os totais de cada conta representam as somas das células das linhas e das colunas correspondentes, com a seguinte descrição:

I. Conta produtos (p): procura agregada – AD, soma em li­

nha (célula: tp.); oferta agregada – AS, soma em coluna (cé­

lula: t.p).

II. Conta actividades (a): valor da produção – VPT, soma em

linha (célula: ta.); custos totais – VCT, soma em coluna (cé­

lula: t.a).

III. Conta factores de produção (f): rendimento agregado dos

factores (recebido) – AFIR, soma em linha (célula: tf.); ren­

dimento agregado dos factores (pago) – AFIP, soma em co­

luna (célula: t.f).

IV. Conta corrente das instituições (internas) (dic): rendimen­

to agregado (recebido) – AI, soma em linha (célula: tdic.);

rendimento agregado (pago) – AIP, soma em coluna (célu­

la: t.dic).

V. Conta capital das instituições (internas) (dik): fundos de

investimento – INVF, soma em linha (célula: tdik.); investi­

mento agregado – AINV, soma em coluna (célula: t.dik).

VI. Conta financeira das instituições (internas) (dif): total de transacções financeiras (recebidas) – TFTR, soma em li­

nha (célula: tdif.); total de transacções financeiras (pagas)

– TFTP, soma em coluna (célula: t.dif).

VII. Conta resto do mundo (rw): valor das transacções para o resto do mundo (pagas) – TVRWP, soma em linha (célula:

trw.); valor das transacções do resto do mundo (recebidas)

– TVRWR, soma em coluna (célula: t.rw).

O Quadro de Contas Económicas Integradas é equivalente a um resumo do que é observado pelo SNA, utilizando para tal os

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1002 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

conceitos de sector e unidade institucional, operação ou transacção, activo e passivo, juntamente com o de resto do mundo. Nele está in­ cluída a sequência completa das contas dos sectores institucionais, do total da economia e do resto do mundo. (ISWGNA, 2009: 23; 29). Com base nesse quadro e na descrição anterior, foi possível cons­ truir a SAM básica apresentada no Quadro 2, representando o nível mais elevado de agregação da actividade de Portugal observada

pelas contas nacionais em 20092.

Quadro 2: SAM básica para Portugal em 2009 (unidade: 106 euros)

Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Banco de Portugal.

(a) 59 717 (importações) + 106 (impostos líquidos sobre os produtos enviados para as institui­ ções da União Europeia)

Portanto, tal como referimos acima e utilizando novamente as palavras de Stone, a SAM básica que acabámos de descrever, ilus­ trando com uma aplicação a Portugal, pode ser considerada como o resumo mais agregada do conjunto das contas nacionais e repre­ senta um primeiro nível do suposto método hierárquico, com todos

2 Recorda­se que, conforme referido anteriormente, neste ano as contas na­

cionais portuguesas adoptavam o Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regio­ nais na Comunidade Europeia de 1995 – a adaptação para a Europa da versão 1993 do SNA. Embora a descrição anterior tenha por base a versão 2008 do SNA, a adopção desta aplicação a título ilustrativo resultou da constatação de que, para o correspondente nível de agregação, as diferenças gerais entre aquelas duas ver­ sões não são significativas.

- 9 -

VI. Conta financeira das instituições (internas) (dif): total de transacções financeiras (recebidas) – TFTR, soma em linha (célula: tdif.); total de transacções financeiras (pagas) – TFTP, soma em coluna (célula:

t.dif).

VII. Conta resto do mundo (rw): valor das transacções para o resto do mundo (pagas) – TVRWP, soma em linha (célula: trw.); valor das transacções do resto do mundo (recebidas) – TVRWR, soma em coluna

(célula: t.rw).

O Quadro de Contas Económicas Integradas é equivalente a um resumo do que é observado pelo SNA, utilizando para tal os conceitos de sector e unidade institucional, operação ou transacção, activo e passivo, juntamente com o de resto do mundo. Nele está incluída a sequência completa das contas dos sectores institucionais, do total da economia e do resto do mundo. (ISWGNA, 2009: 23; 29). Com base nesse quadro e na descrição anterior, foi possível construir a SAM básica apresentada no Quadro 2, representando o nível mais elevado de agregação da actividade de Portugal observada pelas contas nacionais em 20093.

Quadro 2. SAM básica para Portugal em 2009 (unidade: 106 euros)

p a f dic dik dif rw total

p – produtos 0 162 661 146 934 34 051 47 236 390 882

a – actividades 311 365 311 365

f – factores 149 403 9 039 158 443

dic – conta corrente das

instituições 19 694 522 141 423 85 711 4 581 251 931 dik – conta capital das

instituições 15 865 1 536 16 222 2 232 35 855 dif – conta financeira

das instituições 36 659 37 209 73 868

rw – resto do mundo 59 823(a) - 1 222 17 019 3 421 268 20 987 100 297 total 390 882 311 365 158 443 251 931 35 855 73 868 100 297 Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Banco de Portugal.

(a) 59 717 (importações) + 106 (impostos líquidos sobre os produtos enviados para as instituições da União

Europeia)

Portanto, tal como referimos acima e utilizando novamente as palavras de Stone, a SAM básica que acabámos de descrever, ilustrando com uma aplicação a Portugal, pode ser considerada como o resumo mais agregada do conjunto das contas nacionais e representa um primeiro nível do suposto método hierárquico, com todos os totais de controlo para o nível seguinte dessa hierarquia. A partir daqui, a consistência de todo o sistema (supostamente) observado poderá ser assegurada.

3 Recorda-se que, conforme referido anteriormente, neste ano as contas nacionais portuguesas adoptavam o Sistema

Europeu de Contas Nacionais e Regionais na Comunidade Europeia de 1995 - a adaptação para a Europa da versão 1993 do SNA. Embora a descrição anterior tenha por base a versão 2008 do SNA, a adopção desta aplicação a título ilustrativo resultou da constatação de que, para o correspondente nível de agregação, as diferenças gerais entre aquelas duas versões não serem significativas.

(17)

os totais de controlo para o nível seguinte dessa hierarquia. A partir daqui, a consistência de todo o sistema (supostamente) observado poderá ser assegurada.

Tendo presente a descrição anterior, duas outras vantagens da apresentação matricial das contas nacionais podem ser realçadas: cada transacção representa uma única entrada e pode ser caracte­ rizada pela sua posição; cada conta é representada por uma linha e uma coluna, cujo equilíbrio é assegurado pela igualdade de suas somas.

4.2. Desagregações e extensões

Relembrando a concepção de Round subjacente à Nota Prévia a Santos, 2009: “o design da SAM é a chave para a construção de uma SAM útil e para o desenvolvimento eficaz de um modelo ba­ seado numa SAM. Uma SAM não precisa ter uma grande dimensão desde que represente as características mais significativas da inter­ dependência de toda a economia. Mais precisamente, isso significa conceber uma SAM para que os sectores, mercados e instituições chave estejam representados da melhor forma possível. É óbvio que as transacções entre contas também são importantes, no entanto, a sua estimação necessita de ser feita em conjunto com o design da

SAM” (Santos, S., 2009: xiv; tradução da autora).

Com as contas nacionais trimestrais, embora não tão completas como as anuais, é possível introduzir alguma desagregação adicio­ nal em termos de tempo. O mesmo acontece em termos de espaço, a partir das contas regionais. No último caso, torna­se possível traba­ lhar com regiões e países, individualmente ou em grupo – Round, por exemplo, trabalhou a Europa (Round, J., 1994 e 1991). Assim, se o SNA fosse adoptado mundialmente, seria possível pensar em termos tratamentos a nível mundial.

A partir das contas nacionais ou de outras fontes de informa­ ção é também possível fazer extensões, com o ajustamento ade qua­ do a todo o sistema ou a ligação com o mesmo, por forma a manter a consistência correspondente.

(18)

1004 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

A versão de 2008 do SNA dedica o seu Capítulo 28 às “con­

tas satélite e outras extensões” (ISWGNA, 2009: 523­544)3, em que a

ideia principal é a de servir fins analíticos específicos de uma forma consistente com o sistema base, embora a integração possa não ser completa (ISWGNA, 2009: 37­38). A este propósito a autora gostaria de apoiar a ideia, de Keuning e Ruijter, de um Sistema de Contas Socioeconómicas (Keuning S. e Ruijter W., 1988: 73).

4.2.1. Contas Produção

Na estrutura básica proposta na Secção 4.1, as contas produ­ ção são as contas produtos, actividades e factores de produção. Estas contas correspondem, respectivamente, às contas SNA: bens e serviços; produção; e distribuição primária do rendimento. Assim, dentro destas contas e, dependendo do nível de desagregação dis­ ponível, pode ver­se como os produtos disponíveis são utilizados, com alguns detalhes sobre o processo de produção, e como os rendi­ mentos resultantes desse processo e da propriedade de activos são distribuídos entre instituições e actividades.

O SNA utiliza a versão 2 da Central Product Classification (CPC; completada em Dezembro de 2008) para classificar produ­ tos (ISWGNA, 2009: 19), a qual está organizada em 10 secções, sen­ do possível ir até ao quinto nível de desagregação dentro de cada secção.

Por sua vez, a revisão 4 da International Standard Industrial Clas­

sification of All Economic Activities (ISIC; divulgada oficialmente em

Agosto de 2008) é utilizada para classificar actividades (ISWGNA, 2009: 20) e está organizada em 23 secções, cuja desagregação está em perfeita consonância com a classificação dos produtos.

O Quadro de Recursos e Empregos fornece esta informação, habitualmente a um nível intermédio de desagregação.

3 A versão de 2010 do Sistema Europeu de Contas Nacionais e Regionais na

(19)

Como descrito acima, na caracterização do bloco representa­ tivo da remuneração dos factores de produção, a desagregação que pode ser feita a partir dos quadros das contas nacionais já referidos é entre trabalho (ou a remuneração dos empregados) e o que tem sido referido como a remuneração de outros factores, que inclui a remuneração dos empregadores e trabalhadores por conta própria (empresas familiares não constituídas em sociedade), e a remunera­ ção do capital, ou seja, rendimentos de propriedade. Tal informação só pode ser retirada do Quadro de Contas Económicas Integradas, se as contas produtos e actividades não estiverem desagregadas, ou a partir do Quadro de Recursos e Empregos se essas mesmas contas estiverem desagregadas. O Quadro 3, que contém a já referida apli­ cação a Portugal, apresenta contas produtos e actividades não desa­ gregadas e a desagregação possível da conta factores de produção com base no Quadro de Contas Económicas Integradas.

Em relação ao design de SAMs e com vista a estabelecer a rela­ ção entre as taxonomias tratadas nesta secção e na próxima surge como oportuna nova referência ao trabalho mais recente Pyatt e Round. Com efeito, naquele trabalho os autores identificam, além de uma conta resto do mundo, contas bens e serviços que não se­ jam de factores, serviços de factores e instituições. Por sua vez, den­ tro das contas instituições são ainda identificas contas correntes do sector público e do sector privado e de uma conta de capital combinada. A propósito desse design, os autores referem ainda que taxonomias para bens e serviços servem para distinguir diferentes mercados e, portanto, deve ser concebido de forma a reconhecer as falhas e segmentação de mercado significativas. Em contrapar tida, as instituições do sector privado são diferenciadas pelos activos que possuem (ou não ...) e pelas actividades produtivas de que são responsáveis .... Os factores de produção e os activos que possuem são, portanto, a característica definidora das instituições (Pyatt, G. e Round, J., 2012: 268).

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1006 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

4.2.2. Contas Instituições e Resto do Mundo

Na estrutura básica proposta na Secção 4.1, as instituições (in­ ternas) estão divididas em contas corrente, capital e financeira. Estas contas correspondem, respectivamente, às contas SNA: distribuição secundária do rendimento, redistribuição do rendimento em espé­ cie e utilização do rendimento; capital; e financeira. Dentro destas contas, dependendo do nível de desagregação disponível, as con­ tas correntes mostram como o rendimento nacional se transforma em rendimento disponível através do recebimento e pagamento de transferências correntes, e como este é distribuído entre consumo fi­ nal e poupança. Por sua vez, a conta de capital regista os movimen­ tos ligados a aquisições de activos não­financeiros e a transferências de capital que envolvem a redistribuição da riqueza, enquanto a conta financeira regista as transacções em activos e passivos finan­ ceiros entre sectores institucionais e entre estes e o resto do mundo. Todas as ligações entre a economia nacional e o resto do mun­ do, ou seja, todas as transacções entre unidades residentes e não re­ sidentes, são registadas tanto na SAM como no SNA na conta resto do mundo.

O Capítulo 4 da versão de 2008 do SNA especifica os sectores institucionais, incluindo o resto do mundo, e a sua possível desagre­ gação que, em alguns casos, pode ir até ao terceiro nível (ISWGNA, 2009: 61­85), embora normalmente não vá além do primeiro nível. No caso do resto do mundo, a desagregação dependerá, certamente,

do país ou grupo de países, que adoptar e adaptar o sistema4.

Ao primeiro nível de desagregação, as contas das instituições, bem como a conta do resto do mundo, fazem parte do Quadro de Contas Económicas Integradas. Níveis mais elevados de desagrega­ ção, quando são possíveis, são normalmente publicados à parte nas

4 No caso da versão de 2010 do ESA (Capítulo 23), é definido um segundo

nível de desagregação com a distinção entre os Estados­Membros e as instituições e órgãos da União Europeia e os países terceiros e organizações internacionais que não são residentes na União Europeia. No caso do primeiro, a desagregação pode ir até ao quarto nível (ver nota de rodapé 1).

(21)

chamadas contas dos sectores institucionais. Mesmo ao primeiro nível de desagregação, qualquer trabalho realizado com os sectores institucionais quando existem transacções envolvendo mais de uma linha ou coluna da SAM também necessita das chamadas “matrizes de quem a quem”. Estas matrizes, que não são publicadas mas po­ dem ser fornecidas pelos institutos de estatística, tornam possível o preenchimento das células das submatrizes de transacções realiza­ das entre as instituições (internas) e entre estas e o resto do mundo, registadas nos blocos de transacções correntes, de capital e financei­ ras (Secção 4.1 g­i).

A desagregação de sectores institucionais específicos torna possível analisar os mais diversos aspectos dos correspondentes desempenhos na actividade dos países (Santos, S., 2004 e 2007 são exemplos de estudos sobre o papel das administrações públicas e seus subsectores – administração central, administração local e fun­ dos de segurança social).

O estudo detalhado de contas específicas de instituições (inter­ nas) e transacções correspondentes também torna possível a análi­ se de aspectos específicos dessa mesma actividade: a distribuição e redistribuição do rendimento, utilizando a conta corrente; a redis­ tribuição de riqueza, usando a conta capital; o investimento, seu financiamento e os níveis implícitos de necessidade e capacidade de financiamento dos sectores institucionais e de toda a economia, utilizando as contas capital e financeira.

Por sua vez, a conta do resto do mundo pode propiciar mui­ tas possibilidades de estudo das relações económicas internacionais dos países.

O Anexo 1 apresenta a desagregação possível das contas cor­ rente e de capital das instituições, feita a partir do Quadro de Con­ tas Económicas Integradas e das «matrizes de quem para quem», para Portugal em 2009. Devido à indisponibilidade de «matrizes de quem para quem» para transacções financeiras, a conta financeira não pôde ser desagregada.

Tal como a forma matricial das contas produção pode ser fa­ cilmente trabalhada a partir dos Quadros de Empregos e Recursos,

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1008 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

seria igualmente possível trabalhar na forma matricial as contas institucionais se algum tipo de quadros “de quem a quem” fosse oficializado. Este seria um factor crucial para a implementação da abordagem baseada em SAMs, em que SAMs com contas produção e instituições, passariam a ter condições para captar o fluxo circu­ lar do rendimento e a rede de interligações subjacente, constituindo bases de modelos macroeconómicos mais capazes de reproduzir os processos multiplicadores implícitos na actividade dos países.

4.3. Agregados, saldos e indicadores

Como foi visto acima, praticamente todas as transacções das contas nacionais são cobertas pela SAM proposta; assim, agregados macroeconómicos, saldos e indicadores podem ser identificados a partir dela.

Para um melhor acompanhamento da descrição abaixo, ver a descrição das células ou blocos no Quadro1, bem como o Quadro 2 e o Anexo 1, para a aplicação a Portugal.

O Produto Interno Bruto a preços de mercado (PIBpm), que é

geral mente considerado o principal agregado macroeconómico, pode ser calculado nas três ópticas conhecidas:

− Óptica da produção: PIBpm = P – IC + NTP = ta,p – tp,a + (tdic,p+

(parte de) trw,p);

− Óptica da despesa: PIBpm = FC + GCF + Ex – IM = tp,dic + tp,dik +

tp,rw – (parte de) trw,p;

− Óptica do rendimento: PIBpm = GAV + NTP + NTA = tf,a +

(tdic,p+ (parte de) trw,p) + (tdic,a + trw,a).

O PIBpm português em 2009 foi 168 504 * 106 euros, o qual pode

ser calculado naquelas três ópticas, como se pode ver a seguir:

− Óptica da produção: PIBpm = 311 365 – 162 661 + (19 694 +

106);

− Óptica da despesa: PIBpm = 146 934 + 34 051 + 47 236 – 59 717;

− Óptica do rendimento: PIBpm = 149 403 + (19 694 + 106) +

(23)

O Produto Interno pode ser convertido em Produto Nacional adicionando a remuneração de factores (de produção) recebida do resto do mundo e subtraindo a remuneração de factores (de produ­ ção) enviada para o resto do mundo e o valor líquido dos impos­ tos indirectos (sobre os produtos e a produção). Assim, a partir

das células da SAM básica, o PIBpm pode ser convertido em Pro­

duto Nacional Bruto a preços de mercado (PNBpm) ou Rendimento

Nacional Bruto a preços de mercado (RNBpm), da seguinte forma:

PIBpm + tf,rw – trw,f – trw,a– (parte de) trw,p. Por outro lado, como a SAM

dá directamente o Rendimento Nacional Bruto, este pode também ser calculado adicionando apenas os impostos indirectos líquidos (sobre os produtos e a produção) recebidos pelas instituições (inter­

nas): tdic,f + tdic,p + tdic,a. O montante correspondente para Portugal

em 2009 foi 161 639 * 106 euros, para o qual os cálculos subjacentes

são os seguintes: PNBpm= 168 504 + 9 039 – 17 019 – (–1 222) – 106;

RNBpm= 141 423 + 19 694 + 522.

O Rendimento Disponível é também muito importante e pode

ser calculado adicionando ao RNBpm as transacções líquidas cor­

rentes recebidas pelas instituições (internas): RNBpm + ((recebidas)

tdic,dic+ tdic,rw) – ((pagas) tdic,dic+ trw,dic). Na nossa aplicação a Portugal:

161 639 + (85 711 + 4 581) – (85 711 + 3 421) = 162 800 * 106 euros.

Por sua vez, agregados (e saldos) brutos podem ser converti­ dos em líquidos, deduzindo o consumo de capital fixo, que está fora da SAM básica, mas faz parte do Quadro de Contas Económicas Integradas.

A Poupança Bruta (S) e a Capacidade ou Necessidade Líquida de Financiamento (NLB) são dadas directamente pela SAM através de tdik,dic e tdik,dif, respectivamente, as quais, no caso de Portugal em

2009 foram, respectivamente: 15 865 * 106 euros e 16 222 * 106 euros.

De acordo com a explicação da alínea k da Secção 4.1, o último valor representa Necessidade Líquida de Financiamento.

Também é possível calcular indicadores estruturais de distri­ buição funcional e institucional do rendimento gerado, bem como indicadores de utilização do rendimento disponível.

Na distribuição funcional do rendimento gerado, a distribui­ ção de valor acrescentado bruto – GAV – entre os factores de pro­

(24)

1010 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

dução é dada pela estrutura da submatriz na célula tf,a da estrutura

básica, com o seu nível de detalhe a depender da desagregação das actividades (conta em coluna) e dos factores de produção (conta em linha). O Quadro 3 mostra os resultados da aplicação a Portugal.

Quadro 3: Distribuição funcional do rendimento gerado

em Portugal em 2009

% Factores de Produção

(rendimento gerado = valor acrescentado bruto ou produto interno bruto) Trabalho

(empregados) 57.5

Outros

(empregadores e trabalhadores por conta própria; capital) 42.5

Total 100.0

Fonte: Anexo 1

Na distribuição institucional do rendimento gerado, a distri­ buição do rendimento nacional bruto – RNB – é dada pela estrutura

da submatriz na célula tdic,f da estrutura básica. Neste caso, o nível

de detalhe vai depender da desagregação dos factores de produção (conta em coluna) e da conta corrente das instituições (conta em linha). O Quadro 4 mostra os resultados da aplicação a Portugal.

Quadro 4: Distribuição institucional do rendimento gerado

em Portugal em 2009 (em %)

Fonte: Anexo 1

- 15 -

Quadro 4. Distribuição institucional do rendimento gerado em Portugal em 2009 (em %)

Factores de Produção Trabalho

(empregados)

Outros (empregadores e/ou trabalhadores por conta

própria; capital)

Total Instituições

(rendimento gerado = rendimento nacional bruto)

Famílias 100.0 61.5 84.9

Sociedades não financeiras 26.3 10.3

Sociedades financeiras 10.8 4.2

Administrações públicas - 0.1 0.0

Instituições sem fim lucrativo ao serviço

das famílias 1.5 0.6

Total 100.0 100.0 100.0

Fonte: Anexo 1

Como descrito acima para a economia em geral, o rendimento disponível dos sectores institucionais pode ser calculado da mesma forma, podendo a sua distribuição e utilização ser igualmente estudada – ver Quadro 5.

Quadro 5. Distribuição e utilização pelos sectores institucionais do rendimento disponível em Portugal

em 2009 (em %)

Distribuição do Rendimento

Disponível

Utilização do Rendimento Disponível Despesa em Consumo

Final Poupança

Famílias 73.7 88.6 11.4

Sociedades não financeiras 5.5 --- 100.0

Sociedades financeiras 3.2 --- 100.0

Administrações públicas 15.6 145.9 - 45.9

Instituições sem fim lucrativo

ao serviço das famílias 2.0 111.0 - 11.0

Total 100.0 90.3 9.7

Fonte: Anexo 1

Alguns dados adicionais podem tornar possível o estudo de outros detalhes, como por exemplo indicadores per capita, com informação demográfica.

As principais rubricas dos balanços ou contas de recursos e empregos dos sectores institucionais e do resto do mundo podem ser identificados a partir das respectivas linhas e colunas da SAM. No caso dos sectores institucionais, o saldo total desses balanços é a capacidade ou necessidade de financiamento (NLB) do respectivo sector, com um sinal matemático contrário ao da SAM; o saldo corrente é a correspondente poupança bruta (S); e o saldo de capital é a diferença entre o primeiro e o segundo (Santos, S., 2012).

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Parte II – Ensaios | 1011

Como descrito acima para a economia em geral, o rendimento disponível dos sectores institucionais pode ser calculado da mesma forma, podendo a sua distribuição e utilização ser igualmente estu­ dada – ver Quadro 5.

Quadro 5: Distribuição e utilização pelos sectores institucionais

do rendimento disponível em Portugal em 2009 (em %)

Fonte: Anexo 1

Alguns dados adicionais podem tornar possível o estudo de outros detalhes, como por exemplo indicadores per capita, com infor­ mação demográfica.

As principais rubricas dos balanços ou contas de recursos e empre gos dos sectores institucionais e do resto do mundo podem ser identificados a partir das respectivas linhas e colunas da SAM. No caso dos sectores institucionais, o saldo total desses balanços é a capacidade ou necessidade de financiamento (NLB) do respectivo sector, com um sinal matemático contrário ao da SAM; o saldo cor­ rente é a correspondente poupança bruta (S); e o saldo de capital é a diferença entre o primeiro e o segundo (Santos, S., 2012).

5. Resumo e Conclusões

Matrizes de Contabilidade Social são ferramentas ou instrumen­ tos de trabalho empírico e teórico com a actividade dos países, que podem assumir versões numéricas e algébricas. Essa é a chamada abordagem baseada em Matrizes de Contabilidade Social (SAM) para o estudo (medição e modelização) da actividade dos países.

- 15 - Trabalho (empregados)

Outros (empregadores e/ou trabalhadores por conta

própria; capital)

Total Instituições

(rendimento gerado = rendimento nacional bruto)

Famílias 100.0 61.5 84.9

Sociedades não financeiras 26.3 10.3

Sociedades financeiras 10.8 4.2

Administrações públicas - 0.1 0.0

Instituições sem fim lucrativo ao serviço

das famílias 1.5 0.6

Total 100.0 100.0 100.0

Fonte: Anexo 1

Como descrito acima para a economia em geral, o rendimento disponível dos sectores institucionais pode ser calculado da mesma forma, podendo a sua distribuição e utilização ser igualmente estudada – ver Quadro 5.

Quadro 5. Distribuição e utilização pelos sectores institucionais do rendimento disponível em Portugal

em 2009 (em %)

Distribuição do Rendimento

Disponível

Utilização do Rendimento Disponível Despesa em Consumo

Final Poupança

Famílias 73.7 88.6 11.4

Sociedades não financeiras 5.5 --- 100.0

Sociedades financeiras 3.2 --- 100.0

Administrações públicas 15.6 145.9 - 45.9

Instituições sem fim lucrativo

ao serviço das famílias 2.0 111.0 - 11.0

Total 100.0 90.3 9.7

Fonte: Anexo 1

Alguns dados adicionais podem tornar possível o estudo de outros detalhes, como por exemplo indicadores per capita, com informação demográfica.

As principais rubricas dos balanços ou contas de recursos e empregos dos sectores institucionais e do resto do mundo podem ser identificados a partir das respectivas linhas e colunas da SAM. No caso dos sectores institucionais, o saldo total desses balanços é a capacidade ou necessidade de financiamento (NLB) do respectivo sector, com um sinal matemático contrário ao da SAM; o saldo corrente é a correspondente poupança bruta (S); e o saldo de capital é a diferença entre o primeiro e o segundo (Santos, S., 2012).

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1012 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

Admitindo as contas nacionais como o núcleo das estatísticas representativas da actividade dos países, a sua adopção é recomen­ dável, pelo menos como ponto de partida, num trabalho que procu­ re evidência empírica nessa mesma actividade. Tal permitirá traba­ lhar com a actividade que é (supostamente) observada pelas contas nacionais e o seu conhecimento que, num contexto SAM, beneficia­ rá de um conteúdo analítico acrescido, propiciado pela forma matri­ cial e pela possibilidade de captar e trabalhar com redes de ligações. A partir da versão de 2008 do SNA é proposta uma estru tura básica de versão numérica de uma SAM. Essa estrutura básica é considerada como um resumo dos fluxos que o SNA supõe serem observados e os totais de controlo para outros níveis de desagrega­ ção, a partir da qual é possível estudar aspectos específicos e manter a consistência de todo o sistema.

As contas dessa estrutura básica, representada pelas suas linhas e colunas, identificam, para além do resto do mundo, a produção e as instituições (internas). As componentes das contas de produção são: produtos (bens e serviços), actividades e factores. As contas das instituições, que representam os sectores institucionais, são decom­ postas em corrente, capital e financeira. Por sua vez, as células dessa mesma estrutura básica são apresentados por blocos de fluxos das contas nacionais com características comuns. A níveis mais eleva­ dos de desagregação dessas contas, aqueles blocos de células serão convertidos em blocos de submatrizes. O trabalho com esses blocos é sugerido como uma forma mais fácil para a construção de SAMs.

A estrutura básica acima referida pode ser preenchida a partir de um Quadro de Contas Económicas Integradas, que representa a estrutura geral do SNA, identificando, na economia como um todo, além do resto do mundo, os sectores institucionais. Esse quadro (complementado pelas contas dos sectores institucionais, para os níveis mais elevados de detalhe) e as “matrizes de quem a quem”, para transacções específicas, permitem a desagregação das contas dos sectores institucionais e algum trabalho com as contas de fac­ tores. Por sua vez, desagregações ao nível das contas produtos e actividades são feitas a partir dos Quadros de Recursos e Empregos.

(27)

A partir das contas nacionais anuais e regionais, bem como, das contas nacionais trimestrais, a nossa proposta também pode ser adoptada para estudos evolutivos, no espaço ou no tempo, através de séries de SAMs.

Desagregações da estrutura proposta não afectam a consistên­ cia de todo o sistema. Extensões, a partir das contas nacionais ou a partir de outras fontes de informação, passam pelo ajustamento adequado ou pela conveniente ligação ao sistema como um todo, de forma a manter a sua consistência. Essa preocupação com a con­ sistência do sistema é uma condição para que a rede de ligações que está subjacente à actividade dos países seja completa, ou seja, além da geração de rendimento, inclua também a distribuição, redistri­ buição e uso do rendimento, bem como a redistribuição e acumu­ lação da riqueza. Tal consistência só é possível quando contas pro­ dução e instituições são trabalhadas em conjunto, numa estrutura

SAM. A cobertura adequada dessa rede de ligações é uma condição

necessária para a captação de efeitos multiplicadores na modeliza­ ção subsequente, cujo conhecimento pode ser importante.

A partir da estrutura proposta é também proposto um trabalho fora da forma matricial com os agregados, saldos e indicadores bem como com balanços ou contas de recursos e empregos dos sectores institucionais e do resto do mundo, que podem ser vistos como pe­ ças extraídas do nosso instrumento de trabalho com vista a eviden­ ciar empiricamente objectivos de trabalho específicos. Dependendo do detalhe da SAM poderemos calcular agregados mais ou menos detalhadas como: Produto Interno Bruto (PIB); Rendimento Nacio­ nal Bruto; Rendimento Disponível, etc. O mesmo acontece com os indicadores estruturais da distribuição funcional e institucional do rendimento gerado, bem como indicadores de utilização do rendi­ mento disponível. Por outro lado, a maneira fácil como as principais contas de recursos e empregos dos sectores institucionais nacionais e do resto do mundo podem ser extraídas a partir das respectivas linhas e colunas da SAM, também pode ser identificada como mais uma vantagem da abordagem proposta.

A SAM a partir da qual todos os agregados, saldos, indicadores e balanços institucionais são extraídos pode ser a versão numérica

(28)

1014 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral

da realidade em estudo ou a réplica da execução de um modelo baseado numa SAM, utilizado para testar medidas de política. Neste último caso, teremos um ou mais cenários que representam os impactos dessas medidas de política, que, quando comparado com a realidade em estudo pode(m) apoiar os processos de defini­ ção e tomada de decisões políticas.

Com ou sem a estrutura proposta, quando a actividade dos paí ses tem de ser estudada, o trabalho empírico, de medição de mode lização, o formato matricial e o uso de contas nacionais são recomendados. As contas nacionais podem ser consideradas como um ponto de partida para a utilização de outras fontes de informa­ ção e a inclusão de outras dimensões. Para tal, seria conveniente que os compiladores das contas nacionais dos países dessem tanta importância às contas institucionais como dão às contas de produ­ ção. Também seria conveniente que os mesmos disponibilizassem os resultados de seu trabalho e os detalhes metodológicos que lhe estão subjacentes, ou seja, matrizes «de quem a quem» e «inventá­ rios de fontes e métodos», de modo a permitir a livre utilização e avaliação por parte dos seus utilizadores (organizações internacio­ nais, estudantes, investigadores, etc.). Isso seria, certamente, uma contribuição para o desenvolvimento do conhecimento da activi­ dade dos países.

Esta proposta pretende contribuir para que a actividade dos países seja estudada e intervencionada depois de ser compreendida de uma forma tão completa quanto possível. Isto permitirá opiniões e intervenções sobre as partes, com conhecimento sobre o todo e correspondentes interacções.

Esta é uma forma que a autora pensa ser plausível para intro­ duzir evidência empírica no trabalho ao nível macroeconómico em que a rede de ligações entre os grupos socioeconómicos que in­ terferem na actividade dos países não deve continuar a ser negli­ genciada com tanta frequência. A adopção deste princípio poderá mesmo permitir novas contribuições para a melhoria do SNA e o maior compromisso dos países na sua adopção e adaptação, com uma maior colaboração entre os macroeconomistas e estatísticos.

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Anexo 1

. SAM

para Portugal em 2009, com desagr

egação das contas: factor

es de pr

odução;

corr

ente e capital das instituições (unidade: 10

6 eur

os)

Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Banco de Portugal

Tr ab al ho (em preg ado s) Homenag-001-1084.indd 1017 26-09-2013 16:57:24 Anexo 1. SAM para Portugal em 20 09 ,com des agr eg ação da s cont as: fa ctor es de pr oduçã o; corr ente e capital da sinst itu ições (u ni da de: 10 6eu ro s) E m pr egos (d es pes as ) R ec ur so s (r ece ita s) P R O D UÇÃ O IN S T IT U IÇ Õ E S P R O DUT O S AC TIV ID A D E S F AC T O R ES C O NT A CO RR E N T E Tr ab al ho   (empr ega dos) O ut ros To tal F a m íli as S ocied ade s nã o-fin a nc ei ras S oc ie dad es fin anc ei ras A dm in is tr a-çõ es púb lica s ISF LSF To tal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PRO DU ÇÃO P R O DUT O S 1 0 162 6 61 0 00 10 6 2 06 00 37 1 60 3 5 68 146 9 34 A CT IV IDA DE S 2 31 1 3 65 0 0 00 0 0 0 00 0 FACTO RES T ra bal ho (e mpre ga d os ) 3 0 85 8 88 0 00 0 0 0 00 0 O ut ros 4 0 63 5 15 0 00 0 0 0 00 0 T o ta l 0 149 4 03 0 00 0 0 0 00 0 INS TIT UIÇ ÕES CONT AC ORR ENT E F am íli as 5 00 85 7 57 34 25 8 12 0 0 15 80 1 1 8 30 5 2 26 28 9 98 95 36 9 49 S oc ie da de s não-fin an cei ra s 6 00 0 14 61 5 14 61 5 1 8 30 0 61 3 171 0 2 6 13 S oc ie da de s f in an ce ira s 7 00 0 5 9 90 5 9 90 5 2 89 51 9 131 42 32 6 0 13 A d mi ni st raç õ es pú bl ic as 8 19 6 94 522 0 - 34 - 34 31 2 24 5 6 84 671 8 22 37 6 10 In st itu iç õ es s e m f i ns lu cra tiv o s ao s erviç o d as fa m íli as ( IS F LS F ) 9 0 0 0 83 7 83 7 324 154 50 1 9 97 0 2 5 25 T o ta l 19 6 94 522 85 7 57 55 66 6 14 1 4 23 39 4 68 8 1 87 6 6 90 31 2 15 15 0 85 7 11 CON TA CA PITA L F am íli as 10 0 0 0 00 13 7 28 0 0 00 13 7 28 S oc ie da de s não-fin an cei ra s 11 0 0 0 00 0 8 9 03 0 00 8 9 03 S oc ie da de s f in an ce ira s 12 0 0 0 00 0 0 5 2 83 00 5 2 83 A d mi ni st raç õ es pú bl ic as 13 0 0 0 00 0 00 - 11 695 0 - 11 6 95 In st itu iç õ es s e m f i ns lu cra tiv o s ao s er vi ço da s fa m íli as ( IS F LS F ) 14 0 0 0 0 0 0 0 0 0 - 354 - 35 4 T o ta l 0 0 0 00 13 7 28 8 9 03 5 2 83 - 11 695 - 354 15 8 65 C O NT A F INA NC E IR A 15 0 0 0 00 0 0 0 00 0 RES T O DO M U ND O 16 59 8 23 - 1 22 2 37 0 16 64 9 17 01 9 1 3 45 24 0 110 1 7 26 0 3 4 21 TOT A L 39 0 8 82 311 3 65 86 1 27 72 31 5 15 8 4 43 16 0 7 47 17 3 31 12 08 2 58 4 07 3 3 63 251 9 31 Fonte:  Ins titu to  Na ci on al  de  E st at ís tic a  e  Ba nco  de  Portu ga l  

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10181018 | Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral| Estudos de Homenagem a João Ferreira do Amaral Homenag-001-1084.indd 1018 26-09-2013 16:57:24 Em pr egos (de spesas) Re cu rs os ( re cei ta s) IN ST IT UI ÇÕ ES R ES TO D O M U ND O TOTA L C O N TA C A P ITA L CO N TA FIN A N C E IR A Fam íli as So cied ad es não -fin anc ei ras Soc iedades fin an ce ira s A dm in is tra-çõ es púb lic as ISF LSF To ta l 10 11 12 13 14 15 16 PROD UÇ ÃO PR ODUT OS 1 7 2 69 19 8 12 1 0 64 5 0 71 83 4 34 0 51 0 47 2 36 39 0 8 82 A C TI VI D A DE S 2 0 0 0 0 0 0 0 0 31 1 3 65 FAC TO RES Tr ab al ho ( em pr eg ado s) 3 0 0 0 0 0 0 0 23 9 86 1 27 Out ro s 4 0 0 0 0 0 0 0 8 80 0 72 3 15 To ta l 0 0 0 0 0 0 0 9 03 9 15 8 4 43 INST ITU IÇ ÕES CONT A CO RRENTE Fam íli as 5 0 0 0 0 0 0 0 3 78 3 16 0 7 47 Soc ie da de s não-fin anc ei ras 6 0 0 0 0 0 0 0 10 3 17 3 31 So cie dade s financ ei ra s 7 0 0 0 0 0 0 0 79 12 0 82 Ad mi ni st ra çõ es p úbl ic as 8 0 0 0 0 0 0 0 61 5 58 40 7 In st itui çõ es s em fi ns luc rat iv o s ao se rv iç o das fa m ílias (I SF LS F) 9 0 0 0 0 0 0 0 1 3 36 3 To ta l 0 0 0 0 0 0 0 4 58 1 25 1 9 31 CO NTA CAP ITAL Fam íli as 10 0 0 53 13 9 0 19 2 -9 00 4 17 7 5 09 3 Soc ie da de s não-fin anc ei ras 11 0 0 0 79 5 0 79 5 11 4 07 92 4 22 0 29 So cie dade s financ ei ra s 12 0 0 53 24 0 77 - 4 1 57 0 1 20 2 Ad mi ni st ra çõ es p úbl ic as 13 3 95 28 0 2 12 8 17 1 35 1 11 8 6 68 6 In st itui çõ es s em fi ns luc rat iv o s ao se rv iç o das fa m ílias (I SF LS F) 14 0 0 0 34 4 0 34 4 84 0 14 84 4 To ta l 3 95 13 5 1 3 01 2 1 5 36 16 2 22 2 23 2 35 8 55 CO N TA F IN A N C E IRA 15 0 0 0 0 0 0 36 6 59 37 2 09 73 8 68 R ES TO DO M UND O - 2 179 2 1 22 3 31 5 8 26 8 20 9 87 10 0 2 97 TO TA L 5 0 93 22 0 29 1 2 02 6 6 87 84 4 35 8 55 73 8 68 100 297

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