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A estruturação espacial urbana de Dakar : contribuição para uma análise com base nas idiossincrasias sócio-culturais, étnicas e religiosas

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A E S T R U T U R A Ç Ã O ESPACIAL U R B A N A DE D AK AR

Contribuição para uma Análise com Base nas Idiossincrasias

Sócio-Culturais, Étnicas e Religiosas

por

N ’D IO G O U D IÉN E

Dissertação de Mestrado Apresentada à Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Departamento de Urbanismo

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano Curso de Mestrado em Planejamento Urbano Como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre

Orientador: Prof. Paul Irving Mandell (PhD - Columbia)

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A ES TR U TU R A Ç Ã O ESPACIAL URBANA DE DAKAR

Contribuição para uma Análise com Base nas Idiossincrasias

Sócio-Culturais, Étnicas e Religiosas

por

N’DIOGOU DIÉNE

Dissertação de Mestrado Apresentada à

Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Departamento de Urbanismo

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano

Curso de Mestrado em Planejamento Urbano

Como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre

Orientador: Prof. Paul Irving Mandell (PhD - Columbia)

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A ESTRUTURAÇÃO ESPACIAL URBANA DE DAKAR Contribuição para uma Análise com Base nas Idiossincrasias

Sócio-Culturais, Étnicas e Religiosas

por

N’DIOGOU DIÉNE

Dissertação de Mestrado Apresentada à Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Departamento de Urbanismo

Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano Curso de Mestrado em Planejamento Urbano Como Requisito Parcial à Obtenção do Título de Mestre

Orientador: Prof. Paul Irving Mandell (PhD - Columbia)

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A luz nasce na escuridão...”

Gilberto Gil

Dissertação de M estrado - A Estruturação Espacial Urbana de D akar - Contribuição para uma Análise com Base nas Idiossincrasias Sócio-C ulturais, Étnicas e R eligiosas

Elaborada por N’Diogou Diéne

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4

li

deir - Orientad®r/PhD - Col Banca Exam inadora

Prof. Paul Irving M a n d e lí- O rientadàr/PhD - Columbi Prof. Paulo Castilho Lima - Doutor - USP

Prof. Rafael Sanzio Dos Anjos - D outor - USP

Fevereiro de 1999

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Dedicado à:

Angélica, Am y-C arole, A isha-Angèle, A m y Touré e Mbaye A bu-B akr Diéne

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Agradecimentos

A Deus, por ter norteado meus passos, ilum inando-m e na

im plem entação deste trabalho.

A todos aqueles que, de perto ou de longe, contribuíram com sua palavra de conforto e apoio para o meu êxito.

À m inha fam ília, cujo sacrifício, paciência, tolerância e incansável apoio resultou neste produto.

A todos os professores do m estrado e funcionários do D epartam ento de Urbanism o da FAU - UnB.

Uma especial hom enagem a todos os funcionários da Biblioteca Central da UnB, que, com sua dedicação, realm ente abriram os cam inhos para este árduo trabalho.

A o Serviço de Alojam ento-M oradia e Ação Social da UnB.

A o CPD/UnB, pelo apoio logístico de im ensurável contribuição para m inhas pesquisas.

A o professor e am igo A ntonio W agner Rizzo e ao fotógrafo Jeová Xangô, da Faculdade de C om unicação UnB.

Ao CNPq, que possibilitou minha participação efetiva e ativa no Program a de Pós-G raduação do Mestrado.

Finalm ente, a todos, os meus sinceros agradecim entos.

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SUMÁRIO

Ca p ít u l o I 1 In t r o d u ç ã o 1 1. Da k a r: Ca r a c t e r ís t ic a s e s p a c ia is 7 2 . Es t r u t u r a ç ã o Es p a c ia l In t r a- Ur b a n a: Co n c e it o s e t e o r ia s 16 3 . Ob j e t iv o s, Mé t o d o s e Es t r u t u r a d a Dis s e r t a ç ã o 2 5 3 .1 . Ob j e t iv o s g e r a i s: 2 5 3 .2 . Me t o d o l o g ia: 2 5 3 .3 . Es t r u t u r a d a Dis s e r t a ç ã o: 2 6 3 .4 . H ip ó t e s e d e T r a b a l h o 27 Ca p ít u l o II 2 8 1. Ev o l u ç ã o Es p a c ia l Ur b a n a d e Da k a r Pó s- In d e p e n d ê n c ia: Br e v e s Co n s id e r a ç õ e s Ge o g r á f ic a s e His t ó r ic a s ( Co n t e x t o Na c io n a l) 2 8 1 .1 . Pa n o r a m a d a Re g iã o Me t r o p o l it a n a d e Da k a r 2 8 2 . D a k a r : P a is a g e n s U r b a n a s e A s p e c t o s F ís ic o s 31 2 .1 . D a k a r e s e u s a n e x o s : V id a , C u l t u r a e R e l a ç õ e s S o c ia is 31 2 .2 . L a G r a n d e M é d in a 35 2 .3 . L e G r a n d - D a k a r 42 2 .4 . D a k a r v e r s u s P ik in e : A n á l i s e d a E v o l u ç ã o E s p a c i a l U r b a n a P ó s -In d e p e n d ê n c ia 53 3 . De s e n v o l v im e n t o Es p a c ia l Ur b a n o d e Da k a r Pó s- In d e p e n d ê n c ia 6 5 3 .1 . Re g u l a m e n t a ç ã o e Cr it é r io s d e Pl a n e j a m e n t o Ur b a n o d e Da k a r: Os p la n o s d i r e t o r e s 65 3 .2 . O C ó d ig o U r b a n o 72 4 . Q u e s t õ e s F u n d iá r ia s 73 4 .1 . As p e c t o s Ju r íd ic o- In s t it u c io n a is 7 3 4 .2 . R e s e r v a s F u n d iá r ia s : C o n s u m a ç ã o e P r o b l e m a s 73 4 .3 . A S i t u a ç ã o F u n d iá r ia A t u a l P ó s -In d e p e n d ê n c ia d e D a k a r 76 4 .4 . A S i t u a ç ã o F u n d iá r ia d o L e s t e de Y e u m b e u l e a P r o b l e m á t i c a d a s t e r ­ r a s d a T e r c e i r a C i r c u n s c r i ç ã o U r b a n a d e D a k a r ( C a p - V e r t ) 78

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5. O Me r c a d o d a Ha b it a ç ã o: Dir e t r iz e s 81 5 .1 . De m a n d a e Of e r t a 81 5 .2 . O s Al u g u é is 8 5 5 .3 . O Pr e ç o d o So l o 86 5 .4 . A S IC A P e o s Gr a n d e s Pr o j e t o s d e u r b a n iz a ç ã o d e Ca p- Ve r t 88 5 .5 . Op e r a ç ã o Pa r c e l l e s As s a in ie s: Al t e r n a t iv a d e Ur b a n iz a ç ã o Pó s- In d e p e n d ê n c ia 90 C a p it u lo III 92 1. Es t r u t u r a ç ã o Re s id e n c ia l In t r a- Ur b a n a d e Da k a r “ Pó s- In d e p e n d ê n c ia” 92 1 .1 . Es t r a t if ic a ç ã o Só c io-Es p a c ia l e Mo b il id a d e s In t r a-Ur b a n a s n a Re g iã o Me t r o p o l it a n a d e Da k a r. 92 2. As Id io s s in c r a s ia s Só c io- Cu l t u r a is, Ét n ic o-Re l ig io s a s c o m o Fa t o r e s d e An á l is e e In t e r p r e t a ç ã o d e Da k a r 100 2 .1 . Re n d a, St a t u s e Tip o l o g ia Co n s t r u t iv a 108 2 .2 . Es p a ç o e Po d e r: Os Ar r e n d a t á r io s e a Co m p e t iç ã o p e l a Te r r a 108 2 .3 . A Din â m ic a So c ia l d e Da k a r 111 2.4. Le b o u s v e r s u s G o v e r n o : A g e r o n t o c r a c i a c o m o f a t o r de e q u ilíb r io d o s c o n f l it o s. 119 3. Da k a r: Cid a d e Is l â m ic a o u Sín t e s e Eu r o- Af r ic a n a? 123 3 .1 . A r q u é t ip o s e S ím b o lo s U r b a n o s 127 3 .2 . Re l a ç õ e s d e Po d e r 128 3 .3 . O s Sím b o l o s d e Pr o s p e r id a d e 130 3 .4 . Da k a r: u m a c id a d e h o r iz o n t a l? 131 3 .5 . Es p a ç o e s e u s ig n if ic a d o e m Da k a r 135 3 .6 . Re l ig io s id a d e v e r s u s Ed if ic a ç ã o 136 3 .7 . A Or g a n iz a ç ã o So c ia l d a s Un id a d e s d e Viz in h a n ç a: Os Vil l a g e s Tr a d ic io n a is d e Da k a r 138 Ca p ít u l o IV 144 Co n s id e r a ç õ e s Fin a is e Re c o m e n d a ç õ e s 144 Gl o s s á r io 15 7 VI

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B i b l i o g r a f i a 162 A n e x o s 169 A n e x o I - A s p é c t o s J u r íd ic o s 170 A n e x o II - Id io s in c r a s ia e T ip o lo g ia C o n s t r u t i v a 175 A n e x o III - Id e n t if ic a ç ã o É t n ic a 191 Lis t a De Fig u r a s F ig u r a 1 4 F ig u r a s 2, 3 e 4 5 F ig u r a 5 6 F ig u r a 6 30 F ig u r a 7 41 F ig u r a 8 52 F ig u r a 9 63 F ig u r a 10 64 F ig u r a s 11, 12 e 1 3 70 F ig u r a s 14, 1 5 e 1 6 71 F ig u r a s 1 7 e 18 91 F ig u r a 1 9 109 F ig u r a s 2 0 e 21 121 F ig u r a 2 2 122 F ig u r a 2 3 140 F ig u r a 2 4 141 F ig u r a 2 5 142 F ig u r a 2 6 143 F ig u r a 2 7 155 F ig u r a 2 8 156 Lis t a d e Ta b e l a s Ta b e l a 1 86 Ta b e l a 2 87

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SINOPSE

A presente Dissertação tem como objetivo principal analisar, criticar, exaustivamente, os processos de Estruturação Espacial Urbana da Região Metropolitana de Dakar “Pós-lndepêdencia”, a partir das suas idiossincrasias e outros fenômenos que deles podem se originar e influir, direta ou indiretamente, no tocante à produção do espaço residencial intra-urbano. Entre estes, sua influência tríplice e de primeira importância: Árabo-lslâmica, Autóctone-Negro Africana e sobretudo Colonial Européia Francesa. Procura-se via, este canal, associar tais processos aos fatores econômicos, sócio-culturais, étnico-religiosos e gerontocráticos, numa análise contemporânea, que avalia o teor e a amplitude dos fenômenos de estratificação sócio-espacial, bem como as questões conjunturais de política e planejamento urbano.

SINOPSE

The principal objective o f this dissertation is to critically and extensively analyse the process o f urban spatial organization o f the Metropolitan Region o f Post-

Independence Dakar.lt begins by describing its historycal and cultural idiosyncracies and other phenomena which directly or indirectly, have an influence on the production o f urban residential areas. Moreover,its three currents o f ethnic influence are o f fundamental importance : Arab-lslamic, indigenous Black-African and above

all European French-Colonia. For this reason, it seeks, to associate ethnic

influencies with economic socio-cultural, ethnic-religious and geronocratic factors in an unique contemporary analisys and to evaluate the tenor and the amplitude o f the phenomena socio-spatial stratification. Finally it adress certan current questions o f urban policy and planning..

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SINOPSE

Le but de cette Dissertation est d ’am mener un apport analytique critique et exhaustif aux discutions relatives à la structuration spaciale urbaine de la Région

Métropolitaine de DAKAR “Post-lndénpendance”, à partir de ses idiossyncrasies sociales et d ’autres phénomènes qui peuvent en découler et en même temps, influer direct et indirectement s u r la production de son espace résidentiel urbain.

En outre, dû à sa triple influence: Arabo-lslamique, Autochtone Négro- Africaine et surtout, Colonial-Européene Française, elle cherche p a r le biais de ce canal, à associer tels processus aux facteurs énconomiques, socio-culturels, éthnico-réligieux et gérontocratiques en une unique analise comtemporaine, avaliant la manière et l ’ampleure des phénomènes de stra tifica tio n s o c io -sp a tia le et sou rtou t, les q u e stio n s de p o litiq u e et de p la in ific a tio n urbaine.

RESUMEM

Esta D issertacíon tiene com o principal objetivo, analizar de m aneira critica y am pla los processos de la estructuracíon espacial urbana de la Región M etropolitana de D akar Pós-lndenpendéncia, a partir de sus idiosincrasias y otros fenóm enos que puedam originarse de ellas e influayan directa e indirectam ente en la producción de su espacio residencial urbano.Por otro parte, en decorrencia de su influencia triple Á rabe-lslâm ica, autoctona N egro-Africana y C olonial-Europeia- Francesa, procura através deste canal, associar tales processos a los factores econôm icos, socio-cuiturales, étnico-religioso y gerontocráticos en um único análisis contem porâneo, evaluando el nivel y la am plitud de los fenôm enos de segregación socio-espacial y las cuestiones de politica e planificación urbana.

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CAPÍTULO I

introdução

D esde sua descoberta, até às vésperas da sua independência, a cidade de Dakar sem pre desem penhou um papel im portante. Com o colônia, inicialmente,

herdou da m etrópole francesa uma estrutura significativa, porém, muito

polarizadora, à im agem dos seus pares africanos, com o Abidjan, Lagos, Casablanca e etc. (fig. 1)

Em decorrência disso, no decurso de sua história, atraiu um contingente populacional expressivo, tanto no âm bito intra-urbano quanto regional, para auxiliar no seu desenvolvim ento sócio-econôm ico, conform e observam os mais diversos estudiosos, como Sar (1977), Seck (1974), Santos (1965), B ugnicourt (1982) e tantos outros analistas, cujos trabalhos serão fundam entais para a leitura e com preensão das suas dificuldades e problem as contem porâneos.

De fato, os analistas afirm am que a com preensão dos processos de estruturação espacial urbana de Dakar, sobretudo os contem porâneos e muitos

outros fenôm enos, resultantes dos efeitos negativos de seu crescim ento

desordenado, talvez não residem apenas na sua leitura espacial e geográfica. Dakar, como todas as cidades do contexto negro-africano, é muito com plexa para restringir seu estudo sócio-espacial, pois sabem os que, ao longo do tem po, sua form ação sócio-histórica lhe trouxe muitas influências: a oriental Á rabo-lslâm ica, a colonial Euro-Francesa e a autóctone, Negro Africana propriam ente. Esta, resultante das suas fricções seculares, enquanto nação que transitou em três impérios: Ghana, no século XI, Mali, século X IV e Songhay, século XV

Dessa longa aproxim ação, suas idiossincrasias se m odificaram de forma

significativa, sofrendo alterações profundas na cultura, na religião, nos

com portam entos e nas relações sócio-espaciais.

Nesta ótica, no entanto, percebe-se que uma avaliação destes fatores poderia auxiliar m elhor e, assim, ajudar a entender e interpretar os principais

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fenôm enos passados e presentes dessa sociedade; porém, surge logo uma indagação: o que seriam essas idiossincrasias e qual seria sua real função e eventual apoio para o presente estudo?

As idiossincrasias são, segundo avaliam os estudiosos do com portam ento hum ano, padrões de com portam entos característicos de um ou vários indivíduos ou de grupos, especialm ente quando refletem um modo de sentir e pensar, suscetível de os distinguir de outros indivíduos ou grupos (Cabral, 1971).

De outra form a, trata-se de uma m aneira de ver, sentir e reagir, sentim entos próprios de cada pessoa ou grupo de pessoas dentro do ecossistem a urbano. No que tange à cidade de D akar e sua sociedade policultural, caracterizada por uma m istura racial, étnica, religiosa e, sobretudo, com portam ental; tais fatores são altam ente relevantes para a com preensão dos seus fenôm enos urbanos e sócio- espaciais.

Com efeito, as influências árabo-islâm icas, a partir dos séculos XII, XVIII e XIX, decorrentes dos processos coloniais do ocidente, trouxeram im portantes contribuições num a civilização, até então dom inada só pela oralidade, mas cujos canais de expressão já eram m uito evoluídos.

No entanto, tidos perante os ocidentais como "profanos" e "contestários", tais valores não revestiam nenhum caráter artístico ou cultural, mas apenas um significado puram ente utilitário ou religioso.

As sucessivas crises urbanas geraram profundas m udanças sócio- com portam entais durante toda a sua fase colonial e histórica, e se tornaram alarm antes para o futuro da cidade, uma vez que suas distorções ocasionaram problem as e repercussões negativas, analisadas pelos estudiosos locais de m acrocefalia, em alusão ao caos prem aturo de uma cidade recém form ada.

O nível de desenvolvim ento da totalidade da aglom eração de Dakar tem ultrapassado o das suas outras regiões, o que causou grandes problem as de ordenam ento ocorridos na sua evolução espacial, em decorrência da forte atração que ela exerce sobre as populações, provenientes das outras regiões do seu com plexo m etropolitano. Esse processo se tornou ainda mais com plexo, sobretudo, devido à exigüidade do seu espaço físico espacial.

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As avaliações históricas atribuem o nascim ento oficial de D akar como cidade, por volta de 1857.

Na época, sua população era estim ada apenas em 1000 habitantes e com posta essencialm ente por trabalhadores cuja atividade se voltava para a prática da pesca e agricultura de subsistência: são os Lebous donos legítim os das terras locais.

Mais tarde, com a posse e a ocupação total do Cap V ert (Região

M etropolitana de Dakar), Pinet Laprade, seu primeiro governador, prom overá

m udanças radicais na organização espacial do seu tecido urbano a partir de 1862, estendendo suas ações além fronteiras, dando início à form ação territorial do S enegal (fig. 2, 3, 4, 5, 6 e 7).

O presente trabalho visa, a partir dos pontos levantados, estudar os processos de form ação, desenvolvim ento e consolidação sócio-espacial de Dakar, com o intuito de contribuir para o conhecim ento das suas mais diversas m anifestações sócio-culturais, étnico-religiosas e com portam entais ao longo dos tem pos, uma vez que é aí que reside a essência da sociedade local, ou seja, a com preensão profunda ou parcial dos fenôm enos urbanos de Dakar residem na apreensão das suas idiossincrasias.

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I

io da Peninsuïa do Cap-Vent na Africa jpor

Bioeiimalicas a am Relação as Grandes

Cidades do Continente

T/V?. /£_'

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1. Dakar: Características espaciais

O estudo aqui proposto, no que se refere à estruturação espacial da cidade de Dakar, dentro do contexto geográfico local, continental e internacional, segue, segundo Le Livre Blanc (1983:3), a priorização de três pontos básicos:

• Posição e localização geográfica;

• Evolução espacial e form ação sócio-histórica na ótica das suas

idiossincrasias;

• Papel e relação com os vizinhos.

Localizada à distância entre o 30° grau de latitude Norte, onde se inicia o deserto, e os países do Benin, a península do Cap - Vert e as ilhas que a cercam, ocupam , ao longo das rotas do A tlântico Central e M eridional, uma situação muito interessante que fazia dela, na época onde as condições técnicas definiam rigorosam ente os itinerários dos navios, uma escala quase obrigatória. Segundo os geógrafos, é igualm ente um dos lugares da costa africana mais próxim o da Am érica Tropical, pois a península do Cap - Vert é a terra mais ocidental da África.

Com o capital criada na escala da ex-AOF, Dakar tem sido o sím bolo de um império, o que ainda se reflete na sua m orfologia. Com a explosão do Império Colonial francês, reduziu-se drasticam ente seu papel em contradição com a organização da cidade, que conserva, apesar de tudo, uma expressividade com seu espaço econôm ico atual.

O estudo quantitativo e a providência, ou ainda a destinação dos produtos e m ercadorias que passam por Dakar, dá uma dim ensão de seu papel de Carrefour (rota) Comercial.

O com ércio internacional m arítim o e aeronáutico, a partir de Dakar atinge um desem penho de m ais de 6 bilhões de toneladas, ou seja, 53% das exportações

É sobretudo com a Europa Ocidental que o tráfego de m ercadorias é o mais im portante: 54% do total de tonelagem ; a Am érica do Sul com 16,5% e a própria

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África com 12%. S endo essas as regiões do Globo com as quais, após a Europa Ocidental, entretém relações com erciais com Dakar. A França com 16% do tráfego.

O rápido crescim ento populacional de Dakar proporcionou variações de índices inicialm ente de 6 a 7% desde sua independência e, em determ inados m om entos, as estatísticas chegam a alcançar patam ares da ordem de 10 a 14%, que não acom panharam a sua estrutura física-espacial.

Por ser considerado, há muito tempo, um laboratório propício para estudos e análises espaciais urbanas, alguns estudiosos das teorias urbanas africanas, entre eles M abogunge (1990), O nokerhoraye (1976) Stren e W hite (1992), Dresch (1992) e Santos (1965), avaliam que enfoques no tocante ao urbanism o e suas variantes referentes a esse contexto, não são de fato igualáveis aos de outras esferas geográficas, sobretudo as ditas ocidentais, i.é., não são Standards (padrões) de igual te o r analítico para nossas cidades, sobretudo de Dakar.

Justificando tais idéias, C oquery-Vidrovitch (1991 )1 observa que a com preensão das características distintivas de cidades africanas com o Dakar reside na investigação da lógica das urbanidades locais, resultantes da união das culturas européia, africana e árabe.

Ora, tal análise sugere que a questão não é mais a de pedir aos africanos que se adaptem às norm as ocidentais, mas, sim, de encorajar o planejam ento urbano contem porâneo a adaptar as suas próprias necessidades, aspirações e condições africanas a um m undo moderno.

Já para M abogunje2, isso apenas traduz um fenôm eno cujas dim ensões (estruturais) são inadequadam ente definidas e com preendidas. A cidade africana, no seu entendim ento, perm anece sendo uma aglom eração hum ana hoje, sem nenhum padrão distinto de identificação, /.e., com o uma entidade socialm ente distinta, em função da ineficiência funcional das suas estatísticas, que para ele são fracas.

Com esse raciocínio, M abogunje (op.cit.) visa m udar as abordagens no tocante à form a de e studar a urbanização na África, planejando m udanças peculiares nas políticas urbanas, ou seja, contribuir com sugestões que visem a

' Apud Stren. E. Richard, African Urban Research Since, the Late 1980: Responses to Poverty and Urban Growth, in Urban Studies, Vol. 29 n°s 5/4, 1992:536.

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transform ações am plas em prol da pesquisa sócio-científica, ressaltando que o processo de transfiguração capitalista nessas cidades africanas não tem sido viável como o esperado, pois, qualquer que seja o padrão inicial de adm inistração colonial, as form ações pré-oapitalis+as têm sido extrem am ente im portantes, não apenas em alguns países, mas as cidades têm sido assoladas no período pós-independência pelos seus efeitos.

“(...) Pela atitude e pelos usos de números de migrantes de baixa renda que têm afluídos às cidades, estas novas urbanidades devem tentar resolver seus problemas de moradia e emprego dentro das cidades e p o r conta própria. P or conseguinte, o desafio é o de m elhor com preender o raciocínio através do novo processo de urbanização que está sendo desencadeado(...)” M abogunje (1990).3

Do novo processo, a análise sugere que seja dada atenção particular ao crescim ento e à elaboração do setor informal de uma parte e, do outro, ao desenvolvim ento de uma burguesia local que cavalga o form al em vez do desenvolvim ento de m ovim entos sócio-urbanos. Desse pensam ento, portanto, podem os inferir que a espoliação urbana vigente nas recém -criadas cidades, como Dakar, resulta de uma hierarquização e posterior estratificação originada de grupos im portantes, com intenções de construir uma classe vertical com vínculos e práticas clientelistas.

Deste modo, as cidades africanas m anifestam estruturas im portantes form ais, com o os com ponentes mais dinâm icos da cidade; essa visão da maioria dos pesquisadores urbanos locais se referem principalm ente aos seus elem entos funcionais e às suas atividades e estruturas econôm icas”4

Desse m esm o modo, Dakar, ao perder seus privilégios m etropolitanos coloniais, viu-se em sua fase contem porânea, na condição de cidade-problem a, uma vez que sua estrutura social, econôm ica, política e cultural, não tinha mais harm onia e equilíbrio com seus processos de evolução, crescim ento, expansão e desenvolvim ento urbano.

Isso, evidentem ente, gerou sensíveis reflexos e conseqüências negativas que percebem os hoje com o pauperism o aí instalado, talvez proporcional aos

3 Mabogunje, 1990. Apud. Stren. op.cit.; 1992: 536.

4 Harvey, 1973; Friedmann and Whitt, 1976; Nam is, 1978; Apud (Kahimbasra in. Urban Study - 1986 - V ol. 23:308.

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seus problem as sócio-espaciais, notadam ente aqueles relativos à questão da habitação e m oradia, às disparidades de toda ordem e à justiça social, todas

geradoras das mais variadas sociopatias urbanas, como desem prego,

delinaüência e violência urbana.

Tais observações sugerem que o que é realm ente determ inante na estrutura da cidade nesses contextos, nada mais são do que regras e princípios atrelados às experiências e às preferências das elites com nítida superposição sobre as variáveis econôm icas.

Para Dudley e M organ (1972:267), por exem plo, D akar é singular entre os assentam entos da África Tropical e, para tanto, m erece atenção particular tornou-se, apesar da sua localização próxim a ao mar, bem dentro dos trópicos, uma cidade européia cuja concepção, ao buscar transportar o m odelo urbanístico da m etrópole, privilegiou um desenho distinto, um sofisticado centro não apenas residencial, com os seus apartam entos altos, mas tam bém abrigando atividades financeiras, econôm icas, de serviços, turism o, lazer, recreação e educacionais, entre outras - dirigidos por europeus, sem par na África Tropical, em decorrência do grande contingente populacional francês e outros europeus que ali se assentaram com a observância de uma política de boa vizinhança contrária a um

apartheid à francesa.

Tal tese será literalm ente refutada por C oquery-Vidrovitch (1992), como constatarem os nas análises posteriores.

Outrossim , a questão do status quo em Dakar contem porânea se

subordina hoje m ais a fatores sociais, em bora estes existam e se m antenham , pois são tradicionais.

Por sua vez, a explosão dem ográfica pós-independência acarretou a

D akar e toda sua região m etropolitana um inchaço de efeitos muito desfavoráveis para uma sociedade em form ação, ao ponto de tal processo ser qualificado de

desenvolvimento monstruoso, em relação ao resto do país, conform e avaliaria m ais tarde L a v ro ff5.

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Portanto, notam os que esse processo, além de com plexo, é tam bém de uma gravidade progressiva, caracterizada por intensos processos m igratórios das populações rurais para o meio urbano.

Tal m ovim ento, sabe-se, é inspirado pelo desejo de encontrar trabalho nas indústrias da capital e aproveitar as oportunidades de vida que a cidade grande oferece. A urbanização cada vez m aior tem conseqüências sociais e políticas im portantes. O fluxo da população engendra, muitas vezes, a expansão da taxa de desem prego, porque o aum ento do número de novos em pregos não é proporcional ao crescim ento da população ativa. A pesar de os recém -chegados serem já integrados na sua fam ília am pliada, a urbanização leva a uma destruição dos quadros tradicionais, a uma transform ação das estruturas sociais e a uma proletarização6.

De fato, desde o estabelecim ento dos prim eiros postos fortificados (1896- 1974), uma rede densa de pequenos centros adm inistrativos e m ercados regionais, cidades pequenas e médias, se im plantam progressivam ente no período entre-guerras, gera um fluxo regular e hierarquizado de bens, recursos, hom ens e idéias, contribuindo no plano regional e local a difundir técnicas e novos conceitos, tais com o a propriedade privada, im obiliária e a econom ia m onetária e de m ercado. Suscitando, assim, desde a origem , o fluxo de uma população flutuante e desestabilizada, foyer de m arginalidade e da econom ia informal.

Na realidade, tudo incitara à mudança, devido, em parte, à arquitetura da cidade, ao seu urbanism o e ao m odo de vida europeu, porque, explícita ou im plicitam ente, seu uso era reservado aos brancos7.

Enquanto criação colonial, cujos prim eiros e únicos ocupantes eram os

Lebous, Dakar não se preocupou com a questão da m oradia para africanos, antes do fim dos anos trinta. Para isso, uma instituição para habitação popular e econôm ica foi criada em 1926, para favorecer um urbanism o de baixo custo em

6 A questão dos “ Status-Quo” no Senegal se subordina mais a fatores sócio-históricos e étnico-religioso, por associar tais elem entos à questões de “nobreza genealógica” i.é., os nobres aristocratas pertencem a determinadas etnias e/ou raças ou a determinadas hierarquias religiosas com o dos marabouths.

7 Coquery-Vicrovitch. op.cit. p. 64 - ao considerar a gravidade da segregação socio-espacial “intra- colonial” retratada numa curta metragem do cineasta senegalês Sem bène Ousmane “Borom Sharet” (O

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benefício dos autóctones na AO F (África Ocidental Francesa) e prestar seu auxílio às sociedades e em presas autorizadas (Decreto de 14.06.1926).

R espondia-se, assim, em parte à reivindicação dos Lebous, antigos

proprietários do solo. Escandalizados pela sua evicção do centro em 1914, e que tinham conseguido naquela data a prom essa de m oradias, a baixo custo e salutares, que poderiam convir aos negros. Mas nada se construiu na cidade dos

Cap-Verdiens, em 1914-1942, e algum as construções para indígenas

(diferenciação pejorativa de ghettos negros, exceto em La M édina, vis-à-vis a m oradia dos brancos) na m esm a época.

A princípio, a preocupação quase exclusiva tinha sido precisam ente repelir esses indígenas, instalando-se verdadeiras cidades: é com essa finalidade que foi im plantada a M édina em Dakar, iniciando-se assim um dos mais dolorosos processos sócio-espaciais na Região M etropolitana de Dakar. O objetivo era lutar contra uma m oradia africana rudim entar e a prom iscuidade

entre hom ens e anim ais8, um plano cultural e um m odo de vida

fundam entalm ente diferentes daquele dos franceses. Nasciam, assim, os planos diretores sucessivos.

A prim eira m edida de envergadura foi tom ada no centro do quadro de uma política de segregação residencial acelerada pela epidem ia da peste de 1914.

Segundo Coquery-Vidrovitch9,

“(...) no dia 7 de fevereiro, o comitê local de higiene, afastado da zona de

residência européia, e em seguida, da destruição imediata das suas habitações impróprias à desinfecção(...)”

Assim que a decisão se efetivou, em julho, essas casas deveriam ser queim adas e os proprietários obrigados a reconstruir conform e o padrão europeu.

Carroceiro), onde denuncia os acontecim entos do “infeliz” La Medina, justamente no “Plateau” de Dakar, bairro nobre, centro de n egócios e do governo colonial onde esse tipo era proibido.

8 N a Medina e nos bairros populares não é raro encontrar ainda hoje a prática da criação dom éstica de cabras ovelhas, galinhas, perus, patos, etc..

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Da m esm a form a, os locatários necessitados deveriam alugar um pedaço de terra no contexto de um village indígena a ser criado até que, em outubro, 2.900 pessoas fossem rem anejadas para o sítio, que serviria ao m esm o tem po de local de q uarentena.10

A dem ais, a questão do status quo no Senegal é am bígua por várias razões. Por um lado, existe uma burguesia local ascendente, com posta em sua maioria de intelectuais, funcionários públicos e executivos, entre outros, todos produto da assim ilação das práticas sócio-com portam entais da colonização. Por outro lado, há a nobreza da aristocracia local, essa sim, autêntica elite, com perpetuação do seu

status, via ascendência sangüínea e, por conseguinte, guardiã dos princípios sócio- culturais, étnico-religiosos e tam bém sócio-com portam entais que ainda hoje são vigentes.

Por via dessas m esm as aristocracias tradicionais, as evidências da exclusão por castas são, de fato, um princípio com um no que tange à filtra g em 11.

Em conseqüência, o enorm e déficit habitacional vigente hoje em Dakar não é muito diferente das dem ais cidades do m undo contem porâneo e afro-islâm icas, como C asablanca, Cairo ou Fês, por ser cruel nos seus princípios de estratificação sócio-espaciais.

A ntes m esm o de sua fase pós-independência, especialistas do ramo já

alertavam para as futuras dificuldades no setor. No âm bito das instâncias públicas governam entais locais, os esforços se m ultiplicaram , mas, m esm o assim, o suprim ento das necessidades habitacionais da RM de D akar não será sanado. Por essas razões é que assistirem os à proliferação Squatters ou Bidonvilles, como

tam bém de Shantytowns ou Slums.

C onform e A lonso (1973:5), em países em via de desenvolvim ento, deveria- se praticar um planejam ento que se inspirasse numa ampla com preensão da evolução dos processos sociais, assim como em soluções im prim idas por “planos- m estres” ou Planos D iretores elaborados em todos os seus detalhes.

9 Ibid. p. 647.

10 Etnias minoritárias de Dakar.

" Entenda-se aqui segregação étnica; porque devido à com plexidade da sua com posição sócio-político e por pertencerem às altas linhagens das cortes pré-islâmicas, o culto natural do “status quo” é privilégio maior só desses autênticos nobres tendo em vista que os “alforridos”, m esm o materialmente mais

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Decerto, Alonso12 defende a tese de que os planejadores desses países deploram, quase sempre, as lacunas de sua documentação e o valor problemático dos elementos de informação de que dispõem. Portanto, o estilo de intervenções estratégicas é igualmente imposto pelas características habituais de sua planificação e de sua burocracia administrativa.13 Logo, percebemos que os planos detalhados de urbanismo a longo prazo não são apropriados a países que sofrem mudanças profundas e sempre inoportunas.

Deste modo, constata-se que uma vasta proporção da população das areas metropolitanas dos países em via de desenvolvimento, como Dakar, é mal abrigada e, em certos casos, se encontra até desprovida de teto. Todas as cidades virtualmente têm, conforme Alonso14, seus bairros de Squatters; 15 é freqüente abordar o exame desse problema procurando avaliar o déficit habitacional, o número de habitações desse padrão inferior, as bancas e outras habitações de padrão inferior destinadas por erradicação, como se constituíssem, para o olhar do habitante, num elemento negativo, e não positivo, mas insuficiente, e como se o vazio é ainda preferível e também miserável.

A existência de bairros Squatters constitui-se, no conjunto, uma prova bem tangível das energias criadoras presentes na população. Essas habitações constituem de fato um capital produzido por métodos de trabalhos intensivos postos em prática pelo segmento mais pobre de uma economia. A propósito, Alonso16 alerta que a expressão habitat marginal é de fato muito empregada nesses últimos anos.

Se formos observar Dakar no que tange à evolução da sua massa de habitações existentes, ela não supriria as necessidades de uma população cujo crescimento é contínuo e acelerado, devido ao crescimento vegetativo e ao fluxo de migrantes. Com o surgimento de novos estilos de vida, ocorrerá freqüentemente

privilegiados, por serem de castas inferiores :êrr. que cortejar os descendentes diretos dos que deram prestígio à nação pelo seu sangue.

12 Op.cit. p.3. 13 Id. 8.5

14 Especificamente trata das lacunas das políticas referentes ao setor habitacional e à locação residencial. Em Dakar e sua RM, suas ações sempre foram pontuais e direcionadas para categorias com maior poder aquisitivo.

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desenvolvim ento de banlieues17 para responder às preferências das classes médias superiores pelos seus propósitos sócio-espaciais e de status, o que liberava uma certa quantidade de m oradias na vizinhança dos bairros urbanos do centro, na sua vez, entregues a uma parte da população de baixa renda.

Mas esse processo pelo qual as habitações da elite passam aos menos favorecidos, rotulado m uitas vezes de "filtragem ", é muito lento para poder satisfazer as necessidades dessas últimas categorias, cujos núm eros aum entam em conseqüência do crescim ento vegetativo e das m igrações que a desem bocam em áreas de habitação m arginais. Esses fatores, por se encontrarem incluídos num com plexo contexto sócio-cultural, étnico-religioso, com portam ental, ocidental e europeu, tam bém são conhecidos som ente na ótica oficial dos estudiosos ocidentais.

Nossa base conceituai parte da premissa de que as cidades afro-islâm icas, negro-africanas de estruturas sócio-culturais e étnico-religiosas com plexas, como

Dakar contem porânea, i.é., pós-independência, não podem ser avaliadas

sum ariam ente e, sim, a partir das variáveis resultantes das suas próprias com plexidades e profundidades.

17 A periferização da população urbana em países de alto ingresso, hoje se tom ou em cidades em

desenvolvim ento com o Dakar, a arma das elite locais no que tange a manutenção do seu “status quo” e da sua eterna fuga e não-mistura com os “Squarters” e sua “plebe-urbana”, ver glossário.

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2. Estruturação Espacial Intra-Urbana: Conceitos e teorias

Ao longo das últimas décadas, as discussões teóricas acerca da estruturação residencial intra-urbana têm se tornado m otivo de preocupações crescentes dos que sobre elas se debruçam para estudar os problem as relativos às questões urbanas. De filó so fo s18 a poetas, passando por tecnocratas e profissionais de diversas outras atividades, desde o advento das revoluções industriais e o surgim ento das sociedades modernas, o espaço se tornou um dos tem as mais presentes nas discussões acadêm icas, resultando num dos únicos e verdadeiros laboratórios de decifram ento dos fenóm enos sociais como o da estruturação urbana

e suas variantes.

C enário de todas as m anifestações e relações sociais de produção, o espaço só com eçaria a ter uma base teórica sólida a partir da sua inserção no

cam po da Sociologia Urbana, passando a se destacar mais com a Escola de

Sociologia de C hicago19, precursores da Teoria de Ecologia Humana, suas contribuições m udaram sensivelm ente os conceitos de leitura, análise, com preensão e interpretação dos fenôm enos urbanos. Assim, o estudo da estrutura urbana se propõe, antes de mais nada, tentar entender a cidade numa perspectiva na qual se procura saber como e por quê , num determ inado m om ento histórico, se distribuem as atividades econôm icas no âm bito interno das cidades, bem com o as variáveis intervenientes nesse processo.20

Pode-se adm itir, nessa questão, que a predom inância associada à im portância das atividades residenciais no espaço urbano torna o estudo da estrutura residencial intra-urbana um foco para o entendim ento dos processos espaciais que ocorrem nas cidades.

18 Ver Choay, F. in “O urbanismo - Utopias e Realidades: Um a A ntologia”. Perspectiva, SãoPaulo, 1979. 19 R efere-se às teorias dos Expoentes da Escola de S ociologia de Chicago, cuja tese defende a afinidade

racial, etc...com o maiores fatores indutores “ ipso-facto” das mutações sócio-espaciais. M aiores detalhes in Park, E.R. “A cidade: Sugestões para Investigação do Comportamento Humano no M eio Urbano” in “O Fenôm eno Urbano: O V elh o” (org.), Zahar, Rio de Janeiro, 1967.

20 Farret, in “A Estruturação do Espaço Residencial em Diferentes Formações Sociais: A Cidade Socialista e a Cidade Islâmica” - Relatório de Pesquisa, CNPq - Brasília, 1990 - (M im eo)

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Com o podem os observar, enquanto estudo, a im portância da estrutura espacial urbana, além de caracterizado pela pluridisciplinaridade21 (antropologia, sociologia, geografia, econom ia, arquitetura, engenharia e ecologia), é tam bém claram ente relacionada a processos de redistribuição da riqueza22.

Pelos seus vínculos com o planejam ento do uso do solo urbano, a análise da estrutura espacial urbana pode levar a um m elhor entendim ento de quais, como e p o r quê certas configurações m elhor propiciam a consecução de objetivos sociais determ inados e, conseqüentem ente, perm item o Estado m elhor exercer seu papel, desde que os processos e padrões de estruturação do espaço urbano sejam fortem ente influenciados por uma variedade de ações do setor público, que tanto podem atuar no sentido das forças do m ercado com o podem, tam bém , opor-se a ela.

Em bora reconhecidam ente aceita com o ciência-analítica, a origem da estrutura espacial urbana ainda é controvertida. E nquanto uns outorgam sua paternidade aos precursores da Escola de Sociologia Urbana de Chicago, outros23, aos m estres planejadores e arquitetos da história.

Vale, todavia, ressaltar que, m esm o não sendo o nosso propósito discutir os aspectos do conhecimento científico da estruturação espacial urbana, é im portante realçar o teor das convergências entre os form uladores de políticas públicas e dos cientistas urbanos24.

Destarte, as m udanças tecnológicas associadas à crescente com plexidade no processo de tom ada de decisão de controle, bem com o a extensão do poder estatal com sua omissão voluntária25 no seu papel de regulador de conflitos sociais, são fatores que im pulsionaram definitivam ente o estudo da estrutura espacial urbana, não apenas com o instrum ento de descrição de arranjos ou de relativa localização dos usos do solo, mas para explicitar e fom entar m udanças na estruturação do espaço urbano.

21 R eferim o-nos às áreas de conhecim ento enquanto suporte didático-interpretativo. 22 Harvey, 1973, apud Farret p.: 12

23 Harris 1961, apud Farret p.:12 op.cit. 24 Ibid. p.: 12.

25 Bechara, E.S., e D iéne , N .O . “Estruturação Espacial com o Instrumento de Distribuição de Renda”. FAU-U nB . Departamento de FAU-Urbanismo - Mestrado em Planejamento FAU-Urbano (m im eo) Artigo apresentado na 47 Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) - São Luiz-M A, Brasil, 09 a 14 de julho in “4 7 a R eunião Anual”, SBPC - Anais - Vo. II, São Luiz - MA, 1995: 32

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Desses ensinam entos, observarem os que o espaço urbano, seja qual for seu contexto, é um produto m aterial em relação a outros26. Por te r form a, função e significado social, sua organização não é aleatória, mas sim, estruturante. Disso resultaria a sintetização de um dos pensam entos mais expressivos sobre o tema:

"...não há uma teoria do espaço que não seja parte integrante de uma teoria social geral, mesmo implícita..." (Castells, 1972:2).

Nesse raciocínio, evidenciam -se im plicações que suscitam , portanto, uma dupla orientação no que tange ao estudo da estrutura urbana - de um lado, a elaboração de instrum entos teóricos suscetíveis de apreender o concreto-real de uma m aneira significativa, e, por outro, a utilização de tais instrum entos numa sucessão descontínua de análises particulares visando dados e fenôm enos históricos27, com o se propõe nosso trabalho.

Assim delineada, a estruturação do espaço residencial no tocante aos problem as espaciais urbanos, na ótica dos seus muitos estudiosos, reflete de um lado as peculiaridades do objeto habitação que nada mais é do que o termômetro sócio-econômico de um país, por ser uma substancial fonte de em pregos, tanto quanto na produção com o na sua com ercialização, mas, tam bém , com o um bem de consum o durável e essencial, além de um indicador de status, com o constatarem os em Dakar.

De outro lado, a associação de sua im portância quantitativa na configuração do espaço urbano e as críticas generalizadas à idéia do espaço construído como

decorrência de ações localizadas na instância do social28 é que despertaram tam bém as atenções para a necessidade do conhecim ento científico do espaço (no caso residencial), não com o mera identificação de padrões form ais, mas, sobretudo, com o um fato tam bém social, qual seja, uma fonte de barganha e conflito entre diferentes grupos de poder29.

26 Ver Castells, M. 1983, p. 146. Onde se discute amplamente o problema 27 Id. op.cit. p:. 147.

28 ld. op.cit. p.: 74

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De fato, apesar das inúm eras tentativas de se com preender a estrutura residencial e a história do seu conhecim ento - por sua vez, com enfoques explicativos diferentes - persistem ainda inúm eras barreiras quanto à aceitação universalizante de seus conceitos, por eles terem origens, cujos focos são controvertidos, com o verificarem os ao longo deste estudo. Isso, aliás, se verifica pela reticência de uns e cautela de outros.Com efeito, a analise de qualquer tipo de organização espacial sem uma incursão prévia nas teorias de base pode inviabilizar sua com preensão30.

Assim , por exem plo, teorias uriiversalizantes com o as de B urgess31, Hoyt32, Harris e U llm an33 devem m erecer mais cautela no que diz respeito à sua interpretação aplicativa para outras realidades sócio-econôm icas, uma vez que seu te o r e contextos capitalistas são diferentes dos nossos, em bora de grande valia analítica.

“As críticas apontaram que, desde os anos 50, constatou-se que era extrem am ente perigoso generalizar o m odelo de Chicago fora do contexto dos Estados Unidos. Era, aliás, o m om ento em que, considerando a vida internacional do país, interessava-se em com preender o que se passava na A m érica Latina, na Ásia, ou na Europa... Se no início o propósito era etnocêntrico, ele progressivam ente se descentralizou. Parece-nos, assim, que só encontram os na Europa a mesma preocupação de um conhecim ento internacional a integrar progressivam ente nos m anuais de form ação em sociologia.” (Remy, 1989:17)

Entretanto, outros estudiosos do assunto, a exem plo dos apologistas do que cham arem os de romantismo nostálgico, liderados por Lynch34, transferiram para os antigos m estres planejadores e arquitetos essa legitim idade, repousando suas análises teóricas num a concepção de ótica (sim plesm ente) estratégico-bélica, ao ponto de afirm ar que

30 Ibid, p.: 147

31 Ver Timms, Duncan, in "El Mosaico Urbano - Hacia una Teoria de la Diferenciacion Residencial”. 32 Id.

33 Ibid.

34 Apud Farret op.cit. p.:74.

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"(...) um substancial corpo de conhecimento cresceu em torno de questões de defesa territorial, comunicações militares, meios de isolamento e modos de dominação simbólica e funcional(...)"

É bem evidente que esses fatores têm relevância m arcante em todas as cidades coloniais, mas o dinam ism o do m undo capitalista deixará suas im pressões digitais no tocante ao conteúdo e form ato dos mesmos, com o verificarem os, de fato, na estrutura urbana de Dakar. Além de recente, essa m esm a estrutura urbana, com o cam po de investigação científica nas mais variadas fontes, é, também, convenham os, produto de vários fenôm enos deste século, notadam ente aqueles relativos às m udanças tecnológicas, à crescente com plexidade dos processos de decisão e controle e, ainda, à am pliação desm esurada do papel do Estado, através do seu aparelho de planejam ento. Esses fatores possibilitam o desenvolvim ento teórico e em pírico do conhecim ento do espaço urbano, legitim ando-o, neste caso, como cam po de investigação científica. Pode-se dividir as teorias de estruturação

residencial intra-urbana em duas grandes vertentes: a ecológica, a

econômico-neoclássica e a economia política - a do equilíbrio e a do conflito.

No paradigma do equilíbrio, vê-se a estruturação do espaço com o resultado da ação das unidades decisórias, pessoas ou firm as, interagindo dentro de um quadro institucional definido pelo funcionam ento de um m ercado im obiliário livre, neutro e perfeito e pela ação eqüidistante do Estado em relação aos agentes envolvidos.

Sua essência reside no equilíbrio, na metodologia individualista e na

harmonia social, buscando solucionar os eventuais conflitos de interesses de seus agentes, via a intervenção governam ental que age, principalm ente, mediante o m ercado imobiliário.

O paradigma do conflito chegou ao auge de sua influência nos anos 60, no que tange à questão da estruturação do espaço urbano dentro da sua globalidade, com o tam bém o residencial em particular. A poiando-se nos m odelos W eberiano e M arxista de Conflito, sua teoria repousa acima da oferta, com enfoque m aior nas

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conflitos sociais, em que seu mérito m aior é o questionam ento da suposta eqüidistância do Estado vis-à-vis os agentes envolvidos no processo.

Há grandes diferenças entre estas duas vertentes m estres da teorias da estruturação espacial. E nquanto o paradigm a do equilíbrio lidera os conceitos de eficiência e de com petência individual, o do conflito se associa a idéia de poder.

Como diz Castells,35

"a insistência dos ecologistas em tratar o conjunto da organização do espaço a partir da interação entre a espécie humana, os instrumentos criados p o r ela e o meio natural, coloca-os numa posição extremamente forte na medida em que, efetivamente, estes elementos são os dados de base do problema e às vezes são apresentáveis diretamente, mesmo do ponto de vista estatístico(...)"

Tanto o paradigm a ecológico, [de essência descritiva e identificado com os m odelos zonal (Burgess, 1974), setorial (Hoyt, 1939) e m ulticêntrico (Harris e Ulman, 1945)], quanto o neoclássico, a estruturação do espaço residencial, como processo interm ediário, visa a analisar a distribuição e a m obilidade espacial dos diversos grupos sociais e, conseqüentem ente, a questão central dos processos form ais e inform ais de alocação de m oradia aos diversos estratos sociais dentro da cidade.

A ótica ecológica aborda a estruturação do espaço residencial, m ediante a análise da competição, dominação e invasão. D esencadeia-se um círculo vicioso, no qual grupos concorrentes se sucedem na apropriação do espaço urbano. Na forma de periferização de fam ílias de renda alta (nos USA) e de filtragem das moradias deixadas por elas, desencadeia-se a estratificação sócio-espacial.

Desse modo, im pulsionados pelo trinôm io invasão, sucessão e filtragem,

esses estratos de alto ingresso, acabam atraindo outros estratos sociais. Nc entanto, constatarem os que nem sem pre a teoria de filtragem se revela coerente, na m edida em que as políticas públicas de habitat em vários países não são baseadas na teoria de periferização por filtragem , mas por posições políticas sólidas.

35 Id. op.cit. p.: 153.

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No que diz respeito tanto aos casos latino-am ericano e africano, as evidências são conflitantes36. Dentro da vertente modelo de equilíbrio neoclássico, pode-se fazer certas distinções, caracterizadas pela identificação m inuciosa dos processos determ inantes da estruturação do espaço urbano, tendo como foco específico o com portam ento dos indivíduos, firm as e instituições públicas; enquanto o ecológico se caracteriza, prim eiram ente, por sua natureza descritiva.

No entanto, é bom ressaltar que a orientação para a dem anda é não só a mais significativa, com o a mais discutível desses modelos.

Em certos casos, nota-se que o com portam ento dos indivíduos pelo paradigm a neoclássico é posto num plano secundário. Portanto, por repousar sobre os conceitos de racionalidade econôm ica, percebem os que tal m odelo ignora os aspectos do processo locacional que, conform e os analistas ecologistas, não são orientados pelo m ercado. A solução para contornar esse dilem a seria o desenvolvim ento de m odelos com portam entais não-econôm icos, a lim itação do papel do indivíduo com o gerador de dem anda e, conseqüentem ente, como força propulsora das decisões locacionais37.

Assim , enquanto cam po analítico, o paradigm a do equilíbrio expõe, por um lado, as deficiências conceituais dos m odelos ecológicos e neoclássicos e, de fato, a conseqüente im perícia dos m esm os na explicitação correta do processo de estruturação do espaço urbano, em geral, e do residencial, em particular. O bservam os assim que, enquanto o rico universo descritivo dos prim eiros se faz ofuscar pela incapacidade de identificação dos reais processos que estão por trás das aparências form ais, os últimos têm o seu poder explicativo altam ente com prom etido pelo rigor - para não dizer irrealism o - de suas prem issas básicas, resultantes, por sua vez, dos postulados da econom ia neoclássica38.

A localização é questão de competência para os ecologistas e de otimização econômica na concepção dos neoclássicos.

Nosso propósito não é fazer longas discussões conceituais sobre esses m odelos. Cabe m encionar aqui apenas o essencial para o entendim ento do assunto.

36 Trata-se da questão da localização do migrante dentro da cidade, visto por muitos autores com o inicialm ente favorável no centro por ser uma área de recepção natural, de baixo custo e de fácil acessibilidade.

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Portanto, procurarem os retom ar mais adiante, deixando, contudo, apenas um bref aperçu sobre o paradigm a de conflito. Como se sabe, é do boom econôm ico pós- guerra, do qual resultaram grandes conflitos sociais até então latentes, fruto de sérios problem as fundiários e habitacionais da Europa, que só se iniciou e se propagou o interesse para as questões relativas aos conflitos sociais, modelados, sobretudo, no W eberianism o e no M arxism o39.

No paradigm a do conflito40, ao invés de se sujeitar ao dom ínio de consum idores individuais, o m ercado im obiliário destinará essa função a grupos e classes, tendo em vista seus interesses. Com isso, o Estado, supostam ente eqüidistante, por ser apenas considerado juiz, e, portanto, neutro, passaria a ser um agente ativo. Com tal perspectiva, o espaço não teria mais um caráter passivo diante dos processos sociais onde sua apropriação se subordina aos conflitos e barreiras que caracterizam a alocação do produto social.

Portanto, do paradigm a de conflito em ergiram duas vertentes teóricas: a prim eira é a institucionalista, com ênfase no papel das instituições sociais, pluralista da sociedade, das instituições de concepção sistêm ica definida, tendo como m ediador de conflitos o próprio Estado.

De inspiração marxista41, a segunda vertente focaliza o espaço urbano,

relacionando-o com as condições m ateriais de produção e de existência de cada sociedade, como frisam os linhas atrás. Porém, m esm o por am bos serem

não-antagônicos enquanto enfoques, refutam categoricam ente o enfoque

neoclássico por atrelá-lo às lim itações m icroeconôm icas e às noções de equilíbrio. No entanto, por serem de natureza m acroeconôm ica, am bos na sua ótica vêem no desequilíbrio um fato r normal, rejeitando, contudo, a idéia de um ótim o42a social ou

espacial. Suas divergências, como era de se esperar, virão do cam po conceituai da origem do conflito, dos grupos e instituições sociais e no papel do Estado.

38 Ibid. 39 Id.: 81.

40 Por terem sua inspiração calcada nos conceitos marxista e weberiano de conflitos, suas teses centram-se no repúdio à vários aspectos dos paradigmas adversos, mas admitem nas mais recentes vertentes à maioria das suas questões.

41 Ibid.p.:81.

42a Trata-se aqui da teoria do Ótimo de Pareto que enquanto teoria neoclássica de locaização através do qual, nenhum indivíduo pode m over-se sem que as vantagens locacionais ganhas por tal m obilidade se traduzam em perdas para um outro indivíduo.Para maiores detalhes ver Farret, R. op.cit. 1986.

(35)

Há de se reconhecer, contudo, a grande contribuição do enfoque marxista que reside mais no tipo de questões colocadas para análise, nos conceitos e na m etodologia que na form ulação precisa de um m odelo explícito de estruturação do espaço urbano. Não pode, portanto, ser aceita acriticam ente.

(36)

3. Objetivos, Métodos e Estrutura da Dissertação

3.1. Objetivos gerais:

Essa dissertação visa analisar a estrutura espacial urbana de Dakar contem porânea, baseando-se nos efeitos que suas idiossincrasias sócio-culturais, étnico-religiosas e gerontocráticas exercem nela.

3.2. Metodologia:

A pesquisa utiliza m étodos em píricos, históricos orientados pelas teorias de estruturação residencial intra-urbana, particularm ente o paradigm a de conflito.

Sua m ontagem foi orientada pelas teorias desta área, privilegiando uma releitura dos clássicos das teorias urbanas contem porâneas, quer ocidentais, quer africanas, a exem plo de George (1980), Sar (1963), Seck (1977), Mabogunge (1990), C oquery-V idrovitch (1991) e Farret (1986).

No âm bito do estudo em pírico, baseou-se em análises e interpretações de dados gráficos (m apas, plantas, fotos etc.) orientadas pelas discussões teóricas levantadas e, assim, proceder a inferições a partir de uma leitura de conjunto baseada numa rigorosa seleção, m ontagem , análise e interpretação dos dados obtidos.

Q uanto à aquisição e origens dos mesm os, nossas coletas se centraram inicialm ente na Biblioteca Central da UnB, no CO M U T e IC O NDA/BC-UnB, CPD- U nB /Internet em nível local, onde encontram os farta literatura especializada, seja em livros ou revistas, do lado externo (por via postal), um extenso m aterial atualizado conseguido jun to a instituições de pesquisas urbanas do Senegal e da França, a saber, as Bibliotecas (Central) da Universidade de Dakar, do M inistério de Urbanism o, Habitat e E quipam entos do Senegal, do Instituto Fundam ental da África Negra (IFAN), da Im prensa Nacional do Senegal, da Bibiioteca Cartográfica da Sorbonne e do Instituto de Economia, Estatística e Pesquisas Aplicadas da U niversidade de Dakar.

(37)

Portanto, com base na fusão ordenada dos elem entos teóricos e a interpretação m orfológica enquanto suporte, pôde-se estabelecer relações seguras entre fenôm enos de ordem m orfológicas e aqueles de ordem social capazes de gerar esse produto.

3.3. Estrutura da Dissertação:

• O presente trabalho é estruturado em cinco capítulos, com o segue:

• No capítulo I, procura-se definir as linhas gerais do estudo através de uma breve descrição de Dakar a título introdutório, apontando seus problem as e a evolução destes ao longo do tem po, para, num segundo momento, proceder a uma releitura dos conceitos de estruturação espacial urbana para aplicá-los ao nosso marco teórico, aos dados orientados.

• No capítulo II, as discussões centram -se essencialm ente sobre Dakar no seu período contem porâneo. É nesse item, portanto, que se discutem quase todos os

problem as que vão subsidiar o capítulo precedente e, assim, melhorar,

gradativam ente, a com preensão dos fenôm enos urbanos aqui analisados.

• No capítulo III, tratam os da essência da Dissertação, onde apontam os idiossincrasias religiosas, étnicas e gerontocráticas, considerados fatores indutores dos processos de estruturação espacial urbana de Dakar, para desvendar os m istérios e segredos do urbanism o local, durante sua fase pós-colonial.

• No capítulo IV, procedem os às avaliações finais dos resultados dos sucessivos planos desenvolvim entistas do espaço local. Procura-se então, apontar seus erros e

sucessos e, som ente a partir daí, proceder a inferições e posteriores

recom endações resultantes do produto de nossas análises, buscando sem pre direcionar nossas sugestões para subsidiar analistas, acadêm icos, instituições de pesquisas urbanas e/ou leigos necessitando de inform ações cientificas sobre Dakar no cam po com plexo da análise espacial urbana. Pois, o enfoque não é universalizante, reavaliando sua aplicabilidade analítica com a realidade de Dakar, sobretudo de contexto negro-africano, islâm ico e contem porâneo, de m odo geral. • No capítulo V, finalm ente, procede-se à organização bibliográfica pertinente.

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3.4. Hipótese de Trabalho

Afirm a-se que no contexto negro-africano e ainda mais de influência tríplice como Dakar, as idiossincrasias sócio-culturais, étnicas ou religiosas, a fam ília e o poderio econôm ico e político gerontocrático autóctone Lébou, são fatores preponderantes e indutores nos processos de estruturação do seu espaço, apesar das suas várias superposições culturais seculares.

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Capítulo II

1. Evolução Espacial Urbana de Dakar Pós-lndependência:

Breves Considerações Geográficas e Históricas (Contexto Nacional)

1.1. Panorama da Região Metropolitana de Dakar

A aglom eração de D akar agrupa 20% da população do Senegal, quase duas vezes mais que o conjunto das suas capitais regionais; a segunda cidade Thiès, constando apenas com 130.000 habitantes.

Nenhum a outra dessas cidades esta a altura de am eaçá-la, nem no nível populacional, nem pelos serviços públicos, equipam entos e em prego.

A história de D akar é am plam ente aquela de posse progressiva das atividades distribuídas antes, em diversos pontos do território. Com eçou a se apossar no princípio do século, do essencial das funções portuárias de Rufisque e de S aint-Louis (hoje am bas cidades decadentes) depois, por volta de 1930, das de Kaolack. T ransform ada em 1904 sede do Governo Geral e, em 1933, a cabeça de linha - férrea - de m ais de 2000 Km, acabou em 1958, despojando Saint-Louis de sua função de Capital Federal.

Em 1957, a Região M etropolitana de D akar (Cap. Vert), concentrava 83% dos estabelecim entos industriais do setor m oderno (fig. 6). Em 1981, de 270 em presas industriais, funcionando no país, 242 eram instaladas na região de Dakar, ou seja, 90% do aparelho produtivo nacional. Uma produção análoga a dos em pregados deste setor trabalha na região, exceto as redes ferroviárias baseadas em Thies, e algum as locadas nas outras regiões, como Saint Louis, todas as sedes das sociedades e estabelecim entos públicos se encontram em Dakar. Com o Capital do Senegal, abriçja a sede do Governo Central e os pouco mais de 10.000 funcionários a ela ligados.42 Eleita tanto como Centro de decisões públicas, quanto privadas, a cidade conhece uma concentração de estabelecim entos com erciais e financeiros tão forte, senão talvez mais, que no dom ínio industrial.

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Fig. i9 parcial  da  estrutura  desempenha  um

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