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Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

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Academic year: 2019

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Universidade de Brasília Instituto de Letras

Departamento de Teoria Literária e Literaturas Doutorado em Literatura e Outras Artes

Sena Aparecida de Siqueira

Brasília 2013

Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre

Moscovici e Bakhtin:

um estudo com professores alfabetizadores no

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Sena Aparecida de Siqueira1

Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

Tese apresentada ao Programa de Pós -graduação em Lit eratura do Departamento de Teoria Literária e Lit eraturas, do Inst ituto de Le tras da Universidade de Brasília-UnB, co mo requisito parcial para a obtenção do título de Doutor a em Literatura e Outras Artes.

Área de concentração: Teoria da Literatura

Orientador: Professor Dr. Robson Coelho Tinoco

Brasília 2013

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SIQUEIRA, Sena.

Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal/Sena Siqueira. –Brasília, 2013.

Tese (doutorado em Literatura e outras artes).

-- Universidade de Brasília. Departamento de Teoria Literária e Literaturas, Instituto de Letras, 2013, p. 215. Orientador: Professor Doutor Robson Coelho Tinoco

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SENA APARECIDA DE SIQUEIRA

Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Literatura do Departamento de Teoria Literária e Literaturas, do Instituto de Letras da Universidade de Brasília-UnB, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Literatura e Outras Artes.

Área de concentração: Teoria da Literatura

BANCA EXAMINADORA

Professor Doutor Robson Coelho Tinoco – Orientador (TEL/IL-UnB) Professor Doutor Alexandre Simões Pilati (TEL/IL-UnB) Professora Doutora Neide Luzia de Rezende (FE/USP-SP) Professora Doutora Maria Luiza Monteiro Sales Coroa (LIP/IL-UnB)

Professor Doutor Josué de Sousa Mendes (IFB) Suplente:

Professora Doutora Sylvia Helena Cyntrão (TEL/IL-UnB)

Data da aprovação: 02 de agosto de 2013

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Dedicatória

Para minhas filhas: Tereza Carolina Siqueira do Prado e Luiza Naiara Siqueira do Prado,

o meu sol. E para meus pais (in memoriam).

2

2 Imagem disponível em www.insite.com.br/art/pessoa/ficcoes/acampos/486.php. Acesso em 15 de dezembro de 2012.

Segue o teu destino, Rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é a sombra De árvores alheias. A realidade

Sempre é mais ou menos Do que nós queremos. Só nós somos sempre Iguais a nós-próprios. Suave é viver só.

Grande e nobre é sempre Viver simplesmente. Deixa a dor nas aras Como ex-voto aos deuses. Vê de longe a vida. Nunca a interrogues. Ela nada pode Dizer-te. A resposta Está além dos deuses. Mas serenamente Imita o Olimpo No teu coração. Os deuses são deuses Porque não se pensam.

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor Robson Coelho Tinoco, meu orientador, um especial agradecimento, pela confiança, pelas orientações e por acreditar na viabilidade desta pesquisa.

À Universidade de Brasília-UnB e aos professores que fizeram parte desta etapa de minha trajetória acadêmica: Professora Drª. Elga Laborde, Professora Drª. Rita de Cassi, Professor Dr. João Vianney Cavalcante Nuto, Professor Dr. Hermenegildo Bastos, Professora Drª. Germana Henriques, Professora Drª Sara Almarza.

Ao professor Dr. Alexandre Simões Pilati e ao professor Dr. Sidney Barbosa, pelas valiosas orientações por ocasião da banca de qualificação.

À Professora Drª. Elga Ivone Pérez Laborde Leite, ao Professor Dr. José Luiz Martinez Amaro e ao Professor Dr. Paulo César Thomaz, assim como aos demais membros do grupo de pesquisa Estudos de Literatura Latino-Americana Contemporânea, por terem me acolhido tão generosamente como integrante do grupo.

À Professora Drª Adriana Levino, amiga muito querida, pela revisão do texto.

Ao amigo Roberto Shohiti Senda, pela valiosa colaboração na transcrição dos dados.

A Sinara Bertholdo Andrade, mestre em Linguística, pela revisão do resumo em espanhol.

Ao amigo Carlos Magno de Melo, escritor, pela leitura do original deste texto e pelas importantes observações.

Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica,

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Nenhum enunciado pode ser o primeiro ou o último. Mikhail Bakhtin

3

Para ser grande, sê inteiro: nada Teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és No mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda Brilha, porque alta vive4. Ricardo Reis, 14.02.1933

3 Imagem disponível em http://diariodelgallo.files.wordpress.com/2010/03/literatura.jpg. Acesso em 12 de outubro 2012.

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Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

RESUMO

Este estudo investigou as representações sociais da literatura entre professores atuantes no Ciclo Básico de Alfabetização e letramentos (1º ao 5º ano) do Ensino Fundamental em escolas públicas no Distrito Federal. Os pressupostos teóricos que fundamentaram a pesquisa, tanto no campo da Literatura quanto das Representações Sociais, evidenciaram confluências entre as ideias de Bakhtin e Moscovici. Desta forma, a pesquisa, além dessas confluências, mostrou a concepção que os professores têm sobre literatura e, consequentemente, a leitura de textos literários. A literatura, aqui, é vista como um produto de criação poética, ficcional ou dramática, como obra da imaginação criadora em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, considerando o texto, como gênero literário, desde as manifestações mais populares até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita. Literatura como fabulação e também como um bem incompressível, um bem que não pode ser negado a ninguém. Compreender as representações sociais da literatura entre aqueles que são responsáveis pela alfabetização e o início do letramento não só em Língua Portuguesa, mas também nos diversos campos do conhecimento, significou compreender o pensamento, as ideias daqueles que são os formadores das primeiras impressões da criança sobre a leitura, a escola e sua relação com a arte literária, sua importância, sua abrangência e sua função social. A metodologia utilizada na investigação é mista, visto que nela se entrecruzaram pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. A pesquisa bibliográfica se sustentou teoricamente no trabalho de vários autores, mas, entre eles se destacaram dois, o sustentáculo de todo o trabalho: Mikhail Bakhitin, com sua Teoria do Conteúdo, do Material e da Forma na Criação Literária, questões relacionadas à literatura, ao estilo, à estética, o discurso, o dialogismo etc. e Serge Moscovici, com sua Teoria das Representações Sociais. Michel Pêcheux, com a Teoria da Análise do Discurso (AD), serviu de base apenas para a leitura e o exame da fala dos professores entrevistados. A pesquisa de campo, que possibilitou as conclusões sobre as representações sociais dos professores sobre literatura, foi realizada por amostragem e abrangeu 334 professores, distribuídos por todas as Coordenadorias Regionais de Ensino do Distrito Federal. Os dados foram coletados por meio de aplicação de questionários e entrevista semiestruturada. Sob a óptica da Teoria das Representações Sociais, com a orientação do pensamento bakhitiniano e com o auxílio da AD, o discurso dos professores foi estudado para que se compreendesse o sujeito discursivo - o sujeito inserido na conjuntura social - e as suas representações sociais sobre a literatura, suas ações no processo de assimilação das teorias de ensino contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os PCN, e na utilização da Literatura como um produto cultural e como entidade ôntica e ontológica.

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Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

ABSTRACT

This study investigated the social representations of literature of teachers who work in Literacy Basic Cycle (1st to 5th grade) of public elementary schools in the Federal District. The theoretical assumptions underlying this research, both in the field of Literature as Social Representations, showed convergences between the ideas of Bakhtin and Moscovici. Thus,

the research, beyond these confluences, showed teachers’ notions about literature and, consequently, the reading of literary texts. Literature here is seen as a product of poetic creation, fictional or dramatic, as the work of creative imagination at all levels of society, in all types of culture, considering the text as a literary genre, since the more popular expressions to the most complex and difficult forms of written production. The literature is regarded as fable and it is an incompressible good, a good that cannot be denied to anyone. To understand the social representations of literature between those who are responsible for literacy and early literacy not only in Portuguese, but also in the various fields of knowledge, means understanding the ideas of those who are the makers of the first impressions of the child about reading, about the school and its relationship with the literary art, its importance, its scope and its social function. The methodology used in the research is mixed, as it tangles literature and field research. The literature search was theoretically based on the work of several authors, but two of them were the mainstay of the work: Mikhail Bakhitin with his Discourse Theory, dialogism, etc; Serge Moscovici, with his Social Representations Theory. Michel Pêcheux, with Discourse Analysis Theory (AD), only was the basis for reading and examination of the speech of the teachers interviewed. The field research, which allowed conclusions about the social representations of teachers on literature, was conducted by sampling and included 334 teachers distributed over all Regional Education Coordination of the Federal District. Data were collected through questionnaires and semi-structured interviews. From the perspective of social representations theory, with the guidance of bakhitinian thought and with the help of

AD theory, the teacher’s speech is studied in order to understand the discursive subject - the subject into social circumstances - and their social representations of literature, their actions in the process of assimilation of teaching theories, contained in the Parâmetros Curriculares Nacionais, the PCN, and the use of literature as a cultural product and as an entity ontic and ontological.

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Representações sociais da literatura e a confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin: um estudo com professores alfabetizadores no Distrito Federal

RESUMEN

Este estudio investigó las representaciones sociales de la literatura de los docentes que trabajan en alfabetización del Ciclo Básico (1º a 5 º grado) de las escuelas públicas primarias en el Distrito Federal. Los supuestos teóricos que subyacen a esta investigación, tanto en el campo de la literatura como de las Representaciones Sociales, mostraron convergencias entre las ideas de Bakhtin y Moscovici. Por lo tanto, la investigación, más allá de estas confluencias, mostró las nociones de los profesores sobre la literatura y en consecuencia la lectura de textos literarios. Literatura aquí se ve como un producto de la creación poética, de ficción o dramáticos, quizás el trabajo de la imaginación creadora en todos los niveles de la sociedad, en todos los tipos de cultivo, teniendo en cuenta el texto como un género literario, ya que las expresiones más populares a las más complejas y de formas difíciles de la producción escrita. La literatura es considerada como fábula y como un incompresible bien, un bien que no se puede negar a nadie. Para comprender las representaciones sociales de la literatura entre los que son responsables de la alfabetización y la alfabetización temprana no sólo en portugués, sino también en los diversos campos del conocimiento, significa comprender las ideas de quienes son los creadores de las primeras impresiones de los niños sobre la lectura, acerca de la escuela y su relación con el arte literario, su importancia, su alcance y su función social. La metodología utilizada en la investigación es mixto, ya que el estudio bibliográfico se mezcla con la investigación de campo. La búsqueda bibliográfica se basa teóricamente en el trabajo de varios autores, pero hay, entre ellos, dos que son el pilar de toda la obra. Ellos son Mikhail Bakhitin, con su teoría del discurso, dialogismo etc. y Serge Moscovici, con su Teoría de las Representaciones Sociales. Michel Pêcheux, con la Teoría del Análisis del Discurso (AD), solamente fue la base para la lectura y estudio de la expresión de los docentes entrevistados. La investigación de campo, lo que permitió conclusiones acerca de las representaciones sociales de los profesores de literatura, se llevó a cabo mediante un muestreo e incluyó 334 profesores distribuidos en toda la Coordinación Regional de Educación del Distrito Federal. Los datos fueron recolectados a través de cuestionarios y entrevistas semi-estructuradas. Desde la perspectiva de la teoría de las representaciones sociales, con la orientación del pensamiento de Bakhtin y con la ayuda de la teoría de AD, el discurso de los maestros se estudia con el fin de entender el tema discursivo - el tema en las circunstancias sociales - y sus representaciones sociales de la literatura, de sus acciones en el proceso de asimilación de las teorías de la enseñanza, que figuran en los Parámetros Curriculares Nacionais, el PCN, y el uso de la literatura como un producto cultural y como una entidad óntica y ontológica.

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Lista de Imagens

Título/descrição Localização

Imagem 1 - Literatura Epígrafe

Imagem 2 - Caricatura de Fernando Pessoa Dedicatória

Imagem 3 – Computador com livros Introdução p.14

Imagem 4 – Definindo Representações Sociais Cap. 1 – p. 33

Imagem 5 – Ler é essencial Cap. 2 – p. 50

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Lista de Figuras e Tabelas

Figuras

Figura 01 – Gráfico demonstrativo da formação dos professores 81

Figura 02 - Gráfico demonstrativo da leitura dos PCN pelos professores 104

Tabelas

Tabela 01– Quadro demonstrativo sobre o ensino de literatura nos cursos superiores

a que frequentaram os professores pesquisados. 88

Tabela 02 - Quadro demonstrativo sobre o objetivo do uso de texto literário nos cursos superiores frequentados pelos professores pesquisados. 89

Tabela 03 - Quadro demonstrativo do nº de livros lidos, em média, pelos professores,

por ano. 99

Tabela 04 - Quadro demonstrativo de títulos declarados como lidos pelos professores

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Abreviaturas e siglas

AD – Análise do Discurso

BIA – Bloco Inicial de Alfabetização

CBA – Ciclo Básico de Alfabetização

CEB - Conselho de Educação Básica

EAPE – Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IBOPE – Instituto de Opinião Pública e Estatística

IPL - Instituto Pró-Livro

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei nº 9394/96

MEC – Ministério da Educação

OSCIP - Organização Social Civil de Interesse Público

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

TEL – Departamento de Teoria Literária e Literaturas

P1, P2 [...] P22 – Siglas utilizadas na transcrição das falas dos professores

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SUMÁRIO

Introdução 14

i Motivação e alguns esclarecimentos 14

ii O jovem universitário e sua competência leitora de texto literário 17

iii A pesquisa 21

iv A metodologia 23

v Como ler e analisar a fala dos professores 28

Capítulo 1 Pressupostos teóricos: a Teoria das Representações Sociais e a confluência entre as ideias de Moscovici e Bakhtin 33

1.1 A gênese e a evolução da Teoria das Representações Sociais 34

1.1.2 A Teoria das Representações Sociais e seu campo de atuação 39

1.2 Confluências entre as ideias de Bakhtin e Moscovici 41

1.2.1 O discurso dialógico e a Teoria das Representações Sociais 43

1.2.2 Paralelismos entre Bakhtin e Moscovici 48

Capítulo 2 Literatura e leitura: um abraço de vida e luz 40

2.1 Literatura: alguns conceitos e reflexões 50

2.1.1 Literatura: combustível da emoção 60

2.2 O texto, a leitura e a recepção do texto literário 63

2.2.1 O texto e a leitura: o leitor determina a estética 63

2.2.2 A obra, o texto e o leitor no mundo 71

2.3 A leitura e a escola como espaço privilegiado da recepção do texto literário 73

Capítulo 3 O professor: sua formação, sua qualificação e sua leitura 77

3.1 As leis e a formação dos professores: o que há por trás dos números 78

3.2 A qualificação e o tipo de leitura dos professores do CBA 87

3.3 Os professores e suas leituras 93

Capítulo 4 Os PCN, os professores e o texto literário 101

4.1 Os PCN e os professores 101

4.2 A literatura sob o ponto de vista dos professores 110

Capítulo 5 Estética e estilo: o conteúdo é o problema 143

5.1 A estética e a educação do gosto 145

5.2 O estilo e a educação do gosto 159

Capítulo 6 Ler é imprescindível: ler o quê? Ler como? 171

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6.1.2 A leitura e seus efeitos: o quê e como ler 178

6.2 O contato com a palavra do outro e o prazer de ler 184

6.2.1 Leitura como ato cultural 184

6.3 O prazer de ouvir histórias e de ler textos 188

7. Conclusão: Cego guia cego com boas intenções 192

8. Referências bibliográficas e da Internet 202

8.1 Referências bibliográficas 202

8.2 Referências da Internet 207

Anexos Anexo I- Questionário 209

Anexo II - Entrevista semiestruturada 211

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INTRODUÇÃO

Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história.

(Bill Gates)5

6

i Motivação e alguns esclarecimentos

Bakhtin reúne, em suas reflexões e teorizações, a língua, a literatura e o social. A língua é tratada por esse pensador como material, como matéria-prima da obra de arte literária e, também, do processo de comunicação humana, que dá acesso à palavra do outro. A ética está sempre presente, simultaneamente, seja para apontar a responsividade e a responsabilidade do ato, seja para mostrar o que a distingue da concepção da estética, uma vez que ele, em diversos pontos de sua obra, deixa claro que a literatura, como obra de arte, não

5 Frases sobre importância da leitura. Disponível em:

http://pensador.uol.com.br/frases_sobre_a_importancia_da_leitura/. Acesso em junho 2011. 6Imagem disponível em:

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pode nem deve ser confundida com toda e qualquer obra cujo material para sua realização e concretização seja a palavra.

A abertura deste trabalho com Bakhtin deve-se a vários fatores. Em primeiro lugar, o fato de que uma parte desta pesquisa (a bibliográfica) se ocupa das confluências e dos paralelismos existentes entre as ideias e a biografia deste filósofo da linguagem e estudioso da literatura, e as de Serge Moscovici, o criador da Teoria das Representações Sociais. Em segundo, porque há neste trabalho uma junção que, a priori, pode parecer completamente imprópria, principalmente ao leitor mais preconceituoso e que não admita a relação entre áreas distintas, mas que, no âmbito social e cultural, são totalmente interligadas e interdependetes: a literatura e a educação em seus aspectos social e cultural. Em terceiro, porque na outra parte da pesquisa (a de campo), feita com professores, com o intento de compreender suas representações sociais da literatura, esta noção de Bakhtin sobre texto como obra arte literária e como obra não literária será muito útil na leitura e interpretação da fala dos professores.

Há que esclarecer mais alguns pontos: o termo “alfabetizadores”, constante no título desta tese e utilizado no corpo do trabalho, ultrapassa o sentido da função de

“alfabetizar” como sinônimo puro e simples de ensinar a ler e escrever. Consideramos como

“alfabetizadores” não somente os professores que participam do processo de ensino da leitura e da escrita, quando compreendido apenas como estratégia que conduz o aluno ao domínio do sistema alfabético e ortográfico. Nesta pesquisa, são considerados como “alfabetizadores” os

profissionais que atuam no BIA (Bloco Inicial de Alfabetização, que corresponde aos três primeiros anos de escolaridade) e também aqueles que dão continuidade ao processo de alfabetização associado ao de letramento até o quinto ano de escolaridade. As Diretrizes Pedagógicas do Bloco Inicial de Alfabetização7 denomina o profissional que alfabetiza de

“professor-letrador”, tomando o “letramento” como processo que está vinculado ao da

alfabetização.

Outro ponto a ser esclarecido diz respeito à escolha do tema e o porquê da proposta de realizá-lo em um departamento que trata exclusivamente de estudos literários. Primeiramente, é preciso lançar luz sobre os motivos por que um estudo sobre as Representações Sociais da Literatura, feito com professores dos primeiros anos de escolarização, isto é, da fase inicial do Ensino Fundamental, e cujo respaldo teórico é a Teoria das Representações Sociais, é feito no Departamento de Teoria Literária e Literaturas – TEL –

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e não na Faculdade de Educação ou mesmo nos departamentos de Psicologia Social ou de Sociologia.

A principal resposta (e é a minha resposta) é que fora do Departamento de Teoria Literária e Literaturas, o termo “literatura” não passa de um lexema e seria tratado como mais uma palavra no universo linguístico. E, em um estudo que se ocupa da importância da leitura de textos literários para a formação do sujeito, a literatura precisa ser vista e compreendida como um elemento de fundamental importância no processo de alfabetização e, portanto, entendida como um enunciado. Nesse departamento, o termo literatura é um enunciado, conforme a concepção de Foucault (1987, p.30),

[...] um acontecimento que nem a língua nem o sentido podem esgotar inteiramente. Trata-se de um acontecimento estranho, por certo: inicialmente porque está ligado, de um lado, a um gesto de escrita ou à articulação de uma palavra, mas, por outro lado, abre para si mesmo uma existência remanescente no campo de uma memória, ou na materialidade dos manuscritos, dos livros e de qualquer forma de registro; em seguida, porque é único e como todo acontecimento, mas está aberto à repetição, à transformação, à reativação; finalmente, porque está ligado não apenas a situações que o provocam, e a consequências por ele ocasionadas, mas, ao mesmo tempo, e segundo uma modalidade inteiramente diferente, a enunciados que o precedem e o seguem.

Com efeito, nesse departamento, onde os pesquisadores estão em constante aprofundamento sobre teoria literária e literaturas, esse termo é um enunciado e também faz

parte de uma “formação discursiva”8, porque é aqui que se pensam, discutem e formulam teorias não somente sobre literatura, mas também sobre sua recepção. O locus é este porque, segundo Candido (2004, p.178), a literatura – tanto na forma quanto no conteúdo - é capaz de

“humanizar devido à coerência mental que pressupõe e que sugere. O caos originário, isto é, o material bruto a partir do qual o produtor escolheu uma forma, se torna ordem”; portanto, o

caos interior do leitor também se ordena para que a mensagem possa atuar. Aqui, literatura pode ser vista como uma “possibilidade da contradição e do movimento e, portanto, como

agente de transformação” (MAGNANI, 2001, p. 11), o que a lança, portanto, no universo educativo.

Desta forma, o melhor lugar para investigar sobre o pensamento, as ideias dos professores sobre literatura é este e, no caso desta pesquisa, se a investigação fosse feita em outro departamento seria uma investigação sobre representações sociais pura e simplesmente

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e não sobre literatura e seus efeitos, sua relação com aqueles que devem contribuir para sua disseminação e seu consumo conscientes.

A proposta desta pesquisa se justifica pelo fato de que foi possível constatar empiricamente que algo está errado no processo de formação de leitores, como será detalhado de forma mais clara na próxima seção.

ii O jovem universitário e sua competência leitora de texto literário

Mas a educação aqui no Brasil pra que serve? Porque o incontestável é que o curso primário Não desalfabetiza, o secundário não humaniza, E o superior nem faz profissionais, nem faz sábios, nem faz pesquisadores.

(Oswald de Andrade)9

O texto em epígrafe, tanto na época em que viveu o seu autor quanto no momento atual, atesta ser impossível, no Brasil, não pensar em educação e menos ainda fazer pesquisa com professores sem pensar em educação. E este trabalho, embora não tenha como foco a educação, os sujeitos são professores e a pesquisa se deu em escolas, porque esses profissionais e essa instituição é que são os responsáveis pela apresentação do cidadão ao mundo da leitura, mais especificamente a leitura do texto literário. E o que a sociedade minimamente espera é que estejam preparados para tal tarefa.

O panorama da competência da leitura e escrita do jovem universitário, principalmente nas escolas superiores da rede de ensino privado, neste início do terceiro milênio, foi a mola propulsora e a principal motivação deste trabalho de pesquisa. Esse jovem já passou pela Educação Básica (composta por oito anos de ensino fundamental e quatro de ensino médio), já vivenciou mais de quatro mil dias de estudos escolares, sob a orientação de professores presumidamente capacitados para o ensino da língua materna, da leitura, da escrita, assim como de outras disciplinas, mas é muito comum encontrar um grande número desses estudantes que não demonstra competência para ler um texto literário e compreendê-lo, mobilizando conhecimentos prévios para a construção de sentidos que começam a ser constituídos antes da leitura propriamente dita. Esse tipo de universitário muitas vezes é incapaz de selecionar informações, fazer antecipações, inferências etc..

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As reformas educacionais dos anos de 1960 ampliaram o acesso à escolaridade e assentavam-se no argumento de que a educação seria o meio mais seguro para a mobilidade social individual ou de grupos. Embora orientadas pela necessidade de políticas redistributivas, essas reformas compreendiam a educação como mecanismo de redução das desigualdades sociais. Nos anos de 1990, as iniciativas ou reformas educacionais se sustentaram na justificativa de que a educação possibilita a equidade social (OLIVEIRA, 2004). Não obstante a intencionalidade ser considerada justa e boa, o acesso sem a necessária qualidade não assegurou e nem assegura a equidade e a mobilidade sociais desejadas.

O que se observa é que esses jovens e até mesmo os adultos têm aversão à leitura e, por vezes, se sentem amedrontados se são colocados em situação em que tenham de ler e expressar o que compreenderam de um dado texto literário ainda que curto e relativamente simples. São comuns as justificativas de que só liam sob pressão, para fazer provas, e por isso passaram a ver a literatura como algo desagradável e inútil.

As crianças, cujas matrículas no sistema educacional se deram a partir de 1990, estão hoje, isto é, no primeiro decênio do Século XXI, adultas e ingressando em cursos superiores existentes nas diversas cidades que compõem o complexo urbano do Distrito Federal. E o que se verifica é que há um cruzamento na trajetória dos alunos que chegam a esse nível de ensino. Aqueles que estudaram em conceituadas escolas privadas na educação básica, em geral, vão para a universidade pública, no caso do Distrito Federal, para a Universidade de Brasília-UnB. Aqueles que não têm chance de frequentar essa categoria de escolas acabam sendo inseridos nos cursos superiores, aprovados pelo Ministério da Educação, das inúmeras faculdades particulares existentes na região. Esses sujeitos, se considerados relativamente ao que se exige em termos de leitura de texto literário - de acordo com a teoria da estética da recepção -, interpretação e produção de texto criativo, coeso, coerente etc., não sabem ler, interpretar e tampouco escrever.

O texto literário, por ser literário, é diferenciado. E devido a essa característica, exige um leitor também diferenciado. Esse leitor para ser competente precisa alcançar as camadas profundas do texto e também o contexto histórico e cultural tanto da produção do texto quanto do autor. Fora dessa perspectiva, a leitura será superficial, situando-se na camada

que Peirce (apud Santaella, 2005) chama de “primeiridade”, uma das três categorias ou três

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A consciência de um momento, contudo, como ela está naquele exato momento, não é reflexionada nem quebrada em pedaços. Como eles estão naquele vero momento, todos os elementos de impressão estão juntos e são um único sentimento indivisível e sem partes. O que foi destilado pela fragmentação descritiva, como sendo partes do sentimento, não são realmente partes desse sentimento como ele está no exato momento em que está presente; elas são o que aparece como tendo estado lá, quando refletimos sobre o sentimento, depois que ele passou. Como ele é sentido, no momento em que lá está, essas partes não são reconhecidas e, portanto, essas partes não existem no sentimento ele mesmo. Nessa medida, o primeiro (primeiridade) é presente e imediato, de modo a não ser segundo para uma representação. Ele é fresco e novo, porque, se velho, já é um segundo em relação ao estado anterior. Ele é iniciante, original, espontâneo e livre, porque senão seria um segundo em relação a uma causa. Ele precede toda síntese e toda diferenciação; ele não tem nenhuma unidade nem partes. Ele não pode ser articuladamente pensado; afirme-o e ele já perdeu toda sua inocência característica, porque afirmações sempre implicam a negação de uma outra coisa. Pare para pensar nele e ele já voou. (SANTAELLA, 2005, p. 9-10)

Esse nível de leitura que poderíamos chamar, grosso modo, de emocional, é possível à maioria das pessoas alfabetizadas e com algum letramento. São pessoas que leem

textos sobre os quais não é preciso “parar para pensar”. Entrementes, a leitura do texto

literário demanda mais do que isso, caso contrário não há leitura.

O papel do texto literário, de acordo com Mendes (2008), é despertar o leitor para um mundo novo, onde lhe é dada a possibilidade não somente de reivindicar a compreensão do texto, mas também a capacidade de interpretá-lo numa perspectiva criativo-subjetiva.

Desta forma, a leitura reivindica do leitor a oportunidade de ser uma atividade que requer cotidianidade, tornando-se familiar ao sujeito como o são a televisão, o rádio, a internet, ou seja, os aparelhos de “cultura de massa”, conforme Santiago (2004).

Consequentemente, o texto literário – o livro como forma máxima de expressão desse tipo de literatura – deveria tornar-se um objeto de consumo e de utilização corriqueiros.

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Não há dúvida de que o ensino de uma língua que sirva efetivamente à emancipação do sujeito não pode ser eficaz sem o uso de boa literatura10. Tradicionalmente, o ensino da Língua Portuguesa pode ser assinalado por características predominantemente normativas e conceituais. Esse privilégio à forma se faz muito acentuado na especial atenção que é dedicada à ortografia e à sintaxe para responder a questões em provas, sem considerar e conscientizar quem aprende de que esses conhecimentos são indispensáveis à vida, principalmente no que diz respeito às relações sociais na vida em geral e também no mundo do trabalho.

A partir da década de 1970, sobretudo na de 1980, a hegemonia dessa concepção formalista passou a ser contestada com o surgimento de teorias inspiradas no sociointeracionismo, na teoria da enunciação e do discurso e na linguística do texto.

Segundo essas teorias, a prática linguística seria o resultado da interação de sujeitos e entre sujeito e texto. Portanto, além das formas linguísticas, passaram a ser estudadas, com interesse crescente, as relações entre essas formas e seu contexto de uso, suas condições de produção e o processamento mental de todos esses elementos pelos sujeitos falantes. Desse modo, a orientação para o ensino da língua - antes conceitual e normativo - passou a ser centrada no uso e no funcionamento da língua como sistema simbólico, situado num contexto sócio-histórico determinado. É a partir dessa compreensão que se formula a expressão “leitura e produção de texto”, com a qual se pretende evidenciar o ato, o processo de ler, produzir sentido e de elaborar textos. Para tanto, a leitura de textos em geral e especialmente de textos literários, ao que parece, é um dos caminhos mais seguros e agradáveis.

Teoricamente, ao que tudo indica, há maneiras para se alcançar tais propósitos, de acordo com as recomendações dos Parâmetros Curriculares Nacionais – os PCN - de Língua Portuguesa:

É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário (PCN, 1997, p. 36).

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Com efeito, essa recomendação dos PCN, que ressalta a importância da leitura de

texto literário devido às suas “propriedades compositivas”, deve ser considerada com a devida

atenção, posto que esse tipo de leitura não pode ser vista como uma leitura qualquer, para extração de informações precisas e previamente determinadas. É um tipo de leitura que dá ao leitor e a quem conduz o processo de formação desse leitor a oportunidade de divagar, de escapar da realidade e, ao mesmo tempo, de identificar no texto os aspectos que o vinculam à realidade, possibilitando não somente a evasão, que é uma das características da leitura do texto literário, mas também a tomada de consciência de que nesse mesmo texto estão retratados eventos vinculados à vida de uma dada sociedade num dado momento histórico.

O professor de leitura, especialmente nos primeiros anos de escolaridade, que se submeta a essas orientações dos PCN, precisa saber distinguir essas propriedades específicas do texto literário e sua relação com a realidade. Não é possível imaginar que esse profissional não tenha conhecimento dessas especificidades e não saiba utilizá-las como instrumento de trabalho e como recurso para aprimorar as capacidades inatas de seus alunos, tornando-os cidadãos mais capazes de viver em sociedade. Esta pesquisa buscou elementos para compreender se os professores pesquisados respondem a esses requisitos.

iii A pesquisa

Efetivamente, este trabalho não tem uma dimensão diegética porque não se trata do estudo de uma obra literária na sua dimensão ficcional. Mas é um trabalho sobre literatura, que exigiu estudo e aprofundamento sobre diversos aspectos inerentes à produção (a poiesis), à crítica do texto como obra de arte literária e à recepção do texto literário.

Este estudo foi realizado sob duas perspectivas metodológicas. A primeira consiste em uma pesquisa bibliográfica, cuja principal fonte é a obra (uma parte dela) de Mikhail Bakhtin e de Serge Moscovici, ou seja, sua Teoria das Representações Sociais. Na busca pelos pontos de contato na teoria desses dois pensadores, a pesquisa encontrou outros teóricos que também são fontes muito importantes, entre eles se destaca, por exemplo, Ivana Marková.

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A pesquisa bibliográfica buscou encontrar na Teoria das Representações Sociais, de Moscovici, o suporte para a pesquisa de campo que procura entender as representações sociais da literatura entre professores que trabalham no Ciclo Básico de Alfabetização (1º ao 5º ano) do Ensino Fundamental no Distrito Federal. Ela apresenta, também, uma investigação das confluências e paralelismos existentes entre as ideias e as biografias de Moscovici e Bakhtin, procurando evidenciar pontos que apresentam muitas similitudes entre o pensamento desses dois estudiosos. Esse encontro do pensamento desses dois pensadores tornou o estudo mais profícuo porque foi possível aliar os conceitos da teoria moscoviciana, oriunda de estudos ligados à Psicologia Social, aos do filósofo da linguagem Mikhail Bakhtin, que em toda sua obra ressalta a importância da língua e da literatura como elementos de interação e de transformação do ser humano.

A pesquisa de campo teve a intenção de mostrar a concepção que os professores alfabetizadores têm sobre literatura e, consequentemente, sobre a leitura de textos literários. A literatura, aqui, é vista como um produto de criação poética, ficcional ou dramática, como obra da imaginação criadora em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, considerando o texto, como gênero literário, desde as manifestações mais populares até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita. É a literatura como fabulação e também como um bem incompressível, um bem que não pode ser negado a ninguém, conforme Candido (2004, p. 174),

Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os níveis de uma sociedade, em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis da produção escrita das grandes civilizações. [...] aparece claramente como manifestação universal de todos os homens em todos os tempos. Não há povo e não há homem que possa viver sem ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em contato com alguma espécie de fabulação.

Ou ainda, de acordo com Bastos (2011, p. 9-10), o texto onde “as funções

pragmáticas da linguagem, embora não sejam abolidas, ficam subordinadas à função estética

ou poética.”. Onde a obra se organize a partir de um evento da vida, mas, a partir desse evento, ela se “universaliza”, não permitindo, portanto, que os fatos narrados “caduquem”, pois “não se limita a ser um registro cronológico e factual. [...] é uma forma muito específica

de representação ou mimese” (ibidem; grifos do autor).

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pensamento, as ideias daqueles que são os formadores das primeiras impressões da criança sobre a escola e a sua relação com a arte literária, a importância dessa forma de arte, sua abrangência e sua função social.

iv A metodologia

Como já foi dito anteriormente, o trabalho consiste numa pesquisa mista, onde se entrecruzam pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. A bibliográfica se apoia teoricamente no trabalho de vários autores, mas há, entre eles, alguns que se destacam. São eles: Serge Moscovici, com sua Teoria das Representações Sociais, e Mikhail Bakhtin, com sua teoria do romance e questões relacionadas à literatura e ao estilo, à estética, além, é claro, o discurso, o dialogismo etc.. Michel Pêcheux, com sua Teoria da Análise do Discurso, serviu apenas de suporte metodológico para a leitura da fala dos professores entrevistados. Esses e outros teóricos no campo da teoria literária compõem um arcabouço teórico extremamente importante para a realização desta tese.

A pesquisa de campo foi realizada com uma amostragem de 334 professores, distribuídos por todas as Coordenadorias Regionais de Ensino do Distrito Federal, que responderam ao questionário, cujas questões são de múltipla escolha. O contato com esses sujeitos foi prévia e devidamente autorizado pela Escola de Aperfeiçoamento de Profissionais da Educação – EAPE –, da Secretaria de Educação do Distrito Federal, assim como pelos coordenadores das Regionais de Ensino e diretores das escolas indicadas pelas Coordenadorias das Regionais de Ensino. Os dados, coletados por meio de aplicação de questionários e entrevista semiestruturada, apresentam elementos que orientam a leitura e o entendimento das representações sociais dos professores de 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental das Escolas públicas do Distrito Federal sobre literatura.

(26)

entrevistas gravadas, cujas respostas foram transcritas e lidas com o apoio de alguns ensinamentos elementares da Análise do Discurso (AD).

É necessário, no entanto, deixar claro que não se pretendeu aqui fazer uma análise de discurso, utilizando a metodologia da AD, pois não foi este o objetivo deste trabalho. O que se buscou fazer foi uma leitura do discurso dos professores com o auxílio da AD, tomando o termo discurso na perspectiva de Foucault (1996), ou seja, uma manifestação concreta da língua no momento em que os professores se manifestam de forma a explicitar a ideologia que é sustentada pela instituição social à qual esses profissionais são vinculados, no caso, a escola11. Nesse caso, o discurso dos professores pesquisados se baseia em pensamentos e visões de mundo derivados da posição social e cultural do grupo a que pertence e da instituição à qual estão profissionalmente vinculados e que permite que esse grupo se sustente como tal em relação à sociedade, defendendo e legitimando sua ideologia, que é sempre coerente com seus interesses. Desta forma, parte-se do princípio que os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN – fazem parte de um conjunto de documentos orientadores para esta ideologia e a partir dela.

Os dados coletados com base nas respostas dos questionários foram demonstrados por meio de gráficos e tabelas, nos quais os números falam por si. Todavia, os dados quantitativos também serviram para subsidiar a análise das respostas manifestadas nas entrevistas, análise esta que é feita sob a óptica da Teoria das Representações Sociais – cuja gênese se deu com a pesquisa de opinião e análise teórica feita por Serge Moscovici, em Paris, no final da década de 1950 e que culminou em sua tese de douramento –, por meio da qual Moscovici buscou entender como um conhecimento especializado, científico (no caso de sua pesquisa tal conhecimento era a Psicanálise) se transforma em conhecimento do senso comum.

Neste trabalho, a literatura é considerada um conhecimento especializado que

pode ser “consumido” pelo senso comum, ou seja, pelos professores da primeira fase do

ensino fundamental, formados em Pedagogia ou em outra área do conhecimento, mas que não são, portanto, especializados em literatura12. Já os Parâmetros Curriculares Nacionais os

11 Cf. ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7 ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.

De acordo com Althusser, o Aparelho Ideológico de Estado (AIE) escolar se encarrega de imprimir nas crianças, desde o início da escolaridade, os saberes e valores que constituem a ideologia dominante (língua materna, literatura, matemática, ciência, história, moral, educação cívica, filosofia etc.). Para ele, muito raramente os professores se posicionam contra tal ideologia, uma vez que grande parte deles sequer suspeita que está a seu serviço. Não haja dúvida de que neste trabalho não se quer discutir a ideologia deste AIE e sim compreender as representações sociais dos professores sobre literatura dentro desta instituição.

(27)

PCN – se constituem em uma teoria que pode ou não ser assimilada pelos professores dessa fase de ensino, sendo eles – os professores – o “homem comum” ou os “sábios amadores”

(MOSCOVICI, 1978), que têm ao seu dispor conhecimentos especializados e que, de tanto ouvir falar sobre eles, quer seja no ambiente de trabalho, com seus pares, no seio da sociedade por intermédio da interação com as pessoas ou por meio da mídia, acabam por formular ideias a seu respeito.

À luz dos preceitos da Teoria das Representações Sociais e com a ajuda metodológica da AD, o discurso dos professores é estudado para que sejam compreendidas, além de suas representações sociais, suas ações no processo de assimilação das teorias de ensino contidas nos PCN e na utilização e consumo da literatura como produto cultural e como entidade ontológica e ôntica13.

Desta forma, o sujeito deste estudo é o professor que tem sob sua responsabilidade a incumbência de puxar o véu que encobre o universo e que a criança ainda não consegue descortinar sozinha. Essa fase do ensino (e no caso desta pesquisa o ensino é público) é de fundamental importância na vida de todo e qualquer cidadão porque é nesse momento que o estudante está aberto à construção de conhecimentos ainda não experimentados e é, portanto, vulnerável a influências, não importando quais sejam essas influências. O professor, certamente, poderá imprimir nesse ser novo, virgem e isento de preconceitos, as melhores ou as piores marcas.

Compreenda-se que isso não quer dizer que a criança seja considerada um ser desprovido de conhecimentos prévios. Ao contrário, o verbo imprimir significa que o professor pode, com artifícios pedagógicos, dar oportunidades para que a criança possa, por meio da leitura de textos literários, aumentar o seu universo de conhecimentos, produzindo outros, melhorando a qualidade de sua leitura e do seu senso crítico em relação a si e aos outros. Um senso crítico que seja embasado em elementos que lhe deem os recursos necessários e úteis para o autoconhecimento e para conhecer o mundo que a rodeia, de forma a promover diálogos consigo e com o outro, e a agir responsiva e responsavelmente14.

A pesquisa parte das seguintes questões:

1. Quais são as representações sociais dos professores de primeiro de segundo ciclos do Ensino Fundamental, no Distrito Federal, sobre literatura e leitura de texto literário?

13O que se quer dizer com “entidade ontológica e ôntica” é que a literatura como produção humana se constitui em possibilidades e em concretude, isto é, em realidade precisa.

14 Cf. Bakhtin, M. Para uma filosofia do ato. Texto completo da edição americana Toward a Philosophy of the Act. Tradução para o inglês de Vadim Liapunov. Tradução para o português de Carlos Alberto Faraco e

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2. O professor do primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental, no Distrito Federal, conhece os PCN e os conceitos sobre literatura suficientemente para colocar em prática a leitura em sala de aula como recomendam os PCN da Língua Portuguesa?

3. Os professores pesquisados demonstram possuir uma representação social bem estruturada da literatura como arte, incluindo noções sobre estética e estilo literário?

O principal objetivo desta pesquisa foi verificar a representação social da literatura, a partir de estudo feito com professores, a fim de compreender como esses sujeitos concebem a literatura e como utilizam o texto literário, tendo em vista o que recomendam os PCN da Língua Portuguesa e cujo texto é aqui repetido, mas com algum complemento:

É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas cotidianas da sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento. Essa variável de constituição da experiência humana possui propriedades compositivas que devem ser mostradas, discutidas e consideradas quando se trata de ler as diferentes manifestações colocadas sob a rubrica geral de texto literário. [...] A questão do ensino da literatura ou da leitura literária envolve, portanto, esse exercício de reconhecimento das singularidades e das propriedades compositivas que matizam um tipo particular de escrita. Com isso, é possível afastar uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino das boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das

receitas desgastadas do “prazer do texto”, etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (PCN de Língua Portuguesa, 1997, p.30, grifos nossos).

Desta forma, este trabalho buscou elucidar dois pontos cruciais:

1. Verificar e compreender as representações sociais que professores alfabetizadores (primeiro e segundo ciclos do Ensino Fundamental) têm sobre literatura.

2. Averiguar em que medida os professores pesquisados praticam efetivamente a leitura de textos literários, segundo recomendam os PCN da Língua Portuguesa de 1ª a 4ª séries, edição de 1997.

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A validade metodológica da pesquisa em representações sociais já foi largamente questionada, mas também é amplamente utilizada e, como lembra Sá (1998, p. 24), há uma

proposição teórica de que uma representação social é sempre de alguém (o sujeito) e de alguma coisa (o objeto). Não podemos falar em representação de alguma coisa sem especificar o sujeito - a população ou o conjunto social - que mantém tal representação. Da mesma maneira, não faz sentido falar nas representações de um dado sujeito social sem especificar os objetos representados.

No caso específico deste trabalho, tanto o sujeito, isto é, a população, quanto o objeto estão claramente definidos, quais sejam, um conjunto representativo de professores e a literatura.

A Teoria das Representações Sociais, de Serge Moscovici, vem sendo utilizada para embasar inúmeras pesquisas em diversos campos das ciências sociais e ciências aplicadas, especialmente a Psicologia, a Educação e até mesmo na área da Saúde, isto é, a Medicina.

Além da Teoria das Representações Sociais, os elementos que compõem o quadro de referências teóricas que orientam esta pesquisa têm base nos conceitos de estética, dialogismo e discurso, em Bakhtin (2003, 2008, 2009 e 2010). No tocante à estética, o foco deste trabalho não trata somente do que tange à estética material, mas principalmente à estética do conteúdo (BAKHTIN, 2010). Bakhtin orienta a formulação de tal quadro referencial especialmente no que diz respeito ao entendimento dos conhecimentos dos professores analisados com o objetivo de se compreender o nível de seu conhecimento de uma estética e das características próprias do texto literário. O próprio Bakhtin (2010, p.11-16) melhor explicita quando afirma que

[...] sem uma concepção sistemática do campo estético, tanto no que o diferencia do campo cognoscível e do ético, como no que o liga a eles na unidade da cultura, não se pode separar o objeto submetido a um estudo de poética – a obra de arte literária– da massa de obras escritas com palavras, mas de um outro gênero; certamente, é claro, essa concepção sistemática é introduzida todas as vezes pelo pesquisador, mas de forma nem um pouco crítica (grifo do autor).15

Essa concepção bakhtiniana requer dos professores a construção de conhecimentos mais especializados, mas isso só será possível a partir de mudanças nos currículos dos cursos que formam esses profissionais que atuam na educação básica. No tocante ao processo de alfabetização, Ferreiro e Teberosky (1991) chamam a atenção para os

15 Embora nesse texto Bakhtin esteja se referindo à produção científica da crítica literária na Rússia, no caso

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aspectos que dificultam seriamente a aprendizagem da leitura e da escrita, afirmando que as dificuldades se baseiam nos métodos de ensino, posto que a preocupação dos professores se focaliza no método que dá bom resultado, com o objetivo de alfabetizar um número maior de alunos em menor tempo, mas perde o foco no que há de realmente importante, que é a qualidade da aprendizagem. As autoras alertam para o fato de que os métodos, frequentemente, não se fundam em aspectos que são essenciais para a aprendizagem, que são, em resumo, a competência linguística do sujeito que aprende e suas capacidades cognoscentes, o desejo de buscar o conhecimento e a capacidade de fazer relações entre o que aprende na escola e o contexto social e cultural.

Desta forma, esta pesquisa não apresenta apenas relevância acadêmica, mas também significativo valor social, pois, com base na percepção dos conhecimentos que possibilitem a esses professores a identificação, na leitura feita por seus alunos, das predições léxico-semânticas16 e sintáticas17 para a leitura, produção de sentido e intertextualização de textos literários, poderemos compreender o nível de leitura que tem sido praticado com as crianças na primeira fase do ensino fundamental e, consequentemente, o tipo de leitor (ou não leitor) que está sendo formado na capital da república do Brasil.

v Como ler e analisar a fala, as respostas orais dos professores?

Uma das preocupações iniciais era a ideia de que pudesse existir uma luta teórica entre a Literatura e a Linguística (como campos de estudos científicos) com a finalidade de alcançar espaço de poder no campo metodológico e da produção teórico-científica. Contudo, outra ideia se afigurou como bálsamo (talvez algo que já tenha sido lido ou ouvido e cuja autoria insiste em se furtar) e me lembrou de que toda obra literária é também uma obra de língua e que a língua é objeto da Linguística. Por causa dessa segunda ideia, deixei de cultivar a primeira e passei a considerar possível o uso da Teoria de Análise do Discurso (AD) como

elemento metodológico, na tentativa de desvendar a “opacidade” presente no discurso, a fim

de procurar nessa opacidade “a presença do político, do simbólico, do ideológico”

(ORLANDI, 2008, p. 21). Esclareça-se que a utilização teórica da AD foi bastante superficial, sem o devido aprofundamento requerido nas análises que dela lançam mão, sobretudo porque este não é um trabalho cujo foco principal seja a Análise do Discurso.

16 De acordo com Ferreiro e Teberosky (1991, p.270), predições léxico-semânticas permitem tanto a antecipação dos significados quanto proceder a autocorreções.

(31)

Mas foram outros argumentos, e estes com forte peso, deram amparo para buscar na AD elementos que possam colaborar e sustentar a leitura do discurso dos professores. Foi Pêcheux quando disse

Notemos, para começar, que é absurdo recriminar a linguística por se restringir a seu objeto: toda disciplina científica se constitui pela exclusão de seu campo daquilo que, até então, a obcecava, no sentido literal do termo. Desta forma, a linguística exclui de seu campo as questões do sentido, da expressão das significações contidas nos textos. [...] Ao conceito (científico) de língua se opõe, pois, a noção de fala[...] “aquilo que nunca será ouvido uma segunda vez”. Entretanto, esta liberdade aparece, de imediato, submetida a leis, não apenas no sentido de coerções jurídicas (...), mas também no sentido de determinações sócio-históricas desta liberdade da

fala...” (PÊCHEUX, (2012, p. 125; grifos e aspas do autor).

e, partindo desses argumentos, ele conclui que

É preciso, finalmente, precisar que a relação de articulação dos processos sobre a base linguística torna-se possível pela existência, no próprio interior desta base, de mecanismos resumidos pelo termo enunciação, pela qual se efetua a tomada de posiçãodo “sujeito falante” em relação às representações

das quais ele é o suporte. Alguns linguistas e pesquisadores especializados no estudo de textos começam a trabalhar sobre este ponto decisivo para o futuro das relações entre a linguística (ou teoria da língua) e o que foi

designado aqui pelo nome provisório de “teoria do discurso” (PÊCHEUX,

(2012, p. 128-9; grifos e aspas do autor).

O que Pêcheux chamou de “teoria do discurso” evoluiu para a teoria de Análise

do Discurso (AD), que é uma ciência à parte da Linguística e ajudará a compreender o discurso contido nas respostas dos sujeitos pesquisados. Também Maingueneau (2010) e outros estudiosos, que seguem se baseando na teoria de Michel Pêcheux, foram utilizados neste estudo.

A Análise do Discurso torna possível o exame dos “aspectos sociais e ideológicos impregnados nas palavras quando elas são pronunciadas.” (FERNANDES, 2008, p. 13),

revelando, assim, a posição socioideológica assumida pelos sujeitos do discurso ou de grupos de sujeitos relativamente ao um mesmo tema. O objeto de estudo da AD é o discurso, tomado a partir da situação histórico-social-ideológica de produção e como exterioridade da língua e da fala. Segundo Pêcheux, para quem a língua deva ser estudada em “funcionamento”, como

instrumento de materialização de ideologias,

O sentido de uma palavra, de uma expressão, de uma proposição, etc., não

existe “em si mesmo” [...] mas, ao contrário, é determinado pelas posições

(32)

Os instrumentos de pesquisa (questionário e entrevista semiestruturada) buscaram levantar elementos que desvendassem as ideias e concepções desses professores sobre literatura, estética literária, estilo literário, além de verificar a frequência com que leem textos eminentemente literários. Por isso, apresentam questões que evocam dados minimamente comprobatórios sobre suas noções sobre esses entes do universo da leitura e da escrita literárias, tanto do aspecto formal quanto do conteúdo dos textos, assim como dos elementos visuais que os acompanhem.

A Teoria das Representações Sociais, formulada por Serge Moscovi - nas décadas de 1950 e 60 -, é o ponto de partida e de chegada desta pesquisa cujos dados coletados foram apresentados e analisados nesta tese. Essa teoria serve de base, principalmente, para identificar, nas respostas fornecidas pelos professores, sujeitos da pesquisa, as representações sociais que esse conjunto de indivíduos mantém sobre a literatura.

Segundo Jodelet (1986), a representação social é desenvolvida no próprio processo de interação social, particularmente, naquelas situações relativas à difusão dos conhecimentos artísticos e científicos etc.. De acordo com essa autora, as representações sociais poderiam ser consideradas, num sentido mais amplo, como uma forma de pensamento social, da mesma forma que esse pode ainda ser concebido como a realidade que é formulada pelos sujeitos dos diversos segmentos de uma sociedade. São esses significados compartilhados que possibilitam a construção de perspectivas comuns.

Chacón (2003), tratando do ensino da Matemática, diz que tanto os professores como os alunos possuem visões próprias sobre o conteúdo. Para essa autora, os conhecimentos subjetivos podem acarretar um obstáculo a respeito de mudanças. Se o professor se permitir práticas de ensino diferentes, poderá encontrar resistência por parte dos alunos, já que estes podem deter algumas crenças sobre como deve ser a aprendizagem. Sob este aspecto, poderão manifestar reações emocionais negativas. Com efeito, o professor deverá ajudar os alunos a saírem deste estado de bloqueio a partir de atividades (matemáticas, no caso da pesquisa dessa autora) compreensíveis e relacionadas com a sua realidade. Tanto as exigências cognitivas quanto às afetivas são importantes para a aprendizagem.

(33)

Para concluir esta introdução, faz-se necessário um último e importante esclarecimento: ao longo de todo o trabalho foram utilizados os termos professor ou professores, no masculino, obedecendo ao imperativo gramatical, embora a maioria da população que fez parte da pesquisa seja do sexo feminino. Mas houve sujeitos do sexo masculino. Ao transcrever cada resposta, não será identificada a pessoa que respondeu, porque tanto as entrevistas quanto os questionários foram anônimos; no momento em que foram feitos os comentários sobre as falas transcritas, foi atribuída a sigla P1, P2, P3 e assim por diante, para identificar o autor ou a autora do trecho transcrito, sem mencionar, portanto, o gênero daquele ou daquela que fala. As entrevistas foram realizadas individualmente com quem se colocou à disposição para respondê-la e pelo menos quarenta e oito horas após os professores terem respondido ao questionário. Essa estratégia visava a dar aos sujeitos pesquisados um tempo para refletir sobre o tema, uma vez que o questionário já os introduzira ao processo da pesquisa.

Resumidamente, este trabalho foi estruturado, além desta Introdução, da seguinte forma:

Capítulo 1 Pressupostos teóricos: a Teoria das Representações Sociais e a confluência entre as ideias de Moscovici e Bakhtin: faz-se uma rápida revisão da teoria que serve de base fundamentadora para a pesquisa de campo efetivada neste trabalho, isto é, a Teoria das Representações Sociais e busca colocar em evidência os pontos em que as ideias de Bakhtin e Moscovici apresentam convergências, especialmente o pensamento bakhtiniano e a Teoria das Representações Sociais.

Capítulo 2Literatura e leitura - um abraço de vida e luz: neste capítulo, persegue-se, com base no pensamento de vários teóricos tais como Bakhtin (2003; 2010), Perrone-Moisés (1990), Aguiar e Silva (1976), Candido (2004 e 2008) Eagleton (2006), Compagnon (2009 e 2010) Sartre (2006) Jauss (1994; 2002) Iser (1996; 1999; 2002), Tinoco (2010), entre outros, o conceito de literatura; e é feita uma revisão das teorias sobre literatura, leitura e leitor, na perspectiva da Estética da Recepção.

Capítulo 3 O professor: sua formação, sua qualificação e suas leituras: a partir dos dados coletados na pesquisa de campo, procura-se entender a formação dos professores que fizeram parte da pesquisa e, compreendendo tal amostragem, estabelecer um perfil de formação acadêmica desses profissionais, assim como o tipo de texto que costumam ler.

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nas escolas da rede pública de Ensino Fundamental da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal.

Capítulo 5 Estética e estilo: o conteúdo é o problema - com base no pensamento de Aristóteles (arte poética e arte retórica) e de teóricos como Bakhtin (2010), Jauss (1994; 2002), Iser (1999), Aguiar e Silva (1976), Tavares (2002) e Macherey (1971) é feita uma reflexão sobre estética e estilo tanto do ponto de vista da leitura quanto da produção do texto literário, e são apresentadas as respostas dos professores sobre esses dois aspectos da obra de arte literária.

Capítulo 6 Ler é imprescindível: ler o quê? Ler como? aqui é feita uma reflexão sobre literatura, leitura e vida, incluindo uma visada da leitura em obras literárias como Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes; Razão e sensibilidade, de Jane Austen; O menino Grapiúna, de Jorge Amado etc., com respaldo teórico em Faguet (2009), Zilberman (2001) e outros.

(35)

Capítulo 1 Pressupostos teóricos:

a Teoria das Representações Sociais e a

confluência de ideias entre Moscovici e Bakhtin

Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.

Karl Marx18

19

Neste primeiro capítulo, envidaram-se esforços para apresentar resumidamente a Teoria das Representações Sociais e também para identificar pontos de convergência existentes em alguns pontos das teorias de Serge Moscovici e Mikhail Bakhtin.

Não é possível esgotar todas as possibilidades porque ambos - e principalmente Bakhtin - possuem uma obra muito vasta e diversificada. Tão importante quanto a apresentação de um esboço resumido da teoria moscoviciana é a investigação que busca identificar as confluências existentes entre as ideias do Filósofo da Linguagem e as do criador da Teoria das Representações Sociais, especialmente no que diz respeito ao signo ideológico, o discurso concreto dialógico e às representações sociais. Partindo da gênese e evolução da

18 Frases sobre o educador social. Fonte: http://pensador.uol.com.br/frases_sobre_educador_social/. Acesso em 03de junho 2011.

19 Imagem 1 Definindo Representação Social.

(36)

teoria criada por Moscovici, foi possível seguir buscando identificar os pontos de encontro dessa teoria com ideias bakhtinianas constantes na vasta e complexa obra fruto das suas reflexões.

1.1 A gênese e a evolução da Teoria das Representações Sociais

No fim do Século XIX e na primeira metade do Século XX, quando os meios de comunicação ainda não eram tão velozes e eficazes como são na atualidade, pensadores admiráveis, entre os quais é possível destacar Émile Durkheim (1858-1917), na França, Serge Moscovici (1928- ), também na França, e Mikhail Bakhtin (1895-1975) na Rússia, pensaram e estudaram a relação e a comunicação do homem consigo, com outros seres humanos e com o mundo que os rodeia. Esses pensadores, cada um ao seu modo, em seu tempo e espaço, procuraram compreender e mostrar como o ser humano e a sociedade se relacionam, se representam e representam o mundo, assim como o modo pelo qual o homem elabora e comunica seu pensamento.

Moscovici (1961; 2004) deixa claro que a Teoria das Representações Sociais se funda em Durkheim, que, em seu trabalho intitulado Les Règles de la Métode Sociologique, de 1895, repudiou a ideia de que o comportamento dos indivíduos seja compreendido e

explicado biológica e psicologicamente. Para ele, são os “fatos sociais” que não somente

influenciam como também condicionam o comportamento do indivíduo na sociedade. Esses

“fatos sociais”, que são reais, sólidos e objetivos, são também sui generis porque não podem ser reduzidos às condições climáticas, biológicas ou psicológicas. Tais fatos, que são exteriores ao indivíduo, são perenes e concernem à Sociologia, tendo um poder coercitivo sobre as consciências individuais. O comportamento do indivíduo, na concepção

durkheimiana, é regido por um “Código” que existe fora do ser individual e também é preexistente a ele.

A educação é responsável, de acordo com Durkheim, pela transmissão desse

“Código” que exerce um poder que é não somente imperativo, mas também coercivo sobre o sujeito. Com efeito, o pai da sociologia moderna preconiza que os estudos científicos dos

fatos sociais devem partir do “pensamento coletivo” em si e por si, na forma e na matéria.

Segundo ele,

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