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IDENTIFICAÇÃO DO GRAU DE ACESSIBILIDADE ESPACIAL EM APARTAMENTOS DESTINADOS A IDOSOS

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DOI: 10.17271/2318847242320161306

IDENTIFICAÇÃO DO GRAU DE ACESSIBILIDADE ESPACIAL EM

APARTAMENTOS DESTINADOS A IDOSOS

Débora Mituuti Yoshida

Mestranda, PPGARQ-UNESP, Brasil. deborayoshida@gmail.com

Renata Cardoso Magagnin

Professora Doutora, PPGARQ-UNESP, Brasil. magagnin@faac.unesp.br

RESUMO

O objetivo deste artigo é avaliar o grau de acessibilidade espacial do ambiente residencial habitado por idoso. O estudo de caso foi realizado em um apartamento de classe média, construído no final da década de 1990 no município de Marília (SP). A metodologia utilizada consistiu da análise do deslocamento linear e utilização dos ambientes por usuário de cadeira de roda; vistoria técnica e registros fotográficos. Os resultados mostraram que, embora o país tivesse uma norma técnica sobre acessibilidade vigente no período de construção deste edifício, estes princípios não foram levados em consideração para a concepção do projeto, pois alguns ambientes não permitem a livre circulação de um morador usuário de cadeira de roda. A pesquisa contribui com estudos sobre qualidade do espaço residencial destinados a moradores idosos e os resultados podem subsidiar políticas públicas, programas e projetos de habitacionais destinadas aos Idosos.

PALAVRAS-CHAVE: Acessibilidade Espacial. Idosos. Mobilidade Reduzida.

Identification of the degree of spatial accessibility in apartments for the elderly

ABSTRACT

This paper aims to evaluate the degree of spatial accessibility of a residential apartment inhabited by elderly. The case study was conducted in a middle-class apartment, built in the late 1990s in the city of Marilia (SP). The methodology consisted of linear displacement analysis and use of environments for wheel chair users; technical inspection and photographic records. The results showed that although the country had a accessibility technical standard in the period of this building construction, these principles were not be included in these project, because some environments do not allow the free movement of a user dweller chair wheel. The research contributes to studies on quality of the residential space for the elderly inhabitants and the results may support public policies, housing programs and projects aimed at the elderly.

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DOI: 10.17271/2318847242320161306

Identificación del grado de accesibilidad espacial en los apartamentos para personas

mayores

RESUMME

El propósito de este artículo es evaluar el grado de accesibilidad espacial de las condiciones de vida de una persona mayor. El estudio de caso se llevó a cabo en un apartamento de clase media, construido a finales de 1990 en la ciudad de Marília (SP). La metodología utilizada consistió en el análisis de desplazamiento lineal y el uso de entornos para usuarios de sillas de ruedas; inspección técnica y registros fotográficos. Los resultados mostraron que, si bien el país tenía un estándar técnico de la accesibilidad actual de este período de construcción de edificios, estos principios no fueron tenidos en cuenta para el diseño del proyecto, debido a que algunos ambientes no permiten la libre circulación de una silla residente de usuario rueda. La investigación contribuye a los estudios sobre la calidad del espacio de vida para los residentes de edad avanzada y los resultados pueden apoyar las políticas públicas, programas de vivienda y proyectos dirigidos a las personas mayores.

Palabras clave: La accesibilidad del espacio. Personas de edad avanzada. La movilidad reducida .

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o mundo está passando por uma transição demográfica caracterizada pelo envelhecimento da população, com aumento da expectativa de vida e da diminuição da fertilidade (ONU, 2014).

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas - UNFPA (2015), o aumento no número de idosos está presente tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. Atualmente, uma em cada nove pessoas no mundo possui 60 anos de idade ou mais, estima-se que para o ano de 2050 esta relação caia para uma em cada cinco pessoas. A expectativa de vida entre os anos de 2010 a 2015 era de 78 anos nos países desenvolvidos e de 68 anos nos países em desenvolvimento. Para a década de 2050, esta estimativa está em 83 anos nos países desenvolvidos e 74 naqueles em desenvolvimento.

Em 1950, o número de idosos no mundo era de 205 milhões de pessoas. No ano de 2012, esse número aumentou para 810 milhões. A projeção futura é que em menos de 10 anos, esse número chegue a 1 bilhão e que duplique até 2050 (UNFPA, 2012).

Dentre os países com maior número populacional, o Brasil se destaca por ter um dos mais rápidos processos de envelhecimento populacional; sendo as regiões Sul e Sudeste aquelas que têm este valor mais intensificado (MOREIRA, 2006).

A população idosa brasileira vem crescendo progressivamente devido à melhoria da qualidade de vida (BRASIL, 1997; BRASIL, 2004; OPAS, 2009). Segundo dados do IBGE (2016) e da Secretaria de Direitos Humanos (2015), o número de idosos no Brasil dobrou nos últimos 20 anos. Atualmente, o país possui 23,5 milhões dos brasileiros nesta faixa etária, valor este que é o dobro do registrado em 1991 (10,7 milhões de pessoas). Em 2000 os idosos representavam 14,5 milhões ou 8,5% da população brasileira. Em 2010 passou para 20,5 milhões, o que representa 10,8% dos brasileiros.

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Diante desta realidade é necessário que o país desenvolva políticas públicas e projetos voltados a esta faixa etária crescente garantindo uma melhoria da qualidade de vida desta população.

Atualmente, a maioria dos municípios dispõe de programas voltados para os idosos nas áreas de combate à violência, melhoria da acessibilidade nos ambientes públicos, melhoria da acessibilidade nos transportes, capacitação de cuidadores, dentre outros programas; no entanto, há carência de políticas públicas em relação à habitação para a terceira idade.

De acordo com a pesquisa intitulada Perfil dos Municípios Brasileiros realizada pelo IBGE em 2011, no que se diz respeito à moradia, a maioria dos municípios brasileiros não possuem um Plano Municipal de Habitação. Os resultados desta pesquisa apontam uma problemática habitacional no setor das administrações locais.

De acordo com informações disponibilizadas pela Secretaria Nacional de Habitação no ano de 2008, o país possuía um déficit habitacional de aproximadamente 5.546 milhões de domicílios. Entretanto, estes dados não apresentaram informações sobre a demanda por habitação voltada aos idosos.

Apesar do esforço do Governo Federal em reduzir o déficit habitacional do país, os programas habitacionais para a população idosa são escassos, pois demandam verba e disponibilidade de recursos não só construtivos, como também na área da saúde, assistência social dentre outras áreas (SCHUSSEL, 2012).

Uma alternativa criada pelo Brasil para atender a esta demanda crescente foi a implantação de alguns tipos de moradias voltadas aos idosos, denominadas de residências seniores - Moradia Assistida, Moradia Independente, Moradia Congregada, Comunidade de Cuidado Contínuo a Aposentados, Clínicas, Clínicas especializadas em Mal de Alzheimer, entre outras. Elas foram criadas a partir de políticas públicas, sendo a maioria delas subsidiadas pelo governo (BESTETTI, 2006).

Outra solução encontrada por esta faixa etária é morar com os filhos; no entanto, pesquisas na área mostram que uma parcela significativa destes indivíduos está morando sozinho; em decorrência do aumento da qualidade de vida e o prolongamento da longevidade. Este fenômeno é conhecido como famílias unipessoais. Esta é uma tendência mundial (MONTEIRO, 2012). Mas, ainda é comum encontrar situações onde os idosos estão sendo cuidados por familiares ou em locais especializados, neste último caso por necessitarem de cuidados especiais (QUEIROZ, 2010).

Na perspectiva obter informações sobre os possíveis problemas de acessibilidade enfrentados por famílias unipessoais idosas moradores de apartamentos, esta pesquisa tem por objetivo analisar a qualidade do ambiente residencial e verificar se estes espaços estão contribuindo para a melhoria da qualidade de vida desta população.

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1 OBJETIVOS

O objetivo desta pesquisa é avaliar o grau de acessibilidade espacial de um apartamento residencial de classe média, construído na década de 1990, habitado por idoso.

2 METODOLOGIA 2.1 OBJETO DE ESTUDO

O estudo de caso foi realizado em um apartamento residencial cujo edifício situa-se na região central do município de Marília (SP), cidade de médio porte localizada na região centro- oeste do Estado de São Paulo.

O edifício foi inaugurado em 1996. Ele possui 10 pavimentos, sendo cada andar composto por quatro apartamentos; no entanto cada planta possui pequenas alterações na disposição do ambiente e/ou em sua área.

Este edifício foi escolhido pelas seguintes razões: i) faixa etária dos moradores – neste edifício há moradores na faixa etária acima dos 65 anos de idade, o que significa que, num futuro próximo, a maioria destes residentes idosos poderão ter necessidade de utilizar equipamentos auxiliares para seus deslocamentos, o que exigirá em algumas destas situações disponibilidade maior de espaços internos nos apartamentos e nas áreas exteriores para garantir estes deslocamentos com conforto e segurança; e ii) ano de construção do edifício – neste período, final da década de 1996, já havia a norma técnica brasileira de acessibilidade vigente no país – NBR 9050.

O apartamento escolhido para análise é de uma moradora idosa (84 anos). Ele possui aproximadamente 80m², distribuídos nos seguintes ambientes: sala de estar, sala de jantar, cozinha, área de serviço, banheiro da área de serviço, 2 dormitórios, circulação interna, banheiro e varanda (figura 1).

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Figura 1 - Planta do apartamento, sem escala e suas respectivas áreas

Q u ad ro d e Á re as Ambiente Sala de Estar 11,94 Varanda 2,10 Sala de Jantar 8,23 Cozinha 13,37 Área de serviço 5,93

Banheiro da área de serviço 2,20

Dormitório 1 10,08 Dormitório 2 10,05 Circulação 2,81 Banheiro 2,92 Fonte: DO AUTOR, 2016 2.2 INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO

Nesta pesquisa foram empregadas as seguintes técnicas: análise do apartamento através da faixa livre disponível para o deslocamento linear e utilização dos ambientes e avaliação através de Vistoria Técnica.

- Análise do deslocamento linear e utilização dos ambientes: esta técnica permitiu analisar a

presença de impedimentos físicos existentes no apartamento que pudesse comprometer os deslocamentos diários de moradores idosos. Para a análise da acessibilidade espacial do apartamento foi levado em consideração o deslocamento do idoso com mobilidade reduzida, usuário de cadeira de rodas, nos ambientes.

Para esta análise foi utilizado como referência as metodologias utilizadas por Pereira (2007), Prado et all (2015); Salcedo; Magagnin; Pereira (2016); e a Norma Técnica Brasileira de Acessibilidade, NBR 9050 (ABNT, 2015). Nesta análise foi mensurada a faixa de deslocamento linear (0,90m) e a área mínima disponível para realizar um giro ou manobra de 360º através da utilização da cadeira de rodas. Segundo Pereira (2007), a área de circulação é o espaço mínimo que o usuário possui para se deslocar até o ambiente e percorrê-lo internamente; e a área de aproximação dos equipamentos e mobiliários é o espaço necessário para o uso e/ou aproximação dos mobiliários existentes em cada ambiente. As figuras 2 e 3 apresentam alguns dimensionamentos utilizados nesta avaliação.

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Figura 2 - Dimensões mínimas para a faixa de deslocamento linear

Figura 3 - Dimensionamento referencial e área de manobra da cadeira de roda

Fonte: ABNT, 2015

- Vistoria Técnica: a utilização desta ferramenta teve por objetivo avaliar a infraestrutura dos ambientes internos do apartamento, através de indicadores de desempenho. Para esta definição utilizou-se como referência os estudos desenvolvidos por Pereira (2007); Hazin (2012); Agnelli (2012) e ABNT/NBR 9050 (2015).

A primeira fase consistiu na definição dos temas e indicadores a serem avaliados em cada ambiente. Os temas adotados para a avaliação dos ambientes foram: Sala de estar/tv/jantar; Quartos (1 e 2); Circulação interna; Banheiro dos quartos; Cozinha; Banheiro da área de serviço; Área de serviço; e Dispositivos e Controle. Para cada Tema (ou ambiente) foi definido um rol de indicadores que permitiu avaliar a acessibilidade através de critérios definidos pela NBR 9050/2015 (ABNT, 2015). Na sequência são apresentados estes indicadores.

Sala de estar/tv/jantar: Área livre de circulação para manobra de cadeira de rodas; faixa

livre de circulação mínima; piso (tipo); piso (desnível); desnível (rampa); pisos e paredes (contraste); área de aproximação e uso dos mobiliários; porta (largura); porta (tipo); porta (trilhos); porta (visor); porta (facilidade de manuseio); maçaneta (tipo); maçaneta (altura); soleira (desnível); janela (altura do peitoril); janela (controle visual); janela (facilidade de manejo); janela (altura do comando); janela (vão de aproximação); janela (espaço de ocupação).

Quartos (1 e 2): Faixa de circulação mínima; área livre de circulação para manobra de

cadeira de rodas; piso (tipo); piso (desnível); desnível (rampa); pisos e paredes (contraste); área de aproximação e uso dos mobiliários; ponto de tomada; porta (largura); porta (tipo); porta (trilhos); porta (visor); porta (facilidade de manuseio); maçaneta (tipo); maçaneta (altura); soleira (desnível); janela (altura de peitoril); janela (facilidade de manejo); janela (altura do comando); janela (vão de aproximação); janela (espaço de ocupação).

Circulação interna: Largura mínima dos corredores; extensão máxima dos corredores; piso

(tipo); piso (desnível); desnível (rampa); existência de ponto de energia elétrica para instalação de iluminação.

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circulação para manobra de cadeira de rodas; piso (tipo); piso (desnível); desnível (rampa); pisos e paredes (contraste); pisos e paredes (facilidade de limpeza); louças sanitárias (contraste); área de aproximação e uso das peças sanitárias; lavatório (tipo); lavatório (altura); lavatório (área livre inferior); sifão e tubulação (altura); lavatório (instalação de barras de apoio); lavatório (área adjacente de apoio); comando da torneira (tipo); misturador (tipo); comando da torneira (altura); ponto de tomada; área de aproximação e uso da bacia sanitária (tipo); assento da bacia sanitária (altura); bacia sanitária (instalação de barras de apoio); descarga (facilidade de manejo); descarga (altura); dispositivo de comunicação de emergência; boxe (dimensão); piso (desnível do boxe); banco de apoio articulado; barras de apoio; chuveiro (ducha manual); registro e/ou misturador (tipo); registro e/ou misturador (altura); porta (largura); porta (tipo); porta (abertura); porta (trilhos); porta (visor); porta (facilidade de manuseio); maçaneta (tipo); maçaneta (altura); soleira (desnível); janela (altura de peitoril); janela (facilidade de manejo); janela (altura do comando); janela (vão de aproximação); janela (espaço de ocupação).

Cozinha: Área livre de circulação para manobra de cadeira de rodas; faixa livre de circulação

mínima; piso (tipo); piso (desnível); desnível (rampa); pisos e paredes (contraste); pisos e paredes (facilidade de limpeza); balcão da pia (comprimento); pia (altura); pia (vão inferior livre); comando da torneira (tipo); comando da torneira (altura); pia (tubulação hidráulica); sifão e tubulação (altura); ponto de tomada; área de aproximação e uso dos mobiliários; botijão de gás (localização); porta (largura); porta (tipo); porta (trilhos); porta (visor); porta (facilidade de manuseio); maçaneta (tipo); maçaneta (altura); soleira (desnível); janela (altura do peitoril); janela (facilidade de manejo); janela (altura do comando); janela (vão de aproximação); janela (espaço de ocupação).

Área de serviço: Faixa de circulação mínima; área livre de circulação para manobra de

cadeira de rodas; piso (tipo); piso (desnível); desnível (rampa); pisos e paredes (contraste); pisos e paredes (facilidade de limpeza); tanque (contraste); tanque (área de aproximação e uso); tanque (tipo); tanque (altura); tanque (área livre inferior); sifão e tubulação (altura); comando da torneira (tipo); comando da torneira (altura); porta (largura); porta (tipo); porta (trilhos); porta (visor); porta (facilidade de manuseio); maçaneta (tipo); maçaneta (altura); soleira (desnível); janela (altura de peitoril); janela (facilidade de manejo); janela (altura do comando); janela (vão de aproximação); janela (espaço de ocupação); área adjacente de apoio.

Dispositivos e Controle: Interruptores, tomadas e campainhas (altura); interruptores,

tomadas e campainhas (facilidade de manejo); controles de interfone e telefone; o acesso ao quadro de luz, comando de aquecedor e registro de pressão e água (altura); controles de interfone e telefone; o acesso ao quadro de luz, comando de aquecedor e registro de pressão e água (facilidade de manejo).

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tema. Para esta avaliação foi adotada a seguinte escala: 0% a 20% - não acessível; 21% a 40% - pouco acessível; 41% a 60% - parcialmente acessível; 61% a 80% acessível; e 81% a 100% totalmente acessível. Estes parâmetros tiveram como referência as recomendações da NBR 9050.

Após esta definição foi realizada a aplicação da vistoria técnica, além de medições e levantamento fotográfico que permitiram identificar os principais problemas associados à acessibilidade espacial no apartamento estudado.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nesta seção são apresentadas as análises dos resultados obtidos nesta pesquisa na seguinte ordem: análise do deslocamento linear e utilização dos ambientes e vistoria técnica.

3.1 ANÁLISE DO DESLOCAMENTO LINEAR E UTILIZAÇÃO DOS AMBIENTES

A primeira etapa desta pesquisa referiu-se a análise da área livre de circulação disponível para o usuário de cadeira de rodas. Nesse estudo, o usuário é uma idosa de 84 anos que possui as dificuldades no deslocamento inerentes de sua idade. Nesta pesquisa foi realizada uma simulação caso a usuária venha a necessitar do uso desse equipamento.

Inicialmente foi realizado o levantamento de todo o mobiliário existente no apartamento para a elaboração da planta humanizada (ou planta com o layout do mobiliário existente). A partir desta planta foram definidos todos os possíveis deslocamentos lineares que o usuário poderia executar em cada ambiente do apartamento, bem como há possibilidade de aproximação dos equipamentos e mobiliários. Para essa etapa foi utilizado como referência a largura de circulação da cadeira de rodas de 0,90m (ABNT, 2015). As figuras 4 e 5 apresentam essas análises.

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Figura 4 - Rota de deslocamentos dos usuários de cadeira de rodas

Legenda:

Deslocamento linear Área de aproximação

área de rotação da cadeira de rodas

Fonte: DO AUTOR, 2016.

Figura 5 - Apartamento com mobiliários: Giro da cadeira de rodas

Legenda:

área de rotação da cadeira de rodas

Fonte: DO AUTOR, 2016.

A análise do deslocamento linear através da leitura da planta humanizada mostrou que a disposição dos mobiliários prejudica o deslocamento do usuário de cadeira de rodas em muitos ambientes (figura 4). A circulação é prejudicada nos seguintes espaços: na passagem do corredor de entrada para a sala de estar, por apresentar 47 cm (ponto D); na passagem entre a sala de jantar para a sala de estar, por apresentar largura de 75 cm (ponto E); o percurso da sala de jantar para a cozinha apresenta 73 cm, situação causada pela disposição da mesa e armários (ponto B). Na sala de estar o usuário não consegue acessar a varanda (ponto F); não há espaço mínimo para o cadeirante acessar os dois sanitários (quarto e da área de serviço;

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pontos A e G). Em relação aos quartos, a circulação é prejudicada na parte lateral das camas e acesso à janela (pontos H e I); e em relação a cozinha há restrição de acesso ao fogão devido à insuficiência de espaço para o giro de cadeira de rodas (ponto C) (figura 4 e tabela 1).

A passagem entre um ambiente e outro é comprometida muitas vezes pela largura das portas, pois a maioria delas possuem 0,78m de vão, com exceção dos banheiros que são de 0,68m. Apenas a porta da área de serviço está dentro dos padrões mínimos que permite a passagem de um usuário de cadeiras de rodas - 0,80m. As passagens de um ambiente para o outro são prejudicadas devido à posição de alguns mobiliários ficando a largura disponível de circulação menor que 0,90m.

Em relação à análise da área de giro ou manobra da cadeira de rodas observou-se certa limitação no deslocamento devido às dimensões de alguns ambientes e disposição dos mobiliários. Os locais onde a área de manobra é restrita a 180º ou 360º são: banheiro da área de serviço, área de serviço, cozinha, sala de estar, quarto 2 e banheiro da área dos quartos (figura 5 e tabela 1).

Em relação à análise da área de aproximação dos mobiliários observou-se que ela fica prejudicada entre o trajeto próximo a cama (quarto 2), nas áreas de aproximação das janelas dos dois quartos, nos dois banheiros e na cozinha (figura 5 e tabela 1).

Tabela 1 - Síntese das avaliações da utilização da cadeira de roda por ambiente Deslocamento linear Giro da cadeira de rodas Área de aproximação dos mobiliários

ACESSIBILIDADE Sim Não Sim Não Sim Não

SALA DE ESTAR/TV/JANTAR x x x

QUARTO 1 x x x

QUARTO 2 x x x

CIRCULAÇÃO INTERNA x x x

BANHEIRO DOS QUARTOS x x x

COZINHA x x x

BANHEIRO DA ÁREA DE SERVIÇO x x x

ÁREA DE SERVIÇO x x x

DISPOSITIVOS E CONTROLES Não avaliado

Fonte: DO AUTOR, 2016

Em síntese a análise dos ambientes internos deste apartamento mostrou que em função da tipologia e dimensão dos ambientes, associado à disposição dos mobiliários, caso a moradora necessite utilizar uma cadeira de roda, temporariamente ou definitivamente, muitos espaços teriam que ser alterados, com o reposicionamento do mobiliário ou supressão dele. Em algumas situações na cozinha, corredor e banheiros, em função da dimensão destes ambientes bem como da disposição das peças sanitárias, dificilmente eles poderiam ser utilizados pela

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usuária. A pior situação refere-se aos sanitários. 3.2 ANÁLISE DA VISTORIA TÉCNICA

A segunda etapa da pesquisa referiu-se a avaliação do apartamento através da utilização de um instrumento de vistoria técnica; nesta fase foi possível complementar a avaliação anterior através da identificação de outros problemas que comprometem a acessibilidade da moradora. Na sequência é apresentada uma síntese desta análise.

Em relação ao espaço da Sala de Estar, TV e Jantar observou-se que o vão da porta de entrada está fora da largura mínima recomendada pela norma técnica de acessibilidade que é 0,80m. A porta atual possui 0,77m de largura; não há contraste de cores entre piso e paredes, o que seria recomendado para diferenciação de planos; não há circulação mínima de 90 cm na sala de jantar e na passagem da sala de jantar para a sala de estar. O grau de acessibilidade encontrado neste ambiente foi de 43,4%.

O quarto 1 não apresenta faixa de circulação mínima de 0,90m em pelo menos uma das laterais da cama (recomendado pela norma NBR 9050) devido a disposição do criado mudo; o piso e as paredes não possuem cores contrastantes que demarque o encontro dos planos; o vão da porta é de 0,78m, fora do considerado acessível (0,80m); o comando das janelas estão a 1,50m do piso, fora do considerado acessível de 0,60 a 1,20m; a área de aproximação da janela restrita devido a disposição da cama; portanto, o grau de acessibilidade foi de 45,5%.

Com relação ao quarto 2, este não apresenta faixa de circulação mínima de 0,90m em pelo menos uma das laterais da cama devido a disposição do criado mudo; o piso e as paredes não possuem cores contrastantes que demarque o encontro dos planos; o vão da porta é de 0,78m, fora do considerado acessível (0,80m); o comando das janelas estão a 1,50m do piso, fora do considerado acessível que é de 0,60 a 1,20m; a área de aproximação da janela restrita devido a disposição da cama. Para este ambiente o grau de acessibilidade encontrado foi de 40,9%. No banheiro dos quartos, a faixa livre de circulação é de 0,50m, abaixo da considerada acessível de 0,90m; não é possível fazer manobra com cadeira de rodas; as louças sanitárias não possuem diferenciação de cores com piso e parede; área de aproximação aos equipamentos sanitários é restrita; não há vão livre abaixo do lavatório, pois existe gabinete; o comando da torneira não é do tipo alavanca, sensor eletrônico ou outro dispositivo facilitador de uso; o assento da bacia sanitária está a uma altura de 0,41m do piso, inferior a altura considerada acessível que é entre 0,43m a 0,46m; o boxe não possui dimensão mínima de 0,90m x 0,95m; os registros não são do tipo alavanca; a porta do banheiro não possui abertura para fora e possui vão de 0,68m; a janela não possui área de aproximação suficiente pois localiza-se lateralmente da pia.

Em relação a circulação interna, os corredores tem largura mínima de 0,90m e os pisos existentes são firmes, regulares e estáveis. Foi o ambiente que recebeu a melhor avaliação –

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83,3% de acessibilidade.

A análise da Cozinha mostrou que não há faixa livre de circulação mínima de 0,90m, isso significa que não é possível fazer manobra com a cadeira de rodas; a borda superior da pia está a 0,91m do chão, acima da altura permitida (0,85m); a pia não possui vão inferior livre; a porta possui vão de 0,77m, fora do padrão pré-estabelecido de 0,80m; área de aproximação da janela restrita devido ao fato da pia estar abaixo da mesma, dificultando o acesso ao comando da janela. O grau de acessibilidade encontrado neste ambiente foi de 45,7%.

No que diz respeito ao banheiro da área de serviço, observou-se que este possui faixa livre de circulação de 0,53m, abaixo da dimensão mínima considerada acessível de 0,90m; não é possível fazer manobra com cadeira de rodas; as louças sanitárias não possuem diferenciação de cores com o piso e a parede; a área de aproximação aos equipamentos sanitários é restrita; o lavatório não é suspenso e possui coluna central; o comando da torneira não é do tipo alavanca, sensor eletrônico ou outro dispositivo facilitador de uso; o assento da bacia sanitária está a uma altura de 0,41m do chão, sendo que a altura considerada acessível deve estar entre 0,43m a 0,46m; o boxe não possui dimensão mínima de 0,90m x 0,95m; os registros não são do tipo alavanca; a porta do banheiro não possui abertura para fora e possui vão de 0,68m. Em função dos problemas encontrados este ambiente possui 38% de acessibilidade.

Em relação à área de serviço, o tanque não possui cor contrastante em relação ao piso e parede e não é do tipo suspenso sem coluna central (recomendado pela norma técnica de acessibilidade); a borda superior do tanque está a 0,88m do piso, fora do padrão de 0,78m a 0,80m de altura do piso; o comando da torneira não é do tipo alavanca, sensor eletrônico ou outro dispositivo facilitador de uso; o comando da janela está a 1,50m do piso, fora do considerado acessível de 0,60m a 1,20m; já o vão da porta da área de serviço está dentro dos padrões com 0,80m. Para este ambiente o grau de acessibilidade encontrado foi de 54,5%. No que diz respeito aos dispositivos e controles, observou-se que os interruptores de tomadas estão a 0,25m do chão, fora da altura considerada acessível (de 0,40m a 1,00m segundo a NBR 9050); o que resultou em um grau de acessibilidade de 25%.

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Tabela 2 - Grau de acessibilidade por ambiente através de vistoria técnica GRAU DE ACESSIBILIDADE 0-20% 21% a 40% 41% a 60% 61% a 80% 81% a 100% SALA DE ESTAR/TV/JANTAR x QUARTO 1 x QUARTO 2 x CIRCULAÇÃO INTERNA x

BANHEIRO DOS QUARTOS x

COZINHA x

BANHEIRO DA ÁREA DE SERVIÇO x

ÁREA DE SERVIÇO x

DISPOSITIVOS E CONTROLES x

Fonte: DO AUTOR, 2016

Diante desta avaliação pode-se afirmar que o item mais comprometido são os Dispositivos e

controles com índice de acessibilidade de 25%, devido a dificuldade de uso em função da

altura de seus comandos. Os banheiros tanto dos quartos quanto da área de serviço apresentaram índice de 38% devido ao seu tamanho considerado insuficiente para os padrões de acessibilidade, há carência de barras de apoio e as peças sanitárias fora do padrão da norma técnica de acessibilidade. O ambiente com maior índice de acessibilidade foi a

Circulação interna por conter seus corredores com larguras mínimas que permite a passagem

de uma cadeira de rodas. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa mostrou que apartamentos construídos na década de 1990, embora a norma técnica de acessibilidade já vigorasse no país, não dispõem de ambientes que podem ser utilizados por pessoas com mobilidade reduzida, como no caso de pessoas idosas, usuárias de cadeira de roda; pois a maioria destes espaços foi projetada e construída sem oferecer as condições mínimas para o deslocamento de um utilizador de equipamento auxiliar, como uma cadeira de rodas.

Os resultados mostraram que a redução nas áreas destinadas aos sanitários, cozinha e area de serviço deste apartamento não permite que os usuários com mobilidade reduzida e que precisam se locomover com uma cadeira de rodas possam realizar suas atividades diárias no apartamento.

Apesar de alguns ambientes apresentarem tamanhos mínimos para a circulação de um usuário de cadeira de roda, devido a disposição dos mobiliários e até mesmo a falta de conhecimento por parte do morador, foi constatado problemas para circulação linear e giro de uma cadeira de rodas.

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Os principais problemas identificados na análise foram com relação à disposição dos mobiliários, dificuldade de aproximação das janelas, largura das portas e tamanho insuficiente dos banheiros.

Espera-se que essa pesquisa possa contribuir para conhecer a realidade do universo do idoso, suas imitações e necessidades específicas, bem como servir de alerta e parâmetro para futuros empreendimentos residenciais.

AGRADECIMENTO

Os autores agradecem a CAPES (Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior) por contribuir para o desenvolvimento da pesquisa que deu origem a esse trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Figura 3 - Dimensionamento referencial e área de  manobra da cadeira de roda
Figura 5 - Apartamento com mobiliários: Giro da cadeira de rodas
Tabela 1 - Síntese das avaliações da utilização da cadeira de roda por ambiente

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