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Relatório das atividades desenvolvidas no âmbito do subprojeto' democratização da justiça: a Defensoria Pública

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Academic year: 2021

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO

DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

Projeto Finep Justiça e Cidadania

Relatório das atividades desenvolvidas no âmbito do subprojeto

"Democratização da Justiça: a Defensoria Pública"

Verena Alberti

CPDOC-FGV

abril de 1996

ALBERTI, Verena. Relatório das atividades desenvolvidas no âmbito do subprojeto"

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I - Apresentação

A pesquisa "Democratização da Justiça: a Defensoria Pública", desenvolvida no âmbito do projeto Justiça e Cidadania ao lado das vertentes "Direitos civis e justiça na tradição brasileira", "Os direitos na visão popular" e "A imprensa e os direitos", resultou em um primeiro levantamento sobre a situação da Defensoria Pública, especialmente no estado do Rio de Janeiro. Foram seguidas três direções em sua execução, com vistas a permitir formas de abordagem distintas do objeto de estudo: a) levantamento da bibliografia na área de interesse do subprojeto; b) pesquisas junto ao Centro de Estudos Jurídicos da Procuradoria Geral da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, reunindo documentação escrita sobre a trajetória e a atuação da instituição, tendo em vista o caráter pioneiro do estado do Rio de Janeiro na institucionalização da assistência jurídica gratuita no Brasil, e c) elaboração, aplicação e processamento de questionários para verificação do perfil dos defensores públicos aprovados no X Concurso para Defensor Público no Estado do Rio de Janeiro e empossados em maio de 1994 e do perfil dos candidatos ao XI Concurso, realizado em junho de 1994, tendo sido respondidos e processados 258 questionários ao todo. A pesquisa foi realizada pelas pesquisadoras Ângela de Castro Gomes e Verena Alberti, da equipe do CPDOC.

O texto que se segue apresenta os resultados do trabalho, articulando as três direções de investigação, e concentra-se especialmente sobre os indicadores dos dois questionários aplicados.

II - A Defensoria Pública do Rio de Janeiro

A Constituição brasileira de 1988 é "a primeira, dentre todos os Estados federais contemporâneos, a inserir a Defensoria Pública no concerto dos órgãos do poder governamental" — quem afirma é Humberto Peña de Moraes, defensor público no estado do Rio de Janeiro e um dos mais atuantes patrocinadores da instituição.1 Com efeito, o artigo 134 da Constituição instituiu a Defensoria

Pública como órgão responsável pela assistência jurídica àqueles que comprovassem insuficiência de recursos. Entretanto, como em outros casos, a organização da Defensoria Pública, inclusive no que diz respeito à carreira de defensor público, ficou a cargo de uma futura lei complementar que garantisse a eficácia do que fora formalmente estatuído. Mais de cinco anos se passaram até que a Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro de 1994, estabelecesse a organização da Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios,

1 Humberto Peña de Moraes. "A Defensoria Pública como instrumento de acesso à ordem

jurídica justa, no Estado de direito democrático", Jornal do CEPAD. Rio de Janeiro, CEPAD, n. 7, ano II, abril-maio 1994.

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prescrevendo ainda as normas para sua organização nos estados. Bem sabemos, contudo, que não é ainda a vigência dessa lei que tornará efetiva a assistência jurídica aos necessitados. Nesse campo, um diagnóstico feito há 13 anos pelo desembargador Felippe de Miranda Rosa continua inteiramente atual:

Não há acesso igual de todos ao aparelho judicial do Estado; os que o conseguem não o têm em igualdade de condições; os necessitados nem sempre recebem a assistência judiciária de que precisam, quando a recebem; as condições estruturais fazem tal assistência frequentemente incapaz e por vezes onerosa em vários aspectos; grande parte da população nem sequer sabe da possibilidade de obter assistência judiciária gratuita, muito menos como obtê-la, e conhece pouco as faculdades que a ordem jurídica lhe oferece, ou seja, os seus direitos subjetivos; as diferenças de raça, sexo, condição econômica, status social e outras influem no grau de acesso ao aparelho judicial e portanto quebram a isonomia ideal contida nos princípios e na teoria.2

Em palestra proferida durante o Seminário Ibero-Americano: o

Magistrado, o Poder Judiciário e o Acesso à Justiça, realizado de 28 de

novembro a 1º de janeiro de 1995 no Palácio da Justiça, no Rio de Janeiro, Humberto Peña de Moraes forneceu alguns dados. Segundo ele, dos 26 estados brasileiros, menos da metade, isto é, apenas 11, insitucionalizaram a Defensoria Pública. Dos estados restantes, alguns exercitam a assistência jurídica através de convênios com a Ordem dos Advogados do Brasil, ou ainda através de outros órgãos, como as procuradorias dos estados. Quanto à União, apesar da edição da Lei Complementar nº 80, até então ela não havia estruturado sua Defensoria Pública para a Justiça Federal. Mas esse quadro pouco alentador é revertido quando o objeto passa a ser especificamente a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, que em 1995, como mostrou Peña de Moraes, recebeu da American Bar Association o título de melhor organismo de assistência jurídica gratuita do mundo, atendendo em torno de 1 milhão de pessoas ao ano.

Considerada exemplar pela Organização das Nações Unidas,3 a Defensoria

Pública do Rio de Janeiro é sem dúvida uma instituição singular no quadro da assistência jurídica gratuita. Segundo alguns dos mais ativos defensores públicos do estado, a organização da Defensoria Pública no plano federal, ou seja, sua institucionalização pela Constituição de 1988 e pela Lei Complementar nº 80, tem suas raízes no modelo fluminense. A história dessa conquista remontaria ao antigo estado do Rio de Janeiro. Em dezembro de 1973, o V Congresso Fluminense do Ministério Público e da Assistência Judiciária, realizado em Nova Friburgo (RJ),

2 Miranda Rosa, Felippe Augusto de. "O acesso ao aparelho judicial: teoria e prática", Revista

de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, n. 48, 1983, p. 20.

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produziu a Moção de Nova Friburgo, na qual as delegações de 15 estados recomendavam o livro Assistência judiciária, sua gênese, sua história e a função

protetiva do Estado,4 de autoria de Humberto Peña de Moraes e de José

Fontenelle Teixeira da Silva, para que servisse de "subsídio básico" à promulgação de uma possível lei federal sobre o assunto. A moção tinha como destinatário o então ministro da Justiça Alfredo Buzaid,5 a quem os signatários sugeriam que

tomasse a obra "como ponto de concatenação e objetivismo legal para a solução definitiva da magna questão da Assistência Judiciária no Brasil".6

Dois anos depois, quando da fusão dos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, os defensores públicos do antigo estado do Rio se reuniram em torno da emenda constitucional Alberto Torres, que tinha como pleito organizar a assistência judiciária do novo estado em carreira paralela à do Ministério Público e posicioná-la administrativamente no âmbito da Procuradoria Geral da Justiça. A redação inicial da emenda previa que a assistência judiciária tivesse a mesma disciplina e organização do Ministério Público, mas na redação definitiva, para evitar retardamentos, optou-se por delegar a uma futura lei orgânica o estabelecimento do regime disciplinar da carreira. Na interpretação dos defensores públicos do estado Rio de Janeiro, a emenda Alberto Torres, que veio a constituir o Artigo 82 da Constituição Estadual de julho de 1975, significou uma vitória no processo de institucionalização da assistência jurídica gratuita, porque instituiu a Assistência Judiciária como órgão do estado. Como se lê na súmula que acompanhou a tramitação da emenda na Assembléia Constituinte estadual,

Não basta que o Estado consagre o direito fundamental e absoluto à assistência judiciária. Cumpre que crie, também, órgão público destinado, especificamente, a promovê -lo, através do asseguramento jurisdicional. De que vale o Estado reservar direitos aos desafortunados, se ele próprio não oferece quem os garanta e defenda?7

Mais uma vez observa-se que a preocupação em fazer coincidir a letra da lei com as condições efetivas de atendimento à população é argumento recorrente no processo de implantação da defensoria pública.

4 Humberto Peña de Moraes & José Fontenelle Teixeira da Silva, Assistência judiciária: sua

gênese, sua história e a função protetiva do Estado. 2a edição rev. e ampl., Rio de Janeiro, Editora Liber Juris Ltda, 1984.

5 Alfredo Buzaid foi ministro da Justiça de outubro de 1969 a março de 1974, durante o governo

de Emílio Garrastazu Médici.

6 Moção de Nova Friburgo, 13 de dezembro de 1973, p. 2 (fotocópia). 7 Súmula à Emenda Alberto Torres, item 1.3, s.l., s.d. (fotocópia).

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Dois anos depois da promulgação da Constituição estadual, a Lei Complementar (RJ) nº 06, de 12/5/1977, regulamentaria a instituição e a carreira no estado.8

Mais recentemente, porém, a atuação da Defensoria Pública do Rio de Janeiro se viu comprometida, segundo os próprios defensores, pelo descaso do Executivo estadual, especialmente na gestão de Leonel Brizola (03/1991-05/1994). Segundo Peña de Moraes, o governo Brizola "desenvolveu política detrimentosa aos objetivos corporativos, o que, além de estimular o seu esvaziamento, com a consequente desativação de expressivo número de órgãos de atuação, principalmente no interior, implicou em sobrecarregar os seus integrantes, sujeitando-os, não raro, a penosas acumulações".9 No mesmo sentido, em fevereiro

e março de 1993, Sérgio Zveiter, então presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, cobrou do governo estadual uma ação diante da crise da Defensoria Pública.10 Ao pouco ou nenhum atrativo da carreira foram atribuídos, certamente

com razão, os baixos resultados do concurso público realizado em abril de 1993, que só contou com 37 aprovados.

Com efeito, segundo o jornal O Dia, em dezembro de 1993, a situação salarial da Defensoria Pública era muito desfavorável, em comparação com as da Magistratura e do Ministério Público, havendo uma defasagem de 66% a 69% nos valores pagos em início e em fim de carreira.11 No entanto, a necessidade da

Defensoria Pública parece inquestionável. Segundo o jornal O Globo, que, nessa conjuntura, publicou várias notas em favor da Defensoria Pública do Rio de Janeiro,12 em 1991 o número de atendimentos do órgão cresceu 28% e, em julho

de 1993, 70% dos processos do Fórum tinha como advogados de defesa defensores públicos, sendo esse aumento da demanda atribuído em grande parte à proletarização da classe média.13

8 Ver Humberto Peña de Moraes, "A Defensoria Pública como instrumento de acesso à ordem

jurídica justa, no Estado de direito democrático", op.cit.

9 Ibidem.

10 Ver Jornal do Brasil, 19/2 e 5/3/1993.

11 Segundo o jornal, os salários nos níveis mais baixos e mais altos das três carreiras eram os

seguintes, em dezembro de 1993:

Defensoria Pública Magistratura Ministério Público

nível mais baixo da carreira Cr$ 146.423,50 Cr$ 435.825,00 (+ 66,40%)

Cr$ 460.037,48 (+ 68,17%) nível mais alto da carreira Cr$ 200.855,30 Cr$ 664.226,12 (+

69,76%)

Cr$ 631.052,79 (+ 68,17%) Ver O Dia, 14/1/1994.

12 O apoio do jornal O Globo rendeu a Roberto Marinho o prêmio "Colar de mérito da

Associação dos Defensores Públicos do Rio de Janeiro" pelos "relevantes serviços prestados aos defensores públicos do Rio, através dos editoriais publicados no jornal sobre a crise na Defensoria Pública" (O Globo, 18/10/1993).

13 Ver O Globo, 3/2 e 5/7/1993. Se é verdade que a classe média passou a constituir boa parte

da clientela da Defensoria Pública, não se deve esquecer, contudo, que a instituição tem como alvo principal as camadas mais pobres da população. Assim, por exemplo, em nota publicada no

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Segundo dados da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, a evasão de defensores para as carreiras da Magistratura e do Ministério Público e a diminuição de novas admissões provocou a redução em mais da metade do número de defensores entre 1992 e 1994: de 482 para 230.14 Essa situação só começou a

se reverter em maio de 1994, com a contratação de 124 novos defensores públicos, aprovados no X Concurso para Ingresso na Classe Inicial da Carreira da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, realizado em fins de 1993 e inícios de 1994, cuja inscrição se deu pouco antes da promulgação da Lei Complementar nº 80. Um dos questionários aplicados no âmbito do subprojeto "Democratização da Justiça: a Defensoria Pública" teve justamente como alvo esse grupo de defensores recém-ingressos na carreira. O outro questionário aplicado durante a pesquisa dirigiu-se aos candidatos inscritos para o concurso seguinte, ou seja, o XI Concurso, que teve lugar em junho de 1994. É sobre esse pano de fundo, portanto, que ambos os questionários devem ser interpretados.

II - Dos questionários

1 - A aplicação

Os questionários aplicados aos candidatos a defensores públicos inscritos no XI Concurso (doravante denominado Questionário I) e aos defensores públicos empossados em maio de 1994 (doravante denominado Questionário II) tiveram como objetivo traçar um primeiro perfil dos profissionais da área de direito que se interessam pela carreira de defensor público. A diferença entre os dois está evidentemente no fato de que os que responderam ao Questionário II tinham sido todos aprovados no X Concurso, enquanto que é impossível saber quais candidatos, dos que responderam ao Questionário I, efetivamente foram aprovados no XI Concurso, já que todos os questionários foram aplicados sob anonimato. Além disso, entre as inscrições para o X Concurso e as inscrições para o XI Concurso, houve a promulgação da Lei Complementar nº 80, e é possível que a organização da carreira e a institucionalização do órgão no plano federal tenha tornado o XI Concurso mais concorrido do que o anterior.

A aplicação do Questionário I foi feita concomitante às inscrições do XI Concurso: o candidato recebia o questionário no ato da inscrição, sendo-lhe solicitado que o devolvesse preenchido tão logo fosse possível. Dos cerca de 500

jornal O Dia de 1/2/1994, a Defensoria Pública convocava os parentes da chacina de Acari a levarem documentos ao órgão com o objetivo de serem indenizados. Essa convocação mostra que a instituição não apenas está à disposição do usuário em potencial, mas também produz a demanda a seus serviços.

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candidatos ao concurso, 163 responderam ao que fora pedido. O questionário comportava 27 perguntas, entre elas dados pessoais, como idade, sexo, local de origem e local de moradia; dados familiares, como profissão e escolaridade dos pais; dados sobre a formação, como ano de formação em direito e instituição universitária; dados sobre a experiência profissional, e, finalmente, perguntas sobre o concurso e a motivação para a escolha da carreira de defensor público. Uma última pergunta dizia respeito à cor do candidato, sendo que sua formulação teve o cuidado de deixar aberta a possibilidade de resposta: explicou-se por que esse dado foi considerado relevante para traçar o perfil do candidato a defensor público, principalmente diante da ausência de informações estatísticas a respeito, mas pediu-se que o candidato apenas respondesse se estivesse de acordo com a pergunta. Já se pode adiantar que em boa parte dos questionários essa pergunta permaneceu sem resposta.

O Questionário II foi aplicado durante dois eventos que reuniram os recém-empossados defensores públicos e que visavam seu treinamento inicial na carreira. Dos 124 novos defensores, 95 responderam ao questionário, representando, portanto, 76,6% do total. As perguntas do Questionário II foram praticamente idênticas às do Questionário I no que diz respeito aos dados pessoais, familiares e de formação. No caso da experiência profissional e da escolha da carreira de defensor público, optou-se por ampliar a quantidade de perguntas dissertativas e foram acrescentadas questões sobre as condições de preparo para o concurso. A pergunta sobre a cor, finalmente, foi mantida conforme constava no Questionário I.

2 - Os resultados

As respostas de ambos os questionários mostraram uma predominância de jovens e de mulheres, sendo tal resultado ainda mais acentuado entre os recém-empossados defensores públicos.

Dos que responderam ao Questionário I, 49% tinham até 30 anos, havendo maior concentração nas casas dos 28 anos (7,5%), dos 24 anos (6,8%) e dos 22 e 30 anos (6,2%, cada). A idade mínima era de 20 anos (1 candidato) e a máxima, de 66 anos (igualmente 1 candidato). Os candidatos de mais de 50 anos constituíam uma porcentagem razoável (6,7%).

Mais da metade dos que responderam ao Questionário II, ou seja 51,6%, tinha até 26 anos, mostrando, portanto, uma maior predominância de jovens do que entre os que responderam ao Questionário I. 67,4% tinha então até 30 anos. As maiores concentrações ficaram nas casas dos 24 (16,8%), 25 (13,7%) e 23 anos (7,4%). Isso significa que 37,9% dos recém-empossados defensores públicos tinha entre 23 e 25 anos. A idade mínima também foi de 20 anos (1 defensor público) e a máxima, de 54 anos (1 defensor público). A porcentagem dos defensores de mais de 50 anos, contudo, foi bem menor do que a do Questionário I (2,2%).

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Com relação ao sexo, a diferença é bastante clara. Dos que responderam ao Questionário I, 64,6% eram mulheres e 35,4%, homens, e dos que responderam ao Questionário II, 72,3% eram mulheres, contra 27,7% de homens.

O estado de origem é predominantemente o Rio de Janeiro. Entre os candidatos a defensores públicos, 86,1% nasceram no estado do Rio de Janeiro, 4,4% em Minas Gerais e 2,5% em São Paulo. Entre os recém-empossados defensores públicos, 89,4% eram naturais do estado do Rio de Janeiro e 10,6% de outros estados, sendo a maioria destes também natural de Minas Gerais (5,3%). Dos que responderam ao Questionário II, a maioria (57,7%) nasceu na cidade do Rio de Janeiro; 13,7%, em Niterói; 4,2% em Petrópolis; 3,2% em Campos, e, finalmente 2,1% em Nova Iguaçu e também em São Gonçalo. Ainda no que diz respeito aos recém-empossados defensores públicos, 71,3% morava na cidade do Rio de Janeiro à época da aplicação do questionário, e 20,2%, em Niterói. A Tijuca era o bairro onde morava a maioria dos que responderam ao Questionário II (18,7%), sendo seguido por Icaraí (9,9%), pelo Centro (5,5%), por Botafogo (4,4%) e, finalmente, por Copacabana, Grajaú e São Francisco (cada um com 3,3%).

Quanto ao estado civil, percebem-se diferenças entre os dois questionários. Entre os que responderam ao Questionário I, havia um ligeiro predomínio de casados (44,7%) sobre solteiros (41,6%), sendo que 13% eram divorciados ou separados. Esse resultado pode indicar que, no universo de candidatos à Defensoria Pública nesse primeiro concurso após a promulgação da Lei Complementar nº 80, menos pessoas estivessem em início de carreira, inferência que pode ser corroborada pelo quadro da idade dos candidatos (em média mais velhos do que os que responderam ao Questionário II). No mesmo sentido podem ser interpretadas as respostas sobre os filhos. Entre os que responderam ao Questionário I, 53,7% não tinham filhos enquanto que 46,3% tinham filhos. Destes, a maioria tinha 2 filhos (39,7%), seguida de perto pelos que tinham um filho (36,8%). A maior parte dos filhos tinha entre 10 e 15 anos (38,9%), indicando novamente uma proporção significativa de pessoas mais velhas. Já dos que responderam ao Questionário II, 68,4% eram solteiros, contra apenas 21,1% de casados e 6,3% de separados ou divorciados. A diferença entre os que tinham filhos (28,4%) e os que não tinham filhos (71,6%) era muito mais acentuada. E, apesar da maioria daqueles 28,4% afirmar que tinha dois filhos (51,9%), contra 37,0% que tinha apenas um filho, a idade dos filhos pode indicar um universo de entrevistados mais jovens: 51,0% das crianças tinham até 9 anos.

Quanto à escolaridade dos pais, os resultados foram relativamente equilibrados. A escolaridade do pai nas respostas ao Questionário I obedeceu à seguinte seqüência: curso superior (48,4%), 2º grau (25,2%), 1º grau incompleto (17,6%) e 1º grau completo (8,8%). Essa ordem é idêntica à do Questionário II, em que houve, contudo, maior porcentagem do nível de escolaridade superior e uma diminuição do nível de 1º grau incompleto: curso superior (63,8%), 2º grau (21,3%), 1º grau incompleto (8,5%) e 1º grau completo (6,4%). Já a seqüência

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referente à escolaridade da mãe apresentou diferenças entre os dois questionários. No Questionário I, a pergunta sobre a escolaridade da mãe apresentou os seguintes resultados: 2º grau (35%), curso superior (31,9%), 1º grau incompleto (17,5%) e 1º grau completo (15,6%). No Questionário II, os resultados foram os seguintes: curso superior (36,8%), 2º grau (32,6%), 1º grau (17,9%) e 1º grau incompleto (12,6%). Essa última seqüência, inteiramente linear entre o maior e o menor nível de escolaridade, não está presente em nenhum outro conjunto de respostas sobre o mesmo assunto.

Sobre a profissão da mãe, tanto o Questionário I quanto o Questionário II apresentaram a mesma predominância na denominação "do lar": 38,5% para os candidatos a defensores públicos e 38,2% para os recém-empossados defensores. A profissão mais mencionada em seguida foi a de "professora": 19,6% para o Questionário I e 25,8% para o Questionário II. A profissão "advogada" também apareceu com certa freqüência: 7,7% para o Questionário I e 7,9% para o Questionário II. As outras profissões mais mencionadas foram: outras profissões de nível superior como jornalista, pedagoga, assistente social (9,8% no Questionário I), profissões de nível médio como costureira, desenhista, estilista, enfermeira (7,7% no Questionário I e 7,9% no Questionário II), ou ainda outras profissões na área jurídica, como juíza de direito, procuradora e promotora (4,5% para o Questionário II).

No caso da profissão do pai, é notável a predominância de advogados: 22,4% para os candidatos a defensores públicos e 23,6% para os recém-empossados defensores públicos. As profissões mais mencionadas em seguida foram: profissões de nível médio, como metalúrgico, eletricista, motorista, ferroviário (13,4% no Questionário I e 11,2% no Questionário II); outras profissões da área jurídica, como juiz de direito, procurador e promotor (11,2% no Questionário II); comerciante (13,4% no Questionário I e 9% no Questionário II); médico e dentista (10,1% no Questionário II), e outras como contador e corretor (11,2% no Questionário I).

Durante a preparação do Questionário II formulou-se uma pergunta sobre os irmãos do entrevistado, que não constou do Questionário I. A grande maioria dos recém-empossados defensores públicos afirmou ter irmãos (90,4%), sendo que, destes, 42,9% tinham um irmão, 38,1% tinham dois irmãos e 8,3% tinham três irmãos.

Sobre a formação em Direito, verifica-se que a maioria dos entrevistados formou-se no ano anterior ao do concurso para defensor público: dentre os que responderam ao Questionário I, 20,1% formaram-se em 1993 e, dentre os que responderam ao Questionário II, 24,5% formaram-se em 1992. As instituições de ensino apresentaram-se assim distribuídas: Cândido Mendes (17,5%), Universidade Gama Filho (14%), UFRJ (9,3%), UFF (8,7%), UERJ (8,1%), Universidade Santa Úrsula e Estácio de Sá (7,7% cada uma), para o Questionário I; e UERJ (27,4%), UFF e UFRJ (11,6% cada uma), Cândido Mendes (25%), Universidade Gama Filho

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(19,4%), PUC-RJ (7,4%) e Estácio de Sá (5,8%), para o Questionário II. Uma parte dos que responderam aos questionários fez pós-graduação lato sensu: 27% dos candidatos a defensores públicos e 18,1% dos recém-empossados defensores públicos. Ao serem convidados a indicar a área da pós-graduação, a maioria respondeu Escola da Magistratura (22% para o Questionário I e 27,8% para o Questionário II), aparecendo também as designações Processo Civil (27,8% dos recém-empossados defensores que fizeram pós-graduação), Direito Privado e Direito Processual Penal. O predomínio da Escola da Magistratura como área de pós-graduação indica certa freqüência na opção pela formação em outra carreira da área jurídica.

Chama atenção ainda a grande quantidade de entrevistados que fizeram estágio, principalmente já vinculado à assistência jurídica gratuita. Entre os candidatos a defensores públicos, 95,5% fizeram estágio; a maioria na própria faculdade (30,9%) e, em seguida, na própria Defensoria Pública (24,4%), havendo ainda um número significativo que estagiou em escritórios de advocacia (17,1%). Esse padrão se repete basicamente entre os recém-empossados defensores públicos, cuja maioria também fez estágio (93,6%): 32,6% na Defensoria Pública, 28,1% na faculdade e 11,2% em escritórios de advocacia. A maioria estagiou por dois anos (62,6% para os candidatos a defensores e 64,6% para os recém-empossados defensores). Esse resultado indica provavelmente que a socialização do estudante no mercado de trabalho constitui regra generalizada, podendo ser considerada indispensável para o desenvolvimento de carreiras na área jurídica. Perguntados sobre experiências anteriores na área de assistência judiciária, os entrevistados indicaram, em sua maioria, o próprio estágio como local dessa experiência.

Outra prática possivelmente comum no ingresso no mercado de trabalho na área jurídica é a preparação para concursos públicos em cursos especializados. Dos que responderam ao Questionário II, 66,7% haviam feito cursos preparatórios para o concurso de defensor público, sendo que, destes, a maioria freqüentou o curso por dois anos (20,8%), pela manhã (60,5%) e no Centro (82,6%). Entretanto, perguntados sobre os principais fatores que determinaram sua aprovação no concurso, os recém-empossados defensores apontaram o fato de terem feito curso preparatório em quarto lugar (10,3%), atrás da boa formação escolar (25,3%), da boa faculdade (20,7%), do apoio familiar e da disponibilidade de tempo para o estudo (15%, cada um).

A maior parte dos que responderam a ambos os questionários afirmou estar fazendo/ter feito o concurso para defensor público pela primeira vez: 54,3% dos candidatos ao XI Concurso, e 55,3% dos aprovados no X Concurso. Não raro, contudo, os entrevistados prestaram também o concurso imediatamente anterior: 54,1% dos não estavam fazendo o XI Concurso pela primeira vez haviam sido candidatos ao X Concurso, e 62,5% dos recém-empossados defensores que não fizeram o X Concurso pela primeira vez haviam sido candidatos ao IX Concurso.

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Entre as principais razões para se candidatar aos concursos para defensor público, os entrevistados apontaram a vocação e a realização profissional (18,5% para o Questionário I e 25% para o Questionário II), bem como a relevância social da atividade e a possibilidade de atender a população carente (30,6% para o Questionário I e 23,9% para o Questionáiro II) como fatores principais. As duas razões apareceram, inclusive, conjugadas em diversas respostas (em 13,7% das respostas do Questionário I e em 21,8% das respostas do Questionário II). Além dessas razões, foram apontadas as vantagens da carreira, a estabilidade e a obtenção de salário como elementos que motivaram a realização do concurso: em 19,4% dos Questionários I respondidos e em 16,3% dos Questionários II respondidos, esse fator aparece como resposta, seja isolado, seja conjugado com outros fatores. É possível que esse tipo de resposta tenha como motivação particular a reversão do quadro desfavorável que predominava na carreira até fins de 1994. Outras motivações, ainda que em menor escala, foram citadas: treinamento para outra carreira, a possibilidade de trabalhar em diferentes ramos do direito, a honestidade do concurso para defensor público, ou ainda a possibilidade de lutar contra a opressão do governo do estado. Nesse último caso, observa-se uma sintonia com a opinião corrente nos setores mais engajados da Defensoria Pública do Rio de Janeiro no que diz respeito à defesa da instituição.

Aos recém-empossados defensores públicos foi ainda dirigida uma pergunta sobre as expectativas face à nova carreira. As respostas acabaram se revelando muito semelhantes às que foram dadas como razões para a realização do concurso. Em ambos os questionários, as perguntas sobre as motivações e as expectativas em relação à carreira foram formuladas de modo a possibilitar respostas discursivas. Ainda que cada entrevistado tenha usado suas próprias palavras, foi possível constatar claramente o predomínio de respostas enfatizando a vocação, a realização profissional e a possibilidade de se sentir útil ao atender a população carente. Esses fatores foram predominantes também nas respostas sobre as expectativas face à carreira dos que responderam ao Questionário II: eles apareceram em 69,3% dos questionários. Além deles, outros elementos também foram mencionados. Assim, 8,2% dos entrevistados deram uma resposta de cunho mais reivindicatório e político, afirmando que esperam um melhor status para a carreira, como o reconhecimento pelo estado e a autonomia orçamentária, e 3,5% dos entrevistados afirmaram esperar da carreira que ela lhes desse estabilidade e salário. Finalmente, expectativas como treinamento para outra carreira, chegar ao segundo grau de jurisdição, ou ainda travar uma árdua batalha também foram mencionadas.

Por fim, à última pergunta dos questionários, sobre a cor do entrevistado, boa parte não respondeu: 31,9% para o Questionário I e 15,8% para o Questionário II. Dos que responderam, a grande maioria designou sua cor como "branca" ou "branco" (93,7% para o Questionário I e 90% para o Questionário II); alguns a designaram como "negra" ou "negro" (2,7% para o Questionário I e 3,8% para o Questionário II), "parda" ou "pardo" (3,7% para o Questionário I e 0,9% para o Questionário II), "morena" ou "moreno" (2,7% para o Questionário I e 1,3% para o Questionário II), ou ainda "mulata" (1,3% para o Questionário II).

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III - Considerações finais

Claro está que uma pesquisa sobre a assistência jurídica gratuita, em especial sobre a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, dada a importância do tema, deve ter desdobramentos. O levantamento feito nessa primeira etapa não é suficiente para permitir um conhecimento aprofundado sobre a história e o papel da instituição. Ainda assim, o material levantado possibilita tecer algumas considerações.

No que diz respeito ao perfil do defensor público e mesmo do candidato a defensor público, parece haver um engajamento comum em torno de um ideal, ou melhor, da consciência da difícil combinação entre a letra da lei e aquilo que ocorre na prática. Tanto no discurso dos defensores públicos mais engajados, corroborado por muitas das notícias de jornal, quanto nas respostas a ambos os questionários, transparece a idéia de uma utilidade social da carreira, uma espécie de missão a que estariam voltados todos os defensores públicos, para diminuir a desigualdade em nossa sociedade. Pode-se dizer que o discurso dos defensores mais experientes e antigos é reproduzido pelas novas gerações, fornecendo as bases de uma identidade profissional.

A identidade do defensor público se formaria, então, a partir de quatro elementos. Em primeiro lugar, em torno do ideal de uma prática eminentemente social. À semelhança do médico de hospitais públicos ou do interior, o defensor público teria a missão de prover, o mínimo que fosse, de Justiça a população carente. Em segundo lugar, a identidade profissional se constituiria em torno da luta pela institucionalização da Defensoria Pública como única forma de garantir, em uma sociedade desigual como a nossa, a Justiça para todos. Como conseqüência dos dois elementos anteriores, o defensor público passa a distinguir-se — e, portanto, a constituir mais um elemento de sua identidade — das outras carreiras da área jurídica, como as da Magistratura e do Ministério Público, pelo fato delas não serem exclusivamente voltadas para o atendimento da população carente, apesar de igualmente indispensáveis para o funcionamento da ordem jurídica, e pelo fato delas já serem institucionalizadas. E mais: além dos juízes e promotores, o defensor público se diferencia dos advogados, que não têm aquele compromisso social e dependem de uma clientela suficientemente abastada que possa pagar seus honorários.15 Desse ponto de vista, pode-se falar de mais um elemento

diferenciador entre a carreira de defensor público e as outras carreiras da área jurídica: a remuneração. Além de distinguir-se por sua missão em atender a população carente, o defensor público recebe menos dinheiro por seu trabalho do

15 Cabe notar que ao defensor público é vedado o exercício da advocacia fora das atribuições

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que seus pares, os juízes, os promotores e os advogados. Pode-se dizer que essa combinação entre a missão social e a menor remuneração resulta em um componente de sacrifício, que poderia sintetizar a especificidade da profissão de defensor público em relação às demais. Finalmente, o quarto elemento constitutivo da identidade dos defensores públicos seria sua união em torno da luta contra o Estado não provedor de assistência jurídica gratuita, isto é, contra um Estado (tanto a União, quanto as unidades da federação) que não cumpre o disposto na lei.

Referências

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