SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
PARADIGMAS DE MUDANÇA SOCIAL:
OS 50 ANOS DE 1968 13
DANIEL AARÃO REIS
LA RECEPCIÓN DEL MAYO FRANCÉS EN CHILE:
REPERCUSIONES DE UNA ATMÓSFERA
REVOLUCIONARIA ESTUDIANTIL GLOBAL 37
PATRICIO ARRIAGADA JAVIER OSORIO
MÉXICO 68: EL GRITO Y EL SILENCIO:
LA CONSTRUCCIÓN DE UNA FRONTERA
ENTRE LA GUERRA SUCIA Y LA DEMOCRACIA 81
ADRIÁN VELÁZQUEZ RAMÍREZ
MÉXICO ‘68: MEMÓRIAS OLÍMPICAS 99
LÍVIA GONÇALVES MAGALHÃES
MAIO DE 1968 NA ÁFRICA:
A REVOLTA DA UNIVERSIDADE SENEGALESA 123
OMAR GUEYE
DIÁLOGOS POLÍTICOS E ESTÉTICOS PARA PRÁTICAS AFRICANAS EXPRESSIVAS: ANÁLISE DO FILME
MONAGAMBÉEE (1968) DE SARAH MALDOROR 145
MARINA BERTHET
À SOMBRA DA HISTÓRIA:
MEMÓRIAS DE 1968 NA ALEMANHA 159
HAJO FUNKE
SONHAR À SOMBRA DE AUSCHWITZ:
O 68 ALEMÃO 177
VINÍCIUS LIEBEL
REFLEXIONES SOBRE LA
INVASIÓN DE CHECOSLOVAQUIA
A LA LUZ DE LOS ARCHIVOS (1968) 191
CLAUDIO SERGIO INGERFLOM
1968 CINQUENTÃO: REBELDIA E INTEGRAÇÃO 199
MARCELO RIDENTI
SOBRE AS ORIGENS E MOTIVAÇÕES
DO ATO INSTITUCIONAL 5 223
RODRIGO PATTO SÁ MOTTA
“TROUBLE EVERY DAY”:
1968 NOS ESTADOS UNIDOS 249
THADDEUS BLANCHETTE RAQUEL BARRETO
“MAIO DE 1968 ‒ 17 DE NOVEMBRO DE 2018”:
UMA MESMA LUTA? 293
DANIELLE TARTAKOWSKY
SOBRE OS AUTORES 317
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APRESENTAÇÃO
Este livro é resultado de um seminário dedicado à refle- xão sobre os 50 anos de 1968, organizado pelo Núcleo de Es- tudos Contemporâneos/NEC, no Instituto de História da Uni- versidade Federal Fluminense/IH-UFF. O evento ocorreu em Niterói, entre 23 e 25 de outubro de 2018.
O objetivo foi reunir pesquisadores de vários países e instituições diversas para debater questões importantes sus- citadas pelos conturbados anos 1960, algumas das quais con- tinuam sendo objeto de controvérsias e embates sociais e polí- ticos. Também procuramos abranger experiências históricas e geográficas diversificadas, pois muito diversas foram as vivên- cias daqueles anos emblemáticos.
O seminário teve duas conferências – de abertura e de encerramento – e cinco Mesas, cujo conteúdo passa- mos a apresentar.
Daniel Aarão Reis, da Universidade Federal Fluminense, proferiu a conferência de abertura: “Aproximações, contrastes e contradições entre paradigmas de mudança social: os 50 anos de 1968”. O autor comparou os padrões de mudança social ba- seados na tomada do poder de Estado pela violência revolucio- nária, instaurados pelas revoluções russas no início do século XX, aos novos padrões baseados nas lutas sociais, na conquista gradual dos direitos e no “reformismo revolucionário”, que te- riam sido introduzidos pelos movimentos dos anos 1960.
Em seguida, os participantes da Mesa 1 consideraram os movimentos dos anos 1960 no contexto de Nuestra America.
Patrício Arriagada, da Universidade Católica de Chile e da Universidade Finis Terrae, apresentou um artigo intitula-
do “La recepción del Mayo francês en Chile: repercusiones de una atmosfera revolucionaria estudiantil global” (“A recepção do Maio francês no Chile: repercussões de uma atmosfera re- volucionária estudantil global”). No texto, escrito em parceria com Javier Osorio, da Universidade chilena Alberto Hurtado, examinaram-se os impactos dos movimentos de 1968 sobre as lutas sociais no Chile, tendo como fontes revistas culturais – de esquerda e de direita – que analisaram tais movimentos se- gundo suas óticas particulares.
Adrián Velázquez, da Universidade Nacional de San Martín, Argentina, discutiu o processo político no México em seu trabalho “México, 68: el grito y el silencio. La construcción de una frontera entre la guerra sucia y la democracia” (“México, 68: o grito e o silêncio. A construção de uma fronteira entre a guerra suja e a democracia”). O autor discutiu a pluralidade das memórias políticas e sociais do movimento estudantil me- xicano em 1968, bem como suas diversas tendências internas.
Ele também questionou o que há ainda de obscuro no desven- damento do processo, em particular a repressão desencadeada no quadro de comemorações unilaterais.
Em “México ’68: memórias olímpicas”, Lívia Gonçalves Magalhães, da Universidade Federal Fluminense, problemati- zou as memórias produzidas pelo Comitê Olímpico Interna- cional/COI e pelo Comitê Olímpico Mexicano/COM sobre os Jogos Olímpicos do México, realizados em outubro de 1968. A autora ainda estabeleceu um contraponto com os questiona- mentos e protestos ocorridos na cidade do Rio de Janeiro por ocasião dos Jogos Olímpicos de 2016.
Os pesquisadores da Mesa 2 investigaram processos ocorridos em África.
Em seu artigo “Maio de 1968 na África: a revolta da uni- versidade senegalesa”, Omar Gueye, da Universidade Cheikh Anta Diop, de Dakar, analisou o movimento estudantil senega- lês e suas conexões internacionais e africanas, evidenciando as especificidades regionais e locais. Ao mesmo tempo, ele discu- tiu as características do movimento e os legados que permane- cem até os dias atuais.
Marina Berthet, da Universidade Federal Fluminense, apresentou “Diálogos políticos e estéticos para práticas africa-
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nas expressivas. Análise do filme Monagambéee (1968), de Sa- rah Maldoror”. A partir do conceito de “práticas expressivas”, de Rui Cidra, a autora propôs um debate sobre a contribuição do cinema militante africano, em especial dos filmes de Sarah Maldoror, no contexto dos movimentos dos anos 1960.
Da África, o foco do seminário, na Mesa 3, deslocou-se para a Europa, com dois estudos sobre os movimentos dos anos 1960 na Alemanha.
Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlim, compar- tilhou suas memórias de estudante no quadro das lutas so- ciais empreendidas nos anos 1960 em seu artigo “À sombra da História – memórias de 1968 na Alemanha”. O autor analisou o desvelamento do passado nacional-socialista e o debate ale- mão sobre o trauma do nazismo, mostrando suas especificida- des e conexões internacionais.
Vinícius Liebel, da Universidade Federal do Rio de Janei- ro, abordou a mesma questão de um ângulo historiográfico em seu artigo “Sonhar à sombra de Auschwitz – o 68 alemão”. Ele apresentou um balanço do movimento estudantil, especial- mente em Berlim Ocidental, com a denúncia do legado nazista e a gênese de uma luta – ainda em curso – pela desnazificação do país. Também discutiu as relações internacionais e as ques- tões da solidariedade com os povos do então chamado “terceiro mundo” e da autonomia dos movimentos em face das institui- ções políticas tradicionais.
Ainda em relação ao continente europeu, mas com foco nos regimes socialistas, Claudio Sergio Ingerflom, da Univer- sidade San Martin, discutiu o processo da “Primavera de Pra- ga”, na então Tchecoslováquia, em seu trabalho “Reflexiones sobre la invasión de Tchecoslováquia a la luz de los archivos (1968)” (“Reflexões sobre a invasão da Tchecoslováquia à luz dos arquivos [1968]”), mostrando como e por que desencadeou-se a invasão, liderada pela União Soviética, que liquidaria com o
“socialismo de rosto humano”.
Os pesquisadores que integraram a Mesa 4 dedica- ram-se a estudar o “caso brasileiro”, no contexto nacional e internacional.
Marcelo Ridenti, da Universidade Estadual de Campi- nas, em seu artigo “1968 cinquentão: rebeldia e integração”,
discutiu as apropriações plurais dos movimentos dos anos 1960, explorando as hipóteses de mudanças reais efetuadas ou/e de institucionalização das demandas. Apesar das mudan- ças substantivas, sobretudo considerando-se o cotidiano de diferentes categorias sociais, um processo de “institucionali- zação” teria prevalecido, evidenciando no sistema capitalista uma grande capacidade de integrar, incorporar ou mesmo do- mesticar reivindicações que se caracterizavam como “alterna- tivas” no quadro das lutas dos anos 1960.
Rodrigo Patto Sá Motta, da Universidade Federal de Minas Gerais, fechou o foco num episódio particular, mas de grande impacto histórico: o Ato Institucional n° 5, de dezem- bro de 1968, que radicalizou a ditadura no Brasil. Em seu texto
“Sobre as origens e motivações do AI-5”, discutiram-se as ra- zões e as desrazões que levaram à edição do sinistro Ato. Com base em documentação norte-americana, evidenciou-se uma pluralidade de análises da parte de lideranças políticas, milita- res e empresariais, colocando-se em relevo a intenção decisiva dos autores do Ato de silenciar os liberais autoritários, mais do que atacar as oposições radicais de extrema-esquerda.
Na Mesa 5, tratou-se dos movimentos dos anos 1960 nos Estados Unidos, quando questionamentos múltiplos agitaram a sociedade de forma profunda.
Thaddeus Blanchette e Raquel Barreto, ambos da Uni- versidade Federal Fluminese, inspiraram-se em As veias aber- tas da América Latina, de Eduardo Galeano, para construir um painel – formado de vinhetas, ilustradas por imagens – sobre o caráter multifacetado e, não raro, radical das lutas sociais nos Estados Unidos. Em seu artigo “Trouble every day – os EUA em 1968”, percebe-se a importância – e o caráter inspi- rador – do “68” norte-americano, uma questão frequente- mente subestimada.
Na conferência de encerramento, Danielle Tartakowsky, da Universidade de Paris-8, apresentou o artigo “Maio de 68
‒ 17 de novembro de 2018: uma mesma luta?”. A autora investi- gou os diversos legados, as múltiplas apropriações e as memó- rias – por vezes contraditórias – elaboradas por atores e movi- mentos sociais distintos, a respeito do “68” francês.
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Queremos crer que o seminário produziu, no encadea- mento de diferentes pontos de vista, uma real contribuição a uma melhor compreensão dos acontecimentos dos anos 1960 e dos legados dessas lutas tão marcantes.
Cabe finalmente agradecer aos autores, pela autorização da publicação dos artigos, alguns dos quais publicados tam- bém em outras obras; a Anne-Marie Milon Oliveira, pela tra- dução dos textos de Omar Gueye e de Danielle Tartakowsky;
às agências de fomento FAPERJ e CNPq, pelo apoio concedido;
e à Editora da Universidade Federal Fluminense/EDUFF, pela acolhida, em boa hora, desta publicação.
Comissão Organizadora Daniel Aarão Reis Janaína Martins Cordeiro Lívia Magalhães Norberto Ferreras