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45º Encontro Anual da ANPOCS. GT12 - Dinheiro, interesses e democracia: estratégias de ação e influência no sistema político

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45º Encontro Anual da ANPOCS

GT12 - Dinheiro, interesses e democracia: estratégias de ação e influência no sistema político

PARENTES DE POLÍTICOS NA COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS: UMA

ANÁLISE TOPOLÓGICA RELAÇÕES DE FINANCIAMENTO ELEITORAL

Tainá R. Serafim

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná. Trabalho apresentado para o evento 45º Encontro Anual da ANPOCS.

Matinhos

20 de setembro de 2021

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Título

PARENTES DE POLÍTICOS NA COMISSÃO DO MEIO AMBIENTE E

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA CÂMARA DOS DEPUTADOS: UMA ANÁLISE TOPOLÓGICA RELAÇÕES DE FINANCIAMENTO ELEITORAL Resumo

O acirramento da disputa eleitoral de 2014 resultou em um Congresso Nacional pulverizado partidariamente, liberal na economia e temeroso em temas ambientais. Para acessar tais cargos os parlamentares que formam esse perfil tiveram vários financiadores de campanha e posicionaram-se, estrategicamente, no fluxo de recursos transacionados entre empresas, candidatos e agentes partidários. A partir do mapeamento do perfil e da rede de financiamento eleitoral dos deputados que compuseram a Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) durante a 55ª Legislatura (2015-2019), este trabalho tem como objetivo responder à seguinte questão: possuir vínculo de parentesco com políticos de carreira (ou políticos profissionais) facilita o acesso do candidato a financiadores de campanha? Diante de uma estrutura de financiamento que projeta certas candidaturas e cerceia outras, é levantada a hipótese de que o pertencimento à bancada dos parentes tem impacto no financiamento eleitoral.

palavras-chave:

Financiamento Eleitoral; Perfil Parlamentar; Bancada dos Parentes; Câmara dos Deputados; Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável.

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INTRODUÇÃO

A eleição de 2014 ocorreu em um cenário de polarização ideológica, descrença na classe política e na efetividade das instituições, resultando em um Congresso Nacional pulverizado partidariamente, liberal na economia e conservador, tanto nos costumes, quanto em temas de direitos humanos e ambientais (DIAP, 2014). Tal como em eleições anteriores, as receitas das candidaturas podiam ser compostas a partir de quatro fontes, principais: pessoas jurídicas (empresas), pessoas físicas, recursos do próprio candidato e aqueles advindos do fundo partidário (fonte pública). Porém o pleito trazia uma peculiaridade. A necessidade de identificação de doadores originários de repasses, ou seja, doações intermediadas, especialmente por partidos políticos A partir da aprovação da Lei 13.165/2015 (BRASIL, 2015) que proíbe investimentos empresariais, o financiamento passa a ser exclusivamente público ou por doações de pessoas físicas.

Portanto, para aumentar as chances de se eleger, os candidatos precisavam, principalmente, posicionar-se estrategicamente no fluxo de recursos transacionados em um conjunto de doações que partiam: a) de empresas para candidatos e agentes partidários; b) de agentes partidários para candidatos. A partir do mapeamento do perfil e da rede de financiamento eleitoral dos deputados que compuseram a Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS) durante a 55ª Legislatura (2015-2019), este trabalho tem como objetivo responder à seguinte questão: possuir vínculo de parentesco com políticos de carreira (ou políticos profissionais) facilita o acesso do candidato a financiadores de campanha?

A investigação do impacto do financiamento eleitoral na estrutura de decisão da Câmara Federal evidencia o peso dos custos eleitorais no Brasil, chegando uma campanha para deputado a não custar menos de 2 milhões de reais (HOROCHOVSKI et al., 2016). Esse cenário incentiva partidos políticos a priorizar nomes com acesso a

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financiadores privados e a máquina pública. Diante de uma estrutura de financiamento de campanha que projeta certas candidaturas, enquanto cerceia outras, é levantada a hipótese de que o pertencimento à bancada dos parentes é fator explicativo para o financiamento eleitoral.

A pesquisa aqui proposta pretende contribuir para a bibliografia que focaliza determinantes de financiamento eleitoral, ou seja, o que é levado em conta quanto uma empresa decide investir em determinada campanha. Para isso, foram utilizadas ferramentas e medidas da Teoria de Análise de Redes Sociais (ARS) e da Teoria dos Grafos como metodologia para o exame topológico e modular da estrutura de financiamento de campanha dos membros da CMADS. Além disso, Miguel et. al (2015) ressaltam que a presença de famílias na política é um tema pouco considerado nos estudos brasileiros, ainda que relevante nas análises sobre carreiras políticas. O presente trabalho, portanto, pretende contribuir para o preenchimento dessa lacuna.

O exercício de mapear a estrutura de financiamento eleitoral dos deputados membros da CMADS, durante a 55ª Legislatura, dá indícios da própria estrutura de financiamento eleitoral do Brasil, e da posicionalidade de políticos parentes de figuras conhecidas da vida pública, nessa estrutura. A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável pode ser entendida como um lócus decisório da produção normativa sobre modelos de desenvolvimento no país (mais ou menos sustentável), razão da sua escolha para este estudo.

O objetivo é verificar se relações de parentescos entre políticos oferecem benefícios aos candidatos, em termos de financiamento eleitoral. Sendo dois objetivos específicos: (a) identificar as redes de financiamento eleitoral dos deputados que compõem a 55ª legislatura da CMADS e (b) identificar as posições que ocupam os deputados representantes da bancada dos parentes nessa estrutura.

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Além dessa introdução, o artigo conta com a quatro partes: a primeira destinada a discussão teórica sobre o tema, para elucidar alguns conceitos relevantes para a interpretação dos resultados; a segunda parte descreve a metodologia e ferramentas utilizadas na pesquisa; em seguida os resultados são apresentados e discutidos para, enfim, chegar em algumas conclusões provisórias sobre o tema.

DISCUSSÃO DE LITERATURA

Partidos nem sempre abarcam anseios específicos de determinados setores sociais. Surgem, então, grupos suprapartidários com o propósito de organizar pautas para que possam ser debatidas e projetos levados à votação. (DIAP, 2014, p. 94). Funcionando sem qualquer registro formal, as bancadas são grupos amplos que reúnem parlamentares de diversos partidos e frentes temáticas, formalmente registradas (ARAÚJO e SILVA, 2016, p. 11). Elas têm mais poder de promover interesses e menos de determinar o voto.

Diante da decisão do TSE, formalizada pela Resolução nº 22.620/2017, que diz respeito à fidelidade partidária, o parlamentar só vota com a bancada se a decisão do seu partido convergir ou o partido liberar seus representantes. De modo geral, essas bancadas são vistas como canais associados à atividade de lobby, ainda que existam diferenças na natureza, origem e na forma de atuação de cada uma (ARAÚJO e SILVA, 2016, p. 1). Na compreensão de Araújo e Silva (2016):

[...] além dos partidos e das estratégias do lobby, as frentes e bancadas parlamentares temáticas podem adicionar compreensão mais ampla sobre o dinamismo das propostas e dos interesses que disputam espaço na agenda política, na medida em que agrupam interesses de várias naturezas e adotam

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estratégias que não somente incorporam, mas também extrapolam os mecanismos do lobby (ARAÚJO e SILVA, 2016, p. 5).

Na literatura acadêmica, o conceito de lobby refere-se à defesa de interesses diante de membros do poder público tomadores de decisão (MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 120), e pode ocorrer de forma lícita ou ilícita, sendo a formação de bancadas parlamentares, uma maneira lícita de exercerlobby.Os autores alertam para o fato de que

“uma visão maniqueísta da atividade atrapalha o aprofundamento da análise sobre sua prática no Brasil” (MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 122).

Mancuso e Gozetto (2011) argumentam que o lobby pode ser um instrumento à disposição dos segmentos sociais para a reivindicação de suas demandas e, nesse sentido, promover a defesa pública e aberta de interesses. Uma vez que “tomadores de decisão são confrontados com uma grande variedade de questões sobre as quais precisam deliberar, mas em relação às quais possuem informações apenas incompletas”

(MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 122), em tese, diferentes lados da mesma questão podem ter lobistas ativos, operando em controle mútuo (MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 122).

No entanto, diante da desigualdade de representação, que imprime nos atores sociais diferentes capacidades de levar a cabo seus interesses, o lobby pode se tornar um mecanismo de desequilíbrio de atuação e concessão de privilégios injustificáveis. Dentre os recursos políticos importantes nessa equação, o dinheiro é um dos mais versáteis. Ele

“pode ser utilizado de formas mais diferentes para o alcance do mesmo fim: a influência política” (MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 124).De fato, o dinheiro pode viabilizar numerosas atividades, como, por exemplo, o financiamento de campanhas eleitorais.

Quando a capacidade dos lobbies é muito desequilibrada, os interesses de grupos mais fortes “arrancam privilégios injustificáveis do poder público, as desigualdades já

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existentes podem ser ainda mais reforçadas e o interesse público é colocado sob grave ameaça” (MANCUSO e GOZETTO, 2011, p. 125).

Em “Dicionário de Política” (BOBBIO et al., 1998), Pasquino afirma que a definição mais explícita do que seria grupos de interesse se acha em Truman, para o qual grupo de interesse é qualquer grupo que, a partir de ações de participação, leva a cabo

“certas reivindicações em relação a outros grupos sociais, com o fim de instaurar, manter ou ampliar formas de comportamento que são inerentes às atitudes compartilhadas" (PASQUINO, 1982 apud. BOBBIO, 1998, p. 564).

A compreensão de uma bancada enquanto grupo de interesse é dificultada pela falta de dados, devido a informalidade desse tipo de organização. Sendo um tema ainda pouco explorado nos estudos acadêmicos, as bancadas são fruto de uma crescente pluralidade de representação e complexidade das reivindicações (ARAÚJO e SILVA, 2016). Mesmo assim, o termo “bancada dos parentes” será utilizado neste trabalho para denominar o grupo informal, existente dentro da Câmara de Deputados, que reúne parlamentares com familiares políticos. Tais parlamentares, são detentores do que Miguel et. al (2015) chamam de “capital familiar”, ou seja, “a existência de parentes ocupando posições de liderança política” (MIGUEL et. al, 2015, p. 721). Segundo os autores, trata-se de um “capital” pois:

[…] fornece a seu detentor um conjunto de conhecimentos sobre o funcionamento do campo, uma marca dotada de certo valor (seu sobrenome), uma visibilidade derivada do parente mais importante e, em especial, uma rede de contatos com outros operadores políticos, de cabos eleitorais e dirigentes partidários a financiadores de campanha e jornalistas, que podem favorecer sua própria carreira. (MIGUEL et. al, 2015, p. 721 a 722)

Para o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, a eleição de parentes reforça a tese de circulação de poder: “Em geral, parentes mais próximos como

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pais, filhos e cônjuges são herdeiros eleitorais uns dos outros e compartilham o mesmo perfil político e ideológico” (DIAP, 2014, p. 114). Já para Miguel et. al, o capital familiar:

[…] opera pela convivência cotidiana com as transações da política, facilitando o acesso aos códigos do métier e às redes de compromissos e lealdades. E opera também pela formação de clãs políticos, cujos integrantes são estimulados ou mesmo constrangidos a ocupar os espaços que os membros mais velhos ou mais importantes deixam para trás. (MIGUEL et. al, 2015, p.

721 a 722)

Trata-se de um tema diretamente ligado à questão do recrutamento de lideranças.

Se partidos políticos, movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil não investem em formação política e cívica, capaz de motivar pessoas com vocação para a liderança ao exercício de cargos públicos, abre espaço para candidatos que possuem relações de parentesco com políticos tradicionais. Tal condição não desqualifica ninguém para concorrer a um cargo público, contudo, o DIAP chama atenção para a ocorrência de candidaturas de parentes sendo lançadas “para manter feudos eleitorais, substituir candidatos com ficha suja ou para evitar que outras forças políticas assumam o poder na unidade da Federação” (DIAP, 2014, p. 114).

Argumentos contrários à hipótese trazida neste paper são lançados por Marenco (1997) que investiga a trajetória percorrida por candidatos e o tempo investido na carreira política até a conquista de uma cadeira parlamentar. O estudo busca identificar mudanças nos padrões de recrutamento parlamentar durante dois ciclos democráticos: 1946/62 e 1986/94. O autor ressalta que:

Durante as oito legislaturas examinadas, a frequência de parlamentares ligados a políticos por laços de parentesco se situou em torno de 25,8 por cento do total de deputados eleitos. Entre aqueles que chegaram CD com menos de quatro anos na carreira, sua incidência foi ligeiramente inferior (24,1 por cento), sugerindo que, além da experiência política, não dispunham também do

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prestígio herdado graças a antecedentes familiares, como compensação para a carência de um capital político institucional (MARENCO, 1997, pg. 4).

Mesmo assim, reconhece a possível influência de um ambiente familiar que estimule a opção pela política, podendo levar a uma incursão mais precoce no campo político:

Também a presença da política na família revela discrepâncias entre os dois grupos: apenas 17,5 por cento dos parlamentares que ingressaram na carreira após os 40 anos possuem parentes ascendentes em cargos políticos. Entre aqueles com début antes dos 30 anos, a frequência de laços de parentesco ascendente com políticos chegou a 34,7 por cento (MARENCO, 1997, pg. 7).

Estudos sobre eleições posteriores, no entanto, refutam os achados de Marenco (1997). Miguel et. al (2015) analisam as trajetórias políticas dos eleitos para a Câmara dos Deputados nas três primeiras eleições brasileiras ocorridas no século XXI (2002, 2006 e 2010), a partir de um banco de dados que reuniu 1.539 casos, relativos a 983 diferentes deputados e deputadas, afinal, se a pessoa foi eleita mais de uma vez ela representa mais de um caso. O estudo observa a presença de diferentes tipos de capital político originário, em particular o familiar. Os autores ressaltam que, a rigor, os dados utilizados dizem respeito mais à “presença de famílias políticas”, do que ao “capital familiar” em si.

Os achados dessa pesquisa mostram que a presença de família política é a terceira maior fonte de capital político, perdendo apenas para o poder econômico, que fica em segundo lugar, e para a ocupação de cargos anteriores, que é o fator de mais impacto no ingresso de parlamentares. “No período sob análise, 87,3% dos vitoriosos para a Câmara dos Deputados haviam sido eleitos para algum cargo em disputas anteriores”

(MIGUEL et. al, 2015, p. 729 e 730). A relevância do poder econômico é constatada em 56,9% dos casos, enquanto a presença de família política é identificada em 40,7% dos eleitos e eleitas (MIGUEL et. al, 2015, p. 730). Além disso:

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Há um crescimento monótono e significativo da presença de família política em cada uma das eleições sob análise […] Trata-se do maior crescimento entre todas as categorias (10,7 pontos percentuais de 2002 e 2010), seguido, de longe, pelo capital econômico (4,7 pontos percentuais). (MIGUEL et. al, 2015, p. 730).

Mesmo divergindo dos resultados apresentados por Marenco (1997), a pesquisa também encontra convergência entre faixa etária do candidato e relação de parentesco, demonstrando que a presença de familiar político é mais frequente entre os mais jovens, representando 65,1% dos nascidos de 1970 em diante (MIGUEL et. al, 2015, p. 731). O estudo conclui também que, no que se refere às regiões do país, o Centro-Oeste, Nordeste e Norte apresentam maior proporção de deputados federais com vínculos políticos familiares. Todavia, o comportamento não é linear em todos os anos, e as únicas tendências constantes são “a maior presença das famílias políticas entre os eleitos do Nordeste e a tendência ao crescimento dessa característica em todas as regiões”

(MIGUEL et. al, 2015, p. 732).

Por último, vale destacar que, somada as três eleições, a presença de capital familiar é mais frequente em deputados e deputadas federais pertencentes à partidos de direita ou de centro. “[…] são 50,5% dos eleitos pelos partidos de centro e 43,3% dos partidos de direita, contra 30,3% dos de esquerda” (MIGUEL et. al, 2015, p. 733). Esse fator também é relevante para o ingresso de mulheres na política. Embora reconheça que o capital familiar também possui peso entre os homens, “considera-se que para eles é apenas um recurso entre muitos outros” (MIGUEL et. al, 2015, p. 728). Os resultados dessa pesquisa comprovam que o pertencimento às famílias políticas é, de fato, maior entre as mulheres, estando presente em 53,1% das eleitas nos três pleitos. Contudo, esse

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fator não deixa de ser significativo para o homem, e 39,5% deles são detentores desse tipo de capital político.

A literatura sobre comportamento partidário aponta para o fato de que os partidos políticos se orientam por um pequeno conjunto de objetivos: busca por políticas públicas, votos ou benefícios de gabinete; enquanto que os líderes partidários se esforçam para alcançar o cargo (office) (STROM & C. MULLER, 1999, p. 5). Portanto, é provável que o objetivo dos deputados membros da CMADS seja permanecer na comissão. Uma vez que a busca por cargos pode ter valor intrínseco ou instrumental (STROM & C.

MULLER, 1999), esses atores podem estar interessados simplesmente nos privilégios oferecidos pelo cargo ou podem enxergar o cargo como veículo para ganhar vantagens sobre o eleitorado ou afetar políticas públicas. Nesse sentido, resultados de pesquisas que utilizam a metodologia de Análise de Redes Sociais sugere que “para ser bem-sucedido eleitoralmente um candidato deve ter vários financiadores, estar próximo dos demais atores e colocar-se em posições privilegiadas nos fluxos relacionais que estes estabelecem entre si” (HOROCHOVSKI et al., 2016, p. 44).

As características das bancadas importam nos processos decisórios. Ao cruzar os dados de financiamento eleitoral com uma série de atributos, como o pertencimento à bancada ruralista e o recebimento de doações de empresas ligadas ao agronegócio, Horochovski et al. (2016) perceberam que os deputados que rejeitaram o Substitutivo do Senado ao Projeto de Lei (PL) Nº 1.876/1999, o que culminou na aprovação no novo Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), não levaram em conta a opinião acadêmica, contrária às alterações contidas no novo código:

[...] a decisão majoritária dos parlamentares não levou em consideração a opinião pública e a opinião qualificada da comunidade científica e outros especialistas. Torna-se altamente interessante e necessário investigar outros

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fatores envolvidos, dos quais destacamos o interesse direto de financiadores de campanha ligados ao agronegócio. (HOROCHOVSKI et al., 2016, p. 12)

No campo da ciência política, principalmente no que diz respeito ao financiamento eleitoral no Brasil, Mancuso (2014) divide a produção bibliográfica sobre o tema em três eixos: (i) trata da relação entre investimento e desempenho eleitoral, para afirmar uma equação já conhecida em que mais recurso financeiro reverte-se em maior quantidade de votos; (ii) que relaciona o financiamento eleitoral e os benefícios aos financiadores; e o (iii) focaliza determinantes de financiamento eleitoral, ou seja, o que é levado em conta quanto uma empresa decide investir em determinada campanha. Assim, é possível afirmar que a pesquisa aqui proposta se enquadra no eixo(iii),investigando se o vínculo político familiar é levado em conta por financiadores de campanha no momento em que decidem realizar tais doações.

Os deputados federais membros da 55ª Legislatura da CMADS receberam aportes financeiros advindos, principalmente, de seus respectivos partidos políticos, comitês de campanha e de empresas privadas. Tais interações formam uma estrutura que pode ser representada por uma rede. O desenho da rede de financiamento possibilita descortinar camadas para identificar os elementos estruturantes de uma arena destinada à produção normativa sobre o uso do capital natural brasileiro. Permite ainda, identificar a forma que adquirem as relações entre deputados e financiadores de campanha no interior dessa estrutura.

Lemieux e Ouimet (2008) conceituam “análise estrutural”, afirmando se tratar de uma maneira de abordar os fenômenos sociais, na qual fica evidente a “preocupação com a forma estável ou evolutiva que adquire a relação com os atores” (LEMIEUX &

OUIMET, 2008, p. 15). Essa forma é desenhada a partir das trocas permanentes e por

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vezes hierárquicas, sendo assim, Granovetter (1973) alerta para o fato de que na ausência de dados em rede, tudo é especulação (apud HIGGINS; RIBEIRO, 2018, p. 27).

A Teoria de Análise de Redes Sociais surge como uma vertente da sociologia estrutural que “se baseia numa noção clara dos efeitos das relações sociais sobre o comportamento individual e grupal” (MIZRUCHI, 2006, p. 73). A teoria enuncia que a estrutura das relações sociais determina o conteúdo das mesmas, isso significa que “a posição de um agente numa estrutura social tem um impacto significativo no seu comportamento e bem-estar” (MIZRUCHI, 2006, p. 75). A Análise de Redes Sociais constitui um conjunto de métodos quantitativos que se aplicam a dados relacionais, desta forma, ela é ao mesmo tempo uma perspectiva e uma ferramenta.

Enquanto ferramenta, ela utiliza a Teoria dos Grafos para determinar as variáveis estruturais que comportam pelo menos duas dimensões: (1) as trocas entre os agentes e as identidades sustentadas a partir delas, (2) os recursos que circulam dentro do universo social pesquisado. Neste caso, as trocas são essencialmente as relações de financiamento de campanha e os recursos, o dinheiro doado, determinante para o acesso ao cargo (MANCUSO, 2014). Conforme orienta a Teoria dos Grafos, uma rede é composta por nós, que são os atores, e por arestas, que representam os relacionamentos entre tais agentes, sendo que os nós desta rede são os deputados, agentes partidários e empresas, enquanto as arestas são os valores transacionados através de doações de campanha.

Essencialmente, um grafo é composto por um conjunto de nomes; um conjunto de relações; e um ranking que define o “grau” dessas relações. Sendo o “grau” de cada ator determinado pelo número de conexões que ele realiza.

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METODOLOGIA

Para responder a pergunta de pesquisa, foram coletados dados de três fontes principais: (a) o Repositório de Dados Eleitorais do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que reúne dados de prestação de contas das campanhas nas eleições de 2014; (b) o portal da Câmara dos Deputados, onde foram coletados dados sobre o perfil dos membros da CMADS entre 2015 e 2019; (c) o mapeamento realizado pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP) sobre a 55ª Legislatura, publicado em 2014, que aponta os representantes da bancada dos parentes.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aloja no Repositório de Dados Eleitorais planilhas de prestação de conta de todos os candidatos que disputam eleições no Brasil desde 1945. No site do tribunal, esses dados estão dispostos por unidade federativa, resultando em 54 planilhas diferentes. A primeira tarefa foi compilar o material, referente ao período pesquisado em um banco de dados, com o gerenciadorPostgreSQL1.

Sobre o banco resultante, foi aplicado um filtro, selecionando apenas os candidatos a deputado federale seus respectivos doadores, sejam empresariais diretos e indiretos, partidos políticos ou comitês. O filtro também excluiu transações feitas por pessoas físicas, devido ao reduzido volume desse tipo de doação em detrimento dos valores doados. Ainda, o foco reside em capturar e explorar os vínculos entre entes privados, agentes partidários e parlamentares com familiares políticos, tornando doações de pessoas físicas supérfluas para o presente estudo. Em seguida, os nomes dos membros da CMADS foram filtrados no banco de dados de prestação de contas e perfil de candidaturas.

1 Neste ponto, agradeço ao Prof.º Neilor Fermino Camargo pelo trabalho na montagem do banco de dados que reúne informações de prestação de contas e os devidos códigos de cada ator: doador, doador originário e candidato.

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A tabulação do material em planilha, utilizando o programa LibreOffice Calc, permitiu estabelecer linha de corte de 180 dias de vinculação à CMADS. Nesta pesquisa, um semestre legislativo (180 dias) foi considerado o período mínimo necessário para que a atuação parlamentar possa ser, de alguma maneira, significativa. Receber doações eleitorais de empresas também foi um critério e como resultado, 67 parlamentares preencheram todos os requisitos e compõem esse estudo. Com base no levantamento do DIAP (2014) foram identificados 26 representantes da bancada dos parentes, dentre os 67 parlamentares pesquisados.

O conjunto de dados referentes a doações eleitorais forjaram uma tabela de arestas. Os nomes coletados tanto nos Relatórios de Atividades da CMADS, quanto nas prestações de contas, formaram uma tabela de nós. Segundo a Teoria dos Grafos, os

“nós” são os diferentes atores que compõem a rede, dotados de diferentes atributos. O pertencimento, ou não, à bancada dos parentes é um atributo dos candidatos. Portanto esses atores foram classificados conforme uma variável dummy (binária), correspondente a 1, se o parlamentar possuir familiares políticos ou zero, se o parlamentar não possuir tal vínculo.

No programa Gephi, as redes foram processadas, gerando estatísticas de centralidade e os grafos de rede. O programa cruza o conteúdo da planilha de arestas com o da planilha de nós e apresenta a estrutura que assume um conjunto de relações. Como resultado, foram devidamente identificados: os atores que receberam várias doações;

deputados que tiveram as campanhas mais caras da rede; candidatos que se conectam por financiadores em comum. Em seguida, os 26 nós que representam os parlamentares pertencentes a bancada dos parentes ganharam destaque no grafo, possibilitando visualizar a posicionalidade desses atores na estrutura.

Para facilitar a visualização dos parlamentares membros da CMADS e pertencentes a famílias políticas, no programa Gephi, foi aplicado um filtro que

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preservou apenas os atores – sejam candidatos, empresas, ou agentes partidários - que realizaram 5 conexões ou mais na rede.

Por último, as dados gerados noGephiforam exportados para planilhas doExcel, nelas, a classificação decrescente dos valores referentes ao grau de entrada e grau de entrada ponderado permitiram verificar, dentre os 26 membros da bancada dos parentes, os mais relevantes em termos de quantidade de doações e valores recebidos. A soma das doações eleitorais direcionadas aos 67 deputados membros da CMADS, foi comparada com os valores acumulados pelos 26 representantes da bancada dos parentes. Além disso, estatísticas descritivas foram calculadas para averiguar os resultados que serão apresentados e discutidos na próxima seção.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 DESCRIÇÃO DO PERFIL DA BANCADA DOS PARENTES NA CMADS (2015-2019):

O Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar conclui que Câmara de Deputados de 2015 a 2019 foi composta por “homens, com formação superior, com idade média de 49 anos, com experiência política ou administrativa anterior, com fonte de renda não-assalariada, pelo fato de a maioria ser formada por empresários e profissionais liberais” (DIAP, 2014, p. 18).

Neste sentido, o perfil da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável não destoa do perfil geral que a Câmara de Deputados apresentava na 55ª legislatura, sendo a maioria homens brancos, com ensino superior completo, com média de idade em torno dos 56 anos. São 62,68% dos deputados com ensino superior

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completo, e outros 14,92% com ensino superior incompleto. Foram 4,46% os parlamentares que apresentaram como grau de instrução ensino fundamental completo, 11,94% com ensino médio completo e apenas 2,98% declararam possuir ensino médio incompleto. Quanto à cor da pele: apenas 2,98% dos parlamentares se declararam amarelos, 23,88% declararam-se pardos, e apenas quatro dos 67 deputados são negros, ou seja, 5,97%. Já os deputados brancos são a maioria e chegam a representar 67,16% do grupo. Dentro do conjunto dos deputados pesquisados são apenas 5 mulheres que representam 7,42% do total. Enquanto os homens são maioria (92,53%).

Em termos gerais, a bancada dos parentes ampliou sua base em 2015. Após as eleições de outubro de 2014, dados comparados entre o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar e a Transparência Brasil apontam que “111 deputados se reelegeram e outros 100 novatos parentes de políticos lograram êxito nas urnas, totalizando 211 deputados nessa condição” (DIAP, 2014, pg. 114). Entre os parentes, o DIAP identificou “109 deputados alinhados com os interesses empresariais, 53 ligados ao agronegócio, 31 que compõem a bancada evangélica e apenas quatro sindicalistas”

(DIAP, 2014, p. 115). Sobre a questão de gênero, do total de representantes eleitos em 2014 que possuem grau de parentesco político, 87,67% são homens e 12,32% mulheres.

Dentre as bancadas presentes na 55ª legislatura da CMADS, a dos parentes conta com o maior número de representantes, em relação aos deputados pesquisados. A2 proporção da representação das bancadas na Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável está exposta no gráfico a seguir (GRÁFICO 1):

GRÁFICO 1 – BANCADAS REPRESENTADAS NA 55ª LEGISLATURA DA CMADS:

2 O quadro, presente nos anexos, revela os membros da 55ª legislatura da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável que possuem familiares políticos.

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FONTE: Elaboração própria, com dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP, 2014)

Neste gráfico (GRÁFICO 1), além da bancada dos parentes, estão presentes a bancada empresarial, a segunda mais volumosa em termos de representação, contando 22 deputados; a bancada ruralista está presente com 12 deputados; e em desvantagem, em termos de representação, está a bancada sindical com apenas 9 parlamentares; a bancada evangélica também está representada, com 8 deputados. As representantes da bancada feminina, dentro do filtro, são as cinco mulheres que permaneceram por mais de 180 dias na comissão, entre elas: Eliziane Gama (PPS-MA), Josi Nunes (PSDB-TO), Margarida Salomão (PT-MG), Raquel Muniz (PSC-MG) e Tereza Cristina (PSDB-MS). Elas estão menos representadas na comissão do que na própria Câmara. Uma característica da bancada feminina da 55ª legislatura é a projeção de mulheres que possuem parentesco

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com políticos tradicionais. Como é o caso de Raquel Muniz, esposa do prefeito de Montes Claros, afastado em 2016 por denúncias de corrupção .3

Na Câmara, a bancada - que aumentou 10% em relação à 2010 - se organiza por meio da Procuradoria da Mulher, Secretaria da Mulher e também a Coordenadoria dos Direitos da Mulher, que representa todas as parlamentares mulheres. Desde a criação das instâncias a coordenadora, eleita pela bancada feminina, tem direito a voz e voto nas reuniões do Colégio de Líderes e faz uso do horário de liderança nas sessões plenárias.

Por certo, relações de parentesco com políticos tradicionais não se restringem às deputadas. Tanto que, dentre os 67 deputados pesquisados, 26 possuem laços de parentesco com figuras da vida pública brasileira, representando 38,8% do total de candidatos. Essa bancada reúne nomes com grande densidade eleitoral. A seção seguinte apresenta a posição que ocupam tais atores na estrutura de financiamento eleitoral.

3.2 REDE DE FINANCIAMENTO DA CMADS E POSICIONALIDADE DOS MEMBROS DA BANCADA DOS PARENTES:

As interações dos deputados federais, que até 2019 compunham a CMADS, com partidos políticos e empresas financiadoras de campanha, durante as eleições de 2014, forjaram a rede que conecta os atores por relações de financiamento. Neste caso, quanto maior o valor da receita dirigida ao candidato ou partido, maior o peso da aresta. Cada aresta corresponde a todas as doações que um agente destinou a outro agrupadas, somando os valores, afinal, o interesse está nos vínculos entre financiadores e financiados e sua intensidade.

3 disponivel em:

https://g1.globo.com/mg/grande-minas/noticia/justica-condena-ruy-e-deputada-raquel-muniz-em-caso-env olvendo-compra-de-equipamentos-para-hospital, acesso em 4 de setembro de 2021.

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Nota-se que a partir da Resolução nº 23.406/2014 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que obriga os partidos políticos a declarar o doador originário das receitas provenientes de empresas, torna-se possível identificar a fonte original do recurso e distinguir o fluxo que transcorre de um doador, antes oculto, para o partido que posteriormente transfere o valor ao candidato. O agente partidário atua, portanto, como intermediador da verba. Diante da singularidade que a eleição de 2014 apresentou, uma escolha metodológica precisou ser tomada e optou-se por um grafo dirigido que revele, em suas setas, o dinheiro sendo repassado da empresa ao deputado, utilizando agentes partidários como intermediadores. Para tanto, cada doação indireta aparece duas vezes na rede, apesar de tratar-se da mesma receita repassada em ambas as transações. A escolha se justifica uma vez que o objetivo é explorar as relações entre parlamentares tomadores de decisão e agentes privados representantes do capital financeiro, sem ignorar o importante papel que desempenham os partidos políticos, pela quantidade de recursos que intermedeiam e pelo seu poder de pressão sobre os mandatos.

De maneira geral, a rede de financiamentos apresenta uma estrutura na qual os 67 candidatos são minoria (6,49%). Além deles, aparecem 119 agentes partidários (11,53%) e 846 pessoas jurídicas (81,97%), que representam a maior parte da rede. Esses 1.032 atores estabelecem 1.306 conexões, somando R$ 84.089.937 em doações de4 campanha, que constituem o fluxo financeiro da rede. As doações indiretas equivalem às transferências realizadas de empresas para partidos políticos e comitês eleitorais. Esse tipo de transferências agrupadas soma R$ 24.909.360 em receitas de campanha, direcionadas primeiro para agentes partidários, para depois serem transferidas aos candidatos e futuros membros da CMADS. Sem elas, esses deputados acumularam R$

59.180.577 em contribuições eleitorais. O grafo abaixo (FIGURA 1) expressa as relações

4 Os valores das doações foram arredondados

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de financiamento dos membros da 55ª legislatura da CMADS, dando destaque para aqueles que possuem relações políticas familiares.

FIGURA 1 - REDE BANCADA DOS PARENTES

FONTE: Elaboração própria, com dados do TSE (BRASIL, 2019a) e da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2015a, 2016, 2017, 2018)

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No grafo as arestas que conectam os nós estão dimensionadas conforme o peso das doações, portanto, quanto mais alto o valor doado, mais espessa é a linha que conecta os nós. Enquanto os nós estão dimensionados por grau ponderado, ou seja, aparecem em destaque os candidatos que tiveram as campanhas mais caras da rede e os doadores que despenderam maiores quantias em contribuições eleitorais, seja como doação original, ou na forma de repasse. Os pontos vermelhos são os partidos e comitês, enquanto os azuis são as empresas. Os deputados federais pertencentes à bancada dos parentes estão coloridos de verde; os demais, de laranja.

Os 26 candidatos pertencentes à bancada dos parente foram alvo de 45,07% das doações provenientes tanto de empresas, quanto de partidos políticos e comitês eleitorais, totalizando 439 conexões. Esses deputados somaram R$ 28.493.208 em financiamento de campanha, o valor representa 48,14% do total destinado à candidatos. Nota-se que, apesar de 26 ser um número pequeno em relação ao total de parlamentares pesquisados, eles acumulam quase a metade das doações, ou seja, esses atores perdem em quantidade, mas ganham em qualidade das posições que ocupam, razão de seu destaque na rede. Para melhor visualizar o núcleo central da estrutura, inclusive identificando os nomes dos principais deputados, partidos e empresas, um filtro foi aplicado, mantendo os nós com grau 5, ou seja, que possuem pelo menos cinco relacionamentos com outros nós (FIGURA 2).

FIGURA 2 - REDE BANCADA DOS PARENTES - GRAU 5

(23)

FONTE: Elaboração própria, com dados do TSE e da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2014; 2016), e do DIAP (2014).

Da mesma forma, na rede apresentada acima as arestas ganham destaque conforme o peso dos valores que acumulam na transação. Enquanto os nós estão dimensionados pelo grau ponderado, ou seja, ganham destaque os atores que mobilizam volumes maiores de recursos. Os nós verdes representam os deputados pertencentes a famílias políticas, enquanto os alaranjados aqueles parlamentares que não possuem esse tipo de vínculo. Os nós azuis são as pessoas jurídicas, já os destacados em vermelho são partidos políticos e comitês eleitorais. É possível notar que, diante de uma estrutura desigual de financiamento de campanha, candidatos parentes de figuras já conhecidas da

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vida pública brasileira, embora minoria na rede, ocupam posições privilegiadas. O gráfico abaixo (GRÁFICO 2) compara a média de receitas acumuladas por candidatos pertencentes e não pertencentes à bancada dos parentes. Como resultado, os parlamentares parentes de outros políticos têm uma expressiva vantagem de R$

347.420,20.

GRÁFICO 2 - ARRECADAÇÃO MÉDIA - BANCADA DOS PARENTESvsDEMAIS DEPUTADOS

FONTE: Elaboração própria, com dados do TSE e da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2014; 2016), e do DIAP (2014).

Os resultados apresentados até aqui parecem ficar mais significativos quando revelado quem são os parlamentares parentes de outros políticos, a partir do seu desempenho ao longo do mandato e sucesso eleitoral. Portanto, a seguir serão destacados os deputados centrais na rede de financiamento e membros da bancada dos parentes, acompanhados de uma breve análise sobre a atuação de certas figuras consideradas importantes no contexto abordado pelo estudo.

(25)

Conforme foi demonstrado, candidatos parentes de figuras já conhecidas da política destacam-se na rede de financiamento eleitoral, acumulando grandes valores em doações de origem empresarial. O gráfico a seguir (GRÁFICO 3) traz os 15 deputados federais, parentes de outros políticos, que mais arrecadaram dinheiro para campanha dentro da rede.

GRÁFICO 3 - DEPUTADOS DA BANCADA DOS PARENTES CENTRAIS EM RECEITAS DE CAMPANHA

FONTE: Elaboração própria, com dados do TSE e da Câmara dos Deputados (BRASIL, 2014; 2016), e do DIAP (2014).

A bancada do parentesco reúne candidatos com boa densidade eleitoral. Como exemplo desse fenômeno, é possível citar Daniel Vilela (PMDB-GO), membro da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, durante a 55ª legislatura, filho do prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela. Foi um dos representantes mais bem votados em seu estado, totalizando 179.214 votos. Se por um lado o deputado vem de uma família tradicional ruralista de Goiás, por outro, apresenta em sua trajetória defesa de pautas ambientais. Recebeu financiamento tanto de empresas de engenharia e agrícolas, como a Rio Claro e a Vale Verde, além da JBS; quanto de empresas ligadas à

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atividade de reciclagem. Além disso, duas mineradoras fazem doações indiretas para esse candidato: Mineração Serra Grande S.A e Sama S.A minerações associadas.

O deputado Luiz Lauro Filho (PSB-SP), que presidiu a CMADS durante o ano de 2016, também merece destaque. Segundo o Regimento Interno da Câmara, o Art. 41 (BRASIL, 2019b) ao presidente compete designar relatores e distribuir-lhes as matérias sujeitas à apreciação, podendo ele próprio funcionar como relator e ter voto nas deliberações da comissão. Ele é o 5ª maior receptor de recursos na rede geral.

A bancada também reúne elementos estruturantes da rede geral de financiamento da 55ª Legislatura da CMADS, visto que 8 dos deputados que possuem vínculos político familiares estão entre os 15 maiores receptores da rede. A seguir (TABELA 1), estão expostos os deputados pertencentes à famílias políticas que, por mais vezes, foram alvo de financiamento eleitoral:

TABELA 1 – DEPUTADOS DA BANCADA DOS PARENTES CENTRAIS EM NÚMERO DE DOAÇÕES:

(27)

FONTE: Elaboração própria, com dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP, 2014)

Dentre os parlamentares pertencentes à famílias políticas, Bruno Covas5 (PSDB-SP) é o deputado com maior número de relacionamentos dentro da rede. Neto do ex-governador Mário Covas, o candidato foi secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo. Covas foi prefeito da cidade de São Paulo, após ter sido eleito vice em 2016, o tucano assume o cargo quando João Dória (PSDB-SP) renuncia para se candidatar a governador. Outra figura importante que aparece com centralidade é Sarney Filho (PV-MA), filho do ex-Presidente da República José Sarney (1985-1990) que exerceu ainda cinco mandatos como senador, faz parte de família tradicional maranhense, ligada à política e ao coronelismo. É irmão de Roseana Sarney, ex-Governadora do Maranhão, e do empresário Fernando Sarney. Principal representante do Partido Verde na Câmara, foi Ministro do Meio Ambiente no governo Temer (2016-2019), e atualmente é secretário do Meio Ambiente do Distrito Federal (2019-2022).

5 Bruno Covas faleceu em maio deste ano (2021).

(28)

CONCLUSÃO

A presença de deputados parentes de pessoas já conhecidas da vida pública brasileira na rede de financiamento da CMADS perde em quantidade, mas ganha em qualidade das posições que esses atores ocupam. Apesar de 26 casos não ser um número elevado o suficiente para sustentar conclusões mais precisas, é significativo em relação ao total de 67 deputados pesquisados. E é expressivo quando consideramos que esses 38,8% de parlamentares acumulam quase a metade (48,14%) dos recursos direcionados aos candidatos. Outro valor que reforça essa sinalização é a comparação da média de doações recebidas entre deputados pertencentes e não pertencentes à bancada dos parentes, a diferença foi de R$ 347420,20, oferecendo vantagem aos parlamentares parentes de outros políticos.

Além de ser a bancada com maior número de representantes na 55ª legislatura da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, este grupo reúne elementos estruturantes da rede de financiamento eleitoral e candidatos com grande densidade eleitoral. A estratégia é adotada por partidos políticos tanto para garantir maior espaço em horário eleitoral - definido pelo número de cadeiras na Câmara dos Deputados que a legenda possui - quanto para elevar os recursos provenientes do fundo partidário, calculado com base na quantidade de votos recebidos pela legenda.

Apesar dos argumentos de Araújo e Silva (2016) de que o exercício coletivo em torno das bancadas é o resultado de uma agenda comum, é difícil comprovar o caráter funcional da bancada dos parentes. Uma vez que não foi possível identificar uma pauta

(29)

em comum, ou mesmo, alguma ameaça que atinja, especificamente, parlamentares com vínculos político familiares e, portanto, leve-os a adotar algum tipo de ação coletiva.

Dentre os membros da 55ª legislatura da CMADS que foram pesquisados, a constatação é corroborada diante da diversidade (política, ideológica e partidária) de atores que compõem a bancada dos parentes. Nela estão presentes empresários, ruralistas, ambientalistas, evangélicos e, em menor quantidade, sindicalistas.

Retomando a pergunta inicial da pesquisa: possuir vínculo de parentesco com políticos de carreira (ou políticos profissionais) facilita o acesso do candidato a financiadores de campanha? Diante da comprovada relevância da condição de parentesco, pode-se dizer que o capital familiar que esses candidatos detêm é um dos fatores explicativos para maior financiamento de campanha. Contudo, esta condição, sozinha, não explica a preferência por parte dos financiadores. Mas abre a possibilidade para aplicação de outros modelos para comprovar, de maneira mais robusta, a hipótese levantada por esse estudo.

É possível concluir que apesar do clima de tensão, polarização, descrença na classe política e pedidos de mudança que marcaram as eleições de 2014, o resultado foi uma presença maior de eleitos vinculados a políticos tradicionais. A eleição de parentes continua sendo um obstáculo para a alternância de poder e, consequentemente, para a ampliação da democracia. O financiamento de campanhas é um dos fatores que alimenta esta dinâmica.

ANEXOS

QUADRO 1 - REPRESENTANTES DA BANCADA DOS PARENTES NA CMADS

Deputado Legenda Referência

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Max Filho PSDB - ES

Filho do ex-deputado federal e ex-governador do Espírito Santo, Max Mauro (PTB)

Daniel Vilela PMDB - GO

Filho do ex-governador, ex-senador e atual prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito Vilela (PMDB)

Roberto Balestra

PP - GO Filho de Nelo Egídio Balestra, ex-prefeito de Inhumas

Sarney Filho PV - MA Filho de José Sarney, ex-presidente da República e atual senador pelo PMDB-MA, e irmão de Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão pelo PMDB-MA. É pai de Adriano Sarney (PV-MA), eleito deputado estadual em 2014

Victor Mendes PV - MA Filho de Filuca Mendes (PV), atual prefeito de Pinheiro

Bilac Pinto PR - MG Filho do ex-deputado Francisco Bilac Moreira Pinto e neto de Olavo Bilac Pinto, ex-presidente da Câmara dos Deputados e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)

Carlos Melles DEM - MG

Marido de Marilda Petrus Melles, ex-prefeita de São Sebastião do Paraíso

Jaime Martins PSD - MG Filho do ex-deputado estadual Jaime Martins (DEM) e da ex-vice-prefeita de Divinópolis (MG), Maria de Lourdes Martins (DEM)

Júlio Delgado PSB - MG Filho do candidato derrotado ao governo estadual em 2014, Raimundo Tarcisio Delgado (PSB), ex-deputado e ex-prefeito de Juiz de Fora Marcelo

Álvaro Antônio

PRP - MG Filho do ex-deputado federal e estadual, Álvaro Antônio Teixeira Dias (PDT)

Raquel Muniz PSC - MG Esposa do prefeito de Montes Claros, Ruy Adriano Borges Muniz (PRB) Josué

Bengtson

PTB - PA Pai do vereador de Belém, Paulo Bengtson (PTB)

Enio Verri PT - PR Irmão do vereador de Maringá (PR), Mário Verri (PT) Daniel Coelho PSDB -

PE

Filho do ex-deputado estadual, João Ramos Coelho

Átila Lira PSB - PI Irmão de Jandira Lima, ex-prefeita de São Miguel de Tapuio (PI) Paes Landim PTB - PI Filho do ex-deputado estadual, Francisco Antônio Paes Landim Neto Márcio

Biolchi

PMDB - RS

Filho do ex-deputado federal, Osvaldo Biolchi

(31)

Celso Maldaner

PMDB - SC

Irmão do senador e ex-governador de Santa Catarina, Casildo Maldaner

Bruno Covas PSDB - SP

Filho do ex-governador de SP, Mário Covas (PSDB)

Eduardo Bolsonaro

PSC - SP Filho do deputado federal reeleito, Jair Bolsonaro (PP). É irmão de Carlos Bolsonaro (PP), atual vereador do Rio de Janeiro, e Flávio Bolsonaro (PP), deputado estadual reeleito

Luiz Lauro Filho

PSB - SP Filho de Luiz Lauro (PMDB-SP), ex-vereador de Campinas e ex-deputado estadual

Nilto Tatto PT - SP Irmão do secretário de Transportes do município de São Paulo e

ex-deputado federal, Jilmar Tatto (PT-SP), do deputado estadual eleito Enio Tatto (PT-SP) e dos vereadores Jair Tatto (PT-SP) e Arselino Tatto (PT-SP) Ricardo Izar PSD - SP Filho do ex-deputado federal falecido, Ricardo Izar (PTB)

Ricardo Tripoli

PSDB - SP

Irmão do vereador, Roberto Tripoli (PV)

André Moura PSC - SE Filho do suplente de deputado estadual, Reinaldo Moura Josi Nunes PMDB -

TO

Filha de Jacinto Nunes, ex-prefeito de Gurupi (TO), e de Dolores Nunes (PMDB-TO), ex-deputada federal por Tocantins

FONTE: Elaboração própria, com dados do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP, 2014)

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administração dos Partidos Políticos e incentivar a participação feminina. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2015.

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