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4 o Seminário de Relações Internacionais da ABRI 27 e 28 de setembro de 2018 UNILA Foz do Iguaçu PR ÁREA TEMÁTICA. Economia Política Internacional

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4o Seminário de Relações Internacionais da ABRI 27 e 28 de setembro de 2018 – UNILA – Foz do Iguaçu – PR

ÁREA TEMÁTICA Economia Política Internacional

O ATRASO DO BRASIL EM CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA EM PERSPECTIVA HISTÓRICO-MUNDIAL COMPARADA

Helton Ricardo Ouriques

Departamento de Economia e Relações Internacionais da UFSC Pós Graduação em Relações Internacionais da UFSC

Pedro Antônio Vieira

Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC

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4o Seminário de Relações Internacionais da ABRI 27 e 28 de setembro de 2018 – UNILA – Foz do Iguaçu – PR

O ATRASO DO BRASIL EM CIÊNCIA, EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA EM PERSPECTIVA HISTÓRICO-MUNDIAL COMPARADA

RESUMO

O Brasil ocupa uma posição considerada “intermediária” na economia-mundo capitalista.

Nossa tarefa aqui é, comparando a situação brasileira com a trajetória de países do Leste Asiático desde 1950, buscar subsídios para a compreensão desse atraso relativo do Brasil em ciência, educação e tecnologia. As perguntas a serem respondidas são: por que países como a Coreia do Sul, que se encontravam na década de 1950 muito mais atrasados tecnologicamente que o Brasil, entraram em uma trajetória virtuosa, enquanto nosso país, desde a década de 1980, parece estar estagnado nos aspectos acima mencionados? Que elementos estruturais explicam o atraso brasileiro e mesmo a dificuldade do país em acompanhar as mudanças em ciência, tecnologia e inovação em curso desde a década de 1970 em geral, e desde os anos 2000 em diante, em particular, em comparação com países daquela região? Podemos levantar como hipótese que as origens desta discrepância devem ser buscadas: a) nas respectivas posições daqueles países e do Brasil na economia-mundo capitalista, desde o século XIX em diante; b) nos respectivos processos de industrialização:

lá, comandado por empresas nacionais e pelo Estado; no Brasil, comandado por empresas multinacionais; c) A importância da geografia e dos aspectos geopolíticos, pois a proximidade geográfica com os Estados Unidos implicou uma subordinação maior da América Latina e do Brasil aos ditames da hegemonia americana. No Leste Asiático, por outro lado, a geopolítica da guerra estímulos os estados asiáticos a desenvolverem uma industrialização também voltada para defesa. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial os estímulos vieram da inserção daquela região na Guerra Fria. No Brasil, tanto a proximidade com os Estados Unidos quanto os estímulos geopolíticos atuaram para conformar um processo de industrialização desnacionalizado e pouco inovador, possivelmente pela ausência de uma aliança entre capitalistas nacionais e o Estado.

Palavras-chave: Brasil; Indústria 4.0; ciência, educação e tecnologia; desenvolvimento.

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O atraso do Brasil em ciência, educação e tecnologia em perspectiva histórico- mundial comparada

Helton Ricardo Ouriques Pedro Antônio Vieira

Introdução

O Brasil ocupa uma posição considerada “intermediária” na economia mundo capitalista. Nosso objetivo nesse texto é, comparando a situação brasileira com a trajetória de países do Leste Asiático desde 1950, buscar subsídios analíticos para a compreensão desse atraso relativo do Brasil em ciência, educação e tecnologia. As perguntas a serem respondidas são: por que países como a Coreia do Sul, que na década de 1950 eram muito mais atrasados tecnologicamente que o Brasil, entraram em uma trajetória virtuosa, enquanto nosso país, desde a década de 1980, parece estar estagnado em Ciência, Tecnologia e Inovação (C&T&I)? Que elementos estruturais explicam o atraso brasileiro e mesmo a dificuldade do país em acompanhar as mudanças em C&T&I em curso desde os década de 1970 e que parecem ter entrado em nova fase nos anos 2000 em diante, em particular, em comparação com países asiáticos? Podemos levantar como hipótese que as origens desta discrepância devem ser buscadas: a) nas respectivas posições daqueles países e do Brasil na economia-mundo capitalista, desde o século XIX em diante; b) nos respectivos processos de industrialização: lá, comandado por empresas nacionais e pelo Estado; no Brasil, comandado por empresas multinacionais e com menor protagonismo do Estado; c) A importância da geografia e dos aspectos geopolíticos, pois a proximidade geográfica com os Estados Unidos implicou uma subordinação maior da América Latina e do Brasil aos ditames da hegemonia americana. No Leste Asiático, por outro lado, a geopolítica da guerra estímulos os estados asiáticos a desenvolverem uma industrialização também voltada para defesa. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial os estímulos vieram da inserção daquela região na Guerra Fria. No Brasil, tanto a proximidade com os Estados Unidos quanto os estímulos geopolíticos atuaram para conformar um processo de industrialização desnacionalizado e pouco inovador, possivelmente pela ausência de uma aliança entre capitalistas nacionais e o Estado.

Dadas as profundas alterações nos processos produtivos em curso, que estão levando pesquisadores a falar de uma quarta revolução industrial, também associada à

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noção de “Indústria 4.0”, vários países do centro da economia-mundo capitalista tem elaborado políticas, para fortalecer ou mesmo melhorar seus posicionamentos no sistema interestatal. Nesse contexto, e levando em consideração esse tema importante para a economia política internacional – na medida em que se pode mesmo falar de um processo mundial de C&T&I - , o artigo está estruturado da seguinte forma: 1) na primeira seção, será feita uma síntese de discussão precedente, elaborada pelos autores, a respeito do posicionamento brasileiro na economia mundo capitalista e do atraso do país em ciência, tecnologia e inovação; 2) na segunda seção, com base em uma série de documentos produzidos recentemente pelo IEDI (Instituto de Estudos do Desenvolvimento Industrial), será apresentada uma síntese da experiência recente dos Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão e Coreia do Sul a respeito das políticas que vem sendo implementadas para se posicionarem no paradigma da quarta revolução industrial e sua consequente “Indústria 4.0”; 3) na terceira seção, será feita uma apreciação das estratégias para incorporação na onda da Indústria 4.0 de dois países dos BRICS, China e Índia. E também mencionada a situação brasileira nesse contexto. Por fim, na seção final, serão tecidas considerações acerca das deficiências e defasagens brasileiras, que tende a continuar ficando para trás, dada a atual conjuntura mundial e local.

A condição semiperiférica e o atraso relativo do Brasil em ciência, tecnologia e inovação

Em artigo anterior (Ouriques & Vieira, 2017) analisamos a condição semiperiférica do Brasil na economia mundo capitalista. Nessa seção, faremos uma breve síntese do que fora apresentado naquele trabalho, para situar a situação de atraso brasileiro em ciência, tecnologia e inovação.

Os dados do The Global Competitiveness Report 2014-15, elaborado pelo World Economic Forum (Tabela 1) ilustram o caráter intermediário da condição brasileira. No documento em questão, cada um dos indicadores é detalhado em vários quesitos. Assim, no indicador “Saúde e Educação Primária” a posição do Brasil no ranking (para um total de 144 países) nos itens “expectativa de vida”, “mortalidade infantil” e “qualidade da educação primária” é, respectivamente, a 78a, a 65a e a 126a. No indicador “Inovação”, a posição do Brasil nos itens “capacidade para inovação” e “disponibilidade de cientistas e engenheiros”

é, respectivamente, a 44a e a 114a (World Economic Forum 2015, 135). Além disso, o coeficiente de Gini do país foi de 51,5 no período 2010-2015, evidenciando o Brasil possui

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uma das maiores concentrações de renda no mundo, apenas superado por outros nove países (Human Development Report 2016)1.

Tabela 1 – Índice de Competitividade Global do Brasil (2014-2015) entre 144 países analisados

Indicador Ranking

Score (1- 7)

Índice de Competitividade Global 2014-2015 57 4,3

Índice de Competitividade Global 203-2014 (de 148) 56 4,3 Índice de Competitividade Global 2012-2013 (de 144) 48 4,4 Índice de Competitividade Global 2011-2012 (de 142) 53 4,3

Requisitos Básicos 83 4,4

Instituições 94 3,5

Infraestrutura 76 4

Ambiente Macroeconômico 85 4,5

Saúde e Educação Primária 77 5,7

Indicadores de Eficiência 42 4,5

Educação Qualificada e Treinamento 41 4,9

Eficiência no Mercado de Bens 123 3,8

Eficiência no Mercado de Trabalho 103 3,8

Desenvolvimento do Mercado Financeiro 53 4,3

Agilidade Tecnológica 58 4,2

Tamanho do Mercado 9 5,7

Fatores de Inovação e Sofisticação 56 3,8

Sofisticação Empresarial 47 4,3

Inovação 62 3,3

Fonte: World Economic Forum. The Global Competitiviness Report 2014-2015.

1 O Coeficiente de Gini é um indicador de desigualdade, variando de 0 a 100. Quanto mais próximo de 100, mais desigual é a distribuição de renda. Os países com Coeficiente de Gini mais elevado do que o do Brasil no período 2010-2015 eram África do Sul (63,4), Botsuana (60,5), Colômbia (53,5), Haiti (60,8), Lesoto (54,2), Namíbia (61,0), Paraguai (51,7), República Centro Africana (56,2) e Zâmbia (55,6). A título de comparação, o Coeficiente de Gini da Noruega, primeiro colocado no

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Com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e alguns de seus componentes, a Tabela 2 evidencia um retrato da situação brasileira em 2015. Na 79a posição no indicador do IDH, o Brasil está abaixo dos países selecionados da América Latina na expectativa de vida ao nascer, nos anos de escolaridade e no PNB per capita.

Embora também seja apenas um retrato de período mais recente, evidencia a defasagem do Brasil em relação ao centro e mesmo em relação a outros países da América Latina.

Tabela 2 - Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e alguns de seus componentes (2015)

País

Rankin g IDH

Expectativa de vida ao nascer (em anos)

Anos de escolaridade

PNB per capita (U$

PPP 2011)

Noruega 1 81,7 12,7 67.614

Alemanha 4 81,1 13,2 45.000

EUA 10 79,2 13,2 53.245

Reino Unido 16 80,8 13,3 37.931

França 21 82,4 11,6 38.085

Japão 17 83,7 12,5 37.268

Coréia do

Sul 18 82,1 12,2 34.541

Chile 38 82 9,9 21.665

Argentina 45 76,5 9,9 20.945

Uruguai 54 77,4 8,6 19.148

México 77 77 8,6 16.383

Brasil 79 74,7 7,8 14.145

Mundo __ 71,6 8,3 14.447

Fonte: Human Development Report 2016.

Com relação a indicadores educacionais, o estudo de Barbosa Filho & Moura (2013), que compara países desenvolvidos e que tiveram sucesso em alcançar o desenvolvimento com países que não foram bem-sucedidos, é elucidativo a respeito da posição intermediária brasileira. Embora tenha efetivamente ocorrido uma melhoria nos indicadores nos últimos anos (como taxa de matrícula, anos médios de educação, grau de escolarização), em termos comparados o Brasil ainda está muito atrás de outros países, como apontado pelos autores mencionados.

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Por exemplo, apesar da melhoria no indicador de anos de escolaridade desde 1990 (pois passou de 4,5 anos em 1990; para 6,4 anos em 2000 e 7,5 anos em 2010), em 2010 o Brasil tinha a pior média de anos de escolaridade dentre todos os países elencados (à exceção da Venezuela). Neste ano, com uma média de 7,5 anos de estudo, o país estava muito atrás da média asiática (10,7) e também da média da América Latina, de 8,7 anos de estudo. Outro dado é importante ser mencionado: em 2010 o país tinha 33,7% da população acima de 15 anos com pelo menos o ensino secundário completo, enquanto a média dos países asiáticos era quase o dobro (61,2%) no mesmo ano. Confrontados com os dados do Brasil, os dados da China entre 1950 e 2010 revelam a diferença de trajetória pois, partindo de um patamar muito mais baixo do que o do Brasil em 1950, alcançou 55% da população acima de 15 anos com ensino secundário completo em 2010, enquanto o Brasil chegou a apenas 33,7%.

Os resultados do Programme for International Student Assessment (PISA), para o ano 2015, também mostram o atraso relativo do Brasil em termos educacionais. Este exame, que avalia os conhecimentos de estudantes de 15 anos de idade em ciência, leitura e matemática, foi feito em 70 países no ano de 2015. O Brasil ficou na 63a posição, com uma performance média em cada um dos quesitos, muito abaixo da média da OCDE.

O Brasil também está muito defasado em outros indicadores ligados à inovação, como pode ser visto na Tabela 2. Além do menor número em comparação com a maioria dos países listados na referida tabela, os pesquisadores brasileiros produzem menos patentes do que seus congêneres em outros países, em termos de patente por pesquisador (Pinheiro, 2013). A disponibilidade de engenheiros e cientistas é outro ponto que evidencia o atraso do Brasil, em perspectiva comparada. Como se vê na Tabela 3, em 2012, em um total de 144 países, o Brasil ficou na posição 113, à frente apenas da África do Sul (122). O score do Brasil, nesse quesito, é claramente intermediário: 3,5 (na escala de 0 a 7).

Tabela 3 - Indicadores ligados à inovação – 2010*

Pesquisadores em P&D (por

milhão de habitantes)

Patentes

Disponibilidade de engenheiros

e cientistas (escala de 0 a 7)

Patentes por pesquisad

or (x 1000)

BRICS 1.104 4,5 4 7,4

Brasil 696 2,8 3,5 [113] 4

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Rússia 3.091 5,4 3,8 [90] 1,7

Índia 136 1,2 5,0 [16] 8,6

China 1.199 6,5 4,4 [46] 5,4

África do Sul 396 6,8 3,4 [122] 17,2

América Latina 476 1,9 4,1 5,9

Argentina 1.046 1,1 3,9 [80] 1

Chile 355 3,8 4,7 [29] 10,7

Colômbia 157 1,1 3,7 [94] 7,2

México 347 1,6 4,0 [71] 4,7

Leste e Sudeste

Asiático 3.476 98 4,9 26,6

Cingapura 5.834 123,2 5,1 [13] 21,1

Coreia do Sul 4.947 161,1 4,9 [23] 32,6

Hong Kong 2.759 4,6 [36]

Malásia 365 9,6 4,9 [20] 26,2

Desenvolvidos 3.821 103,6 5 26,9

Alemanha 3.780 203,6 4,5 [40] 53,9

Canadá 4.335 77,6 5,4 [6] 17,9

Espanha 2.932 35,4 5,0 [18] 12,1

Estados Unidos 4.673 137,9 5,4 [5] 29,5

França 3.690 110,2 4,9 [22] 29,9

Itália 1.690 51,7 4,5 [45] 30,6

Japão 5.189 210,7 5,7 [2] 40,6

Portugal 4.308 12,2 4,7 [31] 2,8

Reino Unido 3.794 93 5,1 [12] 24,5

FONTE: Pinheiro (2013). Notas: entre colchetes a colocação do país em termos mundiais.

*Quando o dados de 2010 não estão disponíveis. usa-se a informação mais recentemente publicada.

Exceção para a disponibilidade de engenheiros e cientistas, que se refere a 2012

A capacidade para imitar, mas não para inovar, talvez seja mais um traço da posição intermediária ou semiperiférica do Brasil, que foi não foi capaz de acompanhar as mudanças exigidas e produzidas pelo paradigma produtivo e tecnológico que emergiu nos anos 1980.

Desde então, de acordo com Amsden (2009) enquanto países do Leste Asiático (os

“independentes”, na terminologia da autora), desenvolveram tecnologias próprias, países como o Brasil limitaram-se a comprar as tecnologias (os “integracionistas”).

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A própria evolução da composição da pauta exportadora brasileira evidencia as dificuldades do país em direção a níveis mais elevados de sofisticação produtiva. De fato, os dados disponíveis para o período compreendido entre 1995 e 2015 mostram o contrário: o predomínio de exportações de produtos primários e de baixo valor agregado, em particular a partir do início dos anos 2000, quando ocorre um boom no preço das commodities (soja, minério de ferro, petróleo cru, açúcar e carne de frango) 2. Essa situação é revelada pelo Atlas da Complexidade Econômica: entre 124 países analisados, o Brasil estava na 30a posição nesse indicador em 1995, e passou para a 54a posição em 2014)3, em uma posição efetivamente intermediária.

Portanto, a persistência e mesmo predominância dessa pauta produtiva e exportadora, que, diga-se de passagem, são características históricas do Brasil, ao mesmo tempo que expressa as deficiências educacionais, científico-tecnológicas e de inovação acima apresentadas, tende a reforçar estas deficiências ao atrair investimentos e apoio político e social para estas atividades. Essa situação se choca com a necessidade de abrigar empresas inovadoras, exigência indispensável para aqueles países que querem (e mesmo conseguiram) ultrapassar as fronteiras da condição semiperiférica e alcançar o padrão de riqueza do centro, como argumentado por Arrighi (1997) e demonstrado por Amsden (2009).

E essa situação intermediária do Brasil, talvez tendendo a periferização, que caracteriza a atual conjuntura, tende a ser reforçada pelas mudanças em curso ensejadas pela Indústria 4.0, com as distintas formas que determinados Estados vem atuando em relação ao tema, como mostraremos a seguir.

A experiência mundial recente na “indústria 4.0”: países do centro

O IEDI (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) vem, desde 2017, publicando uma série de estudos sobre a “Indústria 4.0”, inclusive fazendo relato das experiências dos estados que estão nas posições centrais na economia mundo capitalista (EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Japão e Coreia do Sul) e mesmo de estados ascendentes, como China.

De acordo com Hermann et al (2015),

Indústria 4.0 é um termo coletivo para tecnologias e conceitos da organização da cadeia de valor. No interior das fábricas inteligentes e modulares da Indústria 4.0, sistemas ciber-físicos

2 Informações de 2015, coletadas no Observatório da Complexidade Econômica (www.atlas.media.mit.edu/Brazil).

3 Fonte: www.atlas.cid.harvard.edu, consultado em 05.05.2017.

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(CPS) monitoram processos, criam uma cópia virtual da realidade e tomam decisões descentralizadas. Através da Internet das Coisas (IoT) os CPS se comunicam e cooperam entre si e com seres humanos em tempo real, e através da Internet dos Serviços (IoS) são oferecidos serviços organizacionais internos e externos, utilizados por participantes desta cadeia de valor.

As tecnologias essenciais para o pleno desenvolvimento da Indústria 4.0 são os sistemas ciber-físicos (CPS), Big Data Analytics, Computação em nuvem, Internet das Coisas (IoT) e Internet dos Serviços (IoS), Impressão 3D e outras formas de manufatura aditiva, Inteligência artificial, Digitalização, Colheita de energia (Energy harvesting) e Realidade aumentada (IEDI, julho/2017, p. 2). De acordo com esse documento do IEDI, a Indústria 4.0 “cria fábricas inteligentes e um sistema industrial inteligente de tal forma que afeta profundamente as qualificações profissionais e as relações de trabalho, cria novos mercados e modelos de negócio, e pode alterar significativamente a dinâmica econômica do mundo moderno” (idem, p. 3).

Esse conjunto de mudanças, que vem sendo chamado de uma quarta revolução industrial, difere das revoluções tecnológicas anteriores porque “o novo paradigma dos meios de produção não foi constatado após seu desenvolvimento e impacto no mercado, mas previsto e anunciado a priori” (idem, p. 3). E outra diferença importante é destacada pelo estudo do IEDI: o fato de que a direção do desenvolvimento vem sendo moldada e sua velocidade aprimorada pela aplicação de políticas públicas. Segundo o documento, esse fato muda a dinâmica da transformação, “uma vez que empresas e países tem a chance de traçar estratégica e se preparar para as mudanças que se anunciam, em um primeiro momento como ameaça, mas também como fonte de oportunidades de transformação estrutural e desenvolvimento” (idem, ibidem).

Isso explica porque, nesta segunda década do Século XXI, os países citados anteriormente tenham elaborado diversas políticas para melhorar e/ou fortalecer suas posições estratégicas nas atividades consideradas inovadoras na economia mundo capitalista. A Alemanha foi pioneira na adoção de iniciativa estratégica para o país assumir a liderança na produção e utilização de tecnologia de informação industrial (IEDI, julho/2018, p.5)4. E foi lá que surgiu o termo Indústria 4.0, em 2011.

De acordo com a Carta IEDI 807, de 29.09.2017, o objetivo da iniciativa estratégica Indústria 4.0, lançada em 2011 pelo governo alemão, é “manter a posição da Alemanha como líder mundial em indústrias e exportações de alta tecnologia” (p. 1). Nesse sentido,

4 “Pode-se argumentar, inclusive, que a 4a Revolução Industrial é fruto de uma estratégia dos países desenvolvidos, especialmente da Alemanha, de articulação coesa de estratégias empresariais e ações públicas de suporte para combater as ameaças ao protagonismo ocidental advindas do crescimento industrial no oriente” (IEDI, julho/2017, p. 3)

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desde o anúncio do programa, em 2011, “um amplo pacote de políticas, de atividades complementares e programas de financiamento foram introduzidos para tornar a Alemanha líder de mercado e provedor mundial de sistemas ciber-físicos em 2020. Ao mesmo tempo, representantes de inúmeros setores industriais, incluindo construção automotiva, tecnologia de automação, fabricação de máquinas e plantas industriais se comprometeram a gastar mais de 2,5 bilhões de euros em seis áreas de pesquisa ao longo de dez anos” (idem, ibidem). Como mostrado pelo documento citado, várias iniciativas vem sendo colocadas em prática, desde 2006 (quando foi lançada a Estratégia Alta Tecnologia), com o objetivo de garantir a posição de liderança da Alemanha na Indústria 4.0. Na sequencia desse plano de 2006, em 2010 foi lançada a Estratégica Alta Tecnologia 2020, cujo objetivo primordial é

“tornar a Alemanha o principal fornecedor de soluções de base científica e tecnológica nas seguintes áreas ou domínios: clima/energia; saúde/nutrição; mobilidade; segurança e comunicação” (idem, p. 5). No caso alemão, cabe destacar, os meios empresarial e acadêmico tornaram-se atores fundamentais na iniciativa da indústria 4.0.

Com relação ao Japão, a Carta IEDI n. 838 (publicada em 16.03.2018), apresenta a política industrial deste país face à quarta revolução industrial. De acordo com o documento citado, a política industrial japonesa tem se focado cada vez mais em inovação. Além disso,

“a agenda do governo japonês em resposta à Quarta Revolução Industrial é um roteiro de médio e longo prazo, firmemente baseado na cooperação e na parceria com o setor privado, que combina estratégias focadas no desenvolvimento de domínios tecnológicos específicos (robótica, tecnologia de informação, inteligência artificial, entre outros) com estratégias de disseminação dos seus resultados nas diferentes atividades econômicas e sociais” (p. 1). A atuação do Estado é digna de nota nesse caso porque, para acelerar o desenvolvimento de tecnologias de Inteligência Artificial (IA), “...o governo do Japão criou, em abril de 2016, o Conselho Estratégico de Tecnologia de Inteligência Artificial”, presidido pelo primeiro- ministro Shinzo Abe” (idem).

Segundo o documento do IEDI, “o fortalecimento dos vínculos entre ciência, tecnologia e indústria para ampliar a produtividade e competitividade ganhou importância crescente nos planos quinquenais de ciência e tecnologia. Entre 2001 a 2010, a C&T teve um orçamento de quase 50 trilhões de ienes (cerca de U$ 441 bilhões), que foram investidos em quatro áreas prioritárias principais: ciências da vida, tecnologia de comunicação e informação (ICT), meio ambiente e nanotecnologia/materiais” (p. 3).

Em 2010 o governo japonês anunciou uma nova estratégia de desenvolvimento econômico, denominada “Renascimento do Japão”, com ênfase especial no Plano de

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Revitalização da Indústria5. E, em janeiro de 2016, o Japão lançou o seu quinto Plano Básico de C&T, tendo quatro objetivos políticos: “i) crescimento sustentável e desenvolvimento regional autossustentável, com criação de emprego; ii) segurança e proteção da nação e dos seus cidadãos e garantia de uma forma de vida próspera e de alta qualidade; iii) enfrentar os desafios mundiais e contribuir para o desenvolvimento global mediante a aplicação proativa da capacidade de CT&I; iv) criação sustentável de ativos intelectuais” (idem, p. 5).

Um dos pilares centrais deste Plano é a criação de uma “Sociedade Superinteligente”. Para isso, o plano enfatiza dois conjuntos de tecnologias, consideradas fundamentais para esse propósito. O primeiro conjunto diz respeito às tecnologias que já são pontos fortes do Japão: robótica, tecnologias de sensores, tecnologia de atuadores, biotecnologia e tecnologia de interfase humana. Já o seguindo grupo inclui tecnologias nas quais o Japão registra relativo atraso (tecnologias relacionadas à distribuição, processamento e acumulação de informações no ciberespaço: tecnologia de segurança cibernética, tecnologia de arquitetura de sistema IoT (internet das coisas), análise dos grandes dados, inteligência artificial, tecnologia do dispositivo, tecnologia de rede e computação de borda.

Aproveitando um de seus pontos forte, a excelência em robótica, o governo pretende

“converter em robô, por meio do avanço de tecnologias de sensores e de IA, o que anteriormente não servia como robô em modos convencionais” (idem, p. 11). Em síntese, nesse âmbito da robótica, “...o Japão pretende desencadear uma revolução em robótica e se posicionar como centro mundial de inovação em robótica e local de demonstração de utilização da tecnologia de robô de ultima geração (exibição da utilização dos robôs em atividades do cotidiano) por uma miríade de usuários sofisticados em mercados de negócios e consumidor” (idem, ibidem). De acordo com a fonte que estamos citando, na avaliação do governo japonês, a viabilização desse propósito de tornar o país líder mundial em inovação robótica, será conseguida através da parceria entre público e privado.

Há também uma estratégia para a tecnologia de Inteligência Artificial, lançada em março de 2017, elaborada pelo Conselho Estratégico de Tecnologia de Inteligência Artificial.

Esse documento, segundo a fonte que aqui estamos citando (IEDI), “aponta que é necessário integrar os pontos fortes do Japão com a tecnologia IA e associar isso ao

5 “O Plano de Revitalização da Indústria também incluiu a promoção do desenvolvimento de novos clusters industriais, centrados em empresas regionais chave, que possam desencadear novas indústrias e novos negócios nas regiões do Japão. Nesse sentido, o METI incentivará as redes lideradas por empresas principais regionais que reúnem indústria, academia e governo, e eventos para disseminação de ideias e necessidades com vista ao desenvolvimento de novos produtos.

Também irá adotar iniciativas para promover o desenvolvimento de tecnologias e materiais de impressão 3D de próxima geração e sua utilização entre as empresas industriais regionais” (p. 4).

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fortalecimento da competitividade industrial. Para isso, é preciso enfrentar desafios, como a insuficiência de investimentos público e privado em P&D na área de tecnologia de IA, a escassez de pesquisadores em IA, entre outros. Embora seja o país líder mundial em patentes de tecnologia de IA, o número de artigos publicados na área de IA é bastante inferior ao número dos EUA e da China” (idem, p. 12). O documento do IEDI apresenta, ainda, um roteiro de industrialização da fusão da tecnologia de IA com tecnologias conexas (p. 15). Em síntese, pode-se dizer que há uma explícita estratégia do Japão, capitaneada pelo Estado, para que o país esteja na vanguarda da Indústria 4.0.

O caso da Coreia do Sul também tem marcante presença do Estado. De acordo com a Carta IEDI 831, de 16.02.2018, o governo sul coreano lançou, em dezembro de 2016, o Plano de Médio e Longo Prazo para uma Sociedade de Informação Inteligente, com o objetivo de preparar o país para a Indústria 4.0. Como fato conhecido na literatura (Amsden, 2000), a política industrial sul-coreana, implantada desde os anos 1960, deu origem a um grupo de empresas privadas de alcance mundial (conhecidas como chaebols), “com apoio de empréstimos e subsídios governamentais e acesso preferencial a capital e tecnologia”

(Carta IEDI 831, p. 1).

Embora tenha havido algumas mudanças na atuação estatal desde a segunda metade dos anos 1990, o “ativismo na política industrial e, sobretudo, a ênfase nas prioridades setoriais foram mantidas” (idem, p. 4). Nesse sentido, o documento do IEDI apresenta um quadro-síntese, compreendendo a politica de novos motores de crescimento, para o período 1998-2017, que mostra a opção da Coreia do Sul por tecnologias consideradas estratégicas. Na verdade, este país tem como objetivo transformar-se em uma economia baseada na inovação. Assim, “dez indústrias – como TV digital, displays de computador, produtos biomédicos, semicondutores de próxima geração, baterias de próxima geração, automóveis do futuro, robôs inteligentes, comunicações móveis de próxima geração, redes inteligentes e soluções de conteúdo e software digital – foram designados como motores de crescimento da próxima geração” (idem, p. 9).

O documento do IEDI, que estamos citando, apresenta uma listagem dos planos governamentais lançados desde a aprovação da Lei Marco de Ciência e Tecnologia, em 2002, que forneceu base jurídica para a os Planos Quinquenais Básicos de Ciência e Tecnologia (2003-07, 2008-12, 2013-17), que desde então tem guiado a condução da política científica e tecnológica sul coreana. A título de exemplo, o governo lançou, em fevereiro de 2008, no contexto do Plano Quinquenal Básico 2008-2012, a “Estratégia

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Economia do Conhecimento” e designou uma seleção de 17 setores e tecnologias como novos motores de crescimento6.

Em dezembro de 2008 o governo lançou a “Iniciativa 577”, que inclui vários objetivos ambiciosos: “alcançar uma intensidade de P&D de 5% até 2012; concentrar-se em sete áreas tecnológicas-chave e sete sistemas de apoio (recursos humanos de classe mundial, pesquisa básica e fundamental, inovação de PMEs, globalização de ciência e tecnologia, inovação regional, infraestrutura de ciência e tecnologia e cultura de ciência e tecnologia)”

(IEDI, p. 10). O governo, para viabilizar o aumento da intensidade de P&D, “elevou as despesas de P&D em 50%, de U$ 8,4 bilhões em 2008 para U$ 12,6 bilhões em 2012. A pesquisa básica recebeu metade desse recursos” (IEDI, p. 11). Importante mencionar que,

“para estimular os investimentos em pesquisa e o desenvolvimento do setor privado, responsável por 75% dos gastos totais com P&D, o governo concedeu incentivos fiscais (grifos nossos”(idem, ibidem). Em 2013, segundo a fonte citada, o país era líder mundial tanto em intensidade da P&D (4,2% do PIB) como em número de pesquisadores por milhão de habitantes (6.500).

Concluindo essa síntese sobre o caso sul coreano, deve-se mencionar aqui que, em dezembro de 2016, o governo lançou o Plano de Médio e Longo Prazo para uma Sociedade de Informação Inteligente, visando preparar o país para a Quarta Revolução Industrial (idem, p. 22)7. Esse plano estabelece um conjunto de metas quantitativas para o ano de 2030.

Uma dessas metas é “completar o cacthing up tecnológico em relação às economias mais avançadas, eliminando o gap de 25% existente em 2013. Também chama atenção a meta de elevar a 17,9% do PIB os gastos com seguridade social, em flagrante contraste com a tendência observada nas economias desenvolvidas” (idem, p. 24). Importante salientar também que a Coreia do Sul pretende “atingir o mesmo nível de avanço tecnológico das outras economias avançadas até 2023, em termos de tecnologias cognitivas relacionadas a línguas, visão, experiências sensoriais e cognição espacial” (idem, p. 26).

O documento do IEDI destaca que o governo sul coreano estabeleceu um conjunto de tarefas de médio e longo prazo para transformar o país em uma sociedade da informação inteligente. O IEDI destacou três dessas tarefas: a criação de uma base de tecnologias de

6 São os seguintes: 1) Tecnologia verde, que engloba energia nova e renovável, energia com baixo teor de carbono, tecnologia avançada para tratamento de água, aplicação de LEDs, sistemas de transporte verde e cidades verdes de alta tecnologia; 2) Convergência de alta tecnologia:

transmissão e comunicações, convergência de tecnologia de informação, robôs inteligentes, nanotecnologia, biofarmacêutica e dispositivos médicos, indústria alimentar de alto valor agregado; 3) Serviços de valor agregado: saúde, educação, financiamento verde, conteúdo e software, e convenções e turismo. (IEDI, p. 10).

7 “O conceito de TI Inteligente refere-se a uma tecnologia que é capaz de realizar as funções altamente complexas da inteligência humana ao combinar a ‘inteligência’ da inteligência artificial com a informação fornecida pelo processamento de dados e tecnologias de rede, como a internet das coisas (IoT), computação em nuvem, análise de grandes dados (Big Data) e tecnologias móveis (designadas coletivamente como tecnologias ICBM)” (idem, p,22).

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inteligência artificial; a criação de ecossistema da indústria de TI Inteligente e facilitação da inovação do setor privado; a inovação digital da indústria de transformação. Para os propósitos deste artigo, cabe destacar as ações da primeira dessas tarefas, ligadas à tecnologia de inteligência artificial, que evidenciam o destacado papel que o Estado assume em todo esse movimento, aqui brevemente descrito:

O governo da Coreia do Sul pretende: i) incentivar a pesquisa básica e aplicada em universidades e centros de pesquisa com o objetivo de desenvolver infraestrutura de classe mundial para indústrias domésticas baseadas em IA; ii) combinar as inovadoras atividades de P&D das empresas com o apoio e recursos de universidades e centros de pesquisa para permitir que as empresas sejam pioneiras ativamente em novos mercados para serviços e produtos de IA; iii) investir em projetos estratégicos de P&D para promover o rápido desenvolvimento da tecnologia de IA; iv) otimizar métodos de pesquisa e ambientes para ciências básicas, pesquisas originais e pesquisa aplicada; v) reformar instituições para maximizar a eficácia da P&D. Para promover a tecnologia de IA, o governo sul coreano planeja investir 1,6 trilhão de wons (U$ 1,6 bilhões) nos próximos 10 anos. (IEDI, p.26).

Com relação aos EUA, o governo daquele país divulgou, em fevereiro de 2012, uma estratégia ampla “para orientar os investimentos federais em P&D de tecnologia avançada, incorporando sugestões e recomendações de representantes da indústria e das universidades” (Carta IEDI, edição 820, p. 1). No entanto, somente no final de 2014, o governo de Barack Obama conseguiu aprovar no Congresso o “Revitalize American Manufacturing Act”, para avançar na criação de uma “Rede Nacional de Inovação Industrial, composta por 15 institutos regionais, que receberão recursos federais por um período de cinco anos, complementado com aportes de parceiros do setor privado e dos governos estaduais e/ou locais. Essa rede de Institutos de Inovação Industrial regionais foi projetada para acelerar o desenvolvimento e a adoção de tecnologias industriais avançadas com aplicações amplas, para apoiar a comercialização de tecnologia de fabricação, superando o fosso entre laboratório de pesquisa e mercado em áreas tecnológicas-chave e para apoiar a formação e o treinamento de mão-de-obra especializada, qualificando os trabalhadores nas novas tecnologias” (idem, p. 1). De acordo com o documento do IEDI, no início de 2017 já havia um total de 14 institutos, cada um deles especializado em uma área de tecnologia de ponta prioritária, tendo como sócios grandes empresas e numerosas pequenas e medias empresas de diversos setores industriais, recebendo aporte de recursos não federais bem superiores ao mínimo exigido (idem, ibidem).

Importante mencionar que essa iniciativa nos EUA aparece como uma resposta à perda de competitividade daquele país nos produtos industriais de tecnologia avançada (IEDI, p. 3) e em um cenário de vulnerabilidade em vários setores industriais (p. 4). Assim, um grupo de trabalho interagências, coordenado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (NSTC) formulou o Plano Nacional Estratégico de Manufatura Avançada,

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publicado em fevereiro e 2012. Na avaliação desse grupo de trabalho, “a manufatura avançada está emergindo como um motor especialmente potente do crescimento econômico futuro. Manufatura avançada é uma família de atividades que (a) dependem do uso e coordenação de informações, automação, computação, software, detecção e rede, e/ou (b) utilizam materiais de ponta e capacidades emergentes habilitadas pelas ciências físicas e biológicas, como a nanotecnologia, a química e a biologia. Envolve tanto novas formas de fabricação de produtos existentes quanto à fabricação de novos produtos que surgem das novas tecnologias avançadas” (idem, p. 6).

O NSTC parece desempenhar papel importante de proposição de políticas públicas para a “retomada” americana na inovação, conforme relatado no documento do IEDI. E, em relatório de 2016, sugeriu áreas de prioridades para as Pesquisas Tecnológicas com Financiamento Federal: produção de materiais avançados; biologia de engenharia para avançar a bioprodução avançada; bioprodução para medicina regenerativa; fabricação avançada de bioprodutos e fabricação contínua de produtos farmacêuticos8.

Na avaliação de outro documento do IEDI (Estratégias Nacionais para a Indústria 4.0, de julho de 2018),

Essa estratégia compreensiva para orientar os investimentos federais em P&D de tecnologia avançada, que incorporou sugestões e recomendações de representantes da indústria e das universidades, busca atingir cinco objetivo inter-relacionados: i) acelerar o investimento em tecnologia de produção industrial avançada, especialmente pelas PMEs industriais; ii) ampliar o número de trabalhadores qualificados para o setor de produção manufatureira avançada e tornar o sistema de educação e treinamento mais receptivo à demanda por competências ; iii) criar e apoiar parcerias público-privadas, nacionais e regionais, governo-indústria-academia, para acelerar o investimento e a aplicação de tecnologias de manufatura avançada; iv) otimizar o investimento industrial avançado do governo federal, adotando uma perspectiva de portfolio entre agencias; v) aumentar o total de investimentos públicos e privados dos Estados Unidos em pesquisa e desenvolvimento em produção industrial avançada (IEDI, p. 10).

Com relação ao caso da França, com o objetivo de interromper o declínio industrial em sua estrutura produtiva, promover a modernização e competitividade da indústria, em 2013 o governo lançou a Iniciativa Nova França Industrial (NFI). Segundo a Carta IEDI 841, essa iniciativa “aborda três áreas: desenvolvimento de oferta de novas tecnologias, apoio à difusão dessas tecnologias junto às empresas para modernização do aparelho produtivo e desenvolvimento e adaptação das competências e habilidades dos trabalhadores exigidos por tais tecnologias” (p.2).

8 Além dessas cinco áreas prioritárias, há uma série de áreas de tecnologia que são objeto de interesse das agencias federais, segundo o documento do IEDI. São áreas que se tornaram o foco dos institutos de inovação industrial, criados a partir de 2012, com patrocínio dos Departamentos de Defesa, Energia e Comércio: manufatura aditiva, compósitos avançados, produção e design digital, eletrônica híbrida flexível, fotônica integrada, materiais ultraleves, produção inteligente, têxteis e fibras revolucionários, eletrônica de potencia. (IEDI, páginas 12 e 13).

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A NFI era composta de 34 planos, que cobrem projetos em diferentes setores da indústria e da economia. O documento do IEDI descreve sucintamente os projetos mais diretamente relacionados às tecnologias associadas à Quarta Revolução Industrial (Carta IEDI 841): softwares e sistemas integrados; Big Data; Computação em nuvem;

Telecomunicação soberana; Nanoeletrônica; Objetos conectados; Realidade aumentada;

Robótica; Fábrica do futuro.

Em 2016, o presidente François Hollande anunciou a dotação de 10 bilhões de euros para um terceiro Programa de Investimentos Futuros, “para atender a três prioridades:

apoiar o progresso do ensino e pesquisa; melhorar a pesquisa e acelerar a modernização das empresas” (idem, p. 12). Importante destacar também que o meio empresarial francês criou a “Aliança para o Indústria do Futuro”, incorporando também organizações públicas e instituições de pesquisa, com objetivo de difundir as inovações resultantes da revolução digital no tecido industrial francês (idem, p. 19).

Apesar da existência de alguns problemas (a França ainda é um país seguidor de inovações e as empresas francesas ainda despendem menos em P&D do que as congêneres alemãs), “segundo a OCDE, a França tem uma alta taxa de apoio às atividades de P&D empresariais em relação a países com intensidades similares. Em 2015, o apoio do governo francês do P&E das empresas era de 0,39% do PIB, o maior entre todos os países membros da OCDE. Nesse ano, volume corrente de suporte fiscal ao P&D empresarial concedido pelo governo francês foi de U$ 7,4 bilhões em PPP, atrás apenas dos Estados Unidos (U$ 11 bilhões) e da China (U$ 9,4 bilhões). Na França, as políticas de apoio ao P&D envolvem apoio direto (bolsas, financiamentos para projetos de pesquisa etc.) e indireto (essencialmente créditos tributários).

O Reino Unido, embora (Carta IEDI 847) não tenha adotado uma estratégia explicita e integrada de promoção da Indústria 4.0, tomou algumas medidas que contribuem nesse sentido. De acordo com esse documento do IEDI, em 2010, foi anunciado pelo próprio primeiro ministro David Cameron o Plano de Criação dos Centros Catapulta de Tecnologia e Inovação, “com dotação orçamentária de 439 milhões de libras no período 2011-2014/15” (p.

1). Atualmente “existem dez Catapultas, cobrindo áreas que vão desde a indústria de alto valor adicionado a descobertas de medicamentos, incluindo energia renovável offshore, terapias celular e genética, tecnologias de satélites, sistemas de transporte, digitalização, cidades do futuro, sistemas de energia e aplicações de semicondutores compostos” (idem, p.2).

Em janeiro de 2017, o governo de Theresa May lançou um documento oficial de consulta e debate, sobre uma nova estratégia industrial, elaborada em torno de dez pilares:

1) investir em ciência, pesquisa e inovação; 2) desenvolver habilidades; 3) modernizar a infraestrutura; 4) apoiar as empresas a iniciar atividades e a crescer; 5) fazer uso estratégico

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das compras governamentais; 6) incentivar o comércio e o investimento direto estrangeiro;

7) fornecer energia acessível e crescimento limpo; 8) cultivar os setores líderes mundiais e ajudar novos setores a florescer; 9) impulsionar o crescimento em todo o país; 10) criar instituições certas para reunir setores e locais (Carta IEDI 847, p. 2-3). Depois de lançado esse documento, e após receber contribuições de mais de 2.000 empresas e organizações de todas as partes do Reino Unido, o governo britânico lançou, em novembro de 2017, o documento final (Industrial Strategy: Building a Britain fit for the future) da nova estratégia industrial. Esse documento estabeleceu ainda quatro grandes desafios nas áreas nas quais o Reino Unido pode liderar a revolução tecnológica mundial: inteligência artificial e big data;

crescimento limpo; mobilidade; sociedade em envelhecimento. (Carta IEDI 847, p. 20).

A proposta é ambiciosa: “para tornar o Reino Unido a economia mais inovadora do mundo, a Estratégia Industrial propõe enfrentar, entre outros, o desafio de elevar o gasto bruto doméstico com P&D de 1,6% para 2,4% do PIB até 2027. Para alcançar essa meta, será necessário aumentar o investimento público e privado em P&D em até 80 bilhões de libras por ano durante os próximos 10 anos” (idem, p. 3). Importante destacar que o documento da proposta, intitulado Made Smarter, “enfatiza uma forte parceria entre empresas industriais e o governo, com foco na liderança, na adoção de tecnologias digitais e em inovação digital” (idem, ibidem).

O próprio IEDI, em documento que sintetiza todos os estudos aqui mencionados, acerca de países específicos (Estratégias Nacionais para a Indústria 4.0, julho de 2018), interpreta que as estratégias para preservar a liderança são as que estão sendo colocadas em prática por Alemanha, Coreia do Sul e Japão. Com relação aos casos dos EUA, França e Reino Unido, o IED considera que se tratam de estratégias de revitalização industrial. O ponto comum em todos os casos, em maior ou menor grau, é o papel desempenhado pelo Estado, de liderar os distintos projetos de Indústria 4.0.

Mas essa preocupação com a Indústria 4.0 não se restringe a esses países, como mencionamos a seguir a respeito de dois países dos Brics: China e Índia.

Estratégias em países dos BRICS: China, Índia e o atraso do Brasil

O IEDI considera que as experiências recentes de China e Índia, a respeito da Indústria 4.0, podem ser consideradas estratégias de “catch-up” (IEDI, Estratégias Nacionais para a Indústria 4.0, julho de 2018).

No caso da China, esse país lançou, em maio de 2015, seu plano estratégico Made in China 2015 (MIC 2025), inspirado parcialmente na iniciativa da Alemanha. Segundo o IEDI, “essa iniciativa nacional abrangente de longo prazo, prevista para se desenrolar em três etapas, tem como objetivo final transformar esse país em uma potencia industrial

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mundial, baseada em tecnologia avançada, até 2049, ocasião do 100O aniversário da fundação da República Popular da China” (IEDI, julho de 2018, p. 13).

De acordo com a Carta IEDI 827, publicada em 26.01.2018,

São dez os setores definidos como prioritários no MIC 2025, sendo que aqueles de alta e média alta intensidade tecnológica respondem por mais de 40% de valor agregado industrial chinês. Os setores estratégicos para os chineses incluem equipamento marítimo avançado e embarcações de alta tecnologia; ferrovia e equipamento avançado; maquinaria e tecnologia agrícola; equipamentos aeronáuticos e aeroespaciais; produtos biofarmacêuticos e equipamentos médicos de ponta; circuitos integrados e novas tecnologias de informação;

tecnologia e equipamentos de geração de energia elétrica; máquinas de controle de produção de alta gama e robótica; veículos de baixa e nova energia; materiais novos e avançados(p.

1).

O Plano Made In China 2025 reconhece que a indústria manufatureira chinesa enfrenta uma dupla pressão: de países industrializados e de outros países em desenvolvimento. Dos primeiros, pelo conteúdo tecnológico; dos segundos, pela disputa na vantagem de custos decorrente da força de trabalho barata. Assim, para enfrentar esse duplo desafio, o governo chinês aposta na manufatura avançada. Nesse sentido, “o objetivo do progresso tecnológico e da substituição de importação norteia a MIC 2025. As indústrias chinesas de alta tecnologia, em particular os campeões nacionais, devem adquirir as capacidades para criar soluções tecnológicas inovadoras independentes e substituir seus concorrentes estrangeiros no mercado interno e cada vez mais nos mercados globais”

(idem, p. 9). A ênfase é no “desenvolvimento impulsionado pela inovação” (idem, ibidem).

Esse Plano prioriza cinco iniciativas de âmbito nacional: “estabelecer novos centros de inovação; promoção da pesquisa nas tecnologias básicas; implementar projetos focados em manufatura inteligente; implementar projetos focados em produção verde; priorizar a produção de equipamentos de ponta nos dez setores-chave” (idem, p. 11). Para essas iniciativas, foram definidos objetivos, apresentados no quadro abaixo:

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Segundo o IEDI, o documento oficial Made in China 2025 definiu alguns indicadores para a indústria em inovação, qualidade, digitalização e desenvolvimento denominado

“verde”, que serão monitorados ao longo da execução da política: “por exemplo, até 2025, a porcentagem de gastos de P&D em relação às vendas de manufatura é direcionada para atingir 1,68%; espera-se que a produtividade do trabalho aumente 7,5% anualmente até 2020 e, posteriormente, 6,5% até 2025; a cobertura de banda larga deve aumentar de 50%

em 2015 para 82% em 2025; e o consumo de energia por unidade de valor agregado deve cair 34% até 2025” (idem, p. 11).

Segundo o IEDI (Estratégias... julho/2018), a China pretende desenvolver produtos inovadores, criar marcas internacionalmente conhecidas e construir instalações modernas de produção industrial. Para isso, “além de canalizar enormes recursos financeiros para apoiar a modernização tecnológica de suas empresas industriais, tanto as estatais como as privadas, a China adotou um conjunto de medidas e politicas complementares à política industrial, que inclui, entre outras: medidas fiscais e tributárias, reorganização institucional, politica de propriedade intelectual, política de recursos humanos” (IEDI, julho de 2018, p. 13 e 14).

O IEDI também menciona o forte aporte financeiro por parte do Estado chinês:

“...enquanto o governo federal alemão destinou 200 milhões de euros adicionais para pesquisa e inovação associadas às tecnologias da Indústria 4.0, o governo central chinês aportou o equivalente a 22 bilhões de euros, em fundos direcionados ao financiamento do desenvolvimento de tecnologias de fabricação inteligente” (idem, p. 14). Em síntese, o

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Estado chinês está liderando ativamente o processo de inserção desse país na chamada Indústria 4.0.

Com relação ao caso da Índia, a Carta IEDI 849, publicada em 25.05.2018, descreve a iniciativa “Make in India”, anunciada pelo governo indiano em setembro de 2014, com o propósito de “tornar o país um centro avançado de produção industrial global” (p. 1).

Segundo esse documento, o próprio governo reconhece um conjunto de deficiências do país9 e vem adotando várias medidas proativas: “programa Digital Índia; a Missão Nacional de Desenvolvimento de Competências (Skill Índia); a Nova Política Nacional de Educação e o programa Defeito Zero Efeito Zero (ZED, na sigla em inglês). Igualmente, o governo reafirmou o compromisso com os objetivos da Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de 2013, que inclui: ampliar o papel do setor privado no sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação mediante parcerias público-privadas, para alcançar a meta de 2% do PIB em P&D” (p. 2).

Especificamente em relação ao tema da ciência, tecnologia e inovação, o documento do IEDI assinalada que “a Índia estabeleceu um nível razoável de P&D e desenvolveu ecossistema de inovação no lançamento espacial e design de satélites, energia atômica, defesa, produtos farmacêuticos, software, redes de telecomunicações entre outros. No entanto, ainda não conseguiu alcançar uma infraestrutura de classe mundial em P&D e um ecossistema de inovação para se tornar globalmente competitivo” (idem, p. 21). Mas há notáveis avanços do país, em particular na área de energia nuclear, pois o país “desenvolve sua própria tecnologia em todos os setores da produção de energia nuclear, além do ciclo do combustível nuclear e instalações auxiliares” (idem, p. 22). Outro avanço é na área de satélites, pois o país desenvolveu seu próprio programa nesse sentido: “com 12 satélites operacionais, o Sistema de Detecção Remoto é a maior constelação de satélites de sensoriamento remoto para uso civil em operação hoje no mundo” (idem, ibidem).

Ressalte-se que ainda há debilidades do país em ciência, tecnologia e inovação, como destacado pelo documento do IEDI10, as capacidades de inovação do país melhoraram no passado recente: “...o número de pesquisadores em P&D aumentou mais rapidamente do que a população e os pedidos de patentes cresceram com a reforma

9 O IEDI descreve como desafios: “...a ausência de uma cultura de qualidade em processos, produtos e serviços, sobretudo entre as micro e pequenas empresas; deficiências em infraestrutura; pouca penetração da tecnologia de informação na indústria; baixa inclusão digital na sociedade, insuficiente nível de escolaridade de parte expressiva da população; escassez de profissionais qualificados e habilitados para operar em ambiente de produção da Indústria 4.0 e baixo investimento do setor privado em atividades de P&D” (idem, p. 2).

10 “...o gasto em P&D na Índia é baixo comparativamente ao tamanho de sua economia: apenas 0,63% do PIB em 2015. E é bem menor do que em vários outros países asiáticos emergentes.

Embora o número de pesquisadores em P&D na Índia tenha aumentado em relação à população de 110,1 por milhão de pessoas em 2000 para 215,9 milhões em 2015, o gasto bruto com P&D registrou ligeiro declínio neste período” (idem, ibidem).

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legislativa e a participação em acordos internacionais” (p. 24). Além disso, em 2013, a Índia

“lançou sua primeira Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação entrando, ainda que com uma década e meia de atraso, para o clube dos países emergentes ‘avançados’

nessa área” (idem, ibidem).

Por fim, cabe mencionar que em 2015 o governo divulgou um roteiro tecnológico para a Visão da Índia em 2035: “esse roteiro fornece uma visão comum sobre a contribuição da C,T&I para o futuro da Índia e identifica 12 áreas temáticas: tecnologias educacionais;

tecnologias de energia; meio-ambiente; alimentação e agricultura; questões de desafio global; habitat; tecnologias de informação e comunicação, infraestrutura; materiais e tecnologias de fabricação; ciências médicas e cuidados de saúde; transporte; tecnologias da água” (p. 26).

A leitura do documento do IEDI a respeito da Índia evidencia que este país enfatiza a superação das deficiências estruturais e, ao mesmo tempo, pretende se inserir, de forma proativa, em segmentos da Indústria 4.0.

O caso brasileiro, visto em perspectiva comparada, é emblemático de uma situação que podemos qualificar como “ficando para trás” em ciência, tecnologia e inovação e, portanto, nos meandros da Indústria 4.0. Como o próprio IEDI assinala, ainda não há uma estratégia nacional no tocante a esse tema, em contraste com os casos elencados anteriormente neste artigo.

Para além das debilidades brasileiras, mencionadas na primeira seção deste artigo, o diagnóstico apresentado recentemente pelo IPEA (TURCHI, L.M. & MORAIS, J.M. Orgs., 2017) corrobora a percepção do atraso do Brasil em Ciência, Tecnologia e Inovação:

Em que pesem os esforços e os resultados alcançados pelas diversas políticas de incentivo à inovação adotadas no Brasil, os avanços nessa área são muito modestos se comparados a países com sistemas de inovação maduros, como os Estados Unidos e alguns países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da União Europeia. Em termos de indicadores clássicos, a exemplo do investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) como proporção do produto interno bruto (PIB), a defasagem continua grande: enquanto em 2014 o investimento privado era da ordem de 1,96 do PIB nos Estados Unidos, 1,34 nos países da OCDE e 0,65 na Espanha, no Brasil essa relação foi de 0,58 do PIB. O mesmo ocorre em indicadores como a participação nos depósitos mundiais de patentes e a taxa de inovação (Turchi, L. M. & Morais, J.M. (orgs), 2017:10)

A Carta IEDI 797, publicada em 21.07.2017, discute os desafios e oportunidades da indústria 4.0 para o Brasil. O documento destaca que a questão relevante é saber “qual o lugar do Brasil e de sua indústria neste novo mundo. Os desafios não são desprezíveis e surgem, em boa medida, em decorrência de limitações que herdamos do passado” (p. 2). O IEDI relata três ordens de limitações que complicam o pleno desenvolvimento da indústria 4.0 no país:

Em primeiro lugar, estão aquelas limitações referentes à própria estrutura industrial. Vale

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lembrar que o Brasil não foi capaz de acompanhar o avanço do restante do mundo em setores fundamentais para o desenvolvimento das tecnologias da Indústria 4.0, como é o caso da microeletrônica. Encontramo-nos, então, desde o ponto de partida, em desvantagem.

Além disso, pela própria natureza do processo de industrialização do país, dois outros aspectos tornaram-se deficiências cada vez mais importantes: pequena integração no comércio internacional e esforços tecnológicos relativamente modestos. Em segundo lugar, com as características do consumo do Brasil, ao contrário dos países desenvolvidos, não favorece uma forte diferenciação dos produtos, a qual viria ao encontro da Indústria 4.0. Em terceiro, devido a essas deficiências, o Brasil corre o risco de se transformar, ainda mais, em mercado-alvo da produção chinesa, que deve acompanhar com o atraso o avanço industrial dos países desenvolvidos, que hoje compreendem os principais mercados consumidores de produtos chineses (idem, ibidem).

Esse documento também chama a atenção para um passivo do passado, ligado a microeletrônica. Isso porque, “diferentemente do que ocorreu na química e na metalomecânica, as duas bases da indústria do Século XX, o Brasil não foi capaz de constituir um sistema industrial eletrônico. O país chegou a instalar, a partir de recursos próprios e aportes externos significativos, as indústrias metalmecânicas e eletromecânicas e indústrias químicas de produtos de alto volume (as grandes commodities), mas não foi capaz de fazer o mesmo com a microeletrônica e a química fina. Ambos possuem, em comum, uma importância elevada da tecnologia e do ritmo de mudança tecnológica” (p. 14).

O documento em questão relata ainda algo preocupante: “quando se discutem as perspectivas do Brasil na Indústria 4.0 com profissionais ou equipes de grandes empresas provedoras de soluções 4.0, o mais comum é que elas revelem a percepção de que o Brasil é um mercado com grande potencial para as suas soluções, mas é muito raro que associem o sistema industrial brasileiro ao desenvolvimento dessas soluções ou que se vejam partícipes do processo de criação de soluções no Brasil. Dito de outro modo: na Indústria 4.0 o Brasil é mercado, não é indústria; é cliente, não é produtor” (grifos nossos)(p. 17).

Em publicação recente, sob os auspícios do IPEA, ZUNIGA et al (2017) fazem um balanço da situação atual, bem como dos desafios referentes ao ambiente da inovação brasileiro. O texto mostra porque, a despeito de um incremento na produção brasileira nos últimos anos, o país foi incapaz de efetivamente incrementar sua produtividade a níveis satisfatórios. Sobre essa questão, alguns pontos podem ser levantados. Primeiramente, no que se refere à pauta exportadora brasileira, ainda há a forte presença de produtos primários e de baixo conteúdo tecnológico, com persistente declínio da participação das manufaturas em termos de valor adicionado. Essa condição é posta ainda mais em evidência em se tratando da participação brasileira em cadeias globais de valor. O Brasil, grosseiramente, tem um baixo nível de integração ao final de cadeias globais, o que significa dizer que o país participa mais nas etapas iniciais da manufatura, adicionando valor aos seus sucessores, e absorvendo pouco valor agregado total.

Vale dizer também que o tipo de inovação mais comum no Brasil, de catch-up em

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processos produtivos, é típico de países relativamente atrasados, e em se tratando de um processo de emparelhamento, não constitui um motor dinâmico de inovação.

Adicionalmente, não obstante um esforço recente no campo de patentes, o número de empresas que ativamente trabalham com patenteamento ainda permanece pequeno e, mais importante, ainda ligadas fortemente ao setor público, como é o caso da Petrobras e da Empraba. O alerta que o texto dá, nesse sentido, é de que as empresas privadas brasileiras ainda são retardatárias enquanto motores genuínos de progresso científico, cabendo a um número muito exíguo de empresas – a Embraer é um exemplo – o papel de líderes inventivos nacionais.

O aumento em patentes, inclusive, foi muito mais uma meta explícita de política doméstica e não parte de um movimento autônomo de mercado. Isso implica dizer, para além da letargia privada, que muito do que se pesquisa no Brasil não tem, necessariamente, relevância direta para a economia. Quer dizer, há pouco aproveitamento econômico real das externalidades oriundas de pesquisas realizadas em solo nacional. A qualidade dessas pesquisas, como aponta o estudo, também são fonte de preocupação, e há pouca integração científica internacional no Brasil.

Os incentivos à inovação, no caso brasileiro, são muito constrangidos pelas características de mercado presentes. Há pouca competição intra setores e interfirmas, baixo contingente de capital humano e trabalhadores qualificados, além de concentração de aportes à pesquisa em mãos de firmas maiores, muitas vezes multinacionais. As empresas brasileiras, especialmente as de menor porte, apresentam índice insuficiente de adoção de normas técnicas e de qualidade internacionais. Esses fatores são acentuados pelo fato de o Brasil contar com um mercado doméstico de grandes proporções e relativamente protegido do exterior.

Como conclusão, Zuniga et al (2017) apontam 4 razões possíveis para a incipiência inventiva brasileira: 1) desconexão entre os centros de pesquisa públicos, como as agências e universidades, e o setor público; 2) Mudança ainda recente de um enfoque teórico a um prático, voltado ao aumento de produtividade absorção privada; 3) Pouco engajamento do setor privado no sentido de se apresentar como alternativa de carreira aos pesquisadores;

4) Falta de pesquisadores, especialmente aqueles ligados às engenharias.

Nessa brevíssima exposição da situação brasileira (dados os limites desse artigo), pode-se deduzir que faltou e falta a nosso país uma política de Estado a respeito da Ciência, Tecnologia e Inovação, condição que, por outro lado, está presente em vários países citados nesse artigo. A conjuntura mais recente é evidencia dessa conclusão. Em 2011, o governo federal lançou o Plano Brasil Maior, que tinha como propósito fortalecer a capacidade de inovação e a competitividade econômica do setor industrial, inserido no então Plano Pluri Anual (PPA) 2012-2015. O PPA enfatizava a necessidade de incentivo em setores

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