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RESUMO MARIA FIRMINA DOS REIS: seus Cantos à beira-mar e o conto indianista Gupeva Profa. Dra.Dilercy Aragão Adler

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Academic year: 2022

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RESUMO

MARIA FIRMINA DOS REIS: seus Cantos à beira-mar e o conto indianista Gupeva Profa. Dra.Dilercy Aragão Adler Parte-se de sucinta apresentação da primeira romancista brasileira, do estado do Maranhão, Maria Firmina dos Reis, incluindo a sua vasta produção em diferentes vertentes das artes. Colocam-se em evidência duas de suas obras que compõem uma única publicação: Cantos à beira-mar (poesia) e Gupeva (conto indianista), abordando-se desde as características peculiares da escrita firminiana até às inferências relativas as suas motivações retratadas no testemunho/interpretação próprias da escritora, atreladas às condições objetivas e subjetivas da sua época. Apresentam-se também reflexões acerca dos contornos temáticos dessas obras que, apesar de menos conhecidas, são muito importantes e ainda possibilitam o conhecimento de novos vieses da sua produção literária, desenvolvidas no contexto de ascensão do Romantismo.

MARIA FIRMINA DOS REIS: SEUS CANTOS À BEIRA - MAR E O CONTO INDIANISTA GUPEVA

1 APRESENTAÇÃO DE MARIA FIRMINA DOS REIS

Falar de Maria Firmina dos Reis é uma missão de amor, o que declaro no Elogio que fiz a ela como parte do ritual de ocupação da Cadeira de número 08, por ela patroneada, na Academia Ludovicense de Letras-ALL (Academia da Cidade de São Luís, capital do Estado do Maranhão/Brasil). No entanto, tenho a clareza de que esta não é uma tarefa fácil, considerando as condições objetivas da época em que Maria Firmina viveu.

Tempo pródigo em escassez de fontes de registros que fundamentem com mais exatidão determinadas condições e características pessoais e da sua vida.

Mas, de início quero reafirmar que se trata de uma grande mulher, dentre tantos títulos, o de primeira romancista brasileira, primeira romancista abolicionista.

_________________

Dilercy Adler Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras – ALL (Biênio 2016- 2017), ocupa a Cadeira de nº 8, patroneada por Maria Firmina dos Reis. Titular da Cadeira Nº 01 do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão-IHGM. Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil- SCLB,

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Uma grande mulher, não apenas no tocante à vasta obra, que passa por várias vertentes da arte, como por sua nobreza, simplicidade e engajamento político numa época marcada por profundas desigualdades que maculam a história da humanidade, como a escravidão dos africanos, a extinção de nações indígenas, a inferiorização da mulher, como ser humano e como cidadã, entre tantas outras.

No tocante aos seus dados pessoais, um dado incontestável é que Maria Firmina dos Reis nasceu no bairro de São Pantaleão, na Ilha de São Luís, capital da província do Maranhão/Brasil, e aos 05 anos de idade foi morar com uma tia na Vila São José de Guimarães do Cumã, hoje cidade de Guimarães.

Porém outros dados no contexto do seu nascimento, assim como da etnia da sua mãe foram refutados com base em pesquisas recentes (2017), em fontes primárias, encontrados no Arquivo Público do Estado do Maranhão, empreendida por mim, com a indicação da Profa. Mundinha Araújo, Doutora Honoris Causa pela Universidade Estadual do Maranhão, escritora, pesquisadora e militante do Movimento Negro.

No tocante aos novos dados cito a seguir:

- A data de seu nascimento, até meados de 2017, todos os trabalhos publicados registravam 11 de outubro de 1825. No entanto, por meio dos documentos: Autos de Justificação do dia de nascimento de Maria Firmina dos Reis, datado de 25 de junho de 1847 (Câmara Eclesiástica/Episcopal, série 26, Caixa n. 114 - Documento-autos nº 4.171); da Certidão de Justificação de Batismo (Fundo Arquidiocese - Certidão de Justificação de Maria Firmina dos Reis - Livro 298 – fl. 44v) e do Livro de Baptismo (Fundo Arquidiocese Batismo de Maria Firmina dos Reis, Livro 116- fl. 182), ficou constatado que o seu nascimento, de fato, data de 11 de março de 1822.

- Filiação: nos registros pesquisados consta o nome de João Pedro Esteves como seu pai, no entanto nenhum outro dado é colocado sobre ele, salvo que era negro.

Assim, a sua origem e vida são totalmentes desconhecidas até hoje. No tocante à mãe de Maria Firmina, Leonor Felippa dos Reis, nos trabalhos anteriores aparece como branca e de origem portuguesa, todavia, aparece como molata forra, no livro de Baptismo, de nº 116, na Folha 182, está assim registrado:

Aos vinte e hum de dezembro de 1825 nesta freguezia de Nossa Senhora da Victória Igreja Cathedral da cidade do Maranhão baptizei e pus os santos oleos a Maria filha natural, de Leonor Felippa molata forra que foi escrava do Comendador Caetano Je. Teixei.ª forão Padrinhos o Tenente de Milícias João Nogueira de Souza e Nossa S enhora dos Remédios do que se fez este assento que assignei. (ADLER, 2017, p.59) (grifo meu).

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- Imagem: Maria Firmina não deixou nenhuma foto. Existe uma réplica da sua imagem em um busto esculpido, em sua homenagem, por ocasião do sesquicentenário de seu nascimento, de autoria do artista plástico Flory Gama, construído à base de informações prestadas por vimarenses (os cidadãos da cidade de Guimarães, no estado do Maranhão, Brasil) que conviveram com ela, como Dona Nhazinha Goulart, criada pela romancista, na residência da Praça Luís Domingues, e Dona Eurídice Barbosa, que foi aluna de Maria Firmina na Escola Mista de Maçaricó.

Em seu livro Maria Firmina: Fragmentos de uma vida, editado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado - SIOGE, no Maranhão, Nascimento Morais Filho (1975, p. 259) se refere aos traços físicos de Maria Firmina dos Reis, mencionando:

[..] Rosto arredondado, cabelo crespo, grisalho, fino, curto, amarrado na altura da nuca;

olhos castanho-escuros, nariz curto e grosso; lábios finos; mãos e pés pequenos; meã (1,58, pouco mais ou menos), morena.

A esse respeito, convém registrar que a imagem da escritora Maria Benedita Câmara Bormann, conhecida pelo pseudônimo de Délia, é veiculada erroneamente como sendo de Maria Firmina dos Reis. Maria Benedita é, de fato, uma cronista, romancista, contista e jornalista, que nasceu em 25 de novembro de 1853, na cidade de Porto Alegre/Rio Grande do Sul/Brasil e faleceu em julho de 1895, no Rio de Janeiro/RJ/Brasil.

Ainda chama a atenção que aparece em trabalhos distintos a mesma foto de Maria Benedita, ora para retratar ela própria, ora para retratar Maria Firmina dos Reis.

Maria Firmina dos Reis Maria Benedita Câmara Bormann, (Délia)

Isso posto, reafirmo dados já enunciados em vários trabalhos sobre Maria Firmina dos Reis.

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Além de ser professora e, aos 25 anos ter publicado o primeiro romance, Úrsula (1859), tornando-se a primeira romancista, foi, também, a única do século XIX, como já referido. Segundo Nascimento Morais Filho (1975), a entrada oficial de Maria Firmina dos Reis na literatura maranhense foi bem recepcionada pela imprensa maranhense com palavras de entusiasmo e estímulo à estreante. Argumenta que nessa perspectiva,

[...] rompendo a cadeia dos preconceitos sociais que segregavam a mulher da vida intelectual, vinha contribuir com suas forças, seus sonhos e ideais para a criação da Literatura maranhense, para a presença maranhense na formação da Literatura Brasileira - ainda em nossos dias o embrião de uma vida em laboriosa gestação (MORAIS FILHO, apud ADLER, 2014, p.12).

O conjunto da sua obra é de notável reconhecimento e bastante significativa, tanto em quantidade quanto em variedade de gêneros literários e vertentes das artes:

romances, crônicas, contos, poesias, composições (letra e música), enigmas, epígrafes, folclores, entre outras: Obras: Úrsula (romance, 1859), Gupeva (romance de temática indianista,1861, Cantos à beira-mar, (poesia, 1871), A escrava (conto antiescravista,1887), Antologia Poética Parnaso Maranhense: coleção de poesias, editada por Flávio Reimar y Antonio Marques Rodrigues. (1861); Publicações em jornais literários: Federalista, Pacotilha, Diário do Maranhão, A Revista Maranhense, O País, O Domingo, Porto Livre, O Jardim dos Maranhenses, Semanário Maranhense, Eco da Juventude, Almanaque de Lembranças Brasileiras, A Verdadeira Marmota, Publicador Maranhense e A Imprensa; Composições Musicais: Auto de bumba-meu-boi (letra e música), Valsa, Gonçalves Dias e música de Maria Firmina dos Reis ou (letra e música de Maria Firmina), Hino à Mocidade (letra e música), Hino à liberdade dos escravos (letra e música), Rosinha, valsa (letra e música), Pastor estrela do oriente (letra e música), Canto de recordação, “à Praia de Cumã” (letra e música).

Entretanto, ainda conforme Nascimento Morais Filho (1975), Maria Firmina foi vítima, posteriormente, de uma amnésia coletiva, ficando totalmente esquecidos o seu nome e a sua obra, mas, como a Fênix, ressurgiu também das cinzas (Morais Filho apud Adler, 2014, p.12), de modo que na atualidade existe uma quantidade significativa de trabalhos sobre a vida e obra dessa grande escritora.

Por meio desses dados, busco apresentar, mesmo que de forma bastante sucinta, a mulher e escritora Maria Firmina dos Reis, antes da apresentação de duas de suas obras, que me proponho fazer como objeto desta minha missão de amor.

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2 SOBRE AS OBRAS CANTOS À BEIRA-MAR (POESIA) E GUPEVA (CONTO INDIANISTA)

Inicialmente, convém esclarecer que a escrita firminiana tem características peculiares, a exemplo, de uso frequente de travessão, de vírgulas, de apóstrofos, bem como de separação do sujeito do predicado, sobretudo nos poemas. No que diz respeito a essa questão, procurou-se preservar seu texto o mais precisamente possível, de modo a conciliar a escrita da época com a atual, mas com o cuidado de retratar o testemunho próprio da escritora, considerando sua época e seus valores, por meio da interpretação por ela apregoada.

A obra em pauta é uma produção da Editora da Academia Ludovicense de Letras- ALL, sob o auspício da Academia Ludovicense de Letras-ALL (Academia de Letras da cidade de São Luís/Maranhão/Brasil) e do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães (Maranhão/Brasil), que se dispuseram a oferecer ao público leitor em geral e aos estudantes dos vários graus de ensino esta primeira edição, atualizada, conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em vigor. Para tal contaram com o trabalho acurado da Profa. Maria Cícera Nogueira, licenciada em Letras, que primorosamente se debruçou sobre a escrita firminiana, a qual traz consigo o contexto de sua época em linguagem e condições históricas, segundo o Acordo Ortográfico.

A obra apresenta Prefácios da Presidente da Academia Ludovicense de Letras, Dilercy Aragão Adler, à época (2017), e do Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães, Osvaldo Gomes.

Assim, lanço mão das minhas palavras traçadas no referido prefácio para cumprir o meu objetivo de apresentar as duas obras reunidas nesta edição.

No que diz respeito aos Cantos à beira-mar tem-se conhecimento de apenas duas edições anteriores: a original, em 1871, e a 2ª Edição, impressão fac-similar publicada por José Nascimento Morais Filho, em 1976. Enquanto o Gupeva conta com três publicações em jornais literários: em 1861, O Jardim dos Maranhenses, inicia a publicação do conto indianista Gupeva, dividido em quatro capítulos; em 1863, nova edição do Gupeva pelo Jornal Porto Livre e, em 1865, o jornal literário Eco da Juventude.

Mas a primeira edição em livro dá-se em 1975, no livro de Nascimento Morais Filho, intitulado: Maria Firmina: fragmentos de uma vida, no qual publica o Gupeva juntamente com outras obras da escritora.

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Como já foi referido, embora talvez não suficientemente, esta renomada autora maranhense, sem contar o montante da sua obra que aglutina várias vertentes da arte, não tem as suas obras literárias disponibilizadas no mercado editorial, com exceção do romance Úrsula, que já conta com sete edições em nível nacional e duas pela Academia Maranhense de Letras - AML.

Declaro no referido texto que, com o intuito de preludiar de forma que traduza o mais próximo possível da riqueza e beleza destas obras, confesso que me encantei de início com a Dedicatória de Maria Firmina para a sua mãe, no seu Cantos à beira-mar: À MEMÓRIA DE MINHA VENERADA MÃE, e na primeira oração, me parece, de forma imperativa e doce, diz: Minha mãe – as minhas poesias são tuas (grifo meu).

E continua...

É uma lágrima que verto sobre as tuas cinzas! – acolhe-as, abençoa-as para que elas possam te merecer.

[..]verti lágrimas de pungente saudade, de amargura infinda sobre a tua humilde sepultura, como havia derramado sobre o teu corpo inanimado.

[...]a dor era cada vez mais funda, mais agra e cruciante – tomei a harpa, - vibrei nela um único som, - uma nota plangente, saturada de lágrima e de saudade...

[...]Este som, esta nota, são meus cantos à beira-mar.

Ei-los! É uma coroa de perpétuas sobre a tua campa, - e uma saudade infinda com que meu coração te segue noite, e dia - é uma lágrima sentida, que dedico à tua memória veneranda.

[..] Eis pois, minha mãe, o fruto dos teus desvelos para comigo; - eis minhas poesias: - acolhe-as, abençoa-as do fundo do teu sepulcro.

E ainda uma lágrima de saudade, - um gemido do coração...

Guimarães, 7 de abril de 1871.

Maria Firmina dos Reis (ADLER, pp. 06-07, 2017) (grifos meus).

Digo também que, alguns podem achar um texto piegas, sentimental ao extremo; eu não comungo com essa interpretação. Traduzo nesses versos um amor profundo e adornado por muita admiração e gratidão de uma filha por sua mãe. Aí me vem a constatação de quão necessária é essa obra, porque vestida e revestida de sentimentos nobres e, nesse sentido, pouco usuais na nossa empobrecida contemporaneidade, na qual o consumismo e a necessidade de poder são exortados como condições indispensáveis de bem viver. Quem sabe assim possamos refletir acerca do quê estamos vivendo, para quê estamos vivendo e como estamos vivendo.

Chama a atenção que alguns poemas são oferecidos a pessoas de sua estima e admiração, inclusive a Gonçalves Dias, mas também outros para louvar Guimarães, a Praia de Cumã e ainda aqueles que tratam das questões amorosas do amor romântico e outras dores, como Queixas, Não quero amar a mais ninguém, A dor que não tem cura,

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Confissão, Esquece-a, Seu nome, Melancolia, entre tantos outros. Mas um poema que muito me enternece é: No Álbum de uma amiga.

NO ÁLBUM DE UMA AMIGA

D'amiga a existência tão triste, e cansada, De dor tão eivada, não queiras provar;

Se a custo um sorriso desliza aparente, Que máguas não sente, que busca ocultar!?...

Os crus dissabores que eu sofro são tantos, São tantos os prantos, que vivo a chorar, É tanta a agonia, tão lenta e sentida, Que rouba-me a vida, sem nunca acabar.

D'amiga a existência Não queiras provar, Há nelas tais dores, Que podem matar.

O pranto é ventura, Que almejo gozar;

A dor é tão funda, Que estanca o chorar.

Se intento um sorriso, Que duro penar!

Que chagas não sinto No peito sangrar!...

Não queiras a vida Que eu sofro - levar, Resume tais dores Que podem matar.

E eu as sofro todas, e nem sei Como posso existir!

Vaga sombra entre os vivos, - mal podendo Meus pesares sentir.

Talvez assim deus queira o meu viver Tão cheio de amargura.

P'ra que não ame a vida, e não me aterre A fria sepultura.

In: CANTOS À BEIRA MAR, 1871.

Por sua vez, O Gupeva trata de um amor impossível com final trágico. Nas suas falas, fica claro todo um ranço de desamor expresso em preconceitos e intenção clara de dominação. Mas, concomitantemente e contraditoriamente, o amor também se impõe de forma contundente no casal protagonista, sobrepujando o que há de mais sombrio na

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estrutura da personalidade humana, o que na linguagem analítica Junguiana (Carl Jung) diz respeito ao arquétipo primordial, incluso na estrutura psíquica, o chamado lado sombra de todo ser humano. Assim, esse conto também, inteligentemente, é entrecortado por descrições belíssimas do amor romântico, verdadeiro e puro, e também de descrições enfáticas de uma natureza mais virgem, no sentido da inexistência, ainda, da ação predadora do homem moderno sobre ela, a exemplo de:

[...]Era uma bela tarde; o sol de agosto animador, e grato declinava já seus fúlgidos raios;

[...]Mas, as trevas eram já mais densas, e o coração do moço confrangia-se, e redobrava de ansiedade. Seus olhos ardentes pareciam querer divisar através dessas matas ainda quase virgens um objeto qualquer.

[...] Gastão, disse procurando tomar-lhe entre as suas mãos, que loucura meu amigo - que loucura a tua te apaixonares por uma indígena do Brasil; por uma mulher selvagem, por uma mulher sem nascimento, sem prestígio: ora, Gastão sê mais prudente; esquece-a.

- Esquecê-la! - exclamou o moço apaixonado, nunca!

[...]Era pois na lua das flores, que à tarde um velho cacique, e um mancebo índio, do cume deste mesmo outeiro, lançavam um olhar de saudosa despedida, sobre o navio normando, que levava destas praias uma formosa donzela.

[...]Como Paraguaçu, Épica havia recebido o batismo. Conquanto a jovem princesa do Brasil não poupasse esforços em chamar os homens do seu país ao grêmio da igreja; conquanto sua voz fosse persuasiva, suas palavras insinuantes; todavia foi a voz de Épica que rendeu o moço índio. Ele abraçou o Cristianismo, quando soube que Épica era cristã. Oh! mancebo, murmurou o tupinambá, quanto pode o amor, quando ele é santo, como o que há no céu!

(ADLER, pp. 06-07, 2017) (grifos meus).

Gostaria de dar realce ainda à questão da relação entre os povos tratada de modo forte por Maria Firmina no conto Gupeva, ao colocar como protagonistas personagens da Europa e da Nação Tupinambá. E a esse respeito coloco num artigo meu intitulado: A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville, apresentado pela primeira vez no COLÓQUIO IBERO SUL- - AMERICANO DE HISTÓRIA: entre os dois lados do Atlântico, em Florianópolis, de 07 a 19 de setembro de 2009, e publicado na Revista Eletrônica do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Volume 31 - novembro de 2009. Introduzo a temática dizendo nas páginas 44 e 45:

Todos os colonizadores, sem exceção, apresentam, à primeira vista, uma lógica no discurso da dominação muito convincente e sempre permeada por uma nobreza incontestável.

Os portugueses, franceses e espanhóis engendravam o fio condutor dos seus discursos de dominação dos povos das Américas Central e do Sul, principalmente a partir da fé, ou seja, da necessidade de expandir o cristianismo para salvar os pagãos através da catequese e do batismo.

Demonstravam, nesse argumento, ser essa uma condição natural para o salvamento da alma dos povos indígenas (grifos meus).

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Essas questões nos parecem distantes, mas continuam vigentes nas sociedades atuais, embora em algumas situações com nuances diferentes.

Desse modo, objetivando ampliar o conhecimento da obra da autora, inclusive com vista ao uso/estudo no ensino regular, é que a Academia Ludovicense de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães disponibilizaram este livro que contempla essas duas obras de Maria Firmina dos Reis, esperando que os frutos dessa leitura acrescente, além de mais conhecimento, mais amor na sua vida, caro leitor!

Isso posto, apresento esta obra neste evento, que, além de marcar a celebração do VIII Centenário da Universidade de Salamanca, marca a realização do I Congresso Internacional de Literatura Brasileira Nélida Piñon en la República de los Sueños, promovido pelo Centro de Estudos Brasileiros, em colaboração com a Academia Brasileira de Letras e o GIR "ELBA" (Estudos de Literatura Brasileira Avanzados), que, desde 2009, realiza anualmente Jornadas Literárias sempre dedicadas a importantes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis, Jorge Amado, Guimarães Rosa, João Cabral de Mello Neto, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira e Ferreira Gullar.

O meu objetivo maior é, ao apresentar estas duas obras de Maria Firmina dos Reis, incluí-la, caso não esteja, nesse importante Centro de Estudos Brasileiros, de modo a consolidar a ressignificação da sua vida e obra, iniciada ao final da década de 60, eclodindo com maior vigor em 1975, ano do sesquicentenário de seu nascimento. E os autores desse grande feito foram Horácio Almeida (paraibano) e, principalmente, Nascimento Morais Filho (maranhense), que se lançou com muito vigor e dedicação na empreitada de reavivar o reconhecimento esquecido de Maria Firmina dos Reis, por quase um século e coloca-la de volta, ao lugar anteriormente por ela ocupado, no Panteão Maranhense, de onde nunca deveria ter saído.

REFERÊNCIAS

ADLER, Dilercy Aragão. A POÉTICA NO DISCURSO DO DOMINADOR: a permanência dos franceses no Maranhão na narrativa de D’Abbeville. Revista do IHGM N. 31 –, novembro 2009 ed. Eletrônica (pp.44-53).

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ADLER, Dilercy Aragão. ELOGIO à PATRONA MARIA FIRMINA DOS REIS:

ontem, uma maranhense, hoje, uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2014.

ADLER, Dilercy Aragão. MARIA FIRMINA DOS REIS: uma missão de amor. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017.

ADLER, Dilercy Aragão. Cantos à beira-mar e Gupeva. São Luís: Academia Ludovicense de Letras, 2017.

MORAIS José Nascimento Filho. MARIA FIRMINA FRAGMENTOS DE UMA VIDA. São Luiz: COCSN, 1975.

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