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INCUMPRIMENTO DO CONTRATO RESOLUÇÃO DO CONTRATO

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Tribunal da Relação de Lisboa Processo nº 1935/07.5TVLSB.L1-6 Relator: JOSÉ EDUARDO SAPATEIRO Sessão: 27 Maio 2010

Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO

Decisão: CONFIRMADA PARCIALMENTE A DECISÃO

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

INCUMPRIMENTO DO CONTRATO RESOLUÇÃO DO CONTRATO

EXCEPÇÃO DE NÃO CUMPRIMENTO QUESITOS

MATÉRIA DE FACTO RESPOSTAS AOS QUESITOS

Sumário

I - Existe uma nítida diferença entre a formulação negativa ou positiva do quesito, pois a resposta de “Não Provado” não significa o contrário, ou seja, que a referida factura se mostra paga, quando a liquidação do seu valor é um facto, só sendo possível alcançar tal conclusão, de uma forma directa e

imediata, com a resposta de “Provado” a um artigo desse género formulado na positiva.

II - Ao contrário do que acontece com as demais hipóteses contidas no número 1 do artigo 712.º (2.ª parte da alínea a) e alínea c)), em que tem de haver uma atitude da parte – impugnação da matéria de facto e junção de um documento novo aos autos –, as demais situações analisadas pressupõem (ou pelo menos permitem) uma conduta oficiosa do Tribunal da Relação no que toca à

alteração da matéria de facto dada como assente pelo tribunal da 1.ª instância.

Em reforço dessa posição, importa atentar igualmente no disposto no artigo 646.º, número 4 do Código de Processo Civil, norma que embora inserida na fase da discussão e julgamento da causa pela 1.ª instância e direccionada, em primeira linha, ao juiz que irá proferir a sentença, tem um carácter de regra geral que se impõe igualmente aos tribunais superiores (cf. quanto ao STJ o

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disposto no artigo 722.º, número 2 do Código de Processo Civil).

III - Entre Autora e Ré foi celebrado, em 15/07/2005, um contrato de prestação de serviços, sendo que, da leitura do conteúdo do mesmo e face ao disposto no artigo 1156.º do Código Civil resulta que a Autora se comprometeu perante a Ré a realizar e garantir uma série de resultados do seu trabalho

(essencialmente intelectual/criativo), por um período de 18 meses e contra o recebimento de um determinado valor, repartido ao longo do citado prazo.

IV - A Ré não só pretende pôr termo quase imediato à relação comercial existente, como invoca uma justa causa para o fazer - quebra das condições contratuais acordadas e da confiança entre as partes -, o que, nos termos dos artigos 801.º, 808.º e 432.º e seguintes do Código Civil se configura, sem grande margem para dúvidas, como uma resolução contratual com base em incumprimento do negocialmente acordado entre as partes.

V - Tendo em atenção o quadro contratual dos autos bem como os artigos 405.º, 406.º, 762.º e 763.º do Código Civil, é manifesto que a Autora não

podia, por sua auto-recreação e ainda que tal se devesse a uma reestruturação nela verificada, impor à Ré a alteração das formas de pagamento

consensualizadas na dita cláusula 3.ª, pois como estatui a cláusula 10.ª,

qualquer alteração passaria pelo acordo das partes bem como a sua passagem a documento escrito e assinado por ambas as interessadas.

Logo, qualquer imposição por parte da Autora nessa matéria não tinha de ser acatada pela Ré que, com suporte no contrato dos autos, só teria de continuar a efectuar os pagamentos pela forma contratualizada, aguardando a reacção da Apelada a tal recusa em acatar (porque não o tinha juridicamente de fazer) a modificação proposta, resposta essa da Autora que poderia traduzir-se, essa sim, num genuíno, contratual e legalmente relevante incumprimento do

negócio dos autos, com as inerentes consequências ao nível da possibilidade de resolução do mesmo por parte da recorrente.

VI - A Ré, ao invés, precipitou-se e, sem fundamento mínimo e suficiente, provocou a resolução do contrato de prestação de serviços, o que, sendo tal resolução juridicamente eficaz mas ilícita, por falta de pressupostos legais, tem sempre de ser reconduzida a uma recusa culposa de cumprimento contratual, constituindo a Autora no direito à indemnização por tal

incumprimento (definitivo, atenta a conduta inicial e depois reiterada, da Ré) que se traduz nos montantes acordados a título de “fees” e não liquidados (ano de 2006).

VII - A excepção de não cumprimento (artigos 428.º e seguintes do Código Civil), não só tem de ser invocada, quer extra como processualmente falando, como não se verifica o quadro factual reclamado pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 10/12/2009, processo n.º 163/02.0TBVCD.S1, relator:

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Serra Batista, em www.dgsi.pt.

VIII - Os vícios das caixas não eram impeditivos da realização do fim

prosseguido pela sua criação e fabrico, ainda que pudessem colocar muitos dos clientes à beira de um ataque de nervos com as dificuldades ou

impossibilidade mesmo de abrirem os “packs” em causa, não se revestindo tais defeitos da gravidade mínima exigível como fundamento ou causa de invocação da excepção de não cumprimento ou da resolução do

correspondente contrato (melhor dizendo, não se traduziam numa qualidade essencial do produto – cf. artigo 1222.º, número 1 do Código Civil).

IX - Não sendo a via resolutória juridicamente viável e aceitável na hipótese vertente e, atendendo às diversas alternativas que os artigos 1220.º a 1223.º do Código Civil colocam à disposição do credor, ficam igualmente excluídas as faculdades de reparação ou substituição da coisa e a eliminação dos defeitos, restando-nos o direito a uma indemnização pelos danos sofridos na imagem de marca da Ré e o direito de redução da sua contraprestação, ou seja, no valor do preço a pagar (o que a Ré reclamou junto da Autora, através da carta mencionada na alínea GG)).

X - A Ré não direccionou a sua defesa, em termos excepcionais ou reconvencionais, no sentido de reclamar junto da Autora uma qualquer

indemnização pelos prejuízos sofridos com os ditos vícios das caixas e/ou uma redução equitativa do preço das mesmas, o que impede este tribunal de

recurso de analisar e julgar tais questões.

(JES)

Texto Integral

ACORDAM NESTE TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA:

I – RELATÓRIO

B - DESIGN E COMUNICAÇÃO, S.A, com sede em Lisboa, intentou, em 23/04/2007, esta acção declarativa de condenação, com processo ordinário, contra M - MARKETING, LDA, com sede em Lisboa, pedindo, em síntese, que a Ré seja condenada a pagar-lhe a quantia de 209.633,30 Euros, acrescida de juros vencidos até a data da propositura da presente acção, no montante de 17.851,06 euros e vincendos até integral pagamento.

*

Para tanto, alegou a Autora ser uma empresa de design e comunicação que se dedica à concepção, desenvolvimento e implementação de projectos de

identidade e comunicação, tendo sido contratada pela ré para proceder à

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organização da estrutura da marca de que é titular, bem como à criação de uma plataforma de comunicação e operacionalização de logística por forma a garantir a massificação do conceito.

Desde Dezembro de 2005 a Ré deixou de pagar o fee mensal, alegando uma alteração contratual vinda da autora e que consistia na titularização das facturas e pagamentos através de letras. Tal alteração levou a que o gerente da ré sustente que denunciou o contrato, e por isso, deixou de pagar as facturas, que a autora vem agora reclamar.

A mais disso, a Autora apresentou à Ré uma proposta que esta aceitou, para a produção de moldes de caixa de plástico que compõem o pack de experiências da marca "BELA VIDA". A Autora produziu tais moldes e ferramentas para injecção em plástico de uma caixa composta por duas peças. A Ré pagou os 50% relativos à fase dois com a adjudicação do projecto, mas negou-se a pagar os restantes 50%, alegando que não foi cumprido o prazo previsto para a

produção dos moldes, que os moldes não foram entregues à Ré e que alguns pack presente apresentavam defeitos.

Acabou resolvendo o contrato e solicitou a restituição do montante já pago, que deveria ser compensado nas facturas que indicava, que se encontravam vencidas e não liquidadas.

A R encomendou, ainda, a produção de caixas, que foram executadas e entregues à Ré, por ela utilizadas e não pagas.

*

Citada a Ré através de carta registada com Aviso de Recepção (fls. 97 e 98), veio a mesma apresentar a contestação de fls. 99 e seguintes, onde alegando que o contrato de prestação de serviços foi rescindido por si e que, à data em que tal aconteceu, parte dos serviços que a autora devia ter prestado ainda não o haviam sido. Não pagou as facturas porque as mesmas não

correspondiam a serviços prestados e já havia rescindido o contrato, por entender que tinha havido quebra de confiança e violação do acordado,

quando foi exigida a livrança para titular alguns do pagamentos a efectuar por esta, rescisão que a autora aceitou.

Quanto ao contrato para concepção e produção dos moldes para caixas de plástico, a Ré alega ter resolvido o contrato, por incumprimento dos prazos e não entrega dos moldes, o que determinou, também, o não pagamento da parte do preço e o pedido de restituição do já pago. Considera pagas as quantias reclamadas pela Autora nos artigos 30.º a 34.º da petição, por compensação, tendo entregue o remanescente em cheque.

Em relação ao contrato de produção de caixas invoca a excepção de não cumprimento, pois as caixas apresentavam defeitos.

Deduz pedido reconvencional pedindo a condenação da autora a pagar-lhe a

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quantia entregue por força do contrato de concepção e produção de moldes, acrescida dos juros desde a data em que a mesma deveria ter sido restituída.

*

A Autora apresentou a resposta à contestação da Ré conforme fls. 233 e

seguintes, onde mantém que tem o direito à quantia reclamada em relação ao contrato de prestação de serviços pois o fee contem o valor da autorização para a utilização das peças e a Ré continua a utilizá-las e a concepção da marca já estava realizada. Em relação aos outros contratos mantém o que consta da petição ou seja, que cumpriu os contratos e não há razão para a Ré resolver os contratos.

(…)

Veio então ser proferida a sentença constante de fls. 438 e seguintes e datada de 23/06/2009, que, em síntese, decidiu o seguinte:

“Por tudo quanto exposto fica decide-se:

a) Julgar a acção procedente, por provada, e em consequência, condenar a Ré, MARKETING, LDA., no pedido;

b) Julgar o pedido reconvencional improcedente, por não provado e, em consequência, dele absolver a Autora.

Custas, na acção e reconvenção, a cargo da Ré. Notifique.”

*

A Ré, inconformada com tal sentença, veio, a fls. 456, interpor recurso da mesma, tendo o tribunal da 1.ª instância admitido o mesmo como de apelação e com efeito meramente devolutivo (fls. 458).

(…)

II – OS FACTOS

Da discussão da causa, o Tribunal da 1.ª Instância deu como provados os seguintes factos:

(…)

Factos não provados ou respondidos restritivamente:

3.º - Em 25/11/2005, a Autora não tinha prestado os serviços constantes dos pontos 2.3, 2.4, 2.5, 3 e 4 do Anexo 1 junto com o contrato identificado em G)?

Resposta: Provado apenas que em 25/11/2005 a Autora não tinha desenvolvido o segmento relativo ao Experiente Mobile e o ponto relativo à "operacionalização de toda a logística de modo a garantir a massificação do conceito sem perder a lógica de extrema

personalização que lhe está subjacente".

4.º - A Autora aceitou que a comunicação referida em 1) configurava resolução do contrato de prestação de serviços? Resposta: Provado apenas que a

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Autora entendeu que a carta referida em 1) configurava a resolução do contrato de prestação de serviços, mas não aceitou a resolução do mesmo.

5.º - E até solicitou que a data da resolução fosse para Dezembro de 2005 para acertar a estrutura de custos acordada? Resposta: Não provado;

6.º - Os serviços facturados a partir de Janeiro de 2006 e ao longo do ano de 2006 reportam-se aos referidos no item 3.º? Resposta: Não provado;

7.º - Após ter enviado a carta referida em R) a Ré continuou a pedir à Autora a produção dos packs? Resposta: Não provado.

III – OS FACTOS E O DIREITO

É pelas conclusões do recurso que se delimita o seu âmbito de cognição, nos termos do disposto nos artigos 690.º e 684.º n.º 3, ambos do Código de

Processo Civil, salvo questões do conhecimento oficioso (artigo 660.º n.º 2 do Código de Processo Civil).

A – REGIME PROCESSUAL APLICÁVEL

Importa frisar que a presente acção deu entrada em tribunal em 23/04/2007, ou seja, depois da entrada em vigor das alterações introduzidas no Código de Processo Civil pela reforma de 2003, que só se aplicaram aos processos

instaurados a partir de 15/9/2003 (artigo 21.º do Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8/03) mas antes das subsequentes modificações constantes do Decreto-Lei n.º 303/2007 de 24/08, que só entraram em vigor em 1/1/2008 e só incidem sobre processos instaurados após essa data, idêntica situação ocorrendo com as mais recentes alterações trazidas a público pelo Decreto-Lei n.º 226/2008, de 20/11 e parcialmente em vigor desde 31/03/2009, com algumas excepções que não tem relevância na economia dos presentes autos (artigos 22.º e 23.º desse texto legal).

Será, portanto, de acordo com o regime legal decorrente da reforma do processo civil de 2003 e dos diplomas entretanto publicados e com produção de efeitos até ao dia da instauração dos presentes autos, que iremos, quando necessário, abordar as diversas questões suscitadas neste recurso de

apelação.

B – IMPUGNAÇÃO DA DECISÃO SOBRE MATÉRIA DE FACTO

A recorrente vem impugnar a sentença proferida pelo tribunal da 1.ª instância (…)

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IV – Artigo 10.º (alínea OO) da Matéria de Facto da sentença)

Este artigo da Base Instrutória tem a seguinte redacção e mereceu a resposta adiante indicada:

Artigo 10.º – E esta não procedeu ao seu pagamento? Resposta: Provado.

A recorrente, acerca da resposta a este artigo, defende o seguinte:

“3.12. Pela correcta apreciação da prova produzida deve ser considerado como não provado o seguinte facto da base instrutória, dado como provado na decisão recorrida alínea OO) "E esta não procedeu ao seu pagamento", com fundamento nos documentos de fls. 315, 319 e 320, e depoimento de Dra. S..., atrás identificado.”

Importa referir que existe uma aparente contradição entre a presente conclusão e o que a recorrente defende nas suas alegações, com respeito à resposta que deve ser dada a este artigo da Base Instrutória e que é a seguinte: “A Ré procedeu ao pagamento da factura de Dezembro de 2005, estando por pagar a factura de Novembro de 2005, estando contabilizada mas em dívida” (cf. fls. 510 e 511 – fls. 51 e 52 das ditas alegações).

Impõe-se realçar, desde logo e em primeiro lugar, que este artigo da Base Instrutória tem de ser relacionado com o artigo anterior, que pergunta se “A Autora emitiu e apresentou à Ré a factura de Dezembro de 2005” e que teve resposta afirmativa.

Em segundo lugar, sendo o pagamento um facto extintivo e, nessa medida, uma excepção peremptória, que competia ser provada pela Ré, devia o quesito em questão ter sido formulado na positiva (por exemplo, “A Ré liquidou o valor de tal factura dentro do seu prazo de vencimento?”).

Finalmente, nunca o artigo em questão, para mais com a redacção que possui, poderia ter uma resposta como a defendida nas alegações da Apelante por extravasar manifestamente o âmbito da questão colocada, no que concerne ao fee do mês de Novembro e respectiva factura.

Fazendo uma análise cuidadosa dos documentos juntos aos autos a fls. 315 (Doc. n.º 39) e 319 e 320 (Docs. 43 e 44), a Factura n.º 52339, com data de emissão de 6/12/2005 e vencimento em 4/02/2006 e referente ao fee de Dezembro de 2005 foi paga através da Nota de Pagamento n.º 260101/2006, de 23/01/2006, mediante transferência bancária (apesar da dúvida suscitada pela referida Nota, que só é dissolvida mediante o documento de fls. 320), tendo ambos esses documentos sido, aparentemente, remetidos à B, que, aliás, notificada dos mesmos, não os impugnou dentro do prazo legal (cf. fls.

276 e seguintes).

Este pagamento é igualmente confirmado pela 3.ª testemunha inquirida em Audiência de Discussão e Julgamento, de nome S..., directora financeira da Ré e ouvida ao artigo 10.º da Base Instrutória, nos termos e para os efeitos do

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artigo 346.º do Código Civil (contraprova do seu teor).

Logo, a resposta dada ao artigo 10.º da Base Instrutória teria de ser a inversa da dada pelo tribunal recorrido, ou seja, “Não Provado” (logo aqui se revela a diferença entre a formulação negativa ou positiva do quesito, pois esta

resposta de “Não Provado” não significa o contrário, ou seja, que a referida factura se mostra paga, quando, pelo que já vimos, a liquidação do seu valor é um facto, só sendo possível alcançar tal conclusão, de uma forma directa e imediata, com a resposta de “Provado” a um artigo desse género formulado na positiva).

Importa, contudo, chamar a atenção para o teor da alínea J) da Factualidade Provada em sede de sentença, quando afirma: “Desde Dezembro de 2005, inclusive, a Ré deixou de pagar o “fee” mensal acordado naquele contrato, totalizando a quantia de 142.175,00 Euros.”

Não deixa de ser curioso confrontar o teor desta alínea, dada desde logo como assente no momento da elaboração do Despacho Saneador, sem a oposição das partes (a Autora veio reclamar dos Factos Assentes e da Base Instrutória, mas tal reclamação não foi apreciada, por extemporânea, sendo que aí era

suscitada a questão do pagamento ou não da factura de Dezembro de 2005) com o conteúdo do artigo 9.º e 10.º da Base Instrutória, contraditórios entre si, dado que todos eles se referem à mesma realidade (factura do fee de Dezembro de 2005).

O cenário adjectivo onde se sustenta esta matéria é ainda mais complexo e também contraditório entre si, pois a Ré, num primeiro momento e no artigo 26.º da contestação admite que não pagou tal factura, muito embora

condicionada à explicação aí igualmente avançada (cf. artigos 357.º e 360.º do Código Civil), vindo depois os documentos juntos e o depoimento testemunhal acima referido e analisado contrariar tal afirmação, indicando que afinal é a factura de Novembro de 2005 que ficou por liquidar, mostrando-se paga, ao invés e por lapso dos serviços financeiros da Ré, a de Dezembro do mesmo ano, situação essa que a Ré reconhece e confirma nas suas alegações de recurso, dessa forma alterando a confissão inicial, ainda que condicionada.

Perante o quadro descrito, como decidir? Eliminar, simplesmente, o artigo 10.º da Base Instrutória, deixando intocada a redacção da transcrita alínea J),

assim se respeitando a verdade formal – que não material – do processo? Mas, a ser assim, como iludir e ultrapassar os documentos que, juntos aos autos, ainda que sem o contributo das declarações da referida testemunha,

demonstram tal pagamento? Ou, em nome da verdade e justiça materiais e da coesão dos factos dados como provados e não provados e com base na prova documental, testemunhal e confessória existente, deveremos, ao abrigo do disposto nos artigos 347.º do Código Civil e 659.º, número 3 e 663.º do Código

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de Processo Civil, proceder às necessárias rectificações e modificações no referido artigo 10.º, respectiva resposta e alínea J?

Fernando Amâncio Ferreira, em “Manual dos Recursos em Processo Civil”, Almedina, Coimbra, 6.ª Edição, Setembro de 2005, páginas 220 e seguintes, a este propósito e tendo como pano de fundo o artigo 712.º, número 1, alíneas a) 1.ª parte e b), acima transcritas, defende o seguinte:

“Em três hipóteses pode a Relação alterar a decisão do tribunal de 1.ª instância sobre a matéria de facto (art. 712.º, n.º 1):

a) Se do processo constarem todos os elementos de prova que serviram de base à decisão sobre os pontos da matéria de facto em causa ou se, tendo ocorrido gravação dos depoimentos prestados, tiver sido impugnada a decisão factual com base neles proferida, nos termos do art.º 690.º-A (art.º 712.º n.º 1, alínea a)).

Verifica-se a primeira situação quando a prova de uma determinada questão de facto assentou apenas em documentos e/ou depoimentos de testemunhas inquiridas antecipadamente ou por deprecada e reduzidos a escrito, por impossibilidade de gravação (art. 522.º-A, n.º 2). Num quadro destes, à

Relação deparam-se os mesmos elementos de prova com que se confrontou a 1.ª instância; daí, poder julgar a questão de facto com a mesma liberdade com que aquela o fez e, se entender que ela errou, quando procedeu à valoração dos meios probatórios, deve alterar a decisão de facto proferida (…)

b) Se os elementos fornecidos pelo processo impuserem decisão diversa, insusceptível de ser destruída por quaisquer outras provas (art.º 712.º, n.º 1, alínea b)).

“É o caso, como refere Manuel de Andrade, de o tribunal a quo, ter

desprezado a força probatória dum documento não impugnado nos termos legais”. Com efeito, encontrando-se junto aos autos documento que faça prova plena de certo facto e o juiz, na sentença, não o der como provado, incumbe à Relação alterar a decisão da 1.ª instância, nessa parte, fazendo prevalecer a força probatória do documento (artigos 371.º, n.º 1, 376.º, n.º 1, e 377.° do Código Civil). E o mesmo fenómeno ocorrerá no respeitante a um facto sobre que verse confissão judicial escrita, desde (;desfavorável ao confitente (art.

358.º, n.º 1, do Código Civil).” – cf. também Alberto dos Reis, “Código de Processo Civil Anotado”, Volume V, Coimbra Editora, 1981 (reimpressão), páginas 470 e seguintes).

Pensamos que, ao contrário do que acontece com as demais hipóteses contidas no número 1 do artigo 712.º (2.ª parte da alínea a) e alínea c)), em que tem de haver uma atitude da parte – impugnação da matéria de facto e junção de um documento novo aos autos –, as situações acima analisadas pressupõem (ou pelo menos permitem) uma conduta oficiosa do Tribunal da Relação no que

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toca à alteração da matéria de facto dada como assente pelo tribunal da 1.ª instância.

Em reforço da nossa posição, importa atentar igualmente no disposto no artigo 646.º, número 4 do Código de Processo Civil quando estatui que “têm- se por não escritas as respostas do tribunal colectivo sobre questões de direito e bem assim as dadas sobre factos que só possam ser provados por

documentos ou que estejam plenamente provados, quer por documentos, quer por acordo ou confissão das partes”, norma que embora inserida na fase da discussão e julgamento da causa pela 1.ª instância e direccionada, em

primeira linha, ao juiz que irá proferir a sentença, tem um carácter de regra geral que se impõe igualmente aos tribunais superiores (cf. quanto ao STJ o disposto no artigo 722.º, número 2 do Código de Processo Civil).

Ora, sendo possível a este Tribunal da Relação de Lisboa modificar a matéria de facto dada como assente pelo tribunal recorrido, nos termos do regime legal acima transcrito, determina-se o seguinte:

1) Reformulação da redacção do artigo 10.º da Base Instrutória nos seguintes moldes: A Ré liquidou o valor de tal factura dentro do seu prazo de vencimento? Resposta: Provado;

2) Modificação do teor da alínea J) nos seguintes termos (nela se incorporando a confissão superveniente da Ré no que toca à omissão da liquidação da

factura de Novembro de 2005):

J) Desde Janeiro de 2006, inclusive, a Ré deixou de pagar o “fee”

mensal acordado naquele contrato, tendo ainda ficado por liquidar a factura de Novembro de 2005, totalizando a quantia de 142.175,00 Euros.

(…)

Chegados aqui, importa talvez reproduzir a factualidade dada como assente, após a reapreciação que este Tribunal da Relação de Lisboa fez da mesma, no quadro do presente recurso de Apelação:

A) A Autora é uma empresa de design e comunicação que se dedica à concepção, desenvolvimento e implementação de projectos de identidade e comunicação.

B) A Ré é uma sociedade que tem por objecto o marketing relacional,

concepção, implementação e gestão de programas de fidelização, motivação, qualidade de serviço e promoções, desenvolvendo a actividade vulgarmente designada por "Experience Marketing", que consiste na concepção e venda de experiências no âmbito de programas e acções de incentivo, motivação e fidelização, actuando no mercado com a marca" BELA VIDA".

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C) A Autora em Abril de 2005 apresentou à Ré uma proposta de intervenção da marca "BELA VIDA", a qual compreendia:

- A organização e estrutura da marca:

- O desenvolvimento de uma abordagem específica a cada um dos segmentos, a saber:

1. Experience Marketing 2. Experience Gifts

3. Experience Mobile

- A criação de uma plataforma de comunicação da marca

D) Tendo-se proposto operacionalizar toda a logística da operação de modo a garantir a massificação do conceito.

E) Estava previsto que tal trabalho seria efectuado em três meses.

F) O custo destes serviços, referidos na alínea C) (organização e estrutura da marca e, no âmbito do desenvolvimento de uma abordagem específica,

experience marketing, experience gifts, experience cards e experience mobile) seria de 67.700,00 Euros.

G) Em 15 de Julho de 2005, foi celebrado entre a Autora e a Ré um contrato de prestação de serviços, junto a fls. 27 a 37 e de que fazem parte integrante os anexos juntos a fls. 164 a 195.

H) Com a data de 16 de Novembro de 2005 a Autora enviou à Ré o fax junto a fls. 38, em que solicitava fossem alguns dos pagamentos a efectuar pela Ré titulados por letras avalizadas pelo sócio daquela, letras que teriam de estar impreterivelmente nas instalações da autora até às 13 horas do dia 18 de Novembro.

I) Por fax de 25 de Novembro de 2005 a Ré, junto a fls. 196, invocado o teor do fax referido na alínea anterior, comunica à Autora que "...em face do

enquadramento do novo relacionamento contratual entre as empresas, não faz sentido prolongar a vigência do contrato de prestação de serviços."

Mais comunica que "os trabalhos futuros passarão a ser encomendados e facturados em condições a estabelecer caso a caso, aceitando-se, no entanto a titularização das facturas pelos serviços contratuais já prestados".

J) Desde Janeiro de 2006, inclusive, a Ré deixou de pagar o “fee”

mensal acordado naquele contrato, tendo ainda ficado por liquidar a factura de Novembro de 2005, totalizando a quantia de 142.175,00 Euros.

L) Invocando ter denunciado o contrato por via da comunicação referida em 1), a Ré a partir de 25 de Maio de 2006 passou a devolver à Autora as facturas que lhe eram enviadas, devolução que era acompanhada da carta junta a fls.

43.

M) No dia 6 de Setembro de 2005, a Autora apresentou à Ré uma proposta

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que esta aceitou para a produção dos moldes de caixa de plástico que

compõem o pack de experiências "BELA VIDA", comprometendo-se a realizar:

- A engenharia do produto, pelo valor de 2.750,00 euros;

- A produção de moldes e ferramentas para injecção em plástico, de uma caixa composta de 2 peças (macho e fêmea), pelo valor de 33.000,00 euros.

Ponto 1.A. Aos valores em causa acresceria IVA à taxa de 21%.

N) A Autora produziu tais moldes e ferramentas para injecção em plástico de uma caixa composta por duas peças (macho e fêmea).

O) Estabeleceu-se um cronograma para tal prestação, em duas fases sendo que a FASE 1 (Engenharia do Produto) deve ser cumprida 1 semana a contar da assinatura da EL (encomenda) e a FASE 2 (Produção de moldes) deve ser cumprida 5 semanas após a finalização da engenharia (FASE 1) e o Rool Out (utilização de produto) a partir de 1 de Novembro.

P) E a estrutura de pagamentos acordada foi: na FASE 1, o pagamento de 100% com a adjudicação e, na FASE 2, o pagamento de 50% com a

adjudicação e de mais 50% com a entrega.

Q) A Ré pagou os 100% da FASE 1 e os 50% relativos à FASE 2, com a adjudicação do projecto.

R) Em 22 de Março de 2006, a Ré enviou à Autora a carta junta a fIs.70, procedendo à devolução da factura correspondente à produção dos últimos 50% dos moldes das caixas de plástico do pack presente, pelo facto do serviço não se encontrar prestado e referindo ainda que alguns pack presente foram entregues com defeito, tendo por carta de 6 de Abril de 2006, voltado a

salientar tal incumprimento, e solicitou a entrega dos moldes até 10 de Abril.

R1) Os moldes das caixas de plástico do pack presente não foram entregues na data prevista, nem até à data.

S) Em 29 de Junho de 2006, a Ré comunicou à Autora a resolução do contrato, alegando incumprimento do mesmo pela Autora, e declarou ficar exonerada de pagar o remanescente previsto pagar com a entrega e pediu a restituição dos valores pagos ao abrigo do Contrato ou seja a engenharia e concepção do produto (€ 3.327,50) e os 50% pagos com a adjudicação (C 19,965,00), tudo totalizando € 23.292,50.

T) Na carta referida na alínea anterior, a Ré declarou que a quantia cuja devolução requeria deveria ser compensada nas seguintes facturas, já vencidas e não liquidadas:

1. Factura n.º 52130 – construção de imagem Bolas de Natal -002,50 2. Factura n.º 52173 – produção folheto inquérito – €1.252,35

3. Factura n.º 52189 – pré produção de estacionário – €9.792,53 4. Factura n.º 52212 – Impressão cartão voucher – €1.197,90 5. Factura n.º 52215 – Brigadeiros Mackinsey – €338,80

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6. Factura n.º 52254 – Spots rádio e outros – €8.799,12 7. Factura n.º 51179 – Acrílicos logótipo loja – €713,00 8. Factura n.º 52398 – Gravação DVD – €1.495,56.

Procedia ainda ao envio de um cheque, no montante de 599,26 euros, correspondente ao valor remanescente, operada a compensação.

U) Tal cheque foi entregue à Autora em 29.06.2006.

V) A Ré encomendou a produção de caixas designadas por pack presente, com a imagem identificativa da marca BELA VIDA em acrílico e plástico em PPS cristal em vermelho/preto, de forma a permitir incluir nas mesmas um catálogo de experiências BELA VIDA, um CD, vouchers de oferta, porta – chaves, pins e outro material promocional e publicitário.

V1) Aquelas, produzidas pela Autora, são caixas que têm uma dimensão de 18 cm de largura por 23 cm de comprimento e por 3 cm de espessura, em acrílico e PPS cristal em vermelho/preto, com um fecho tipo macho, fêmea.

X) Os serviços propostos pela Ré traduziam-se na injecção de 2 caixas, tal como referido, a entregar 10.150 exemplares, 10 dias após os testes aos moldes, a facturar 100% com a entrega.

Z) Tais caixas foram concebidas pela Autora.

AA) A produção das caixas, ao custo unitário de € 2,5 cada caixa, custaria à Ré a quantia de € 25.375,00.

BB) Tais caixas destinavam-se a ser entregues à Ré para distribuição no

evento da Ré em Novembro de 2005 e para distribuição no Natal de 2005 com diverso material promocional.

CC) A Ré pagou à Autora pela contratação toda a quantia de € 140.778, 37.

DD) A Autora entregou à Ré 8.000 caixas em finais de Novembro de 2005 e facturou o valor correspondente (factura n.º 52193/1 de 16.11.2005).

EE) A Ré enviou as caixas aos seus clientes.

FF) Em 13/04/2006, a Autora enviou à Ré o fax junto a fls. 92, no qual reclamava o pagamento das produções em falta.

GG) A Ré em resposta remeteu o escrito junto a fls. 93 no qual a Ré requer que seja feita uma redução dos preços das caixas de cujos defeitos reclamou, porque tal situação lhe provocou danos na imagem junto dos clientes e onde reitera a posição assumida nas comunicações referidas em I), R) e S).

HH) A Ré continuou a encomendar trabalhos à Autora após o envio da comunicação de 25/11/2005. (Eliminada)

II) A Ré continuou a utilizar os trabalhos concebidos e desenvolvidos pela Autora designadamente, o desenho gráfico e o web design.

JJ) em 25/11/2005, a Autora não tinha desenvolvido os segmentos relativos aos Experience Cards e Experiente Mobile, o ponto relativo à operacionalização da logística de modo a garantir a massificação do

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conceito sem perder a lógica de extrema personalização que lhe está subjacente, encontrando-se também por criar uma plataforma de comunicação consistente com cada um dos segmentos e seus objectivos específicos.

JJ’) As facturas emitidas pela Autora e remetidas à Ré, a partir de Janeiro de 2006 e ao longo do ano de 2006, reportam-se aos “fees” a que se referem as alíneas b) e c) do número 2 da Cláusula 3.ª do

“Contrato de Prestação de Serviços” assinado pelas partes em 15/07/2005.

LL) A Autora entendeu que a comunicação referida em I) configurava

resolução do contrato de prestação de serviços, mas não aceitou a resolução do mesmo.

MM) Os clientes da Ré reclamaram das caixas referidas em EE), dizendo que não se conseguiam abrir.

NN) A Autora emitiu e apresentou à Ré a factura de Dezembro de 2005.

00) A Ré liquidou o valor de tal factura dentro do seu prazo de vencimento.

C – OBJECTO DO RECURSO DE APELAÇÃO

O objecto da presente apelação centra-se, essencialmente, nas seguintes quatro questões:

1) Contrato de prestação de serviços (principal) e sua resolução pela Ré;

2) Contrato de prestação de serviços (molde) e seu incumprimento;

3) Contrato de prestação de serviços (caixas/”packs”) e seu cumprimento defeituoso;

4) Facturas em dívida.

C1 – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Não existem grandes dúvidas de que entre Autora e Ré foi celebrado, em 15/07/2005, um contrato de prestação de serviços, que se mostra junto a fls. 153 a 195, como Documento n.º 2, não só porque essa é a qualificação jurídica que as próprias partes fazem do mesmo, quer em termos da sua denominação no próprio texto de dito negócio, como nos articulados

apresentados pelas mesmas nos autos, sendo também esse tipo contratual que é acolhido pela sentença recorrida, sem que a Recorrente e Recorrida se

insurjam em sede deste recurso contra a mesma (tudo sem se ignorar o

disposto no artigo 664.º do Código de Processo Civil), sendo que, da leitura do conteúdo do mesmo e face ao disposto no artigo 1156.º do Código Civil resulta

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que a Autora se comprometeu perante a Ré a realizar e garantir uma série de resultados do seu trabalho (essencialmente intelectual/criativo), por um

período de 18 meses e contra o recebimento de um determinado valor, repartido ao longo do citado prazo.

Chegados aqui e atendendo ao estatuído no artigo 1156.º do mesmo diploma legal, tal contrato rege-se, em tudo o que não for especificamente previsto, em termos do clausulado negociado e/ou juridicamente vinculativo e de normas especiais, pelas disposições relativas ao contrato de mandato, embora com as devidas adaptações (artigos 1157.º e seguintes do Código Civil).

Importa chamar à colação as seguintes duas cláusulas do contrato:

Cláusula 8.ª

(Duração e Prazos) 1. (…)

2. Qualquer das partes pode denunciar o presente Contrato, mediante comunicação à outra, através de carta registada com aviso de recepção, enviada com uma antecedência mínima de 6 (seis) meses relativamente ao termo do período inicial ou de qualquer das subsequentes renovações.

Cláusula 10.ª

(Incumprimento do Presente Contrato)

1. O incumprimento de qualquer das cláusulas deste contrato poderá importar a sua rescisão, se tal incumprimento subsistir passados 30 (trinta) dias sobre o envio de uma notificação à parte faltosa, através de carta registada com aviso de recepção.

2. A rescisão do contrato terá lugar sem prejuízo da eventual responsabilidade civil ou criminal da parte a quem for imputável, bem como dos pagamentos até essa data efectuados à BRANDIA, que não serão restituídos.

Importa talvez realçar ainda o seguinte, relativamente a este contrato de prestação de serviços, nomeadamente quando confrontado e conjugado com os dois outros negócios jurídicos da mesma natureza (tendo ainda existido muitos outros, como parece ressaltar da facturação junta aos autos, que, contudo, não estão aqui directamente em discussão): este acordo escrito é o central ou principal, funcionando os demais, em regra como complementares ou satélites deste último, por estarem ao serviço do projecto ou projectos criativos e ambiciosos naquele previstos, podendo extrair-se facilmente tal conclusão dos dois seguintes aspectos:

1) A cláusula 2.ª desse contrato de prestação de serviços de 15/07/2005 estatui o seguinte, a esse respeito:

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Cláusula 2.ª

(Serviços não compreendidos no presente contrato)

1. Não se encontram compreendidos no presente contrato todos os serviços que não estejam nele expressamente indicados e ainda os seguintes serviços:

Registo de Marcas, Processos de licenciamento junto das autoridades competentes, Paginação. Desenvolvimento de ilustrações, Arte finalização digital, Produção e aluguer /compra de Imagens. Digitalização, calibragem e tratamento de imagens em Mac Photoshop, Traduções e Revisão de Textos, produção ou edição de conteúdos editoriais, Produção e pós-produção

fotográfica, gráfica, vídeo e áudio, Preparação e saída de fotolitos e provas de cor, Produção de eventos e operações especiais. Produção gráfica,

Levantamentos de áreas de intervenção, Produção industrial, Produção de moldes e protótipos, Produção Web Design, Handling e assembling de

materiais, Estratégia e planeamento de media. Compra de espaço e direcção de meios. Transporte e armazenagem de materiais, Fornecimento de suportes digitais.

2. O preço referido na cláusula 3.a (preço e modo de pagamento) não compreende os serviços referidos no número anterior, pelo que, caso a M venha a solicitar, por escrito, a execução de algum dos serviços referidos no número anterior, os mesmos serão objecto de prévia orçamentação e

respectiva aprovação pela M.

2) Por outro lado, muita da correspondência trocada entre as partes (cf., por exemplo, cartas de fls. 92 e 93 – abaixo transcrita – e 94 e 95, sendo a

primeira da autoria da B e a segunda da autoria da M) alude, sem problemas e de uma forma indiscriminada, a todas as relações comerciais em curso, quer provenham deste contrato principal como dos restantes que lhe são

coadjuvantes ou acessórios.

Estamos face a uma estrutura contratual que podemos aproximar da união ou coligação de contratos, conforme são definidas pela nossa jurisprudência:

Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 20/01/2005, processo n.º

04B1719, relator: Lucas Coelho e de 14/03/2006, processo n.º 06A195, relator:

Azevedo Ramos, ambos publicados em www.dgsi.pt, citando-se para o efeito segundo Aresto indicado: “Há união ou coligação de contratos com

dependência, quando dois contratos, embora diferenciados, estão unidos exteriormente, porque há entre eles um laço de dependência, em que as partes querem a pluralidade desses contratos como um todo, como um conjunto económico, envolvendo um nexo funcional entre eles”.

Os factos dados como provados e os documentos juntos aos autos parecem sugerir, com alguma nitidez, que a Apelante, a partir de momento

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indeterminado do segundo semestre de 2005, se “arrependeu” do contrato celebrado em 15/07/2005 ou achou, pelo menos, que os resultados obtidos até essa altura eram suficientes para os objectivos imediatos por si delineados, tendo, a partir daí, procurado “libertar-se” da B e do negócio principal, bem como do restante lastro contratual que ainda existia, por via da sua resolução e compensação com valores ainda em dívida, para, a partir daí, gerir ela própria, com o contributo das empresas pela mesma escolhidas, o acervo criativo e material já adquirido, numa estratégia conjunta e concertada que abarca o universos negocial em presença neste recurso.

Julgamos ainda que a Ré, com vista a lograr tal objectivo, permitiu-se agir, por vezes, em violação do princípio da boa fé na execução dos contratos, que emerge, por exemplo, nos artigos 227.º, 762.º, número 2 e 334.º do Código Civil.

Logo, na subsequente análise das diversas questões que são suscitadas no âmbito deste recurso e quando se revelar pertinente, iremos relembrar tal conexão estreita entre os diversos negócios de natureza comercial que aqui são chamados à colação.

C2 – CESSAÇÃO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS

Como ressalta da matéria de facto assente, a Ré enviou à Autora a carta de fls.

42, datada de 25/11/2005, onde se pode ler, com interesse para a problemática agora em discussão o seguinte:

“I) Por fax de 25 de Novembro de 2005 a Ré, junto a fls. 196, invocado o teor do fax referido na alínea anterior, comunica à Autora que "...em face do enquadramento do novo relacionamento contratual entre as empresas, não faz sentido prolongar a vigência do contrato de prestação de

serviços."

Mais comunica que "os trabalhos futuros passarão a ser encomendados e facturados em condições a estabelecer caso a caso, aceitando-se, no entanto a titularização das facturas pelos serviços contratuais já prestados".

Muito embora não venha referido na alínea que deixámos transcrita, também aí se afirma: “Foi portanto expressamente referida que a data de termo do contrato deveria ocorre em 30 de Novembro após o que os trabalhos a prestar serão objecto de negociação entre as partes”.

Finalmente, nas cartas de devolução das diversas facturas do ano de 2006 (“

fee”) diz-se que “...uma vez que, em virtude da alteração proposta pela B, em 16 de Novembro passado, com a imposição da titularização das facturas a pagamento através de letras, a M entendeu, face à quebra

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das condições contratuais acordadas e da confiança entre as partes, não se dever prolongar a vigência do contrato tendo-o denunciado” e “ fazemos notar que, relativamente à data da produção de efeitos da denúncia, do contrato ou seja 30 de Novembro de 2005, a M acedeu já, a pedido da Dr.ª Alexandra, tal viesse a ocorrer em 31 de Dezembro de 2005, conforme solicitado pela B” (cf., por exemplo, carta de 25/05/2006, junta a fls. 43, como Documento n.º 5).

Fazendo apelo às regras da interpretação e integração das declarações

negociais que se acham inseridas nos artigos 236.º a 239.º do Código Civil, à falta de outros elementos de facto coadjuvantes da leitura, alcance e sentido do fax em causa de 25/11/2005, afigura-se-nos manifesto, da conjugação dos três excertos acima reproduzidos, que a Ré veio provocar a cessação do contrato de prestação de serviços de 15/07/2005, com efeitos a 30/11/2005 (depois e segundo a sua versão dos acontecimentos, alargado para

31/12/2005).

Pedro Paes de Vasconcelos em “Teoria Geral do Direito Civil”, Almedina, 2.ª Edição, 2003, páginas 773 e seguintes define a denúncia como a “declaração unilateral que uma das partes faz à outra e pela qual põe termo a uma relação contratual duradoura para a qual não fora estipulado um termo”, não exigindo o acordo das partes, podendo ser feita contra a vontade da outra, não exigindo um fundamento legal ou contratual, não possuindo eficácia retroactiva e

demandando uma comunicação feita com a antecedência reclamada pelo próprio negócio em concreto e pelo princípio da boa fé no cumprimento dos contratos (artigo 762.º do Código Civil), sendo ilícita a denúncia de surpresa.

O mesmo autor, obra e local citados, reconduz a resolução a uma “declaração unilateral recipienda ou receptícia pela qual uma das partes, dirigindo-se à outra, põe termo ao negócio retroactivamente, destruindo assim a relação contratual”, de natureza “vinculada e só admitida se fundada na lei ou em convenção”, sendo “vulgar a estipulação de cláusulas em que se prevê a faculdade de uma ou ambas as partes resolverem o contrato caso ocorra esta ou aquela situação”.

A Ré denomina a forma de cessação que desencadeou como denúncia (muito embora com algumas hesitações), mas pensamos que tal missiva não pode, em rigor, ser reconduzida à denúncia do negócio jurídico em presença, nos termos do número 3 da sua cláusula 8.ª, por não respeitar o prazo de 6 meses aí

reclamado, não se referir ao termo do período inicial de 18 meses do mesmo – 15 de Janeiro de 2007 – e ser justificada com base num comportamento ou comportamentos da parte contrária.

A Apelante, apesar de não ser claro, naquela comunicação inicial, se invoca como fundamento de tal cessação o incumprimento por parte da Autora de

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alguns dos compromissos nele assumidos, se a mera alteração superveniente de circunstâncias, nos termos e para os efeitos do artigo 437.º do Código Civil, acaba por esclarecer nas cartas de devolução das facturas a sua intenção e actuação, pois não só pretende pôr termo quase imediato à relação comercial existente, como invoca uma justa causa para o fazer - quebra das condições contratuais acordadas e da confiança entre as partes -, o que, nos termos dos artigos 801.º, 808.º e 432.º e seguintes do Código Civil se configura, sem grande margem para dúvidas, como uma resolução contratual com base em incumprimento do negocialmente acordado entre as partes.

Confirmando essa ideia, deu-se ainda como demonstrado o seguinte facto:

“LL) A Autora entendeu que a comunicação referida em 1) configurava resolução do contrato de prestação de serviços, mas não aceitou a resolução do mesmo.”

Iremos encarar, nessa medida, a cessação do dito negócio jurídico como uma resolução contratual.

C3 – INSTITUTO DA RESOLUÇÃO CONTRATUAL – ENQUADRAMENTO JURÍDICO

A propósito do instituto da resolução, quando radicado no incumprimento contratual, o Prof. Antunes Varela, com o peso da sua autoridade jurídica e para os contratos em geral, diz na sua obra “Das Obrigações em geral”, Volume II, 9.ª Edição, Almedina, Coimbra, 1996, páginas 91 e seguintes: “A violação do dever de prestar, por causa imputável ao devedor, pode revestir uma tríplice forma: a impossibilidade da prestação; o não cumprimento definitivo ou falta de cumprimento (inadimplemento ou inadimplência); e a mora.

Há casos em que o devedor não cumpre tornando mesmo impossível o

cumprimento da obrigação, como sucede quando, por culpa sua, pereceu ou deteriorou por completo a coisa devida. A estes casos se referem, de modo especial, os artigos 801.º a 803.º, sob a rubrica “impossibilidade do

cumprimento”.

Outras vezes, a prestação devida, não tendo sido efectuada no momento

próprio, seria ainda possível, mas perdeu, com a demora, todo o interesse que tinha para o credor.

Diferentes destes são os casos em que, depois de ter incorrido em simples demora no cumprimento, o devedor não realiza a prestação dentro do prazo (suplementar) que razoavelmente tiver sido fixado pelo credor (artigo 818.º, número 1 do Código Civil). (…).

A principal sanção estabelecida para o não cumprimento consiste, portanto, na

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obrigação imposta ex lege ao devedor de indemnizar o prejuízo causado ao credor. (…)

O não cumprimento (inadimplemento ou inadimplência do devedor) da

obrigação tem, assim, como principal consequência, abstraindo da realização coactiva da prestação, nos casos em que ele é viável (artigo 817.º do Código Civil), o nascimento de um dever secundário de prestar que tem por objecto, já não a prestação debitória inicial, mas a reparação dos danos causados ao credor.

E nos próprios casos de execução específica (uma das modalidades da realização coactiva da prestação regulada nos artigos 827.º e seguintes do Código Civil), à prestação a principal devida ab initio será normalmente adicionada a prestação secundária correspondente à cobertura dos danos entretanto causados ao credor, incluindo logo a necessidade de recurso à acção judicial. (…)

Os direitos do credor por virtude do inadimplemento da obrigação não se esgotam, porém, no direito à indemnização dos danos por ele sofridos.

Tornando-se a prestação impossível por causa imputável ao devedor, ou tendo- se a obrigação por definitivamente não cumprida, se a obrigação se inserir num contrato bilateral, pode o credor preferir a resolução do contrato à indemnização correspondente à prestação em falta.

A obrigação pode considerar-se definitivamente não cumprida como vimos, até para o efeito da realização coactiva da prestação, nos casos em que não haja verdadeira impossibilidade de cumprir. È o que sucede quando o devedor declara abertamente não querer cumprir, embora possa fazê-lo; quando o devedor não cumpre, dentro do prazo suplementar fixado, ao abrigo do disposto no número 1 do artigo 808.º, apesar de ainda ser possível realizar a prestação, etc. (…)

Fora dos casos de perda objectiva e imediata do interesse na prestação, o credor pode ainda, sobretudo nos contratos bilaterais, ter legítimo interesse em libertar-se do vínculo que recai sobre ele, na hipótese de o devedor não cumprir em tempo oportuno. È que, embora a mora lhe confira o direito a ser indemnizado dos danos sofridos, tal como o não cumprimento definitivo, só a falta (definitiva) de cumprimento legitima a resolução do contrato.

Para satisfazer este compreensível interesse do credor, o artigo 808.º, número 1 do Código Civil, atribui-lhe o poder de fixar ao devedor, que haja incorrido em mora, um prazo para além do qual declara que considera a obrigação como não cumprida.

Este prazo destinado a conceder ao devedor uma derradeira possibilidade de manter o contrato (e de não ter, além do mais, que restituir a contraprestação que eventualmente tenha já recebido), tem de ser uma dilação razoável, em

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vista da sua finalidade. E terá ainda de ser fixado, pela mesma razão, em termos de claramente deixar transparecer a intenção do credor. È a esta

notificação feita ao devedor para que cumpra dentro de certo prazo, depois de ter incorrido em mora, que alguns autores chamam notificação admonitória, enquanto outros falam em interpelação cominatória. Trata-se, na generalidade dos casos, de um ónus imposto ao credor que pretenda converter a mora em não cumprimento. (…)

E tem, realmente, a faculdade de optar, nesses casos, pela resolução do contrato. “Tendo a obrigação por fonte um contrato bilateral, diz o número 2 do artigo 801.º, o credor, independentemente do direito à indemnização, pode resolver o contrato e, se já tiver realizado a sua prestação, exigir a restituição dela por inteiro”.

O outro termo da opção que a lei lhe faculta é o de o credor manter a

contraprestação que efectuou (ou realizá-la, se ainda a não tiver efectuado) e exigir a realização coactiva da prestação devida ou a indemnização do prejuízo que lhe causou a faltam do cumprimento do devedor (interesse contratual positivo) (…).

A resolução opera-se por meio de declaração unilateral, receptícia, do credor (artigo 436.º do Código Civil), que se torna irrevogável, logo que chega ao poder do devedor ou é dele conhecida (artigo 224.º, número 1; cfr. artigo 230.º, número 1 e 2 do Código Civil). Goza de eficácia retroactiva, visto que a falta da prestação a cargo do devedor deixa a obrigação da contraparte

destituída da sua razão de ser, sem embargo da ressalva dos direitos de terceiro e das restrições impostas pela vontade das partes ou pela finalidade da resolução.”

O Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27/09/2001, em CJSTJ, Tomo III, páginas 46 e seguintes, reconduz a interpelação admonitória a “uma

intimação formal, do credor ao devedor moroso, para que cumpra a obrigação dentro do prazo determinado, sob pena de se considerar a obrigação como definitivamente não cumprida”, podendo ainda consultar- se acerca da declaração resolutória aqui em apreço José Carlos Brandão

Proença, “A resolução do contrato no direito civil” (reimpressão), Coimbra Editora, Fevereiro de 2006, páginas 108 e seguintes.

Feito o enquadramento jurídico do incumprimento contratual e das diversas reacções legalmente conferidas ao credor para o atalhar, debrucemo-nos sobre o caso dos autos.

C4 – FUNDAMENTO E ILICITUDE DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO PRINCIPAL

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A Ré sustenta a referida resolução do contrato de prestação de serviços no seguinte facto, sintetizado na alínea H) da Factualidade Provada:

“H) Com a data de 16 de Novembro de 2005 a Autora enviou à Ré o fax junto a fls. 38, em que solicitava fossem alguns dos pagamentos a efectuar pela Ré titulados por letras avalizadas pelo sócio daquela, letras que teriam de estar impreterivelmente nas instalações da Autora até às 13 horas do dia 18 de Novembro.”

Importa relacionar tal facto com o “fax” de fls. 38 a 40 e com as cláusulas 3.ª, número 4 (Preço e Modo de Pagamento) e 13.ª (Alterações ao Presente

Contrato e Disposições Acessórias), quando determinam o seguinte:

3.ª (…)

4. Os pagamentos referidos na presente cláusula serão efectuados através de cheque ou transferência bancária no prazo de 60 (sessenta) dias após a datada emissão da respectiva factura pela B, que será emitida no primeiro dia útil do mês a que o pagamento disser respeito.

13.ª

O presente contrato representa a vontade de ambas as partes, pelo que não poderão ser invocadas disposições acessórias nem efectuadas alterações ao seu conteúdo que não constem de documento escrito e assinado por ambas as partes.

Ora, tendo em atenção tal quadro contratual bem como os artigos 405.º, 406.º, 762.º e 763.º do Código Civil, é manifesto que a Autora não podia, por sua auto-recreação e ainda que tal se devesse a uma reestruturação nela

verificada, impor à Ré a alteração das formas de pagamento consensualizadas na dita cláusula 3.ª, pois como estatui a cláusula 10.ª, qualquer alteração passaria pelo acordo das partes bem como a sua passagem a documento escrito e assinado por ambas as interessadas.

Logo, qualquer imposição por parte da Autora nessa matéria não tinha de ser acatada pela Ré que, com suporte no contrato dos autos, só teria de continuar a efectuar os pagamentos pela forma contratualizada, aguardando a reacção da Apelada a tal recusa em acatar (porque não o tinha juridicamente de fazer) a modificação proposta, resposta essa da B que poderia traduzir-se, essa sim, num genuíno, contratual e legalmente relevante incumprimento do negócio de fls. 153 e seguintes, com as inerentes consequências ao nível da possibilidade de resolução do mesmo por parte da recorrente.

A Ré, ao invés, precipitou-se e, sem fundamento mínimo e suficiente, provocou a resolução do contrato de prestação de serviços, o que, sendo tal resolução

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juridicamente eficaz mas ilícita, por falta de pressupostos legais, tem sempre de ser reconduzida a uma recusa culposa de cumprimento contratual – cf., por todos, os Acórdãos do Supremo Tribunal de Justiça de 25/06/1998, CJSTJ, Tomo II, páginas 138 e seguintes e de 26/9/1996, CJSTJ, Tomo III, páginas 24 e seguintes.

Logo, tendo a atitude da Ré de ser encarada como uma recusa voluntária e culposa do contrato de prestação de serviços, é manifesto que a Autora tem direito à indemnização por tal incumprimento (definitivo, atenta a conduta inicial e depois reiterada, da M) que se traduz nos montantes acordados a título de “fees” e não liquidados (ano de 2006).

Importa dizer que a Autora reclamou também o “fee” de Dezembro de 2005, mas conforme ressalta de fls. 315 (Doc. n.º 39) e 319 e 320 (Docs. 43 e 44), a Factura n.º 52339, com data de emissão de 6/12/2005 e vencimento em

4/02/2006 e referente ao fee de Dezembro de 2005 foi paga através da Nota de Pagamento n.º 260101/2006, de 23/01/2006, mediante transferência

bancária, tendo antes ficado demonstrado que é o “fee” de Novembro de 2005 que não foi liquidado pela Ré.

Ora, face a tal prova e apesar de não haver um pedido expresso relativamente à prestação de Novembro de 2005, certo é que a Autora, quando formula a sua pretensão relativamente a este contrato de prestação de serviços, procura que a Ré seja condenada no pagamento das prestações em dívida e

correspondentes ao seu cumprimento integral, o que, em nossa opinião, permite a este tribunal de recurso, sem violar o disposto no artigo 661.º do Código de Processo Civil, manter a condenação da Ré nos moldes

determinados pelo tribunal da 1.ª instância.

C5 – CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – MOLDES

Não existem igualmente grandes dúvidas de que entre Autora e Ré foi

celebrado, em 06/09/2005, um contrato de prestação de serviços, que se mostra junto a fls. 63 a 69 como Documento n.º 15, não só porque essa é a qualificação jurídica que as próprias partes fazem do mesmo, quer em termos da sua denominação no próprio texto de dito negócio, como nos articulados apresentados pelas mesmas nos autos, sendo também esse tipo contratual que é acolhido pela sentença recorrida, sem que a Recorrente e Recorrida se

insurjam em sede deste recurso contra a mesma (tudo sem se ignorar o

disposto no artigo 664.º do Código de Processo Civil), sendo que, da leitura do conteúdo do mesmo e face ao disposto no artigo 1156.º do Código Civil resulta que a Autora se comprometeu perante a Ré a realizar e garantir um resultado do seu trabalho (essencialmente intelectual/criativo) – engenharia do produto

(24)

e produção de moldes e ferramentas para injecção em plástico, de uma caixa composta por duas peças (macho e fêmea) – e contra o recebimento de um determinado valor, repartido em várias parcelas.

Chegados aqui e atendendo ao estatuído no artigo 1156.º do mesmo diploma legal, tal contrato rege-se, em tudo o que não for especificamente previsto, em termos do clausulado negociado e/ou juridicamente vinculativo e de normas especiais, pelas disposições relativas ao contrato de mandato, embora com as devidas adaptações (artigos 1157.º e seguintes do Código Civil).

Importa chamar à colação os pontos do contrato que se referem ao cronograma da execução do projecto acordado (1.C), ao valor global do mesmo bem como as fases em que se desdobra o seu pagamento (4).

C6 – INCUMPRIMENTO DO CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – MOLDES – ILICITUDE DA RESPECTIVA RESOLUÇÃO

A recorrente, acerca desta matéria, defende o seguinte em sede das suas conclusões de recurso:

“QUANTO À PRODUÇÃO DE MOLDES – RECONVENÇÃO

3.18. Resulta da prova produzida (factos das alíneas M) a U) e contrato de fls.

63 a 69) que a Apelada facturou os moldes sem os entregar ou sem os

submeter à aceitação da Apelante, na data convencionada no contrato, nem os entregou no prazo admonitório fixado, nem até à presente data, não se tendo vencido a obrigação de pagamento do preço remanescente correspondente.

3.19. Resulta ainda da prova produzida (facto alínea T) a declaração de compensação do crédito emergente da restituição dos valores pagos com quantias facturadas à Apelante.

3.20. Assim, a resolução do contrato celebrado, que é um contrato de

empreitada, foi declarada com fundamento legal no incumprimento definitivo do contrato de empreitada – não executado em conformidade com o

convencionado e em que a mora da Apelada se converteu, após decurso do prazo admonitório fixado – é válida e produziu os seus efeitos, que são a restituição dos valores pagos à Apelada, nos termos das disposições

conjugadas dos artigos 1207.º, 1208.º, 1211.º, 1218.º, do Código Civil e das normas gerais sobre incumprimento aplicáveis, dos art.°s 808° n.º 1, 798.º e 799.º, 289.º e 436.º do Código Civil., que assim foram violadas.

3.21. Pelo que a Apelante detém um crédito sobre a Apelada que deve ser reconhecido e que, por reunir os requisitos legais previstos nos art.°s 847.º e 848.º do Código Civil, pode ser objecto de compensação, que deve assim ser declarada, assim se julgando procedente a reconvenção.”

Para além do contrato em si (fls. 63 a 69), impõe-se ainda ter em atenção os

(25)

seguintes factos:

(alíneas M) a S)]

Importa ter ainda em atenção o teor da seguinte carta da Autora para a Ré, datada de 13/04/2006, em que se diz o seguinte, relativamente à matéria que agora nos ocupa:

“Lisboa, 13 de Abril de 2006

Ref. Moldes de Caixa de Plástico que compõe o Pack Experience – V. Fax de 7/4/2006

Exmos. Senhores

No seguimento do vosso fax de 6 de Abril de 2006, vimos informar o seguinte:

a) A vossa carta de 22 de Março não solicitava qualquer entrega de molde limitando-se a proceder à devolução da factura relativa ao pagamento dos últimos 50% do preço do molde, alegando para o efeito que:

- O serviço não se encontrava prestado

- Os packs presentes produzidos pela Brandia foram entregues com defeito.

b) Não obstante tal, em 20/3/2006 foi-nos pedida cotação para a elaboração de novos packs experiência, os quais seriam produzidos com o mesmo molde, cotação esta que vos foi enviada pelo nosso fax de 27/3/2006. Só no

seguimento da não aceitação do nosso orçamento é que V. Exas., pela primeira vez, solicitaram a entrega dos moldes (em 27/3/2006).

Contudo,

c) Face à posição que vem sendo tomada por essa empresa, não estamos na disposição de entregar quaisquer moldes sem que, em simultâneo, os mesmos nos sejam integralmente pagos, assim como as restantes facturas que se encontram em vosso poder e que não foram pagas.

d) Lembramos que, directamente relacionados com os moldes, se encontram por liquidar para além dos 50% do preço dos moldes, as facturas relativas aos packs já entregues, sendo-nos ainda devidos os trabalhos realizados para a AVEB a pedido do Senhor António.

Para além dos fees em atraso, são-nos ainda devidos os seguintes montantes por trabalhos de produção já efectuados por esta empresa, os quais

solicitamos que sejam pagos de imediato e independentemente dos fees mensais:

- Factura 52041 – remanescentes 50% do custo de produção do molde – € 19.965,00

- Factura 52130 – Construção da imagem Bolas de Natal – € 302,50

- Factura 52173 – Produção do folheto "Inquérito de Satisfação" – € 1.252,35 - Factura 52189 – Pré produção de diverso estacionário – € 9.792,53 – Factura 52193 – Produção de 8000 caixas – € 24.200,00

- Factura 52212 — Impressão Cartão Voucher – € 1.197,90

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- Factura 52215 — Brigadeiros para apoio ao evento Mackinsey – € 338,80 – Factura 52254 — Spots de rádio e outros trabalhos – € 8.799,12

Factura 52279 — Acrílicos logótipo loja – € 713,90 Factura 52398 — Gravação de DVD – € 1.495,56

e) Todos os trabalhos supra referidos já foram elaborados e, com excepção dos moldes, entregues, sendo que a última entrega foi efectuada em 3/4/2006.

Ficando a aguardar o pagamento das facturas em atraso, subscrevemo-nos”

A situação referente ao contrato dos moldes das caixas de plástico do pack presente não é muito clara, quer em termos sequenciais como lógicos, ficando, na falta de alegação factual ou prova do afirmado, muita coisa por explicar e esclarecer no quadro deste negócio.

Suscita-se, desde logo, uma primeira dúvida: se estes moldes são os das caixas cuja encomenda iremos analisar nos dois pontos seguintes, mal se

compreende que se peça a entrega dos moldes mas se encomende, com base nestes últimos, as ditas caixas, pois tudo indica que a Autora necessitaria de tais moldes para o fabrico das caixas em questão.

Aliás, importa ainda recordar que a Ré solicita em Março de 2006 a elaboração de novos “packs-experiência”com base nesses moldes, o que indicia não pretender até aí a entrega dos mesmos.

A tais dúvidas ou perplexidades somam-se outras, com a audição do depoimento de algumas das testemunhas, quando se referem ao fabrico daquelas caixas por uma outra empresa que não a que foi utilizada pela Autora para o mesmo fim, não se percebendo como tal foi possível sem os referidos moldes (cf., aliás, o E-mail de fls. 73, como Documento n.º 17).

A Ré devolveu à Autora, em 22/03/2006, a factura relativa aos últimos 50% da segunda fase, invocando incumprimento do contrato correspondente (não entrega molde; vícios em algumas caixas), sendo na mesma, de acordo com a prova produzida nos autos, feita, pela Apelante, uma primeira referência à não entrega do molde (pack presente), pedido que depois é reiterado em novas comunicações (E-mail de fls. 73 e fax de fls. 75, com data de 6/04/2006 e junto como Documento n.º 19, a que vem responder a comunicação da Autora acima reproduzida).

Ora, todo este quadro fáctico aponta no sentido dos eventuais defeitos apresentados pelo molde ou moldes não prejudicarem séria e gravemente a finalidade para que tinham sido concebidos e fabricados, indiciando ainda o mesmo que a entrega de tais moldes se destinavam a ser usados para fazer mais caixas, embora noutro fornecedor, da escolha da Apelante.

Impõe-se conjugar ainda este negócio – cujo total cumprimento estava dependente, essencialmente, da entrega do molde ou moldes pela B à Ré –, não só com as demais relações comerciais estabelecidas e/ou em curso, como

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com a postura e o comportamento de cada uma das contraentes para com as mesmas.

Temos que, por um lado, como já deixámos enunciado, até finais de Março de 2006, a questão da não entrega do molde ou moldes nunca se colocou

verdadeiramente, pois foram feitas 8 000 caixas com eles e pedido mais um orçamento naquele mês para a concretização de mais packs.

Verifica-se, por outro lado, que, apesar dos defeitos apresentados pelas referidas caixas, a Autora não deixou de lhes dar a utilização pretendida (como iremos ver, em mais pormenor, noutro ponto deste Aresto).

Não será despiciendo recordar também aqui que a Ré já tinha resolvido ilicitamente o contrato de prestação de serviços principal, não pagando os correspondentes fees dos meses de Janeiro, Fevereiro e Março de 2006 e vindo a devolver as correspondentes facturas (cf. fls. 49 a 51), estando ainda por pagar a relativa ao fee do mês de Novembro de 2006, a factura referente à produção das caixas (FLS. 91- Documento n.º 30 – vencimento em

15/012/2006) bem como os serviços prestados e cobrados através das facturas referenciadas na carta da Autora de 13/04/2006.

Afigura-se-nos que o quadro de incumprimento em que a M se colocou com a recusa de pagamento da última fatia do preço acordado no âmbito do negócio em análise, permitia, desde logo, à B, a invocação da excepção do não

cumprimento, nos termos dos artigos 428.º e 429.º do Código Civil (cf., quanto a tal instituto da excepção de não cumprimento, Pires de Lima e Antunes

Varela, Código Civil Anotado, Volume I, 3.ª Edição Revista e Actualizada, Coimbra Editora, 1982, páginas 380 e seguintes, em anotação a tais

dispositivos legais e Antunes Varela, “Das Obrigações em Geral”, Volume I, 9.ª Edição, 1996, Almedina, páginas 408 e seguintes, sendo curioso realçar o papel que os mesmos autores, no confronto com a excepção de não

cumprimento, conferem ao direito de retenção, como a forma de a lei tutelar algumas vezes, nos contratos que não são bilaterais ou sinalagmáticos, mas em que pode haver obrigações de ambos os contraentes, o interesse de um deles no cumprimento oportuno das obrigações do outro).

Também o descrito quadro de plúrimo e vasto incumprimento contratual possibilitava também, em nosso entender, a arguição dessa mesma excepção de não cumprimento por parte da B, no que toca à não entrega dos moldes (como aliás e socorrendo-nos das regras interpretativas dos artigos 236.º a 239.º do Código Civil, resulta da aludida carta de 13/04/2006), atenta a já analisada conexão entre os diversos negócios e relações comerciais existentes, todos eles moldados ou firmados em função do contrato de prestação de

serviços principal, numa figura reconduzível à união de contratos, sendo certo que as próprias partes assim os encaravam, como resulta da troca de

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