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PODER JUDICIÁRIO ESTADO DO RIO DE JANEIRO TRIBUNAL DE JUSTIÇA VIGÉSIMA SÉTIMA CÂMARA CIVEL / CONSUMIDOR

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Apelação Cível n° 0009997-52.2010.8.19.0066

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APELAÇÃO CÍVEL Nº 0009997-52.2010.8.19.0066

APELANTES 1 : CONSTRUTORA AZEVEDO E COTRIK CONSTRUÇÕES E INCORPORAÇÕES LTDA e AGM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA

APELANTE 2 : KÁTIA VALÉRIA DOS SANTOS SILVA DE ANDRADE (RECURSO ADESIVO)

RELATOR : DES. ANTONIO CARLOS DOS SANTOS BITENCOURT

E M E N T A

Apelações Cíveis. Direito do Consumidor. Ação de rescisão de contrato cumulada com danos morais.

Financiamento de salas comerciais. Falha na prestação de Serviços. Sentença de parcial procedência, que declarou a nulidade do pacto firmado e condenou, solidariamente, as rés a devolverem toda a quantia paga pela autora, acrescida de juros e correção monetária, além do pagamento, de forma solidária, a quantia de R$12.000,00(doze mil reais), a título de danos morais, acrescida de juros e correção Insurgência de ambas as partes. De fato, verifica-se nos acordo extrajudicial firmado entre a parte autora e o

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Condomínio do Edifício Palace Business Center, assim, não procede o duplo ressarcimento por um mesmo fato, uma vez que implicaria “bis in idem”, além de um enriquecimento ilícito em benefício da promitente compradora, o que é vedado pelo ordenamento jurídico. Lucros Cessantes. Cabível. Presunção relativa do prejuízo vindicado pelos autores.

Entendimento consolidado do STJ e desta Colenda Câmara. No tocante à reparação extrapatrimonial é curial assentar, neste passo, que o dano moral consubstancia violação à dignidade humana, valor fonte da ordem constitucional brasileira (art. 1º, III, da CRFB/1988), do qual dimana o direito geral de personalidade em todas as suas dimensões. Destarte, caracteriza-se dano moral indenizável a conduta da Construtora de procrastinar, sem motivo justificado, a entrega da obra, frustrando o sonho do consumidor de ter a casa própria. O quantum indenizatório fixado no valor de R$12.000,00 (doze mil reais), solidariamente, obedeceu ao critério norteado pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em conta o caráter compensatório para a vítima e o punitivo para o ofensor, não merecendo, portanto, qualquer censura. Por fim, mantido o percentual de

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10% sobre o valor da condenação a título de honorários advocatícios. PROVIMENTO PARCIAL DOS RECURSOS, NA FORMA DO ARTIGO 557, §1º A, DO CPC.

DECISÃO MONOCRÁTICA

Trata-se de ação de rescisão de contrato cumulada com danos morais, ajuizada por KÁTIA VALÉRIA DOS SANTOS SILVA DE ANDRADE em face de

CONSTRUTORA AZEVEDO E COTRIK CONSTRUÇÕES E INCORPORAÇÕES LTDA e AGM EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, alegando, segundo relatório contido na sentença, que adquiriu

junto às rés duas salas comerciais, sob a promessa de que o empreendimento ficaria pronto em 36 meses. Aduz ter adimplido o pagamento de todas as prestações acordadas no negócio, contudo as rés não entregaram os imóveis no prazo estabelecido. Diante do exposto, a autora requer a inversão do ônus da prova, declarando a solidariedade e responsabilidade objetiva das rés, rescindindo-se o contrato com elas celebrado com a devolução de todos os valores pagos, devidamente atualizados; sejam as rés condenadas ao pagamento de indenização por danos emergentes, na importância de R$600,00 mensais referentes a valores despendidos com locação da sala comercial; sejam as rés condenadas ao pagamento de indenização por danos morais.

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O magistrado, em sentença de folhas 309/313, indexador 00326, julgou procedente, em parte, a demanda, cuja parte dispositiva restou assim redigida:

“JULGO PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO para rescindir o instrumento particular firmado entre as partes litigantes relativo ao empreendimento imobiliário objeto da lide, condenando solidariamente as rés a devolverem toda a quantia paga pela autora, acrescida de juros de mora de 1%

ao mês a contar da citação, na forma do artigo 406 do Código Civil, e correção monetária desde a data dos efetivos pagamentos, o que deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença, nos termos do art. 475-A do CPC.

Condeno as rés, de forma solidária, a pagarem à parte autora a quantia de R$12.000,00 (doze mil reais) a título de compensação pelos danos morais, acrescida de juros de 1% ao mês a contar da citação e correção monetária a contar desta data.

Condeno, ainda, as rés ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de 10% sobre o valor da condenação”.

Embargos de declaração manejados pelos apelantes, indexador 00334, conhecidos e não providos, indexador 00343.

Insatisfeitos, os litigantes recorrem.

As rés – Construtora Azevedo e Cotrik Construções e AGM Empreendimentos - , com esteio na apelação de fls 326/334, indexador 00344,

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sustentam que: “a) o TERMO DE ACORDO VINCULADO A COMPROMISSO DE PAGAMENTO E QUITAÇÃO, juntado aos autos e também os embargos de declaração, ora interposto às fls. 317/322, comprova que a parte autora já recebeu a título de acordo extrajudicial, realizado em 21 de julho de 2011(aqui, necessário pequena correção, uma vez que o recibo encontra-se datado de 20 de outubro de 2010), os valores pagos por ela, ao condomínio do edifício Palace Business Center. Assim, frisa a má fé da parte autora, tendo em vista que não noticiou nos autos tal acordo; bem como não foi apreciado pelo magistrado a quo quando da prolação da sentença. Requer, portanto, a apreciação do referido termo, pois se assim não for a autora estará recebendo por duas vezes o valor que alega ter pago nas salas objeto deste processo”; b) Reprisa os argumentos articulados na peça de bloqueio, afirmando, em síntese, que: os valores reclamados pela autora foram repassados diretamente para o condomínio, constituído sob a modalidade obra a preço de custo; que a inadimplência dos próprios condôminos inviabilizou a obra. Dessa forma não são responsáveis pelo empreendimento, consoante documentos juntados aos autos.

Assim, as Rés, pugnam pelo acolhimento da apelação para “reformar a sentença e julgar improcedente a presente ação ou anular a sentença e determinar o retorno dos autos para apreciação do TERMO DE ACORDO VINCULADO A COMPROMISSO DE PAGAMENTO E QUITAÇÃO, para após ser proferida nova sentença de mérito”.

A seu turno, a parte autora sustenta, em resumo, que há presunção de prejuízo do promitente-comprador, sendo, portanto, devido o pagamento de lucros

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cessantes e, para tanto, colaciona jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça; bem como da necessidade da majoração do quantum indenizatório, a título de reparação extrapatrimonial, para R$20.000,00(vinte mil reais), tendo em vista a angústia suportada por mais de dez anos.

Assim, requer o provimento do recurso, para que seja reformada parcialmente a d. sentença, a fim de majorar o valor atribuído à condenação por danos morais, bem como para condenar as Apelada ao pagamento de lucros cessantes correspondentes a 1% (um por cento) sobre o valor do contrato a contar de 01/08/2000 (data em que as unidades deveriam estar concluídas) e, consequentemente, ao pagamento de honorários advocatícios na proporção de 20% sobre o valor da condenação.

Contrarrazões apresentadas, reiterando os posicionamentos dos respectivos recursos.

É o relatório. Decido:

Os recursos são tempestivos e estão presentes os requisitos de admissibilidade.

O julgamento monocrático é a solução mais apropriada para o caso vertente, sendo uma forma de apreciação mais célere do procedimento recursal, tendo em vista que se trata de questão conhecida no âmbito deste Tribunal, cujo deslinde

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possui parâmetros delineados pela jurisprudência dos Tribunais Superiores, abrangida a hipótese pelo artigo 557 do Código de Processo Civil e artigo 31, VIII, do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça.

A questão litigiosa gravita em torno da rescisão do contrato particular de promessa de compra e venda estabelecido entre os litigantes, ante a ausência de entrega das salas comerciais no prazo pactuado, com os consectários daí decorrentes.

Importa consignar de plano que a relação jurídica se amolda no conceito de relação de consumo regulada pela Lei 8078/90 e, justamente por isto, desafia análise sob o prisma de seus preceitos.

Feitas estas considerações prévias, passa-se à análise conjuntamente dos recursos, em virtude de as matérias discutidas estarem interligadas.

Preliminarmente, registra-se que analisando a descrição dos fatos narrados na petição inicial, as Rés são partes legítimas para figurarem no polo passivo da ação, como bem reconhecido na sentença, cuja fundamentação adoto como parte integrante da minha decisão, com o fito de evitar possível tautologia, verbis:

“Tentam as rés se eximirem de suas responsabilidades ao afirmar que as obras do empreendimento eram executadas pelo próprio condomínio. Entretanto, ambas as rés promoveram a oferta pública para a venda das salas comerciais, conforme comprovado pela autora através dos encartes publicitários de fls. 13/15, sendo certo ainda que o_empreendimento imobiliário teve a construção iniciada em terreno de titularidade da 1ª ré, conforme se infere do documento

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de fls. 164, o que comprova satisfatoriamente a atividade de incorporação imobiliária.

Cabe ainda ressaltar que o próprio sócio da 1ª ré de nome Luiz Antônio Paulo Cotrik, na qualidade de Diretor Técnico, assumiu a presidência dos trabalhos quando da instituição do Condomínio do Edifício Palace Business Center, como comprovado a fls. 71, o que denota que as rés, a todo tempo, estiveram à frente do empreendimento imobiliário.

Assim, em razão do descumprimento da obrigação por parte das rés quanto ao prazo estabelecido para a entrega das unidades adquiridas pela autora e a não conclusão das obras (as fotos de fls.

106/107 o comprovam), permite-se concluir, sem sombra de dúvidas, que ocorreu o inadimplemento do contrato por parte das rés”.

Aqui, por oportuno, a transcrição do artigo 31 da Lei 4.591/64, que assim dispõe:

Art. 31. A iniciativa e a responsabilidade das incorporações imobiliárias caberão ao incorporador, que somente poderá ser:

a) o proprietário do terreno, o promitente comprador, o cessionário deste ou promitente cessionário com título que satisfaça os

requisitos da alínea a do art. 32;

b) o construtor (Decreto número 23.569, de 11-12-33, e 3.995, de 31 de dezembro de 1941, e Decreto-lei número 8.620, de 10 de janeiro de 1946) ou corretor de imóveis (Lei nº 4.116, de 27-8-62)."

No mérito, verifica-se que há certa plausibilidade na alegação das Rés quanto ao Termo de Acordo vinculado a compromisso de pagamento e quitação firmado, em 22 de outubro de 2010, entre a parte autora e o Condomínio do Edifício Palace Business Center, referente às duas salas comerciais de nºs. 205 e 206, consoante documento acostado à fl. 196, indexador 00204.

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De fato, o tal documento confirma que a parte Autora comprometeu-se a quitação ampla, geral e irrestrita, para nada mais reclamar ou exigir do Condomínio, relativamente à haveres e direitos referentes as salas comerciais, que cessaram com a restituição do valor de R$43.169,70 (quarenta e três mil, cento e sessenta e nove reais e setenta centavos), pagos em 10 parcelas, na quantia de R$4.316,97(quatro mil, trezentos e dezesseis reais e noventa sete centavos), sem correção monetária, que ora foram depositadas mensalmente na conta corrente da demandante.

Assim, sob esse aspecto, admitir uma condenação pelo mesmo fato gerador implicaria verdadeiro bis in idem; além de um enriquecimento ilícito em benefício da promitente compradora, o que é vedado pelo ordenamento jurídico;

levando-se em consideração que não se vislumbra, nos autos, a existência de algum elemento que induza à nulidade ou pelo menos à limitação dos efeitos do acordo extrajudicial celebrado pelas partes.

Aliás, sobre o tema, o Superior Tribunal de Justiça já se manifestou no sentido de que “a quitação plena e geral, para nada mais reclamar a qualquer título, constante do acordo extrajudicial, é válida e eficaz, desautorizando investida judicial para ampliar a verba indenizatória aceita e recebida”.1

Nesse diapasão, afasta-se a condenação das Rés a restituição dos valores pagos pela parte autora/apelante, em face da proibição constitucional implícita

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do duplo ressarcimento por um mesmo fato, considerando que não há qualquer vício capaz de macular o termo de quitação firmado pela parte autora.

Por derradeiro, não procede a condenação da autora por litigância de má fé e, muito menos, a anulação da sentença, uma vez que o “Termo de acordo vinculado”

não se trata de documento novo, inclusive o Magistrado singular menciona-o no relatório contido na sentença: “Documentos juntados pela autora em fls. 196/295.

Manifestou-se a parte ré em fls. 294/295”.

Por outro lado, o dano moral, na espécie, existe in re ipsa, ou seja, decorre da gravidade do ato ilícito em si. Logo, uma vez demonstrado o fato ofensivo, também estará demonstrado o dano moral em razão de uma presunção natural.

O Eminente Desembargador Sérgio Cavalieri Filho esclarece muito bem o tema:

“Se a ofensa é grave e de repercussão, por si só justifica a concessão de uma satisfação de ordem pecuniária ao lesado. Em outras palavras, o dano moral existe in re ipsa; deriva inexoravelmente do próprio fato ofensivo, de tal modo que, provada a ofensa, ipso facto está demonstrado o dano moral à guisa de uma presunção natural, uma presunção hominis ou facti, que decorre das regras da experiência comum”.2

No mais, há, sem sombra de dúvidas, uma grande dificuldade de aferir o exato valor pecuniário a um dano moral. Nesse sentido, JOSÉ DE AGUIAR DIAS comenta:

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“[...] sua inexatidão nos parece estar hoje firmemente demonstrada, porque equivalência, em matéria de reparação de dano, não significa perfeita igualdade entre a indenização e o prejuízo”3.

E, ainda, como leciona Ada Pellegrini Grinover, “qualquer quantia referente ao dano moral indicada na petição inicial vem marcada pelo signo da provisoriedade, precisamente porque competirá ao juiz a quantificação do dano, depois de colhidos todos os elementos de convicção”4

Destarte, orientando-se pelo princípio da razoabilidade, à luz das peculiaridades do caso concreto, cabe ao julgador determinar, dentro de seu prudente arbítrio, o valor da indenização, equitativamente, sem se afastar da máxima cautela, de modo que possa propiciar a certeza de que o ato ofensor não fique impune e servir de desestímulo a práticas inadequadas aos parâmetros da lei. Desse modo, o órgão revisor deve modificar o que foi decidido apenas se desatendidos tais parâmetros.

Na hipótese, considerando a gravidade dos fatos e as consequências lesivas havidas, a indenização por dano moral arbitrada pela sentença, ora guerreada, na quantia de R$ 12.000,00 (doze mil reais), de forma solidária, deve ser mantida, pois observou os critérios acima elencados e, também, a média arbitrada por esta Corte para hipóteses semelhantes.

2 Programa de Responsabilidade Civil, 5ª ed. p.101, 2004

3 DIAS, José de Aguiar. Da Responsabilidade Civil. 8. ed. Rio de Janeiro : Forense, Vol. 1 e 2, 1987.

4 GRINOVER, Ada Pellegrini. Parecer referente ao Agravo de Instrumento nº 113.088.4/0, TJSP, in Dano Moral. Observações sobre a ação de responsabilidade civil por danos morais decorrentes de abuso da

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Incide, portanto, o Enunciado nº 116, do Aviso nº 55/12 do TJRJ:

“A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação”.

Com relação aos danos emergentes, de fato o contrato de locação firmado com o Hospital Vita foi pactuado com a empresa Costa Service Ltda, cooperativa da qual participa a autora, não tendo o condão de ensejar a condenação das rés a esse título, como bem lançado na sentença.

Todavia, de acordo com consolidado entendimento jurisprudencial do E.STJ, ocorrendo o descumprimento do prazo para a entrega do imóvel objeto do compromisso de compra e venda, é cabível a condenação por lucros cessantes, havendo presunção de prejuízo do promitente-comprador, ex vi STJ. AResp 554670.

Relator: Min. Moura Ribeiro. Decisão monocrática publicada em 07/10/2014 e AgRg no Ag 1319473/RJ, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 25/06/2013, DJe 02/12/2013.

Nesse sentido, alinha-se a jurisprudência desta Colenda Câmara, verbis:

Apelações. Promessa de compra e venda de imóvel na planta.

Atraso substancial na entrega. Dano moral. Critérios de arbitramento. Perda parcial do objeto. Cobrança abusiva de serviços não comprovados. Lucros cessantes presumidos. Aplicação comutativa de cláusula contratual. 1. Afastada por decisão

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saneadora a preliminar de ilegitimidade passiva, e não agravando o réu que a arguira, opera-se para ele a preclusão da faculdade impugnativa, nos termos do art. 473 do CPC e da Súmula n.º 424 do STF. 2. Entregue o imóvel no curso do processo, sem que o juízo tivesse antecipado essa tutela específica, é forçoso reconhecer a perda de objeto dessa parte do pedido, referente à obrigação de dar - ressalvada a imposição dos respectivos ônus de sucumbência à ré, que deu causa à ação. 3. O adquirente de imóvel na planta nutre expectativa legítima em relação ao momento em que poderá desfrutar do bem, seja como residência, seja como fonte de renda.

Superado, além do tolerável, o prazo assumido pelo construtor, configura-se o dano moral, tendo em vista tratar-se de bem econômico durável e de alto valor de uso, visto que se destinava a servir de moradia aos autores, e cujo preço, proporcionalmente aos seus ganhos, é vultoso. 4. Não se mostra excessiva a verba compensatória arbitrada em R$ 15.000,00 para a compensação do dano extrapatrimonial decorrente do atraso de oito meses após o prazo de tolerância para entrega do imóvel, seja à luz da extensão do dano, seja por força da gravidade da culpa do ofensor, que deixou de agir com o necessário cuidado na elaboração e execução do projeto do empreendimento, o que importou no pronunciado ultrapassamento da data aprazada. Inteligência do art. 944, caput e

§ único, a contrario sensu, do Código Civil. 5. Não se justifica a cobrança de suposto serviço de assessoria jurídica imobiliária quando não há prova de que eventual consultoria tenha sido solicitada pelo consumidor e a ele efetivamente prestada, mesmo porque toda e qualquer informação inerente ao negócio (celebrado por meio de contrato de adesão), seria dever já da construtora estipulante, já do próprio corretor prestá-la, pela natureza de seu ofício (art. 723 do Código Civil; art. 4º, I e II, do Código de Ética Profissional de Corretores de Imóveis - Resolução COFECI nº 326/92), de modo que a suposta assessoria se mostra supérflua e redundante, além de militar contra as regras ordinárias de experiência comum (art. 335 do CPC). 6. Conforme assentada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, o promitente comprador faz jus à indenização de lucros cessantes pelo período de atraso na entrega do imóvel, pela presunção de prejuízo decorrente da não fruição do bem, dispensada a prova de que o daria em locação. Nessa ordem de ideias, a cláusula que estipula indenização pela fruição do imóvel, originalmente concebida apenas contra o adquirente em caso de resolução contratual, deve-se

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aplicar também, por simetria e equidade, contra o fornecedor estipulante que incidir em mora na obrigação de entrega do imóvel.

É justo, à luz da comutatividade contratual, que a indenização imposta ao adquirente que indevidamente frui o bem seja igualmente imposta ao incorporar que indevidamente impede o adquirente de fruí-lo no momento esperado. Inteligência dos arts. 4º, incisos I e III, e 51, § 1º, inciso II, ambos do Código de Defesa do Consumidor. 7.

Provimento parcial do primeiro e terceiro recursos e desprovimento do segundo.(apelação nº 0045252-14.2011.8.19.0203, Des. Marcos Alcino a. Torres, Julgamento: 29/10/2014, Vigésima Sétima Câmara Cível Consumidor).

APELAÇÃO CÍVEL. AQUISIÇÃO DE UNIDADE IMOBILIÁRIA.

DEMORA EXCESSIVA NA ENTREGA DO IMÓVEL. ATRASO DESPROPORCIONAL E INJUSTIFICADO. AUSÊNCIA DE

COMPROVAÇÃO DE CAUSAS EXCLUDENTES DE

RESPONSABILIDADE. LUCROS CESSANTESPRESUMIDOS. Res ponsabilidade objetiva da empresa ré, que se estabelece independentemente da comprovação de culpa, somente sendo afastada por questões de força maior, caso fortuito, culpa exclusiva da vítima ou fato de terceiro, nos moldes do artigo 14 do CDC.

Entrega do imóvel que fora prometida para novembro de 2011, com prorrogação do prazo por mais 180 dias, não cumprindo aconstrutora com o seu dever contratual, ocorrendo a sua entrega apenas em fevereiro de 2013. Teoria do Risco do Empreendimento.

Rés que deveriam estabelecer data para entrega com folga suficiente para suprir possíveis contratempos. Dano moral bem configurado, consubstanciado na conduta das demandadas de procrastinar, sem motivo justificado, a entrega da obra, frustrando o sonho do comprador de ter a casa própria. O quantum indenizatório fixado no valor de R$15.000,00 (quinze mil reais) obedeceu ao critério norteado pelos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, levando-se em conta o caráter compensatório para a vítima e o punitivo para o ofensor, não merecendo, portanto, qualquer censura. Lucros cessantes presumidos que merecem ser mantidos. A inexecução culposa do contrato pelo promitente vendedor importa na frustração da expectativa de lucro do adquirente, haja vista a indisponibilidade do bem na data convencionada. Ademais, todas as economias da autora, que

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poderiam estar sendo investidas de outra forma, foram entregues às rés, sem direito a juros, o que evidentemente gerou tensão decorrente das perdas patrimoniais que naturalmente decorrem do atraso, uma vez que o bem poderia gerar renda para a autora, na forma de aluguéis em todo esse período. Precedentes desta Corte e do STJ, entendendo pela desnecessidade de comprovação da finalidade locatícia quando da aquisição do imóvel, visto como presumido o prejuízo suportado pelo promitente comprador, advindo da privação da utilização do bem por força do descumprimento contratual da construtora. Sentença irretocável.

DESPROVIMENTO DO RECURSO DAS RÉS. (apelação nº 0030771-57.2013.8.19.0209, Des. Antonio Carlos dos Santos Bitencourt, Julgamento: 04/02/2015, Vigésima Sétima Câmara Cível Consumidor)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, CUMULADA COM REPARAÇÃO DE DANOS. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL. - Pedido de pagamento de multa constante na exordial que não possui amparo no instrumento contratual celebrado entre as partes. - Ausência, também, de comprovação das excludentes de nexo causal alegadas pelas rés e elencadas no § 3º, do artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor. Termo ad quem da mora que deve ser considerado como sendo a data da efetiva averbação do habite-se e não a data da entrega das chaves ao autor. Condenação a título de lucros cessantes que se revela adequada, haja vista os evidentes prejuízos gerados em razão do atraso na entrega do imóvel. Atraso na entrega do bem que gera agonia àquele que despendeu suas economias na esperança de adquirir determinado bem imobiliário. - Dano moral efetivamente constatado. Precedentes desta Corte. Custas e honorários sucumbenciais a serem suportados integralmente pela parte ré.

PARCIAL PROVIMENTO A AMBOS OS RECURSOS, NA FORMA DO ARTIGO 557, § 1º-A, DO CPC. (Apelação nº 0041493- 71.2013.8.19.0203, Des. Tereza C.S. Bittencourt Sampaio, Julgamento: 23/12/2014, Vigésima Sétima Câmara Cível Consumidor).

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APELAÇÃO. AGRAVO RETIDO NÃO CONHECIDO VISTO QUE NÃO REITERADO POR OCASIÃO DA INTERPOSIÇÃO DO RECURSO DE APELAÇÃO. DIREITO DO CONSUMIDOR. ATRASO EXCESSIVO NA ENTREGA DO IMÓVEL. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DACONSTRUTORA. ARTIGO 14 DA LEI 8.078/90.

TEORIA DO RISCO DO EMPREENDIMENTO. DANO MORAL CONFIGURADO. VALOR DA VERBA INDENIZATÓRIA QUE SE MANTÉM, VISTO QUE FIXADO DE ACORDO COM OS

PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA

RAZOABILIDADE. LUCROS CESSANTES DEVIDOS.

PREJUÍZO PRESUMIDO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. CLÁUSULA PENAL MORATÓRIA QUE DEVE SER OPONÍVEL A AMBAS AS PARTES. PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO CONTRATUAL. RECURSO DA PRIMEIRA APELANTE A QUE SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, CAPUT, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. RECURSO DO SEGUNDO APELANTE A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO, NA FORMA DO ARTIGO 557, PARÁGRAFO 1º-A, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. SENTENÇA QUE SE RETIFICA DE OFÍCIO PARA QUE A INCIDÊNCIA DOS JUROS DE MORA OCORRA DA DATA DA CITAÇÃO. (apelação nº 0018222-86.2011.8.19.0208, Des.

Lucia Helena do Passo, Julgamento: 11/02/2014, Vigésima Sétima Câmara Cível Consumidor).

Oportuno, ainda, a lição do Professor Desembargador Sergio Cavalieri Filho, sobre o tema:

“lucro cessante consiste na perda do ganho esperável, na frustração da expectativa de lucro, na diminuição potencial do patrimônio da vítima. (..) O cuidado que o juiz deve ter neste ponto é para não confundir lucro cessante com lucro imaginário, simplesmente hipotético ou dano remoto, que seria apenas a consequência indireta ou mediata do ato ilícito”5 .

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Assim, frise-se, cabível a condenação das rés em relação aos lucros cessantes, uma vez que o prejuízo é presumido e decorre da simples privação da posse direta e da livre disposição do bem quando já constituído em mora o promissário vendedor.

Dessa forma, fixo os lucros cessantes no patamar de 1% sobre o valor do imóvel, por cada mês de atraso na entrega das unidades até a data do Termo de Acordo vinculado de fls. 196, corrigidos desde cada vencimento mensal e acrescido de de juros de 1% ao mês desde a data da citação até a data do efetivo pagamento.

E, por fim, em relação aos honorários advocatícios, o seu arbitramento deve levar em consideração os vetores do art. 20, § 3º, do Código de Processo Civil, quais sejam, a complexidade e duração da causa, o grau de zelo profissional e o local da prestação do serviço. Em atenção a tais diretrizes, e consoante entendimento consolidado nesta Câmara, tenho que o valor estabelecido na sentença deve ser mantido, ou seja, 10% sobre o valor da condenação.

Por tais fundamentos, CONHEÇO OS RECURSOS, PARA, NA FORMA DO ARTIGO 557, § 1º A DO CPC, DAR PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DAS RÉS, APENAS PARA AFASTAR A RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS PELA PARTE AUTORA, E DAR PARCIAL PROVIMENTO AO APELO DA PARTE AUTORA, PARA RECONHECER O LUCROS CESSANTES, EM CONSONÂNCIA

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COM O ENTENDIMENTO FIRMADO PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, MANTENDO-SE OS DEMAIS TERMOS DA SENTENÇA.

Rio de Janeiro, 25 de maio de 2015

Des. Antonio Carlos dos Santos Bitencourt

Relator

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