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PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E POLITICAS DE HABITAÇÃO: ANÁLISE DO CASO DE MARÍLIA/SP E ARAÇATUBA/SP.

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EOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO E POLITICAS DE HABITAÇÃO:

ANÁLISE DO CASO DE MARÍLIA/SP E ARAÇATUBA/SP.

SIDNEY QUERINO JUNIOR1

Resumo:

O presente artigo tem como foco central a produção do espaço urbano em duas cidades médias do Estado de São Paulo, Araçatuba e Marília, sobretudo a partir da atuação do Estado através do desenvolvimento de políticas públicas habitacionais em diferentes momentos.São analisados aqui, em particular, a produção habitacional realziada entre os anos de 1960 do século XX até o Programa Minha Casa Minha Vida, a partir do ano de 2009.

Palavras-chave: Produção do espaço urbano, Programa Minha Casa Minha Vida, Cidades médias.

Abstract:

This article has as its central focus the production of urban space in two medium-sized cities of São Paulo, Araçatuba and Marília, especially from state action through the development of housing policies in different moments. Be analyzed here, in particular , housing production executed between the 1960s of the twentieth century to the My house, My Life, from the year 2009

Key-words: Production of urban space; My House, My Life; Medium cities.

1 –Introdução

Optamos por organizar o presente artigo a partir da seguinte estrutura: Na primeira parte apresentaremos algumas reflexões sobre a origem das cidades de Araçatuba e Marília de modo a destacar a importância da dupla relação entre a formação de um mercado de terras no interior do estado de São Paulo no início do século XX e a instalação de uma infraestrutura de transporte nas respectivas regiões onde se situam as duas cidades analisadas. A combinação desses dois elementos converge para o surgimento, organização e crescimento das aglomerações urbanas que conformam as duas cidades. Destaca-se a importância que a propriedade da terra teve para o surgimento e crescimento das cidades, ao mesmo tempo em que a apropriação desigual dos equipamentos e dos resultados das políticas públicas contribui para a produção de cidades cada vez mais desiguais. Na segunda parte, apresentaremos algumas reflexões sobre o papel do Estado na produção

1 Mestrando do programa de pós graduação em Geografia vinculado a FCT Unesp campus de Presidente Prudente, membro do Gasperr (Grupo de pesquisa Produção do Espaço e Redefinições Regionais) e bolsista FAPESP. E-mail de contato: sidneyquerino2@hotmail.com.

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habitacional. Iniciamos com a análise do período que corresponde da década de 1960 a 1990, destacando algumas das características que marcaram essa produção, sobretudo o surgimento de empreendimentos habitacionais destinados à população de baixa renda nas periferias das cidades e em descontínuo a malha urbana. Por fim, apresentaremos dados e algumas reflexões sobre a produção habitacional realizada pelo Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) entre os anos de 2010 e 2013 buscando observar as permanências e as rupturas em relação ao processo de produção do espaço urbano observado nos momentos anteriores, espaço urbano este mais complexo em função das desigualdades socioespaciais produzidas nos anos recentes.

2- Desenvolvimento

De modo a sintetizar a apresentação das cidades aqui trabalhadas, optamos por focar em elementos que apontem as semelhanças entre as origens dessas cidades, sabendo, contudo que ambas apresentam características que lhes conferem particularidades.

Araçatuba é uma cidade localizada no noroeste do Estado de São Paulo e sua fundação remonta a década de 1910. Sua população estimada para o ano de 2014, segundo dados do IBGE era de aproximadamente 190 mil habitantes. Em relação à malha rodoviária do estado de São Paulo, está a 524 km da capital.

Marília é uma cidade localizada no oeste do Estado de São Paulo, cuja fundação remonta a década de 1920. Com população estimada em aproximadamente 230 mil habitantes no ano de 2014, o município está a 443 km de distância da capital do estado através da rodovia. Uma característica que lhe confere peculiaridade é a presença de Itambés (escarpas), os quais servem como um importante limitante à expansão urbana e conferem ao tecido urbano feição bastante peculiar.

Ambas podem ser classificadas como cidades médias visto que a partir do processo de urbanização que caracterizou cada uma delas foram adquirindo papéis e funções dentro da divisão nacional do trabalho que lhes conferem particularidades, diferenciando-as em relação às metrópoles e também em relação a outras cidades de seu entorno mais imediato, cujas funções e papéis se mostram “menos complexos”.

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2.1- Algumas reflexões sobre a origem das cidades de Araçatuba e Marília Ao longo do processo de formação e crescimento dessas cidades, podem ser observadas várias semelhanças, dentre as quais optamos por destacar a dupla relação entre a formação de um mercado de terras no interior do Estado de São Paulo e a expansão da infraestrutura de transportes, primeiro com a ferrovia e depois com a rodovia como engrenagens chave para o processo de apropriação capitalista das terras do interior paulista e a consequente formação e crescimento dessas cidades.

Nesse sentido, destacamos a atuação marcante, tanto no plano econômico (a partir da propriedade da terra), como no plano político de um agente determinante para o crescimento de ambas as cidades: os grandes proprietários de terras rurais e posteriormente urbanas. Com a crise de 1929, o café passa a ser substituído por outras culturas, contudo, alguns territórios (dentre os quais destacamos o interior paulista), já organizados estavam aptos a desenvolver outras atividades (REIS FILHO, 1997). Nesse sentido, o empreendimento empresarial da época passou a ser cada vez mais a apropriação de terras, em especial aquelas com potencial de serem exploradas, seja a partir da agricultura, mas, sobretudo a partir de uma perspectiva comercial. É importante destacar que a simples transformação da denominação de terra rural para terra urbana, portanto de uma comercialização em hectares para m², possibilitava um significativo ganho de renda, o que atraiu investidores de diferentes áreas para o interior do Estado de São Paulo.

Mais do que simplesmente lotear terrenos, os grandes proprietários organizavam as cidades de acordo com as suas aspirações, planejando o seu crescimento. O primeiro processo de expansão em ambos os casos esteve diretamente ligado à malha ferroviária, sendo controlado majoritariamente pelos interesses especulativos daqueles que viam ali a possibilidade de aumentar suas rendas, que provinham em grande volume da venda de terras rurais “urbanizadas”, portanto mais caras. Isso se deve principalmente ao fato de que os povoados junto à linha férrea garantiam a segurança do patrimônio edificado da ferrovia e, ao mesmo tempo, ao ser equipado com serviços, como aqueles ligados ao comércio, possibilitava a valorização das áreas próximas.

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Devido à atração de capitais externos e uma acumulação prévia, várias outras atividades passaram a surgir, como aquelas ligadas ao setor bancário e financeiro, o que contribuiu para que as cidades aumentassem sua centralidade regional, atraíssem um novo contingente populacional e assim expandissem a sua malha urbana2.

Aos poucos, não só a paisagem como também os papéis desempenhados por esses núcleos na rede de cidades na qual estão inseridos foram se alterando, fazendo com que as empresas que atuavam e que produziam (n)essas cidades fossem inseridas no plano da concorrência em múltiplas escalas. Nesse sentido, no que diz respeito à produção do espaço urbano pode-se observar a intensificação na produção das desigualdades.

Temos como exemplo a expansão da malha urbana, que entre as décadas de 1970 e 1980, passa a apresentar um crescimento em descontínuo, apoiado em estratégias de diferenciação do espaço para a captura de rendas fundiárias em ambas as cidades3. Esse processo está diretamente relacionado ao aparecimento de loteamentos habitacionais residenciais destinados a população de mais baixa renda em áreas afastadas da malha urbana original os quais serão tratados (alguns deles) no item seguinte.

2.2- Produção habitacional realizada pelo Estado nas cidades de Araçatuba e Marília: CECAP- CDHU e COHABs.

Tomando como ponto de partida a assertiva feita por Valença (2003), de que sem a mediação ou intervenção do Estado, a maioria dos indivíduos não pode se tornar „consumidora‟ de habitação, processo que se dá através do mercado de compra e venda de imóveis residenciais e de aluguéis, buscaremos nesse item analisar como se deu a produção habitacional realizada por dois órgãos distintos ligados ao Estado: A CECAP-CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e as COHABs (Companhias de Habitação). Após uma primeira

2 Para mais informações sobre a cidade de Marília, consultar Melazzo (2012) e Zandonadi (2008) e para a cidade de Araçatuba consultar Pedon (2005).

3 Idem ao anterior.

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caracterização, buscaremos refletir sobre a inserção urbana dos empreendimentos e alguns de seus reflexos para a produção do espaço urbano das duas cidades.

Com sua fundação no ano de 1949, a CECAP-CDHU, uma empresa do governo do Estado de São Paulo, inicia efetivamente a produção habitacional voltada à baixa renda no ano de 1967. Desde então, produziu milhares de unidades habitacionais em diversos municípios do Estado de São Paulo, dentre os quais estão os municípios aqui pesquisados.

Com suas atividades iniciadas nos anos de 1960, as COHABs tinham como principal objetivo a produção e comercialização de habitação voltada a atender o mercado popular (de um a seis salários mínimos), sendo essa produção apenas uma parte daquela realizada durante os anos de sua atividade.

Muito embora muitas dessas companhias tenham adquirido importância na produção habitacional no contexto estadual, devido ao recorte analítico do presente trabalho nos interessa destacar a atuação de duas delas: Companhia Habitacional de Bauru (COHAB-Bauru) e Companhia Regional de Habitação de Interesse Social de Araçatuba (COHAB-Crhis).

A primeira foi criada no ano de 1966, enquanto a segunda passa a operar a partir do ano de 1983. Ambas são constituídas como sociedades de Economia mista, agentes financeiros e agentes promotores do Banco Nacional de Habitação (extintoBNH). Desde então, as companhias são regidas pelo Sistema Financeiro de Habitação do Governo Federal. Através da captação de recursos, via Caixa Econômica Federal, as COHAB-Bauru e COHAB-Crhis construíam moradias populares, destinadas à população de baixa renda (Pedon, 2005). Ao todo, foram construídas mais de 64 mil unidades habitacionais pela primeira e mais de 30 mil pela segunda em vários municípios do Estado de São Paulo, sendo sua participação bastante expressiva em Araçatuba e Marília4.

Em Araçatuba, foram produzidas 3627 unidades habitacionais pela CECAP- CDHU entre os anos de 1967 e 2010. Além disso, foram produzidas 644 unidades

4 Fonte: Cohab-Bauru, 2015 e Cohab-Crhis, 2015:

http://www.cdhu.sp.gov.br/a_empresa/apresentacao-cdhu.asp, acesso em 06/07/2015 http://www.cohabbauru.com.br/, acesso em 06/07/2015

http://www.crhis.com.br/, acesso em 06/07/2015

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habitacionais pala COHAB-Bauru e 5760 unidades pela Cohab-Crhis, totalizando 10.031 unidades habitacionais entre a década de 1960 e 2010.

Em Marília, foram produzidas 2941 unidades habitacionais pela CECAP- CDHU entre as décadas de 1960 e 2010, 5657 unidades habitacionais pela COHAB- Bauru e 841 unidades pela COHAB-Crhis, totalizando 9439 unidades habitacionais entre a década de 1960 e 2010.

Quando quantificamos a produção realizada por essas companhias em ambas as cidades e a comparamos ao total de unidades habitacionais produzidas através do número de domicílios particulares permanentes registrados pelos levantamentos censitários, observamos que em ambos os casos o valor percentual daquela produção, tomando como referência o ano 2000, fica em torno de 21% para Araçatuba e 17% para Marília.

Além da clara relevância quantitativa, em ambas as cidades, os conjuntos habitacionais populares produzidos constituíram grandes “indutores” de ocupação urbana, sobretudo a partir da década de 1970. Na cidade de Marília, por exemplo, os conjuntos produzidos pela COHAB-Bauru entre 1966 e os anos de 1970 contribuíram para que a expansão territorial da cidade se apresentasse em ritmo superior ao crescimento populacional, sobretudo por se dar em descontínuo, elemento semelhante ao que acontece em Araçatuba, possibilitando a intensificação da prática especulativa (ZANDONADI, 2008 e PEDON, 2005).

Nesse sentido, observamos que tanto as habitações voltadas aos segmentos de rendas mais baixas, quanto àquelas destinadas ao consumo dos grupos de rendas mais elevadas, seguiram uma lógica empresarial, privilegiando alternativas que possibilitavam maiores rendimentos para o agente empreendedor. Vale lembrar que o BNH (Banco Nacional de Habitação), principal provedor dos recursos para o desenvolvimento das políticas de habitação entre 1964 e 1986, desde a sua fundação apresentou-se organizado no sentido de transmitir todas as suas operações para o setor privado, ficando a cargo da instituição apenas a arrecadação dos fundos necessários, os quais advinham, sobretudo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE). (BOLAFFI, 1975).

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De acordo com Boscariol (2011) estas companhias não exercem mais a produção de habitações, mas apenas serviços administrativos desde 19965.

Nesse sentido, a partir das constatações feitas nos dois itens anteriores, podemos observar que a apropriação das políticas de habitação a partir de interesses particulares são elementos recorrentes a história dessas duas cidades.

Do mesmo modo, as estratégias de valorização observadas no momento da origem dessas aglomerações urbanas continuam a ser reproduzidas na escala intraurbana a partir de um processo de diferenciação de áreas. O solo urbano, nesse sentido, se torna elemento central nessa analise. Ao ser transformado em mercadoria, ele passa a desempenhar funções alheias as sua utilidade natural de bem e recurso da natureza passando a funcionar como reserva de valor e elemento de segregação (BOLAFFI, 1975). A aquisição de solo para fins puramente especulativos contribui para o aumento da demanda, ao mesmo tempo em que retira parte desse bem do mercado, contribuindo para o aumento artificial de seu preço. A todo esse movimento tem-se como consequência a deseconomia do gasto público que ao mesmo em que aprova e financia a produção habitacional em áreas descoladas da malha urbana original, providenciando novos equipamentos urbanos, vê “dentro da cidade” a formação de vazios urbanos e a subutilização de equipamentos públicos.

2.3- O Programa Minha Casa Minha Vida em Marília e Araçatuba.

Em um contexto marcado por uma forte crise internacional, o governo federal lançou no ano de 2009 o programa habitacional Minha Casa Minha Vida (MCMV) como uma das principais medidas para combater a instabilidade econômica, assim como os seus impactos (Fix, 2011). Ao analisá-lo, podemos observar algumas permanências e modificações em relação à política de habitação que havia sido desenvolvida anteriormente.

Nesse sentido, o MCMV responderia a uma estratégia bastante semelhante àquela utilizada quando da criação do BNH, sendo ao mesmo tempo uma política habitacional e uma política econômica anticíclica como forma de gerar moradia e emprego, sobretudo para os segmentos do mercado de trabalho com menor

5 Ao consultar os sites das companhias não foram encontrados novos empreendimentos após o período citado.

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qualificação profissional e ao mesmo tempo aquecer a economia através da oferta de crédito de modo a dinamizar o setor da construção civil.

Contudo, o MCMV guarda em si algumas particularidades. A primeira delas é o volume de crédito disponibilizado, que pode ser apreendido a partir da significativa produção habitacional realizada. Nenhuma outra política de habitação carregou consigo um volume tão grande de crédito, nem mesmo o BNH (FIX, 2011). O volume de unidades habitacionais construídas no período analisado, em ambas as cidades, é bastante significativo especialmente se comparado à produção realizada pelas COHABs e CECAP-CDHU.

Em Araçatuba, o programa passa a financiar empreendimentos no ano de 2010, somando até o ano de 2013, 75226 unidades habitacionais (concluídas ou em fase de conclusão). Desse total, aproximadamente 43% pertencem a Faixa 1 (aquela que compõe a maior parte do déficit habitacional)7.

Em Marília, o programa passa a financiar novos empreendimentos no ano de 2010, somando até 2013, 46778 unidades habitacionais (concluídas ou em fase de conclusão). Desse total, aproximadamente 23% pertencem à Faixa 1 (Quadro 1).

Quadro 1- Relação entre as unidades habitacionais produzidas pelo MCMV e aquelas ligadas a CECAP-CDHU e COHABs em Araçatuba e Marília

Total de unidades produzidas pelo MCMV (2009-2013)

Total de unidades produzidas pela CECAP-CDHU e COHABs (1960-1996)

% da produção realizada pelo MCMV em relação às

COHABs

Araçatuba 7522 10.031 75%

Marília 4677 9439 49,5%

Fonte: Ministério das cidades; Cohab-Bauru e Cohab-Crhis Organização: Sidney Querino Jr.

6 Segundo dados disponibilizados pela Caixa Econômica Federal.

7 Segundo os dados disponibilizados a partir de pesquisa realizada pela fundação João Pinheiro em Agosto de 2013, aproximadamente 70% do déficit habitacional brasileiro se encontra na faixa de renda que corresponde de zero a três salários mínimos, incluindo as famílias classificadas como sem rendimento.

8 Segundo dados disponibilizados pela Caixa Econômica Federal.

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Outro ponto de destaque é a inserção de uma parcela significativa da população de baixa renda no mercado de habitação, possibilitando a ela consumir os serviços oferecidos pelo mercado imobiliário que antes eram destinados apenas aos extratos sociais de mais alta renda. Ao mesmo tempo, confere a parte significativa dos usuários, especialmente àqueles da Faixa 19 a possibilidade de um ganho de renda importante, tendo em vista que muitos trocam o valor pago em aluguel por prestações com o baixo valor (segundo a portaria 237 de 27 de Agosto de 2012, o valor, pago nas prestações para essa faixa de renda não podem ultrapassar 5% da renda familiar).

Outra diferença é que a Caixa Econômica Federal centraliza uma série de tarefas, diferente do que acontecia com o BNH10.

A partir dos dados obtidos no censo de 2010, a proporção do déficit habitacional para a cidade Araçatuba era de quase 8%, totalizando 4.868 domicílios.

Desse total, 2.251 domicílios foram classificados como coabitação e outros 2.135 foram classificados como excedente de aluguel11 (Quadro 2).

Em relação a Marília, o déficit habitacional supera os 8%, totalizando 5.834 domicílios, abaixo das médias estadual e nacional. Desse total, destacam-se aqueles classificados como coabitação (2.754 domicílios) e excedente de aluguel (2.521).

9 O MCMV é dividido em 3 faixas de renda: a Faixa 1é formada por famílias com renda mensal bruta de até R$1.600,00. A Faixa 2 é formada por famílias com renda mensal bruta de até R$ 3.275,00 e a Faixa 3 com famílias com renda mensal bruta de até R$ 5.000,00.

10 Segundo a atuação do BNH, mesmo as cobranças de prestações de dívidas eram confiadas a agentes financeiros diversos, bancos, companhias habitacionais, sociedades de crédito imobiliário, entre outras. Além de remeterem uma parte dos juros, conservavam os valores das prestações durante um ano antes de devolver ao BNH. Certamente esses recursos eram aplicados em outras atividades mais lucrativas do que na produção de habitação. (BOLAFFI,1975)

11 Os dados utilizados fazem parte da Nota Técnica do Ipea intitulada Estimativas do déficit habitacional brasileiro (2007-2011) por municípios (2010), de Bernardo Alves Furtado, Vicente Correia Lima Neto e Cleandro Krause. A fonte original dos dados utilizados para a organização da nota técnica foram retiradas do IBGE (censo 2010).

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Quadro 2- Relação entre a produção do MCMV (2009-2013) e o total de domicílio particulares permanentes urbanos (2010)

Total de

unidades produzidas PMCMV

Déficit habitacional 2010

Total de domicílios particulares

permanentes urbanos em 2010

% produção do MCMV em relação ao total de domicílios permanentes urbanos

Araçatuba 7522 4.868 59.543 12,6%

Marília 4677 5.834 65.752 7,1%

Fonte: Fundação Seade, Ministério das cidades e CEF12, Organização: Sidney Querino Junior.

Quando analisamos a produção habitacional realizada pelo MCMV em ambas as cidades, observamos que elas, por si só, se voltadas a atender o déficit habitacional dos municípios tenderiam a praticamente a eliminá-lo, dado o número considerável de unidades habitacionais construídas/contratadas. Nesse sentido, duas outras permanências parecem ser observadas em relação aos modelos anteriores de provisão de habitação popular: A produção é realizada seguindo às lógicas do mercado, tanto no que diz respeito ao público que tem sido beneficiado pelo programa, quanto à espacialização desses empreendimentos, que ao atender às aspirações das incorporadoras que participam da produção habitacional, tende a reservar à população de renda mais baixa as piores localizações e consequentemente as áreas dotadas de maior carência de infraestrutura e serviços.

Ao verificarmos a localização dos empreendimentos que foram ou estão sendo construídos na cidade pelo MCMV, percebemos que aqueles destinados às Faixas 1 e 2, majoritariamente se encontram nas áreas mais periféricas das cidades, sendo os da Faixa 1 os de pior localização13.

Em Araçatuba, os empreendimentos dessa faixa de renda encontram-se localizados na área noroeste da cidade, classificada a partir da metodologia utilizada

12 Caixa Econômica Federal

13Para mais informações consultar Querino Junior (2015).

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pelo Centro de Estudos e de Mapeamento da Exclusão Social para Políticas Públicas (CEMESPP (2015)14 como de média e alta exclusão social.

Em Marília, os empreendimentos da Faixa 1, de renda subsidiados pelo MCMV, encontram-se situados nos extremos das áreas norte e sul da cidade, anteriormente caracterizadas como de exclusão social. Nesse sentido, o programa parece contribuir para o aprofundamento das desigualdades intraurbanas, uma vez que reforça o cenário observado previamente.

O processo de diferenciação entre áreas e pessoas que conforma a cidade passa a ser materializado na maneira como o espaço urbano é produzido e consequentemente na maneira como a cidade é apropriada e consumida por seus moradores. A faixa de renda e demais indicadores demográficos determina, por exemplo, os investimentos do setor público e privado no que diz respeito à oferta de produtos imobiliários, bens e serviços e impactam diretamente na vida da população e na maneira como essa se relaciona se apropria e consome a cidade.

3- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Transcorridos aproximadamente 100 anos do surgimento das cidades aqui analisadas, as lógicas que continuam a nortear a sua produção são aquelas atreladas ao mercado, sobretudo a partir de uma perspectiva capitalista. Mesmo com o avanço em marcos jurídicos como a promulgação da constituição federal de 1988, a qual aponta a necessidade da elaboração e implantação de planos diretores municipais e posteriormente com a criação do Ministério das Cidades (2003) e do Estatuto da Cidade (2001), poucos avanços são observados no que diz respeito à produção do espaço urbano. Via de regra, os empreendimentos populares tem ficado relegados às periferias da cidade e quanto menores as faixas de renda, piores tem sido a sua inclusão dentro do contexto intraurbano. A mesma lógica de produção do espaço urbano, apoiada em estratégias de diferenciação e valorização de determinadas áreas da cidade visando à apreensão de rendas fundiárias cada vez mais elevadas observadas na formação socioespacial desses municípios, ainda no início do século XX, podem ser observadas nos outros dois momentos

14 Para mais informações consultar o Atlas da inclusão/exclusão social disponível na home page do Cemespp, disponível em http://www.fct.unesp.br/#!/pesquisa/grupos-de-estudo-e-pesquisa/cemespp/

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destacados nesse texto, seja na produção habitacional realizadas pelas COHABs e pela CECAP-CDHU no período que corresponde as décadas de 1960 a 1990, seja mais recentemente na produção habitacional do MCMV.

Referencias bibliográficas

ARANTES, Pedro Fiori; FIX, Mariana. Como o governo Lula pretende resolver o problema da habitação. Caros amigos, 2009.

BOLAFFI, Gabriel. Habitação e urbanismo: O problema e o falso problema. In MARICATO, E. (Org.) A produção capitalista da casa (e da cidade) no Brasil Industrial. 2. ed. São Paulo, SP: Alfa Omega, 1979. P.37-70.

BOSCARIOL, Renan Amabile. Os agentes estatais na produção do espaço urbano em cidades do interior paulista: Marília, Presidente, Araçatuba e São José do Rio Preto. 2011.

FIX, Mariana. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. IE/Unicamp (Tese de doutorado), 2011.

PEDON, Nelson. R. A participação popular na produção do espaço urbano na cidade de Araçatuba/SP: o caso do bairro Alvorada, (Dissertação de mestrado), 2005.

MELAZZO, Everaldo S. Agentes econômicos e reestruturação urbana e regional:

Chillán e Marília. 2012. Texto da ReCiMe. – UNESP, Outras Expressões, São Paulo 2012.

QUERINO JUNIOR, S. Produção do espaço urbano e Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em Marília/SP e Araçatuba/SP. Anais do III CIMDEPE, Rio de Janeiro 2015.

REIS FILHO, Nestor Goulart . Cultura e Estratégias de Desenvolvimento. A década de 1920 e as origens do Brasil Moderno. 1ed.São Paulo: UNESP, 1997, v. 1, p. 143- 157.

VALENÇA, Márcio Moraes. Habitação: notas sobre a natureza de uma mercadoria peculiar. Cadernos Metrópole, [s.l.]: no. 9, p. 165-171, 1º. sem, 2003.

ZANDONADI, J. C. Novas centralidades e novos habitats: Caminhos para a fragmentação urbana na cidade de Marília (SP). (Dissertação de mestrado), 2008.

Referências

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