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Rudakov. Serguei. Partido Comunista da. marxismo e militante do. modelo soviético e não tem. capitalismo chegou à sua

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Academic year: 2021

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Serguei Rudakov

Professor de Filosofia Marxista

Serguei Rudakov esteve em Lisboa para participar no Congresso Marx em Maio. Estudioso do marxismo e militante do Partido Comunista da Federação Russa refere que o fim da União Soviética se

deveu ao esgotamento do modelo soviético e não tem dúvidas em afirmar que o capitalismo chegou à sua fase derradeira.

[Pags 8-9;

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Serguei Rudakov - Professor universitário de Filosofia Marxista

"O capitalismo atingiu

a su

ia fase derradeira"

Serguei Rudakov esteve em Lisboa aconvite do Grupo de Estudos Marxistas para participar no Congresso Marx em Maio. Estudioso do mar- xismo, militante do Partido Comunista da Federação Russa, o professor universitário defende que o marxismo se encontra numa nova fase de desenvolvimento decorrente da globalização. Naentrevista que aceitou conced- er a A Voz do Operário, Serguei Rudakov fala do fim da União Soviética eafirma convicto que aatual crise capitalista é aderradeira.

Ana Goulart

Nos dias de hoje, o marxismo permanece como teoria para a compreensão dos fenómenos políticos, económicos e sociais?

O marxismo é aúnica teoria científica que permite com- preender a sociedade, nomeadamente a sociedade atual.

Houve dois períodos principais no marxismo, o marxis- mo clássico que durou durante o período do capitalismo monopolista eem que o marxismo descobriu os meios de desenvolvimento da teoria política, da filosofia, da soci- ologia. Uma segunda fase do desenvolvimento do marx- ismo é a época imperialista da qual resulta o trabalho teórico de Lenine no aprofundamento da teoria marx- ista. Lenine desenvolveu o marxismo e compreendeu de forma genial a possibilidade da revolução e esta teve lugar e teve êxito [Revolução Soviética de 1917]. Na minha perspetiva, na atualidade, devemos falar de um terceiro período de desenvolvimento do marxismo que corresponde àglobalização. Odesenvolvimento da teoria que corresponde aesta terceira fase foi feito pelo filóso- fo Victor Vazyulin que procurou os fundamentos desta nova etapa do desenvolvimento do marxismo tanto na economia política como na ciência política. Do novo

capitalismo e do novo marxismo que corresponde à nossa época advêm novas consequências. Agora surgiu uma nova liderança mundial, em termos políticos, que é aChina, que ocupa o lugar cimeiro em termos de pro- dução ecujo PIB alcançará oprimeiro lugar mundial por volta de 2017. Os nossos pais e avós sonhavam com o momento em que a União Soviética alcançaria e ultra- passaria os Estados Unidos, em termos económicos, -

desejo, anseio que pelas circunstâncias históricas por agora foi abandonado -,mas a China vai conseguir con- cretizá-10.

Aluz do marxismo, aChina éum exemplo?

Boa pergunta... O marxismo diz que asociedade se desen- volve com uma determinada lógica. O capitalismo trans- formou-se no poder das grandes empresas transnacionais e esse desenvolvimento permitiu àChina alcançar opatamar de desenvolvimento atual. Por outro lado, houve uma con- fluência de forças que resulta do papel desempenhado pelo Partido Comunista Chinês. Se não fosse o papel do Partido Comunista a China teria tido o destino da índia ou mesmo pior, mas nunca conseguiria alcançar o nível atual de desenvolvimento económico. Quando a Rússia conseguir fazer crescer o seu nível de desenvolvimento

económico, conjuntamente com aChina, isso determinará o desenvolvimento do mundo. Penso que esse desenvolvi- mento euma nova correlação deforças -embora esta ocor- ra num cenário de relações capitalistas - vão fomentar e

permitir o desenvolvimento do espírito revolucionário, dando origem a revoluções em países considerados pe- riféricos como Portugal Grécia, Espanha e Itália. A partir

daí poderemos assistir ao fim do capitalismo. Ou seja, os países que agora gozam de uma certa centralidade tornar- se-ão periféricos em relação à nova correlação de forças e isso fará com que surjam novas contradições nos países que

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agora ainda vivem da sua centralidade. Se analisarmos os trabalhos de Georges Soros e de Jacques Attali eles próprios reconhecem que o capitalismo está num beco sem saída, na sua crise final. E também reconhecem que esta- mos a chegar a um momento em que os Estados Unidos perdem o seu papel de liderança mundial.

da sua parte uma visão muito otimista...

Os mencheviques consideravam Lenine demasiado vol- untarista... Muito disto dependerá do que acontecer na Rússia.

Marxismo, socialismo e comunismo são con- ceitos que têm dificuldade em obter apoios no mundo dito ocidental, no sistema capitalista.

Porquê?

Estou pela primeira vez em Lisboa e não percebo porque

é que Lisboa não pode ser um lugar do socialismo.

Encontrei um conterrâneo da Moldávia - conterrâneo porque continuo a designar assim os povos que faziam parte da União Soviética - que veio há 15 anos para Lisboa eperguntei-lhe se aMoldávia ainda fizesse parte da União Soviética se seria necessário sair. Na Moldávia

e em qualquer das outras repúblicas da União Soviética vivia-se melhor do que vivem os portugueses hoje.

Os partidos comunistas do Ocidente têm difi- culdade em conseguir os votos dos eleitores.

Para isso contribuem muitas variáveis, entre elas o que aconteceu na União Soviética e o caminho que a Rússia está a seguir. A União Soviética tornou-se no primeiro país socialista, no primeiro Estado socialista. Depois disso criou-se um sistema socialista a nível mundial e até mesmo os países capitalistas desenvolvidos sofreram a influência da criação desse sistema socialista. As con- quistas sociais, o socialismo sueco, surgiram depois do aparecimento da União Soviética, mas quando o capital- ismo se tornou efetivamente global o modelo chegou ao seu limite.

Porquê?

O modelo que até então tinha vindo a ser seguido pela União Soviética chegou ao seu limite e tornou-se necessário passar para um modelo mais desenvolvido.

Um modelo que permitisse utilizar as próprias realiza-

ções que surgiam no capitalismo ocidental como em parte se passa na China. Como conjugar o desenvolvi- mento do socialismo com a coexistência de propriedade privada? Esta foi uma questão não resolvida e que ninguém sabia ao certo como resolver. Os mais antigos diziam que esta conjugação não era possível, enquanto que os mais jovens consideravam-na possível, mas tin- ham como modelo a Europa ocidental e os Estados Unidos. O Partido Comunista da União Soviética entrou em conflito interno, o que acabou numa restau- ração burguesa. Do mesmo modo que a França, após a Revolução Francesa, passou por um período de restau- ração feudal, aRússia sofreu um recuo com arestauração burguesa. Esta restauração destruiu os fundamentos da sociedade socialista, mas tem um pequeno ponto positi- vo: ao destruir o modelo anterior, ela prepara as premis-

sas para o aparecimento de um novo modelo de desen- volvimento.

Numa perspetiva dialética?

Podemos fazer uma comparação entre a Revolução Francesa e a Revolução Soviética. Comparar

Robespierre com o papel de Estaline eNapoleão com o de Gorbachev. Gorbachev, tal como Napoleão, levou a rev- olução à restauração. O período dos Bourbons pode ser comparado ao deYeltsin. Putin, por sua vez, é orei-cidadão da Rússia, o senhor camarada que tenta fazer aligação entre o passado e o presente. Putin recuperou o hino da União Soviética que toca sob o escudo da águia czarista de duas cabeças.

Essa é arealidade da Rússia de hoje?

Putin diz combater as oligarquias, mas, em simultâneo, per- mite ocrescimento das oligarquias que diz combater. Putin joga em dois tabuleiros. Por um lado, combate ou diz com- bater as oligarquias, por outro, cria as condições para que essas oligarquias cresçam. Mesmo assim, Putin representa um recuo em relação a uma restauração mais acelerada, chegando a tecer críticas ao processo dos anos 90 que pôs fim à União Soviética. Mas se por um lado os critica, por outro, dá continuação a esses mesmos processos. Tal como na Bielorrússia, também na Rússia, com Putin, verifica-se a fragmentação dos partidos mais à direita e a centralização do poder com base num partido de direita que se intitula de partido do centro e procura criar um processo de restau-

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ração mais controlado e menos conflituoso. O próximo

passo é fazer com que saia do espaço político o último par- tido burguês, ou seja, a Rússia Unida. Putin disse, inclu-

sive, que não quer liderar esse partido.

Isso pode beneficiar o Partido Comunista da Federação Russa?

Isso não significa que o poder volte para as mãos dos comu- nistas. A própria sociedade ainda não está preparada e não compreende a necessidade de o poder voltar às mãos dos comunistas. Daí que esteja a ser instituído um poder sobre todos que aparece apartidário, sem partidos, continuando a existir o Partido Comunista e o partido do Jirinovski (Partido Liberal Democrático) e mais algumas organizações partidárias pequenas enisso se resume opanorama político.

Da atual Rússia?

O objetivo é a criação de um partido que englobe todos os partidos de direita e de centro para permitir a restauração burguesa de modo mais acelerado.

Qual opapel do Partido Comunista hoje na Rússia?

Se o Estado e quem controla o Estado hoje consegue absorver todo o espetro político, o Partido Comunista da Federação Russa éaúnica organização partidária que reflete os verdadeiros interesses do povo russo e é o único partido que o poder centralizado não consegue tomar e que não consegue eliminar. O Partido Comunista foi o único par- tido que contestou o último ato eleitoral de forma conse- quente, nomeadamente a legitimidade dos resultados.

Referiu que na Rússia haverá um partido domi- nante, um poder apartidário, o que possibilitará a restauração burguesa de forma mais acelerada.

E um prognóstico, uma hipótese, uma possibilidade, mas naturalmente que o Partido Comunista irá lutar pelo poder. Porém, por enquanto todas as cartas estão na mão do atual poder. Quando Putin não for necessário, surgirá no seu lugar um Lukashenko (pres- idente da Bielorrússia) e esse novo poder continuará a crítica aos processos dos anos 90 que levaram ao fim da União Soviético e chegará mesmo a criticar a era

Putin para aparecer como legítima defensora dos interesses de todo o povo russo. há representantes deste tipo de poder em diversas repúblicas que fazem críticas ao processo de restauração burguesa, mas prosseguem-no. O que torna mais complexa a nossa tarefa [dos comunistas russos] é o facto de ser necessário não tanto um retorno ao que havia antes, mas a construção de algo novo que esteja de acordo com a nova realidade mundial. Essa necessidade de construção de um novo modelo não é compreendida pela totalidade dos comunistas. A nossa tarefa não passa por vencer todos os outros, mas pela necessidade de fazer uma viragem à esquerda. Isso é possível porque todas as partes em conflito e a atual sociedade russa têm as suas raízes na União Soviética. Embora no Partido Comunista se debata muito o novo tipo de socialismo, creio que ainda não foi suficientemente compreendida a profundidade desse debate. Tudo o

que aconteceu desde a época Gorbachev teve a ver fundamentalmente com os processos históricos de uma transição que levará a um novo tipo de socialis- mo. Estas novas perspetivas de desenvolvimento do socialismo aparecem de forma muito incisiva no tra- balho de Victor Vazyulin e da sua escola de pensamen- to [Escola Lógico-Histórica].

Quando terminou a União Soviética houve quem dissesse que tal representava o fim da ideologia marxista. Quer comentar?

Não, não foi o fim da ideologia marxista. Pelo con- trário, o que se verificou foi um processo dialético de passagem a um novo tipo de marxismo. Lenine tam- bém não foi igual a Marx e foi alvo das críticas dos mencheviques, no entanto a história demonstrou que estava correio e a revolução [de 1917] triunfou na Rússia. Os filósofos, os economistas, os cientistas de hoje têm de refletir sobre fenómenos que não eram conhecidos nem de Marx, nem de Lenine. De acordo com o trabalho de Victor Vazyulin sobre a lógica do

"Capital" de Marx torna-se claro que o capitalismo e o imperialismo estão achegar à sua fase derradeira.

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Serguci Rudakov nasceu em Voronej, capital da região russa com o mesmo nome, c 6 na sua terra natal -situada na Rússia Europeia -que desen- volve a sua atividade profis- sional como professor de Filosofia Marxista na Universidade local. Na quali- dade de estudioso do marxis- mo foi um dos oradores con- vidados a participar no Congresso Marx em Maio que decorreu de 3 a 5 de maio, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e diz ter sido "uma agradável sur- presa a afluência que o Congresso" registou. Esta não foi a sua primeira vinda a Portugal, sete anos par- ticipou numa iniciativa em Braga promovida pela Universidade do Minho, mas foi aprimeira vez que esteve em Lisboa, cidade que classifica como "muito agradável".

Militante do Partido Comunista da Federação Russa c, nessa qualidade, membro do par- lamento regional de Voronej, liderando ogrupo parlamentar comunista.

Serguei Rudakov considera que,nesta fase deglobalização económica, omarxismo atingiu um novo nível de desenvolvimento eque o capitalismo se encontra àbeira do fim.

Referências

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