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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Geografia. Fábio Salgado Araújo

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(1)

Instituto de Geografia

Fábio Salgado Araújo

O Lazer em Volta Redonda-RJ: dos clubes sociorrecreativos vinculados a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aos novos investimentos esportivos

da prefeitura

Rio de Janeiro

2013

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O Lazer em Volta Redonda-RJ: dos clubes sociorrecreativos vinculados a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aos novos investimentos esportivos da prefeitura

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-graduação em Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração:

Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Orientador: Prof. Dr. Miguel Ângelo Campos Ribeiro

Rio de Janeiro

2013

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As Transformações Espaciais do Lazer em Volta Redonda – RJ: o caso dos clubes sócio- recreativos

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de mestre, ao Programa de Pós Graduação de

Geografia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração:

Gestão e Estruturação do Espaço Geográfico.

Aprovado em 20 de agosto de 2013.

Banca Examinadora:

__________________________________________________________

Prof. Dr. Miguel Ângelo Campos Ribeiro (Orientador) Instituto de Geografia UERJ

__________________________________________________________

Prof. Dr. Ulisses da Silva Fernandes Instituto de Geografia UERJ

__________________________________________________________

Prof. Dr. Leandro Dias de Oliveira---

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Rio de Janeiro

2013

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        Agradeço primeiramente a oportunidade que a vida ofereceu de cursar o mestrado e a Deus por ter me dado forças para enfrentar esse desafio.

      Aos  meus  pais,  Geraldo  Antônio  Araújo  e  Maria  de  Fátima  Salgado  Araújo,  pelo apoio  incondicional  nos  momentos  mais  difíceis  e  por  acreditar  na  realização  dos  meus sonhos.  Ao  meu  irmão,  Guilherme  Salgado  Araújo,  pelo  companheirismo  e  amizade  em todos os momentos. Ao meu sobrinho, João Guilherme Silva Araújo, pelas brincadeiras e momentos de alegria.

      Aos  professores  do  programa  de  pós-graduação  em  geografia  da  Universidade  do Estado do Rio de Janeiro pelos ensinamentos e conhecimentos transmitidos.

      Aos  funcionários  do  programa  de  pós-graduação  em  geografia  da  Universidade Estadual do Rio de Janeiro, especialmente a Mayra e ao Cyro, que sempre me atenderam com muito carinho e ajuda e dando incentivo para continuar a realização do trabalho.

        Aos professores Leandro Dias de Oliveira e Ulisses da Silva Fernandes por aceitarem participar da banca.

      Aos  colegas  de  mestrado,  especialmente  a  Tatiana,  Telma  e  Renata  pelo companheirismo  nessa  caminhada  tão  difícil  e  pelas  contribuições  na  realização  do mestrado.

        A todos os professores, funcionários e a direção da Escola Estadual Pedro Raymundo Magalhães pelo companheirismo e compreensão da dificuldade que é realizar uma pesquisa e o apoio de todos foi fundamental para a conclusão desse trabalho. Agradeço também aos colegas do Pré Vestibular Social do CEDERJ. Ao amigo Eduardo pelas caronas e conversas nas idas e vindas para a universidade.

        Agradecimento a todos aqueles que consultei para a pesquisa. Ao Instituto de Pesquisa e  Planejamento  Urbano  da  Prefeitura  Municipal  de  Volta  Redonda  pelas  informações fornecidas  assim  como  a  Secretaria  Municipal  de  Esporte  e  Lazer  e  também  a  Secretaria Municipal de Cultura. Agradeço também aos clubes Funcionários da CSN e ao Recreio do Trabalhador  assim  como  a  Fundação  CSN.  Agradecimento  especial  a  Edna  do  Arquivo Central da CSN pela ajuda na catalogação das fotos, jornais e arquivos pertencentes a CSN.

Agradecimento  muito  especial  a  minha  namorada  Eliane  Soares  Benfica  pelo  apoio  em

todos os momentos na realização dessa pesquisa contribuindo na leitura e organização de

documentos,  catalogação  de  fotos  e  jornais.  Meus  agradecimentos  a  todos  aqueles  que

contribuíram  na  realização  desse  trabalho.  E  o  agradecimento  mais  importante  é  para  o

professor  Miguel  Ângelo  Campos  Ribeiro,  que  se  dispôs  a  me  orientar  nesse  trabalho

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ARAÚJO, Fábio Salgado. O Lazer em Volta Redonda-RJ: dos clubes sociorrecreativos vinculados a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) aos novos investimentos esportivos da prefeitura. 2013. 154 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Instituto de Geografia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013

A presente pesquisa busca compreender as transformações do lazer em Volta Redonda estabelecendo uma análise entre o lazer praticado e vivenciado na cidade com a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) enquanto estatal e o atual momento do lazer no município que se dá através das ações empreendidas pela prefeitura. O lazer oferecido e fomentado pela CSN tinha como característica atender, preservar, recuperar e aumentar a capacidade de produzir do trabalhador apresentando características do momento industrial-fordista no Brasil com destaque para as atividades sócio-culturais e esportivos que acontecia principalmente nos clubes sociorrecreativos vinculados a empresa. Após a privatização da (CSN), houve mudanças nas opções e formas de lazer do município em função da diminuição da presença da empresa na vida cultural da cidade e aumento da participação do setor público municipal no oferecimento das atividades de lazer para a população com características pós-industriais.

Essas atividades estão em consonância com a modernização urbana empreendida pela prefeitura que busca deslocar a imagem da cidade vinculada a CSN (“cidade do aço”) para uma cidade com boa qualidade de vida, com cidadania. Para isso, projeta uma cidade espetáculo através de projetos/programas e dos grandes eventos, principalmente os esportivos.

Assim, as mudanças nos clubes sociorrecreativos ligados à CSN e o aumento dos investimentos da prefeitura em novos equipamentos de lazer principalmente esportivos, por exemplo, se relacionam com o tecido urbano do município sendo os dois principais aspectos das alterações do lazer na cidade. As transformações do lazer no tecido urbano foram significativas, contudo, não resultou em transformações na vivência do lazer para a população.

Palavras-chave: Lazer. Volta Redonda. Clube Sociorrecreativo. Companhia Siderúrgica Nacional. Investimentos esportivos. Prefeitura.

(7)

This research seeks to understand the transformations of leisure in Volta Redonda establishing an analysis of leisure practiced and lived in the city with the National Steel Company (CSN) while state and the current time of leisure in the city that is through the actions taken by the city. The entertainment offered and encouraged by CSN had characterized serve, preserve, restore and enhance the ability to produce the worker presenting features of industrial-Fordist moment in Brazil with emphasis on socio-cultural activities and sports clubs which was mainly linked to sociorrecreativos company. After the privatization of (CSN), there were changes in the forms of leisure options and the municipality due to the reduction of the company's presence in the cultural life of the city and increase the participation of municipal public sector in providing leisure activities for people with characteristics post-industrial. These activities are in line with the urban modernization undertaken by the city that seeks to shift the image of the city linked to CSN ("City of Steel") to a city with good quality of life, with citizenship. For this design a city show through projects / programs and major events, especially sports. Thus, changes in clubs sociorrecreativos linked to CSN and increased investment in new equipment of municipal leisure sports especially, for example, relate to the urban fabric of the city being the two main aspects of change of leisure in the city. The transformation of leisure into the urban fabric were significant, however, did not result in changes in the experience of leisure for the population.

Keywords: Leisure. Volta Redonda. Club Social Recreative. Steel Company

National. Investiments sporting. Prefecture.

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Tabela 1 - Equipamentos que direta ou indiretamente eram utilizados para as

atividades de lazer dos trabalhadores da CSN. 105

Tabela 2 - Descrição e localização dos eventos programados pela Secretaria

Municipal de Cultura para o ano de 2013. 125

Tabela 3 - Repasses do Ministério dos Esportes para a prefeitura (1997-2013) 126

Tabela 4 - Evolução das despesas totais e de esporte e lazer da prefeitura (2007-2011) 126

Tabela 6 - Localização dos equipamentos esportivos da prefeitura e sua finalidade. 129

Tabela 5 - Índice de Desenvolvimento Esportivo (IDE) do estado do Rio de Janeiro. 131

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Figura 1 - Mapa com a localização de Volta Redonda-RJ 63

Figura 2 - Planta Geral da Usina e da Cidade Operária. 69

Figura 3 - Foto com a vista de uma rua transversal no bairro Vila Santa Cecília, 1945. 70 Figura 4 - Mapa dos bairros operários e sua configuração na atualidade 72 Figura 5 - Foto da construção dos prédios para técnicos da Usina no bairro Bela Vista,

1954. 73

Figura 6 - Foto panorâmica do bairro Laranjal com a construção dos prédios destinados aos operários de nível técnico da empresa, 1944. 73 Figura 7 - Vista de parte do bairro Vila Santa Cecília a partir do antigo Hotel Bela

Vista, 1946. 74

Figura 8 - Foto com vista do bairro Conforto a partir do Morro da Viúva, 1945. 75 Figura 9 - Mapa com os bairros operários e o núcleo original da cidade. 77 Figura 10 - Mapa com a expansão dos bairros de Volta Redonda entre 1940 e 1970. 80 Gráfico 1 - Gráfico da evolução dos empregos por atividades econômicas em Volta

Redonda entre 1996 a 2005. 83

Gráfico 2 - Gráfico dos empregados por faixa de rendimentos em Volta Redonda entre

1996 a 2005. 84

Figura 11 - Fotografia aérea indicando a área da cidade que receberá os novos

investimentos, 2013. 88

Figura 12 - Mapa com os eixos de expansão residencial, industrial e viário e o Arco das

Centralidades 89

Figura 13 - Mapa com o nível de escolaridade distribuída por bairros no município de

Volta Redonda. 91

Figura 14 - Mapa com os níveis de renda distribuídos por bairros no município de Volta

Redonda. 92

Figura 15 - Mapa com a distribuição da população por faixa etária e por bairro no

município de Volta Redonda 93

Figura 16 - Foto com a entrega de distintivos, diplomas de 10 anos e chaves de novas residências no Ginásio do Recreio do Trabalhador durante as festividades em comemoração ao 15º aniversário da CSN, 1956. 100 Figura 17 - Mapa com a localização dos equipamentos de lazer vinculados a CSN em

Volta Redonda-RJ nas décadas de 1950 e 1960. 107

Figura 18 - Baile em homenagem a "Rainha do Aço" promovido pelo Clube dos

Funcionários da CSN no Hotel Bela Vista, em 1951. 111

Figura 19 - Mosaico de fotos mostrando a fachada do Cinema 9 de Abril. 111

(10)

Figura 22 - Fotografia aérea da Praça de Esportes Tabajara, 2013. 114 Figura 23 - Fotografia do Clube Recreio do Trabalhador, 1961. 116 Figura 24 - Fotografia interna do ginásio do Clube Recreio do Trabalhador, 1954. 118 Figura 25 - Fotografia interna do ginásio do Clube Recreio do Trabalhador, 1954. 118 Figura 26 - Mosaico de fotos das equipes de futebol, basquete e vôlei no Clube Recreio

do Trabalhador constituídos por funcionários da CSN. 120 Figura 27 - Fotografia das comemorações do "Dia do Radialista" no ginásio do Recreio

do Trabalhador, 1955. 121

Figura 28 - Fotografia aérea do Clube Recreio do Trabalhador, 2013. 121 Figura 29 - Mapa da distribuição dos equipamentos esportivos da prefeitura municipal

de Volta Redonda, 2013. 132

Figura 30 - Foto da entrada principal do Estádio Municipal Sylvio Raulino de Oliveira,

2013. 134

Figura 31 - Planta da Ilha São João e da Ilha Pequena. 137

Figura 32 - Foto da comemoração dos 10 anos de funcionamento do Parque Aquático

Municipal, 2011 139

Figura 33 - Fotografia da parte interna do ginásio General Euclydes Figueiredo

mostrando a quadra e parte da arquibancada, 2012. 140

Figura 34 - Vista aérea do complexo com a Ilha São João e a Ilha Pequena, 2013. 140

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CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados CBF Confederação Brasileira de Futebol

CECISA Imobiliária Santa Cecília S/A

CIDE Fundação Centro de Informações e Dados do Rio de Janeiro COB Comitê Olímpico Brasileiro

CSN Companhia Siderúrgica Nacional CTS Centro de Treinamento de Seleções

DETRAN-RJ Departamento Estadual de Trânsito do Rio de Janeiro EIGEMSS Escola Industrial General Edmundo Macedo Soares ETPC Escola Técnica Pandiá Calógeras

FIFA Federação Internacional de Federações de Futebol FUGEMSS Fundação General Edmundo Macedo Soares e Silva

GACEMSS Grêmio Artístico e Cultural Edmundo e Macedo Soares e Silva IAAF Associação Internacional de Federações de Atletismo

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPPU-VR Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Volta Redonda LDVR Liga de Desportos de Volta Redonda

PEDI-VR Plano Estrutural de Desenvolvimento Integrado de Volta Redonda PES Programa Esportivo e Social

PIB Produto Interno Bruto

PMVR Prefeitura Municipal de Volta Redonda SMC Secretaria Municipal de Cultura

SMDET Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo SMEL Secretaria Municipal de Esporte e Lazer

SRO Serviço de Recreação Operária

TAV Trem de Alta Velocidade

(12)

  INTRODUÇÃO 12 1 LAZER E SUA PROBLEMÁTICA GEOGRÁFICA E HISTÓRICA 17 1.1 O Desenvolvimento do Lazer no Brasil: Volta Redonda dentro do contexto

nacional 27

1.1.1 As teorias de lazer no período industrial-fordista 31

1.1.2 As teorias de lazer no período pós-fordista 48

2 A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS TRANSFORMAÇÕES

URBANAS EM VOLTA REDONDA 63

2.1 A criação da cidade-empresa 65

2.2. A crise na cidade-empresa e as transformações urbanas 82 3 AS TRANSFORMAÇÕES DO LAZER EM VOLTA REDONDA 94 3.1 A CSN e a políticas sociais de lazer para os trabalhadores: os clubes

sociorrecreativos 97

3.1.1 O Clube sociorrecreativo Funcionários da CSN 108

3.1.2 O Clube sociorrecreativo Clube Recreio do Trabalhador 115 3.2 O poder público municipal e os novos investimentos em lazer: os eventos e

equipamentos esportivos 121

3.2.1 O Estádio da Cidadania 133

3.2.2 O Complexo Ilha São João 136

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 141

  REFERÊNCIAS 144

(13)

INTRODUÇÃO

As transformações na dinâmica do lazer vêm crescendo bastante nas últimas décadas.

Essas transformações se devem ao avanço do processo de globalização, à expansão do capitalismo internacional, ao esgotamento do modelo fordista de produção e ao consequente avanço do modelo de produção flexível, que promove certa reestruturação produtiva e imprime uma nova configuração nas relações entre lazer e trabalho. Com isso, discutir as relações mais complexas existentes no setor do lazer exige o envolvimento dos mais diversos atores e escalas na contemporaneidade, além de autores com perspectivas diferentes e muitas vezes até conflitantes.

Partindo dessa perspectiva, é objetivo desta dissertação compreender as mudanças ocorridas em Volta Redonda – localizada no interior do estado Rio de Janeiro - no que diz respeito à questão do lazer no contexto urbano dessa cidade. Acreditamos que, após a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), houve fortes mudanças nas opções e formas de lazer do município em função da diminuição da presença da empresa na vida cultural da cidade e do aumento da participação do setor público municipal no oferecimento das atividades ligadas ao lazer para a população. Assim, as mudanças nos clubes sociorrecreativos ligados à CSN e o aumento dos investimentos da prefeitura em novos equipamentos de lazer, principalmente esportivos, se relacionam com o tecido urbano do município sendo os dois principais aspectos das alterações a que nos referimos e sobre os quais nossa análise irá se deter.

Contudo, para entender as transformações das atividades de lazer no contexto urbano atualmente, será preciso antes compreender sua complexidade a partir das discussões sobre as características e variações ocorridas nas últimas décadas nesse setor da vida social, a fim de melhor refletir o tema proposto. Em seguida, analisaremos a reestruturação produtiva e territorial de Volta Redonda após a privatização da CSN, procurando compreender o espaço urbano antes e depois da privatização. Por último, as reflexões consistirão nas transformações do lazer no tecido urbano e suas consequências, procurando inserir os clubes sociorrecreativos e os equipamentos esportivos da prefeitura como exemplos das mudanças no setor.

Sendo assim, esta pesquisa procura colaborar para a problematização das alterações do

lazer no espaço urbano tendo como foco uma cidade que possui fundamental importância na

história industrial e urbana brasileira, pois foi o local escolhido pelo governo Vargas para a

(14)

instalação da CSN, com um determinado padrão de planejamento, em uma espécie de modelo de gestão urbano-industrial. Para esta investigação, uma questão é crucial para o entendimento do modo como as transformações de ordem produtiva na CSN recondicionaram o território e as práticas de lazer na cidade: como podemos analisar as transformações territoriais à luz das mudanças nas práticas dos lazeres, tendo como exemplo a cidade de Volta Redonda.

A CSN, hoje privatizada, continua tendo uma grande importância para o município.

Este passa atualmente por uma fase de reestruturação produtiva. O sentido de reestruturação, no entendimento de Moreira (2003b, p. 07), se refere “[...] ao estabelecimento de novas formas e escalas de espaço-tempo, com fito de configurar um novo modo de organização do espaço para as sociedades modernas, mudando-as na forma como até então havia ordenado”.

Assim, a reestruturação no Brasil caracteriza-se pela busca de um novo modelo de industrialização, devido ao esgotamento da substituição de importações. Há novas formas de regulação no âmbito do trabalho – com inovações tecnológicas e trocas dos meios técnicos centrados no processamento da microeletrônica e da microinformática, implementando a flexibilização da produção e do trabalho – e um (re)ordenamento do território. Com isso, temos a reestruturação produtiva na década de 1980, que leva, no caso de Volta Redonda, à privatização da CSN, com consequências territoriais; e a ocorrência neste início de século XXI, de um período de grandes transformações. Assim, atualmente o poder público municipal procura deslocar a imagem da cidade vinculada à empresa (“cidade do aço”) para a de uma cidade moderna. Para tal, a prefeitura procura – através de uma gestão considerada inovadora e do city marketing – criar uma imagem associada ao bem-estar social e à cidadania, com investimentos em diversas áreas sociais.

Com a privatização da CSN, houve no município a diminuição no número de

trabalhadores e novas formas de produção, com investimentos em novas tecnologias que

trouxe novas relações de trabalho com o aumento da flexibilização na produção e no trabalho

e da qualificação profissional. Além disso, houve a diminuição da intervenção da siderúrgica

diretamente sobre a cidade, com a sua retirada na dotação de infraestrutura urbana,

transferência de seus investimentos para outras cidades, novas relações entre a empresa e o

poder público municipal – tendo este aumentado sua presença e poder no fomento de políticas

públicas e sociais que causaram fortes impactos no lazer do município. Dessa forma, as

transformações ocorridas em Volta Redonda após a privatização produziram certos impactos

sociais e econômicos na população – como a diminuição dos empregos, e consequentemente,

(15)

dos salários – e no reordenamento da cidade, através da diminuição dos investimentos sociais e na infraestrutura urbana, e da mudança na dinâmica populacional em consequência da privatização.

Com a reestruturação vieram também o desenvolvimento do setor de comércio e serviços, a modernização da gestão administrativa do município e investimentos em novas áreas, com destaque para a infraestrutura e para os novos equipamentos e mobiliário urbano, principalmente aqueles ligados ao esporte. Esses novos investimentos em infraestrutura, equipamentos e mobiliário, apesar de atingirem o tecido urbano, se concentraram mais nos bairros centrais, que são áreas contíguas à CSN. Assim, reforçou-se a centralidade desses bairros, induzindo-se o setor privado a fazer investimentos em determinadas áreas, deixando outras desassistidas.

Dito isto, indagamos: como está a situação do lazer atualmente em Volta Redonda diante dos novos investimentos, uma vez que as políticas para este setor não se vinculam mais diretamente à empresa? Houve mudança nas diretrizes e nas políticas de lazer no município com aumento de investimentos no setor? Em que sentido? Os clubes sociorrecreativos, enquanto exemplos empíricos sofreram transformações a partir desse processo? Os novos investimentos em equipamentos esportivos de lazer trazem benefícios para o município e para sua população?

A partir da vivência e da pesquisa realizada sobre o município, essas questões nos levarão a refletir sobre a problemática do lazer na cidade. A cidade de Volta Redonda passa atualmente por essas transformações, o que torna relevante um trabalho que discuta as consequências desses processos na cidade e o impacto para seus habitantes.

Para a realização desta pesquisa, contemplaram-se teorias relacionadas ao lazer que

colaboraram para a compreensão do nosso objeto de estudo, com destaque para a revisão

bibliográfica referente à discussão sobre o setor, sua problemática e complexidade,

destacando os desdobramentos em relação ao espaço urbano. Dentro da discussão sobre o

tema, fez-se a análise dos principais significados de lazer mais difundidos no Brasil, um

histórico sobre o desenvolvimento das atividades que podem ser consideradas lazer, tanto no

país quanto no mundo. Além disso, realizamos uma reflexão sobre as principais teorias de

lazer e sua influência nas pesquisas realizadas no país, para que assim compreendêssemos as

transformações do lazer no município nas últimas décadas. Em seguida, o trabalho

desenvolveu-se no levantamento histórico das características econômicas e territoriais de

Volta Redonda.

(16)

Quanto às fontes e procedimentos para realizar a operacionalização da pesquisa, as informações demográficas e socioeconômicas foram obtidas junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e na prefeitura do município. Na etapa seguinte, realizou-se um levantamento dos equipamentos urbanos de lazer existentes no município a partir da construção da CSN até a sua privatização, identificando aqueles pertencentes à CSN ou que apresentam algum tipo de vínculo com a empresa. Num segundo momento, ainda sobre os equipamentos de lazer, levantamos os existentes hoje, identificando os pertencentes ao poder público municipal. Contextualizamos a criação e a construção desses equipamentos com a história e o desenvolvimento do município.

Com isso, realizamos a análise da localização desses equipamentos urbanos de lazer, principalmente os maiores e mais recentemente construídos ou reformados, bem como de que maneira os investimentos vêm alterando a dinâmica do município. Em seguida, buscamos comparamos os principais equipamentos de lazer existentes antes da privatização da CSN – no caso os clubes sociorrecreativos ligados à empresa e que ainda estão presentes no espaço urbano – com os atuais construídos ou reformados pela prefeitura, ligados ao desenvolvimento esportivo.

Para a apresentação dos dados coletados, utilizamos a base cartográfica municipal com a localização dos bairros disponíveis na secretaria de planejamento, o que possibilitou também uma espacialização dos dados socioeconômicos do município. Além disso, permitiu- se a localização dos equipamentos de lazer e das transformações espaciais dos bairros mais centrais, onde estão localizados esses equipamentos, gerando mapas que possibilitaram a comparação das transformações urbanas e do lazer no município nas últimas décadas.

Fotografias também foram utilizadas no trabalho de campo, além de outras coletadas na prefeitura e em outros trabalhos acadêmicos. Utilizamos ainda tabelas e gráficos elaborados com base em dados levantados em campo e em trabalhos acadêmicos realizados sobre o município. Por último, foram realizadas entrevistas nos clubes sociorrecreativos, com o objetivo de se colocarem algumas questões a respeito das transformações desses clubes antes e depois da privatização da CSN, além do levantamento das principais características dos novos equipamentos esportivos construídos ou reformados pela prefeitura nos últimos anos.

Tendo por base o exposto, o presente trabalho encontra-se estruturado em três

capítulos. O primeiro, “O Lazer e sua Problemática Geográfica e Histórica”, procura

apresentar uma discussão conceitual sobre lazer, um histórico sobre o desenvolvimento deste

(17)

no mundo e no Brasil, além de sua problemática na atualidade. Assim, abordamos a discussão sobre o lazer no período industrial-fordista e no período atual, considerado pós-industrial e neoliberal.

O segundo, intitulado “As transformações urbanas em Volta Redonda”, traz uma discussão sobre o desenvolvimento urbano da cidade ao longo de sua história e se divide em dois momentos: no primeiro, apresentamos a criação da cidade-empresa; no segundo, as transformações urbanas a partir da privatização da CSN.

O terceiro e último capítulo, “O lazer em Volta Redonda e as transformações urbanas”, é marcado pela análise histórica do lazer no município. Estabeleceu-se uma análise das políticas de lazer empreendidas pela CSN enquanto estatal e o aumento dos investimentos em lazer pelo poder público municipal. Enquanto exemplos empíricos foram estudados os clubes sociorrecreativos ligados à CSN e os novos equipamentos esportivos construídos e/ou reformados pela prefeitura. Refletimos sobre o modo esses fixos se relacionam com o tecido urbano no entorno e de que maneira o lazer praticado neles influencia a dinâmica urbana do município.

(18)

1 LAZER E SUA PROBLEMÁTICA GEOGRÁFICA E HISTÓRICA

Não existe um consenso sobre a definição do que seja lazer, sendo a palavra empregada nas mais variadas acepções e esteja assim presente no cotidiano das pessoas. Lazer é um termo proveniente do latim, licere, que significa ser lícito, ser permitido. De acordo com o Houaiss (2009), lazer é “o tempo que sobra do horário de trabalho e/ou cumprimento de obrigações, aproveitável para o exercício de atividades prazerosas”, sendo também entendido como repouso, descanso. Portanto, é normalmente definido como uma série de atividades que o homem pode praticar no seu tempo livre, ou seja, naquele momento em que não esta trabalhando, seja em tarefas familiares, religiosas ou sociais que lhe proporcionam prazer.

Entretanto, com a complexidade do mundo atual, a definição do que é lazer ganhou os mais variados sentidos. Apesar de apresentar similaridades, a definição de ócio apresenta diferenças em relação à de lazer de acordo com o Houaiss (2009) o primeiro significa a

“cessação do trabalho significando folga, repouso, quietação e vagar. Espaço de tempo em que se descansa”. Mais à frente veremos as diferentes significações entre esses dois termos.

A definição de lazer é de grande complexidade, pois pode, por exemplo, ligar-se ao campo profissional de uma pessoa e, ao mesmo tempo, não ser uma atividade profissional.

Jogar futebol, por exemplo, ou pintar um quadro podem ser atividades ligadas ao lazer para qualquer um que encontre prazer ao realizá-las, mas não se o indivíduo for um jogador de futebol profissional ou um pintor que viva da comercialização de seus quadros. Então como resolver essa questão? De acordo com Camargo (1989) e Marcellino (1990, 2002), aquilo que pode ser atraente e prazeroso para uma pessoa não é para outra. Isso está relacionado ao grau de liberdade de escolha dos indivíduos, ainda que essa liberdade esteja condicionada por fatores sociais e econômicos.

Portanto, o lazer não pode ser definido apenas como algo impreterivelmente

desvinculado do trabalho profissional ou de qualquer outra atividade do ser humano, seja no

âmbito familiar, na vida sociorreligiosa, sociopolítica etc. Entretanto, numa sociedade

complexa como esta, em que vivemos hoje, é cada vez mais difícil essa separação entre o que

é considerado lazer e o que é considerado atividade profissional, o que tem contribuído para

transformações no entendimento do que seja o lazer. Assim, qualquer atividade pode

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constituir-se em trabalho ou lazer, dependendo do tempo e da atitude de cada pessoa diante da atividade exercida.

A maioria das definições de lazer sublinha dois aspectos: o aspecto ligado à atitude, considerando-o um estilo de vida que independe de um tempo determinado, mas sim da postura do indivíduo perante as atividades de lazer; outro, ligado ao tempo liberado das obrigações, sejam elas familiares, religiosas ou sociais. Autores como Dumazedier (1973, 1979) e Marcellino (1983, 1990, 2002) enfatizam que esses dois aspectos estão presentes nas principais definições de lazer encontradas na literatura.

O lazer considerado como atitude é caracterizado pelo tipo de relação entre o sujeito e sua experiência de vida e está relacionado à satisfação provocada pela atividade. Assim, qualquer atividade poderá ser uma oportunidade para a prática do lazer, desde que ela proporcione prazer e autonomia. Nesse sentido, o lazer pode ser ativo ou passivo, dependendo da atitude que o indivíduo assume em relação às atividades decorrentes de tal prática e à vivência estabelecida com tal atividade. Esse entendimento é válido tanto para a prática quanto para o consumo do lazer. Uma atitude ativa implica uma participação consistente e voluntária em atividades que propiciem uma interatividade maior na vida social, onde o lazer poderá ser em que há um questionamento em relação às normas sociais e culturais vigentes, levando o indivíduo a desejar assumir maior responsabilidade e autonomia na atividade praticada.

O tempo livre, por sua vez, é considerado o tempo liberado do trabalho, mas também das obrigações familiares, sociais e religiosas no qual se podem desenvolver atividades de lazer. No entendimento de Marcellino (2002), do ponto de vista histórico, nenhum tempo pode ser considerado como livre de coações ou normas de conduta social, sendo mais correto falar em tempo disponível. Denominado livre ou disponível, esse tempo é caracterizado dentro de uma visão econômica.

Dentro das sociedades modernas industriais, houve um aumento quantitativo gradativo

do tempo livre pela diminuição do tempo dedicado ao trabalho profissional, mas questões

qualitativas ainda precisam ser discutidas. Há, por exemplo, um aumento no tempo de

deslocamento, principalmente entre a casa e o trabalho. Nas sociedades ocidentais existe uma

pressão para que o indivíduo, depois ou para além do tempo do trabalho, aproveite o tempo

livre em alguma atividade considerada importante - “produtiva”, digamos. Com isso, para

alguns não existe tempo livre, pois todo o tempo liberado da jornada de trabalho é

considerado mercadoria.

(20)

Numa outra perspectiva, autores como Aquino e Martins (2007) defendem que o tempo livre se refere às ações humanas realizadas sem que ocorra nenhuma necessidade externa, fazendo o sujeito uso dele com total liberdade e de maneira criativa. Assim, o tempo livre se manifesta quando o homem conduz com menor ou maior grau de nitidez a sua vida pessoal e social. Com isso, trata-se de uma noção que remete a equívocos, sendo uma referência temporal confundida com a ação.

Façamos, sumariamente, um percurso de compreensão histórica do sentido de lazer no mundo, verificando como diferentes entendimentos do conceito estão relacionados, por exemplo, ao que se pensa sobre o lazer nas sociedades tradicionais ou pré-industriais.

Enquanto alguns autores entendem que nestas sociedades haveria atividades consideradas lazer, outros discutem que não seria possível separar as atividades de trabalho das de não trabalho, sendo, portanto, impossível falar de lazer nessa época. Entretanto, foi realizado um levantamento sobre as principais atividades no tempo do não trabalho ao longo da história da humanidade para situar de que maneira o tempo livre era aproveitado em cada época, enfatizando o surgimento das pesquisas sobre lazer a partir do desenvolvimento da sociedade moderna-industrial.

No caso específico do Brasil, com a industrialização e o crescimento urbano, as atividades de lazer ganharam importância, sendo que os primeiros estudos relativos ao tema se iniciaram na década de 1950. Assim, divide-se o estudo do lazer no país em três fases, relacionando-as com a dinâmica social do país: num primeiro momento, uma fase nacional- desenvolvimentista; num segundo, no contexto da ditadura militar e do processo de redemocratização; e, por fim, a fase de inserção do Brasil no contexto internacional de globalização, com a adoção de medidas neoliberais. Com isso, dois aspectos fundamentais são enfatizados nos estudos do lazer no Brasil: os estudos do lazer na fase industrial-fordista, discutindo-se as concepções funcionalistas e as concepções sob a influência de estudos marxistas; e as concepções pós-modernas, sob a influência da discussão da ociosidade e daquelas que discutem a materialidade e a virtualidade a partir dos simulacros e sua espetacularização.

Vejamos sumariamente aqui as definições de lazer no Brasil influenciadas por estudos

considerados funcionalistas, dos quais são exemplos autores como Joffre Dumazedier e

Stanley Parker. Marcellino (1990, p. 54), por exemplo, traz a definição de lazer “[...]como

ocupação a que se entregava merecidamente o homem após o trabalho, tendo conotação

básica de liberdade” – portanto, o momento em que se tem a oportunidade de relaxar,

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descansar, distrair-se, exercer alguma forma de recreação. Para Camargo (1989, p. 12) “[...]o lazer é sempre liberatório de obrigações: busca compensar ou substituir algum esforço que a vida social impõe”. Porém o lazer não é apenas um grupo qualquer de ocupações sem propósito além do de preencher o tempo livre, mas possui uma conotação crítica e transformadora. Para Requixa (1977, p.35) o lazer é “[...] uma ocupação não obrigatória, de livre escolha do indivíduo que vive e cujo os valores propiciam condições de recuperação psicossomática e de desenvolvimento pessoal e social”.

Outras discussões de lazer do período industrial-fordista são influenciadas pelas teorias marxistas, com destaque para as discussões de Lílian de Aragão Bastos do Valle e Maria Isabel Leme Faleiros. Valle (1988, s/p) apresenta a atividade de lazer como “[...]

instrumentalizada e instrumentalizável pelo trabalho, alienação e empobrecimento, mas [que]

por outro lado é capaz de conduzir em um dado momento a transcender os limites socialmente impostos à liberdade do homem”. Essa autora foi uma das primeiras a entender o lazer como resistência dentro da sociedade brasileira. Já Faleiros (1980, p. 55) destaca que um dos aspectos do lazer é “[...] sua relação com o trabalho não de oposição, mas sim de uma unidade entre o tempo do trabalho e o tempo do não trabalho. A atividade de trabalho requer a realização de outras atividades para que ela possa existir”. Nesse sentido, as concepções de influência marxista colocam que o lazer deve ser reconhecido em sua relação com o trabalho voltado para a satisfação das necessidades de reconstituição e reprodução do homem.

Enquanto nas teorias de lazer já expostas há uma marcação em relação ao tempo e às atividades para definir o conceito, nas concepções pós-modernos não existe mais a dicotomia entre tempo de trabalho e tempo de lazer, assim como no que se refere ao espaço de trabalho e espaço de lazer. De acordo com Giraldi (2012), a pós-modernidade é marcada pela exacerbação de certas características das sociedades modernas, como o individualismo, o consumismo, a cultura hedonística, além da fragmentação do tempo e do espaço. Nesse modelo, a comunicação e a indústria cultural difundem valores e ideias levando a uma multiplicidade de valores e estéticas. O pós-moderno não adota um referencial teórico rígido.

Alguns autores como Domenico de Masi (2000) – resgatando outros como Bertrand Russel (1976) e Paul Lafargue (1999) – atualmente têm influenciado grande número de estudiosos no Brasil na discussão sobre o lazer. Para Rodrigues (2002, p. 1) que se insere nessa vertente:

Ao pensarmos a relação entre lazer e espaço a primeira coisa que nos ocorre é questionar a dicotomia consensualmente aceita até muito recentemente entre

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espaço de trabalho e espaço de lazer. Esta distinção, que marcou fortemente a produção industrial na sua fase fordista , perde significado nos dias atuais. (...) nas sociedades urbanas contemporâneas é cada vez mais difícil distinguir o tempo do trabalho de outros tempos. [Com isso] Há que considerar-se os novos tempos que surgem na chamada pós-modernidade.

Não se trata de uma definição fechada. O tempo de lazer pode ser qualquer tempo, e o espaço para realizá-lo pode ser qualquer espaço. Já Aquino e Martins (2007, p. 491) procuram salientar as diferenças entre lazer e ócio e apontando que o ócio “[...]constitui uma experiência gratuita, necessária e enriquecedora na natureza humana relacionando à percepção de felicidade”. Assim, o ócio não pode ser identificado com o tempo – da maneira como é identificado o lazer – pois o tempo em si não define a ação humana. O ócio esta relacionado a valores e significados profundos da experiência humana.

Importante considerar ainda a discussão dos lazeres considerados pós-modernos. Se pós-modernismo no sentido amplo é entendido como uma ruptura com a idéia modernista de planejamento e desenvolvimento em larga escala, tecnologicamente racionais e eficientes; o pós-modernismo cultiva um conceito do tecido urbano como algo necessariamente fragmentado, de formas passadas superpostas umas às outras, com uso corrente, muitos dos quais podem ser efêmeros (HARVEY, 2012). Assim, a prática dos lazeres pós-modernos são fragmentados, superpostos e efêmeros, onde a materialidade e a virtualidade se misturam relacionando os simulacros de consumo com a espetacularização.

Autores como Guy Debord (1997) e Jean Baudrillard (1981) influenciaram autores que procuram discutir o lazer a partir dos simulacros que representam e ressignificam o sentido da simulação, da aparência externa copiando e imitando a realidade. Por outro lado, esses simulacros dão visibilidade às cenas, excluindo a dimensão da subjetividade, tornando-a visível e pública. Autores como Giraldi (2012, p.14) analisam o lazer e sua relação com o espaço urbano a partir dessa perspectiva, a partir da qual esse assunto é extremamente polêmico. Assim, para esse autor, o lazer “[...] é praticado de forma privatizada, individualizada e na maioria das vezes comercializado”. Desse modo, a visão de que as atividades praticadas como lazer possuem em essência um livre arbítrio deve ser questionada ante uma sociedade do espetáculo, do consumo, midiatizada. Os parques temáticos e os shopping centers são exemplos desses lazeres pós-modernos.

Concordamos com Prado e Silva (2010) ao afirmar que o lazer apresenta-se como um elemento central da cultura vivida por milhões de trabalhadores, possui relações sutis e profundas com todos os grandes problemas oriundos do trabalho, da família e da política.

Assim, as atividades relacionadas ao lazer passaram a ser tratadas em novos termos devido à

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influência advinda das transformações do mundo do trabalho, da família e da política. no mundo moderno. Com isso, o lazer abrange aspectos múltiplos e às vezes contraditórios, estando estes ligados a determinações do espaço, do tempo e da atitude. Encontramos diferentes definições de lazer que variam segundo vertentes e autores, porém tal conceito sempre é observado sociologicamente num determinado conjunto de atividades, mas com estreita relação com a realização pessoal.

Alguns autores entendem que o lazer é fruto da sociedade urbano-industrial; já na concepção de outros, como os homens sempre trabalharam, podemos falar de lazer desde sempre. Como a definição de lazer é complexa, a discussão sobre a existência ou não dessa prática na história da humanidade gera polêmica. Com isso, poderíamos falar de lazer no tempo de não trabalho nas sociedades tradicionais? Ou o lazer torna-se uma prática somente nas sociedades urbano-industriais, em que a industrialização e o trabalho, aqui considerando-o como produtor de mais valia, se tornam aspectos centrais do capitalismo que são os pontos centrais da dinâmica das sociedades modernas?

Nas sociedades tradicionais, marcadamente rurais ou pré-industriais, não havia separação rígida entre as várias esferas da vida do homem, sendo difícil a distinção entre lazer e trabalho. Os locais de trabalho ficavam próximos e se confundiam com a moradia, e a produção era basicamente ligada ao núcleo familiar, obedecendo ao ciclo natural do tempo.

Com isso, o trabalho ligava-se aos ciclos da natureza, entrecortado por canto, pausa, jogos e cerimônias, não sendo possível, desse modo, uma separação nítida entre a atividade e repouso nesse período histórico. Assim, a festa englobava tanto o trabalho, as atividades lúdicas e os cerimoniais. Não havia isolamento de atividade lúdica, não caracterizando o binômio trabalho/lazer. Com isso, alguns autores acreditam que não existiam períodos de lazer claramente definidos e qualquer atividade podia ganhar um aspecto lúdico/recreativo. Para Parker (1976), o descanso em relação ao trabalho e a participação do indivíduo em cerimoniais, mesmo não sendo o resultado de uma escolha individual, funcionava como uma espécie de lazer.

Na sociedade moderna, marcadamente urbana, a industrialização acentuou a divisão

do trabalho, e este se tornou cada vez mais especializado e fragmentado, afastando os

indivíduos da convivência social e despersonalizando as relações. A partir do momento em

que o homem resolve medir o tempo cotidiano e quantificá-lo na sociedade industrial, passa a

haver uma separação nítida entre o tempo do trabalho e o tempo do não trabalho. Assim, as

pessoas começam a dividir-se em atividades variadas, caracterizando a relação dual

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trabalho/lazer, entre o tempo do trabalho e do não trabalho. Alguns autores definem o lazer como um produto da sociedade industrial; e corrobora com essa concepção o fato de que, pelo menos ao que parece, a redução das horas de trabalho foi acompanhada por formas de lazer típicas da estrutura social e das circunstâncias das sociedades urbano-industriais.

De acordo com Medeiros (1975), a ampla disponibilidade de trabalho escravo na antiga Grécia proporcionava às classes aristocráticas copiosas horas de folga consagrada aos esportes, lutas, músicas e festivais. O número avultado de servos e escravos facilitava o cultivo de interesses variados, podendo os cidadãos irem à praça discutir problemas de guerra e paz, assistir a peças de teatro, participar de debates filosóficos etc. Entre os romanos, os costumes também refletiam a ampla disponibilidade de escravos, o gosto pelo luxo e pelo lazer. Uma vila romana dispunha de acomodações de lazer e as diversões eram múltiplas, principalmente para os membros das classes dominantes. As luxuosas casas de banho e as lutas dos gladiadores nas arenas eram exemplos de divertimento. Para Dumazedier (1979), as classes aristocráticas da antiga Grécia e Roma faziam pagar sua ociosidade com o trabalho de outros (escravos, camponeses ou servos). Já Parker (1976) aponta que o lazer é concebido como um estado de ser no qual a atividade é executada tendo a si mesma como causa e finalidade, sendo uma concepção de lazer mais ampla da natureza de um homem livre.

Na Idade Média, dominada pela organização social e política do feudalismo, a vida dependia da proteção de alguma coletividade. Com isto, os indivíduos procuravam filiar-se a um suserano, a um mosteiro ou a uma corporação de ofício. As possibilidades de lazer estavam atreladas à classe social de cada pessoa, ao critério do senhor e às exigências da associação a que se pertencia. Ascendiam nesse período os dias santos e os feriados, resultando em bastante tempo livre. Assim, as cerimônias eram indissociáveis dos festejos nos quais o tempo do não trabalho estava ligado ao culto, levando as pessoas a uma atitude religiosa relacionada à crença da felicidade pós-morte, o que influenciava a utilização desse tempo livre (MEDEIROS, 1975). E com uma sociedade fortemente marcada pela religião, os divertimentos populares e a recreação eram integrados aos feriados e cerimoniais religiosos, que podiam chegar a cem dias por ano. Mas há que considerar ainda que na Idade Média havia atividades recreativas que não estavam ligadas à influência religiosa, como os torneios medievais, a caça e as festas sem motivo religioso.

Na Renascença, as artes, letras, ciências e o culto ao antropocentrismo e à razão

voltam a prosperar, resgatando alguns valores da antiguidade clássica. Nesses termos,

retomavam a diversão e o lúdico o lugar de prestígio – já que não mais importava buscar a

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felicidade numa incerta vida pós-morte. Entretanto, durante a Reforma protestante, as diversões e os lazeres ganharam a conotação de algo pecaminoso, alterando a dinâmica de lazer com o fechamento de casas de diversão e a proibição de festas populares. Nas sociedades tradicionais ou pré-industriais, os rituais, as atividades econômicas, religiosas e de lazer não eram tão nitidamente diferenciadas, temporal ou espacialmente, quanto passariam a ser na modernidade (MEDEIROS, 1975).

Durante a Revolução Industrial no século XVIII, o trabalho era exaustivo, com carga horária de até 14 horas por dia, sendo o restante do tempo utilizado unicamente para recuperar as forças e poder retornar à atividade. As condições das fábricas eram precárias – com ambientes abafados, sujos e com pouca ventilação –, e os salários eram baixíssimos. Nesse período, inicia-se a luta por melhores condições de trabalho e pela redução da jornada. O repouso semanal aos domingos e o direito aos feriados inicialmente ligados à tradição religiosa passaram a ser regidos por textos legais, tornando-se obrigatórios em vários países.

A partir do século XIX, ocorrem as primeiras reduções na jornada de trabalho, de 12 ou 10 horas, para 8 horas diárias. Iniciadas pelos operários em 1825 na Inglaterra, as primeiras conquistas só foram lograr êxito em 1851 e ter reconhecimento em 1871. No decorrer do século, ocorreram avanços na medicina e na higiene que prolongaram a duração da vida e deram ao homem mais tempo de fruí-la. Entretanto, junto com esses progressos vieram também dificuldades, como a convivência nas aglomerações urbanas e as tensões que nelas se avolumavam (MEDEIROS, 1975).

O interesse pelo lazer e seus primeiros estudos tem origem na segunda metade do século XIX com o desenvolvimento das ciências humanas e o advento da industrialização

1

. Nessa época, o lazer passa a ser compreendido como um espaço/tempo propício para a vivência de uma multiplicidade de experiências classificadas como não pertencentes ao mundo do trabalho nas modernas sociedades urbano-industriais (GOMES e MELO, 2003).

O primeiro trabalho publicado com referência em lazer foi em 1883, quando o militante Paul Lafargue (1999) escreveu seu famoso panfleto “O Direito à Preguiça”. O autor caracterizava o lazer como contraponto ao “direito ao trabalho” em relação à moral cristã e fazia um elogio à preguiça partindo do pressuposto de que o trabalho é um dogma desastroso

1

O tema tem recebido contribuições constantes de várias áreas, como a Sociologia, Antropologia, Arquitetura/Urbanismo, Comunicações etc., e a partir dessas várias contribuições podemos considerar que existe uma preocupação com estudos relacionados ao lazer (MARCELLINO, 1990, 2002).

(26)

e o analisando-o criticamente. Afirmava que este só se tornaria um condimento de prazer da preguiça, ou seja, a finalidade do trabalho seria permitir ao homem aproveitar o tempo de lazer. Assim, o lazer seria um exercício benéfico para o organismo humano, uma paixão útil ao organismo social, quando prudentemente regulado e limitado a um máximo de três horas por dia. O autor acreditava que as máquinas trariam várias possibilidades para o ser humano, acarretando a sua libertação, independentemente das classes sociais. Além disso, Lafargue denunciava as condições de trabalho de crianças e mulheres.

No início do século XX, houve ampliação do tempo livre, com a fixação da jornada de trabalho em 8 horas diárias, regulamentando a atividade profissional e promovendo a legislação sobre descanso semanal, férias remuneradas e aposentadoria. Em 1919 a França foi o primeiro país a estabelecer a jornada de 8 horas, e as questões referentes a férias e recreação entram em pauta. Em 1936, instituem-se os fins de semana e há um aumento da prática dos lazeres pela classe operária. O trabalho industrial mais fragmentado, feito em tempo rápido, exigia menos energia física que no século anterior, porém fatigava mais os nervos, aumentando a necessidade de repouso. Os novos meios de transporte e de comunicação à distância repercutiram muito no aproveitamento das horas livres. O entretenimento multiplicou-se com cartazes, jornais, revistas, telefone, rádio, televisão, cinema etc.

Nas modernas sociedades urbano-industriais como, por exemplo, a européia e a estadunidense, houve um maior interesse pelas questões sobre o lazer estando diretamente relacionado ao processo de industrialização. Assim, desenvolveu-se no início do século XX um estudo sistemático sobre o lazer principalmente a partir dos anos de 1950. Além disso, há estudos sobre as questões referentes ao lazer também nos países socialistas. (MARCELLINO, 2002 e 2010).

O lazer tende a exibir as mesmas características e feições do mundo do trabalho industrial devido as influências das relações sociais aí estabelecidas. Como um produto da sociedade industrial, ele recebe influências coletivas mais fortes do que as individuais levando as pessoas a terem mais semelhanças do que diferenças na utilização do lazer. Contudo, é complicado afirmar até onde estas semelhanças relaciona-se ao desenvolvimento da sociedade industrial.

No final do século XX, verifica-se uma crescente liberação financeira dos fluxos de

capital, abertura da pauta comercial com baixa tarifa ou livre comércio e reestruturação das

relações produtivas. Esses foram fenômenos que deram início ao movimento internacional de

reformulação do capitalismo. Com maior liberdade na circulação de dinheiro e mercadorias,

(27)

as empresas encontraram novas formas de gerenciamento da produção, circulação, financiamento e acumulação de capitais. Tudo isso foi possível devido a uma revolução na tecnologia das comunicações, informática e transportes. Nessa era da globalização, os trabalhos, as reflexões e as discussões que se referiam à dicotomia lazer/trabalho pautado no tempo livre ou na formação de quadros internos entram em colapso metodológico. Com a globalização resgatam-se estudos do lazer de autores clássicos ou análises pautadas na sociologia contemporânea com perspectivas dos estudos pós-industriais.

No que se refere aos estudos relacionados à valorização do lazer e suas relações com o trabalho, é possível constatar que são recentes e seus efeitos em relação aos valores das sociedades ainda são bastante reduzidos. Nessas pesquisas, as concepções anteriores de trabalho passaram a ser questionadas e novas questões aparecem. Para De Masi (2000, p. 199) a sociedade é

[...] caracterizada pelo tempo livre. A plenitude da atividade humana é alcançada somente quando nela coincidem, se acumulam, se exaltam e se mesclam o trabalho, o estudo e o jogo; isto é, quando nós trabalhamos, aprendemos e nos divertimos, tudo ao mesmo tempo.

Novas definições de trabalho e lazer surgem e os problemas dessas definições também.

Rodrigues (2002, p. 2), por exemplo, aponta que o “[...] lazer deve ser considerado pura fruição, como um direito inalienável, lícito garantido constitucionalmente ou ainda como prática social através da qual se expressam a cultura e a arte”.

Particularmente no Brasil, desde o período colonial, estabeleceu-se uma sociedade patriarcal e escravocrata com o trabalho servil não só na lavoura, mas também em atividades domésticas e urbanas, tendo os senhores muito tempo livre. Para quem possuía vastos domínios de terras e vários escravos, o tempo livre era mal utilizado, segundo relatam os primeiros viajantes. As maiores celebrações da época eram religiosas e tinham duas feições:

de um lado a cerimônia solene, de outro as diversões como as quermesses, os folguedos, cantos e danças. No interior da Colônia, a não ser nessas circunstâncias festivas, o intercâmbio social mostrava-se muito reduzido. Nos povoados, as vendas e as tabernas eram os pontos de encontro.

Poucos acontecimentos festivos marcaram o Brasil Colônia, como a restauração do

trono português por D. João IV em 1641, o evento promovido em 1666 pelo governador de

Pernambuco e a chegada, em1682, do primeiro bispo ao Rio de Janeiro. Essas foram as festas

oficiais que mereceram registro na história. Desse modo, podemos afirmar que as festas eram

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os principais momentos de sociabilidade propiciada pelo Estado ou pelo calendário religioso estabelecido pela Igreja. Essas eram as características do uso do tempo livre entre os séculos XVI e XVIII no Brasil (TINHORÃO, 2000).

Durante o século XIX, são incorporados novos hábitos com a chegada da família real à cidade do Rio de Janeiro e a criação de instituições como o Horto Real e o Real Teatro São João. A influência europeia e a difusão de grandes festas religiosas marcaram um novo aproveitamento do tempo livre no país (MEDEIROS, 1975).

A partir do século XX, com a chegada de imigrantes, o aumento da urbanização e o início da industrialização o lazer se desenvolve. Apesar dos salários miseráveis, a redução da jornada de trabalho foi o item mais importante na luta dos trabalhadores. As atividades de recreação passam a ser organizadas em sociedades para tais fins, daí o surgimento dos primeiros clubes. Com isso, as práticas esportivas e as artes, entre outros eventos, ganham impulso no país.

Partindo desse breve panorama, este capítulo trata de discorrer sobre o desenvolvimento do lazer no Brasil, inserindo a cidade de Volta Redonda dentro do contexto nacional e relacionando ao desenvolvimento dos estudos de lazer no país.

1.1 O Desenvolvimento do Lazer no Brasil: Volta Redonda dentro do contexto nacional

Para a análise das transformações da sociedade e o desenvolvimento da pesquisa sobre o lazer no país, utilizamos a divisão de Almeida e Gutierrez (2005): a) o primeiro período é do nacional-desenvolvimentista, de 1946 a 1964; b) o segundo vai do golpe militar em 1964 passando pela redemocratização e seu período de transição até o fim de 1989/1990; c) o terceiro abrange a fase neoliberal, com início na virada da década de 1990 até os dias atuais.

O primeiro momento (de 1946 até 1964), o nacional-desenvolvimentista, fundamenta-

se na substituição de importações e é caracterizado pelo populismo político, em que houve o

surgimento da indústria automobilística, a construção de estradas, a inauguração da capital

federal em Brasília e a criação de uma indústria de base. Durante o período do governo

Vargas, uma série de medidas foi baixada em favor dos trabalhadores, que vieram a ser

incorporadas na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Na cultura, houve a valorização

de temáticas brasileiras, justificada como forma de preservação de valores nacionais

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ameaçados de influxo cultural estrangeiro.

Em relação ao lazer, houve um maior acesso devido ao desenvolvimento econômico e industrial, com o florescimento das artes e do espetáculo e a valorização do lazer do trabalhador com a constituição de clubes-empresas. Assim, encontramos o início do lazer típico da industrialização, com sua passagem de manifestação popular e comunitária para mercadoria disponível. Há uma conquista de espaços de lazer nas empresas com a participação dos operários em campeonatos e o desenvolvimento esportivo de alguns clubes- empresas. Assim, houve o desenvolvimento de atividades esportivas e a criação de teatros e musicais (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2006).

Dentro desse contexto surge a cidade de Volta Redonda, a partir da instalação da CSN em 1941. A cidade foi planejada a partir do modelo de cidade industrial do arquiteto socialista-utópico francês Tony Garnier que foi adaptado pelo também arquiteto Attílio Corrêa Lima ao “autoritarismo populista” de Getúlio Vargas. O objetivo era transformar Volta Redonda numa cidade modelo, uma experiência exemplar, idealizada pela burocracia com um planejamento residencial que evidenciasse a hegemonia dos mais graduados na empresa, inclusive em relação aos equipamentos urbanos de lazer, com destaque para os clubes- empresa e a criação de cinemas e teatro

2

. Percebe-se Volta Redonda como um exemplo da valorização do lazer do trabalhador.

No segundo período (do golpe militar em 1964 até a redemocratização em 1985), as manifestações culturais e as atividades de lazer vão se transformam em função do acelerado crescimento urbano, da censura e da repressão policial. O desenvolvimento dos meios de comunicação e de uma indústria cultural, com a popularização da televisão, ajudaram a desintegrar as manifestações artísticas que existiam nos setores populares. O desenvolvimento do capitalismo no Brasil contribuiu para a concentração de renda, e houve uma aliança de classes entre a burguesia brasileira, a burguesia internacional e a oligarquia agrária brasileira, o que se configurou como a “modernização conservadora”. Ampliou-se a desigualdade social e aumentou-se o número de famílias típicas de classe média que puderam comprar seus televisores e automóveis, ir ao cinema, passar fins de semana de lazer no campo ou na praia e substituir o comércio de rua pelos shoppings.

2 Entre as décadas de 1940 e 1960, em Volta Redonda, foram criados seis clubes-empresas vinculados à siderúrgica, três cinemas, um teatro e um estádio de futebol, além de praças, jardins e outros mobiliários urbanos que poderiam ser utilizados para o lazer. A localização desses equipamentos encontra-se no capítulo 3.

(30)

Na ditadura militar, as expressões populares e as festas típicas passaram a ser controladas, assim como todas as expressões artísticas. O regime militar iniciou um amplo investimento na área esportiva. Com o crescimento econômico, o lazer da classe média no Brasil acompanhou o desenvolvimento do lazer nos países desenvolvidos. A ditadura retirou o caráter muitas vezes contraventor das artes e do lazer com ao auxílio da televisão e do cinema, um aparato ideológico baseado nas artes audiovisuais – ocorrendo, durante esse período, uma expansão da produção, distribuição e consumo de bens culturais de acordo com a necessidade de apoio do governo junto à população. Quando o Brasil passa a viver o período de redemocratização, volta à cena a preocupação com o popular e o engajamento político (ALMEIDA e GUTIERREZ, 2005).

Em Volta Redonda após o golpe militar, a CSN promoveu mudanças significativas em seu patrimônio urbano, acarretando consequências para a cidade tanto no que se refere às atribuições da prefeitura quanto no que tange às condições da força de trabalho dos operários da empresa. A Companhia desfez-se do seu patrimônio privado (casas e terrenos) por meio de uma imobiliária por ela criada para que fosse administrativo e vendido; por outro lado, passou o seu patrimônio público (ruas, praças, serviços urbanos etc.) para a prefeitura. Com isso, houve uma diminuição de investimentos por parte da CSN na infraestrutura urbana do município e, como consequência uma diminuição nos investimentos em lazer.

No Brasil, a sociedade passa a se configurar como urbana a partir das décadas de 1960/1970, e a população começa a se concentrar majoritariamente nos grandes centros. Os valores veiculados pela indústria cultural, através dos meios de comunicação de massa, são os da sociedade moderna-urbano-industrial, fazendo com que as questões relativas ao lazer sejam entendidas a partir desses valores hegemônicos. Assim, a partir do final dos anos 1960, tem início uma produção acadêmica maior sobre o lazer no Brasil, principalmente por conta dos seminários realizados pelo Sesc de São Paulo, com a contribuição de Dumazedier e a publicação de diversas obras na área. Outro marco importante é a publicação do livro O lazer no Brasil, de autoria de Renato Requixa (1977) e que detalha a trajetória da produção científica do lazer no Brasil até aquele momento. Antes dela, a obra Lazer Operário, de José Acácio Ferreira (1959) foi considerada, conforme enfatiza Gomes (2010) uma referência nos estudos de lazer no país, tomando como base de pesquisa o lazer dos trabalhadores assalariados em Salvador.

Entretanto, pelo menos 50 anos separam os estudos sobre lazer na Europa e no Brasil.

Aqui, apesar da questão estar relacionada ao processo de industrialização, o assunto encontra-

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se mais vinculado à urbanização da vida nas grandes cidades. De acordo com Neto (1993), apesar do tempo disponível já ser uma realidade, o lazer encontra-se envolvido em uma série de valores subjetivos que compreendem concepções diversas que ainda não foram muito bem entendidas. A autora coloca que os problemas de um país subdesenvolvido como o Brasil não podem ser estudados sob a ótica de países desenvolvidos. Mesmo assim, a reflexão nacional sobre o lazer estará assentada em bases estrangeiras. Começa a discussão,aqui do lazer como ocupação não obrigatória, como elemento de livre escolha do indivíduo, e sobre quais seriam os valores relacionados a essa prática.

Por isso, Joffre Dumazedier e Stanley Parker exercerão uma grande influência nos estudos do lazer em função da proximidade com a valorização do popular e a crítica à sociedade do trabalho. A discussão no campo fará durante duas décadas, alusão ao tempo disponível como contraponto ao tempo do trabalho. Com isso, teóricos brasileiros do lazer propõem em suas análises a formação de agentes culturais de lazer junto à população, recuperando a valorização das manifestações populares reprimida durante o regime militar. É natural que a produção do lazer procure, num primeiro, momento privilegiar temas populares e da cultura. Entretanto, este resgate artístico do popular por meio do lazer não se realiza em sua plenitude por conta do desenvolvimento e evolução da indústria cultural (ALMEIDA, GUTIERREZ, 2006).

Mais tarde, as obras de Luiz Otávio de Lima Camargo (1989, 1998) e Nelson Carvalho Marcellino (1983, 1990, 2002 e 2010) obtiveram grande difusão, a partir da década de 1990, e auxiliaram na compreensão mais abrangente da concepção de lazer enquanto objeto de pesquisa no país. A partir da década de 1980, cresce a preocupação com a formulação de políticas públicas para o lazer, levando a Constituição de 1988 a considerar o lazer um direito social tão importante quanto outros e que legalmente deve ser tratado com o mesmo nível de interesse

3

.

Com o avanço da globalização, o Brasil adota uma política neoliberal a partir dos anos 1990 levando à privatização e à diminuição da atuação do Estado nas diferentes esferas da vida, inclusive na do lazer. Este momento corresponde ao terceiro período identificado por Almeida e Gutierrez (2005) quando houve um crescimento do setor terciário.

3 O termo lazer aparece 4 vezes na constituição. No art. 6º e 7º do capítulo II – “Direitos Sociais”, no art. 217º do capítulo III “Da Educação, da Cultura e do Desporto” e no art. 227º do capítulo VII – “Da Família, da Criança, do Adolescente e do Idoso” (BRASIL, 1988).

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