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O jogo não será a faceta dominante do nosso turismo

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Academic year: 2021

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Fonte: Plataforma Macau Data: 7 de Abril de 21017

“O jogo não será a faceta dominante do nosso turismo”

Em Cabo Verde, as obras de construção do futuro hotel-casino do grupo Macau Legend estão perto de arrancar. A experiência de exploração de casinos, com concessões exclusivas nas ilhas do Sal e Santiago, vai ser estudada pelo Governo da Praia antes de se abrir o arquipélago a novos operadores. Tânia Romualdo, embaixadora cabo-verdiana em Pequim, diz no entanto que os casinos não serão dominantes na oferta turística do país africano.

Nas relações de investimento com a China, Cabo Verde dá atualmente início ao estudo para a criação de uma zona económica especial em São Vicente e prepara-se para rever legislação para uma maior abertura ao investimento. Em Junho, recebe a edição deste ano do Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

- O último plano de ação do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa traça os objetivos de criar maior capacidade produtiva nos países do grupo através do investimento e de envolver mais privados. Que expectativas tem Cabo Verde em relação a este plano?

Tânia Romualdo – Em Outubro, por ocasião da 5ª Conferência Ministerial do Fórum, a delegação de Cabo Verde foi chefiada pelo primeiro-ministro [Ulisses Correia e Silva], que se fez acompanhar por mais três membros do Governo, o que por si só já demonstra a importância que Cabo Verde dedica ao Fórum de Macau e a expectativa que também tem em relação ao plano adoptado, válido

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até 2019. O plano acabou por reforçar algumas das áreas que já vinham sendo contempladas nos anos anteriores, e também foi adoptado um instrumento que vai precisamente reforçar essa capacitação produtiva dos países de língua portuguesa – em especial, os menos avançados.

- No caso particular de Cabo Verde, e por via do Fundo para a Cooperação do Fórum, há pelo menos um projeto que sabe que vai receber financiamento, envolvendo o empresário de Macau David Chow. Em que passo está neste momento o projeto e a verificação dos requisitos necessários ao financiamento?

T.R. – Em relação ao financiamento, não tenho a indicação mais precisa e atualizada. Em relação ao projeto em Cabo Verde, fez-se o lançamento da primeira pedra já há mais de um ano, em Fevereiro de 2016, e foi concluída a primeira parte dos trabalhos, envolvendo a terraplanagem e a preparação do terreno. O empreendimento vai ser construído num pequeno ilhéu, pertíssimo da costa da cidade da Praia, a capital, na Ilha de Santiago. Vão começar agora a construir os edifícios. Até aqui, as coisas estão a correr bem, a um ritmo que seria mais ou menos o esperado.

Portanto, não houve grandes surpresas em relação à execução da obra.

- A indústria turística já é o forte da economia de Cabo Verde. Esta nova vertente, com uma aproximação a um potencial mercado de jogadores chineses, que diferença fará para o turismo de Cabo Verde?

T.R. – Até agora, não tínhamos essa componente de jogo e de tudo o que lhe está associado, e na qual Cabo Verde aposta. Será o primeiro grande casino em Cabo Verde. Neste momento, estamos numa fase experimental num dos hotéis do Sal [Casino Royal, associado à empresa Vela Verde e ao grupo Hilton] – mas é algo com uma dimensão pequena e, como digo, a título experimental.

Antes não tínhamos a legislação necessária para a introdução do jogo em Cabo Verde. Na introdução dessa legislação, bem como na preparação das pessoas que vão lidar com o jogo diretamente, também contamos com a cooperação do Governo da RAEM.

- Cabo Verde precisará de pessoal especializado, tendo Macau já essa experiência. Como vão cooperar?

T.R. – Já estamos a cooperar. As autoridades da RAEM continuam a cooperar desde a fase em que se preparou a legislação necessária, na qual houve partilha de experiência. Foi um parceiro importante na fase de preparação do quadro legal. Neste momento, estamos também já a preparar as pessoas. Nós, não tendo jogo em Cabo Verde até então, também não tínhamos pessoas formadas na área.

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Neste momento, já se encontram em Macau os primeiros 15 estudantes de Cabo Verde a adquirir formação específica nessa área – gestão do jogo, inspetores e todas essas profissões ligadas ao jogo.

- Quantas pessoas contam formar em Macau?

T.R. – Neste ano letivo, são 15. Virão mais no próximo ano letivo.

Neste momento, não me parece que tenham já sido decididos os números exatos, mas a tendência a haver gradualmente um crescimento, de forma a que tenhamos quadros preparados na altura em que a obra estiver concluída.

- Como é que a autoridades de Cabo Verde pensam de futuro gerir o regime de concessões para a atividade de jogo?

T.R. – Neste momento, o Governo está numa fase inicial, nessa matéria. Irá naturalmente acompanhar a entrada em funcionamento [das primeiras concessões exclusivas para as ilha de Santiago e Sal] e a partir daí ajustar e adoptar as medidas necessárias, a prever possíveis novos interessados nessa área.

Penso que será uma coisa muito gradual. Não há ainda decisões tomadas.

- Como é que a aproximação ao mercado de jogadores chineses está a ser trabalhada?

T.R. – Neste momento, não apenas para esse turismo específico, mas no geral, Cabo Verde está a apostar fortemente. É um dos principais sectores para a nossa economia. Há um ano, precisamente, tivemos mudança no Governo, que está agora a redefinir alguns aspetos relacionados com o investimento direto estrangeiro, mas também com a atração do turismo – não só da China, mas também de outros mercados.

- Quais são os mercados com maior número de turistas a visitar Cabo Verde?

T.R. – Neste momento, são sobretudo da Europa. Mas o Reino Unido tem um grande destaque, sobretudo para as ilhas do Sal e Boavista. Temos também um número razoável de turistas provenientes da Itália, da Alemanha. Ultimamente, e em ritmo crescente, temos também um aumento dos grandes cruzeiros – não só na ilha de São Vicente, que era onde inicialmente eles faziam a paragem, mas também agora na ilha de Santiago.

- Neste caso, não são necessariamente turistas à procura do jogo, mas de muitas outras coisas.

T.R. – Exatamente. Para nós, o jogo não será – pelo menos, a curto prazo, não temos a intenção, nem prevemos que assim seja – a

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faceta dominante do nosso turismo. Será apenas uma das componentes.

- Há alguma experiência menos positiva de Macau que seja útil desde já antecipar e contrariar?

T.R. – Certamente, haverá. Não estamos a inventar nada de novo em Cabo Verde. Estamos a iniciar e o mais lógico, de facto, é aprender com quem já tem muito mais experiência nessa área, e evitar cometer os mesmos erros – ou o que correu menos bem.

- Que medidas é que Cabo Verde está neste momento a adoptar para atrair mais investimento externo? Do ponto de vista fiscal, foram dados alguns passos.

T.R. - Em matéria fiscal, foram dados incentivos. A legislação, também, ao longo dos anos foi-se adaptando a essa necessidade de atrair mais investimento externo. Desde o ano passado, o novo Governo decidiu que era altura para dar um novo empurrão ao desenvolvimento da nossa economia e criou-se uma nova agência virada para essa área. Tínhamos até então a Cabo Verde Invest. Foi extinta e criou-se a Cabo Verde Trade Invest, que é uma experiência muito nova. O Governo tomou posse em abril do ano passado. Essa agência esteve nos primeiros meses muito virada sobre si mesma, a criar a estrutura necessária, e lançou-se na semana passada com um grande evento de apresentação pública.

Há um novo site, e ao mesmo tempo uma logomarca, e a muito curto prazo essa agência irá apresentar nova legislação para tornar ainda mais atraente investir em Cabo Verde.

- E quais são os aspetos dessa revisão de legislação que tornarão Cabo Verde mais atrativa para o investimento externo?

T.R. – Vamos ter de esperar por aquilo que se vai apresentar. Vai acontecer a muito curto prazo.

- Não há nada em concreto que possa adiantar?

T.R. – Não.

- Seja em infraestruturas, seja em fomento da capacidade produtiva, neste momento Cabo Verde tem algum projeto para o qual seja particularmente importante atrair capitais chineses?

T.R. – Nos próximos meses teremos já informações mais precisas.

Vamos acolher no mês de Junho o próximo encontro de empresários da China e dos países de língua portuguesa [ver caixa]. Será o momento para ter todos sentados à mesma mesa – e, daí sim, sairão algumas decisões mais concretas.

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- Além do projeto do empresário David Chow, que foi apresentado ao Fundo para a Cooperação, há mais algum projeto de Cabo Verde neste momento sob avaliação?

T.R. – Não. Neste momento, não.

- Quais serão os sectores prioritários para a captação de investimento externo?

T.R. – Os sectores em que Cabo Verde aposta fortemente continuam a ser as energias renováveis; todo o sector da economia marítima é vital para nós; e o turismo continuará a ser um dos maiores interesses; e os serviços, no geral.

- É importante que o investidor estrangeiro se envolva em consórcios com as empresas de Cabo Verde em projetos nesses sectores, ou isso não é determinante?

T.R. – Não é obrigatório. É bem-vindo, mas não necessariamente decisivo.

- Quando fala da economia marítima, presumo que aí há necessidade de investimento em infraestruturas. Pode falar- me das necessidades efetivas?

T.R. – Uma das nossas ilhas, São Vicente, é a mais vocacionada para a economia do mar. Nessa ilha, há neste momento uma necessidade de termos uma zona económica especial. Nos próximos dias, vai-se começar a fazer os estudos para identificar as necessidades específicas para começar a trabalhar nisso em cooperação com a China.

- Será uma zona económica especial segundo o modelo que a China tem vindo a adoptar com os seus parceiros?

T.R. – Será um modelo adaptado às nossas necessidades e à nossa dimensão. Daí a necessidade de as nossas duas equipas – a nacional e a dos técnicos chineses – trabalharem em conjunto. Vai acontecer muito brevemente.

- Será um parque para logística e sectores particulares?

T.R. – Será um parque que irá contemplar as várias áreas, desde a manutenção à prestação de serviços às frotas, passando pela conservação e transformação dos produtos [marítimos]. Terá as várias componentes.

- Há compromissos relativos a eventuais valores de investimento?

T.R. – Ainda não. A equipa [chinesa] vai deslocar-se a Cabo Verde e fazer o seu estudo. Terá depois que regressar para apresentar à parte chinesa os relatórios. Por fases, vai-se avançando.

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- A gestão dessa zona ficará a cargo de alguma agência de Cabo Verde?

T.R. – Ainda não foi tomada essa decisão, mas Cabo Verde estará sempre presente e a assumir a maior responsabilidade pela gestão.

- Esse tipo de estrutura ajudará a parte comercial do relacionamento entre China e Cabo Verde? O balanço do último ano foi particularmente mau para todos os países.

T.R. – É verdade. Cabo Verde, tendencialmente, é um país de importação e não de exportação. Daí dedicarmos esta importância à capacitação produtiva, o que vai ajudar-nos a equilibrar melhor a nossa balança, com toda a dinâmica em torno do mar na ilha de São Vicente, a criação de empregos, as fábricas que vão produzir também para exportar – e um dos importadores será a China, que tem um mercado enorme. Quando digo China, penso também em Macau. Visitámos o centro de exposição dos produtos de língua portuguesa, que é mais um dos mecanismos que poderá ajudar-nos a conseguir entrar mais facilmente no mercado da China. A distância não nos ajuda muito e em Cabo Verde temos sempre a especificidade de sermos um país pequeno em dimensão e em termos de capacidade de produção – para um mercado como o da China, há toda uma ginástica a fazer. Mas o centro poderá ser um dos mecanismos que nos poderá apoiar.

- Cabo Verde não terá uma grande capacidade comercial para lidar com este mercado, mas tem algo que talvez muito poucos países têm – uma posição geoestratégica no Atlântico, que pode ser muito relevante para a China.

T.R. – Essa é uma vantagem que temos. Apesar da nossa reduzida dimensão, temos essa facilidade de entrar em vários outros mercados. Somos a porta de acesso ao vastíssimo mercado da CEDAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], e ao mesmo tempo temos uma parceria especial com a União Europeia. Temos também o AGOA [African Growth and Opportunity Act] com os Estados Unidos, embora aí possa haver alterações com a nova presidência do país. Não se sabe ainda, mas poderá haver novas orientações.

- Do ponto de vista da cooperação cultural com a China, houve algum investimento em infraestruturas e há hoje também um Instituto Confúcio em Cabo Verde. Que balanço é feito?

T.R. – Na parte de infraestruturas, contamos há vários anos com a cooperação chinesa. O Instituto Confúcio começou a funcionar na Universidade de Cabo Verde, inicialmente na ilha de Santiago, no mês de Dezembro de 2015. A procura é muito maior do que a oferta que existe. Penso que terá um papel muito importante no

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‘people-to-people exchange’, que passa necessariamente pelo domínio da língua. A procura por parte de pessoas de Cabo Verde para terem acesso ao ensino do mandarim é muito grande. Neste momento, o instituto não consegue satisfazê-la. Por outro lado, na China temos atualmente cerca de 300 estudantes de Cabo Verde – a maior parte são bolseiros do Governo e, aqui na RAEM, bolseiros da RAEM e da Fundação Macau. Temos também em Jinan e Sanya bolseiros dos municípios, resultado das geminações que estão a funcionar. A maior parte dos estudantes está a estudar em mandarim, além da formação que está a ter. Serão quadros que dominam mais uma língua, o que vai facilitar o diálogo com as duas partes.

Maria Caetano

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Mestre em Direito das Relações Sociais pela PUC/SP; sócio da Pellon Advogados Associados; Conselheiro da Associação Internacional de Direito de Seguro – AIDA; Professor