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Conceitualizando as (Forças de) Operações Especiais

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Conceitualizando as

(Forças de) Operações Especiais

Bernardo Wahl Gonçalves de Araújo Jorge Mestrando em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Pró-Defesa) (Unesp, Unicamp e PUC-SP) [Bolsa de Estudos CAPES]

bernardowahl@gmail.com 30 de Junho de 2008

Resumo: Considerando o contexto da pesquisa e dissertação que estão sendo desenvolvidas no âmbito do mestrado acadêmico que atualmente cursamos, nossa intenção com este ensaio que apresentamos no segundo encontro nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa é rever e debater parte da literatura que se esforça na construção da definição conceitual das chamadas Operações Especiais e das Forças de Operações Especiais. O texto está dividido nas seguintes partes/seções: 1. Apresentação, 2. Breve Precedência Histórica, 3. Definições de “Curto Alcance” (3.1 Dos

“Irregulares” aos “Regulares”, 3.2 As operações Especiais “Unidimensionais”

[3.2.1 M. R. D. Foot, 3.2.2 William McRaven, 3.2.3 Departamento de Defesa dos EUA]), 4. Definições de “Longo Alcance” (4.1 Dos Termos Estritamente Militares a um Entendimento mais Amplo: As Operações Especiais

“Multidimensionais”), 5. Considerações Finais e 6. Bibliografia.

1. Apresentação

Este ensaio deve ser visto dentro de um contexto mais amplo, isto é, da pesquisa que estamos desenvolvendo no âmbito da área de concentração em estudos de paz, defesa e segurança internacional (“Pró-Defesa”) do programa de pós-graduação em Relações Internacionais da Unesp, Unicamp e PUC-SP (“San Tiago Dantas”). Nossa investigação no mestrado acadêmico terá como resultado final um texto sob a forma de uma dissertação, que versará basicamente sobre As Forças de Operações Especiais dos Estados Unidos e a

“Guerra ao Terror” (lançada por Washington após os atentados “terroristas”

de onze de setembro de 2001). Nosso objeto de pesquisa, assim, constitui-se

essencialmente das Forças de Operações Especiais, sendo importante, para

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um melhor entendimento conceitual das mesmas, verificar como as (Forças de) Operações Especiais são definidas, sendo este o intento deste artigo.

No primeiro encontro nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED), realizado de 19 a 21 de setembro de 2007 nas dependências da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), apresentamos um texto intitulado O Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos da América, onde brevemente (por não se tratar do objeto central) passamos pela definição das Operações Especiais, que, para nós, naquela época, resumiam-se às ações de Comandos (assaltos, por exemplo) e às atividades clandestinas (como a guerra irregular).

Porém, com este texto de agora, queremos ir mais a fundo: em busca de uma definição mais completa. Percebemos que há diversos tipos de definições sobre as Forças de Operações Especiais, daquelas que definem as Operações Especiais essencialmente em termos militares (as Operações Especiais como pertencentes unicamente ao domínio das operações militares), às mais amplas (geralmente oriundas da academia), passando por definições de caráter mais doutrinário (a do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, por exemplo) que aparentemente estão a serviço de interesses maiores.

Assim, fazendo-se uma revisão das tentativas de construção do conceito de Operações Especiais, verifica-se que as Operações Especiais se projetam para além do “guarda-chuva” dos Estudos Estratégicos, sendo necessárias outras áreas do conhecimento, como as Relações Internacionais, por exemplo, para melhor se conceitualizar o tema que estamos a tratar aqui.

Dessa forma, percebemos como apropriada a inserção da apresentação deste trabalho no painél de número quatro, intitulado “Estudo de Defesa como empreendimento Inter ou Multidisciplinar”, da primeira Sessão Temática (“Quais Teorias para os Estudos de Defesa?”) do segundo encontro nacional da ABED, que terá como tema “A Defesa Nacional” e cuja realização se dará entre os dias quinze e dezoito de julho de 2008 nas dependências da Universidade Federal Fluminense (UFF). Acreditamos ser necessário um recorte do tipo multidisciplinar para uma melhor compreensão das Operações Especiais.

2. Breve Precedência Histórica

As Operações Especiais estão entre os mais antigos e importantes

princípios da guerra, onde o essencial é a “surpresa”. As Operações Especiais

são tão antigas quanto a própria guerra, senão mais remotas ainda, sendo que

a origem de ambas é igualmente obscura (FOOT, 1970, pp. 19 e 21). O caso

clássico de uma Operação Especial é o Cavalo de Tróia, um “presente” dos

gregos aos troianos que levou estes a acreditarem na rendição daqueles.

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Entretanto, na calada da noite, soldados escondidos na barriga do cavalo sairam e abriram os portões de Tróia, permitindo a entrada do Exército grego.

Ademais, é possível encontrar referências sobre as Operações Especiais até mesmo em Sun Tzu, cujo capítulo XIII de A Arte da Guerra discorre sobre “O Uso de Espião”.

De acordo com Sun Tzu, existem cinco casos no emprego de espiões: o espião nativo (quando se usa um nativo alheio), o interno (oficial alheio), o convertido (agente-duplo), o morto (encarregado da difusão de notícias falsas) e o espião vivo (que volta para relatar). Com os cinco tipos de espiões agindo em conjunto, evita-se que se revele o “caminho” ao inimigo (quer dizer, trata-se de uma forma de despistar, isto é, dificultar que o inimigo descubra o meio utilizado para a obtenção da informação ou, usando um termo mais recente, o “dado negado”). Essa “teia” é denominada de “divina trama”, e se constitui em um “tesouro” do soberano e do povo. O espião é considerado a “sutileza das sutilezas” (não podemos esquecer que uma das características das Operações Especiais é a sutileza). O soberano “iluminado”

e o general “sagaz” são capazes de usar pessoas de “inteligência superior”

como espiões e, dessa forma, vão concretizar impreterivelmente grandes façanhas. Tal recurso, para Tzu, é essencial (TZU, 2006, pp. 112-113).

Outro exemplo de Operação Especial são as proezas do inglês Lawrence da Arábia durante a primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando trabalhou no serviço de informações do Exército britânico, mais especificamente em um quartel-general instalado no Egito, dado que Lawrence era habilitado no idioma árabe. Já com a patente de Coronel, T. E. Lawrence, que depois registrou seu conhecimento sobre táticas de guerrilha, focando no valor ofensivo das mesmas (utilizadas para enfraquecer as linhas de suprimento turcas) no livro Os Sete Pilares da Sabedoria (1926)

1

, mobilizou de forma ampla o sentimento nacionalista árabe contra a Turquia, alcançando uma vasta publicidade. Com a ajuda do General Allenby e de meio milhão de moedas de ouro, Lawrence exerceu uma influência desproporcional no flanco esquerdo turco. No final, com uma força de apenas 600 camelos montados por árabes, Lawrence imobilizou 12.000 turcos nas arredores de Damasco (FOOT, 1970, p. 27).

Os russos são um exemplo de mente aberta para fazer coisas originais na política e na guerra (a originalidade é essencial para as Operações Especiais). Foram eles que reviveram o antigo esporte grego e chinês do pára- quedismo. No ano de 1930, em manobras do exército russo, um pequeno corpo de pára-quedistas pousou bem atrás de uma ostensiva linha de batalha

1

É curioso notar que comandantes dos EUA na recente Guerra do Iraque se orientaram com os relatos de T. E. Lawrence sobre a guerra na Mesopotâmia no início do século XX.

Ver, por exemplo, Tony ALLEN-MILLS. EUA imitam táticas de Lawrence da Arábia. O

Estado de S. Paulo, 08 jun. 2005, p. A18. Publicado originalmente no The Sunday Times.

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(na qual os manobristas deveriam tomar posição) e acabou por capturar um quartel-general. Dessa forma, o pára-quedismo, desde 1939, tornou-se uma forma perfeitamente reconhecida e estabelecida de guerra (FOOT, 1970, p.

38);

Joe Holland, um engenheiro militar regular da Grã-Bretanha, ficou chocado com o método irlandês de “guerra revolucionária subversiva”, e estava determinado, caso tivesse uma chance, a testar o modelo. Por acidente, a ele foi oferecida, em 1938, uma posição no Escritório de Guerra, onde o mesmo poderia pesquisar qualquer assunto de seu interesse. Ele disse algo como: “Explêndido! Vou fazer pesquisa sobre guerra subversiva”. E foi o que fez. Fundou o “corpo clandestino” Military Intelligence Research (MIR) e inventou os Comandos [grifo nosso], a indústria das “fraudes”, os serviços de evasão e a maior parte do Special Operations Executive (SOE). Desenvolveu grande parte das operações subversivas que podem ser levadas a cabo contra o Estado industrial moderno (FOOT, 1970, pp. 40-41).

Na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a tática de guerrilha se difundiu ao ponto de se tornar um recurso universal. O desenvolvimento da

“guerrilha” e da “guerra subversiva” se intensificou com a “glorificação” às armas nucleares. Para a contenção da “ameaça” comunista, os ocidentais ficaram mais dependentes das armas convencionais. O presidente norte- americano John F. Kennedy (1961-63) orientou seu Secretário de Defesa, Robert S. McNamara, a expandir rapidamente e substancialmente, em cooperação com os países aliados, a orientação das forças existentes para a conduta de “guerra não-nuclear”, “operações pára-militares” e “guerras sub- limitadas” ou “não-convencionais” (LIDDELL HART, 1991, p. 364).

3. Definições de “Curto Alcance”

O título desta seção não significa definições mais fracas ou “ruíns”, mas sim definições mais “antigas”, a partir das quais percebemos o início de um esforço visando à construção do conceito de Operações Especiais. Tais definições de “curto alcance” são importantes, mas não tratam de todas as dimensões que as Operações Especiais podem envolver, e assim escolheu-se a utilização da expressão “curto alcance”, bem como as aspas que a envolvem.

Aliás, já é tempo de fazermos a pergunta: o que são, afinal, as Operações Especiais?

3.1 Dos “Irregulares” aos “Regulares”

De certa forma, as operações Especiais são a incorporação, nas Forças

Armadas regulares, de táticas utilizadas pelos irregulares. O Capitão britânico

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Basil Henry Liddell Hart, antigo conselheiro do gabinete inglês, cunhou a máxima “se você quer a paz, entenda a guerra” para substituir a antiga passagem “se você deseja a paz, prepare-se para a guerra”. Depois, o autor ampliou seu próprio aforismo para “se você deseja a paz, entenda a guerra – particularmente a guerrilha e as formas subversivas de guerra” (LIDDELL HART, 1991, p. 361). A guerrilha, apesar de ser um fenômeno antigo e de ter sido brevemente tratada pelo general prussiano Carl von Clausewitz (Armamento do Povo – uma medida defensiva contra o invasor, livro VI de Da Guerra), só entrou na agenda da teoria militar ocidental a partir do século XX.

No passado, a “guerra de guerrilha” foi a arma do lado mais fraco e, assim, primariamente defensiva. Entretanto, na era atômica, a “guerra de guerrilha” pode ser desenvolvida amplamente como uma forma de agressão, sendo conveniente para explorar a “paralisação nuclear”. Assim, para Liddell Hart, o conceito de “Guerra Fria” estaria desatualizado, e deveria ser substituido por “Guerra Camuflada” (LIDDELL HART, 1991, p. 367).

A violência é muito mais profunda na “guerra irregular” do que na regular. Nesta, a violência é contrabalançada pela obediência à autoridade constituida, enquanto que, naquela, a desobediência à autoridade e a violação de regras são virtudes. Fica muito difícil reconstruir um país, e um Estado estável, em uma fundação derrubada pela experiência de “guerra irregular”.

Um entendimento dos perigos posteriores a uma guerra de guerrilha fez com que Liddell Hart refletisse sobre as campanhas de T. E. Lawrence na Arábia.

O livro de Hart sobre tais campanhas, onde ele faz uma exposição sobre a teoria de guerrilha, foi tomado como guia por inúmeros líderes de unidades de Comandos [grifo nosso] e movimentos de resistência. O problema não é a eficácia imediata, mas os imbróglios de longo-prazo (LIDDELL HART, 1991, p. 369).

3.2 As Operações Especiais “Unidimensionais”

Nesta sub-seção, trabalharemos com definições de Operações Especiais que entendemos como “unidimensionais”, quer dizer, que entendem as Operações Especiais apenas na dimensão militar e em termos militares.

3.2.1 M. R. D Foot

Assim, conforme o historiador britânico Michael Richard Daniell Foot,

mais conhecido como M. R. D. Foot, que serviu na Artilharia e no Special

Operations Executive (SOE) britânicos na Segunda Guerra Mundial (1939-

1945), as Operações Especiais são golpes súbitos heterodoxos, isto é, golpes

de violência inesperados, geralmente pensados, concebidos e executados fora

do estamento militar corrente, exercendo um efeito surpreendente sobre o

inimigo, de preferência em seu mais alto nível. O tipo ideal de operação

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especial é aquele que deixa fora de atividade todo o Estado-Maior do inimigo em um único e inesperado “sopro” (FOOT, 1970, p. 19).

Para o estabelecimento de uma Força de Operações Especiais, de acordo com Foot, o primeiro item essencial é a sorte. O segundo são informações precisas de inteligência sobre o que o inimigo é capaz de fazer. O terceiro item, quase sempre indispensável, é ter uma grande potência para apoiar as Forças de Operações Especiais (Mao Tsé-Tung, entretanto, fez sem nenhum apoio). Outro item é a cooperação da população, mesmo que decorrente do terror, ou preferencialmente da simpatia. Além disso, são necessárias as virtudes militares ordinárias: coragem, tenacidade, flexibilidade e velocidade.

Sem elas, não é possível vencer uma batalha militar convencional; sem elas, não é possível vencer uma operação especial. Foot lembra que, em Estados antigos e já constituidos, os estamentos militares e os chefes dos Estados- Maiores suspeitam dos corpos que executam as Operações Especiais. Porém, critica Foot, “o que tais conservadores nos tem a oferecer em lugar das operações especiais? O holocausto nuclear, que de qualquer maneira não oferece nenhum panorama para a humanidade” (FOOT, 1970, pp. 45-47).

Foot escrevia na época da Guerra Fria e se mostra um grande defensor das Operações Especiais, mais eficientes e precisas do que muitos aviões bombardeiros e, portanto, constituindo uma certa “vanguarda” da economia de força, elemento essencial em um mundo de recursos escassos.

3.2.2 William McRaven

Até agora, já temos o conceito proposto por Foot. O Contra-Almirante William McRaven, da Marinha dos Estados Unidos, mais especificamente membro da Força de Operações Especiais Seals (sigla para Air, Sea and Land), vai além e desenvolve, a partir de oito estudos de caso, uma teoria das Operações Especiais. Ainda que McRaven utilize como base uma definição de Operações Especiais que se parece mais com missões de ações diretas (essencialmente ações de Comandos), ou seja, “uma operação especial é conduzida por forças especialmente treinadas, equipadas e apoiadas para um alvo específico, cuja destruição, eliminação ou resgate (no caso de reféns) é um imperativo político ou militar” (MCRAVEN, 1996, p. 2)

2

, tem o mérito do desenvolvimento de uma teoria.

E por que uma teoria das Operações Especiais é importante? Pois uma Operação Especial bem-sucedida desafia o “conhecimento convencional”

usando uma pequena força para derrotar um oponente muito maior ou mais bem “entrincheirado”. O livro de William McRaven (que se originou a partir

2

E é por essa linha que segue o estudo de Edward LUTTWAK (et all). A Systematic Review of “Commando” (Special) Operations 1939-1980. Potomac, MD: C&L Associates, 1982.

Não trabalharemos com tal obra neste ensaio pois infelizmente ainda não tivemos acesso

ao livro.

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da tese de doutorado de McRaven, sobre a Teoria das Operações Especiais), de acordo com o autor, desenvolve uma teoria das Operações Especiais para explicar porque tal fenômeno acontece. O autor demonstrará que, com o uso de certos princípios da guerra, uma Força de Operações Especiais pode reduzir para um nível controlável o que Clausewitz chama de “fricções da guerra”. Minimizando tais “fricções”, a força de operações especiais pode alcançar uma relativa superioridade sobre o inimigo. Uma vez que tal superioridade relativa é alcançada, a força de ataque não está mais em desvantagem e tem a iniciativa de explorar as fraquezas do inimigo e garantir a vitória. Embora a obtenção da superioridade relativa não garanta o sucesso, é necessária para o mesmo (MCRAVEN, 1996, p. 1).

De acordo com McRaven, todas as Operações Especiais (na verdade, ações diretas de Comandos), são conduzidas contra posições fortificadas.

Estas refletem situações envolvendo “guerra defensiva” por parte do inimigo.

Conforme Carl von Clausewitz, lembrado por McRaven, a forma defensiva de guerra é intrinsecamente mais forte do que a ofensiva. Trata-se de um poder de resistência, a habilidade de se preservar e de se proteger. Dessa forma, a defesa geralmente tem um propósito “negativo”, de resistir à vontade do inimigo. Se uma operação ofensiva será montada para impor nossa vontade ao inimigo, é necessário desenvolver força o suficiente para exceder a superioridade inerente das defesas inimigas. Para Clausewitz, a melhor forma de derrotar a “forma superior de guerra”, isto é, a guerra defensiva, é ter um contingente maior de soldados. Entretanto, como uma Força de Operações Especiais, que tem um número reduzido de pessoas e se utiliza da forma

“mais fraca de guerra”, isto é, a ofensiva, pode alcançar a superioridade em relação ao inimigo? Para McRaven, entender tal “paradoxo” é compreender as Operações Especiais (MCRAVEN, 1996, pp. 03-04).

A superioridade relativa é um conceito crucial para a teoria das Operações Especiais. Basicamente, a superioridade relativa é uma condição que se instala quando uma força de ataque, geralmente em menor número do que a defesa, obtém uma vantagem decisiva sobre um inimigo mais bem posicionado na defensiva. O valor do conceito de superioridade relativa se baseia em sua habilidade de ilustrar quais forças positivas influenciam o sucesso de uma missão e em mostrar como as fricções da guerra influenciam a realização do objetivo. A superioridade relativa tem três princípios básicos:

1) A superioridade relativa é obtida no momento pivô de um engajamento; 2) Uma vez alcançada, a superioridade relativa precisa ser mantida, de modo a garantir a virória; 3) Se a superioridade relativa é perdida, é difícil reconquistá-la (MCRAVEN, 1996, pp. 04-06);

Embora na guerra existam fatores difíceis de se controlar, a teoria das

Operações Especiais mostra que existem seis princípios que podem ser

controlados e que têm um efeito na superioridade relativa. São eles:

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simplicidade, segurança, repetição, surpresa, velocidade e propósito (MCRAVEN, 1996, p. 08);

McRaven chega aos seis princípios a partir da análise de oito casos históricos: 1) O ataque alemão a Eben Emael (um forte belga) em dez de maio de 1940; 2) O ataque de um torpedo tripulado (uma arma típica da 2a. GM:

um torpedo propelido eletricamente e conduzido por “homens-sapos”; era usado para atacar navios em portos inimigos) italiano em Alexandria, em 19 de dezembro de 1941; 3) Operação Carruagem: O ataque britânico em Saint- Nazaire, em 27-28 de março de 1942; 4) Operação “Oak”: O resgate de Benito Mussolini, em 12 de setembro de 1943; 5) Operação “Source”: Ataque de um submarino do tipo Midget ao Tirpitz, em 22 de setembro de 1943; 6) O ataque dos Rangers norte-americanos a Cabanatuan, em 30 de janeiro de 1945; 7) Operação “Kingpin”: O ataque do exército norte-americano a Son Tay (tentativa de resgate de reféns no Vietnã do Norte; falhou no nível tático mas teve um efeito estratégico importante), em 21 de novembro de 1970 e; 8) Operação Jonathan: O ataque israelense a Entebbe, em quatro de julho de 1976.

3.2.3 Departamento de Defesa dos EUA

Por fim, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos entende as Operações Especiais da seguinte forma:

Operações conduzidas em ambientes hostis, negados ou politicamente sensíveis, visando alcançar objetivos militares, diplomáticos, informacionais e/ou econômicos, empregando capacidades militares que não as convencionais. Tais operações freqüentemente demandam ações encobertas, clandestinas e de baixa visibilidade. As operações especiais são aplicáveis através da vasta gama de operações militares.

Podem ser conduzidas independentemente ou em conjunção com operações de forças convencionais ou de outras agências do governo, e podem incluir operações através, com ou por forças nativas ou mercenárias. As operações especiais diferem das operações convencionais no grau de risco físico e político, técnicas operacionais, modo de emprego, independência de apoio amigo e dependência de inteligência operacional detalhada e conhecimentos de populações locais

3

.

Apesar de ampliar o leque de possibilidades, a definição do Pentágono ainda continua na dimensão unicamente militar da questão. A seguir, na próxima seção, daremos um passo adiante no resgate das tentativas de

3

DEPARTMENT OF DEFENSE. Dictionary of Military and Associated Terms. 12 April 2001 (As Amended Through 22 March 2007). Disponível em: <http://www.dtic.mil/

doctrine/jel/doddict/>. Acesso 30 jun. 2008.

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construção de um conceito das Operações Especiais, agora com definições mais abrangentes.

4. Definições de “Longo Alcance”

Segundo Maurice Tugwell e David Charters (1984, p. 30), muitos analistas ocidentais se confrontam com uma paralisia na tentativa de determinar os limites e a extensão das Operações Especiais. Tais estudiosos trabalham dentro de um quadro de filosofia ocidental que tendeu a separar claramente a paz da guerra, e também os assuntos políticos dos militares.

Conforme tais autores, existe uma tendência a definir as Operações Especiais apenas em termos militares (como demonstramos acima na seção Definições de “Curto Alcance”).

4.1 Dos Termos Estritamente Militares a um Entendimento mais Amplo: As Operações Especiais “Multidimensionais”

Colocaremos aqui a talvez mais concisa, inclusiva e útil definição de Operações Especiais, elaborada por Maurice Tugwell e David Charters.

Apesar de ter sido escrita em 1984, continua bastante atual. Para os autores, as operações especiais são (1984, p. 35):

Operações de pequena escala, clandestinas, encobertas ou públicas, de uma natureza heterodoxa e freqüentemente de alto-risco, levadas a cabo para alcançar significativos objetivos políticos ou militares em apoio à política externa. As Operações Especiais são caracterizadas tanto por simplicidade quanto por complexidade, por sutileza e imaginação, pelo uso discriminado de violência, e por supervisão do mais alto nível. Recursos militares ou não-militares, incluindo avaliações de inteligência, podem ser usados no concerto

4

.

Essa definição é a adotada pelo professor de Estudos Estratégicos e Política Internacional e reconhecido neo-clausewitziano Colin S. Gray. Para Gray, a literatura sobre as (Forças de) Operações Especiais é profundamente insatisfatória. A maioria dos trabalhos que tratam do assunto não demonstram interesse na relevância estratégica das Operações Especiais (assunto que será tratado com profundidade por Gray). Em vez disso, tais trabalhos geralmente oferecem, basicamente, narrativas sobre aventuras ou histórias dos regimentos. Mesmo os autores que se focam de alguma maneira em questões que tenham alguma conseqüência estratégica, geralmente miram unicamente as Forças de Operações Especiais de seus respectivos países

4

A tradução é deste que escreve.

(10)

apenas (GRAY, 1999, p. 286), sendo que as Operações Especiais não necessariamente se esgotam dentro das fronteiras das nações: são técnicas universais e atemporais

5

.

No capítulo dez de Modern Strategy, intitulado Small Wars and Other Savage Violence, Colin Gray desenvolve a tese de que, apesar da proeminência política da “guerra de guerrilha”, e ainda que ela tenha estado na “moda’ por um tempo, provavelmente a impressão mais duradoura a ser deixada nas areias da história por este comportamento violento seja a criação de Forças de Operações Especiais permanentes e institucionalizadas (GRAY, 1999, p. 273).

De acordo com Gray, as Forças de Operações Especiais operam como

“guerrilhas com uniformes”. Pelo fato de que elas devem confundir o inimigo superior em massa e poder de fogo militar, os guerreiros das Forças de Operações Especiais modernas devem funcionar como guerrilhas. Ao contrário dos praticantes de “guerra revolucionária” ou “popular”, as Forças de Operações Especiais não “nadarão” como “peixes” em um “mar de pessoas”. Em vez disso, agirão em pequenas unidades, de maneira clandestina, encoberta ou aberta para efetuar missões heterodoxas de modos não-convencionais. As unidades também vão operar em condições excepcionalmente de alto-risco na busca de objetivos políticos ou militares significativos. As Forças de Operações Especiais são um exemplo do princípio militar clássico de economia de força (GRAY, 1999, p. 287).

5. Considerações Finais

Ao contrário do que pode parecer em um primeiro momento, há uma vasta literatura sobre as Forças de Operações Especiais e as Operações

5

De acordo com Gray, proeminentes entre os melhores estudos estão M. R. D. FOOT.

Special Operations /1 e Special Operations /2. In: Michael ELLIOTT-BATEMAN (ed.). The Fourth Dimension of Warfare. New York: Praeger Publishers, 1970, v. 1 (Intelligence, Subversion, Resistance), pp. 19-34 e 35-51. Frank R. BARNETT; B. Hugh TOVAR; Richard H. SCHULTZ (eds.). Special Operations in US Strategy. Washington, DC: National Defense University Press, 1984. Rod PASCHALL. LIC 2010: Special Operations and Unconventional Warfare in the Next Century. Washington, DC: Brassey’s Inc, 1990. Lucien S. VANDENBROUCKE. Perilous Options: Special Operations as an Instrument of U.S.

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MARQUIS. Unconventional Warfare: Rebuilding U.S. Special Operations Forces.

Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 1997. Thomas K. ADAMS. US Special

Operations Forces in Action: The Challenge of Unconventional Warfare. London: Frank

Cass Publishers, 1998.

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Especiais. Com este ensaio nós não pretendemos esgotar o tema, que é bastante amplo, como se pode notar nas seções acima.

Se, inicialmente, as Operações Especiais eram definidas como ações militares apenas, com a evolução da construção de seu conceito passou a haver uma definição mais ampla e de “longo alcance”, que envolve também recursos não-militares. Tal definição permite um entendimento aprofundado do tema, de modo a auxiliar os interessados a não se tornarem “reféns” de eventuais interesses mais particulares.

6. Bibliografia

FOOT, M. R. D. Special Operations/I e Special Operations/II. In: ELLOTT- BATEMAN, Michael (ed.). The Fourth Dimension of Warfare. Volume I:

Intelligence, Subversion, Resistance. New York: Praeger Publishers, 1970, pp.

19-34 e pp. 35-51.

GRAY, Colin S. Modern Strategy. Oxford: Oxford University Press, 1999.

LIDDELL HART, Basil Henry. Guerrilla War. Strategy. New York: Meridian, 1991, pp. 361-370.

MCRAVEN, William H. Spec ops: case studies in special operations warfare theory & practice. Novato, California: Presidio Press, 1996.

TUGWELL, Maurice; CHARTERS, David. Special Operations and the Threats to United States in the 1980s. In: BARNETT, Frank R.; TOVAR, B. Hugh;

SHULTZ, Richard H. Special Operations in US Strategy. Washington:

National Defense University Press, 1984, pp. 27-43.

TZU, Sun. A Arte da Guerra. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2006.

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