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Artigos e Reportagens O Diesel silenciou-se. No Barreiro há 10 anos.

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Artigos e Reportagens

O Diesel silenciou-se. No Barreiro há 10 anos.

Passaram dez anos e tudo se transformou. A estação mudou de sítio, a passagem de nível foi suprimida, há corrente elétrica em todas as linhas ferroviárias da península de Setúbal e até já chegou a Casa Branca, Évora, Ourique ou Faro. A passo trabalha-se na eletrificação de Tunes a Lagos e de Faro a Vila Real de Santo António, ficando esquecido o troço de Casa Branca a Beja, troço original da ligação Barreiro-Algarve.

Barreiro! Manhã de 5 de junho de 2004. Slipknot, Metallica, Incubus, Sepultura e Moonspell marcaram a noite anterior em Lisboa, em mais um dia da primeira edição do Rock in Rio fora do Brasil. Notava-se a presença de alguns destes fãs que regressavam do Rock in Rio até às suas localidades, num dia que para outros era o primeiro de férias ou então mais um de tantos sábados em que começa uma viagem de fim-de-semana até à família. Um verdadeiro canto do cisne, no dia que representava um importante marco histórico na cidade do Barreiro a coincidir com um dia de intensa procura para o Alentejo e para o Algarve. O primeiro da época estival 2004, um ano que poucos se esquecerão.

O presente artigo poderia ser muito mais do que aquilo que é. Poderia ser um espaço onde se compara o Barreiro de há 10 anos com o Barreiro de hoje, onde se compara o serviço

ferroviário do Alentejo e do Algarve de há dez anos com o de hoje, onde se compara a acessibilidade ao sul do país por transporte público de há dez anos com a de hoje, onde se comparam as expetativas de há dez anos com a visão de hoje. Poderia ser muito mais do que aquilo que é, tal como poderia ser mais um entre muitos artigos que relembram o 10º

aniversário do fim da tração Diesel para o Algarve e o início do serviço regular de passageiros diretamente de Lisboa para o Alentejo e Algarve via ponte 25 de abril. O Terminal Intermodal relembra este dia.

Barreiro! 5 de junho de 2004, o dia em que o Diesel para o Alentejo e para o Algarve se calou de vez nesta estação. Neste dia a estação do Barreiro, caraterizada pelo seu ambiente

bastante especial e apelidada por muitos como "A Catedral do Diesel", viu toda a sua magia desaparecer à medida que partiam e chegavam os últimos comboios de longo curso. O dia que mudou a história do Barreiro começou com a saída da última Nohab com destino à Funcheira, talvez a mais imponente estação Alentejana, ponto de encontro da linha tradicional

Barreiro-Algarve com o atalho do Sado. A tradicional azáfama começara a instalar-se com a chegada dos passageiros para o último IC 591. Coube à magnífica 1939 levar este comboio rumo a Beja, cujo maquinista imprimiu longas, fortes e comovidas buzinadelas à saída do Barreiro.

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A 1422, a locomotiva de manobras nesse dia, estava já pronta para levar as carruagens do último Interregional nº 871 para a estação. Assim que as carruagens chegaram à gare, foram tomadas de assalto pelos numerosos passageiros que o aguardavam. Para o tracionar, ficara encarregue a locomotiva 1935 - "Cidade do Barreiro". Muito curiosamente, a mesma máquina que rebocaria o último comboio – de sempre - a chegar à estaçao do Barreiro, o Interregional nº 872. O Interregional 871 saiu pelas 08.57, soltando buzinadelas ao atravessar a zona do depósito do Barreiro. Um comboio reforçado mas que ainda assim não conseguiu absorver toda a procura que se gerou: se já partira do Barreiro com poucos lugares vagos, as paragens no Pinhal Novo e em Setúbal agravaram o problema e muitos passageiros não tiveram outra oportunidade senão viajar em pé. Aos sábados, a CP optava pela realização de um

Intercidades especial entre Barreiro e Faro com saída pouco antes deste Interregional. Como se esperava que muitos adiassem a sua ida para o Algarve para os dias seguintes, com viagens diretas de Lisboa, o Intercidades especial não se efetuou.

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Logo após a saída do Interregional nº 871, chega à estação do Barreiro o Regional 3800, da Funcheira ao Barreiro pelo Sado. A 1434 como titular. Ao longo do dia vários foram os

entusiastas que se deslocaram ao Barreiro para assistirem aos últimos comboios provenientes e com destino ao Alentejo e ao Algarve. Conforme se comentou, a despedida mais celebrada fora a do Regional da Funcheira, o Regional 3801, que durante largos anos teve saída do Barreiro pelas 16:40. Na gare à hora da sua partida fez-se uma emotiva e prolongada despedida do último comboio diário da linha do Sul, tanto por ferroviários no ativo como reformados, quer pelo comum Barreirense que não quis faltar ao virar da história da sua cidade. Este comboio, inverso do referido 3800, era simplesmente o “Regional da Funcheira”.

Todos o conheciam assim e hoje, dez anos passados, muitos conseguem recordar-se daquele que foi o reduto de icónicas locomotivas como a 1525 decorada com as cores com que iniciara os seus serviços na década de 1950, bem como da série 1200.

O último comboio Diesel de Vila Real de Santo António ao Barreiro.

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A composição do Interregional 871 chegava a Vila Real de Santo António pela hora do almoço e regressava ao Barreiro ao início da tarde com o comboio Interregional 872, cumprindo assim a função de primeiro comboio do dia para o Algarve e de último comboio do dia para Setúbal e Barreiro. 16:25, Vila Real de Santo António, tarde quente. O chefe sai do seu gabinete e dá o sinal de partida para o maquinista. Uma longa e forte buzinadela ecoa pela cidade, como se a 1935 quisesse dizer "Adeus, até qualquer dia". Rumo a Faro, a bela paisagem do Sotavento relaciona-se pela última vez com esta composição, passando por Tavira, Fuzeta, parando na estação e no apeadeiro e Olhão que receberam o último comboio Diesel de passageiros para o Barreiro. Em Faro, a despedida foi assinalada de uma forma bastante tímida: uma fraca

buzinadela e o IR 872 arrancava. Pelo caminho há a assinalar bastantes surpresas: em São Marcos estava a automotora UTE 2257. O IR 872 cruzou aqui com a UTE, que no dia seguinte asseguraria a primeira composição elétrica que fez a ligação Algarve - Pinhal Novo em serviço comercial. O futuro, lado a lado com o presente, naquele dia, na Linha do Sul. O progresso fez com que no dia seguinte se dissesse: o presente (UTE) com o passado (Interregional com 1930). O mesmo progresso fez com que hoje a UTE fosse passado. Apesar da diminuição dos tempos de viagem que a modernização e eletrificação permitiram, o presente modelo comercial aposta sobretudo na ligação de Lisboa e Pinhal Novo ao Algarve, com uma lei muito restrita de paragens no Alentejo.

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Entrada na via dupla, um pouco mais à frente, em Torre Vã, onde o IR 872 passou pela 1933 com o último IC a tração Diesel para o Algarve e pelo Regional da Funcheira, 3801, ao PK 143.

No último dia do 3801, a locomotiva 1427 foi a titular de um comboio que acumulou um largo atraso. Ao cruzamento com o IR 872, já depois de ter efetuado a sua última paragem comercial em Alvalade do Sado, circulava vazio, sem passageiros, mas cheio...sempre cheio daquela magia que este comboio durante tantos anos proporcionou à história do Sul ferroviário. No momento do cruzamento, a respetiva tripulação a acenar vivamente a todos aqueles que estavam à janela. De repente, o futuro desta linha ferroviária passa na primeira ponte a seguir ao apeadeiro de Alvalade no sentido Tunes - Campolide A. Era o CPA 4009 que iria assegurar a primeira ligação Faro-Lisboa, pela ponte 25 de abril, em modo elétrico. Em Canal Caveira estavam a 2601 e a 2627 rumo ao Sul. Já muito próximo do fim, em Alcácer do Sal, a 1939 surge com o último comboio que saíra do Barreiro rumo ao Algarve, o IR 873. A seguir ao Pinhal Novo, paragem em Barreiro A, uma tímida buzinadela e a 1935 arranca rumo à estação do Barreiro, entrando na linha 3. Por entre longas buzinadelas, a 1935 "Cidade do Barreiro"

despede-se da estação que constantemente a vira partir ou rumo ao Alentejo ou rumo ao Algarve. Na linha 2 encontravam-se duas 1930 com algumas carruagens IC Sorefame,

reabilitadas na EMEF e com destino a Lisboa. Cerca das 22:25, a titular desta marcha e a 1935 trocaram curtas e constantes buzinadelas. Sem dúvida o momento mais comovente de todo o dia.

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O Diesel silenciou-se. No Barreiro há 10 anos.

Nesta última viagem a Diesel, havia um passageiro especial. Um passageiro que não perdeu a oportunidade de viajar no último grande comboio a Diesel do Sul e que também não perdeu a oportunidade de viajar no último comboio a vapor do Sul. Apagara-se o vapor, silenciara-se o motor Diesel. Após este dia, um dos mais importantes na história Barreirense, a atmosfera mágica e contagiante da grandiosa estação do Sul, oferecida até ao mais vulgar passageiro que aqui efetuava o seu ponto de passagem obrigatório de Lisboa para o Alentejo e para o Algarve, desapareceu para sempre. Para sempre desparecido nos últimos silvos da 1930 titular da marcha, para sempre ligado ao Regional da Funcheira, para sempre ligado ao Comboio Correio para o Algarve via Casa Branca, para sempre "A Catedral do Diesel".

E ao longo do dia, as locomotivas 1931, 1934, 1935, 1939, 1942, 1422, 1427, 1434; e as automotoras 0109 e 0113, tiveram o privilégio de ser protagonistas nesta página da história do Barreiro que se virou.

Verdadeiro património este, o do trabalho ferroviário. O material circulante do Sul era conhecido por ser todo aquele que o restante país já não queria. Ainda assim, o brio era mostrado na exímia limpeza interior e exterior que o material circulante que partia do Barreiro rumo ao Sul apresentava sempre. Fosse uma automotora Nohab ou uma carruagem Sorefame, era

garantido que estavam em excelente apresentação. Por isso, a última frase deste artigo é um tributo a todos quantos se esmeraram e esmeram, lutaram e lutam na dignificação do seu trabalho, não só no Barreiro mas em todos os locais onde existe um ferroviário a zelar pela segurança e pelo conforto dos passageiros.

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