Superior Tribunal de Justiça
AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 571.132 - RS (2014/0215590-2)
RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR AGRAVANTE : V O D M
ADVOGADO : AMIR JOSÉ FINOCCHIARO SARTI E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL. DECISÃO MANTIDA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. PENAL. PROCESSO PENAL. CORRUPÇÃO ATIVA. ART. 333, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. OMISSÃO QUANTO À FALTA DE FUNDAMENTO DA TIPIFICAÇÃO NA FORMA QUALIFICADA. NÃO OCORRÊNCIA. DESATENDIMENTO DE DEVER FUNCIONAL DEVIDAMENTE COMPROVADO NOS AUTOS.
FUNDAMENTO NÃO ATACADO. SÚMULA 283/STF. ANÁLISE.
REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
1. Não há como abrigar agravo regimental que não logra desconstituir os fundamentos da decisão atacada.
2. O Tribunal de origem, diante dos elementos de prova, concluiu ter havido o desatendimento do dever funcional de legislar em favor do interesse público, uma vez que a atuação do vereador, ora recorrente, foi pautada por interesses particulares mesquinhos, a saber, recebimento de dinheiro para legislar, inserindo emenda a projeto de lei, em favor de terceiro.
3. A par da falta de impugnação específica do fundamento acima indicado, o que traz a lume a Súmula 283/STF, a inversão do que ficou decidido, como pretendido pelo recorrente, inexoravelmente, demandaria o reexame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência que contraria a Súmula 7/STJ.
4. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador convocado do TJ/SP) e Maria Thereza de Assis Moura votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 04 de agosto de 2015 (data do julgamento).
Ministro Sebastião Reis Júnior Relator
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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 571.132 - RS (2014/0215590-2)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR: Trata-se de agravo regimental interposto por V O D M contra decisão assim resumida (fl.
1.681):
PENAL. PROCESSO PENAL. CORRUPÇÃO ATIVA. ART. 333, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CP. OMISSÃO QUANTO À FALTA DE FUNDAMENTO DA TIPIFICAÇÃO NA FORMA QUALIFICADA. NÃO OCORRÊNCIA. DESATENDIMENTO DE DEVER FUNCIONAL DEVIDAMENTE COMPROVADO NOS AUTOS. FUNDAMENTO NÃO ATACADO. SÚMULA 283/STF. ANÁLISE. REEXAME DE PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ.
Agravo em recurso especial improvido.
Insiste o agravante na alegação de ofensa ao art. 619 do Código de Processo Penal, argumentando que o Tribunal de origem persistiu na omissão censurada, recusando-se a demonstrar onde estaria a "infração do dever funcional" praticada pelo corréu Wilton Araújo, absolutamente necessária para configurar a qualificadora prevista no referido art. 333, parágrafo único, do Código Penal (fl. 1.695).
Reitera a alegada violação do art. 333 do Código Penal, aduzindo haver equívoco na decisão ao admitir que pratica o crime do art. 333, parágrafo único, do Código Penal o agente que promete a entrega de dinheiro a vereador para que
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ofício legal, não se aplica a qualificadora, uma vez que o tipo menciona ato de ofício realizado com infração de dever funcional. Nesse caso, subsiste a forma simples de crime descrita no caput da disposição. [...]
Assevera não ser aplicável a Súmula 7/STJ, porque o recurso especial não pretende discutir questões de prova, mas, sim, que seja verificada a aplicação do dispositivo legal ofendido, a partir de uma correta qualificação jurídica dos fatos reconhecidos.
É o relatório.
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AgRg no AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 571.132 - RS (2014/0215590-2)
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR (RELATOR): O inconformismo não merece abrigo.
A decisão impugnada deve ser mantida pelo que nela se contém, tendo em conta que o recorrente não logrou desconstituir quaisquer de seus fundamentos, motivo pelo qual os trago para serem confirmados (fls. 1682/1684 – grifo nosso):
[...]
De início, afasto a violação do art. 619 do Código de Processo Penal, porquanto é de se notar que o Tribunal a quo se pronunciou a respeito dos pontos acerca dos quais deveria ter-se manifestado, não se podendo atribuir-lhe o defeito de omisso só porque dispôs contrariamente às pretensões do agravante.
Por oportuno, anoto os seguintes trechos (fls. 1.578/1.580):
[...]
A decisão proferida pela Câmara demonstrou claramente a configuração do delito previsto no artigo 333, parágrafo único, do Código Penal, conforme se verifica de parte do acórdão a seguir transcrito:
[...]
Perfeitamente caracterizadas as elementares dos tipos penais infringidos.
Wilton Araújo solicitou a vantagem indevida em razão de sua função, haja vista que detinha mandato de Vereador e, portanto, estava dentro de suas atribuições a inserção da emenda ao plano Diretor, incidindo, portanto, nos lindes do artigo
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É exatamente isso, nada restando a acrescentar.
Em realidade, comete o crime previsto no art. 333, parágrafo único, do Código Penal, o agente que promete a entrega de dinheiro a Vereador para que este, infringindo dever funcional, providencie a aprovação de emenda a Projeto de Lei Complementar, bem como pratica o delito contemplado § 1o do art. 317 do mesmo diploma legal o Vereador que solicita dinheiro para ser aprovada emenda a Projeto de Lei Complementar, infringindo dever funcional.
[...]
Veja-se que, o acórdão embargado demonstrou a saciedade a configuração da majorante do parágrafo único do artigo 333 do Código Penal, "por infringência do dever funcional", na medida em que asseverou que o co-réu Wilton Araújo, valendo-se da sua condição de vereador do Município de Porto Alegre, fez inserir emenda no projeto de lei do Plano Diretor de Porto Alegre, favorável ao embargado, em troca de quantia em dinheiro previamente acordada, evidenciando o desatendimento ao seu dever funcional, que é de legislar em favor do interesse público, o que não ocorreu, no caso, conforme a prova dos autos.
[...]
Quanto à materialidade do crime de corrupção ativa, na forma do parágrafo único do art. 333 do Código Penal, o Tribunal de origem, diante dos elementos de prova, concluiu ter havido o desatendimento do dever funcional de legislar em favor do interesse público, uma vez que a atuação do vereador, ora recorrente, foi pautada por interesses particulares mesquinhos, a saber, recebimento de dinheiro para legislar, inserindo emenda a projeto de lei, em favor de terceiro.
Dessa forma, a par da falta de impugnação específica do fundamento acima indicado, o que traz a lume a Súmula 283/STF, a inversão do que ficou decidido, como pretendido pelo recorrente, inexoravelmente, demandaria o reexame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência que contraria a Súmula 7/STJ.
[...]
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2014/0215590-2 AREsp 571.132 / RS
MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 00877816520148217000 70021540331 70058952185
EM MESA JULGADO: 04/08/2015
SEGREDO DE JUSTIÇA Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO FERREIRA LEITE Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO AGRAVANTE : V O D M
ADVOGADO : AMIR JOSÉ FINOCCHIARO SARTI E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
CORRÉU : L S
CORRÉU : W P DE A
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral - Corrupção ativa
AGRAVO REGIMENTAL AGRAVANTE : V O D M
ADVOGADO : AMIR JOSÉ FINOCCHIARO SARTI E OUTRO(S)
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL