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Filosofia. Filosofia Renascentista. Teoria. O que é Renascimento?

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Academic year: 2021

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Filosofia Renascentista

Teoria

O que é Renascimento?

Antes de responder à pergunta: o que é Renascimento? Vejamos um pouco do contexto histórico em que ele se desenvolve. Após a consolidação do cristianismo como religião e de sua relevância política expressa na entidade mais influente do medievo, a Igreja Católica — era o Papa que coroava e legitimava o poder dos reis

— a filosofia cristã passou do período de defesa e disseminação da fé para o da sistematização e organização dos dogmas religiosos. Questões cada vez mais profundas surgiam e os pensadores buscavam dar conta da necessidade, cada vez maior, de explicar a origem e a natureza da religião cristã e de sua divindade suprema.

Tais explicações constituem a teologia.

No século VIII, a Europa passou por um processo de expansão educacional iniciado por Carlos Magno, rei dos francos. Esse período, que ficou conhecido como a renascença carolíngia, deu origem a diversas escolas ligadas às instituições católicas, com o objetivo de retomar e difundir a cultura greco-romana. Baseando-se no modelo de educação romana, o currículo de tais escolas era composto pelo conjunto das artes liberais, ou seja, o trivium (gramática, retórica e lógica) e o quadrivium (geometria, aritmética, astronomia e música). A partir do século XII, por ter sido ensinada nas escolas, a Filosofia medieval recebeu também o nome de Escolástica.

A partir das tentativas de reforma nesse método de ensino surgiram, dentro da própria Igreja, uma série de mudanças que deram origem ao que ficou conhecido como estudos humanísticos (studia humanitatis), que consistia principalmente no estudo de línguas antigas como o grego, o hebraíco e o aramaico, cuja finalidade era possibilitar uma maior compreensão bíblica. Aos poucos, os estudos humanísticos deram origem a um movimento intelectual chamado de humanismo, que se consolidou fora da Igreja. Além disso, enquanto a Igreja difundia a ideia do miseria hominis, isto é, do homem como um ser miserável e pecador que precisava se religar a Deus, o humanismo, retomou a famosa frase de Protágoras: “O homem é a medida de todas as coisas”, restabelecendo assim a dignitas hominis, ou seja, a dignidade do homem.

O resgate das ideias, dos textos e das artes produzidas durante a Antiguidade Clássica, somado à valorização do homem presente no humanismo, deu origem ao movimento cultural que conhecemos como Renascimento. Entre as principais cidades em que esse movimento se desenvolveu estão Florença, Roma e Veneza. Curiosamente, o termo Renascimento (Rinascita) surgiu somente dois séculos mais tarde, sendo atribuído ao pintor e arquiteto florentino Giorgio Vasari (1511–1574), cuja obra traz, dentre outras coisas, a biografia de diversos artistas italianos. Embora se fale de um movimento único, alguns autores dividem o Renascimento em três fases de acordo com a temporalidade e as características em comum, são elas:

Trecento (séc. XIV): período de desenvolvimento do humanismo, alguns historiadores entendem que na verdade esse período já pode ser chamado de renascimento enquanto outros entendem que o humanismo, na verdade, foi o precursor da renascença. O momento é marcado por uma mudança gradual através de uma mistura de ideias humanistas com a religiosidade.

Quattrocento (séc. XV): período de consolidação do renascimento e da expansão de seus ideais para outros locais e para outras áreas artísticas, culturais e científicas. É considerado o período de ouro, ou seja, o auge do movimento renascentista.

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Cinquecento (séc. XVI): período em que o profano vai estar mais presente nas obras e também é marcado pela expansão de uma estrutura acadêmica com a criação de escolas artísticas especializadas em ideias renascentistas.

Assim, o Renascimento Artístico e Cultural influenciou diversas áreas que vão desde as artes plásticas, com o desenvolvimento da pintura a partir de nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo Buonarroti e Rafael Sânzio até a política com o florentino Nicolau Maquiavel, passando também pela literatura e pela filosofia, com Thomas More, Erasmo de Roterdã, Michel de Montaigne e Giordano Bruno.

Nicolau Maquiavel

Principal filósofo renascentista, Nicolau Maquiavel (1469 - 1527) ficou famoso sobretudo por seus escritos a respeito da política. Vivendo no contexto de formação dos Estados nacionais modernos e de desintegração das sociedades políticas medievais, o pensador italiano refletiu a respeito de seu tempo e propôs uma série de ideias revolucionárias. Exatamente por isso, Maquiavel é conhecido como o fundador do pensamento político moderno.

Seu principal livro foi O Príncipe, obra dedicada ao príncipe de Florença e cujo objetivo era mostrar ao monarca como se deve governar. Na obra, Maquiavel teve como principais adversários intelectuais os filósofos políticos clássicos, tais como Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, bem como os chamados utopistas do Renascimento, tais como Thomas Morus e Tommaso Campanella. Tanto uns quanto outros padeciam do mesmo mal, de acordo com Maquiavel: eles não se preocupavam em compreender como a política é, mas sim em como ela deveria ser. Em outras palavras, estavam preocupados com o ideal e não com a realidade, com o modelo perfeito e acabado, não com a política tal como ela se dá de fato.

Indo, por sua vez, numa direção inteiramente oposta, Maquiavel se caracterizou acima de tudo por buscar construir uma explicação inteiramente realista da política. Para ele, quando procuramos entender o que algo deveria ser, acabamos por não entender o que ele é e, portanto, acabamos por desconhecê-lo. Observando essa distância entre ideal de política e realidade política, Maquiavel, com base na sua vasta pesquisa histórica (que demonstravam os erros dos governantes estudados pelo pensador), provoca uma inovação sem precedentes.

O ser humano no centro do debate

Para Maquiavel, em primeiro lugar, se queremos ter uma percepção realista da política, devemos ter em mente que ela é obra dos homens e que os homens são fundamentalmente maus, miseráveis, egoístas, traiçoeiros, mentirosos, que sempre pensam em seu próprio bem antes de pensar no dos demais e que a política é, portanto, basicamente um jogo de interesses.

Assim, a função da política não é tornar as pessoas melhores, mais virtuosas ou construir uma sociedade.

Todo o pensamento de Maquiavel se baseia na constatação de que o papel do poder político é pura e simplesmente manter o poder e a ordem. Ou seja, a política é a arte de regular as lutas e tensões entre os grupos sociais, que Maquiavel separa genericamente em poderosos e o povo. A função do governante é gerenciar as relações de poder no interior da comunidade, não permitindo que ela saia do controle. Esse é o objetivo da política, não o bem comum, mas a manutenção do poder do Estado.

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Lógica do poder

Na medida em que é responsável por manter a ordem, o governante tem o direito e a obrigação de utilizar todos os meios necessários para tal. Se for necessário matar, ele deve matar. Se for necessário mentir, ele deve mentir. Se for preciso trair, ele deve trair. Toda ação governamental se justifica pelo critério da eficiência, isto é, na medida em que seja capaz de realizar a tarefa da política, que é manter a ordem e a paz. Como só o poder pode limitar o poder, o uso da força é necessário. Segundo o autor, entre ser temido e ser amado, o governante deve, a princípio, desejar ambos, mas, se tiver de escolher entre um dos dois, deve preferir ser temido, dado que o medo é muito mais firme do que o amor.

Mas veja: apesar de separar inteiramente a ética e a religião da política, Maquiavel não está defendendo que o monarca possa agir como um tirano inteiramente arbitrário, que faz o que quer sem se importar com os demais e impõe sua força de modo inteiramente autoritário. O que Maquiavel diz é que o príncipe deve agir de modo rígido quando for necessário. Para ele, se o rei se utiliza da brutalidade sem um motivo razoável, ele não só não está cumprindo seu papel, como também o está pondo em perigo e diminuindo sua autoridade perante o povo.

Em suma, a política é a arte da difícil conjugação entre dois elementos: a virtú e a fortuna. No linguajar maquiaveliano, fortuna não é sinônimo de riqueza, mas sim se refere à sorte, ao acaso, ao âmbito do imprevisível nas relações humanas. Por sua vez, a virtú se refere à sagacidade humana, isto é, a capacidade do governante de utilizar os momentos fornecidos pela fortuna ao seu favor. Veja: a virtú não se confunde com a força bruta. Ela é a habilidade de se utilizar dos meios e situações disponíveis para realizar aquilo que a manutenção do Estado e da ordem política exigem. Sem se pautar por parâmetros morais ou religiosos, o príncipe deve sempre fazer o que for preciso, no momento certo. Governar não se trata, portanto, de uma decisão moral, mas sim de uma decisão que atende à lógica do poder.

Erasmo de Roterdã

Erasmo de Roterdã (1466? - 1536) foi um renomado humanista holandês cujo verdadeiro nome era Erasmo Desidério. Nascido em Roterdã, ordenou-se sacerdote em 1492, mas abandonou o hábito pouco tempo depois. Tornou-se mundialmente famoso com o seu Elogio da Loucura, obra de fundo satírico que investe contra o obscurantismo conservador da religião. Em sua obra A Civilidade Pueril, de 1530, ele apresenta um código de bons costumes, destinado à educação dos jovens. Até aí, sem grandes novidades. Porém, dentre as normas de boa conduta, ele estabelece regras inclusive para (pasmem!) controlar as expressões dos olhos e dos lábios, bem como a maneira correta para espirrar, tossir, bocejar e higienizar o nariz.

Thomas More ou Thomas Morus

Thomas More (1478 - 1535) foi um diplomata, escritor e advogado inglês que ocupou diversos cargos públicos sendo, inclusive, Lord Chancellor durante o reinado de Henrique VIII. Considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento, Morus pode ser descrito como um polímata, isto é, um homem dotado de um vasto conhecimento sobre diversas áreas do saber. Em sua principal obra, intitulada Utopia, ele descreve o seu encontro (fictício) com o navegante português chamado Rafael Hitlodeu, que lhe relatou a existência de uma ilha (chamada Utopos) onde, por não haver a noção de dinheiro, permitia que os seus cidadãos vivessem de maneira igualitária. Com essa ideia da possibilidade de uma sociedade justa, sem o dinheiro, a Utopia se

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tornou fundamental para o surgimento das formulações políticas e econômicas posteriores, como é o caso de Do Contrato Social, de Rousseau e de O Capital, de Marx.

Michel de Montaigne

Michel de Montaigne (1533-1592) foi um humanista francês conhecido por ter criado o gênero do ensaio e por ter atuado nos campos da política, da filosofia e da escrita. Em sua obra Ensaios, Montaigne, por meio de inúmeros exemplos retirados da história, nos coloca diante da impossibilidade de depreender o caráter de alguém a partir de um ato (por mais virtuoso ou vicioso que seja). As ações humanas são tão contraditórias entre si, que é impossível encontrar nelas qualquer traço de constância. Tal constância só é possível à custa ou de uma torção (adaptação) das ações ou da acusação de insinceridade do agente, quando a primeira opção não é possível. Dessa inconstância relativa às ações humanas, decorre que a história, lida a partir dos grandes feitos, não pode ser tomada como fundamento epistemológico, isto é, como matéria para a produção de um conhecimento seguro, visto que o nosso comportamento é imprevisível. Em todo caso, a melhor maneira de compreender as nossas ações é relacioná-las apenas às suas causas próximas, sem a pretensão de interpretá-las com base em princípios firmes de conduta.

Giordano Bruno

Giordano Bruno (1548- 1600) foi filósofo, místico, astrônomo, cientista e poeta. A influência de pensadores como Raimundo Lúlio, Nicolau de Cusa e Nicolau Copérnico, bem como os seus estudos sobre a filosofia grega e a cabala judaica, o aproximaram do hermetismo. Em sua obra intitulada Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, embora considerasse o heliocentrismo desenvolvido por Copérnico, Giordano propôs a existência de outros planetas, fora do nosso sistema solar, bem como a ideia de que o Universo é infinito. Já em suas obras, A Sombra das Ideias e O Canto de Circe ele apresentou algumas de suas Rodas Combinatórias, que consistem em um conjunto de imagens e símbolos com significados específicos que facilitam a memorização. Destaca-se ainda a sua concepção de pampsiquismo, isto é, a ideia de que todos os seres do Universo possuem alma. Após ser excomungado pela Igreja, ele escreveu o seu Tratado de Magia, no qual constam algumas definições sobre a magia e sobre o mago. Em 1600, aos 52 anos, Giordano Bruno foi condenado à fogueira pela Santa Inquisição.

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Exercícios

1.

(UFG 2007) Não houve preocupação com as conseqüências da revolução copernicana senão depois de Giordano Bruno ter extraído dela certas conseqüências filosóficas. Bem depressa Giordano Bruno estava a afirmar a infinidade do mundo. Rejeitava, pois, por completo, a noção de “centro do universo”.

O Sol, perdido o lugar privilegiado que Copérnico lhe atribuía, era um sol entre outros sóis, uma estrela entre estrelas.

DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento. Lisboa: Editorial Estampa, 1994. p. 147. [Adaptado].

O texto acima refere-se à importância dos pronunciamentos de Giordano Bruno para a constituição da noção moderna de Universo, que se relaciona com

a) a definição de um Universo concebido como fechado e finito.

b) o abandono da idéia de um Universo criado por Deus.

c) a ruptura da concepção geocêntrica do Universo.

d) a percepção de que o Universo é contido numa esfera.

e) a compreensão heliocêntrica do Universo.

2.

Referindo-se à Filosofia, Montaigne escreve:

“É singular que em nosso século as coisas sejam de tal forma que a filosofia, até para as pessoas inteligentes, seja um nome vão e fantástico, que se considera de nenhum uso e de nenhum valor, tanto por opinião como de fato. Creio que a causa disso são esses ergotismos [que significa abuso de silogismos na argumentação] que invadiram seus caminhos de acesso. É um grande erro pintá-la inacessível às crianças e com um semblante carrancudo, sobranceiro e terrível. Quem a mascarou com esse falso semblante, lívido e medonho? Não há nada mais alegre, mais jovial, mais vivaz e quase digo brincalhão. Ela só prega festa e bons momentos. Uma fisionomia triste e inteiriçada mostra que não é ali sua morada”

(MONTAIGNE I, 26, p. 240).

Depois de ler o texto acima, atentamente, assinale a alternativa CORRETA

a) Montaigne entende que a filosofia destina-se somente a algumas pessoas muito inteligentes, pois é inacessível para a maioria delas

b) Montaigne considera que a filosofia é carrancuda e triste porque é crítica e precisa assustar as pessoas

c) Montaigne concorda que a filosofia é um nome vão e fantástico: não tem nenhum uso e nenhum valor para as pessoas inteligentes.

d) Montaigne argumenta que a filosofia é brincalhona e jovial, aberta a muitos, inclusive para as crianças

e) Montaigne julga que a filosofia deve ser sempre terrível e se contrapor à festa e à alegria.

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3.

(Enem 2018) Em Utopia, tudo é comum a todos. A distribuição dos bens lá não é um problema, não se vê nem pobre nem mendigo e, embora ninguém tenha nada de seu, todos são ricos. Haverá maior riqueza do que levar uma existência alegre e pacífica, livre de ansiedades e sem precisar se preocupar com a subsistência?

MORUS, T. Utopia. Brasília: UnB, 2004.

Retirado da obra de Thomas Morus, escrita no século XVI, esse trecho influenciou movimentos sociais do século XIX que lutaram para

a) inibir a ascensão da burguesia.

b) evitar a destruição da natureza.

c) combater o domínio do capital d) eliminar a intolerância religiosa.

e) superar o atraso tecnológico.

4.

[Todo príncipe prudente deve] não só remediar o presente, mas prever os casos futuros e preveni-los com toda a perícia, de forma que se lhes possa facilmente levar corretivo, e não deixar que se aproximem os acontecimentos, pois deste modo o remédio não chega a tempo, tendo-se tornado incurável a moléstia. […] Assim se dá com o Estado: conhecendo-se os males com antecedência o que não é dado senão aos homens prudentes, rapidamente são curados […]

(MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova cultural, 1991, p.12.) Nas ações de todos os homens, máxime dos príncipes, onde não há tribunal para recorrer, o que importa é o êxito bom ou mau. Procure, pois, um príncipe, vencer e conservar o Estado. Os meios que empregar serão sempre julgados honrosos e louvados por todos, porque o vulgo é levado pelas aparências e pelos resultados dos fatos consumados.

(MAQUIAVEL, N. O Príncipe: Escritos políticos. São Paulo: Nova cultural, 1991, p.75.) Com base nos textos e nos conhecimentos sobre o pensamento de Maquiavel acerca da polaridade entre virtú e fortuna na ação política e suas implicações na moralidade pública, considere as afirmativas a seguir:

I. A virtú refere-se à capacidade do príncipe de agir com astúcia e força em meio à fortuna, isto é, à contingência e ao acaso nas quais a política está imersa, com a finalidade de alcançar êxito em seus objetivos.

II. A fortuna manifesta o destino inexorável dos homens e o caráter imutável de todas as coisas, de modo que a virtú do príncipe consiste em agir consoante a finalidade do Estado ideal: a felicidade dos súditos.

III. A virtú implica a adesão sincera do governante a um conjunto de valores morais elevados, como a piedade cristã e a humildade, para que tenha êxito na sua ação política diante da fortuna.

IV. O exercício da virtú diante da fortuna constitui a lógica da ação política orientada para a conquista e a manutenção do poder e manifesta a autonomia dos fins políticos em relação à moral preestabelecida.

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Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e IV são corretas.

b) Somente as afirmativas II e III são corretas.

c) Somente as afirmativas II e IV são corretas.

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.

e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.

5.

Quando um cidadão, não por suas crueldades ou outra qualquer intolerável violência, e sim pelo favor dos concidadãos, se torna príncipe de sua pátria – o que se pode chamar de principado civil (e para chegar a isso não é necessário grandes méritos nem muita sorte, mas antes astúcia feliz), digo que se chega a esse principado ou pelo favor do povo ou pelo favor dos poderosos. É que em todas as cidades se encontram essas duas tendências diversas e isso nasce do fato de que o povo não deseja ser governado nem oprimido pelos grandes, e estes desejam governar e oprimir o povo. [...] O principado é estabelecido pelo povo ou pelos grandes, segundo a oportunidade que tiver uma dessas partes:

percebendo os grandes que não podem resistir ao povo, começam a dar reputação a um dos seus elementos e o fazem príncipe, para poder, sob sua sombra, satisfazer seus apetites. O povo também, vendo que não pode resistir aos grandes, dá reputação a um cidadão e o elege príncipe para estar defendido com sua autoridade. O que ascende ao principado com a ajuda dos poderosos se mantém com mais dificuldade do que aquele que é eleito pelo próprio povo; encontra-se aquele com muita gente ao redor, que lhe parece sua igual, e por isso não a pode comandar nem manejar como entender. Mas o que alcança o principado pelo favor popular encontra-se sozinho e, ao redor, ou não tem ninguém ou muito poucos que não estejam preparados para obedecê-lo. [...] Quem se torna príncipe mediante o favor do povo deve manter-se seu amigo, o que é muito fácil, uma vez que este deseja apenas não ser oprimido. Mas quem se tornar príncipe contra a opinião popular, por favor dos grandes, deve, antes de mais nada, procurar conquistar o povo.

(MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Abril Cultural, 1983, p. 39-40.) De acordo com o excerto extraído do livro O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, quais virtudes se encerram no principado a favor do povo e no principado a favor dos poderosos?

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Gabaritos

1. C

Em sua obra intitulada Acerca do Infinito, do Universo e dos Mundos, embora considerasse o heliocentrismo desenvolvido por Copérnico, Giordano propôs a existência de outros planetas, fora do nosso sistema solar, bem como a ideia de que o Universo é infinito.

2. D

Montaigne argumenta, isto é, apresenta fatos, ideias ou razões lógicas que justificam a sua afirmação de que: “É um grande erro pintá-la [a filosofia] inacessível às crianças e com um semblante carrancudo, sobranceiro e terrível.” Para ele, a filosofia “é brincalhona e jovial, aberta a muitos, inclusive para as crianças”. Portanto, a alternativa D é o gabarito da questão.

3. C

Em sua principal obra, intitulada Utopia, ele descreve o seu encontro (fictício) com o navegante português chamado Rafael Hitlodeu, que lhe relatou a existência de uma ilha (chamada Utopos) onde, por não haver a noção de dinheiro, permitia que os seus cidadãos vivessem de maneira igualitária. Com essa ideia da possibilidade de uma sociedade justa, sem o dinheiro, a Utopia se tornou fundamental para o surgimento das formulações políticas e econômicas posteriores, como é o caso de O Capital, de Marx, um marco para o socialismo e para a luta contra o domínio do capital.

4. A

I. correta: a virtú é, justamente, a capacidade do príncipe de agir com astúcia e força em meio às circunstâncias (fortuna).

II. incorreta: a finalidade do Estado é a manutenção do poder, independente da felicidade dos súditos.

III. incorreta: para obter êxito na política, o governante não deve restringir as suas ações aos valores considerados como moralmente elevados.

IV. correta: para garantir e manter o poder é necessário que o príncipe possua tanto a vitú quanto a fortuna.

Apenas as afirmativas I e IV estão corretas. Portanto, o gabarito é a alternativa A.

5. O principado a favor do povo é um principado politicamente isolado, porém apoiado pelo povo. Terá dificuldades em lidar com as elites, mas conta com a simpatia dos governados. O principado eleito pelos poderosos é um principado em que o líder se encontra em meio a iguais, membros da elite, que jogam o jogo político tal qual ele, o que limita suas possibilidades de ação. Esse deve buscar apoio do povo, o conquistar, para ter mantido seu poder. É fácil para o príncipe do povo manter seu poder, basta apenas ser amigo do povo que deseja apenas não ser oprimido. Já o príncipe das elites deve dar conta de um complicado jogo político, que é inerente às exigências daqueles que o elevaram a príncipe. Por isso, conquistar o povo é essencial.

Referências

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