UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MATEMÁTICA
LAUDELINO GOMES FERREIRA
FUNÇÕES GERADORAS: PROBLEMAS E APLICAÇÕES
MOSSORÓ – RN
2018
FUNÇÕES GERADORAS: PROBLEMAS E APLICAÇÕES
Dissertação apresentada à Universidade Federal Rural do Semiário - UFERSA, Campus Mos- soró, para obtenção do título de Mestre em Matemática.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Ronaldo Gomes Garcia-UFERSA
MOSSORÓ – RN
2018
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F383f Ferreira, Laudelino Gomes.
Funções Geradoras: Problemas e Aplicações / Laudelino Gomes Ferreira. - 2018.
74 f. : il.
Orientador: Antonio Ronaldo Gomes Garcia.
Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Programa de Pós-graduação em Matemática, 2018.
1. Funções geradoras. 2. Séries numéricas. 3.
Recorrências. I. Garcia, Antonio Ronaldo Gomes, orient. II. Título.
Ao meu filho, Lucas Justo
de Freitas Bisneto, e a mi-
nha esposa, Elaine Patri-
cia de Freitas Silva pela
compreens˜ ao nos momentos
mais estressantes.
A minha m˜ ae, Maria Segunda da Concei¸c˜ ao de Brito (em mem´ oria) que me ensinou a importˆ ancia da educa¸c˜ ao.
Ao meu pai, Jo˜ ao Gomes de Brito (em mem´ oria) que me ajudou nas primeiras aulas de matem´ atica.
A minha esposa Elaine Patricia pelo amor, companheirismo e incentivo.
Aos meus filhos Laudelino Gomes Ferreira Filho (em mem´ oria) e Lucas Justo de Freitas Bisneto.
Aos meus irm˜ aos Laudecir, Lancleide e Iolanda
Ao professor Antonio Ronaldo Gomes Garcia, que aceitou me orientar.
Aos amigos Elias, Frank e Djair que dedicaram seus finais de semanas em estudar para exame nacional de acesso ao PROFMAT.
Ao amigo Jo˜ ao Alexandre J´ unior que sempre me incentivou a estudar matem´ atica.
Aos professores, Antˆ onio Gomes Nunes e Ronaldo C´ esar por aceitarem fazer parte da banca examinadora.
Ao professor Jeovanizelio Firmino Gomes pelo profissionalismo e dedica¸c˜ ao a pro- fiss˜ ao.
A todos os meus colegas de turma que durante todo o tempo de curso estiveram jun- tos comigo nessa caminhada e, em especial, o grupo de estudos de Mossor´ o: Evanilson, Jo˜ ao e Mansinho.
Ao colega do curso de gradua¸c˜ ao e do PROFMAT Maximiliano Dias de Sousa (em
mem´ oria) que sempre nos contagiou com sua felicidade inabal´ avel.
Resumo
Neste trabalho, ap´ os apresentarmos uma breve exposi¸c˜ ao ao estudo das sequˆ encias e s´ eries foi feita uma introdu¸c˜ ao ` as fun¸c˜ oes geradoras ordin´ arias. Uma fun¸c˜ ao geradora G(x) ´ e uma s´ erie de potˆ encia associada a um problema de combinat´ oria. Nosso objetivo principal foi aplicar ` as fun¸c˜ oes geradoras para resolver problemas de combinat´ oria com restri¸c˜ oes em que a ordem dos objetos n˜ ao seja relevante.
Palavras-chave: Fun¸c˜ oes geradoras, S´ eries num´ ericas, Recorrˆ encias.
In this work, after introducing a brief exposition to the study of the sequences and series, an introduction was made to the ordinary generating functions. A generating function G(x) is a power series associated with a combinatorial problem. Our main aim was to apply the generating functions to solve some combinatorial problems with constraints in which the order of the objects is not relevant.
Keywords: Generating functions, Numerical series, Recorrence.
Lista de Figuras
3.1 Fortaleza x Cear´ a . . . . 39
3.2 Jogo dos an´ eis chineses . . . . 45
A.1 n-uplas . . . . 53
A.2 Solu¸c˜ ao inteiro positiva (2, 6, 2) . . . . 56
A.3 Solu¸c˜ ao inteiro positiva (4, 2, 4) . . . . 56
B.1 Sequˆ encias de dois termos . . . . 71
B.2 Sequˆ encias de n termos come¸cadas por 0 . . . . 71
B.3 Sequˆ encias de n termos come¸cadas por 1 . . . . 71
B.4 Sequˆ encias de n termos come¸cadas por 2 . . . . 72
Introdu¸ c˜ ao 12
1 Sequˆ encias e S´ eries 13
1.1 No¸c˜ oes de Sequˆ encias . . . . 13
1.1.1 Defini¸c˜ oes . . . . 13
1.1.2 Limites de Sequˆ encias . . . . 14
1.1.3 Opera¸c˜ oes com Limites de Sequˆ encias . . . . 15
1.1.4 Teorema do Bolzano-Weierstrass e Sequˆ encias de Cauchy . . . . 17
1.2 No¸c˜ oes sobre S´ eries de Potˆ encia . . . . 19
1.2.1 Defini¸c˜ oes e Exemplos . . . . 19
1.2.2 Convergˆ encia das S´ eries de Potˆ encias . . . . 20
2 Fun¸ c˜ oes Geradoras 23 2.1 Fun¸c˜ oes Geradoras Ordin´ arias . . . . 23
2.1.1 Determina¸c˜ ao dos Coeficientes . . . . 24
2.2 Resolu¸c˜ ao de Rela¸c˜ oes de Recorrˆ encia Usando Fun¸c˜ oes Geradoras . . . 28
3 Aplica¸ c˜ oes das Fun¸ c˜ oes Geradoras Ordin´ arias 31 3.1 Resolu¸c˜ ao de Problemas de Combinat´ oria via Fun¸c˜ oes Geradoras Or- din´ arias . . . . 31
3.2 Resolvendo Recorrˆ encias Lineares via Fun¸c˜ oes Geradoras . . . . 38
3.2.1 Fortaleza x Cear´ a . . . . 38
3.2.2 Jogo dos An´ eis Chineses . . . . 44
3.2.3 O Problema do Queijo de Steiner . . . . 47
4 Considera¸ c˜ oes Finais 49
Referˆ encias Bibliogr´ aficas 50
A M´ etodos B´ asicos de Contagem e Binˆ omio de Newton 52
A.1 Princ´ıpio Fundamental da Contagem . . . . 52
A.2 Permuta¸c˜ oes sem Elementos Repetidos . . . . 52
A.2.1 C´ alculo do N´ umero de Permuta¸c˜ oes (P
n) . . . . 53
A.3 Arranjos e Combina¸c˜ oes . . . . 53
A.3.1 Arranjos . . . . 54
A.3.2 Combina¸c˜ oes . . . . 54
A.4 Combina¸c˜ oes com Elementos Repetidos . . . . 55
A.4.1 Solu¸c˜ oes Inteiras Positivas . . . . 56
A.4.2 Solu¸c˜ oes Inteiras N˜ ao-negativas . . . . 57
A.5 Binˆ omio de Newton . . . . 59
A.5.1 Termo Geral do Desenvolvimento (x + a)
n. . . . 62
B No¸ c˜ oes de Recorrˆ encias Lineares 63 B.1 Defini¸c˜ oes e Exemplos . . . . 63
B.2 Recorrˆ encias Lineares de Primeira Ordem . . . . 64
B.2.1 Resolu¸c˜ ao de Recorrˆ encias Lineares Homogˆ eneas de Primeira Or- dem . . . . 65
B.3 Resolu¸c˜ ao de Recorrˆ encias Lineares n˜ ao Homogˆ eneas de Primeira Ordem 66 B.4 Recorrˆ encias Lineares de Segunda Ordem . . . . 69
B.4.1 Recorrˆ encias lineares de Segunda Ordem Homogˆ eneas . . . . 69
B.5 Recorrˆ encias Lineares de Segunda Ordem n˜ ao Homogˆ eneas . . . . 70
C Teorema dos Intervalos Encaixados 73
C.1 Teorema dos Intervalos Encaixados . . . . 73
Neste trabalho faremos uma introdu¸c˜ ao ao estudo das fun¸c˜ oes geradoras. Esta t´ ecnica surgiu no s´ eculo XV II nos trabalhos de Abraham De Moivre. Os matem´ aticos Leonhard Euler, Laplace e N. Bernoulli usaram para resolver problemas na teoria de parti¸c˜ oes, estudo de probabilidade e permuta¸c˜ oes ca´ oticas respectivamente.
O Princ´ıpio Fundamental da Contagem ´ e uma ferramenta poderosa na resolu¸c˜ ao de problemas de an´ alise combinat´ oria, mas, torna-se praticamente imposs´ıvel aplic´ a-lo a problemas com restri¸c˜ oes . Por isso, o principal objetivo desta disserta¸c˜ ao ´ e apresentar solu¸c˜ oes via fun¸c˜ oes geradoras ordin´ arias. Mais especificamente, nos concentramos nos problemas de contagem do n´ umero de elementos de um conjunto nos quais a ordem n˜ ao importe e que a repeti¸c˜ ao seja permitida.
No Cap´ıtulo 1, apresenta-se uma breve introdu¸c˜ ao ` as sequˆ encias e s´ eries. Os t´ opicos abordados s˜ ao muito importantes no desenvolvimento do cap´ıtulo , pois uma fun¸c˜ ao geradora ´ e uma s´ erie de potˆ encia cujos coeficientes est˜ ao associados a um problema de combinat´ oria.
No Cap´ıtulo 2, defini-se fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria e apresenta-se os principais re- sultados para a determina¸c˜ ao dos coeficientes. Temos tamb´ em, a solu¸c˜ ao de recorrˆ encia via fun¸c˜ oes geratrizes.
No Cap´ıtulo 3, est˜ ao as aplica¸c˜ oes das fun¸c˜ oes geradoras na resolu¸c˜ ao de problemas de contagem e na resolu¸c˜ ao de recorrˆ encias.
Completando o trabalho, adicionamos trˆ es apˆ endices. O Apˆ endice A traz os m´ etodos
b´ asico de contagem e binˆ omio de Newton. No Apˆ endice B, faz-se uma introdu¸c˜ ao a
teoria das recorrˆ encia lineares de primeira e segunda ordem. Finalmente, no Apˆ endice
C trata-se do teorema dos intervalos encaixados.
Cap´ıtulo 1
Sequˆ encias e S´ eries
Neste cap´ıtulo apresentamos os resultados essenciais sobre sequˆ encias e s´ eries, o m´ınimo, para estudar as fun¸c˜ oes geratrizes. Para escrever este cap´ıtulo consultou-se os seguintes livros [8, 10] e [15].
1.1 No¸ c˜ oes de Sequˆ encias
Neste trabalho, denota-se a sequˆ encia (a
1, a
2, a
3, . . . , a
n, . . .) por (a
n)
ncom n ∈ N .
1.1.1 Defini¸ c˜ oes
Defini¸ c˜ ao 1.1. Uma sequˆ encia de n´ umeros reais ´ e uma fun¸c˜ ao x : N → R que associa cada n´ umero natural n a um n´ umero real x(n). O valor x(n), para todo n ∈ N ser´ a representado por x
ne denominado n−´ esimo termo da sequˆ encia.
Defini¸ c˜ ao 1.2. Uma sequˆ encia (a
n)
nchama-se crescente, se para qualquer n´ umero natural n vale a desigualdade
a
n+1> a
n, ∀ n ∈ N .
Exemplo 1.1. Mostraremos que a sequˆ encia (a
n)
ncom termo geral a
n= 2
n2n + 1 , ´ e uma sequˆ encia crescente.
Para todo n ∈ N temos 4n + 2 > 2n + 3. Equivalentemente 2
2n + 3 > 1 2n + 1 e portanto
a
n+1= 2
n+12n + 3 > 2
n2n + 1 = a
npara todo n ∈ N .
Defini¸ c˜ ao 1.3. Uma sequˆ encia (a
n)
nchama-se decrescente, se para qualquer n´ umero natural n vale a desigualdade
a
n+1< a
n, ∀ n ∈ N .
Exemplo 1.2. Mostraremos que sequˆ encia (a
n)
ncom termo geral a
n= 1
n ´ e uma sequˆ encia decrescente.
Note que a
n+1− a
n= 1
n + 1 − 1
n = − 1
n(n + 10) < 0. Desta forma a
n+1< a
n. Defini¸ c˜ ao 1.4. Uma sequˆ encia (a
n)
nchama-se n˜ ao-decrescente, se para qualquer n´ umero natural n vale a desigualdade
a
n+1≥ a
n, ∀ n ∈ N .
Defini¸ c˜ ao 1.5. Uma sequˆ encia (a
n)
nchama-se n˜ ao-crescente, se para qualquer n´ umero natural n vale a desigualdade
a
n+1≤ a
n, ∀ n ∈ N .
As sequˆ encias definidas em 1.2, 1.3, 1.4 e 1.5 s˜ ao geralmente chamadas de sequˆ encias mon´ otonas.
Defini¸ c˜ ao 1.6. Seja (x
nk)
k∈Numa sequˆ encia. Ent˜ ao, a sequˆ encia (x
nk)
k∈Nchama-se subsequˆ encia da sequˆ encia (x
n)
n∈N.
1.1.2 Limites de Sequˆ encias
Defini¸ c˜ ao 1.7. O n´ umero real a ser´ a dito limite da sequˆ encia (x
n)
nde n´ umeros reais se, para cada ε > 0, for poss´ıvel encontrar um natural n
0∈ N tal que |x
n− a| < ε sempre que n > n
0. Simbolicamente:
lim x
n= a se e somnete se, dado ε > 0, ∃ n
0∈ N tal que n > n
0⇒ |x
n− a| < ε.
Teorema 1.1 (Unicidade do limite). Seja (x
n)
numa sequˆ encia convergente. Se lim x
n= a e lim x
n= b, ent˜ ao a = b.
Demonstra¸ c˜ ao. Seja x
numa sequˆ encia convergente. Suponhamos, por contradi¸c˜ ao,
que lim x
n= a e lim x
n= b, com a 6= b. Suponha, sem perda de generalidade, que
1. Sequˆ encias e S´ eries
a > b. Sendo assim, podemos tomar ε = a − b
2 > 0. Neste caso existiriam N
1e N
2em N tais que
|x
n− a| < ε, ∀ n ≥ N
1(1.1)
|x
n− b| < ε, ∀ n ≥ N
2(1.2)
Assim, se n > max{N
1, N
2}, de (1.1), temos
|x
n− a| < ε ⇒ −ε < x
n− a < ε ou seja, a − ε < x
n< a + ε. Mas por hip´ otese ε = a − b
2 , logo, a − a − b
2
< x
n< a + a − b 2
⇒ a + b
2 < x
n< 3a − b 2 . Portanto, x
n∈ a + b
2 , 3a − b 2
. E de forma an´ aloga, desenvolvendo (1.2), temos x
n∈ 3b − a
2 , a + b 2
, ou seja, x
n∈ 3b − a 2 , a + b
2
∩ a + b
2 , 3a − b 2
= ∅, absurdo.
Portanto, o limite de (x
n)
n´ e ´ unico.
Teorema 1.2. Toda sequˆ encia convergente ´ e limitada.
Demonstra¸ c˜ ao. Seja (a
n)
numa sequˆ encia convergente para L. Considerando ε = 1 temos que existe N ∈ N tal que |a
n− L| < 1, para todo n ≥ N . Note que,
|a
n| = |a
n− L + L| ≤ |a
n− L| + |L|
ent˜ ao, para todo n ≥ N temos |a
n| < 1 + |L|. Tomando
M = max{|a
1|, |a
2|, . . . , |a
N−1|, 1 + |L|}, obtemos |a
n| ≤ M, ∀ n ∈ N , demonstrando que (a
n)
n´ e limitada.
1.1.3 Opera¸ c˜ oes com Limites de Sequˆ encias
Teorema 1.3. Sejam (a
n)
ne (b
n)
nduas sequˆ encias convergentes, com limites a e b, respectivamente. Ent˜ ao, (a
n+ b
n)
n, (a
nb
n)
ne (ka
n)
n, onde k ´ e uma constante qualquer, s˜ ao sequˆ encias convergentes e
(i) lim(a
n+ b
n) = lim a
n+ lim b
n= a + b;
(ii) lim(ka
n) = k lim a
n= ka;
(iii) lim(a
nb
n) = (lim a
n) · (lim b
n) = ab;
(iv) se, al´ em das hip´ oteses acima, b 6= 0, ent˜ ao existe o limite de a
nb
n, e este limite ´ e igual a a
b .
Demonstra¸ c˜ ao. (i) Seja ε > 0 e suponhamos que lim a
n= a e lim b
n= b. Assim, existem n
1e n
2pertencentes a N tais que
|a
n− a| < ε
2 se n ≥ n
1e
|b
n− b| < ε
2 se n ≥ n
2.
Escolhendo n
0= max{n
1, n
2}, usando a desigualdade triangular,
|(a
n+ b
n) − (a + b)| = |(a
n− a) + (b
n− b)| ≤ |a
n− a| + |b
n− b| ≤ ε 2 + ε
2 = ε para todo n ≥ n
0, por defini¸c˜ ao (a
n+ b
n)
nconverge e lim(a
n+ b
n) = a + b = lim a
n+ lim b
n.
(ii) Considere k ∈ R e lim a
n= a. Seja > 0. Pela Defini¸c˜ ao 1.7, existe n
0∈ N tal que para todo n ≥ n
0,
|a
n− a| <
|k| + 1 . Portanto,
|ka
n− ka| = |k||a
n− a| < |k|
|k| + 1 <
sempre que n ≥ n
0. Por defini¸c˜ ao, lim ka
n= ka = k lim a
n.
(iii) Suponhamos que lim a
n= a e lim b
n= b. Primeiro, fa¸camos uma estimativa de
|a
nb
n− ab|.Temos que
|a
nb
n− ab| = |a
nb
n− ab
n+ ab
n− ab|
≤ |a
nb
n− ab
n| + |ab
n− ab|
= |b
n||a
n− a| + |a||b
n− b|.
Como, por hip´ otese, (b
n)
n´ e convergente, temos pelo Teorema 1.2, que existe um M > 0 tal que |b
n| ≤ M para todo n ∈ N . Assim , dado ε > 0, desde que lim a
n= a e lim b
n= b existem n
1e n
2n´ umeros naturais tais que
|a
n− a| < ε
2M , se n ≥ n
11. Sequˆ encias e S´ eries
e
|b
n− b| < ε
2(|a| + 1) , se n ≥ n
2. Seja n ≥ n
0= max{n
1, n
2}, ent˜ ao
|a
nb
n− ab| ≤ |b
n||a
n− a| + |a||b
n− b| ≤ M ε
2M + |a| ε
2(|a| + 1) < ε 2 + ε
2 = ε.
Portando, segue o resultado.
(iv ) Suponha que lim b
n= b com b > 0. Existe n
0∈ N tal que b
n>
b2para todo n > n
0. Para n > n
01 b
n− 1 b
= |b
n− b|
bb
n< 2
b
2|b
n− b|.
Dado > 0 conseguimos n
1∈ N tal que n > n
1implica em |b
n− b| < · b
22 . Assim, para n > max {n
0, n
1}
1 b
n− 1
b
< 2
b
2|b
n− b| < . Em resumo provamos que, neste caso, lim
b1n
=
1b. Analogamente ao que foi demons- trado, se lim b
n= b com b < 0, teremos lim
b1n
=
1b. Pelo item (iii), lim a
nb
n= lim a
n· 1 b
n= lim a
n· lim 1 b
n= a · 1 b = a
b . Portanto, segue o resultado.
1.1.4 Teorema do Bolzano-Weierstrass e Sequˆ encias de Cau- chy
Teorema 1.4 (Bolzano-Weierstrass). Toda sequˆ encia limitada possui uma subsequˆ encia convergente.
Demonstra¸ c˜ ao. Seja (x
n)
numa sequˆ encia limitada. Assim, existem a, b ∈ R tais que a ≤ x
n≤ b, ∀ n ∈ N ⇔ {x
n; n ∈ N } ⊂ [a, b]
Vamos dividir o intervalo [a, b] em dois intervalos iguais, e suponhamos que um deles, digamos [a
1, b
1] contenha infinitos termos da sequˆ encia. A seguir dividimos novamente o intervalo [a
1, b
1] em dois intervalos iguais, e suponhamos que um deles, digamos [a
2, b
2] contenha infinitos termos da sequˆ encia. Continuando com este processo, vamos obter uma sequˆ encia de intervalos encaixantes
[a, b] ⊃ [a
1, b
1] ⊃ [a
2, b
2] ⊃ . . .
Assim, temos que |b
n− a
n| = |b − a|
2
n, ou seja, lim
n→∞
|b
n− a
n| = 0. Do Teorema C.3, temos ∩
n∈N
[a
n, b
n] 6= ∅, ou seja, existe c ∈ [a
n, b
n], ∀ n ∈ N . Para cada sequˆ encia crescente (x
kn)
nexiste uma subsequˆ encia (x
nn)
ncom x
kn∈ [a
n, b
n], pois em cada intervalo [a
n, b
n] temos infinitos termos da sequˆ encia. Portanto, como |x
kn− c| ≤ |b
n− a
n| → 0, segue que lim
n→∞
x
kn= c.
Defini¸ c˜ ao 1.8. A sequˆ encia num´ erica (x
n)
n´ e dita de Cauchy se satisfaz a seguinte condi¸c˜ ao: dado ε > 0, existe n
0tal que
|x
n− x
m| < ε, ∀n, m > n
0.
Teorema 1.5 (Crit´ erio de Cauchy). Uma sequˆ encia ´ e convergente se, e somente se, for uma sequˆ encia de Cauchy.
Demonstra¸ c˜ ao. Suponhamos que (x
n)
nseja uma sequˆ encia convergente para a ∈ R . Assim, dado ε > 0, existe n
0∈ N tal que
|x
n− a| < ε
2 , se n > n
0Assim, se m, n > n
0, temos que
|x
m− x
n| ≤ |x
m− a| + |x
n− a| < ε 2 + ε
2 = ε o que implica que (x
n)
n´ e uma sequˆ encia de Cauchy.
Reciprocamente, suponhamos que (x
n)
nseja uma sequˆ encia de Cauchy. Mostrare- mos que ela ´ e convergente. Primeiro, mostraremos que (x
n)
n´ e limitada. Assim, para ε = 1, existe n
1∈ N tal que
|x
n− x
m| < 1, se m, n ≥ n
1e, assim, |x
n− x
n1| < 1, se n ≥ n
1. Note que,
|x
n| = |x
n− x
n1+ x
n1| ≤ |x
n− x
n1| + |x
n1| < 1 + |x
n1|, se n ≥ n
1. Isso significa que o conjunto {x
n1, x
n1+1, x
n1+2, . . .} ´ e limitado. Tomando
M = max{|x
1|, |x
2|, . . . , |x
n−1|},
conclu´ımos que |x
n| ≤ max{M, 1 + |x
n1|}, ∀ n ∈ N . Portanto a sequˆ encia ´ e limitada.
Pelo Teorema 1.4, a sequˆ encia (x
n)
npossui uma subsequˆ encia (x
nj)
jque converge para
1. Sequˆ encias e S´ eries
a ∈ R . Mostraremos que a pr´ opria sequˆ encia tamb´ em converge para a. Para todo termo x
njda sequˆ encia, temos
|x
n− a| = |x
n− x
nj+ x
nj− a| ≤ |x
n− x
nj| + |x
nj− a|. (1.3) Dado ε > 0. Assim, como (x
n)
n´ e uma sequˆ encia de Cauchy, ent˜ ao existe n
2∈ N tal que
|x
n− x
m| < ε
2 , se m, n ≥ n
2e como (x
nj) converge para a, ent˜ ao existe n
3∈ N tal que
|x
nj− a| < ε
2 , se n
j≥ n
3Tomando n
j0≥ max{n
2, n
3} e usando (1.3) com n
j= n
j0, temos que
|x
n− a| ≤ |x
n− x
nj0
| + |x
nj0
− a| < ε 2 + ε
2 = ε, se n ≥ n
0Portanto, segue que (x
n)
nconverge para a.
1.2 No¸ c˜ oes sobre S´ eries de Potˆ encia
1.2.1 Defini¸ c˜ oes e Exemplos
Defini¸ c˜ ao 1.9. Uma s´ erie infinita, ou simplesmente s´ erie, ´ e um par de sequˆ encias (a
n)
ne (s
n)
ncujos termos est˜ ao ligados pelas rela¸c˜ oes
s
n=
n
X
k=1
a
k= a
1+ a
2+ a
3+ . . . + a
ncada s
n´ e chamado de n-´ esima soma parcial da s´ erie e a
n´ e seu termo geral da s´ erie.
Defini¸ c˜ ao 1.10. Dada uma s´ erie
∞
X
n=1
a
n, se a sequˆ encia das somas parciais (s
n)
ncon- vergir para s diremos que a s´ erie converge e escrevemos
s =
∞
X
n=1
a
n.
Caso a sequˆ encia das somas parciais n˜ ao convirja, diremos que a s´ erie diverge.
Defini¸ c˜ ao 1.11. Seja (a
n)
n≥0, uma sequˆ encia num´ erica dada, e seja x
0um n´ umero
real dado. A s´ erie
∞
X
n=0
a
n(x − x
0)
n= a
0+ a
1(x − x
0) + a
2(x − x
0)
2+ . . . + a
n(x − x
0)
n+ . . .
denomina-se s´ erie de potˆ encia, com coeficientes a
n, centrada em x
0.
1.2.2 Convergˆ encia das S´ eries de Potˆ encias
O Teorema 1.6 a seguir nos fornece uma condi¸c˜ ao necess´ aria para que uma s´ erie convirja.
Teorema 1.6. Se uma s´ erie
∞
X
n=1
a
nconverge, ent˜ ao lim a
n= 0.
Demonstra¸ c˜ ao. Como a s´ erie
∞
X
n=1
a
n´ e convergente, considerando
s
n= a
1+ a
2+ a
3+ . . . + a
n.
Existe S = lim s
n. Da mesma forma, S = lim s
n−1. Como a
n= s
n− s
n−1, segue que lim a
n= 0.
Note que a rec´ıproca do Teorema 1.6 n˜ ao ´ e verdadeira. Pois, por exemplo a s´ erie
+∞
X
n=1
1
n (s´ erie harmˆ onica) ´ e divergente, veja a demonstra¸c˜ ao em [14] , mesmo tendo lim a
n= 0.
Da mesma forma que operamos com n´ umeros reais (opera¸c˜ oes alg´ ebricas em R ), operamos com s´ eries convergentes. O Teorema 1.7 a seguir nos permite relacionar s´ eries convergentes como se fossem somas finitas.
Teorema 1.7. Sejam
∞
X
n=1
a
ne
∞
X
n=1
b
ns´ eries convergentes, e k um n´ umero real qualquer.
Ent˜ ao s˜ ao v´ alidas (i) a s´ erie
∞
X
n=1
ka
nconverge e
∞
X
n=1
ka
n= k
∞
X
n=1
a
n;
(ii) a s´ erie
∞
X
n=1
(a
n+ b
n) converge e
∞
X
n=1
(a
n+ b
n) =
∞
X
n=1
a
n+
∞
X
n=1
b
n.
Demonstra¸ c˜ ao. (i) Por hip´ otese, a s´ erie
∞
X
n=1
a
n´ e convergente. Assim, seja s
na soma parcial de
∞
X
n=1
a
n, ou seja,
s
n= a
1+ a
2+ a
3+ . . . + a
n1. Sequˆ encias e S´ eries
e existe lim s
n= S.
Seja t
na soma parcial da s´ erie P
ka
n, onde k um n´ umero real qualquer. Assim, temos que
t
n= ka
1+ ka
2+ ka
3+ · · · + ka
n= ks
ne por isso, temos
lim t
n= lim ks
n= k lim s
n⇒ lim t
n= kS.
Portanto, segue o resultado.
(ii) De forma an´ aloga ao item (i).
Teorema 1.8 (Teste de Compara¸c˜ ao). Sejam
∞
X
n=1
a
ne
∞
X
n=1
b
ns´ eries de termos n˜ ao negativos (a
n≥ 0 e b
n≥ 0). Se existe c > 0, tal que a
n≤ c · b
n, ∀n ∈ N , podemos afirmar que
(i) Se
∞
X
n=1
b
nconverge, ent˜ ao
∞
X
n=1
a
nconverge;
(ii) Se
∞
X
n=1
a
ndiverge, ent˜ ao
∞
X
n=1
b
ndiverge.
Demonstra¸ c˜ ao. Sejam (s
n)
ne (t
n)
nas sequˆ encias das somas parciais de
∞
X
n=1
a
ne
∞
X
n=1
b
n. a
j< cb
jpara todo j ∈ N , implica que s
n< ct
npara todo n ∈ N . Temos:
(i) se
∞
X
n=1
b
nconverge, ent˜ ao (t
n)
n´ e limitada e como c > 0 temos que (s
n) ´ e limitada.
Por hip´ otese a
n≥ 0, isto garante que (s
n)
n´ e n˜ ao-decrescente. Pelo Teorema 4, p. 25 de [8], a s´ erie
∞
X
n=1
a
nconverge.
(ii) Se
∞
X
n=1
a
ndiverge, como a
n≥ 0 a sequˆ encia (s
n)
n´ e n˜ ao decrescente, ent˜ ao pelo Teorema 4, p. 25 de [8], a sequˆ encia (s
n)
nn˜ ao ´ e limitada. Pela desigualdade s
n≤ ct
ne c > 0 conclu´ımos que (t
n)
nn˜ ao ´ e limitada e portanto n˜ ao pode ser convergente. Segue que
∞
X
n=1
b
ndiverge.
No Teorema 1.8, podemos substituir a hip´ otese de a
n≤ cb
npara todo n ∈ N por a
n≤ cb
npara n suficientemente grande. A demonstra¸c˜ ao do teorema considerando esta nova hip´ otese ´ e an´ aloga a demonstra¸c˜ ao feita.
Teorema 1.9 (Teste da Raz˜ ao). Seja
∞
X
n=1
a
numa sequˆ encia de termos positivos, tal que exista lim a
n+1a
ne que esse limite seja L. Ent˜ ao,
(i) se L < 1, ent˜ ao a s´ erie converge;
(ii) se L > 1 ou L = +∞, ent˜ ao a s´ erie diverge.
Demonstra¸ c˜ ao. (i) Se lim a
n+1a
n= L < 1, ent˜ ao dada uma constante c, com L < c < 1, existe um n´ umero n
0, tal que a
n+1a
n< c, ∀ n ∈ N , n ≥ n
0. Assim, temos que : a
n0+1< ca
n0, a
n0+2< ca
n0+1< c
2a
n0, a
n0+3< ca
n0+2< c
3a
n0, . . . ,
desse modo, em geral, a
n0+j< c
ja
n0, para j = 1, 2, 3, . . .. Pelo Teorema 1.8 (compa- rando com uma s´ erie geom´ etrica convergente), a s´ erie P
a
nconverge.
(ii) Se lim a
n+1a
n= L > 1, ent˜ ao dada uma constante c, com 1 < c < L, existe um n´ umero n
0, tal que a
n+1a
n> c, ∀ n ∈ N , n ≥ n
0. Assim, temos que :
a
n0+1> ca
n0, a
n0+2> ca
n0+1> c
2a
n0, a
n0+3> ca
n0+2> c
3a
n0, . . . ,
desse modo, em geral, a
n0+j> c
ja
n0, para j = 1, 2, 3, . . .. Pelo Teorema 1.8 (compa- rando com uma s´ erie geom´ etrica divergente), a s´ erie P
a
ndiverge.
Teorema 1.10 (Teste da Raiz). Seja n
0∈ N e
∞
X
n=1
a
numa s´ erie, tal que a
n≥ 0, ∀n ∈ N , n ≥ n
0. Suponha que lim √
na
n= L. Ent˜ ao:
(i) se L < 1, ent˜ ao a s´ erie converge;
(ii) se L > 1 ou L = +∞, ent˜ ao a s´ erie diverge.
Demonstra¸ c˜ ao. (i) Se lim √
na
n= L < 1, ent˜ ao existe uma constante c, real positiva, tal que √
na
n< c < 1, para todo n suficientemente grande. Logo, a
n< c
n, para todo n suficientemente grande. Comparando com a s´ erie geom´ etrica P
c
j, que converge porque c < 1 , pelo Teorema 1.8, a s´ erie
∞
X
n=0
a
nconverge.
(ii) Se lim
n→+∞
√
na
n= L > 1, ent˜ ao existe uma constante c, real positiva, tal que √
na
n>
c > 1, para todo n suficientemente grande. Logo, a
n> c
n, para todo n suficientemente grande. Pelo Teorema 1.8, a s´ erie
∞
X
n=0
a
ndiverge.
Cap´ıtulo 2
Fun¸ c˜ oes Geradoras
Neste cap´ıtulo definiremos as fun¸c˜ oes geradoras ordin´ arias e apresentaremos suas principais propriedades na Se¸c˜ ao 2.1. E na Se¸c˜ ao 2.2 apresentamos solu¸c˜ oes de re- corrˆ encias lineares via fun¸c˜ oes geradoras. Os resultados deste cap´ıtulo s˜ ao baseados nos livros [6], [11] e [16].
2.1 Fun¸ c˜ oes Geradoras Ordin´ arias
Nesta se¸c˜ ao definiremos as fun¸c˜ oes geradoras ordin´ arias. Esta ´ e a principal ferra- menta para a resolu¸c˜ ao de problemas de contagem em que a ordem dos elementos n˜ ao
´ e relevante, ou seja, problemas de combina¸c˜ oes simples e combina¸c˜ oes completas.
Defini¸ c˜ ao 2.1. Seja (a
n)
numa sequˆ encia de n´ umeros reais. A s´ erie G(x) =
∞
X
n=0
a
nx
n´ e chamada de fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria e os coeficientes da fun¸c˜ ao geradora nos fornece a solu¸c˜ ao de um problema de contagem.
Exemplo 2.1. Considere n como um n´ umero inteiro positivo. Considere a
r=
nr, para r = 0, 1, 2, 3, . . . , r . Qual a fun¸c˜ ao geradora da sequˆ encia a
0, a
1, . . . , a
r?
A fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria para essa sequˆ encia ´ e a seguinte f (x) =
n 0
+
n 1
x +
n 2
x
2+ · · · + n
n
x
nque do Teorema A.4 sabemos que ´ e o desenvolvimento de (1 + x)
n. Tamb´ em ´ e equi- valente ao problema de encontrar o n´ umero de maneiras de retirarmos r objetos de um conjunto de n objetos distintos. O coeficiente
n0que est´ a associado a x
0significa que n˜ ao foi retirado nenhum objeto, o coeficiente
n1que est´ a associado a x significa que foi retirado um objeto e continuando com este racioc´ınio, o coeficiente
nnx
nest´ a
associado a x
nsignifica que foram retirados n objetos.
Exemplo 2.2. Neste exemplo encontraremos a fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria f (x) para sequˆ encia de Lucas F
n+2= F
n+1+ F
n, com F
1= 1 e F
2= 3.
Os primeiros termos da sequˆ encia de Lucas s˜ ao : 1, 3, 4, 7, 11, 18, . . .. Temos, ent˜ ao que a fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria para essa sequˆ encia ´ e
f (x) = x + 3x
2+ 4x
3+ 7x
4+ 11x
5+ 18x
6+ · · · .
2.1.1 Determina¸ c˜ ao dos Coeficientes
Nesta se¸c˜ ao, discutiremos as principais formas de calcularmos os coeficientes de uma fun¸c˜ ao geradora. Note que, da Defini¸c˜ ao 2.1, temos que uma fun¸c˜ ao geradora ordin´ aria ´ e uma fun¸c˜ ao polinomial de grau n. Do c´ alculo diferencial e integral temos que fun¸c˜ oes polinomiais s˜ ao deriv´ aveis e integr´ aveis.
Teorema 2.1. Sendo f(x) e g(x) as fun¸ c˜ oes geradoras das sequˆ encias (a
r)
re (b
r)
r, respectivamente, e A, B ∈ R , temos:
(i) Af (x) + Bg(x) ´ e a fun¸ c˜ ao geradora para a sequˆ encia (Aa
r+ Bb
r)
r; (ii) f (x) · g(x) =
∞
X
n=0 n
X
k=0
(a
kb
n−k)
! x
k;
(iii) A fun¸ c˜ ao geradora para (a
0+ a
1+ · · · + a
r)
r´ e igual (1 + x + x
2+ · · · )f (x).
(iv) A fun¸ c˜ ao geradora para (ra
r)
r´ e igual a xf
0(x), onde f
0(x) ´ e a derivada de f com rela¸ c˜ ao a x;
(v) Z
f (x)dx =
∞
X
n=0
a
nn + 1 x
n+1, n 6= −1.
Demonstra¸ c˜ ao. Sejam f (x) =
∞
X
k=0
a
kx
ke g(x) =
∞
X
k=0
b
kx
kfun¸c˜ oes geradoras para as sequˆ encias (a
r) e (b
r), respectivamente, temos (i)
Af (x) + Bg(x) = A(a
0+ a
1x + a
2x
2+ · · · ) + B(b
0+ b
1x + b
2x
2+ · · · )
= (Aa
0+ Bb
0) + (Aa
1+ Bb
1)x + (Aa
2+ Bb
2)x
2+ · · ·
=
∞
X
k=0
(Aa
k+ Bb
k)x
k.
2. Fun¸c˜ oes Geradoras
Portanto, Af (x) + Bg(x) ´ e uma fun¸c˜ ao geradora para a sequˆ encia (Aa
r+ Bb
r).
(ii) Note que
f (x)g(x) = (a
0b
0) + (a
0b
1+ a
1b
0)x + · · · + (a
0b
n+ a
1b
n−1+ · · · + a
nb
0)x
n+ · · ·
=
∞
X
n=0 n
X
k=0
(a
kb
n−k)
! x
n.
(iii) Fazendo b
r= 1, do item (ii), temos f (x)g(x) =
∞
X
n=0 n
X
k=0
(a
k· 1)
! x
n=
∞
X
n=0 n
X
k=0
(a
k)
! x
nPortanto, segue o resultado.
(iv ) Sendo f
0(x) =
∞
X
r=1
ra
rx
r−1, segue que
xf
0(x) =
∞
X
r=1
ra
rx
rLogo, segue o resultado.
(v ) ´ E imediato, da integra¸c˜ ao de fun¸c˜ oes polinomiais.
O Teorema 2.2 a seguir, que ´ e uma generaliza¸c˜ ao do Teorema A.4, ´ e muito ´ util na determina¸c˜ ao de coeficientes de fun¸c˜ oes geradoras.
Teorema 2.2 (Teorema Binomial Generalizado). Seja u um n´ umero real qualquer.
Assim, temos (1 + x)
u=
u 0
+
u 1
x +
u 2
x
2+ · · · + u
k
x
k+ · · · =
∞
X
k=0
u k
x
konde
u k
=
u(u − 1)(u − 2) . . . (u − k + 1)
k! , se k > 0
1, se k = 0
Demonstra¸ c˜ ao. Ver [14].
Exemplo 2.3. Usaremos o Teorema 2.2 a sequˆ encia cuja fun¸c˜ ao geradora ´ e dada por:
g(x) = 1 (1 − x)
4. Note que g(x) = 1
(1 − x)
4= (1 − x)
−4. Aplicando o Teorema 2.2, temos (1− x)
−4= 1 + (−4) · (−x) + (−4)(−4 − 1)
2 (−x)
2+ (−4)(−4 − 1)(−4 − 2)
3 · 2 (−x)
3+ · · · , ou seja,
(1 − x)
−4= 1 + 4x + 10x
2+ 20x
3+ 35x
4+ 56x
5+ 84x
6+ 120x
7+ · · · .
Portanto, g(x) ´ e a fun¸c˜ ao geradora da sequˆ encia (a
r) = (1, 4, 10, 20, 35, 56, 84, 120, . . .).
Teorema 2.3. (i) Seja a
ro coeficiente de x
rna fun¸ c˜ ao geradora ordin´ aria g(x) = (1 + x + x
2+ x
3+ · · · )
n,
ent˜ ao a
r=
r+n−1r; (ii) (1 − x
m)
n= 1 −
n1x
m+
n2x
2m− · · · + (−1)
nx
nm(iii) (1 + x + x
2+ x
3+ · · · + x
m−1)
n= (1 − x
m)
n(1 + x + x
2+ · · · )
n. Demonstra¸ c˜ ao. (i) Suponha que |x| < 1. Ent˜ ao, temos que
∞
X
k=0
x
k= 1
1 − x , ou seja,
(1 + x + x
2+ x
3+ . . .)
n= 1
1 − x
n= (1 − x)
−n. Agora, no Teorema 2.2 substituindo x por −x e u por −n, temos
(1 − x)
−n=
∞
X
r=0
−n r
(−x)
r=
∞
X
r=0
−n r
(−1)
rx
r, (2.1)
2. Fun¸c˜ oes Geradoras
onde
−n r
= (−n)(−n − 1)(−n − 2) . . . (−n − r + 1) r!
= (−1)
r(n)(n + 1)(n + 2) . . . (n + r − 1) r!
= (−1)
r(n + r − 1) . . . (n + 1)n(n − 1)!
r!(n − 1)!
= (−1)
rn + r − 1 r
Substituindo em (2.1), temos
g(x) = (1 + x + x
2+ x
3+ · · · )
n=
∞
X
r=0
n + r − 1 r
x
rPortando, a
r=
n+r−1r. (ii) No desenvolvimento ,
(1 + t)
n= n
0
+ n
1
t + n
2
t
2+ n
3
t
3+ · · · + n
n
t
nFa¸ca t = (−x
m), (1 − x
m)
n=
n 0
+
n 1
(−x
m) + n
2
(−x
m)
2+ n
3
(−x
m)
3+ · · · + n
n
(−x
m)
n(1 − x
m)
n= 1 −
n 1
x
m+
n 2
x
2m−
n 3
x
3m+ · · · + (−1)
nx
mnPortanto, segue o resultado.
(iii) Note que 1 + x + x
2+ x
3+ · · · + x
m−1= (1 − x
m)(1 + x + x
2+ x
3+ · · · ). Elevando, ambos os membros, a n temos,
(1 + x + x
2+ x
3+ · · · + x
m−1)
n= (1 − x
m)
n(1 + x + x
2+ x
3+ · · · )
nPortanto, segue o resultado.
Exemplo 2.4. Encontraremos o coeficiente de x
27em (x
3+ x
4+ x
5+ · · · )
6. Note que
(x
3+ x
4+ x
5+ · · · )
6= [x
3(1 + x + x
2+ x
3+ · · · )]
6,
ou seja, (x
3+ x
4+ x
5+ . . .)
6= x
18· (1 + x + x
2+ . . .)
6. Considerando |x| < 1, temos
que 1 + x + x
2+ x
3+ . . . = 1
1 − x . Assim,
(x
3+ x
4+ x
5+ . . .)
6= x
18· (1 − x)
−6.
Como queremos o coeficiente de x
27, temos que o fator (1−x)
−6deve contribuir com x
9. Nesse exemplo, n˜ ao ´ e vi´ avel aplicarmos o Teorema 2.2, pois s˜ ao necess´ arios muitos c´ alculos para encontrarmos o coeficiente de x
9. Usando o Teorema 2.3-(i), teremos o coeficiente de forma mais r´ apida. Assim, temos
a
r=
r + n − 1 r
=
9 + 6 − 1 9
= 14
9
⇒ a
9= 2002.
Logo, o coeficiente de x
27´ e 2002.
2.2 Resolu¸ c˜ ao de Rela¸ c˜ oes de Recorrˆ encia Usando Fun¸ c˜ oes Geradoras
Nesta se¸c˜ ao apresentarmos um algoritmo que nos possibilitar´ a resolvermos rela¸c˜ oes de recorrˆ encias usando fun¸c˜ oes geradoras ordin´ arias. Para mais detalhes consultem [16].
Sejam (a
n)
ne G(x) =
∞
X
n=0
a
nx
na sequˆ encia que gera os coeficientes e a fun¸c˜ ao geratriz, respectivamente. A resolu¸c˜ ao por fun¸c˜ oes geradoras ´ e feita em quatro passos.
Seguem os passos:
1. Escreva uma ´ unica equa¸c˜ ao que expresse a
nem termos de outros elementos da sequˆ encia. Esta equa¸c˜ ao deve ser v´ alida para todos os inteiros n;
2. Multiplique ambos os lados da equa¸c˜ ao por x
n. Somando-se todas as equa¸c˜ oes e fazendo as manipula¸c˜ oes necess´ arias para obtemos alguma outra express˜ ao en- volvendo G(x);
3. Resolva a equa¸c˜ ao resultante, obtendo uma forma fechada para G(x).
4. Expanda G(x) em uma s´ erie de potˆ encias e leia os coeficientes de x
n; esta ´ e uma
forma fechada para a
n.
2. Fun¸c˜ oes Geradoras
Exemplo 2.5. Resolveremos, usando fun¸c˜ oes geradoras, a seguinte recorrˆ encia
F
n+1= 2F
n+ 1, F
1= 2, n > 1. (2.2) Seja G(x) = F
1+ F
2x + F
3x
2+ · · · + F
nx
n−1+ · · · =
∞
X
k=1
F
kx
k−1uma fun¸c˜ ao geratriz para a recorrˆ encia (2.2), e suponha |x| < 1. Assim, temos
n = 1 ⇒ F
2x = 2F
1x + x n = 2 ⇒ F
3x
2= 2F
2x
2+ x
2n = 3 ⇒ F
4x
3= 2F
3x
3+ x
3.. .
F
n+1x
n= 2F
nx
n+ x
nSomando ordenadamente as equa¸c˜ oes, temos
F
2x + F
3x
2+ · · · = 2(F
1x + F
2x
2+ · · · ) + x(1 + x + x
2+ · · · ), ou seja, ap´ os todas as manipula¸c˜ oes alg´ ebricas e simplifica¸c˜ oes
G(x) = 2
1 − 2x + x
(1 − x)(1 − 2x) . (2.3)
A decomposi¸c˜ ao em fra¸c˜ oes parciais para a segunda parcela ´ e a seguinte, x
(1 − x)(1 − 2x) = −1
1 − x + 1 1 − 2x Substituindo em (2.3), temos
G(x) = 3
1 − 2x − 1
1 − x . (2.4)
Agora, usando as formas expandidas determinaremos os coeficientes. Note que 1
1 − x = 1 + x + x
2+ x
3+ · · · =
∞
X
k=0
x
k, ou seja, o n-´ esimo coeficiente ´ e 1. E que 1
1 − 2x = 1 + (2x) + (2x)
2+ (2x)
3+ · · · =
∞
X
k=0