• Nenhum resultado encontrado

ECLI:PT:TRG:2015: TBEPS.A.G1.1E

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "ECLI:PT:TRG:2015: TBEPS.A.G1.1E"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

ECLI:PT:TRG:2015:793.13.5TBEPS.A.G1.1E

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRG:2015:793.13.5TBEPS.A.G1.1E

Relator Nº do Documento

António Sobrinho rg

Apenso Data do Acordão

16/04/2015

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público

Meio Processual Decisão

Apelação improcedente

Indicações eventuais Área Temática

1ª Cível

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

simulação; interposição fictícia de pessoa; compra e venda; doação; dissimulação;

(2)

Sumário:

I - Havendo simulação por interposição fictícia de pessoa, para que o contrato dissimulado seja válido (seja na compra e venda, seja na doação) devem nele constar declarações negociais

atribuídas à contraente real (seja como compradora, seja como doadora), sob pena de o respectivo documento não observar a forma exigida por lei quanto ao negócio dissimulado.

II – Não tendo intervindo a compradora real/doadora, o encontro de vontades inerente à realização do negócio dissimulado não se estabeleceu entre a doadora e o donatário (dissimulados).

Decisão Integral:

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães:

I – Relatório;

Apelante: AA (autora);

Apelados: BB, CC e Outra (réus);

A autora AA instaurou a presente acção sob a forma de processo ordinário contra os Réus BB e Outros, pedindo a declaração de nulidade de um contrato de compra venda celebrado entre a ré Construções DD, Lda. e o réu BB, tendo por objecto uma fracção autónoma de prédio urbano, melhor identificada na petição inicial, cujo teor se dá por aqui por reproduzido integralmente, alegando que estes não quiseram celebrar tal negócio, mas sim um contrato de compra e venda entre a ré Construções DD, Lda. e EE, entretanto falecida (avó da autora e do réu Jorge), e posteriormente uma doação entre esta e o réu BB.

Para além da nulidade, pretende a autora que prevaleça a compra e venda dissimulada pelo negócio nulo, e a declaração de que a fracção autónoma em questão pertence à autora e ao réu BB em comum, por serem herdeiros da falecida EE, além o registo desta aquisição em comum, em conformidade.

Em reconvenção, o réu BB, acolhe os fundamentos da autora quanto à invocada simulação, mas pretende que prevaleçam a compra e venda e também a doação dissimuladas pelo negócio nulo, e seja declarado que a fracção autónoma em questão pertence ao réu BB em consequência de doação e não de compra e venda, e a rectificação da inscrição do registo de aquisição a seu favor em conformidade.

Foi proferido despacho saneador onde se conheceu de parte dos pedidos, ou seja dos relativos ao negócio alegadamente dissimulado, designadamente do pedido reconvencional, sendo proferida decisão do seguinte teor:

«A) Julgar improcedente o pedido da autora no sentido de declarar que a escritura de compra e venda outorgada em 19/01/2004 e exarada fls. 87 e ss. do livro n.º231-E, encobre e titula um contrato de compra e venda da fracção autónoma designada pela letra "N", que faz parte do prédio inscrito na matriz predial urbana da freguesia de Fão, concelho de Esposende, sob o art. ….°, e descrito na Conservatória do Registo Predial de Esposende sob o n.o …/Fão, efectuado entre a sociedade Construções DD, Lda. e EE, e, em consequência, absolver os réus deste pedido;

B) Julgar improcedente o pedido da autora no sentido de declarar que a fracção autónoma em causa integra a herança aberta por óbito de EE, e, em consequência, absolver os réus deste

(3)

pedido;

C) Julgar improcedente o pedido da autora no sentido de declarar que a fracção autónoma em causa pertence em comum e sem determinação de parte ou direito à autora e ao réu BB, e, em consequência, absolver os réus deste pedido;

D) Julgar improcedente o pedido da autora no sentido de ser ordenado o registo de aquisição da fracção em causa a favor da herança aberta por óbito de EE ou em comum e sem determinação de parte a favor da autora e ao réu BB, herdeiros legitimários da falecida EE, e, em consequência, absolver os réus deste pedido;

E) Julgar a reconvenção deduzida pelo réu BB totalmente improcedente e, em consequência, absolver a autora reconvinda do pedido».

Inconformada com tal decisão, dela interpôs recurso de apelação a autora, em cuja alegação formula, em súmula, as seguintes conclusões:

1- A situação dos autos não constitui simulação por fictícia de pessoas, como entendido pelo Mmo.

Juiz, antes uma simulação por eliminação ou supressão sujeitos, o que são situações distintas.

2 - Sendo a autora herdeira legitimária do verdadeiro comprador da fracção N, EE, e tendo esta falecido, tem a autora direito a ver declarado que a escritura simulada titula um contrato de compra e venda entre a sociedade vendedora e a referida EE.

3- Sendo a verdadeira compradora a referida EE e tendo esta entretanto falecido, a autora tem legitimidade para pedir que se declare que a fracção N integra a herança aberta por óbito da

referida EE e que a mesma pertence em comum e sem determinação de parte ou direito à autora e ao 1º réu marido, seus herdeiros legitimários.

4- Podendo os herdeiros legitimários agir em vida do autor da sucessão negócio por ele

simuladamente feito com o intuito de os prejudicar, também por maioria de razão poderão agir após o seu óbito, nos termos do nº 2 do art. 242 do C.C.

5- Face ao alegado na p.i. e nos demais articulados, não há razão nem fundamento para julgar improcedentes no despacho saneador os pedidos das alíneas b ) , c), f), g) e h) formulados pela A.

na p. i.

6- Os pedidos formulados pela autora sob as alíneas b), c), f), g) e h) da p.i. dependem de prova a produzir, devendo os autos prosseguir para apreciação e decisão dos mesmos.

7- A douta decisão recorrida viola por errada interpretação e aplicação o disposto no art. 242 na 2 CC e 595 na 1 b) do CPC.

Pede que se revogue o decidido no despacho recorrido, sendo substituído por outro que ordene o prosseguimento dos autos para apreciação e decisão de todos os pedidos formulados pela autora na p.i.

Houve contra alegações pela 2ª ré, pugnando pela confirmação do julgado e pedindo a condenação da apelante como litigante de má fé.

II – Delimitação do objecto do recurso; questões a apreciar;

Colhidos os vistos, cumpre apreciar e decidir as questões colocadas pela apelante, sendo certo que o objecto do recurso se acha delimitado pelas conclusões das respectivas alegações, nos termos do artº 639º do Código de Processo Civil (doravante CPC).

(4)

As questões suscitadas são, em suma:

- Validade do negócio dissimulado: declaração de compra e venda entre a sociedade vendedora e a compradora EE;

- Integração do bem transmitido na herança aberta por óbito da dita compradora;

- Declaração de reconhecimento de tal bem pertence em comum à autora e ao 1ºréu BB.

III – Fundamentos;

1.De facto;

A factualidade relevante em termos jurídico-processuais é a referida no Relatório I supra.

2.De direito;

- Validade do negócio dissimulado: declaração de compra e venda entre a sociedade vendedora e a compradora EE;

- Integração do bem transmitido na herança aberta por óbito da dita compradora;

- Declaração de reconhecimento de tal bem pertence em comum à autora e ao 1ºréu BB.

Suscita a recorrente a existência de erro de direito na decisão recorrida, ao julgar improcedentes os pedidos das alíneas b), c), f), g) e h) da petição inicial, correspondentes às alíneas A), B), C) e D) da parte dispositiva da decisão, com o fundamento de que não está em causa uma simulação por interposição fictícia de pessoas, mas antes por supressão de sujeitos, que lhe assiste, enquanto herdeira legitimária da falecida EE, o direito de ver declarado que a escritura simulada titula um contrato de compra e venda entre a sociedade vendedora e a dita Palmira, que esse bem imóvel integra a herança aberta por óbito da mesma e que tem legitimidade para tal, mesmo após a sua morte.

No caso concreto, perante a pretensão da autora e réu reconvinte, configura-se uma situação de simulação relativa, em que as partes (a 3ª ré, sociedade vendedora, e o 1º réu BB, comprador, fingem celebrar uma compra e venda de um imóvel, quando na realidade se queria um ou mais negócios de tipo e conteúdo diversos. Ou seja, segundo a autora, o negócio ou negócios

dissimulados, reais ou latentes, respeitariam a uma compra e venda da 3ª Ré à referida EE e concomitantemente de uma doação desta ao réu BB, com o intuito de a (à demandante) enganar, subtraindo à futura partilha dos seus bens tal imóvel, prejudicando a legítima da autora.

Configura-se, assim, uma situação, não só de simulação subjectiva ou dos sujeitos (o réu BB surge como pessoa interposta ficticiamente no negócio da venda à dita EE), como de simulação objectiva ou sobre o conteúdo do negócio (o negócio dissimulado é o de uma doação desse imóvel ao dito réu BB com vista a afastar esse bem da herança da aludida EE, diminuindo assim a legítima da autora).

Desde logo, no que concerne ao negócio da compra e venda, cabe dizer que a alegada simulação não consiste na supressão de um sujeito real (a dita EE), mas antes na intervenção de um sujeito aparente, fictício, o réu BB.

Por outro lado, por via do objecto do recurso, coloca-se a questão dos efeitos desta simulação relativa.

Isto é: sendo a venda fictícia ou simulada da 3ª ré (sociedade vendedora) ao réu Jorge, esta estará

(5)

ferida de nulidade, nos termos do artº 240º, nº2, do Código Civil (CC).

E quanto ao negócio ou negócios disfarçados ou dissimulados (venda à EE e doação desta ao réu BB)?

O negócio real ou dissimulado será objecto de tratamento jurídico que lhe caberia se tivesse sido concluído sem dissimulação – é o que resulta do disposto no artº 241º, nº1 do CC.

Ou seja, a validade do negócio dissimulado não é prejudicada pela nulidade do negócio simulado.

Todavia, o nº2 do citado artº 241º, do CC, preceitua que “se, porém, o negócio dissimulado for de natureza formal, só é válido se tiver sido observada a forma exigida por lei”.

Segundo Mota Pinto, in Teoria Geral do Direito Civil, 3ª Ed., pág. 479, o Código Civil,

designadamente o apontado preceito do artº 241º, consagrou – posição que o próprio também defende - a solução da nulidade do negócio dissimulado, conforme o entendimento mais restrito e plasmado no Assento de 23 de Julho de 1952 e defendido por Beleza dos Santos, no sentido de que a o negócio dissimulado só é válido se for observada a forma exigida ( no sentido de que de que declaração deve corresponder minimamente ao texto do documento ou vontade das partes – cfr. artº 238º, do CC), não se satisfazendo as razões de formalismo com a mera observância das solenidades do negócio simulado.

“É que a exigência da escritura pública não visa apenas dar a conhecer com certeza plena a transmissão dos bens, mas também a causa da transmissão (venda, doação, etc.)” (sublinhado nosso) Mota Pinto, in Teoria Geral do Direito Civil, 3ª Ed., nota (1) da pág. 480., Em sentido diverso, Pires de Lima-Antunes Varela, Código Civil Anotado, pág. 228-nota 1..

Reportando-nos ao caso concreto, configura-se, quanto à compra e venda, uma simulação por interposta pessoa (o réu BB), não sendo o acto dissimulado (a venda à EE) válido porque esta, enquanto pessoa a quem a coisa deveria ser transmitida, não interveio na escritura.

Pela mesma razão, quanto à doação dissimulada (ao réu BB), não é a mesma válida, dada a falta de intervenção da pessoa que deveria doar o imóvel.

Dito de outro modo, in casu, não basta a argumentação de que, quer na compra e venda de imóvel (negócio simulado), quer na doação de imóvel (negócio dissimulado) mostra-se observada a

exigência legal de celebração de escritura pública.

Antes, exigia-se que do contrato dissimulado (seja na compra e venda, seja na doação) constassem declarações negociais atribuídas à contraente real, a referida EE (seja como

compradora, seja como doadora), razão por que o respectivo documento não observou a forma exigida por lei quanto ao negócio dissimulado.

Não tendo intervindo a dita EE, parece-nos evidente que o encontro de vontades inerente à realização do negócio dissimulado não se estabeleceu entre a doadora e o donatário

(dissimulados).

Tão pouco emerge do conteúdo da escritura em causa qualquer encontro de vontades entre a sociedade vendedora e a real compradora (a tal EE), o que é a essência da compra e venda

dissimulada. Neste sentido vide Acórdãos do STJ de 23-11-2011, proc. 83/09.2TBLMG.P1.S1, e de 19-11-2003, proc. 04A1442, in dgsi..pt

Decorre do exposto que jamais o dito negócio dissimulado – transmissão do bem imóvel da sociedade vendedora para a falecida EE – pode ser considerado válido e, como tal, integrar o acervo hereditário da mesma.

Assim, é de sufragar a decisão recorrida.

Não procede, pois, a apelação da autora.*3. Incidente da litigância de má fé;

(6)

Suscita a recorrida, 2ª ré e ex-mulher do 1º réu BB, o incidente da litigância de má fé por parte da apelante com o fundamento de que existe conluio entre a autora e o réu BB, seu irmão com o único intuito de impedir que o bem em causa – correspondente à fracção “N” do imóvel – seja partilhado entre si e o aludido BB.

Os pressupostos da litigância da má fé processual encontram-se definidos no artº 542º do CPC.

Nesta fase processual e face à materialidade acima enunciada, os autos não contêm ainda todo o circunstancialismo fáctico necessário à avaliação da conduta processual da recorrente para tal condenação.

A improcedência daqueles pedidos plasmada na decisão e ora confirmada atém-se sobretudo a razões de erro de direito, numa perspectiva doutrinal ou jurisprudencial.

Daí que a valoração da actuação da autora, como litigante de má fé, possa vir a ter pertinência, aquando da prolação da sentença, sendo-o agora prematuro.

Pelo que se deixa exposto, julga-se improcedente tal pedido.

Sintetizando:

I - Havendo simulação por interposição fictícia de pessoa, para que o contrato dissimulado seja válido (seja na compra e venda, seja na doação) devem nele constar declarações negociais

atribuídas à contraente real (seja como compradora, seja como doadora), sob pena de o respectivo documento não observar a forma exigida por lei quanto ao negócio dissimulado.

II – Não tendo intervindo a compradora real/doadora, o encontro de vontades inerente à realização do negócio dissimulado não se estabeleceu entre a doadora e o donatário (dissimulados).

IV – Decisão;

Em face do exposto, acordam os Juizes da 1ª Secção Cível deste Tribunal em:

1.Julgar improcedente a apelação da autora, confirmando-se a decisão recorrida;

2.Julgar improcedente o pedido de condenação da recorrente como litigante de má fé.

Custas pela apelante quanto ao recurso.

Custas pela apelada quanto ao incidente.

Guimarães, 16.04.2015 António Sobrinho Isabel Rocha Jorge Teixeira

Página 6 / 6

Referências

Documentos relacionados

Após a queima, para os corpos com a presença do sienito observou-se que os valores de densidade diminuíram (comparados às respectivas densidades a seco), já

־ Uma relação de herança surge quando um objecto também é uma instância de uma outra classe mais geral (exemplo: “automóvel é um veículo”). ־ É sempre possível

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

O número de desalentados no 4° trimestre de 2020, pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditarem que vão encontrar uma vaga, alcançou 5,8 milhões

Não tem informações sobre a sua modificação química e, pelo exposto acima, no presente trabalho tem-se estudado a modificação química deste amido variando a concentração

Os dados experimentais de temperatura na secagem da pêra em estufa a 40 o C estão apresentados na Figura 6, assim como os valores calculados pelo modelo

O objetivo deste trabalho foi avaliar épocas de colheita na produção de biomassa e no rendimento de óleo essencial de Piper aduncum L.. em Manaus