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Ana Beatriz: Verbal, físico e material, psicológico e moral, sexual, virtual(ciberbullying). 4.

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Academic year: 2021

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"BULLYING: Mentes Perigosas nas Escolas" *Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva

1.

O que é bullying?Ana Beatriz:

A palavra bullying ainda é pouco conhecida do grande público. De origem inglesa e sem tradução ainda no Brasil é utilizada para qualificar comportamentosagressivos no âmbito escolar, praticados tanto por meninos quanto meninas.Os atos de violência (física ou não) ocorrem de forma intencional e repetitivacontra um ou mais alunos que se encontram impossibilitados de fazer frente às agressõessofridas. Tais comportamentos não apresentam motivações específicas ou justificáveis. Emúltima instância significa dizer que, de forma “natural” os mais fortes utilizam os maisfrágeis como meros objetos de diversão, prazer e poder com o intuito de maltratar,intimidar, humilhar e amedrontar suas vítimas.

2.

Quando este fenômeno começou a ser estudado?

Ana Beatriz:

O bullying escolar ocorre desde que existe a instituição de ensino. Porém, a partir das décadas de 70-80, passou a ser objeto de estudos científicos nos países escandinavos, em função da violência existente entre estudantes e suasconsequências no âmbito escolar. No final de 1982, o norte da Noruega foi palco de umacontecimento dramático, onde três crianças com idade entre 10 e 14 anos se suicidarampor terem sofrido maus-tratos pelos seus colegas de escola. Nesta época, Dan Olweus,pesquisador norueguês, iniciou grandes pesquisas que envolveram alunos de vários níveisescolares, pais e professores, e culminaram em campanhas antibulying em várias partes domundo.

3.

Quais são as formas de bullying?

Ana Beatriz:

Verbal, físico e material, psicológico e moral, sexual, virtual(ciberbullying). 4.

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Quais são os principais problemas que uma vítima de bullying podeenfrentar na escola e ao longo da vida?Ana Beatriz:

As consequências são as mais variadas possíveis e dependemmuito de cada indivíduo, da sua estrutura, vivências, pré-disposição genética, da forma eintensidade das agressões. No entanto, todas as vítimas, sem exceção, sofrem com osataques de bullying (em maior ou menor proporção). Muitas levarão marcas profundasprovenientes das agressões para vida adulta, e necessitarão de apoio psiquiátrico e/oupsicológico para a superação do problema.Os problemas mais comuns que observo em consultório são: desinteresse pelaescola; problemas psicossomáticos; problemas psíquicos/comportamentais como transtornodo pânico, depressão, anorexia e bulimia, fobia escolar, fobia social, ansiedade generalizada,entre outros. O bullying também pode agravar problemas pré-existentes, devido ao tempo

Livro:

"BULLYING: MentesPerigosas nas Escolas” Autora:

Dra. Ana Beatriz BarbosaSilva Editora:

Objetiva/Fontanar

Rua General Venâncio Flores, 305 - Salas 605 e 606, Leblon - Rio de Janeiro - RJ. 22441-090 / Telefax: (21) 2259-5451 | 2512-2242 | 2512-4544Alameda Lorena, 638 - Conj. 23 e 24, Jardim Paulista - São Paulo - SP. 01424-000 / Telefones: (11) 3663-4445 | 3662-3862 | 3052-3717

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prolongado de estresse que a vítima é submetida. Em casos mais graves, podemos observarquadros de esquizofrenia, homicídio e suicídio.

5.

Existe alguma forma de bullying que seja mais maléfica, ou seja, quepode provocar danos ainda maiores à vítima?Ana Beatriz:

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Uma das formas mais agressivas de bullying, que ganha cadavez mais espaços sem fronteiras é o ciberbullying ou bullying virtual. Os ataques ocorrematravés de ferramentas tecnológicas como celulares, filmadoras, máquinas fotográficas,internet e seus recursos (e-mails, sites de relacionamentos, vídeos). Além da propagaçãodas difamações serem praticamente instantâneas, o efeito multiplicador do sofrimento dasvítimas é imensurável. O ciberbullying extrapola, em muito, os muros das escolas e expõe avítima ao escárnio público. Os praticantes dessa modalidade de perversidade também sevalem do anonimato e, sem qualquer constrangimento, atingem a vítima da forma mais vilpossível. Os traumas e consequências advindos do bullying virtual são dramáticos.

6.

Qual o critério adotado pelos ofensores para a escolha da vítima?Ana Beatriz:

Os bullies (agressores) escolhem os alunos que estão em francadesigualdade de poder, seja por uma questão socioeconômica, de idade, de porte físico ouaté porque numericamente estão desfavoráveis. Além disso, as vítimas, de forma geral, jáapresentam algo que destoa do grupo (são tímidas, introspectivas

, nerds

, muito magras, decredo, raça ou orientação sexual diferentes etc.); este fato por si só já as tornam pessoascom baixa autoestima e, portanto, são mais vulneráveis aos ofensores. Não há justificativasplausíveis para a escolha, mas certamente os alvos são aqueles que não conseguem fazerfrente às agressões sofridas. É um ato covarde.

7.

Como podemos perceber quando uma criança ou adolescente estásofrendo bullying? Qual o comportamento típico desses jovens?

Ana Beatriz:

A informação sobre o comportamento de uma vítima deveincluir os diversos ambientes que ela frequenta. Nos casos de bullying é fundamental que ospais e os profissionais da escola se atentem especialmente para os seguintes sinais:

Na Escola:No recreio encontram-se isoladas do grupo, ou perto de alguns adultos quepossam protegê-las; na sala de aula apresentam postura retraída, faltas frequentes às

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aulas,mostram-se comumente tristes, deprimidas ou aflitas; nos jogos ou atividades em gruposempre são as últimas a serem escolhidas ou são excluídas; aos poucos vão sedesinteressando das atividades e tarefas escolares; e em casos mais dramáticos apresentamhematomas, arranhões, cortes, roupas danificadas ou rasgadas.

Em Casa:Frequentemente se queixam de dores de cabeça, enjôo, dor de estômago,tonturas, vômitos, perda de apetite, insônia. Todos esses sintomas tendem a ser maisintensos no período que antecede o horário de as vítimas entrarem na escola. Mudançasfrequentes e intensas de estado de humor, com explosões repentinas de irritação ou raiva.Geralmente elas não têm amigos ou bem poucos; existe uma escassez de telefonemas, e-mails, torpedos, convites para festas, passeios ou viagens com o grupo escolar. Passam agastar mais dinheiro que o habitual na cantina ou com a compra de objetos diversos com ointuito de presentear os outros. Apresentam diversas desculpas (inclusive doenças físicas)com o intuito de faltar às aulas.

8.

E o contrário? O que podemos observar no comportamento de umpraticante de bullying?Ana Beatriz:

Na escola os bullies (agressores) fazem brincadeiras de maugosto, gozações, colocam apelidos pejorativos, difamam, ameaçam, constrangem emenosprezam alguns alunos. Perturbam e intimidam por meio de violência física oupsicológica. Furtam ou roubam dinheiro, lanches e pertences de outros estudantes.Costumam ser populares na escola e estão sempre enturmados. Divertem-se à custa dosofrimento alheio.No ambiente doméstico, mantém atitudes desafiadoras e agressivas emrelação aos familiares. São arrogantes no agir, falar e se vestir, demonstrandosuperioridade. Manipulam pessoas para se safar das confusões em que se envolveram.Costumam voltar da escola com objetos ou dinheiro que não possuíam. Muitos agressores

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mentem, de forma convincente, e negam as reclamações da escola, dos irmãos ou dosempregados domésticos.

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Crianças que praticam bullying têm, necessariamente, traços depsicopatia?Ana Beatriz: Não, porém encontramos uma minoria que apresentam traçospsicopáticos. Os bullies, ou seja, os agentes agressores dentro do fenômeno bullying podemser classificados em diversos grupos:1. Muitos se comportam assim por uma nítida falta de limites em seusprocessos educacionais no contexto familiar.2. Outros carecem de um modelo de educação que seja capaz de associar aautorrealização pessoal com atitudes socialmente produtivas e solidárias. Tais agressoresprocuram nas ações egoístas e maldosas um meio de adquirir poder e status, e reproduzemos paradigmas domésticos na sociedade.3. Existem ainda aqueles que vivenciam dificuldades momentâneas, como aseparação dos pais, ausência de recursos financeiros, doenças crônicas ou terminais nafamília. A violência praticada por esses jovens é um fato novo em seu modo de agir e,portanto, passageiro.4. E, por fim, nos deparamos com a minoria dos opressores, porém a maisperversa. Trata-se de crianças ou adolescentes que apresentam a transgressão como baseestrutural de suas personalidades. Falta-lhes o sentimento essencial para o exercício doaltruísmo: a empatia. Esses jovens sim apresentam traços marcantes de psicopatia,denominado

transtorno da conduta

, com desejos mórbidos em ver o outro sofrer. 10.

O bullying existe mais nas escolas públicas ou particulares?Ana Beatriz:

O bullying existe em todas as escolas, o grande diferencial entreelas é a postura que cada uma tomará frente aos casos de bullying. Por incrível que pareçaos estudos apontam para uma postura mais efetiva contra o bullying entre as escolaspúblicas, que já contam com uma orientação mais padronizada perante os casos(acionamento dos Conselhos Tutelares, Secretarias de Educação etc.). Já nas escolasparticulares, os casos tendem a ser abafados, uma vez que eles podem representar um“aspecto negativo” na boa imagem da instituição privada de ensino.

11.

O praticante de bullying é mais “pensador” ou “executor”?Ana Beatriz:

Na realidade os agressores dentro do fenômeno bullying podemse apresentar das duas formas, ou seja, como o articulador ou como o executor. Em ambosos casos eles são os agentes geradores e propagadores da violência entre os estudantes. Noentanto, uma coisa e

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certa: o bullie “pensador” é bem mais perigoso, pois ele tende a sermaquiavélico, manipulador, dissimulador, mais indiferente. Sua grande covardia está emusar outros estudantes como “soldadinhos” executores de suas maldades, sem que precisemsujar suas mãos ou sua “imagem” perante as autoridades superiores (professores, diretorese pais). 12.

O aluno vítima de bullying normalmente conta aos pais e professoreso que está acontecendo?Ana Beatriz:

As vítimas de bullying se tornam reféns do jogo do poderinstituído pelos agressores. Raramente elas pedem ajuda às autoridades escolares ou aospais. Agem assim, dominadas pela falsa crença de que essa postura é capaz de evitarpossíveis retaliações dos agressores e por acreditarem que, ao sofrerem sozinhos e calados,pouparão seus pais da decepção de ter um filho frágil, covarde e não popular na escola.

13.

O fenômeno bullying começa em casa?Ana Beatriz:

Sim, sem dúvida. Para que os filhos possam ser mais empáticose agir com respeito ao próximo é necessário primeiro rever o que ocorre dentro de casa. Ospais, muitas vezes, não questionam suas próprias condutas e valores, eximindo-se daresponsabilidade de educadores. O exemplo dentro de casa é fundamental. O ensinamentode ética, solidariedade e altruísmo inicia ainda no berço e se estende para o âmbito escolar,onde as crianças e adolescentes passarão grande parte do seu tempo.

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14.

Qual o papel da escola para evitar o bullying escolar?Ana Beatriz:

A escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é nela queos comportamentos agressivos e transgressores se evidenciam ou se agravam na maioriadas vezes. É ali que os alunos deveriam aprender a conviver em grupo, respeitar asdiferenças, entender o verdadeiro sentido da tolerância em seus relacionamentosinterpessoais, que os norteiam para uma vida ética e responsável. Infelizmente, a instituiçãoescolar é o cenário principal dessa tragédia endêmica, que por omissão ou conivência,facilita a sua disseminação. A

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direção da escola (como autoridade máxima da instituição)deve acionar os pais, o Conselho Tutelar, os órgãos de proteção à criança e ao adolescenteetc. Admitir que o bullying ocorre em 100% das escolas do mundo todo (públicas ouprivadas) é o primeiro passo para o sucesso contra essa prática indecorosa. A boa escolanão é aquela onde o bullying não ocorre, mas sim a postura proativa e eficaz que ela temfrente ao problema. 15.

Qual a influência da sociedade atual neste tipo de comportamento?Ana Beatriz: O individualismo, cultura dos tempos modernos, propiciou essaprática, onde o ter

é muito mais valorizado que o ser

, com distorções absurdas de valoreséticos. Vivemos em tempos velozes, com grandes mudanças em todas as esferas sociais.Nesse contexto, a educação tanto no lar quanto na escola se tornou rapidamenteultrapassada, confusa, sem parâmetros ou limites. Os pais passaram a ser permissivos emexcesso e os filhos cada vez mais exigentes, egocêntricos. As crianças tendem a secomportar em sociedade de acordo com os modelos domésticos. Muitos deles não sepreocupam com as regras sociais, não refletem sobre a necessidade delas no convíviocoletivo e sequer se preocupam com as consequências dos seus atos transgressores. Cabe àsociedade como um todo transmitir às novas gerações valores educacionais mais éticos eresponsáveis. Afinal, são estes jovens que estão delineando o que a sociedade será daquiem diante. Auxiliá-los e conduzi-los na construção de uma sociedade mais justa e menosviolenta, é obrigação de todos.

Referências

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