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Dinâmica familiar e vivência da paternidade na meia-idade

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Academic year: 2017

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Programa de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação

Stricto Sensu

em Psicologia

DINÂMICA FAMILIAR E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE NA

MEIA-IDADE

Brasília - DF

2011

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HERON FLORES NOGUEIRA

DINÂMICA FAMILIAR E A VIVÊNCIA DA PATERNIDADE NA MEIA-IDADE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Sticto Sensu da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Professora Doutora Maria Alexina Ribeiro

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Dissertação de autoria de Heron Flores Nogueira, intitulada “Dinâmica familiar e a vivência da paternidade na meia-idade”, apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica de Brasília, defendida e aprovada em 02 de dezembro de 2011, pela Banca Examinadora abaixo assinada:

__________________________________________ Profª. Drª. Maria Alexina Ribeiro

Orientadora

Mestrado em Psicologia – UCB

__________________________________________ Profª. Drª. Maria Aparecida Penso

Mestrado em Psicologia – UCB

__________________________________________ Profª. Drª. Cláudia Cristina Fukuda

Mestrado em Psicologia – UCB

__________________________________________ Profª. Drª. Maria Inês Gandolfo Conceição

Membro Externo – UnB

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

Este trabalho é muito mais do que um trabalho científico, é a realização de um grande ideal. Muitas pessoas foram importantes em cada passo dado na direção da finalização desta obra. Desse modo, agradeço aos responsáveis diretos e indiretos por terem escolhido apostar na minha competência e estarem ao meu lado neste momento tão importante.

Agradeço primeiramente a Deus pela vida e por toda sua sabedoria que tento no dia a dia, com muito sacrifício, pôr em prática.

Aos meus avós, vivos aqui ou em outro lugar, especialmente à “mainha” Ruth pela sua experiência rica de vida, seu apoio e disponibilidade em acreditar no valor da educação.

Aos tios, tias, primos, primas, amigos, amigas e colegas que compreenderam minhas ausências em suas vidas nos momentos de dedicação a esta pesquisa.

Às Professoras Doutoras Maria Aparecida Penso e Cláudia Cristina Fukuda pelas valiosas considerações na ocasião da qualificação deste trabalho que muito ajudaram a finalizá-lo.

Aos professores, funcionários e colegas de mestrado pelo caminho que desbravamos juntos, unidos e dedicados.

À CAPES pela bolsa concedida aos meus estudos no mestrado, sem a qual tornaria muito mais difícil essa trajetória.

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AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Aproveito este momento para fazer os agradecimentos mais que especiais às pessoas que têm um espaço imenso e precioso guardado nas minhas lembranças e no meu coração.

Aos meus pais, Aroldo e Sônia. Simplesmente não existem palavras no vasto vocabulário da linguagem humana capazes de expressar todo amor, toda consideração e todo agradecimento que tenho por vocês. Obrigado por terem me deixado ser criança, ser adolescente e ser adulto. Tudo isso nas horas certas e da melhor maneira que um ser humano é capaz de viver.

Aos meus irmãos, Aroldo Júnior e Núbia, que compartilham comigo as melhores lembranças que guardo da vida: nossa infância!

Às minhas sobrinhas lindas, Karen e Camila, por trazerem à minha vida, uma imensa alegria e a sua mãe, Mirna, minha cunhada.

Ao amigo fiel e paciente Emerson Mendes pela generosidade e companheirismo em todos os momentos.

Às professoras Doutoras Maria Aparecida Penso, Cláudia Cristina Fukuda e Maria Inês Gandolfo Conceição que tão gentilmente aceitaram compor a Banca Examinadora deste trabalho.

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EPÍGRAFE

Diário de um terapeuta

“Das lembranças que trago da infância, uma muito especial, já meio difusa na memória pelo longo tempo, eram das noites que passava na companhia da minha família. A qualquer ameaça de chuva forte ou vento forte a energia elétrica logo desaparecia. Lá no interior era assim. Durante a noite, quando suspeitávamos que a energia ia demorar a voltar, a convite do meu pai, íamos todos os cinco, meus pais, meus dois irmãos e eu, nos amontoar na nossa rede tecida de algodão, pendurada nas mangueiras generosas do nosso quintal, onde eu costumava brincar.

O vento balançava as folhas e galhos das árvores, contrastando com o calor gostoso que nossos corpos produziam dentro do aconchegante ninho. Embalados pelas conversas em família, passávamos horas juntos.

Ali comecei a aprender a alegria da vida, o valor do encontro, da união e a força do amor.

Quase tudo que sei sobre família aprendi com as histórias do meu pai, aliadas ao carinhoso olhar da minha mãe e com as “brigas” de amor com meus irmãos.

Mais tarde tornei-me um adulto. As pessoas adultas procuram umas às outras para compartilhar suas histórias, suas vivências, aguçadas pelos mais diversos sentimentos.

Aprendi a sentir prazer em estar ao lado, em ouvir e em dizer no tom certo uma palavra de carinho e conforto, influenciado, pelas boas vivências da infância.

Mais tarde, como psicólogo, terapeuta e pesquisador de família, tornei essas habilidades minhas maiores ferramentas”.

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RESUMO

NOGUEIRA, H. F. Dinâmica familiar e a vivência da paternidade na meia-idade. 2011, 123f. Dissertação de Mestrado. Universidade Católica de Brasília – UCB.

Diversos desafios têm sido enfrentados pelas famílias contemporâneas. Com o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e outras mudanças, como o aumento do número de separações e divórcio, o avanço tecnológico, houve um aumento do número de casamentos de homens com meia-idade. Nos últimos cinco anos, o total de casamentos no Brasil aumentou 28,6%, ritmo superado pela alta de 76% dos matrimônios de homens entre 50 e 54 anos e de 75,6% entre aqueles com 55 a 59 anos. Apesar disso, poucos estudos enfocando esse fenômeno têm sido realizados e observamos também deficiência na literatura, especialmente no que tange ao contexto familiar. Pretendemos, nesse estudo, compreender a dinâmica familiar de homens que vivenciam a paternidade na meia-idade, enfocando as relações intrafamiliares e dimensões sistêmicas como os papeis parentais, limites, regras, comunicação, afetividade, entre outros. Participaram deste estudo duas famílias com genitores que se tornaram pais na meia-idade (48 e 55 anos) com filhos pequenos (3 e 4 anos). As famílias residem no Distrito Federal, têm uma renda média de oito mil e quinhentos reais por mês e a maioria dos participantes é da religião católica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa realizada por meio do estudo de caso, com a utilização dos seguintes instrumentos para a coleta de dados: roteiro de entrevista semi-estruturado, genograma familiar e roteiro para realização de colagem. Após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram realizados dois encontros com cada família em suas residências com duração média de uma hora e meia cada encontro. Como aporte teórico adotamos a teoria sistêmica. Os dados foram gravados, transcritos na íntegra e analisados à luz da Epistemologia Qualitativa, numa postura de construção interpretativa do conhecimento. Os principais resultados apontaram para alterações importantes na dinâmica familiar após o nascimento das crianças: 1. Os sentimentos diversificados dos pais e mães sobre a expectativa do nascimento das crianças. Apenas uma das mães achou “horrível” a notícia da gravidez, enquanto os demais participantes ficaram entusiasmados; 2. A dinâmica conjugal apresenta conflitos e queixas das esposas sobre a diminuição da intimidade e do relacionamento sexual. Os esposos facilitam a permanência das crianças na cama do casal, embora as crianças tenham seus próprios quartos; 3. Os genitores apresentaram relacionamento afetivo muito próximo com as crianças e com dificuldades de impor limites, normas e regras; 4. As esposas se queixam da postura dos maridos que, segundo elas, se parece mais com a de “avô” do que de pai.Para elas a idade em que se tornaram pais tem grande influência na maneira de eles educarem as crianças; 5. As influências transgeracionais aparecem também como importante componente que influencia na educação das crianças; 6. As expectativas de futuro da família são diferentes entre os homens e as mulheres: eles pensam em deixar recursos financeiros e conforto para a família e elas temem a morte deles e a possibilidade de terem que cuidar sozinhas das crianças. A análise das dinâmicas familiares ampliou e enriqueceu o entendimento de conceitos, entre outros, como ciclo de vida familiar, papeis parentais e relacionamento familiar. O presente trabalho propiciou também o fomento de novos temas de pesquisa enfocando o ciclo de vida familiar, a dinâmica familiar e a paternidade em diferentes faixas etárias.

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ABSTRACT

NOGUEIRA, H. F. Family dynamics and the experience of fatherhood in midlife. 2011, 123f. Master's Dissertation, Universidade Católica de Brasilia - UCB.

Several challenges have been faced by contemporary families. With increased life expectancy of Brazilian and other changes, such as increasing the number of separations and divorce, technological advance, there was an increase in the number of marriages of men with middle age. In the last five years, the total marriages in Brazil increased 28.6%, overcome by the high rate of 76% of marriages of men between 50 and 54 years and 75.6% among those aged 55 to 59 years. Nevertheless, few studies focusing on this phenomenon have been made and we also observed deficiency in the literature, especially when it comes to family. We aim in this study to understand the family dynamics of men who experience fatherhood in midlife, focusing on relations intafamiliares and systemic dimensions as the parental roles, boundaries, rules, communication, affection, among others. The study included families with two parents who became a father in middle age (48 and 55 years) with small children (3 and 4 years). Families residing in the Federal District, have an average income of eight thousand five hundred dollars per month and most of the participants says Catholic. It is a qualitative survey carried out by the case study, using the following instruments for data collection: a roadmap for semi-structured genogram family and roadmap for conducting glue. After signing the consent form, two meetings were held with each family in their homes with an average of one hour and a half each meeting. As we adopt the theoretical support systems theory. The data were recorded, transcribed verbatim and analyzed in the light of Qualitative Epistemology, in a posture of interpretive construction of knowledge. The main results point to important changes in family dynamics after the birth of children: 1. The diverse feelings of the parents on the expectation of childbirth. Only one mother felt "horrible" news of the pregnancy, while other participants were enthusiastic; 2. The dynamics presents marital conflict and wives' complaints about the decline of intimacy and sexual relationships. Spouses facilitate the stay of children in their bed, although children have their own bedrooms, 3. The parents had very close loving relationship with children and have difficulty setting limits, rules and regulations 4. Wives complain about the attitude of husbands who, in their view, is more like that of "grandfather" of that parent. For the age at which they became the parents have great influence on how they educate children 5. The transgenerational influences also appear as an important component that influences the education of children, 6. The expectations for the future of the family are different between men and women: they think about leaving money and comfort for the family and they fear their death and the possibility of having to care for children alone. The analysis of family dynamics has broadened and enriched the understanding of concepts, among others, as the family life cycle, parental roles and family relations. This work also led the development of new research topics focusing on the family life cycle, family dynamics and parenting in different age groups.

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LISTA DE ANEXOS

Anexo I: Roteiro de entrevista semi-estruturado Anexo II: Roteiro para colagem em família

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LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro I: Principais concepções sobre o Ciclo de Vida Familiar ao longo do tempo Quadro II: Os estágios do Ciclo de Vida Familiar (CARTER; MCGOLDRICK, 1995, p. 17).

Quadro III: Perfil socioeconômico das famílias estudadas Figura I: Genograma da Família Martins

Figura II: Genograma da Família Silva Figura III: Colagem da Família Martins Figura IV: Colagem da Família Silva

Figura V: Fragmento da colagem elaborada por Daniele e Flávio Figura VI: Fragmento da colagem elaborada por Claudia

Figura VII: Fragmento da colagem elaborada por Clara

Figura VIII: Fragmento da colagem elaborada pela família Martins Figura IX: Fragmento da colagem elaborada por Clara

Figura X: Fragmento da colagem elaborada por Clara

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SUMÁRIO

I – Introdução 13

II – Fundamentação Teórica 18

Capítulo 1: Compreendendo o Ciclo de Vida Familiar

de acordo com a perspectiva da abordagem sistêmica 18

1.1.Ciclo de Vida Familiar: da história ao conceito 18 1.2.Ciclo de Vida: um modelo clássico de estudo

desenvolvimental familiar 25

Capítulo 2: Os papeis parentais em processo de transformação 34

2.1. As mudanças dos papeis parentais 34

2.2. Paternidade: visões, conceitos e prática parental 40

III – Objetivos 45

1. Objetivo Geral 45

2. Objetivos Específicos 45

IV – Método 46

1. Participantes 48

2. Instrumentos 54

2.1.Roteiro de entrevista semi-estruturado

do ciclo de vida familiar 54

2.2.Genograma 54

2.3.Roteiro para colagem em Família 55

3. Procedimentos de coleta de informações 56

4. Procedimentos de análise de informações 57

V – Resultados e Discussão 59

Zona de Sentido 1: História familiar: a formação do casal. 63 1.1. Conhecendo a família Martins – Ele, um homem maduro;

(13)

1.2. Conhecendo a família Silva – Ele, um homem maduro;

ela, uma pessoa que levanta o astral. 66

Zona de Sentido 2: Família com filhos pequenos, filhos adolescentes e filhos adultos – fases diversas do Ciclo de Vida Familiar. 69 2.1. Família Martins – “É uma família diferente das outras”:

a dinâmica familiar 70

2.2. Família Silva – “Ele é uma ótima pessoa, mas tudo aqui em

casa fica sob a minha responsabilidade”. 78

Zona de Sentido 3: O nascimento das crianças e os sentimentos

de pais e mães: “horrível”, “lindo”, “ótimo”, “especial”. 82 Zona de Sentido 4: Família: um sistema que continua em

transformação após o nascimento de uma criança. 85 4.1. A família nuclear e sua relação com os sistemas

sociais mais amplos. 85

4.2. O casal: um subsistema em risco. 89

Zona de Sentido 5: Quem educa, a mãe ou o “pai-avô”?

As influências das histórias transgeracionais. 94

Zona de Sentido 6: Expectativa de futuro: eles pensam no dinheiro,

elas pensam na morte deles. 100

VI – Considerações Finais 103

VII – Referências 108

VIII – Anexos 116

Anexo I: Roteiro de entrevista semi-estruturado 117

Anexo II: Roteiro para colagem em família 119

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I - INTRODUÇÃO

O século passado foi caracterizado por profundas transformações sociais, que envolveram a família e exigiram desta instituição social o enfrentamento de desafios diante de novas possibilidades e modelos de conexões humanas. Sobre essas transformações, Walsh (2005) afirma que a estrutura das sociedades no mundo todo está em transformação. Com as profundas mudanças sociais e econômicas ocorridas nas últimas décadas, as famílias e o mundo que as cerca estão mudando em passo acelerado. É interessante destacar quatro tendências emergentes e colocá-las no contexto sócio-histórico, segundo a autora: formas familiares diversas; mudanças nos papeis dos sexos; diversidade cultural e disparidade socioeconômica; curso do ciclo de vida familiar ampliado. Nesse contexto, a paternidade é um tema que tem sido bastante estudado, especialmente quando está relacionado ao período da adolescência. No entanto, diversas transformações como o aumento da expectativa de vida, principalmente com o advento de maiores recursos tecnológicos, fizeram surgir na família brasileira, novas “modalidades de paternidade” praticamente inexistentes ou pouco freqüentes nas décadas anteriores, como a paternidade na meia-idade.

Saraiva (1998) chama atenção para o fato de que entre os séculos XVI e XVII era possível observar um modelo familiar diferente dos padrões existentes nos dias de hoje. Não havia uma distinção rígida entre os âmbitos público e privado, da mesma forma em que ainda não era possível atribuir à família nenhum caráter moralizador, de socialização ou até mesmo afetivo. A responsabilidade familiar pela educação dos filhos e a privatização da família estavam, todavia, presentes no modelo familiar burguês, que se desenvolveu entre as classes mais abastadas da Europa. Posteriormente, este modelo foi disseminado por todas as camadas sociais no século XVIII, já que era imprescindível para o capital a produção e reprodução da força de trabalho. Além disso, havia a necessidade de reduzir os índices de mortalidade infantil e de epidemias, através das práticas sanitaristas dos moralistas e higienistas. Assim o modelo familiar burguês se propagou privatizando e afastando a família do âmbito público, principalmente no que tange os cuidados com a saúde e a educação das crianças.

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ausência de estudos que dêem conta de interpretar a quantidade de dados levantados em diversas pesquisas, bem como de acompanhar as mudanças observadas nas famílias de modo geral. Bradt (2005) também afirma que a estrutura doméstica considerada é cada vez mais incomum e que o foco é nos novos pais e filhos pequenos, numa época de extremas mudanças e desafios aos relacionamentos.

Com relação aos estudos envolvendo homens mais velhos e família, Moragas (1997, apud SANTOS; DIAS, 2008) afirma que já existem pesquisas enfocando a velhice, tanto no âmbito físico como social e psicológico, no entanto, existe uma carência de pesquisas que a relacionem com a família. Para o referido autor, isso é necessário, pois em épocas anteriores não houve um contato tão longo e intenso entre as várias gerações de uma mesma família como na atualidade.

Pensando nessa contemporaneidade, diversos avanços e novas pesquisas têm mostrado uma mudança significativa no aspecto do desenvolvimento humano, como o aumento da expectativa de vida. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010a), a expectativa de vida do homem brasileiro, que nos anos 70 era de 53,7 anos, passou a 71,9 anos em 2005 e chegou a atingir 72,8 anos em 2009. Além disso, tem sido observado no Brasil, um crescente índice de casamento e de paternidade de homens em idade mais avançada.

Até o ano de 2003 a maior parte dos casamentos, no Brasil, envolvia homens jovens. Tal fato sofreu mudanças nos últimos anos, o que pode ter sido afetado pelo desenvolvimento científico e tecnológico, especialmente o aumento da expectativa de vida. Entre os anos de 2003 e 2008, o índice de casamentos envolvendo homens com 50 anos ou mais cresceu muito acima do das uniões envolvendo homens mais jovens. É o que apontam as Estatísticas do Registro Civil de 2008, divulgadas pelo IBGE (2010b).

(16)

Por outro lado, os estudos que abordam a questão da paternidade não acompanharam a tendência do aumento do número de homens que se tormaram pais em idades mais avançadas. É o que apresenta uma interessante pesquisa sobre publicação de estudos que englobam a paternidade (SOUZA; BENETTI, 2009). Os resultados demonstram que, no Brasil, entre os anos de 2000 e 2007, foram publicados apenas 90 artigos nacionais que abordavam o tema. Em se tratando dos trabalhos que enfatizavam a paternidade na vida adulta, as 32 produções encontradas enfocavam os aspectos político-sociais, questões de gênero e abordagens psicanalíticas. A paternidade na adolescência foi o tema mais enfatizado pelos pesquisadores brasileiros nos últimos anos. Dificuldades sócio-econômicas, delinquência, relações de gênero e o significado da paternidade na adolescência foram os tópicos mais explorados nesse contexto. Nota-se que não foi encontrado nessa pesquisa nenhum estudo que abordasNota-se a paternidade na meia-idade, apesar da incidência de um número maior de casamentos nessa faixa etária, conforme demonstrado anteriormente.

Diante desse panorama, promovemos as seguintes reflexões: quem é este homem? Quais são as implicações da paternidade em sua vida nessa faixa etária? Para Hockenbury e Hockenbury (2009) a fase da meia-idade não implica necessariamente um declínio drástico das funções físicas e cognitivas. As habilidades mentais só começam a diminuir levemente por volta dos 60 anos, e esses declínios podem ser minimizados ou eliminados com um estilo de vida ativo e mentalmente estimulante. Erikson (2000) acreditava que a “receita” para o bem estar psicológico nas idades mais avançadas incluía alcançar o que ele chamou de integridade do ego, ou seja, a sensação de que a vida da pessoa tem sentido. As pessoas na meia-idade e os idosos experimentam a integridade do ego quando olham para o passado e semtem-se satisfeitos com suas conquistas, aceitando seus erros e acertos.

(17)

Como psicólogo e terapeuta de família, venho estudando e trabalhando com famílias com as mais diferentes configurações, dinâmicas e inseridas nos mais diversos contextos. Ainda durante o início do meu percurso acadêmico, fui encantado e estimulado por ilustres mestres que já trabalhavam na área, onde seus estímulos, em mim encontraram ressonância por talvez, minha história familiar, acredito, ter sido para além de bem sucedida. No entanto, intervir profissionalmente junto às famílias é um grande desafio, sobretudo no que concerne a acompanhar as transformações do sistema familiar ao longo do tempo que estão, geralmente, vinculadas a mudanças no cenário sócio-político, pois, “embora seja organizado, nenhum sistema permanece estático. É inevitável que passe por ciclos de estabilidade e mudança” (MINUCHIN; COLAPINTO; MINUCHIN, 1999, p. 21).

Este foi um estudo qualitativo, pois esse método permite estudar as famílias por meio de entrevistas profundas e reflexão criteriosa, considerado por muitos especialmente útil em um campo novo como o da terapia familiar, em que as elaborações ainda estão em processo de definição (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Adotamos os principais conceitos da Teoria Sistêmica relacionados com a totalidade, a organização e os padrões de relacionamento do sistema familiar. O sistema geral mantém sua forma à medida em o padrão de ligação entre as partes se modifica. Esse conceito de padronização e organização circular, oposto à descrição individual e à explanação linear, tornou-se a base sobre a qual a terapia familiar se apóia (PAPP, 1992). É importante destacar os conceitos que adotamos sobre “dinâmica familiar” que nos auxiliaram a compreender o fenômeno estudado. Minuchin (1982) definiu estrutura e dinâmica familiar como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza as formas pelas quais os membros da família interagem. É também, segundo o autor, um conjunto de regras que governa as transações da família. Outros autores, complementando Minuchin, acreditam que uma família, em sua dinâmica, é um sistema que opera através de padrões transgeracionais, isto é, padrões de funcionamento que são constantemente ativados quando algum membro do sistema está em interação com outro. A partir dessas interações são estabelecidos padrões, “modos” de funcionamento que determinam também os papeis (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

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(19)

II - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Considerando que a dinâmica familiar é um processo relacional que envolve indivíduos, família e sociedade, para melhor compreender o fenômeno a ser estudado optamos por adotar a Teoria Sistêmica, conforme já foi mencionado. Não pretendemos aqui nos aprofundar em todas as suas nuances, porém ao longo desse “passeio” procuraremos fazer um apanhado sobre alguns dos principais conceitos sistêmicos que ajudarão a compor nosso subsídio teórico tão necessário para a compreensão do fenômeno estudado, bem como nos aproximar um pouco mais dessa realidade a ser conhecida. Para atender a esse objetivo dividimos a revisão teórica em dois grandes temas: 1. Compreendendo o Ciclo de Vida Familiar de acordo com a perspectiva da abordagem sistêmica; 2. Os papeis parentais em processo de transformação.

CAPÍTULO 1

Compreendendo o Ciclo de Vida Familiar de acordo com a perspectiva da abordagem sistêmica

1.1. Ciclo de Vida Familiar: da história ao conceito

O conceito de Ciclo de Vida da Família foi tomado emprestado da sociologia para se tornar um “pano de fundo explicativo para algumas abordagens sistêmicas” (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007, p. 101). É importante destacarmos inicialmente como o conceito de Ciclo de Vida Familiar é compreendido por alguns dos principais autores sistêmicos para em seguida realizarmos uma breve revisão histórica.

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família tem ainda que resolver duas tarefas primordiais: “a criação de um sentimento de pertença ao grupo e a individualização/autonomização dos seus elementos” (p. 17).

Já Cerveny (1997) entende o Ciclo de Vida da família como um conjunto de etapas ou fases definidas segundo alguns critérios (idade dos pais, dos filhos, tempo de união de um casal, entre outros) pelos quais as famílias passam, desde o início da sua constituição em uma geração, até a morte de um dos indivíduos que a iniciaram.

Duas das principais estudiosas sobre do Ciclo de Vida Familiar, (CARTER; MCGOLDRICK, 1995), o vêem como um processo de expansão, contração, realinhamento dos sistemas de relacionamentos para suportar a entrada, a saída e o desenvolvimento dos membros da família de uma maneira funcional. Nessa perspectiva a família, por sua vez, é vista como um sistema emocional que se move através do tempo, e o Ciclo de Vida Familiar permite ver os sintomas e as disfunções familiares em relação ao funcionamento normal ao longo do tempo. Acrescentam ainda que se podem formular problemas acerca do curso que a família seguiu em seu passado, observar as tarefas que está tentando dominar e o futuro para o qual está se dirigindo. Atualmente existem muitas evidências de que os estresses familiares que costumam ocorrer nos pontos de transição do ciclo de vida criam, freqüentemente, rompimentos nesse ciclo, gerando ansiedade que produzem sintomas ou disfunção.

Para melhor compreendermos o percurso e o processo de transição do Ciclo de Vida Familiar da sociologia para a Terapia de Família, daremos aqui um breve enfoque histórico a respeito do seu surgimento. Nichols e Schwartz (2007) citam em seus estudos o sociólogo Evelyn Duvall, como um dos pioneiros a estruturar o conceito de Ciclo de Vida com a perspectiva de descrever as fases do desenvolvimento familiar normal. Duvall dividiu o Ciclo de Vida Familiar em oito estágios, todos referentes aos eventos relacionados às idas e vindas dos membros da família. São eles:

1. Casais sem filhos

2. Famílias com filhos até 30 meses

3. Famílias com crianças com idade pré-escolar (2 anos e meio a 6 anos) 4. Famílias com criança em idade escolar (6 a 13 anos)

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6. Famílias com jovens adultos (inclui a saída do primeiro até o último filho) 7. Casal na meia-idade

8. Envelhecimento

Essa descrição enfoca a educação dos filhos como elemento organizador da vida familiar. Para Duvall a presença de crianças e a idade de evolução do filho mais velho são o critério adequado para delimitação dos estágios do Ciclo de Vida Familiar (RELVAS, 2000).

Estudiosas como Carter e McGoldrick que analisaram o ciclo da família, afirmaram que a contribuição mais complexa sobre a abordagem do Ciclo de Vida foi proposta pelo sociólogo Rodgers, que inicialmente em seus estudos apresentou 24 estágios separados que incluem o progresso desenvolvimental dos filhos através dos eventos nodais do Ciclo de Vida. Na década de 70, outro sociólogo, Reuben Hill, apresentou três aspectos do Ciclo de Vida no âmbito geracional, descrevendo os pais dos filhos casados como tendo uma função de interconectar as gerações mais velhas e as mais novas da família. Para cada estágio do Ciclo de Vida, proposto por ele, existe um complexo conjunto de papeis distintos, para os membros da família, uns em relação aos outros (CARTER; MCGOLDRICK, 1995).

Já Relvas (2000), resumindo as concepções de Hill e Rodgers, afirmou que ambos levaram em conta três critérios para sistematizar e marcar as etapas do Ciclo de Vida Familiar: 1. Alteração no número de membros; 2. Alterações etárias; 3. Alterações no estatuto ocupacional dos elementos encarregados do sustento/suporte familiar. Ainda segundo essa autora, baseados principalmente no primeiro critério, Hill e Rodgers apresentaram o seguinte esquema:

1. Jovem casal sem filhos

2. Estágio expansivo (junção do primeiro filho para construir, “fechar” a família)

3. Estágio estável (período de educação dos filhos até que o primeiro saia de casa)

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5. Estágio pós-parental (de novo casal, sem filhos)

O Ciclo de Vida Familiar foi, pela primeira vez, introduzido na terapia familiar por Jay Haley em seu livro Uncommon Therapy. Nessa obra, Haley considerava os sintomas como resultado de uma família que se tornava paralisada em uma transição entre estágios do Ciclo de Vida porque a família foi incapaz ou teve medo de realizar essa transição. Mais tarde, Haley dedicou-se a um determinado ponto paralisante do ciclo de vida no livro Leaving Home, onde apresentou estratégias para trabalhar com famílias que têm dificuldades para se separar de seus filhos adultos (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007).

Outro pioneiro no estudo do Ciclo de Vida Familiar na terapia de família foi Michael Solomon. Ele delineou tarefas para um Ciclo de Vida fundamentado em cinco estágios e sugeriu ainda a utilização dessa estrutura como uma base diagnóstica sobre a qual deveria ser planejado o tratamento (CARTER; MCGOLDRICK, 1995).

Já Lee Combrinck-Grahan sugeriu uma ênfase nas oscilações entre as forças centrípetas (voltadas aos relacionamentos) e centrífugas (priorizam a individualidade) no desenvolvimento familiar, enfatizando as experiências de vida, como, por exemplo, o nascimento ou enfermidade, que requerem um estreitamento e primazia dos relacionamentos, e outras experiências, tais como, iniciar a escola ou um novo emprego, que exigem um foco na individualidade. Porém, as muitas maneiras como os membros das famílias dependem uns dos outros são parte da riqueza do contexto familiar conforme as gerações se movem através da vida (CARTER; MCGOLDRICK, 1995).

(23)

Com um notório destaque na Teoria Sistêmica e denominado pai da Terapia Familiar Estrutural, Salvador Minuchin (1982) estrutura o Ciclo de Vida Familiar, fundamentado em estudos com famílias ditas “normais”, propondo as seguintes fases:

1. Formação do casal

2. Nascimento dos filhos (famílias com filhos pequenos) 3. Famílias com crianças em idade escolar ou adolescentes 4. Famílias com filhos adultos.

Cada fase exige o desenvolvimento de um conjunto de transações padronizadas e de tarefas presentes. Segundo Minuchin (1982), as fases transcorrem com graus de complexidade crescentes, pressupondo etapas de desequilíbrio à medida que a família passa por uma nova fase. Esse desequilíbrio advém da necessidade do desenvolvimento de novas tarefas e habilidades adequadas à fase do Ciclo de Vida Familiar que se inicia. Em outras palavras, os problemas se desenvolvem quando uma família com uma estrutura disfuncional encontra um ponto de transição para outro estágio e, devido a seus problemas estruturais, não consegue realizar adequadamente a transição.

Com base nessa perspectiva “global e estrutural” acima citada e com a contribuição das visões mais “individualistas” de Duvall, Hill e Rodgers, Relvas (2000) propõe outro modelo realizando uma ligação entre esses pontos de vista:

1. Formação do casal

2. Família com filhos pequenos 3. Família com filhos na escola 4. Família com filhos adolescentes

5. Família com filhos adultos (“ninho vazio”)

(24)

1. Fase de aquisição 2. Fase adolescente 3. Fase madura 4. Fase última

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Quadro I – Principais concepções sobre o Ciclo de Vida Familiar ao longo do tempo.

Autores Ano Contribuição Referência

Rodgers 1960 de Vida Familiar. Inclui o progresso dos filhos Estruturou em 24 estágios separados do Ciclo através dos eventos nodais

Proposed modifications of Duvall’s family life cycle

stages

Rouben Hill 1970

Propõe três aspectos geracionais. Os pais dos filhos casados funcionam como “ponte” entre

as gerações mais novas e mais velhas da família. Cada estágio contempla papeis complexos para cada membro de maneira

relacional

Family development in three generations

Jay Haley 1973 O surgimento dos sintomas é ocasionado pela paralisação da família, em uma transição,

dentro dos estágios pelos quais ela deve passar Uncommon Therapy Michael

Solomon 1973

Delineou tarefas para os 5 estágios do ciclo de vida. Essa estrutura serve como base para

diagnosticar e planejar o tratamento

A developmental conceptual premise for

family therapy

Evelyn Duvall 1977

Estruturou a noção de desenvolvimento familiar normal fundamentada em 8 estágios referentes ao movimento de idas e vindas dos

membros da família

Marriage and family development

Salvador

Minuchin 1982

Pressupõe o Ciclo de Vida em 5 fases, por meio das quais transcorrem em graus de complexidade crescentes. Etapas de desequilíbrio quando a família passa por uma

nova fase

Famílias: funcionamento e tratamento

Combrinck-Grahan 1985

Afirmou que as principais experiências ao longo da vida familiar requerem um estreitamento e primazia dos relacionamentos. Às vezes exigindo um foco na individualidade

A developmental model for family sistems

Betty Carter e Monica

McGoldrick 1989/1995

Apresentam uma classificação dos estágios de vida da família em 6 fases, dando um maior enfoque no aspecto intergeracional da família.

É atualmente o modelo mais estudado por pesquisadores sistêmicos

As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia

familiar

Cerveny e

Berthoud 1997

Colocam a família inserida em 4 etapas do ciclo vital. As autoras ressaltam que essas fases não são rígidas e que fazem parte de um recorte da

realidade da família brasileira

Família e ciclo vital: nossa realidade em pesquisa

Ana Paula

Relvas 2000

Propõe um modelo com cinco fases, agregando perspectivas individualistas com global e estrutural fundamentado em outros autores.

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1.2. Ciclo de Vida: um modelo clássico de estudo desenvolvimental familiar Uma das versões do Ciclo de Vida Familiar mais utilizada por pesquisadores, estudiosos e terapeutas sistêmicos é a apresentada por Carter e McGoldrick (1995), portanto, vamos aqui dar uma atenção especial a esse modelo. Nos Estados Unidos, as autoras estudaram famílias de classe média americana e apresentaram uma classificação dos estágios de vida da família em seis fases. Além disso, elas inauguraram um novo olhar sobre o ciclo vital familiar a partir da noção intergeracional, isto é, fizeram relação com a família extensa, enquanto que os outros autores deram uma maior atenção à família nuclear. Dessa maneira, além de terem ultrapassado os limites restritos da família nuclear, as autoras a consideram como um subsistema emocional que reage aos relacionamentos passados, presentes e antecipa futuros. Os estágios desenvolvidos por elas são:

1. Saindo de casa (jovens solteiros)

2. A união de famílias no casamento (o novo casal) 3. Famílias com filhos pequenos

4. Famílias com adolescentes

5. Lançando os filhos e seguindo em frente 6. Famílias no estágio tardio da vida

Para melhor compreendermos essas fases, daremos um enfoque nessa concepção, apresentada pelas referidas autoras, por entendermos que a mesma possui bases teóricas bastante consistentes, o que permite maior aprofundamento na análise das conjunturas do Ciclo Vital, especialmente na compreensão desta nossa proposta de pesquisa.

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refúgio emocional substituto” (p. 16). Quanto mais adequadamente o jovem puder se diferenciar das questões emocionais da família de origem, menos eventos estressores influenciarão e o acompanharão ao longo do Ciclo de Vida de sua nova família.

Tangenciando essa concepção, outra contribuição relacionada à importância da “separação” do membro de sua família de origem é o conceito de diferenciação do self. Para Bowen (1991) o self representa um conjunto de regras ou princípios, mais ou menos inconscientes, segundo o qual a pessoa organiza sua vida e seus desejos. Os problemas surgem quando o pensamento e o sentimento são indiferenciados e há também a ausência de diferenciação entre si próprio e os outros (NICHOLS; SCHWARTZ, 2007). Assim, pessoas com pouca diferenciação do self tendem a ter maiores dificuldades em se separar das pessoas que as cercam, reagindo de maneira emocional, positiva ou negativamente, às ordens de outros membros da família (BOWEN, 1991).

Tanto para Bowen (1991) quanto para Carter e McGoldrick (1995), a diferenciação ou “separação” do indivíduo deve ser diferente do rompimento com a família de origem. Diferenciar-se não significa romper, mas promover o amadurecimento, favorecendo o desenvolvimento de aspectos importantes para a constituição saudável do indivíduo e do sistema familiar.

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A partir daí, quando surgem os filhos, a mudança para esse estágio do Ciclo de Vida Familiar requer que os adultos avancem uma geração e se tornem cuidadores da geração mais jovem. Essa é a denominação da terceira fase: “Tornando-se pais: famílias com filhos pequenos”. Se os pais não conseguem realizar essas mudanças, as brigas sobre assumir as responsabilidades, recusa ou incapacidade de comportar-se como pais dos seus filhos podem ocorrer entre eles. Outros desafios, segundo as autoras, podem continuar acontecendo nessa fase. Não raramente, é nesse momento que os pais se apresentam clinicamente, geralmente não aceitam a fronteira geracional entre eles e seus filhos, e ao mesmo tempo em que se queixam que não conseguem controlar seus filhos, podem esperar que eles se comportem como adultos. Os pais precisam ainda superar e redefinir como lidarão com a questão da sexualidade do casal, as responsabilidades financeiras, entre outras. Já para os avós, a mudança nessa transição é a de passar para uma posição secundária, permitindo que seus filhos exerçam a autoridade paterna e estabelecer um novo tipo de relacionamento carinhoso com seus netos (CARTER; MCGOLDRICK, 1995).

Por esta ser uma das fases que enfocaremos no nosso estudo, vamos aqui detalhar melhor a respeito dessas transformações que ocorrem no sistema familiar. Bradt (1995) considera que depois do evento-marco, o nascimento do bebê, os três meses seguintes são geralmente considerados como parte da gravidez. Durante esse período, ocorrem mudanças endócrinas mais abruptas do que as mudanças hormonais da puberdade, os ciclos menstruais ou a gravidez. Como acontece nas mudanças hormonais, existem mudanças no afeto e instabilidade que tornam a nova mãe mais vulnerável à resposta de seu marido, da família ampliada e de seu bebê. Além disso, ocorrem também mudanças muito significativas no campo sexual e na intimidade do casal, na família ampliada, na vida doméstica e laboral.

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que de intimidade, a chegada de um filho aciona o triângulo da família nuclear, pondo em risco a estabilidade conjugal, com a posição de proximidade ameaçada pelo bebê. Em outras palavras, nesse caso, o triângulo afasta o pai da mãe e esta se aproxima mais do filho, ocasionando fragilidade e distanciamento na relação conjugal e dificultando o desenvolvimento saudável do filho e do sistema.

Bradt (1995) acredita que a decisão de ter um bebê é o início de um afastamento em relação ao eixo horizontal do casamento, para um realinhamento com o impulso vertical das gerações do futuro e do passado. Com a chegada do filho, todos os membros da família avançam um grau no sistema de relacionamentos, ou seja, de sobrinha ou sobrinho para prima ou primo, de irmão ou irmã para tio ou tia, de marido e mulher para pai e mãe. Outra questão relevante levantada pelo autor, se refere à importância do relacionamento da criança com gerações anteriores. Segundo ele, as crianças que se relacionam com membros mais velhos da família, provavelmente terão mais informações, mais identidade, do que aquelas que têm pouco ou nenhum relacionamento pessoal.

Outro desafio dessa fase é o reequilíbrio entre o trabalho e a vida doméstica. Ainda segundo Bradt (1995), se o trabalho for uma necessidade financeira ou uma escolha, cada progenitor necessita ajustar-se emocionalmente a um planejamento que deixa seus filhos com outra pessoa que não eles, se desejarem manter-se no emprego.

As “famílias com adolescentes”, quarta fase no Ciclo de Vida, devem estabelecer fronteiras qualitativamente diferentes das famílias com filhos mais jovens. Essa questão torna-se complicada, pois não há em nossa época rituais que sinalizem e facilitem essa transição (CARTER; MCGOLDRICK, 1995). Destacamos aqui que os rituais têm a função de organizar as relações interpessoais dos membros da família, sendo mantidos pela memória familiar. São produtos da tradição, sendo transmissíveis e sancionados pelo grupo, exteriorizando os hábitos que são ancorados nas regras familiares tendo também a função de transmitir e perpetuar o mito familiar. Contribuindo para manter sua identidade sinalizando as transições normativas do Ciclo de Vida Familiar, os rituais ajudam os membros da família no manejo e resolução dos conflitos, pela possibilidade de expressão das emoções (IMBER-BLACK, 1995).

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os adolescentes geralmente abrem a família para um novo repertório de valores. Além disso, a tentativa dos pais de querer controlar todos os aspectos desenvolvimentais da vida dos adolescentes, pode frustrá-los ao perceberem sua impotência diante desses fenômenos, ou ainda fazer com que o adolescente se retraia em relação aos envolvimentos apropriados nesse estágio (CARTER; MCGOLDRICK, 1995) .

A família com filhos adolescentes deve se atentar que esse é um momento em que os filhos começam a estabelecer seus próprios relacionamentos independentes com a família ampliada, e são necessários ajustes especiais entre os pais e os avós para permitir e estimular esses novos padrões. Outro desafio, é que as fronteiras flexíveis vão permitir que os adolescentes se aproximem e sejam dependentes nos momentos em que não conseguem manejar os desafios sozinhos, e se afastem e experimentem, com graus crescentes de independência, quando estiverem prontos, exigindo esforços especiais de todos os membros da família “em seus novos status uns em relação aos outros” (CARTER; MCGOLDRICK, 1995, p. 20). Em outras palavras, esse momento exige que os pais estipulem regras mais flexíveis, já os adolescentes devem assumir seu papel com maior autonomia na aquisição de novas responsabilidades.

Corroborando com essa ideia, Marcelli e Braconnier (1980) discutem que a adolescência, como fase do Ciclo de Vida Familiar, possui algumas tarefas específicas, que envolvem todos os membros da família, pois o crescimento dos filhos pressupõe a evolução dos pais frente a essa nova realidade. Os pais são confrontados com uma série de tarefas, devendo passar progressivamente de uma relação filho-pais para uma relação adulto-adulto, mas que permanece marcada por um laço de filiação. Para Minuchin e Fishman (2003) a mudança na forma de negociação é o fator mais relevante nessa fase e Preto (1995), outra autora sistêmica, discute que a flexibilidade é que vai definir o sucesso nesse estágio. Segundo ela, a condição para maior independência e desenvolvimento dos adolescentes nessa fase é o aumento da flexibilidade das fronteiras familiares e uma nova modulação da autoridade paterna.

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começam a se preparar para a posição de avós. Ainda poderão lidar com um tipo diferente de relacionamento com os próprios pais que podem se tornar dependentes, necessitando adquirir novas responsabilidades como cuidadores (CARTER; MCGOLDRICK, 1995). A esse respeito Minuchin e Fishman (2003) afirmam que pais com filhos maiores terão que conceder-lhes mais autoridade ao mesmo tempo que pedem mais responsabilidade.

Para McCullough e Rutenberg (1995), as famílias que estão no estágio tardio da vida, começam com “lançamento dos filhos” e continuam até a aposentadoria. Para essas autoras, existem questões desenvolvimentais, transições, tarefas e problemas clínicos particulares dessa quinta fase. Em termos da idade dos pais, este estágio normalmente se estende dos quarenta e poucos anos até meados dos sessenta. Carter e McGoldrick (1995) afirmam que, em termos gerais, essas transições e tarefas se relacionam com: 1. A mudança de função do casamento; 2. O desenvolvimento de relacionamentos adultos entre os filhos adultos e seus pais; 3. A expansão dos relacionamentos familiares, para incluir parentes por afinidades e netos; 4. A oportunidade de resolver relacionamentos com pais que estão envelhecendo.

Estas tarefas proporcionam uma oportunidade importante de reexaminar o significado da família em todos os níveis. Se o casal de meia-idade funcionava anteriormente como se existisse meramente para a procriação dos filhos, esta fase pode assomar como vazia e sem significado. Esses casais talvez não consigam adaptar para uma vida que não depende mais da função paterna para organizar seu relacionamento. Ainda no campo conjugal, o período de tempo entre a partida do último filho e a aposentadoria é surpreendente longo, tornando o ajustamento conjugal algo central neste estágio, dizem as autoras. Alem disso, alguns indicadores de uma separação bem sucedida, isto é, o “lançamento”, do jovem adulto são a aquisição de habilidades para um trabalho ou uma carreira, arranjos de vida independente e o desenvolvimento de amizades estáveis (MCCULLOUGH; RUTENBERG, 1995).

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de amigos, parentes e do próprio cônjuge, sendo essa uma adaptação muito difícil, pois, depois de muitos anos convivendo como casal, esse membro precisará reorganizar toda uma vida sozinho. Enfrentar essas dificuldades e ajudar os membros da família a reconhecerem as mudanças de status e a necessidade de resolverem seus relacionamentos em um novo equilíbrio, pode auxiliar as famílias a seguirem em frente desenvolvimentalmente.

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Quadro II – Os estágios do Ciclo de Vida Familiar (CARTER; MCGOLDRICK, 1995, p. 17).

Estágio de Ciclo de Vida

Familiar

Processo Emocional de Transição:

Princípios-chave

Mudanças de Segunda Ordem no Status Familiar Necessárias para se Prosseguir Desenvolvimentalmente

1. Saindo de casa: jovens solteiros

Aceitar a responsabilidade emocional e financeira pelo

eu

a. Diferenciação do eu em relação à família de origem b. Desenvolvimento de relacionamentos íntimos com

adultos iguais

c. Estabelecimento do eu com relação ao trabalho e independência financeira

2. A união de famílias no casamento: O novo casal

Comprometimento com um novo sistema

a. Formação do sistema marital

b. Realinhamento dos relacionamentos com as famílias ampliadas e os amigos para incluir o cônjuge

3. Famílias com filhos pequenos

Aceitar novos membros no sistema

a. Ajustar o sistema conjugal para criar espaço para o(s) filho(s)

b. Unir-se nas tarefas de educação dos filhos, nas tarefas financeiras e domésticas

c. Realinhamento dos relacionamentos com a família ampliada para incluir os papeis de pais e avós

4. Famílias com

adolescentes

Aumentar a flexibilidade das fronteiras familiares para incluir a independência dos

filhos e as fragilidades dos avós

a. Modificar os relacionamentos progenitor-filho para permitir ao adolescente movimentar-se para dentro e para fora do sistema

b. Novo foco das questões conjugais e profissionais do meio da vida

c. Começar a mudança no sentido de cuidar da geração mais velha

5. Lançando os filhos e seguindo em frente

Aceitar várias saídas e entradas no sistema familiar

a. Renegociar o sistema conjugal como díade b. Desenvolvimento de relacionamentos de

adulto-para-adulto entre os filhos crescidos e seus pais c. Realinhamento dos relacionamentos para incluir

parentes por afinidade e netos

d. Lidar com incapacidade e morte dos pais (avós)

6. Famílias no estágio tardio da vida

Aceitar as mudanças dos papeis geracionais

a. Manter o funcionamento e os interesses próprios e/ou do casal em face do declínio fisiológico b. Apoiar um papel mais central da geração do meio c. Abrir espaço no sistema para a sabedoria e

experiência dos idosos, apoiando a geração mais velha sem superfuncionar por ela

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É importante ressaltar que o modelo acima apresentado possui diferentes etapas e que para cada uma delas existem tarefas a serem cumpridas pela família que determinará o grau de funcionalidade e de saúde do sistema familiar. Para Rosset (2003), cada fase do ciclo de vida familiar “traz uma aprendizagem específica, algo que precisa ser conquistado ou algo que precisa ser deixado de lado” (p. 47). Além dessa experiência de aprendizado, a vivência do ciclo de vida e a adequada execução de suas tarefas, demandam da família desafios para além do nível individual. As pressões sociais também desempenham um papel importante na eficiência dos papeis dos pais enquanto educadores (RELVAS, 2000).

Considerando os fundamentos teóricos apresentados, destacamos que o grande interesse dos terapeutas de família pelo conceito de Ciclo de Vida Familiar justifica-se pelo fato de que ele introduz, simultaneamente, as noções de retorno e perenidade, além de permitir a descrição da família no decorrer do tempo, possibilitando a compreensão do retorno de fases periódicas durante várias gerações (MIERMONT et al, 1994).

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CAPÍTULO 2

Os papeis parentais em processo de transformação

2.1. As mudanças nos papeis parentais

A família contemporânea tem passado por diversos processos de transformação. Sendo assim, ela tem se apresentado de uma maneira cada vez menos uniforme e mais complexa, com diversas conjunturas relacionais. Diversos autores, em seus estudos, concordam com essa multiplicidade de modelos familiares que se apresentam: famílias divorciadas, recasadas, adotivas, monoparentais, homossexuais, chefiadas por homens ou mulheres, com Ciclo de Vida Familiar ampliado, produções independentes, entre tantas outras configurações. Já não se pode falar em “família”, no singular, mas sim em “famílias”, considerando sua pluralidade e diversidade (GRACIA; MUSITO, 2000; BUCHER, 2003; WALSH, 2005; OSÓRIO; VALLE, 2009).

A própria sobrevivência da família com essa reconfiguração dos relacionamentos humanos, tem sido questionada nas últimas décadas. Mas a preocupação com a crise familiar não é específica da nossa época. A controvérsia e a mudança têm cercado a definição de família no decorrer do tempo (WALSH, 2005). Toda geração tem expressado dúvidas sobre a estabilidade e continuidade da família. Cada uma delas tem pensado estar testemunhando a falência da “família tradicional”, uma imagem popular a respeito de como deveriam ser as famílias. Os medos do fim da família têm aumentado muito em período de turbulência social, como o que estamos vivendo nos dias de hoje, afirma a autora.

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adequado para o casamento e para ter filhos e isso se deve, em grande parte, ao controle da natalidade e aos avanços médicos que aumentaram a expectativa de vida.

Na visão de Minuchin e Fishman (2003), conceituando o sistema familiar, as famílias são consideradas sistemas multi-individuais de extrema complexidade, porém, são, por sua vez, subsistemas de unidades mais amplas, como a família extensa, a vizinhança e a sociedade como um todo. A interação com estes subsistemas ou holons mais amplos, como também são chamados, produz uma parte significativa dos problemas e tarefas da família.

Além disso, afirmam os autores, as famílias têm subsistemas diferenciados, sendo que cada indivíduo é um subsistema, como o são as chamadas díades, como, por exemplo, marido e mulher. Os subgrupos mais amplos são formados por geração, o sexo ou a tarefa. Para esses autores, as transações dentro do holon parental envolvem a educação dos filhos e funções de socialização. Minuchin (1982) chama atenção sobre a importância da organização de subsistemas de uma família que fornece treinamento valioso no processo de manutenção do “eu sou” diferenciado, ao mesmo tempo em que dá exercício de habilidades interpessoais em diferentes níveis. Vamos a seguir descrecer os subsistemas ou holons que são importantes para uma melhor compreensão do funcionamento do sistema familiar.

Para Minuchin e Fishman (2003) o subsistema conjugal, que representa o início da família quando homem e mulher se unem com o propósito de formá-la, tem uma das tarefas mais importantes. Segundo os autores, o subsistema conjugal deve proteger os esposos, dando-lhes uma área de satisfação de suas próprias necessidades psicológicas, sem a intrusão de parentes do cônjuge, dos filhos e de outras pessoas.

O subsistema parental surge com o nascimento do primeiro filho e se constitui como um marco de mudança familiar quando o casal terá que realizar algumas acomodações. Os adultos no subsistema parental têm a responsabilidade de cuidar, de proteger e socializar as crianças, porém, têm também direitos. Os pais têm o direito de tomar decisões que estão relacionadas à sobrevivência do sistema como um todo, em assuntos como: mudança de domicílio, seleção de escola e determinação de regras que protegem todos os membros da família (MINUCHIN; FISHMAN, 2003).

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hierarquia entre pais e filhos. Essas relações, segundo o autor, sofrem modificações ao longo do crescimento do filho e as funções e regras precisam ser adaptadas a cada fase desse crescimento.

Antes de nos referirmos aos conceitos de paternidade dentro do subsistema parental e seu processo de transformação ao longo do tempo, é necessário entender as mudanças ocorridas com os papeis femininos, pois os papeis de ambos, homens e mulheres, na família e na sociedade se intercomplementam, se influenciam e se transformam mutuamente.

A mulher, de maneira submissa, antes da chamada revolução feminista, e até os dias de hoje em alguns contextos, tinha os afazeres da casa e o cuidado com os filhos como ocupação exclusiva, além da função de educar, prover as necessidades emocionais da família e ser um apoio para o homem. A sociedade patriarcal ainda é caracterizada pela autoridade do homem sobre a mulher e filhos, no contexto familiar como imposição institucional legal (BUCHER, 2003). O papel feminino teve progressivas mudanças ao longo das últimas décadas. Para a autora, o desenvolvimento tecnológico e a descoberta da pílula anticoncepcional possibilitou, na entrada para o cenário da modernidade, que a mulher passasse a ter o controle sobre sua gestação.

O movimento feminista, na década de 60, teve como uma de suas conseqüências a entrada da mulher no mercado de trabalho, e um dos fatores importantes é que ela começou a ocupar espaços tradicionalmente masculinos. Em 2009 as mulhres já eram 45% da população economicamente ativa no Brasil (IBGE, 2010c). O fato da mulher não estar mais restrita ao mundo doméstico e ter conquistado maior liberdade sexual veio de encontro aos arranjos tradicionais da organização social e familiar e, certamente, vem alterando comportamentos (OLIVEIRA; PELLOSO, 2004).

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construção cultural e social bastante identificada com esse determinismo biológico do gerar e amamentar (STAUDT; WAGNER, 2008).

Corroborando com essa ideia Bradt (2005) acredita que o nascimento de um filho perturba a delicada “heterossocialidade” do local de trabalho e encaminha as mulheres na direção doméstica. O fluxo de homens rumo à esfera doméstica não se compara à partida das mulheres grávidas, do trabalho para casa, encorajando a primitiva crença de que o local do trabalho é domínio do homem. Além disso, ele acrescenta que a temporária ausência da esposa do trabalho e adição permanente de um bebê desequilibra os sentimentos e as suposições de igualdade de escolha em relação ao trabalho e à vida no lar.

O homem e a mulher de hoje sofrem, segundo Nichilo (1995), porque não se sentem à altura das tarefas que têm para cumprir enquanto casal, buscando viver em sintonia com sua imagem ideal: harmonia, união, solidez no tempo e com os ideais da sociedade pós industrial: eterna juventude, sucesso e opulência. Ocorre uma oscilação entre os velhos mitos e as novas realidades sociais, afetivas e culturais dos papeis tradicionais.

Segundo Burdon (1998), mesmo quando o pai participa das atividades no ambiente doméstico, é possível perceber, em muitos casos, uma determinada divisão entre as atividades a serem executadas pelo homem e pela mulher. Assim, as atividades exercidas por eles são aquelas pertencentes aos arredores da casa, como por exemplo, a manutenção da casa, do carro, entre outros.

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que trabalhava com o conceito de “poder familiar”, que pressupõe igualdade entre o pai e a mãe.

A paternidade, por sua vez, também vem sofrendo diversas transformações, ao longo dos anos, dentro do sistema familiar. Para melhor compreender como ela é definida, recorremos a alguns autores que abordam o assunto. A construção da paternidade se dá na inter-relação de aspectos macro e microssistêmicos do contexto sócio-histórico-cultural em que o homem se encontra (AUSLOOS, 1996).

Ela é vista também como se fosse uma “profissão” difícil para a qual não há formação, sendo que a única forma de aprendê-la é por meio das vivências na família de origem. Além disso, um pai só começa a se sentir como pai após o nascimento da criança ou mais tarde, uma vez que a parentalidade, ou seja, ser pai ou mãe é um processo que não é fácil (MINUCHIN, 1982; GRACIA; MUSITO, 2000).

Numa visão histórica sobre a paternidade, Nolasco (1993), afirma que a formação da identidade paterna, assim como a masculina, pode ser entendida a partir de uma construção social e, neste sentido, a atuação do pai na gestação e no desenvolvimento dos filhos estará relacionada à maneira como o homem foi socializado. Ramires (1997) acredita que historicamente o modelo pai-provedor, exercendo sua principal função na esfera pública e distante dos filhos/filhas, foi considerado o representante da autoridade e da lei e consolidou-se como patrimônio da família nuclear burguesa.Este modelo é marcado pela rígida divisão de papeis sexuais, onde homens e mulheres ocupam posições desiguais. As identidades sociais de pais e mães são construídas a partir da atribuição de valores sociais distintos para cada sexo como se fossem atributos naturais.

O novo modelo de paternidade surgido, denominado por alguns de “nova paternidade”, requer que o homem ocupe um outro lugar na estrutura familiar, e não mais apenas o de provedor financeiro. Deste modo, o surgimento de uma nova paternidade aponta para a necessidade de criação de políticas públicas que estejam voltadas para as mulheres, mas também para os homens. Isso se deve ao fato de que os homens não costumam ser foco de atenção dos serviços de saúde, perpetuando uma representação da sexualidade masculina dissociada dos cuidados com a reprodução (AMARO, 2008).

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diálogo com a família, especialmente com os filhos. Outro fator é que essa postura sempre foi apoiada pela cultura que, sendo patriarcal, reservou-lhe lugar acima da trama doméstica constituída pela mulher e pela criança. Antes que o homem pudesse assimilar o esboço da nova configuração familiar, na qual houve mudanças consideráveis nos papeis da mulher e do homem, modelado no processo que introduziu a mulher no mercado de trabalho, ao mesmo tempo, o homem é surpreendido pela ruptura da hierarquia doméstica e pelo constante questionamento de sua hierarquia.

Ainda segundo as autoras, as formas alternativas de convivência familiar, cada vez mais freqüentes em nossa sociedade, corroboram também para a criação de espaços para a manifestação diferenciada de paternidade. Se de um lado, exigências sociais operam pulverizando a figura do provedor, de outro, as famílias buscam se organizar, formando casais de dupla renda ou de dupla carreira, emergindo assim uma nova figura paterna não mais ancorada unicamente no poder econômico.

Alguns estudos sobre paternidade e masculinidade mencionam que atualmente é possível observar uma espécie de crise do modelo anteriormente criado, onde a questão da masculinidade, por exemplo, era definida a partir de características como: valentia, firmeza, inteligência e onipotência. Atualmente observa-se que estes modelos vêm se transformando e o ser masculino, passa a ser visto como um ser que possui fragilidades, angústias, crises e contradições (SARAIVA, 1998).

Com o passar dos anos a paternidade deixou de incluir somente o papel limitado à figura de provedor para abarcar atitudes de maior envolvimento e contato afetivo com os filhos (BALANCHO, 2004). Estas mudanças estão associadas a um conjunto novo de expectativas, crenças e atitudes de cada gênero no contexto familiar que refletiram também no interesse das pesquisas em identificar e compreender o impacto dessas mudanças nas relações familiares, especificamente no próprio pai (BRASILEIRO; JABLONSKI; FÉRES-CARNEIRO, 2002; LAMB, 1997).

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Tanto a paternidade quanto as relações familiares de uma maneira geral, são processos complexos e multi-influenciados, construídos e redefinidos a cada momento histórico, cultural e social, que interage com aspirações individuais e subjetividades. Dessa forma, ser pai implica poder pensar e refletir esses processos e, na medida do possível, buscar condições e maneiras de exercer esse papel de forma mais autêntica, espontânea e plena (STAUDT; WAGNER, 2011).

Diante do exposto, abordaremos no item a seguir, diversas pesquisas que enfatizam a questão da paternidade em diferentes contextos.

2.2. Paternidade: visões, conceitos e prática parental

Sobre estudos e reflexões envolvendo a questão da paternidade, Lamb (2000) considera que, apesar do tema ser debatido desde o final do século XIX, foi somente no início dos anos setenta que estudiosos investiram intensamente nessa temática e nos anos oitenta e noventa os estudos dedicaram-se essencialmente à identificação e caracterização de eventuais mudanças nos comportamentos e atitudes do pai na relação com os filhos e na vida familiar. Assim, passamos a apresentar alguns dos estudos que abordam a temática da paternidade a partir de diferentes enfoques.

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os pais de 2ª geração destacaram partilha do poder/conquista da autoridade e capacidade de ser descontraído e lúdico.

Há, claramente, diferenças apontadas entre as paternidades do passado e do presente. Essa nova tendência, segundo a autora da pesquisa, é uma antítese do pai do passado, uma vez que a autoridade não é imposta, mas discreta e suavemente colocada para os filhos. O pai é uma figura viva no dia a dia dos filhos em vez de estar distanciado dessa vida. Tem a capacidade de compreender e dialogar, em vez de disciplinar cegamente e de se descontrair e brincar com os filhos, em vez de se manter distante para reinar na sua posição de força.

Corroborando com esses resultados, Lamb (1997) diz que os pais contemporâneos, especialmente aqueles com crianças pequenas, se percebem como possuindo maior responsabilidade pelo cuidado diário dos filhos, e a evidência empírica demonstra que passam mais tempo com eles do que passavam os pais de gerações anteriores. Demo (1982) verificou que com o passar do tempo a participação masculina tornou-se bem mais efetiva, principalmente quando os pais têm menos de 30 anos de idade ou aqueles com filhos em idade pré-escolar. No geral, no entanto, o próprio Demo reconhece que as mudanças da participação dos homens na vida dos filhos não têm sido as esperadas. Este sociólogo ainda levanta a hipótese de que a participação dos pais tenderia a aumentar à medida que os filhos crescem, com os adolescentes tendendo a receber mais atenção do que os bebês, já que os pais não dão de mamar nem mães costumam acompanhar os filhos a jogos de futebol.

No nordeste do Brasil, um estudo realizado com dez homens casados, pais de mais de um filho, objetivou compreender a experiência como pai e o significado que a paternidade confere ao homem no espaço familiar. Os resultados apontaram mudanças significativas nesse contexto. Alguns homens começam a se preocupar em paternar o filho, acompanhando seu crescimento e desenvolvimento de modo mais próximo, realizando cuidados socialmente considerados femininos de modo que o provedor afetivo vem emergindo do provedor material. As relações de autoridade vão dando espaço a relações permeadas por afeto e negociações, possibilitando que pais e mães compartilhem os cuidados e estreitem os vínculos afetivos com os filhos, de forma que a paternagem colabora para a ruptura de estereótipos de uma masculinidade insensível e intocável (FREITAS; SILVA; COELHO; GUEDES; LUCENA; COSTA, 2009).

Referências

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