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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Jucimeri Isolda Silveira

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Jucimeri Isolda Silveira

PROFISSIONALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL:

Estatuto sócio-jurídico e legitimidade construída

no “modelo” de competências

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

Jucimeri Isolda Silveira

PROFISSIONALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL: Estatuto sócio-jurídico e legitimidade construída

no “modelo” de competências

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

Tese apresentada a Banca Examinadora, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Serviço Social, sob a orientação da Profa. Dra. Raquel Raichelis Degenszajn.

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Banca Examinadora

Proª Drª Maria Carmelita Yazbek

Profª Drª Aldaiza Oliveira Sposati

Profª Drª Marilda Villela Iamamoto

Profª Drª Esther Luíza de Souza Lemos

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Com gratidão e amor

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AGRADECIMENTOS

Porque a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.

Cecília Meireles

Agradeço minha querida orientadora, Raquel Raichelis, por me transmitir

segurança, por perdoar meus “sumiços”. Foram grandes os aprendizados, muitas trocas sobre trabalho e profissão. A sua sutileza ficou em mim, sua assertividade e direção tornaram possível construir esta etapa da minha formação acadêmica. Saiba da minha gratidão por me acolher, compreender minhas limitações e me fazer sentir escolhida.

Meu agradecimento especial ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, pelos aprendizados, pela oportunidade de concluir o doutorado, especialmente aos mestres da minha caminhada como docente e militante: Maria Carmelita Yazbek, José Paulo Netto, Marilda Iamamoto, Myrian Veras Baptista, Maria Lucia Martinelli, Aldaisa Sposati, Marco Aurélio Nogueira. Um agradecimento especial à generosa banca formada pelas professoras e companheiras Carmelita e Elisabete Borgianni (Bete), com quem aprendi muito na militância do CFESS/CRESS.

Aos meus queridos amigos Ilda e Luiz Witiuk, pelo “socorro” de última hora,

na revisão de meu trabalho, meu carinho especial. A prova da grande amizade, afeto e companheirismo. Ildinha, muito obrigada pela força e pelos conselhos. Kel, nossa assistente social internacional, obrigada pelo abstrat. Lembro-me bem quando no Congresso Brasileiro, em Foz, você era minha interprete com David no FITS. É evidente que na hora do aperto podemos contar com amigos. O melhor de tudo é ter vocês em minha vida, nesta e em outras conquistas.

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Marina, minha amada, feliz descoberta na vida, que apoia e constrói os meus e os nossos projetos. Agradeço por aguentar meu mau humor e minhas ausências, pela referência protetora para a Lalinha. Sou grata por fazer parte de minha vida, e pelas trocas e interlocuções tão significativas no universo do trabalho social.

Agradeço a mãe que tenho, pelo apoio de sempre nas minhas idas e vindas em tantos lugares. Dona Jussara tem uma trajetória de vida que me fez mais crítica e com utopias por percorrer. Conduziu-me sempre com amor e cuidado, aceitando-me por inteira. Agradeço, também, ao aceitando-meu pai, Leverci, pela determinação, pelo apoio, por me permitir, com o tempo, ser eu mesma. Meus pais, apesar das dificuldades, viabilizaram minha educação, entenderam momentos de fracasso e as grandes vitórias. Sou feliz por isso!

Em cada conquista lembro-me de minha avó Erika Lehmert, pela luta, ousadia, garra. Minha avó me faz mais forte, me ensinou a proteger, partilhar, acreditar sempre e superar dificuldades. É meu espelho de vida, e grande responsável por transmitir a paixão pelo Serviço Social.

Pela história de luta compartilhada, realizações e amor, agradeço meus

“manos”, Jucelma (Cel) e Leverci (Ci), com meu irmão compartilhamos um pouco da vivência inesquecível do Colégio Estadual do Paraná, iniciamos juntos a militância estudantil. Sua presença sempre me deixou segura mesmo quando cuidava de você. Com minha irmã compartilhei a vida acadêmica no Serviço Social. Nunca vou me esquecer do seu apoio, da sua presença significativa e do momento em que escolhi definitivamente nossa profissão: quando acompanhei sua aula de Política Social. Sinto-me um pouco em vocês, e sinto vocês em minha alma. São tantas lembranças vivas e fortes em mim! Estendo o afeto aos meus queridos cunhados (Ju, Sandro, Syl), sobrinhas(os) (Leti, Laurinha, Fer, Aninha, Lu, Camy, Cadu, Dani), ao Hugo, que compartilharam de nossos melhores e mais lindos momentos em família.

Às queridas amigas de PUCPR, Izabel, Ilda, Márcia, Solange, Zely, e querido Cezar, por sermos um coletivo que resiste, construindo nosso projeto de profissão e de Universidade. Aos meus queridos alunos e queridas alunas, por entenderem

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Agradeço com o mesmo carinho e gratidão às(aos) companheiras(os) valorosas(os) de militância no CFESS/CRESS, pela defesa do projeto ético-político profissional. Meu agradecimento aos(às) servidores(as) do CRESS, pelo apoio e convivência de mais de 10 anos. Um carinho especial para Dara, Kel, Renata, Syl, Dani, Lena, Juçara, Elias, Dione, Andrea e Rocio. Sou muito grata à Joaquina, pelos ensinamentos no CFESS e em outros momentos tão importantes para minha formação política. Meu carinho especial à Simone, Eutália, Ronaldo, Maria Helena, Rosangela, Bete, Edval e Laura, pela convivência e luta em defesa da profissão.

Meu eterno reconhecimento e gratidão à “Odarka” (Odária), pela atitude investigativa e competência ensinada, por me conduzir para o universo da pesquisa. À Samira, à Sandra e ao Marcos pelas trocas e aprendizados coletivos. Queridas amigas Telma (como aprendo com você!), Aninha, nossas amigas de SETP, como sou grata pela convivência e luta! À Denise Colin, grande companheira, “super” “supervisora” e amiga, sempre me apoiando, dividindo e construindo. Você é nosso orgulho! Como esquecer de nosso tempo de construção do SUAS no Paraná?

Agradeço aos assistentes sociais do “MDS”, Marcia Lopes, Maria Luiza,

Gisele, Luziele, Telma, Ana Paula, Ironi, Lea, José Crus (e sua grande equipe da gestão do trabalho), Egli (in memoriam), Simone e Renato. Meu carinho à Cida e Eli do FONSEAS, pelo aprendizado, construção conjunta e amizade. Vocês confirmam minha convicção de que é possível disputar avanços políticos por dentro!

O mesmo carinho aos “novos” amigos no “SUAS” de Curitiba, Marcia, Erika,

Antônio, Paula, Kátia, Marina Bini, Marli, Angela, Marina Marson, Maria Tereza, Rosangela, Alexandre, Simone Camargo, Mirele, Ana, Luiz, Luiz Henrique, além da companheira de longa data, e minha primeira supervisora de estágio, Dara. Queridos(as) colegas de trabalho do planejamento, agradeço por me acolherem neste novo projeto e por prosseguirmos juntos(as) na consolidação do SUAS.

Meu profundo agradecimento a todas e todos que marcaram minha história de vida pessoal, profissional e acadêmica. Aos trabalhadores sociais em luta cotidiana pelos direitos, forjando processos políticos em direção a uma nova cultura, o meu reconhecimento. São muitas lembranças e gestos que fizeram a diferença em mim, me permitiram ser mais e ir além, entre a “a dor e a delícia” de

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RESUMO

A presente tese analisa a profissionalidade do Serviço Social brasileiro, a partir da revisão crítica de seus fundamentos históricos e teórico-metodológicos, e a construção do projeto ético-político profissional, com centralidade no estatuto normativo-jurídico, para a construção da especificidade e legitimidade profissional. Parte-se do entendimento de que uma profissão forja-se na constituição da sociedade, na dinâmica entre a interferência do Estado em resposta ao desenvolvimento do modo de produção e às tensões entre projetos de sociedade, assim como no constructo teórico, técnico e ético inerente a um projeto profissional que atende às necessidades sociais. A constatação principal é a de que a profissionalidade do Serviço Social é dinamizada pela fragilidade e legitimidade, demandando de suas organizações a vocalização e delimitação de suas atribuições na divisão social e técnica do trabalho. A constituição da profissionalidade legitimada foi configurada no contexto histórico de redemocratização e afirmação da cultura dos direitos, o que impulsionou novas requisições sociais e institucionais, significadas pela base teórico-metodológica e ético-política da profissão. A partir da crítica ao modelo de competências e sua incidência na educação e no trabalho, constata-se a tendência da profissão de construir referências/parâmetros que delimitem competências e atribuições em áreas específicas. Na presente tese foram examinados os Parâmetros de Assistência Social e Saúde, amplamente

difundidos, como expressão da negação de “funções” e demarcação de

prerrogativas. O estudo procura problematizar as principais interpretações do que seja o social, no âmbito da Teoria Social, assim como apresentar elementos que confirmem o predomínio de trabalhos sociais que são ultrageneralizadores de preconceitos e regras programadoras do social, sem com isso eliminar as possibilidades de potencializar valores latentes no cotidiano contraditório. O modelo de competências aplicado ao Serviço Social é insuficiente, especialmente no contexto de precarização da formação profissional, tendo em vista a dimensão fundamental da produção de conhecimentos e qualificação no processo de definição de competências e atribuições direcionadas eticamente.

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ABSTRACT

This thesis analyzes the Brazilian Social Work’s professionalism through a critical

review of its historic, theoretical-methodological’s foundations, and the framing of its

ethical-political profession project centralized on a legal and normative statute to set

up the profession’s specificity and legitimacy. It comes from the comprehension that

a profession is made up in the society constitution, in the dynamic between the State interference in response to the production mode development and the tension between society projects as well as in the theoretical, technical and ethical constructo inherent to a professional project that complies with social needs. The

main finding is that the Social Work’s professionalism is dynamized by its fragility and legitimacy which demands from its organizations more visibility, vocalization

and its attributions bound on social and technical Work’s division. The constitution of

legitimacy of the professionalism was set in the historic re-democracy process and affirmation rights culture context that stimulated new social and institutional requests based on the theoretical-methodological and ethical-political professional foundations. From the critics to the skills pattern and its influence on education and

work it’s possible to find a trend on the profession that is to make references and

parameters that stake skills and attributions in specific areas. In this thesis were examined the Social Assistance and Health Parameters largely divulgated as an

expression to deny “functions” and prerogatives delimitations. This study intends to

question the main interpretations of what could be the social in the Social Theory as to present elements that seal the prevalence of social jobs that are highly generalizing of prejudice and programmed rules of the social, without thereby eliminating the possibilities of increase hidden values on the contradictory routine. The skills pattern applied to Social Work is unsatisfying particularly in the disqualified professional training context under perspective of central dimension of knowledge production and qualification on the skills setting process and attributions ethically orientated.

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LISTA DE SIGLAS

AASPTJSP Associação dos Assistentes Sociais e Psicólogos do Tribunal de

Justiça de São Paulo.

ANAS Associação Nacional de Assistentes Sociais.

ABESS Associação Brasileira de Ensino em Serviço Social.

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social.

CBO Classificação Brasileira de Ocupações.

CEDEPSS Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e

Serviço Social.

CFESS Conselho Federal de Serviço Social.

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social.

COFI Comissão de Orientação e Fiscalização.

CRAS Centro de Referência de Assistência Social.

CREAS Centro de Referência Especializado de Assistência Social.

CRESS Conselho Regional de Serviço Social.

ENESSO Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social.

FMI Fundo Monetário Internacional.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitca

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social.

NOB - RH/SUAS Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social.

SUAS Sistema Único de Assistência Social.

PACS Programa de Agentes Comunitários de Saúde.

PNAS Política Nacional de Assistência Social.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...11

1.1 QUESTÕES PRELIMINARES SOBRE PROFISSÃO...13

1. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA TESE...16

2. REVISÃO CRÍTICA DA PROFISSIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL...32

2.1 SERVIÇO SOCIAL E POLÍTICA SOCIAL: HIBRIDISMO E RELAÇÃO FUNCIONAL...36

2.2 BASES SÓCIO-HISTÓRICAS DA IDEOLOGIZAÇÃO CONSERVADORA: CRÍTICA E IMPLICAÇÕES RECENTES NO SERVIÇO SOCIAL...43

2.3 AS ULTRAGENERALIZAÇÕES NO TRABALHO SOCIAL: IMPLICAÇÕES TÉCNICAS E ÉTICAS...53

2.4 PROFISSÕES: REVISÃO TEÓRICA DA CONSTRUÇÃO SOCIAL DO SABER/PODER...57

2.5 CONCEITUAÇÕES DO SERVIÇO SOCIAL COMO PROFISSÃO E DISCIPLINA DO CONHECIMENTO...63

2.5.1 Serviço Social como especialização do trabalho coletivo...65

2.5.2 Profissionalização e estrutura sincrética do Serviço Social...71

2.6 A CONCEITUAÇÃO DA PROFISSÃO PELA MEDIAÇÃO DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO...79

3. ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO “SOCIAL”: MATRIZES TEÓRICAS E PROFISSÕES...84

3.1 O SOCIAL “COESO” E O TRABALHO INTEGRADOR...86

3.2 AÇÃO SOCIAL MOTIVADA POR VALORES ...92

3.3 SOCIEDADE CONTRADITÓRIA E PROJETO ÉTICO-POLÍTICO: TOTALIZANDO A ANÁLISE DO “SOCIAL”...95

4. A CONSTRUÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL...102

4.1 PROFISSIONALIZAÇÃO E IMPLICAÇÕES VALORATIVAS NAS PRIMEIRAS REGULAÇÕES: O SOCIAL “AJUSTÁVEL”...103 4.2 A MONOPOLIZAÇÃO DO SABER E DO FAZER NO SOCIAL: O SIGNIFICADO DA PRIMEIRA REGULAMENTAÇÃO...108

4.3 IMPLICAÇÕES POLÍTICAS E “EPISTEMOLÓGICAS” NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL: NOVO PERFIL, NOVAS “COMPETÊNCIAS”...113

4.4 CONTEXTO REFORMISTA E AS DIRETRIZES CURRICULARES...121

4.5 LEGITIMIDADE SOCIAL CONSTRUÍDA...127

5. TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E A EDUCAÇÃO POR COMPETÊNCIAS: A NOVA CONDIÇÃO DE “COLABORADOR” E A INDIVIDUALIZAÇÃO DO TRABALHO...130

(12)

5.2 NOÇÃO DE COMPETÊNCIA E A INDIVIDUALIZAÇÃO DO TRABALHO...137

5.3 O “MODELO” DE COMPETÊNCIAS NA EDUCAÇÃO.. ...141

5.4 A CERTIFICAÇÃO PROFISSIONAL PELO MODELO DE COMPETÊNCIAS...147

5.4.1 Certificação das ocupações profissionais...149

6. PROFISSIONALIDADE DO SERVIÇO SOCIAL CONTEMPORANEO: LEGITIMIDADE PELA MONOPOLIZAÇÃO DE COMPETÊNCIAS...153

6.1 A MONOPOLIZAÇÃO DO “SABER-FAZER”: COMPETÊNCIAS DO ASSISTENTE SOCIAL...156

6.2 SERVIÇO SOCIAL E ASSISTENCIA SOCIAL...162

6.2.1 Requisições do SUAS e direção ético-política...170

6.3 SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE...178

6.3.1 Direcionamentos ético-políticos na saúde...183

6.4 A CONSOLIDAÇÃO DO MODELO DE COMPETÊNCIAS NO SERVIÇO SOCIAL...189

ANÁLISES CONCLUSIVAS...195

REFERÊNCIAS...205

ANEXO A GRÁGICO 1: DISTRIBUIÇÃO DE CURSOS DE SERVIÇO SOCIAL POR REGIÃO...214

ANEXO B GRÁFICO 2: GRADUAÇÃO PRESENCIAL E A DISTÂNCIA POR REGIÃO...215

ANEXO C TABELA 1: BASE NORMATIVO-JURÍDICA DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL...216

ANEXO D QUADRO 1: ATIVIDADES CBO...217

(13)

1 INTRODUÇÃO

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei.

Carlos Drummond de Andrade

A construção da presente tese apresentada junto ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUCSP, não teve a pretensão de se constituir em estudo sobre a história da profissão, cuja abordagem teórico-metodológica exigiria um aprofundamento de aspectos centrados no registro e na análise cuidadosa de sujeitos significativos, eventos, produções relevantes na área.

O que me moveu como pesquisadora foi o reconhecimento das tendências históricas que convivem no bojo da disputa de projetos profissionais, no processo de construção da materialidade da direção social construída no Serviço Social, partindo da emergência do projeto ético-político profissional até suas implicações mais recentes, sobretudo nas tentativas de delimitar atribuições privativas.

O caminho metodológico percorrido no processo de construção do objeto foi direcionado por uma postura teórico-metodológica oposta às tendências reificantes e

pretensamente desmobilizadoras, “ideologizadas” pelo fetiche do capital

(IAMAMOTO, 2007), da alienação “desumanizante”, do aprisionamento na empiria

do tempo presente.

Procuro partir da compreensão da dialética entre sujeitos sociais e contextos sociopolíticos dinâmicos, do papel reflexivo e criador dos sujeitos individuais e coletivos historicamente inscritos nos espaços sociais configurados por relações de poder. Assim, conhecimento produzido também se constitui numa verdade parcial construída no contexto da sua realização, sendo uma totalização aproximada e elaborada a partir das opções teórico-metodológicas, conduzidas por concepções ideo-políticas em disputa.

(14)

circunscritas nos aspectos que condicionam e movimentam o posicionamento de uma profissão na divisão social e técnica do trabalho), especialmente por minha inserção no conjunto CFESS/CRESS, no exercício da docência e na atuação profissional na política de assistência social, particularmente no campo da chamada gestão do trabalho.1

O processo investigativo direcionou-se pela apreensão do significado social da profissão, centralmente em sua institucionalidade, atribuições e competências, em resposta ao movimento de requisições sociais e definições orientadas pelo projeto político hegemônico na profissão, o que exigiu totalizações em torno da relação complexa entre exercício profissional e realidade mais ampla. Tal compreensão, obviamente, se contrapõe às lógicas formais, essencialmente descritivas, comparativas e analíticas, e busca construir mediações intelectivas críticas no confronto com a realidade particularizada e totalizada em suas múltiplas determinações.

A construção do percurso metodológico procurou acompanhar o método crítico-dialético, que procura saturar as contradições da realidade pela elucidação do conjunto de suas relações existentes na realidade, numa perspectiva de totalidade e historicidade, na passagem do abstrato ao concreto reproduzido no pensamento crítico (MARX, 1978). Processualidade construída por mediações que permitem analisar o concreto real, para além das aparências fenomênicas, na identificação dos aspectos que tensionam a realidade contraditória. Assim, o movimento do pensamento na realidade foi movido pelas tentativas de apreender as determinações gerais do objeto delimitado, a análise das singularidades empíricas, na direção da particularidade histórica. Evidente que foram totalizações parciais circunscritas nas vivências, no conhecimento acumulado e sistematizado no Serviço Social, o que me permitiu transitar no caldo cultural da profissão e dialogar com as interpretações correntes nas Ciências Sociais sobre profissão.

(15)

1.1 QUESTÕES PRELIMINARES SOBRE PROFISSÃO

A escolha da categoria analítica profissionalidade tem por objetivo dar movimento à concepção de profissão na realidade social. Os elementos que condicionam um processo de profissionalização estão diretamente relacionados ao movimento dinâmico entre a base econômico-social e a atividade regulatória do Estado. Nesta relação, sobressaem as organizações da sociedade que requisitam respostas técnicas e as que monopolizam saberes. Assim, as interpretações funcionalistas ou interacionistas2 comparecem com maior vigor e encontram acolhimento no modo de organização das instituições que fragmentam as especialidades na mais pura aplicação positivista da parte que desenvolve o todo.

Do mesmo modo as interpretações weberianas baseadas na compreensão dos traços típicos de uma profissão sustentada na tradição, assim como dos recursos burocráticos que condicionam a existência e o funcionamento de uma profissão, são igualmente insuficientes para a análise da dinâmica movida e movente de uma dada especialidade, de um saber técnico. Tal interpretação encontra grande respaldo na particularidade brasileira, a exemplo das profissões tradicionais como Medicina e Direito, fundamentadas na cultura patrimonialista. São profissões que se utilizam menos dos recursos institucionais de auto-representação ou controle, pelo enraizamento cultural favorável ao poder acumulado, e mais da imagem construída socialmente.3

2 Interacionismo é uma perspectiva teórica que valoriza a interação entre o indivíduo e a cultura. Para Vygotsky, a inserção do indivíduo no meio cultural é fundamental para o desenvolvimento. O interacionismo simbólico é uma abordagem sociológica das relações humanas, que dimensiona o papel da interação social, dos significados particulares trazidos pelo indivíduo à interação formada, assim como os significados obtidos na interação. Sua origem se dá na Escola de Chicago, sendo bastante aplicada na microssociologia e na psicologia social. Ampliando a análise interacionista hegeliana, a interação é social e tem significado motivado. Autores originários do pragmatismo se destacam, como George Herbert Mead, Herbert Blumer e Charles Cooley. Blumer, cunhou o termo "interacionismo simbólico", evidenciando que os indivíduos agem em relação às coisas baseando-se no significado que as mesmas têm para eles. Os significados são produzidos na interação social e modificados por sua interpretação. A abordagem construtivista de Jean Piaget também é muito utilizada na análise do papel da educação na formação cultural e do próprio indivíduo. (http://pt.m.wikipedia.org/wiki.Interacionismo_simb%25C3%25B3lico).

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As interpretações clássicas, baseadas especialmente em Parsons, correspondem à limitada análise da organização das funções profissionais, diante do acelerado desenvolvimento capitalista. A lógica funcionalista é simples: quanto mais definidas e desenvolvidas forem as funções e os papéis sociais e das instituições, mais o sistema desenvolve.

Da Escola de Chicago emanaram (a partir principalmente da década de 1950), interpretações de grande difusão e incorporação nas Ciências Sociais e nas instituições de modo geral, pela aplicação do fundamentalismo liberal na administração e economia, impactando na interpretação do papel das profissões, com destaque para o intelectual orgânico da burguesia, Milton Friedman. É neste contexto cultural e sócio-político que interpretações sobre o papel das profissões são produzidas, a exemplo de Eliot Freidson.4

A abordagem freidsoniana das profissões enfatiza a construção social como elemento estruturante. A partir da noção de construção social e instituição, sobressaem interpretações como monopólio e autonomia, dimensões fundamentais do surgimento e desenvolvimento de uma profissão na complexa relação entre cultura, sociedade e profissão. Localizo nesta perspectiva teórica uma evidente interpretação institucionalista que pode, em alguns aspectos, comparecer nas conceituações do que seja a profissão na contemporaneidade, e ser identificada na construção das estratégias organizativas, particularmente dos conselhos profissionais, mas também de órgãos estatais, que procuram delimitar

do direito há uma aplicação dos seus saberes monopolizados no âmbito do conjunto das estruturas do Estado e demais setores, portanto, sua aplicação dependente de um operador nas tratativas burocráticas da vida social.

4 A Escola de Chicago é uma escola de pensamento econômico de grande influência teórica e política a partir da década de 1950. Destacam-se expoentes como George Stigler e Milton Friedman, ambos premiados com o Nobel de Economia. Suas ideias refutam o keynesianismo e dimensionam o liberalismo, com ênfase aos estudos estatísticos e menos à Teoria Econômica. Do ponto de vista político as teorias embasaram a economia autocrática de Pinochet no Chile na década de 1970, de Margaret Thatcher, em 1980, Ronald Reagan nos Estados Unidos, na mesma década. As teorias incidiram nas políticas dos organismos internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, com repercussões que resultaram no fundamentalismo do livre mercado e da redução do Estado, propagando-se um receituário expresso pelo Consenso de Washington. Em 1989 ocorreu na capital dos Estados Unidos da América um encontro entre funcionários dos Estados Unidos da América e organismos financeiros (FMI, BM, BID) e um grupo de economistas latino-americanos. Tal encontro, intitulado Latin American Adjustment: how much

has happened?, tinha por objetivo avaliar as políticas econômicas latino-americanas e propor

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especificidades, resultando na monopolização de saberes, com efeitos que potencializam a legitimidade social.

Pierre Félix Bourdieu se destaca entre os teóricos contemporâneos pela conjugação de conceitos considerados inovadores na interpretação de uma profissão, a exemplo do poder simbólico e da formação de um campo de poder, com regramentos de entrada e permanência, dinamizados na disputa entre ortodoxia e heterodoxia pela direção do próprio campo. Violência simbólica e habitus são

algumas das categorias empregadas na crítica das profissões, análise

tendencialmente estruturalista, pela premissa da predisposição dos indivíduos serem mais estruturados do que estruturantes, quanto aos efeitos praxiológicos na sociedade, ressaltando a questão da dominação. Sobressai na proposta teórica em Bourdieu, a reprodução de classes pela escola, com efeitos na distinção social, definindo-se o lugar social das profissões, sobretudo pela origem de classe.5

Em Bourdieu as estruturas são construídas socialmente assim como os esquemas de ação e pensamento, denominados de habitus. Para superar a polarização entre a física dos fatos sociais e as interpretações abstratas e afastadas da estrutura, as relações são apreendidas em sua dialética. Ou seja, as estruturas objetivas configuram representações e ações dos agentes, que podem transformar ou conservar as mesmas estruturas.

Tal interpretação teórica procura analisar as profissões em sua dinâmica movida por interesses dominantes de consenso e de coerção, com produção de signos simbólicos e generalização de práticas sociais que atribuem legitimidade social. Entretanto, a interpretação teórica de Bourdieu, embora com grande repercussão nas Ciências Social, é insuficiente para a análise de uma profissão

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considerando sua relação com as determinações de uma sociedade de classe, dinamizada por projetos em disputa. 6

Após a releitura das interpretações principais matrizes teóricas sobre profissão, cabe assinalar que no caso do Serviço Social, para interpretar o sentido da profissionalidade, parti das interpretações clássicas e ao mesmo tempo contemporâneas, de Marilda Villela Iamamoto e José Paulo Netto, num contexto de efervescente polarização das análises políticas sobre a crise ou ameaça ao projeto ético-político profissional diante da precarização da formação e do exercício profissional.

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO DA TESE

No caso do serviço social as conceituações em torno do que seja o projeto ético-político passam a exercer uma “função” agregadora das diferentes interpretações sobre a profissão em sociedade. A análise sobre a escassa, ao mesmo tempo consistente, produção sobre o Serviço Social (como objeto) permite reconhecer a prevalência da crítica à era dos monopólios no desenvolvimento capitalista e o “peso forte” do Estado, e no interior dele as classes conduzidas por projetos societários, na produção das condições de materialização do projeto. Foi importante para o desenvolvimento da tese, identificar conteúdos contemporâneos que associam o rigor teórico-metodológico “marxiano” (originalmente em Marx) com

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propostas institucionalistas, revelando incompletudes analíticas, ou mesmo adoção do modelo hegemônico da formação e organização do trabalho por competências.

A dificuldade em conceituar a profissão Serviço Social está relacionada com sua natureza? O modelo de competências previsto na legislação e nos parâmetros responde às dificuldades e fragilidades em precisar o conteúdo próprio da profissão na divisão social e técnica do trabalho? Essas são algumas das questões que acompanharam o desenvolvimento da tese.

Quanto ao modelo de competências, que influencia diferentes concepções sobre profissões, o mesmo possui raízes neofuncionalistas ajustadas à base ideo-política do modo de produção capitalista, condicionando a dinâmica meritocrática na disputa positiva entre as profissões por um “lugar” na divisão social e técnica do

trabalho. A educação e a organização do trabalho por competências repercutem

diretamente nas profissões, que passam, inclusive, a adotar o mesmo “método” de

definição do fazer profissional, servindo de base para a construção social das

“barreiras” entre as profissões. Muito embora o Serviço Social tenha reconstruído as competências na formação e na regulação do exercício profissional, há que se reconhecer a incidência deste modelo e os riscos na sua difusão.

Este campo de aproximações e problematizações compôs a trajetória de construção da presente tese, e só reforçou o entendimento da profissão construída socialmente, ao tempo em que a formação profissional e a adesão consciente aos propósitos ético-políticos, mobilizados por organizações profissionais, possuem relevância nos direcionamentos da profissionalidade.

O projeto original de tese previa como problema central de pesquisa: como se constitui historicamente a profissionalidade do Serviço Social no Brasil, tendo em vista a construção de sua legitimidade na sua relação com as políticas sociais, particularmente a assistência social, considerando a gênese e consolidação da profissão, e a demarcação teórica e política das especificidades, no bojo do debate contemporâneo sobre a desregulamentação do trabalho em geral e a precarização da profissão.

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considerando, ainda, os desafios regulatórios e políticos, que podem aprofundar as exigências e requisições para um exercício profissional.

A relação entre Serviço Social e assistência social possui desdobramentos históricos, entre a negação e a reconstrução de seu significado, resultando, inclusive, na sua inscrição na Seguridade Social como política não contributiva, quando recebeu atributos de política pública de Estado. Na atual conjuntura, assistentes sociais são desafiados ao enfrentamento plural de grandes polêmicas sobre a política de assistência social, em especial por seus traços de neoconservadorismo, ao tempo em que expressa uma das maiores inovações em gestão nas últimas décadas. A expansão significativa de profissionais, não apenas do Serviço Social, demanda estudos que apreendam as implicações do paradoxo entre a reconfiguração do trabalho e das funções da gestão pública nos marcos do Sistema Único de Assistência Social – SUAS, e a incidência expressiva de

assistentes sociais formados na lógica “fordista” para atender pragmaticamente à

ampliação deste campo.

Desde o princípio, independente do recorte na assistência social, prevaleceu como interesse investigativo o aprofundamento teórico da profissionalidade do Serviço Social, entre os fundamentos e a atualidade; as regulações inconclusas na demarcação das atribuições privativas e das competências, particularizando a inserção privilegiada nas políticas sociais, a partir dos direcionamentos produzidos pela profissão.

Novas questões foram comparecendo no aprofundamento da tese, especialmente: Como se configura o exercício profissional na atualidade, considerando a natureza de seus processos interventivos, condições éticas e técnicas, demandas por direitos nos espaços sócio-institucionais, tendo em vista, ainda, os processos e marcos regulatórios fundamentais da profissão, bem como sua aplicabilidade num contexto de precarização da formação e de reconfiguração da própria profissão?

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problematizações da tese: o aumento significativo de inscritos ativos, já que na década de 1990 eram 991, em 2000, totalizaram 2.023 e em 2012, 6.178; a diversificação das áreas de atuação dos inscritos ativos de 2010, sobressaindo as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais - APAE, com 53 registros, Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, com 58 registros e Centros de Referência Especializados de Assistência Social – CREAS, com 13 registros, Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMATER, com 25, e uma pulverização de registros entre prefeituras, entidades sociais, hospitais, entre outros. Quanto aos inscritos ativos em 2010, egressos de ensino a distância, destacam-se aqueles que informaram sua área de atuação, num total de 555 inscritos: 234 atuam na assistência social; 65 na área da criança e adolescente; 97 na saúde; 49 na educação; 15 informaram que atuam na administração pública e 49 identificaram apenas como Serviço Social.

Evidente que o sistema de registro profissional revela insuficiências que dificultam análises aprofundadas sobre a configuração dos espaços ocupacionais, mas podem revelar tendências importantes como a incidência significativa de profissionais inscritos inseridos nas políticas sociais, confirmando a legitimidade profissional. São conselheiros tutelares, gestores de assistência social, educadores e outros servidores que buscam a formação na área, diante das facilidades dos cursos na modalidade à distância.

Nesta aproximação empírica foi possível constatar, ainda, que entre as violações do Código de Ética do Assistente Social, sobressai num universo de 301 casos pesquisados entre 1999 e 2009 pela Comissão de Ética do CRESS Paraná, a violação ao Artigo 3º, alínea a - “desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência e responsabilidade, observando a legislação em vigor”; e Artigo 4º, alínea

b - “praticar e ser conivente com condutas antiéticas, crimes ou contravenções penais na prestação de serviços profissionais, com base nos princípios deste

Código, mesmo que estes sejam praticados por outros/as profissionais”. Sobressai,

portanto, a exigência do compromisso ético com a competência e aprimoramento intelectual, assim como o posicionamento em defesa dos direitos humanos.

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das dificuldades em delimitar atividades em equipes multiprofissionais, e na relação interinstitucional, notadamente entre o Judiciário e a assistência social.

Não obstante a riqueza de informações obtidas nas incursões por dados empíricos, que poderiam ser ampliados e comparados em relação aos demais CRESS, configurando um estudo exploratório, a banca de qualificação sugeriu a delimitação do campo empírico particularizado nas legislações que relacionam exercício profissional com o modelo de competências no trabalho. Assim, percorri o

universo das regulações que especificam “funções”, formação e exercício de

competências profissionais, até as mais recentes publicações que atribuem sentido em espaços ocupacionais como assistência social, saúde, educação e sócio-jurídico.

Neste sentido, a presente tese tipifica-se como uma pesquisa exploratória, por ter permitido uma aproximação acerca da temática “profissão” no âmbito das Ciências Social. Ao mesmo tempo pode ser considerada uma pesquisa teórica (Gonsalves, 2003), que tem como metodologia central a análise documental sobre a legislação profissional. A pesquisa teórica concentrou-se na análise de produções fundamentais de José Paulo Netto e Marilda Villela Iamamoto. Tal centralidade justificada-se pela ampla assimilação de suas “teses” sobre a profissão, e fundamentação basilar da formação e do exercício profissional na contemporaneidade, conformando particularidades teóricas que se complementam e se antagonizam quanto à delimitação do que seja a própria profissão.

A leitura aproximada da historicidade do Serviço Social reconhece que a história em si não guarda uma intencionalidade imanente, independente da atividade dos sujeitos sociais. Os projetos societários, relacionados à luta de classes, portanto em disputa por adesão social, surtem um efeito determinante na constituição do ser social. Ou melhor, incidem nas práticas dos sujeitos, movidos por necessidades concretas, de modo que os espaços sociais, tecidos por disputas, relações de consenso e coerção, forjam-se na dinâmica contraditória da história, na tensão entre liberdade posta como horizonte e determinações concretas.

Os caminhos percorridos pela profissão, partindo-se do pressuposto de que o Serviço Social é resultado das relações entre as classes e destas com o Estado, na progressiva regulação e resposta institucional à questão social, não se justificam ou

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A profissão é movida pela atuação do seu coletivo, o que dá um sentido ontológico às práticas que percorrem as possibilidades cotidianas para a materialização de princípios ético-políticos da profissão. Isto porque, o assistente social, assim como os demais sujeitos, atua com consciência, considerando as possibilidades e limites concretos, com potencial transformador da realidade cotidiana.

Ter a própria realidade social como substrato de atuação requer, entre outros aspectos, a compreensão da relação entre determinações sócio-históricas e respostas sócio-institucionais; a análise das particularidades dos padrões de regulação social nos períodos de desenvolvimento do capitalismo. Nessa relação ficou convencionado, acertadamente, localizar o Serviço Social como uma profissão inscrita nas relações sociais contraditórias, cujos objetos são as expressões da questão social, sendo esta resultante do conflito entre o capital e trabalho, expressão de desigualdade, além de respostas institucionais parciais, resistência e organização na vocalização das demandas do trabalho.

As análises dos fundamentos históricos e da incidência de matrizes teórico-metodológicas no Serviço Social partem do pressuposto de que a profissão é um subproduto da realidade social, o que coloca limites institucionais e políticos para o exercício profissional, bem como possibilidades concretas na construção de mediações capazes de interferir na dinâmica institucional, a partir da direção social que hegemoniza a profissão, disputada pelos projetos societários, que são orientados por concepções ideo-políticas diversas.

A intencionalidade do estudo foi capturar o processo de construção da profissionalidade do Serviço Social no contexto de “hegemonização” do chamado

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O contexto recente de construção da hegemonia do projeto ético-político profissional configurou uma cultura favorável à produção de instrumentos jurídico-normativos no âmbito da profissão, com difusão de conhecimentos produzidos a partir da organização dos programas de pós-graduação, o que de fato não anulou as investidas tradicionais no exercício profissional. Ou seja, construiu-se uma nova hegemonia que posiciona o Serviço Social no campo dos direitos, o que não significa ter anulado as práticas conservadoras que convivem no âmbito profissional.

A intencionalidade projetada era de superar a representação aparente da

profissão, “desocultando” suas contradições internas por aproximações sucessivas e

totalizantes. Para tanto, alguns percursos teóricos e empíricos foram necessários, na finalidade primeira de, partindo do debate acumulado sobre a crítica ao conservadorismo, no contexto da profissionalização do Serviço Social, analisar o que é a profissão, em sua natureza interventiva, na relação entre os fundamentos e o projeto ético-político profissional, pelas indicações políticas, éticas e técnicas, e o movimento regulatório do exercício profissional.

Alguns elementos nortearam parte das análises sobre o Serviço Social: a relação entre profissão e demandas sócio-institucionais no campo dos direitos considera, em oposição às formas clássicas de assistir e controlar, a crítica à formação social brasileira e suas implicações recentes; o processo de realização dos direitos e das políticas sociais; tendência pragmática e afirmativa da cultura política conservadora nos processos interventivos, na contracorrente do direcionamento ético-político que responde às necessidades históricas.

A tessitura desta relação sociedade/profissão exige o reconhecimento do

caldo cultural conservador proclamado como “pós-moderno”, com desdobramentos

teóricos, políticos e interventivos. Outra preocupação investigativa foi a evidente fragilidade institucional como elemento constitutivo da profissão, dada à produção de parâmetros normativos que pretendem dizer o que não constitui a profissionalidade; a demanda por uma definição mais precisa do que sejam as atribuições privativas; e

a frágil relação entre competências profissionais e princípios éticos, na “aplicação”

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Por último, compareceu nas problematizações relativas à fragilidade

institucional, o pragmatismo revelado, sobretudo, na leitura e “aplicação” “instrumental” do projeto profissional, conduzindo o exercício profissional, de modo predominante; ao aprisionamento da atuação às definições relativas às políticas sociais e à dinâmica institucional em que o assistente social se insere.

Parte das fragilidades presentes na objetivação técnico-política no cotidiano é desenhada pelos constrangimentos da formação sócio-histórica e seus rebatimentos

atuais, aprofundados pelo “desapego” à historicidade e conseqüente manipulação do presente imediatista, mas, sobretudo, pela precarização da formação profissional, e antes dela, da educação brasileira.

Coloca-se como hipótese que sustenta a tese: ao tempo em que a profissão revela tendências de fragilidade, potencializada pela precarização da política de

educação, com conseqüências oriundas da massificação e “escolarização”

superficial e do “apostilamento” dos conteúdos, especialmente na modalidade de

ensino a distância, mas não exclusivamente, ampliam-se espaços de legitimidade e de atuação no âmbito das políticas sociais, forjados no contexto de afirmação dos direitos e das políticas referentes, nos marcos da implementação da Constituição de 1988.

Desse modo sentido, constituiu-se como objeto deste estudo, a

profissionalidade do Serviço Social no campo das políticas sociais, considerando a relação paradoxal entre fragilidades e potencialidades institucionais, tendo em vista os impactos dos padrões recentes de regulação social, diante da crise do capital, e os direcionamentos capturados na análise dos indicativos éticos e técnicos construídos coletivamente.

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mecanismos de auto-representação coletiva e de regulação do exercício profissional, com as atenções voltadas ao debate sobre a materialidade do projeto ético-político profissional.7

A análise sobre a profissão na atualidade parte do paradoxo: ao tempo em que predomina o reconhecimento de que a profissão é socialmente construída, que

o exercício profissional possui o peso forte das “contingências” e das determinações

das relações de força e poder, das condições objetivas, configurando a autonomia relativa de um profissional essencialmente assalariado (IAMAMOTO, 1982; 2007), atribui-se um peso regulatório que extrapola as possibilidades da profissão de controlar plenamente as repercussões do exercício profissional. Há uma pressão da categoria em delimitar suas prerrogativas e uma resposta regulatória que mais responde a uma homogeneização política dos objetivos profissionais, do que aos desafios de precisar o que é a profissão.

O debate conjuntural quanto à sustentabilidade do projeto ético-político aponta desafios relativos aos direcionamentos gestados nas entidades organizativas, notadamente o conjunto do Conselho Federal e Conselhos Regionais de Serviço Social (CFESS/CRESS), a Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS) e a Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social (ENESSO); problematiza a relação entre a profissão e as reformas desencadeadas nas políticas públicas, particularmente de educação e assistência social; e sinaliza avanços necessários, tendo em vista a frágil presença de movimentos anti-neoliberalismo na sociedade. Aspectos que dimensionam o significado da profissão como uma construção social e não apenas dos seus agentes.

Na produção do Serviço Social observo uma carência de estudos por “dentro”

da institucionalidade da profissão, difundidos nacionalmente. Evidencio, na esteira desta preocupação, uma demanda interna histórica na organização do conjunto CFESS/CRESS, por aprofundamentos relativos às atribuições privativas; por regulações efetivas no processo de resistência às investidas que precarizam a profissão, tendo em vista possibilidades de desconfiguração do que foi conquistado

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nas últimas décadas, das possibilidades de desmaterialização do projeto ético-político profissional.

Predomina no seio do projeto ético-político profissional o objetivo legítimo de

frear os processos recentes de “desregulamentação” do Serviço Social, sendo que a

estratégia central tem sido produzir direcionamentos consistentes o suficiente para conter as mudanças no perfil profissional que tende, dada a crescente precarização da formação profissional, a intensificar a fragilidade institucional da profissão. Uma das preocupações é o impacto dos direcionamentos diante da proliferação de cursos que fragilizam o processo de formação e oferecem as bases para a conformação de

um novo “corpo” profissional.

O aumento exponencial de cursos de graduação em Serviço Social nos últimos anos revela um panorama preocupante, considerando os processos de precarização da formação e as possibilidades de controle público, sobretudo quanto aos limites institucionais das entidades da categoria.8

A desterritorialização dos cursos é uma das características recentes, tendo em vista os Cursos na modalidade à distância, desafiando as organizações da formação e do exercício profissional a repensarem suas estratégias de alcance político e regulatório. A implementação da Política Nacional de Fiscalização pelos CRESS na década de 1990 tinha como uma das estratégias a presença do serviço de orientação e fiscalização nas turmas concluintes, nos eventos coordenados pelas Instituições de Ensino, entre outras ações constitutivas da aliança programática das entidades da categoria. Os efeitos provocados pelas reformas empreendidas na

educação, com evidente “escolarização” e “aligeiramento” que atendem às

exigências do mercado, trazem dificuldades importantes na materialização do projeto ético-político pelo conjunto CFESS/CRESS, o que justifica a produção de novas possibilidades institucionais regulatórias, direcionadas politicamente.

A evidente fragilidade ou limite institucional da profissão de regular a formação e o exercício profissional tem relação direta com as dimensões da institucionalidade do Serviço Social entre as décadas de 1990 e 2010, no esforço coletivo da construção da legitimidade social. O Serviço Social possui elementos de

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legalidade e legitimidade presentes nos direcionamentos ético-políticos no projeto profissional pós Constituição de 1988, na relação orgânica com movimentos democráticos; e de inflexões na explicita fragilidade institucional, configurada em sua dimensão sócio-cultural, relacionada às atividades predominantemente pragmáticas na sua gênese, organizada por setores conservadores e direcionada pelas respostas autoritárias e corporativistas do Estado e da sociedade civil organizada, além de outros determinantes, a exemplo da incidência de referenciais funcionais à sociabilidade burguesa, aspectos que se reconfiguram na cena contemporânea.

A superação hegemônica do conservadorismo no Serviço Social, nas dimensões política, teórica e prática, “aliou” tendências reformistas e marxistas, no

contexto da reconceituação ou da chamada renovação, pela direção da intenção de ruptura (NETTO, 1998). Entretanto, práticas conservadoras convivem na sociedade e na profissão, por serem, justamente, constitutivas de projetos societários que disputam adesão, hegemonia, e por vezes aparecem transfiguradas e

“remodeladas”.

Ainda que o contexto histórico da incidência de referentes teórico-metodológicos tenha, pela inauguração do pluralismo profissional, revelado uma

“desocultação” do neoconservadorismo manifesto na fenomenologia (NETTO, 1998), e apresente a falsa sensação de experiência absolutamente superada pela renovação, o conservadorismo plasma-se, sobretudo, no exercício profissional em várias expressões imediatistas e empiristas, forjadas nas amarras do cotidiano, expressando funcionalidade às regras institucionais, podendo ser identificadas em discursos que apresentam elementos que sugerem a coesão social e recuperação das tradições da sociedade na formação dos papéis sociais, o que não é exclusivo da profissão.

Portanto, a crítica à relação entre sociedade e profissão exige o

reconhecimento do caldo cultural neoconservador, diante da “acomodação”

conservadora de novo tipo, por vezes ocultada pelo discurso “homogeinizador” de

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O conservadorismo está presente em todas as dimensões da vida social e na atualidade vem travestido de moderno, o que também não é novo, a exemplo do Serviço Social no contexto da renovação pela via do estrutural-funcionalismo, da perspectiva sistêmica e da fenomenologia, sob as mesmas bases funcionais à cultura instituída. É possível identificar, inclusive, o discurso neoconservador pelo emprego de categorias explicativas da intervenção profissional no campo das políticas sociais que recuperam elementos como integração social, vínculos, entre outros, que são funcionais aos projetos políticos que se distanciam de fundamentos teórico-metodológicos críticos quanto à análise das determinações sócio-históricas. A questão problemática não é o emprego em si de conceitos que tendem à manipulação dos comportamentos, mas o distanciamento progressivo de categoriais explicativas da realidade em suas contradições, preconizadas pela formação profissional, a exemplo da questão social (o que não basta já que questão social pode ser reduzida a problemas sociais).

O neoconservadorismo possui implicações políticas, teóricas e culturais que merecem destaque para a análise dos fundamentos do Serviço Social e suas implicações mais recentes, com centralidade nas lógicas apreendidas pela profissão por influência, notadamente, do método positivista, criticado pelo impacto fundamental da razão crítico-dialética no movimento de desnaturalização das

instituições, tradições e processos “reificantes” da sociabilidade capitalista. 9

A intencionalidade da presente tese, portanto, foi a de reconhecer os mecanismos institucionais e as respostas políticas produzidas pela profissão, na produção e na auto-preservação de sua profissionalidade vinculada ao projeto profissional construído nas últimas décadas. Sobressaem alguns limites e dilemas sobre o que constitui uma profissão socialmente produzida; a dificuldade em delimitar sua especificidade na relação entre competências e atribuições; os limites dos direcionamentos políticos e seus impactos no exercício profissional, considerando as mudanças em curso na formação profissional.

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A análise sobre os fundamentos históricos e a incidência das teorias sociais no Serviço Social, partem do pressuposto de que a profissão resulta e é produzida no movimento contraditório da sociedade, o que conforma limites institucionais e políticos, bem como possibilidades concretas na realização de mediações capazes de produzir interferências objetivas.

No contexto de afirmação do projeto ético-político observa-se um aumento exponencial da produção de instrumentos normativo-jurídicos relativos ao exercício profissional, entre os anos de 2000 e 2010, diferentemente do período compreendido entre 1990 e 2000, quando o conjunto CFESS/CRESS concentrou esforços na implementação matricial da Lei n. 8662/93 e do Código de Ética do Assistente Social (Resolução n. 273/1993). Tal movimento pode ser interpretado como uma reação ao contexto de precarização da formação profissional.10

A análise sobre a profissão, considerando os limites configurados nas diferentes conjunturas, parte do reconhecimento dos constrangimentos políticos e institucionais da cultura brasileira, particularmente quanto às relações que expressam mando e favor na reprodução de práticas conservadoras. Para o Serviço Social, profissão essencialmente interventiva no âmbito da questão social, tais implicações são aprofundadas, tendo em vista a inserção majoritária de profissionais

na estrutura pública dos municípios, palco de “apadrinhamentos” e relações de

poder. Isto porque a reconfiguração do trabalho na área revela uma inserção majoritária de assistentes sociais nas políticas públicas municipais e suas respectivas redes complementares. Cabe indagar se diante das transformações recentes na formação dos assistentes sociais, o exercício profissional se sustentaria apenas pelos indicativos ético-políticos produzidos por suas organizações profissionais.

O processo de acompanhamento da orientação e fiscalização do exercício profissional pelo conjunto CFESS/CRESS tem identificado uma tendência dos profissionais apresentarem um discurso de defesa de direitos, mas uma prática frágil na construção de novas mediações que explicitem rigor teórico-metodológico e compromissos ético-políticos. Revela, ainda, demandas corporativistas, o que

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conflita com o sentido do “ético-político”, quanto à suspensão dos interesses

passionais e egoístas (GRAMSCI, 1978).

Foi possível reconhecer este panorama de adversidades em escala nacional na oportunidade em que coordenei a Comissão de Orientação e Fiscalização do Conselho Federal de Serviço Social – CFESS, durante a gestão “Defendendo Direitos, radicalizando a democracia” - 2005/2008, assim como nas três gestões na direção do CRESS 11ª Região PR. Observa-se a tendência constitutiva da natureza da profissão, de legitimidade política convivendo com a fragilidade institucional, o que ganha contornos mais complexos pelo crescimento desordenado de cursos de serviço social. 11

O estudo em tela dá, portanto, centralidade à problematização do exercício profissional, no contexto de reconfiguração da profissão, o que desafia as organizações profissionais, particularmente o conjunto CFESS/CRESS, a combinar coerção, pelos mecanismos disciplinares do exercício profissional e consenso, por meio da difusão dos princípios e atividades político-pedagógicas, a partir de pactuações democráticas, na perspectiva da consolidação do projeto ético-político profissional, considerando os limites e as possibilidades reduzidas das organizações

isoladamente definirem o “que devem fazer” os profissionais, definirem a

profissionalidade. Nesse sentido, os fundamentos de uma profissão, no recorte do

“campo do social”, entre a fragilidade e a legitimidade, pode trazer alguns indicativos sobre os caminhos coletivos em defesa da relevância pública da profissão, ainda que este não tenha sido o objetivo central na produção do estudo.

A profissionalidade construída, no movimento de afirmação de um perfil crítico na contramão da tendência pragmática reinante, revela uma nova legitimidade na política social que não elimina as contradições típicas de tal relação. Há uma relativa

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concordância dos constrangimentos institucionais no campo das políticas sociais e seus rebatimentos no exercício profissional. Como avançar na aplicação das

principais competências profissionais, a exemplo de “elaborar políticas, programas e projetos sociais, realizar pesquisa, orientar e produzir estudos, laudos e pareceres”,

considerando as expressões da questão social como objeto de investigação-ação, tendo em vista as limitações e dinâmicas das políticas sociais?

No movimento de resistência em defesa das prerrogativas e conquistas, é preciso avançar na leitura e na compreensão das transformações da profissão e da sociedade, intensificando-se os recursos institucionais que foram determinantes da legitimidade construída na realidade movida e movente.

A produção de conhecimentos possui centralidade na construção e difusão de conhecimentos que apreendam a dinâmica da profissão em sociedade. Nesse sentido, prevaleceu o objetivo de analisar o processo de constituição da profissionalidade do Serviço Social no contexto de hegemonização do projeto ético-político, considerando a relação entre as conjunturas configuradas pela cultura neoliberal e a afirmação de direitos constitucionalizados, e a incidência do chamado

“modelo de competências” na formação e na regulação das profissões,

particularizando o Serviço Social. Para tanto, considerei as produções normativo-jurídicas nos diferentes marcos sócio-históricos da profissão, particularizando a produção recente de parâmetros que orientem o exercício profissional, a partir das competências, com centralidade nos Parâmetros para Assistência Social e Saúde, dada a inauguração e difusão no meio profissional.

No item “Revisão crítica da profissionalização do Serviço Social” é

contextualizado a relação híbrida e determinante da profissão com a política social e as bases conservadoras. Nesse espectro comparece o reconhecimento da política social como espaço de intervenção profissional e elemento justificador, no processo de profissionalização, da necessidade histórica da profissão.

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e construção da legitimidade social, possibilitando o reconhecimento das reais possibilidades de delimitar atribuições no trabalho social.

No quarto item, “A construção da profissionalidade do Serviço Social” é sintetizada a relação entre as regulações do exercício profissional e o sentido do trabalho social, assim como as implicações do modelo de competências adotado na formação e no trabalho, por força das reformas estatais. Tal modelo é orientador da formação contemporânea e da organização do trabalho pelo Estado e pelas organizações profissionais.

A crítica e reconstrução do modelo de competências exigiu a análise sobre as implicações das transformações no mundo do trabalho e a educação por competências, conteúdos tratados em “Transformações no mundo do trabalho e a educação por competências: a nova condição de ‘colaborador’ e a individualização

do trabalho”.

Por fim, no sexto item, “Profissionalidade do Serviço Social contemporâneo: legitimidade pela monopolização de competências” procuro apreender o movimento da profissão nos marcos da contemporaneidade para manter a legitimidade do trabalho profissional, considerando as competências e atribuições, assim como os indicativos políticos sobre o exercício profissional na assistência social, na saúde, e as tendências na educação e no campo sócio-jurídico, espaços privilegiados pelo coletivo profissional na produção de orientações unificadas em torno das competências.

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2. REVISÃO CRÍTICA DA PROFISSIONALIZAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

A análise dos fundamentos do Serviço Social e a constituição de sua profissionalidade, particularmente na reprodução do conservadorismo, considera o movimento da profissão em resposta às requisições sociais geradas no enfrentamento político e institucional da questão social12, diante do tensionamento entre as classes e a produção de mecanismos regulatórios que hegemonizam seus interesses na esfera pública do Estado; e a organização da profissão em contextos históricos, com incidência de referentes teórico-metodológicos gerados socialmente, com a consequente produção de conhecimentos sobre a própria profissão e a realidade brasileira, e o ordenamento normativo-jurídico no estabelecimento de balizas e direcionamentos ético-políticos “reguladores” do exercício profissional.

O esforço metodológico proposto nesse capítulo é o de superar análises meramente descritivas, por isso a recuperação de algumas contribuições teóricas sobre profissionalização. A simples tipificação sinaliza a compreensão de aspectos essenciais da profissão, em seus traços e evidências peculiares, conformando a expressão de valores direcionadores das “ações sociais”, o que certamente encontraria respaldo metodológico na perspectiva weberiana (1974). Não se trata de uma análise da aparição fenomênica da profissionalidade no que se refere à forma como a própria profissão é representada e sistematizada pelos agentes profissionais. Trata-se, sim, do movimento teórico-metodológico que exige a consideração e negação das análises sobre profissionalidade, especialmente no campo das Ciências Sociais de modo geral, culminando numa síntese que procure corresponder ao desafio de abordar determinações e direcionamentos que incidem na constituição da profissão.

Na recusa dos propósitos teórico-metodológicos descritivos opera-se, aqui, a negação de análises que caracterizam a profissão nela mesma, em seus aspectos exteriores, pela inspiração durkheiminiana (1995), notadamente na abordagem estrutural-funcionalista, que além de reconhecer a profissão como uma parte que

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compõe o funcionamento do todo na predisposição evolutiva, analisa esta instituição em sua exterioridade, como um sistema que explica as relações sociais, no desenvolvimento de funções e papéis sociais (uma profissão desenvolvida agrega indivíduos e desenvolve a sociedade).

A recusa de análises reducionistas e endógenas da profissão, amplamente problematizadas pelo Serviço Social no contexto de sua reconceituação (NETTO, 1998; IAMAMOTO, 1982), parte do suposto de que uma profissão não se sustenta socialmente por sua expertise superior na estratificação profissional, como querem os neofuncionalistas, demandantes de um lugar particular na divisão social do trabalho, mesmo as profissões mais tradicionais como Medicina e Direito. Sem dúvidas, as produções regulatórias que demarcam prerrogativas e condições para o exercício profissional ou reconhecimento acadêmico para as profissões não regulamentadas em legislações específicas, são aspectos fundamentais, porém não são fundantes e suficientes.

Os projetos profissionais, forjados por sujeitos coletivos, o que implica uma dimensão organizativa, são movidos por determinações externas e internas, definindo uma institucionalidade que não é estática. Como afirma Netto, os projetos das profissões:

apresentam um a auto im agem da prof issão representada pelos seus agentes, valores que a legitim am socialm ente, delim itação e prioriza ção de objetivos e funções, form ulação de requisitos (técnicos, institucionais e práticos) para o seu exercício profissional, prescrição de norm as para o com portam ento dos profissionais e estabelecim ento de balizas de sua relação com os usuários dos seus serviços, com outras prof issões e com as organizações e in stituições, públicas e privadas (1999, p. 95) .

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As análises sobre os fundamentos de uma profissão regulamentada partem, em geral, da atualidade, da compreensão de seus vínculos ético-políticos ou de

“compromisso social” com a sociedade, de suas competências e funções, para realizar o movimento analítico da relação entre a profissão e demais instituições, compreendendo processos hegemônicos nos contextos particulares. Não se trata, portanto, de recontar a história, os agentes, os eventos. A profissão é uma síntese de múltiplas determinações particularizadas historicamente.

A revisão crítica da profissionalidade do Serviço Social parte do entendimento

de que sua profissionalização possui relações “genéticas” com as “peculiaridades”

da questão social na ordem monopólica (NETTO, 1992, p.14). Assim, refuta-se a compreensão do Serviço Social como uma evolução institucional das protoformas filantrópicas e assistencialistas, embora constituam a base da organização na gênese da profissão. Sua legitimidade é construída na formação de um estatuto sócio-ocupacional, das condições “histórico-sociais que demandam este agente,

configuradas na emersão do mercado de trabalho” (p.66).13

Estão na base da constituição do Serviço Social os fenômenos presentes na formação do Estado funcional ao capitalismo monopolista, sobretudo pela organização da política social, assim como a refuncionalização de práticas precedentes, alinhadas às referências ideo-políticas e teóricas que atendiam ao desafio político e econômico dominante. O que se depreende quanto à profissionalização do Serviço Social é que a profissão resulta essencialmente das determinações sociais, políticas e econômicas, engendrando condições institucionais para o exercício de sua natureza interventiva. Ou seja, a profissionalização do

Serviço Social ocorre no momento em que os profissionais “passam a desempenhar

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