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Os sistemas de classificação bibliográfica como interface bibliotecausuário

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Academic year: 2018

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Ciência da Informação - Vol 25, número 2, 1995 - Artigos

Os sistemas de classificação bibliográfica como interface

biblioteca/usuário*

Maristela Cid Gigante

Resumo

As classificações refletem o contexto social no qual foram elaboradas. O contexto histórico e social no qual foram criadas tanto a CDD quanto a CDU difere do contexto histórico atual no qual se presencia infovias, redes de com-putadores, serviços self-service. O uso da CDD e CDU, atualmente traz implicações e gera deficiências para a interface entre sistema de informação/usuário. Nesse sentido, mecanismos e metodologias que viabilizem uma melhor inteface entre usuários/sistemas de informação necessitam ser propostos pelos profissionais da ciência da informação

Palavras-chave

CDD; CDU; Self-service; Interface − Sistema de informação/usuário.

Introdução

Estamos às portas do século XXI, em um mundo que vive as conseqüências da revolução tecnoló-gica. O mundo real convive lado a lado com um mundo virtual onde a informação e também a vida flui bit-a-bit pelas infovias que, em redes de computadores, abraçam todo o planeta.

Tudo o que é comunitário, tudo o que é social, passa pelo individual, passa pela tomada de deci-são pessoal. O ser humano é chamado a todo momento a assumir o seu próprio papel neste mundo em mudança.

Neste contexto, surgem em todos os campos e ambientes estruturas de self-service. As pessoas

já estão cada vez mais habituadas a chegar em determinados lugares e procurar por instruções, orientações de auto-serviço. Ou então, ao adquirir qualquer tipo de equipamento ou eletrodomés-tico, utilizar-se do manual de instruções, que hoje traz instruções em diversos idiomas, e resolver sozinho seus problemas de montagem e instalação.

Diante dessa leitura da realidade, levanta-se o questionamento acerca das formas vigentes de acesso à informação em bibliotecas e centros de informação, pois tal acesso ainda é feito de forma a manter o usuário dependente dos serviços do bibliotecário, que é só quem entende a organização local.

No ensejo da realização deste trabalho, buscou-se, na literatura disponível, o aspecto de interface das classificações bibliográficas ao menos as mais utilizadas no Brasil, que são a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU) entre a biblioteca e seus usuários.

Buscou-se verificar também qual é o paradigma vigente em relação à divisão do conhecimento e em relação às práticas biblioteconômicas.

A respeito das classificações bibliográficas, os documentos ainda muito utilizados nos cursos de biblioteconomia em nosso país, ou seja, clássicos como FOSKETT (1974)1, L

ANGRIDGE(1976)2 e

VICKERY (1975)3, analisam essas classificações em relação ao paradigma vigente por ocasião de

sua origem, no século passado, e não trazem informações sobre o paradigma atual**.

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** Exceção para Ranganathan, S.R. que discute as classificações bibliográficas à luz da Teoria Dinâmica do Conheci-mento.

No entanto, com relação às práticas biblioteconômicas, há mais recentemente quem afirme que existe em curso uma mudança radical no paradigma que até agora era centrado nas bases de dados, para um centrado no usuário. (WATTERS)8.

Nesse sentido, esse trabalho discute, de forma sucinta e objetiva, o contexto no qual foram cria-dos os dois principais esquemas de classificação bibliográfica adotacria-dos no Brasil e a situação atual de sua aplicação.

Em um outro momento, ressalta-se a importância do momento atual como mudança paradigmáti-ca em relação aos objetivos de uma biblioteparadigmáti-ca.

OS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO

Os sistemas de classificação bibliográfica foram elaborados com o objetivo de organizar os acer-vos de bibliotecas e facilitar o acesso dos usuários à informação contida nesses aceracer-vos.

No entanto, aquela que foi a primeira dessas classificações e que influenciou na construção das demais surgiu em um determinado contexto histórico-científico que já há algumas décadas ficou para trás. Conforme ressalta Tálamo (1995, p.54)4, a Classificação Decimal de Dewey, “calcada

na classificação das ciências de Francis Bacon, tem suas dez classes baseadas na divisão do conhecimento em três grandes grupos: memória, imaginação e razão”.

Depois da CDD, surgiu a Classificação Decimal Universal (CDU) construída também sob os prin-cípios da divisão científica do conhecimento, que traz um avanço em relação à primeira: “aumento da capacidade de síntese, ou seja, possibilidade de representar assuntos complexos e de clas-ses diferentes por meio de mecanismos de combinação; incorporação do princípio de análise por facetas, princípio que permite uma análise multidimensional dos assuntos...”(Tálamo, 1995, p. 55)4.

Mas sua macroorganização funda-se na organização lógico-hierárquica de suas unidades. A de-limitação de classes de assuntos é feita a partir de pontos de vista determinados”(Cintra, 1994, p. 41)5.

Os pontos discutidos até aqui nos mostram como as classificações bibliográficas podem ser um bom instrumento de trabalho para o bibliotecário na organização do acervo de uma biblioteca.

A sua macroorganização lógico-hierárquica faz com que os documentos sejam alocados, separa-dos, obedecendo às diversas áreas de assuntos existentes e classificáveis por suas tabelas.

Mas, se essas tabelas são construídas mediante uma organização de conhecimentos que já não é reconhecida atualmente, acaba por juntar assuntos que não “são produto de subdivisões hierár-quicas, apresentando relações hierárquicas inconsistentes” (Tálamo, 1995, p. 56)4.

De fato, embora não esteja claro qual é o padrão de divisão do conhecimento hoje, sabe-se que existem inúmeros temas interdisciplinares e ou transdisciplinares que dificilmente se encaixariam na divisão memória-imaginação-razão de Bacon, ou então em uma das dez classes de Melvil Dewey.

Caso sejam levadas a efeito de reflexão as cinco leis de Ranganathan, que, conforme se pode deduzir da leitura de Figueiredo (1992)6, podem se tornar arcabouço teórico da ciência

biblioteco-nômica, e a questão se torna ainda mais séria.

A terceira lei diz: A cada livro seu leitor, e para Garfield, citado em Figueiredo (1992, p. 187)6,

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Garfield que “esta lei leva a práticas tais como acesso livre, arranjo coerente na estante, catálogo adequado e serviço de referência”.

Suponhamos que as classificações bibliográficas não tivessem os problemas estruturais que foram citados anteriormente. Como será que se sente o usuário da biblioteca, ao consultar o catálogo, encontrar a obra que procura e receber como endereço da mesma uma notação como aquelas produzidas pela CDU, por exemplo, cheia de símbolos de junção, contraposição, lugar, tempo etc.?

Mesmo que o acervo desta biblioteca seja bem sinalizado, pode-se ver placas indicando:

de 630:48.510-515 a 638-640.1:3 ou

de 869.1(081.3) a 869:037.4-5(081.3)

Esse usuário conseguirá chegar até a obra de que tanto precisa?

Se esse esquema de classificação é assim tão bom que resolve todos os problemas de classifi-cação, então vale a pena para essa biblioteca investir em cursos de orientação ao usuário e tam-bém manter um serviço de referência competente, com profissionais ágeis para resolver um ou outro problema que o usuário não conseguiu sozinho resolver.

Mas, se a biblioteca não oferece esse tipo de treinamento, acabará incorrendo nos erros provoca-dos pela não-observância da quarta lei de Ranganathan: economize o tempo do leitor.

Segundo a reflexão de Garfield (em Figueiredo, p. 187)6, esta lei “enfatiza serviço eficiente, o que

implica rápido sistema de empréstimo e guias de fácil entendimento nas estantes e tem como corolário economize o tempo do bibliotecário, o que requer o uso de técnicas e tecnologias que permitam ao pessoal atuar de maneira eficiente”.

Portanto, se o usuário não tem o devido treinamento, perderá tempo. Não é só o acesso ao acer-vo que pode fazer com que o usuário perca tempo. Há outras circunstâncias que também causam perda de tempo, mas não serão objeto de discussão nesse momento.

O usuário, perdendo tempo, mas necessitando da informação, buscará pelo bibliotecário que aí também perderá tempo. O bibliotecário certamente encontrará a obra, mas poderia estar produ-zindo muito mais, se o usuário tivesse à sua disposição toda uma estrutura que permitisse o seu auto-serviço.

ASPECTOS DE INTERFACE

Voltando um pouco ao cenário futurístico, pintado nos primeiros parágrafos deste trabalho, o qual se refere a redes de computadores e self-service.

Sempre que alguém fala sobre software, fala também no avanço da produção dos mesmos em

termos da criação de “interfaces amigáveis”. O grande símbolo dessas interfaces amigáveis tem sido, por exemplo, o MS-Windows (também seus similares da McIntosh, IBM e outros utilizados na França e Japão) com suas janelas e ícones navegáveis por mouse, quase totalmente operável

sem a necessidade de memorizações de comandos, sem códigos, sem segredos.

Hoje, a maioria das pessoas que freqüenta uma biblioteca universitária conhece bem (às vezes até tem em casa) um computador equipado com tais software. E, se estas pessoas forem

pergunta-das, certamente diriam que gostariam de ter a mesma facilidade ao acessar um documento na biblioteca.

Sobre interface em sistemas de computador, assim se expressa Odebrecht (1993, p.12)7: “a

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programador não é nem evidente para o usuário, fazendo com que durante o uso de um sistema o certo se torne num fiasco”.

Do mesmo modo, uma classificação bibliográfica como a CDD ou a CDU pode até conseguir acomodar, em um nível de quase excelência, as obras de um acervo. Mas a notação que produz, nos casos de alta especificidade (cuja ocorrência também é alta no momento histórico-científico em que vivemos), caracteriza uma interface muito pouco amigável para os usuários da biblioteca.

A MUDANÇA DE PARADIGMA DA INFORMAÇÃO

Espera-se que a discussão feita até aqui tenha suscitado o questionamento em relação ao para-digma vigente sobre as atividades desenvolvidas por uma biblioteca ou centro de informação.

O caso é que “tradicionalmente, sistemas de informação são desenvolvidos para prover um efetivo e eficiente uso dos dados” (Watters, 1994, p. 455)8.

Porém, até o momento, muita ênfase se tem dado ao aspecto de armazenamento da informação, com acervos imensos, em suportes os mais diversos. Utilizam-se as classificações, já mencio-nadas, como instrumento de organização desses acervos. Perde-se ainda muito tempo nas ativi-dades inerentes a esse processo, e esquece-se que o objetivo primordial de todo esse trabalho é o acesso pelo usuário. Esquece-se de colocar esse mesmo usuário, que deveria ser o centro das atenções, em contato direto com aqueles itens do acervo que ele procura e conseqüentemente com a informação de que tanto precisa.

Com efeito, Kuhlthau em Watters (1994, p. 455)8, afirma que “um paradigma de acesso à

informa-ção provê um modelo que permite o estudo de sistemas de informainforma-ção, sendo dois desses para-digmas: o centrado nos dados, cujo sistema está baseado nas características das bases de dados, e o outro, centrado no usuário, cujo sistema baseia-se nas características da necessida-de necessida-de informação dos usuários”.

CONCLUSÃO

Ao se levar em consideração que um acervo é uma grande base de dados, certamente o sistema de classificação adotado será a sua interface, será a tela de menus que colocará ou não o

usuá-rio em contato com aquilo que busca.

Se é verdade que estamos presenciando a mudança de paradigma no que diz respeito a sistemas de informação, de centrado em bases de dados para centrado nos usuários, então é necessário que se pense melhor a organização do acervo e seu sistema de acesso. É necessário que isso se faça de modo a tornar o usuário cada vez mais independente dentro de uma biblioteca ou cen-tro de informação.

A pesquisa bibliográfica realizada no intuito desse trabalho tentou levantar a existência de dis-cussões em torno desse aspecto de interface das classificações bibliográficas entre usuários e bibliotecas ou centros de informação. Ao que tudo indica, essas discussões são ainda incipien-tes, caracterizando uma enorme carência de trabalhos nessa área. Fica, portanto, registrada a intenção de se iniciar, ao menos, uma troca de idéias com quem possa interessar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. FOSKETT, D.J. Classification and indexing in the social sciences. 2nd. ed, London:

Butterworths, 1974. 202p.

2. LANGRIDGE, D.W. Classification and indexing in the humanities. London: Butterworths,

1976.143p.

3. VICKERY, B.C. Classification and indexing in science. 3rd. ed., London: Butterworths,

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4. TÁLAMO, Maria de Fátima M., LARA, Marilda Lopes G. de, KOBASHI, Nair Yumiko. Vamos

perseguir a informação. Comunicação & Educação, São Paulo, n. 4, p. 52-57, set./dez.,

1995.

5. CINTRA, Anna Maria M., TÁLAMO, Maria de Fátima G. M., LARA, Marilda Lopes G. de,

KOBASHI, Nair Yumiko. Para entender as linguagens documentárias. São Paulo: Polis:

APB, 1994 (Coleção Palavra Chave, 4) 72 p.

6. FIGUEIREDO, Nice Menezes de. A modernidade das cinco leis de Ranganathan.Ciência da Informação, Brasília, v. 21, n. 3, p. 186-191, set./dez., 1992.

7. ODEBRECHT, Clarisse, CONTIJO, Leila Amaral. Sistemas ergonômicos: arte, ciência ou bom

senso? Dynamis, Blumenau, v. 1, n. 2, p. 07-13, jan./mar., 1993.

8. WATTERS, Carolyn, SHEPHERD, Michael A. Shifting the information paradigm from data-

centered to user-centered. Information Processing & Management, v. 30, n. 4, p.

471, 1994.

The bibliographical classification systems as interface library/user

Abstract

The classifications reflect the social context where this was elaborated. The historic and social context in which ones this was created both CDD and CDU disagree to actual historic in which one can be seen the infoways, com-puter networks, self-service. The use of CDD and CDU, nowadays to carry implications and to generate deficiency for an interface between information system and its user. In that sense, mechanisms and methodologies to be viable a better interface between user and information system must be proposed by professionals on Information Science.

Keywords

CDD; CDU; Self-service; Interface - Information system/user.

Maristela Cid Gigante

Aluna do terceiro ano do Curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação

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