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ANA REBECA COELHO MASCARENHAS INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NAS EMPRESAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL: ANÁLISE DA DIVULGAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DO ISOMORFISMO

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Academic year: 2018

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CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS Disciplina: Monografia em Ciências Contábeis

ANA REBECA COELHO MASCARENHAS

INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NAS EMPRESAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL: ANÁLISE DA DIVULGAÇÃO SOB A

PERSPECTIVA DO ISOMORFISMO

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ANA REBECA COELHO MASCARENHAS

INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NAS EMPRESAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL: ANÁLISE DA DIVULGAÇÃO SOB A

PERSPECTIVA DO ISOMORFISMO

Artigo apresentado à Faculdade de Economia, Administração, Atuária, Contabilidade e Secretariado Executivo, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Contábeis.

Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Carvalho de Vasconcelos

Banca examinadora:

Prof.ª Dr.ª Márcia Martins Mendes De Luca Prof. Msc. Eduardo Linhares

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INOVAÇÃO PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL NAS EMPRESAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL: ANÁLISE DA DIVULGAÇÃO SOB A

PERSPECTIVA DO ISOMORFISMO

Ana Rebeca Coelho Mascarenhas

RESUMO

A presente pesquisa buscou analisar a divulgação dos investimentos com pesquisa e desenvolvimento (P&D), realizados pelas empresas brasileiras do setor elétrico, com foco na destinação dos recursos voltados à sustentabilidade ambiental (P&D ambiental), pressupondo-se ocorrência de postura isomórfica coercitiva na destinação despressupondo-ses recursos. Descritivo, com abordagem qualitativa, foram analisados os Relatórios Socioambientais de 67 empresas, alusivos ao ano-base 2012. Os resultados apontam possível relação entre o porte e o tipo de sociedade das empresas e os investimentos em inovação à sustentabilidade ambiental, não sendo possível afirmar a existência de postura isomórfica entre as empresas na divulgação dos investimentos em inovação.

Palavras-chave: Inovação. Sustentabilidade ambiental. P&D. P&D ambiental. Isomorfismo.

1 INTRODUÇÃO

São distintos e diversos os grupos de interesse que pressionam as organizações rumo à sustentabilidade ambiental. Em última instância, essa pressão converte-se em intervenção governamental (restrições legais), que tem origem nos órgãos reguladores, dentre os quais se encontra a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), criada por meio da Lei nº 9.427/1996, cuja função é regular e fiscalizar a produção, transmissão, distribuição e comercialização de energia elétrica. O setor de energia elétrica denomina-se uma indústria sensível, pois promove o desenvolvimento econômico e, ao mesmo tempo, é agente promotor de elevado impacto ambiental (BRAGA et al., 2011; ROVER et al., 2012).

Para Rocha e Guerreiro (2013, p. 54), a regulação de mercados define-se como “um

tipo de intervenção pública na economia que tem por objetivo corrigir vários tipos de falhas

de mercado”. Corroborando essa perspectiva, Tidd, Bessant e Pavitt (2008) afirmam que alguns setores (serviços essenciais e alguns serviços públicos, como o de energia elétrica) sofrem elevada influência de políticas externas e regulação que, não apenas direcionam a atividade inovadora, como também a moldam.

Conforme Bessant e Tidd (2009), exercer influência no desenvolvimento e na aplicação da inovação, mediante regulamentos e controle, consiste na abordagem mais convencional para a inovação e a sustentabilidade. Políticas formais tentam dar direção à inovação por meio de regulamentações – incentivos e, pelo não cumprimento, punições. Neste escopo encontra-se a Lei nº 9.991/2000, que dispõe sobre realização de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) pelas empresas atuantes no setor de energia elétrica brasileiro, inclusive investimentos que tratem da preservação do meio ambiente. Sendo essa uma falha de mercado, o investimento em inovação, especificamente aquele com foco na sustentabilidade ambiental, pode ser considerado como uma forma de corrigi-la.

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No entanto, Bergh, Truffer e Kallis (2011) destacam que a principal diferença entre as inovações regulares e as ambientais reside na existência de uma problemática ambiental que demanda solução, porém associada a custos externos da empresa. A priori, não há incentivo para se investir em inovação que promova a sustentabilidade ambiental. Assim, torna-se evidente entender a pertinência da regulação de certos setores econômicos, aspecto analisado neste estudo, a evidenciação dos investimentos em P&D e P&D ambiental ou sustentável.

Esta pesquisa, visando investigar o direcionamento de investimentos em inovação (P&D), voltados à sustentabilidade ambiental, encontra-se solidificada na perspectiva do isomorfismo institucional – “surgimento de estruturas e abordagens comuns originadas entre

as organizações pertencentes a um mesmo setor” (BEUREN; DALLABONA, 2013, p. 99),

em especial o isomorfismo coercitivo. Segundo DiMaggio e Powell (1983), este tipo de isomorfismo resulta de pressões formais exercidas por organizações em outras organizações, que daquelas dependem, e ainda por expectativas culturais da sociedade na qual a organização desempenha uma função específica.

Dessa maneira, em meio à sociedade atual, onde os valores relativos à sustentabilidade e ao respeito de políticas ambientais têm sido cada vez mais institucionalizados, as organizações precisam absorver regras e normas específicas a fim de sobreviver, serem apoiadas e alcançar legitimidade de outras organizações e da sociedade (BARBIERI et al., 2010).

Rosseto e Rosseto (2005, p. 12) consideram que “o comportamento organizacional

deve ser regido não por processos de mobilização de interesses, mas por aceitação

pré-consciente de valores e práticas institucionalizadas”. Afirmação corroborada por Rover et al. (2012) ao mencionarem que os custos provenientes das restrições regulatórias constituem incentivo econômico à empresa na busca continuada pela legitimidade de suas ações.

Destarte, mediante a argumentação delineada, emergem nesta pesquisa as seguintes questões-problema: (i) De que maneira os investimentos em inovação alusivos às atividades de P&D das empresas do setor de energia elétrica brasileiro são destinados à sustentabilidade ambiental? (ii) Há postura isomórfica das empresas no tocante à evidenciação e destinação destes investimentos?

Nesse sentido, o objetivo geral do presente estudo consiste em analisar a divulgação dos investimentos em P&D, com foco na destinação dos investimentos voltados à sustentabilidade ambiental, realizados pelas empresas brasileiras do setor de energia elétrica com base nas informações evidenciadas nos relatórios socioambientais das empresas, pressupondo-se ocorrência de postura isomórfica coercitiva na destinação desses recursos. Para tanto, objetiva-se especificamente: (i) caracterizar as empresas do setor de energia elétrica; (ii) analisar as informações evidenciadas nos relatórios socioambientais das empresas relativas ao investimento em inovação (P&D); (iii) mensurar a destinação dos investimentos em inovação identificando os gastos relativos às atividades de P&D direcionados para a sustentabilidade ambiental; e (iv) verificar a existência de postura isomórfica na divulgação de informações e na destinação dos investimentos em P&D nas empresas.

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por consequência, legitimação das atividades das empresas (isomorfismo), a presente pesquisa se faz pertinente, com foco no setor de energia elétrica – regulado pela ANEEL – que é relevante para o desenvolvimento econômico, mas é gerador de alto impacto ambiental.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Sustentabilidade ambiental no contexto corporativo

A mudança no comportamento empresarial deu-se através do surgimento de uma nova ordem econômica que impulsionou as organizações a incluírem a sustentabilidade na gestão, nos processos e nos produtos desenvolvidos por elas (AGERON; GUNASEKARAN; SPALANZANI, 2012). Seja de maneira autônoma, pela adoção de postura proativa, ou por meio da pressão institucional, “já há no Brasil um segmento de empresas que considera

importante assumir em suas diretrizes a preocupação com a temática do desenvolvimento sustentável” (AZEVEDO, 2006, p. 76).

No contexto empresarial, responsabilidade corporativa e sustentabilidade corporativa podem ser consideradas como sinônimos (CORRÊA et al., 2010). Antes, porém, tinha-se o conceito da sustentabilidade organizacional, absorvido pelas empresas, de maneira dissociada das perspectivas social e ambiental. Para Barbieri et al. (2010), definia-se a sustentabilidade, no contexto corporativo, como a capacidade de gerar recursos para remunerar os fatores de produção, repor os ativos usados e investir para permanecer competindo. Todavia, ante as pressões demandadas por uma postura voltada ao comprometimento da empresa com os efeitos sociais e ambientais por elas trazidos, reformulou-se essa concepção, passando-se a associá-la ao modo como as entidades se portam diante de suas operações cotidianas para com o ambiente externo (DALLABONA; CUNHA; RAUSCH, 2012).

Segundo Corrêa et. al (2010), a sustentabilidade corporativa teve sua origem ligada às preocupações que emergiram no início dos anos 70 mediante explosão demográfica e impactos causados pelo crescimento econômico, o qual utilizava indiscriminadamente os recursos naturais. Notou-se, portanto, que as atividades empresariais não deveriam se restringir apenas ao âmbito econômico, já que produziam efeitos significativos tanto no meio ambiente quanto na sociedade na qual estavam inseridas (AZEVEDO, 2006). Destarte, salienta-se a importância do equilíbrio entre esses três aspectos (econômico, social e ambiental) para existência de um progresso sustentável no longo prazo (BASSETO, 2010).

A relação entre os aspectos econômico, ambiental e social foi amplamente discutida na academia por meio do Triple Bottom Line (AZEVEDO, 2006; BASSETO, 2010; SCANDELARI, 2011; COSTA et al., 2013), o qual reflete sobre a necessidade de as empresas ponderarem em suas decisões estratégicas o tripé supramencionado. Busca-se, com isso, a manutenção da sustentabilidade econômica ao gerenciar empresas lucrativas e geradoras de valor; sustentabilidade social, ao se estimular a educação, cultura, lazer e justiça social à comunidade; e, a sustentabilidade ambiental, ao manter ecossistemas vivos, com diversidade (VELLANI; RIBEIRO, 2009). Ante o exposto, infere-se que a sustentabilidade ambiental – foco deste estudo – é aquela na qual se observa a manutenção das operações cotidianas das entidades, levando-se em consideração os impactos causados por elas ao meio ambiente mediante extração dos recursos naturais, como menciona a OECD (2009).

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patrimônio natural da humanidade resultado do processo de globalização (TINOCO, 2005). Assim, torna-se imprescindível a adaptação das empresas quanto à convivência equilibrada com o meio ambiente, buscando-se a promoção da sustentabilidade ambiental.

Diante da relevância das questões ambientais, companhias passaram a incorporar informações referentes à sustentabilidade ambiental nos seus relatórios socioambientais, adotando sistemas de gestão ambiental e investindo em procedimentos que buscam mitigar os impactos das suas atividades no meio ambiente (ROVER; BORBA; BORGERT, 2008). Para Sousa, Bueno e Alves (2013), as empresas estão descobrindo que por meio da publicação de relatórios ambientais podem demonstrar eficiência e melhorar as relações com os diversos stakeholders, sendo “crescente o número de empresas que divulgam informações ambientais

nos seus relatórios de forma voluntária” (SANTOS, 2011, p. 6). Diante da demanda, o número

de guias e diretrizes de elaboração relacionados ao referido tema vem sendo crescente.

Para o atendimento da sustentabilidade ambiental, o crescimento econômico deve se apoiar em práticas que conservem e expandam a base de recursos ambientais, sendo isso possível mediante utilização da inovação, na medida em que esta possibilita, entre outras coisas, um uso eficiente dos recursos e/ou diminuição da sua utilização (WCED, 1987). Desse modo, a inovação poderia ser desenvolvida e utilizada visando-se a sustentabilidade atendendo as necessidades presentes, permitindo, através da otimização dos recursos, o atendimento das necessidades futuras.

2.2 Inovação para a sustentabilidade ambiental

Para Chesbrough (2012), conceitua-se a inovação como uma invenção implementada conduzida ao mercado. Todavia, de acordo com Tigre (2006, p. 72), “a inovação ocorre com a efetiva aplicação prática de uma invenção”. Uma inovação é capaz de gerar impactos

econômicos, de fato, somente quando há sua difusão, entre empresas, setores e regiões (TIGRE, 2006). Em meio à amplitude da temática, tradicionalmente, define-se inovação como implementação de um produto novo ou significativamente melhorado, de um processo, de um novo método de marketing, ou de um novo método organizacional, no local de trabalho, nos negócios, bem como nas relações externas da empresa (OECD, 2005).

No entanto, essa definição, apesar de também abranger o conceito de inovação com foco na sustentabilidade ambiental, não contempla duas características importantes que a distingue da inovação genérica: (i) na sua conceituação, dá-se ênfase explícita na demanda pela redução dos impactos ambientais, se seus efeitos são ou não intencionais; (ii) não há limitação da inovação em produtos, processos, métodos de marketing e organizacionais. Aliás, inclui-se a noção de inovação das estruturas sociais e institucionais (OECD, 2009).

Muñoz, Coelho e Steil (2010) afirmam que, por meio da sustentabilidade, entendida como processo, ocorrem mudanças de caráter social, econômico, ambiental e tecnológico, viabilizadas pela atividade de inovação. Santos et al. (2013, p. 38) elucidam que a inovação

ambiental “inclui todos os tipos de inovações organizacionais que geram benefícios para o

meio ambiente, abrangendo as mudanças e novidades organizacionais que buscam reduzir

seus impactos ambientais”. Portanto, atribui-se a inovação ambiental fator chave para alcance da sustentabilidade, economicamente e ecologicamente (BERNAUER et al., 2007).

Vale salientar que “importantes inovações foram introduzidas no mundo

organizacional a partir da emergência do conceito de sustentabilidade” (VEIGA, 2007, p. 14).

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como novos processos, produtos e serviços; quanto por meio da promoção de mudanças na organização, no negócio e no comportamento.

Faz-se destacar que diferentes termos são empregados na literatura, com o mesmo fim,

para denominar a “inovação para a sustentabilidade ambiental”. Dentre os quais, destacam-se

“eco-inovação”, “inovação verde” e a “inovação ambiental”, sendo este último aquele mais frequentemente empregado nas pesquisas (MUÑOZ; COELHO; STEIL, 2010; ANGELO; JABBOUR; GALINA, 2012; SANTOS et al., 2013).

Barbieri et al. (2010) mencionam que quando uma empresa compromete-se com o desenvolvimento sustentável, deve mudar sua forma de atuação buscando reduzir os impactos sociais e ambientais, requerendo uma nova maneira de encarar a inovação, o que leva à ideia de inovação sustentável, ou seja, um tipo de inovação que contribua para o alcance do desenvolvimento sustentável. Mas, segundo Kiperstok et al. (2002), que descrevem a inovação como requisito para o desenvolvimento sustentável, não se pode considerar a inovação nas empresas, tão somente, como uma decisão isolada. Há interações nos binômios empresa-empresa e empresa-ambiente (econômico, social e institucional). Em suma, “a ambiência em que estão inseridas vai influenciar a atitude das empresas com relação a

inovação e no modo como a inovação ocorre” (KIPERSTOK et al., 2002, p. 6).

Entre os meios pelos quais as empresas podem adotar inovações, encontra-se a geração interna que é canalizada através das atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), podendo, ainda, ser efetuada sozinha ou em conjunto com outras entidades (CRUZ, 2007), como referido em Kiperstok et al. (2002). Para Castro (2011), realizar a atividade de P&D pode aumentar a chance de a empresa ser inovadora. Destarte, infere-se que P&D pode ser considerada uma forma de inovação no contexto empresarial. Em reforço, Furtado, Quadros e Domingues (2007) afirmam que a intensidade de P&D é um indicador internacionalmente aplicado na medição dos esforços dos agentes, em termos de inovação.

Seguindo as orientações de Low e Kalafut (2003), a inovação sempre foi a chave para o sucesso empresarial e para a criação de riqueza, funcionando como condutor do

desenvolvimento econômico. Porém, “devido à emergência de problemas socioambientais

decorrentes do paradigma técnico-econômico dominante até o século passado, e de ações políticas conduzidas por agentes governamentais e não governamentais” (SCANDELARI,

2011, p. 79), a modificação das estratégias organizacionais, bem como da forma como operam as empresas, veio à tona. Para além da dimensão econômica, com o conceito do Triple Botton Line, as searas social e ambiental também passaram a ser consideradas pelas empresas e a atividade de inovação tornara-se uma variável relevante no alcance dessas demandas.

Ante a discussão delineada, não se pode deixar de esclarecer que a gerência da inovação é fundamental para as empresas de todos os portes, em todos os setores industriais (CHESBROUGH, 2012), na medida em que esta vai depender das oportunidades tecnológicas, das características do setor, do conhecimento obtido anteriormente, além de fatores internos e externos à empresa (MENEZES et al., 2011).

Ratificando o exposto, Angelo, Jabbour e Galina (2012) depreendem que a inovação ambiental pode resultar de uma gestão proativa, mas que, por outro lado, poderá haver desenvolvimento da proatividade ambiental da organização através da inovação – relação ambidestra. Mais que isso, a gestão pautada na proatividade ambiental pode ser originada em decorrência de pressões governamentais, citando-se a regulação como exemplo.

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cuidado do meio ambiente. Segundo a norma, os percentuais determinados por atividade (distribuição, geração ou transmissão) deverão ser aplicados sobre a receita operacional líquida (ROL) das entidades, buscando-se identificar quanto elas deverão investir em P&D. Devem ser aplicados os percentuais de 0,75%, 1% e 1% da ROL, respectivamente, para os ramos de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica. Portanto, salienta-se que a inaplicabilidade de programas e projetos direcionados para P&D pelas empresas de energia elétrica impossibilita o estorno dos investimentos por elas realizados, visto que estes dispêndios são recolhidos compulsoriamente, não importando se as entidades em questão desenvolvem ou não programas e projetos voltados para P&D.

Segundo Trott (2012), as operações que constituem a P&D são: pesquisa básica, desenvolvimento, serviço técnico e pesquisa aplicada. A pesquisa básica envolve trabalho de natureza geral buscando-se a aplicação numa ampla gama de usos em novos conhecimentos de uma área. O desenvolvimento envolve a superação de um problema técnico associado a um novo produto na medida em que busca melhorar seu desempenho. O serviço técnico concentra-se no fornecimento de um serviço a produtos e processos existentes, envolvendo melhorias no seu custo e desempenho. Por último, pesquisa aplicada, envolve o uso de princípios científicos existentes para a solução de um problema específico, podendo conduzir a novas tecnologias e/ou produtos. No caso no setor de energia elétrica, regulado, direciona as empresas a investirem em inovação (P&D), inclusive e especificamente, na inovação voltada à preservação do meio ambiente.

Dentre as possíveis contribuições da inovação, com foco na sustentabilidade ambiental, citam-se: redução do impacto ambiental, minimização dos resíduos, redução de emissões e energias renováveis, além da redução do consumo de produtos e melhoria do monitoramento e da mensuração do impacto ambiental (BESSANT; TIDD, 2009).

Deste ponto, nota-se a existência de regras e normas às quais as organizações do setor de energia elétrica devem respeitar. Esse processo de incorporação e conformidade com as

características dominantes é classificado como “isomorfismo estrutural” ou “isomorfismo institucional”, ou seja, é uma tendência entre as organizações de possuir estruturas, normas,

modelos cognitivos e tecnologias similares (BARBIERI et al., 2010). Pressupõem-se, neste estudo, a ocorrência de posturas isomórficas entre as empresas que operam no setor, nas suas respectivas atividades (distribuição, geração e transmissão) no tocante à divulgação do investimento em P&D e P&D ambiental. Trata-se aqui, portanto, do isomorfismo coercitivo, decorrente da pressão institucionalizada proveniente de normas e regulamentos formais (DIMAGGIO; POWELL, 1983), tendo como órgão imperativo a ANEEL.

Ademais, infere-se que a inovação funcionaria como aparato demandado pelas empresas que buscam, em suas atividades, o atendimento da sustentabilidade econômica e ambiental. Reside aqui, portanto, o centro da discussão desta pesquisa, quando considera a atividade de inovação – efetivada por meio de pressões institucionais (efeito regulatório presente no setor de energia elétrica) – capaz de proporcionar às atividades das empresas subsídio ao alcance da sustentabilidade ambiental. Foram diversos os estudos que procuraram estabelecer o vínculo entre inovação e sustentabilidade, à semelhança desta pesquisa, como demonstrado na subseção seguinte.

2.3 Estudos empíricos anteriores: breve debate

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Para mostrar que as práticas de responsabilidade social, inovação e sustentabilidade são decorrentes da estratégia corporativa empresarial, Corrêa et al. (2010) realizaram um estudo de caso numa grande empresa do interior de São Paulo. Seus achados revelam que as decisões sobre inovação e sustentabilidade devem estar diretamente vinculadas às questões e ações sociais e ambientais, devendo, ainda, emergir das concepções estratégicas do negócio.

Sambiase, Franklin e Teixeira (2013) corroboram com Corrêa et al. (2010) na medida em que revelam a importância da inovação para a sustentabilidade, sendo sua relação identificada como uma vantagem competitiva. Ao estudarem a relação entre desenvolvimento sustentável e competitividade organizacional descobriram que as inovações são dirigidas por políticas de sustentabilidade inseridas na gestão estratégica e operacional da entidade.

Nesta mesma linha, Menezes et al. (2011) procuraram identificar como têm sido gerenciadas as práticas de inovação orientadas para a sustentabilidade. Os autores realizaram entrevistas semiestruturadas com os principais executivos do setor de P&D de empresas do setor químico brasileiro, além de utilizarem dados secundários obtidos por meio de relatórios anuais e de sustentabilidade. Destacaram-se, entre as práticas observadas, a existência de investimentos em ecoeficiência no sistema produtivo, integrando os critérios da sustentabilidade no desenvolvimento dos processos e produtos; a existência de investimentos em produtos com apelos socioecológicos; e a conscientização das lideranças quanto à importância da sustentabilidade nas operações e produtos da empresa.

Por sua vez, Dias e Pedrozo (2012) buscaram avaliar como a inovação nas indústrias brasileiras está sendo orientada para influenciar a sustentabilidade e a agregação de valor empresarial no setor alimentício. Seus resultados apontam que em relação aos pilares da sustentabilidade, a dimensão econômica recebeu mais ênfase nas inovações do setor. Além disso, notou-se que a agregação de valor sustentável, originada das inovações tecnológicas com foco nas dimensões ambientais e sociais, encontra-se num estágio inicial.

Assim como em Dias e Pedrozo (2012), Nascimento, Mendonça e Cunha (2012) notaram que a dimensão econômica se sobrepõe sobre as demais. Os autores verificaram como as ações das empresas de energia eólica se relacionam com os aspectos econômico, social e ambiental, característicos das inovações sustentáveis. Os resultados revelam que os pilares da sustentabilidade são visualizados ao longo de todas as questões envolvendo a implantação de novas usinas eólicas, contudo, a dimensão econômica é a de maior destaque.

Scandelari e Cunha (2013) estudaram a relação entre a ambidestralidade – relação equilibrada entre a inovação radical e inovação incremental – e o desempenho socioambiental de 131 empresas da indústria eletroeletrônica. Os resultados apontam que 44 organizações categorizadas como ambidestras apresentaram desempenhos ambientais e sociais superiores, evidenciando a relação positiva entre a ambidestralidade e o desempenho socioambiental, que sugere tanto a relação entre a inovação e a sustentabilidade (social e ambiental) como possíveis efeitos dessas posturas no desempenho das empresas.

Do exposto, a presente pesquisa se diferencia dos demais estudos na medida em que busca analisar a inovação voltada para sustentabilidade em empresas do setor de energia elétrica brasileiro, por meio da análise dos gastos com P&D voltados para o aspecto ambiental (P&D ambiental). Além disso, se propõe a verificar a existência de um padrão isomórfico relacionado à destinação dos gastos com P&D, devido à existência do imperativo normativo promovido pelo efeito da agência reguladora deste setor, a ANEEL.

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A pesquisa se caracteriza como descritiva uma vez que busca identificar e obter informações teórico-empíricas acerca de determinado problema – o investimento em inovação direcionado à sustentabilidade ambiental nas empresas de energia elétrica. Quanto aos meios, considera-se o estudo documental, visto que utiliza dados secundários para sua consecução, especialmente os Relatórios Socioambientais ou de Sustentabilidade (RSA) das empresas.

A população do estudo compreende 2.410 empresas do setor de energia elétrica do Brasil, segundo informações disponíveis na homepage da ANEEL, especificamente na seção Central de Informações Econômico-Financeiras. Destas, foram consideradas para análise apenas aquelas que disponibilizaram o RSA de 2012, fonte de evidenciação dos investimentos em P&D, totalizando assim 191 empresas. Devido ao objetivo pretendido, compuseram a amostra as empresas que divulgaram os investimentos com P&D no período, restando 67 empresas. A coleta dos dados foi realizada nos meses de janeiro e fevereiro de 2014.

Os dados das empresas da amostra utilizados no estudo encontram-se apresentados no Quadro 1, juntamente com sua descrição e respectivas fontes de coleta.

Quadro 1 – Dados da pesquisa, descrição e fontes de coleta dos dados

Dados da pesquisa Descrição Fontes de coleta dos dados

Porte/Tamanho Ativo total da empresa Balanço Patrimonial Natureza da atividade Distribuição, geração e transmissão

ANEEL - Central de Informações Econômico-Financeiras (CIEFSE) Tipo de atividade produtor Independente e autoprodutor Concessionária, permissionária,

Tipo de sociedade Aberta ou fechada Comissão de Valores Mobiliários (CVM) Pesquisa e

Desenvolvimento (P&D) Investimentos em P&D e P&D ambiental Relatório de Sustentabilidade ou Socioambiental (RSA) Fonte: Dados da pesquisa.

Para acesso aos dados das empresas da amostra houve necessidade de cadastro junto à ANEEL. Deve-se ressaltar ainda que todos os dados apresentados no Quadro 1 referem-se ao período de 2012, sendo esta a secção temporal considerada na pesquisa.

O presente estudo possui abordagem qualitativa, sendo empregada técnica de análise de conteúdo a fim de, a priori, serem identificados e caracterizados os investimentos em P&D, e em seguida, qualificados os valores investidos à sustentabilidade ambiental. Para Bardin (1977), com a técnica da análise de conteúdo, informações suplementares são fornecidas ao pesquisador, cumpridas três etapas no transcorrer da pesquisa: (i) pré-análise e (ii) exploração do material – relatórios das empresas; (iii) tratamento dos resultados, inferência e interpretação – análise dos investimentos em P&D.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Perfil descritivo da amostra do estudo

De início, cabe ressaltar que, especificamente para a análise do porte das empresas, foram desconsideradas três empresas da amostra devido a não divulgação do Balanço Patrimonial de 2012. A Tabela 1 apresenta a caracterização de 64 empresas da amostra, alocadas por faixa de tamanho tendo como critério o Ativo total.

Tabela 1 – Caracterização das empresas quanto ao porte

Mínimo 1º Quartil 2º Quartil 3º Quartil Máximo Média Desvio padrão

2.272 103.876 1.190.347 3.857.363 22.796.370 3.281.515 5.163.110

Quartis Mínimo Média Mediana Máximo Total Desvio padrão

1º Quartil 2.272 50.747 49.096 110.840 36.726 862.704

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3º Quartil 1.323.679 2.759.241 2.589.049 3.870.985 808.491 44.147.856 4º Quartil 3.944.328 10.543.498 8.968.355 22.796.370 6.350.111 158.152.476 Nota: Valores em milhares de reais.

Fonte: Dados da pesquisa.

Na Tabela 1 observa-se que o Ativo total das empresas apresentou elevada amplitude e dispersão, variando entre R$ 2.272 mil e 22.796.370 mil, sendo, em média, R$ 3.281.515 mil. Salienta-se, ainda, uma grande concentração das empresas no 4º quartil, correspondendo a 75% do Ativo total das empresas analisadas nesse quesito. Mesmo sendo as empresas integrantes de um mesmo setor, a elevada dispersão do porte das empresas pode ser observado, provavelmente devido a demais características, tais como tipo de atividade, natureza de atividade e tipo de sociedade.

Quanto ao tipo de atividade, verifica-se que 57 empresas (85%) são Concessionárias, sete são Permissionárias e três Produtoras independentes, não sendo observada nenhuma empresa Autoprodutora. Quanto à natureza da atividade desempenhada pelas empresas, há predomínio das Distribuidoras, 45% do total. As Transmissoras são 13% e Geradoras 12%, correspondendo juntas a 17 empresas. São 20 (30%) as empresas que exercem mais de uma atividade: 22% são Distribuidoras-Geradoras e 7% são Geradoras-Transmissoras.

Em alusão tipo de sociedade das empresas, observou-se que apenas 26 delas (39%) possuem capital aberto. Em suma, a maioria das empresas que compõem a amostra deste estudo é Distribuidora, Concessionária, de capital fechado e apresenta elevada dispersão no porte.

4.2 Destinação dos investimentos em P&D

A Tabela 2 exibe a caracterização dos investimentos em P&D realizados pelas 67 empresas que divulgaram Relatório Socioambiental em 2012.

Tabela 2 – Investimentos em P&D realizados pelas empresas

Mínimo 1° Quartil 2° Quartil 3° Quartil Máximo Média

5 81 649 6.018 51.074 4.776

Quartis Mínimo Média Mediana Máximo Total

1º Quartil 5 35 35 81 599

2º Quartil 104 299 306 649 5.090

3º Quartil 686 3.039 2.610 6.018 51.661

4º Quartil 6.523 16.417 11.530 51.074 262.674

Nota: Valores em milhares de reais. Fonte: Dados da pesquisa.

Nota-se que metade dos investimentos em P&D encontra-se abaixo de R$ 649 mil em 2012, com máximo investido de R$ 51.074 mil, o que indica, à semelhança do porte das empresas, elevada heterogeneidade dos investimentos em P&D entre as empresas. A média observada é de R$ 4.776 mil, sendo percebida concentração dos investimentos em inovação no quartil 4, o que pode sinalizar uma possível relação entre o porte e a destinação de investimentos em P&D das empresas.

As empresas, ao destinarem montantes específicos aplicados em P&D, evidenciam a distribuição dos recursos em áreas específicas (categorias). Assim, na Tabela 3, mostram-se as maiores frequências de investimentos em P&D observadas por categorias de destinação. Tabela 3 – Maiores frequências por categoria de investimento em P&D nas empresas

Categoria de investimento Empresas Observações totais Observações por categoria

Média de investimento por empresa

Investimento total

Planejamento e operação 40 15% 60% 1.444 57.746

(12)

P&D ambiental 33 13% 49% 2.185 72.098

Qualidade e confiabilidade 33 13% 49% 1.027 33.875

Eficiência energética 22 8% 33% 456 10.033

Novos materiais/componentes 21 8% 31% 676 14.190

Medição 19 7% 28% 922 17.522

Outros 15 6% 22% 1.184 17.757

Desenvolvimento de tecnologia

de combate à fraude e furto 11 4% 16% 420 4.619

Gestão dos programas de

pesquisa e desenvolvimento 9 3% 13% 46 411

Nota: Valores em milhares de reais. Fonte: Dados da pesquisa.

Depreende-se, partir da Tabela 3, que a categoria mais evidenciada pelas empresas foi a de Planejamento e operação, seguida por Supervisão, controle e proteção, sendo observadas em 60% e 58% das empresas, correspondendo, cada uma a 15% do total das observações. Contudo, verifica-se maior investimento das empresas na categoria de P&D ambiental com R$ 72.098 mil, equivalente a 23% do investimento de P&D total das empresas. Pode-se conjecturar que, nesse sentido, há um efeito regulatório positivo, como destacam Rocha e Guerreiro (2013). Além disso, destacam-se as considerações de Tidd, Bessant e Pavitt (2008) e Bessant e Tidd (2009), quando apontam que setores como o de energia elétrica podem ter direcionadas suas atividades de inovação, inclusive à sustentabilidade ambiental, por meio do imperativo da regulação. Os resultados sustentam ainda os achados de Dias e Pedrozo (2012) e de Nascimento, Mendonça e Cunha (2012) que identificaram em suas pesquisas práticas inovativas das empresas vinculadas à sustentabilidade ambiental.

Em contraponto, na Tabela 4 observam-se as menores frequências de investimentos em P&D realizados pelas empresas, por categoria de destinação.

Tabela 4 – Menores frequências por categoria de investimento em P&D nas empresas Categorização Empresas Observações totais Observações por

categoria

Média de investimento por empresa

Investimento total

Transmissão de dados via rede

elétrica 6 2% 9% 202 1.213

Projeto e/ou pesquisa estratégica 4 2% 6% 2.576 10.305

Segurança 4 2% 6% 75 301

Transmissão e distribuição de

energia elétrica 3 1% 4% 8.019 24.056

Projeto de gestão 1 0% 1% 167 167

Redes inteligentes 1 0% 1% 3.464 3.464

Geração e tecnologias avançadas 1 0% 1% 6.098 6.098

Serviços inovadores relacionados

à sustentabilidade 1 0% 1% 4.115 4.115

Geração de energia elétrica e/ou

termelétrica 1 0% 1% 4.149 4.149

Nota: Valores em milhares de reais. Fonte: Dados da pesquisa.

(13)

Diante das análises desta subseção, depreende-se que não foi observado padrão isomórfico de destinação de investimentos em P&D nas empresas de energia, já que é dispersa a aplicação dos investimentos entre as empresas. Foi possível constatar que ocorre concentração do investimento em determinadas categorias – Planejamento e operação; Supervisão, controle e proteção; P&D ambiental; Qualidade e confiabilidade – enquanto que em outras, há certa marginalização dos recursos aplicados. Recorda-se ainda que a Lei n° 9.991/2000 estabelece os percentuais mínimos de investimentos em P&D de 0,75%, 1% e 1% da ROL para as empresas de distribuição, geração e transmissão de energia elétrica, respectivamente.

4.3 Investimentos em P&D ambiental

A fim de detalhar o nível de aplicação dos investimentos em P&D, voltado à sustentabilidade ambiental, realizados pelas empresas, a Tabela 5 apresenta a descrição destes montantes, por categoria/área de destinação.

Tabela 5 – Destinação do P&D ambiental pelas empresas, por categoria de aplicação

Categoria ambiental Empresas Mínimo Média Máximo investimento Total do no P&D total Participação P&D ambiental 33 3 2.185 17.558 72.098 23%

Fonte renovável ou alternativa 31 3 1.540 11.323 47.738 15%

Meio ambiente 25 0,5 974 6.235 24.360 8%

Nota: Valores em milhares de reais. Fonte: Dados da pesquisa.

O P&D ambiental nas empresas de energia é composto pelas categorias Fonte renovável ou alternativa e Meio ambiente, conforme definido neste estudo. Na primeira, nota-se elevada amplitude, oscilando entre R$ 3 mil e R$ 11.323 mil, com média de R$ 1.540 mil, por empresa. Além disso, nota-se que 46% das empresas evidenciaram gastos relativos a esta categoria, no valor de R$ 47.738 mil, que corresponde a 15% dos gastos destinados ao P&D ambiental realizados pelas empresas. Os gastos em P&D destinados ao Meio ambiente correspondem a 8% do total de recursos destinados ao P&D ambiental, sendo evidenciados por 37% das empresas.

Tal representatividade reside na perspectiva de organização mencionada por Sambiase, Franklin e Teixeira (2013), ou seja, aquela que agrega conjuntamente em suas estratégias a inovação e a sustentabilidade, esta alcançada por meio daquela. Com isso, vê-se a materialização do argumento de Kiperstok et al. (2002) que tratam a inovação como requisito da sustentabilidade ambiental, destacando a ambiência. Com a regulação, a ANEEL promove a inclusão das estratégias em questão na estrutura das empresas de energia, o que gera ainda vantagem competitiva dentro do setor, de acordo com Corrêa et al. (2010). Somam-se a isso os comentários de Lins e Silva (2009) que enfatizam a demanda por um desenvolvimento econômico atrelado à preservação ambiental, impulsionada no setor de energia elétrica.

4.4 Perfil dos investimentos em P&D ambiental das empresas de energia elétrica

A Tabela 6 mostra os 10 maiores investimentos destinados à sustentabilidade ambiental (P&D ambiental) realizados pelas empresas da amostra e suas respectivas características empresariais (porte, tipo de atividade, natureza da atividade e tipo de sociedade).

Tabela 6 – Maiores investimentos em P&D ambiental realizados pelas empresas P&D

Ambiental Participação no grupo Tamanho Porte/ Tipo de atividade Natureza da atividade sociedade Tipo de

(14)

3º 5.496 8% 4º quartil Permissionária Geração Aberto 4º 4.944 7% 4º quartil Concessionária Distribuição Aberto 5º 4.523 6% 4º quartil Concessionária Geração e Transmissão Aberto 6º 3.452 5% 4º quartil Concessionária Distribuição Aberto 7º 2.676 4% 3º quartil Concessionária Distribuição Aberto 8º 2.265 3% 4º quartil Concessionária Distribuição Aberto

9º 1.945 3% ND* Permissionária Geração Fechado

10º 1.865 3% 3º quartil Concessionária Geração Aberto

Nota: Valores em milhares de reais; * Não divulgado pela empresa nas fontes de coleta. Fonte: Dados da pesquisa.

Os 10 maiores investimentos em P&D ambiental somam 76% do investimento total destinado a este escopo pelas empresas. Lembra-se que as empresas integrantes da Tabela 6 compreendem apenas a 30% daquelas que divulgaram o P&D ambiental como prática de inovação com foco na sustentabilidade ambiental. Qualitativamente, nota-se que o porte pode ter relação com um maior investimento em P&D ambiental, na medida em que 78% das empresas que mais investiram na categoria enquadram-se no 4º quartil do porte. Desse modo, empresas com maior porte (medido pelo Ativo total) podem ter uma inclinação em investir mais em P&D ambiental por possuírem mais recursos, além de entender que este investimento pode ser considerado um diferencial competitivo, mesmo em um ambiente regulatório.

Quanto ao tipo de atividade, a maioria das empresas é Concessionária de energia elétrica, o que revela uma possível relação entre o tipo de atividade e os investimentos em P&D ambiental. No entanto, salienta-se o grande percentual de participação de empresas Concessionárias (85%) na amostra. Acerca da natureza da atividade, nota-se a Distribuição de energia elétrica como a mais observada neste grupo. Já com relação ao tipo de sociedade, ressalta-se que, no grupo das maiores investidoras, há predomínio das empresas listadas em bolsa de valores. Essas empresas possuem nos acionistas outra fonte de financiamento da inovação, considerados de risco. Das 26 empresas de capital aberto da amostra, nove investem mais na inovação de caráter ambiental.

Conjectura-se, então, que o porte e o tipo de sociedade podem ter relação com a destinação de investimentos em inovação voltados para o meio ambiente, sugerindo-se assim uma possível postura isomórfica da inovação ambiental, segundo estes critérios. Por outro lado, nota-se que não se evidencia qualquer padrão de destinação dos investimentos em inovação nas empresas mesmo sendo o setor elétrico regulado, que obriga as empresas a institucionalizarem essas práticas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

(15)

Ao traçar o perfil descritivo da amostra, constatou-se que a maioria das empresas pesquisadas é Distribuidora e Concessionária de energia elétrica e possui capital fechado. Por meio da segmentação da amostra em quartis, notou-se que a maior concentração das empresas encontra-se no 4º quartil.

Por meio da análise qualitativa dos Relatórios Socioambientais verificou-se que a categoria Planejamento e operação de investimento em P&D foi a mais evidenciada pelas empresas analisadas. Todavia, o montante de investimento mais representativo foi destinado à categoria Pesquisa e desenvolvimento ambiental (P&D ambiental), composta, nesta pesquisa, por Fonte renovável ou alternativa e Meio ambiente. Destaca-se essa representatividade, para a amostra avaliada, da aplicação deste investimento, em referência ao efeito (positivo) da regulação setorial, promovendo a inovação e a sustentabilidade, conjuntamente.

Outra inferência relevante foi a possível relação entre o porte das empresas e a destinação de investimentos em inovação voltados para a sustentabilidade, pois, observou-se que as empresas que mais investiram em P&D ambiental pertenciam ao 4º quartil de distribuição do porte. O mesmo pode ser dito acerca do tipo de sociedade das empresas, sendo possível constatar maiores níveis de investimento em inovação sustentável nas empresas listadas em bolsa de valores. Nada pode ser inferido acerca da natureza e do tipo de atividade das empresas de energia elétrica.

Conjectura-se, portanto que nas empresas a inovação está voltada para a sustentabilidade na medida em que se observam os investimentos em P&D ambiental, muito embora, note-se que um reduzido número de empresas é responsável por uma grande parcela desse investimento. Mais além, admite-se a sinalização do isomorfismo coercitivo –

regulação, considerando-se o porte e o tipo de sociedade das empresas e os investimentos em inovação voltados para sustentabilidade ambiental. Entretanto, não foi observado, em geral, padrão isomórfico de destinação de investimento em inovação nas empresas de energia.

Em alusão às limitações da pesquisa, observa-se que os achados estão restritos à amostra em questão, no período em análise. Portanto, saliente-se a necessidade de realização de uma análise longitudinal, a fim de ser verificada a persistência dos resultados. Além disso, o estudo limitou-se ao setor elétrico, não sendo possível afirmar que os resultados obtidos neste setor sejam válidos em outros setores (regulados e não regulados). Recomenda-se, portanto, a ampliação da amostra para outros setores potencialmente poluidores/regulados, assim como a replicação da pesquisa considerando um intervalo maior de tempo a fim de se verificar possíveis tendências nos investimentos em inovação voltados para a sustentabilidade. Reitera-se, ainda, a necessidade de complementação por meio da aplicação de análises estatísticas robustas em pesquisas futuras, não abarcadas nesta pesquisa.

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Tabela 1  –  Caracterização das empresas quanto ao porte
Tabela 3  –  Maiores frequências por categoria de investimento em P&amp;D nas empresas
Tabela 4  –  Menores frequências por categoria de investimento em P&amp;D nas empresas
Tabela 5  –  Destinação do P&amp;D ambiental pelas empresas, por categoria de aplicação

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