PERÍODO 1970 - 2015
Coordenação Técnica
ICLEI - governos locais pela sustentabilidade
Equipe Técnica
Igor Reis de Albuquerque – ICLEI
Iris Moura Esteves Coluna – ICLEI
Revisão
Renato Dallora
1.Introdução 6
2.Emissões de GEE no setor de Resíduos entre 1970 e 2015 10
2.1 Análises das emissões por subsetor 13
2.2Análises das emissões por Estado 28
2.3Análise e limitações dos dados 36
3.Trajetória, metas e compromissos 39
3.1 Política Nacional de Mudança do Clima 39
3.2 Política Nacional de Resíduos Sólidos 41
3.3 Política Nacional de Saneamento Básico 45
3.4 Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) 49
4.Recomendações 51
4.1 Aperfeiçoamento e transparência das informações disponíveis 51
4.2 Tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos 51
4.2 Incineração de resíduos especiais 53
4.3. Tratamento e afastamento de efluentes líquidos domésticos 54
4.4 Tratamento e afastamento de efluentes líquidos industriais 54
4.5 Recomendações gerais para as políticas nacionais e a
estratégia nacional para a implementação da NDC 55
5. Contextualização nas Cidades 56
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
Emissões de GEE pelo setor de resíduos (1970-2015) 10
Figura 2
Contribuição por subsetor nas emissões de GEE. a) Ano de referência
de 2015; b) Média no período entre 1970-2015 11
Figura 3
Emissões de GEE desagregadas por subsetor (1970-2015) 12
Figura 4
Emissões de GEE provenientes da disposição final de RSU (1970-2015) 14
Figura 5
Percentual macrorregional dos tipos de gerenciamento adotados
em locais de disposição final de RSU (2015) 15
Figura 6
Correlação entre o crescimento populacional urbano e quantidade
total de RSU coletados 16
Figura 7
Potencial de geração de metano por macrorregião brasileira para
diferentes tipos de disposição final: a) Aterros sanitários; b) Aterros
controlados; c) Vazadouros à céu aberto – lixões 17
Figura 8
Emissões de GEE provenientes de disposição final de RSU
desagregadas por macrorregião (1970-2015) 18
Figura 9
Contribuição macrorregional no total de emissões de GEE: a) No total de
Figura 10
Emissões de GEE desagregadas pela incineração de RSS e RSI (1970-2015) 20
Figura 11
Contribuição por tipos de resíduos nas emissões totais: a) 1990; b) 2015 20
Figura 12
Emissões de GEE provenientes do tratamento e afastamento de
efluentes líquidos (1970-2015) 23
Figura 13
Relação entre as emissões de metano e o número de habitantes
com escoadouro (1970-2015) 24
Figura 14
Emissões de GEE desagregadas por setores industriais (1970-2015) 26
Figura 15
Contribuição percentual dos setores industriais no total de emissões
para anos de interesse. a) 1990; b) 2015 27
Figura 16
Emissões totais de GEE desagregados por subsetor e Estados (2015) 30
Figura 17
Emissões totais de GEE provenientes da disposição final de RSU e
desagregadas por Estado, em anos de interesse. 31
Figura 18
Emissões totais de GEE provenientes da incineração de RSS e RSI
e desagregadas por Estado, em anos de interesse. 32
Figura 19
Emissões totais de GEE provenientes do tratamento e afastamento de efluentes
líquidos domésticos desagregados por Estado, em anos de interesse. 33
Figura 20
Emissões totais de GEE provenientes do tratamento e afastamento de efluentes
Figura 21
Contribuição percentual de cada atividade industrial nas emissões pelo
tratamento de efluentes líquidos industriais em 2015 35
Figura 22
Hierarquia de prioridades da gestão de resíduos sólidos 52
Figura 23
Distribuição de municípios no Brasil por faixa populacional 57
Figura 24
Distribuição da população no Brasil pelo tamanho dos
municípios (faixas populacionais) 58
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
Emissões de GEE por resíduos desagregadas por Estado
e macrorregião (2015) 28
Quadro 2
Metas apresentadas na Plano Nacional de Resíduos Sólidos 42
Quadro 3
Metas descritas no Plano Nacional de Saneamento 47
Quadro 4
Diagnóstico municipal da elaboração de PGIRSs e disposição final
A geração de resíduos, seus tratamentos intermediários e sua destinação final são ine -rentes à sociedade e produzem emissões de gases de efeito estufa, que agravam as mudanças climáticas. A Plataforma SEEG, iniciativa desenvolvida pelo Observatório do Clima (OC), contempla a estimativa de emissões de gases de efeito estufa (GEE) asso-ciadas ao setor de resíduos entre o período de 1970 a 2015.
O setor inclui a estimativa de emissões de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e
óxido nitroso (N2O) provenientes de tratamento e disposição final de resíduos sólidos urbanos, incineração de resíduos industriais e de serviço de saúde e tratamento e
afastamento de efluentes líquidos domésticos e industriais. Os tópicos a seguir se destinam a explicar brevemente cada subsetor que compõe o atual cenário de gestão
de resíduos.
Disposição final de resíduos sólidos urbanos (RSU)
Resíduos sólidos urbanos caracterizam-se como resíduos domésticos gerados em áreas urbanas, incluindo materiais decorrentes de atividades de varrição, limpeza de logradouros, vias públicas e outros serviços de limpeza (Brasil, 2010a). É
considera-da a questão mais problemática do setor de resíduos: estima-se que, globalmente, é
gerado 1,5 bilhão de toneladas (Gt) de RSU anualmente, com previsão de aumento para
aproximadamente 2,2 Gt para o ano de 2025 (IPCC, 2014). De acordo com o Quinto
Relatório de Avaliação (AR5)1 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças
Climáti-cas (IPCC, na sigla em inglês), do total atual de resíduos gerados no ambiente urbano em todo planeta, cerca de 300 milhões de toneladas (Mt) são reciclados, 200 Mt são
tratados com recuperação energética, 200 Mt dispostos em aterros sanitários e 800 Mt
são destinados a aterros controlados ou vazadouros à céu aberto.
1 As avaliações do IPCC fornecem uma base científica para que os governos em todos os níveis desenvolvam políticas
associadas ao enfrentamento às mudanças climáticas. Os relatórios são escritos por centenas de cientistas líderes
que oferecem seu tempo e experiência como coordenadores e autores dos estudos.Disponível em <https://www.
biológica, física e energética: o material coletado é encaminhado para disposição final em aterros ou lixões, observando-se baixos índices de contribuição de alternativas de
valorização como, por exemplo, compostagem e reciclagem.
A matéria orgânica contida nos resíduos sólidos, quando depositadas em lixões ou ater
-ros e em condições de ausência de oxigênio livre (anaeróbica), sofrem a ação de bacté
-rias geradoras de metano, em um processo denominado metanização, com a produção
de biogás. O biogás é composto majoritariamente por metano (50% a 70%)2 e qualificado
como um GEE. O processo de liberação de CH4 de uma quantidade específica de resíduos
disposto em aterros diminui gradativamente nas décadas subsequentes (IPCC, 2006).
Incineração de resíduos de serviços de saúde (RSS)
e resíduos sólidos industrias (RSI)
A incineração é um processo termoquímico de tratamento de resíduos. Ela consiste na
combustão de resíduos sólidos e líquidos em plantas controladas, com consequente redução do volume e das características de periculosidade dos resíduos.
O material incinerado produz gases de combustão, podendo ser fonte de energia gra-ças à geração de vapor superaquecido em caldeiras de recuperação de calor. Essa energia recuperada pode ser utilizada para produzir eletricidade (ABRELPE, 2015).
Resíduos sólidos urbanos, resíduos sólidos industriais (RSI) e resíduos de serviços de
saúde (RSS) podem ser incinerados. No entanto, a prática de incineração de RSU é mais
comum em países com sistemas de gestão e gerenciamento pautados em tecnologias mais avançadas3.
O Brasil é caracterizado pela baixa aplicabilidade de rotas de tratamento térmicas, sen
-do utilizadas pre-dominantemente para o tratamento de RSS e RSI. A incineração é fon
-2 O biogás também é composto por dióxido de carbono (30 a 45%), no entanto por ter origem biogênica,
o CO2 não é quantificado como GEE.
3 O Japão encaminhou 79% dos seus resíduos para a incineração em 2008. Enquanto a União Europeia
te de emissões de GEE, mais significativamente de CO2 e com menores contribuições de emissão de N2O e CH44 (IPCC, 2006). Alguns importantes poluentes relacionados à combustão (como compostos orgânicos não voláteis, monóxido de carbono e óxidos
sulfúricos), apesar de não serem estimados, também são emitidos e devem ser inven
-tariados em sistemas específicos.
Tratamento e afastamento de efluentes líquidos
O esgotamento sanitário se constitui pelas atividades, infraestruturas e instalações
operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição final adequada de efluen
-tes domésticos, desde as ligações prediais até seu lançamento final no meio ambiente
(MADEIRA, 2010).
Efluentes líquidos são gerados a partir de uma variedade de atividades, que podem ser domésticas, comerciais ou industriais. O tipo de atividade da qual o efluente é gerado
impacta diretamente a composição das águas servidas e, portanto, seu potencial de emissão de GEE.
O material originado, por sua vez, pode ser tratado in situ (não coletado), coletado e tratado em estações de tratamento ou descartado diretamente em corpos hídricos (IPCC, 2006). No geral, países desenvolvidos apresentam sistemas centrais com trata-mentos aeróbicos/anaeróbicos, enquanto países em desenvolvimento
caracteristica-mente possuem baixas taxas de coleta e tratamento de efluentes líquidos.
Quando a matéria orgânica presente nos efluentes líquidos é degradada em condições anaeróbias, o tratamento e afastamento de efluentes pode ser fonte de emissão de metano. Já a degradação de componentes de nitrogênio (como, por exemplo, ureia, nitratos e proteínas), é responsável pela emissão de óxido nitroso. O AR5 afirma que
as emissões de CH4 e N2O cresceram exponencialmente nas últimas décadas, atingindo valores de 667 e 108 Mt de CO2e, respectivamente, em 2010.
4 A estimativa elaborada no âmbito da iniciativa SEEG apenas quantificou as emissões de CO
2 e N2O
de emissões do setor de resíduos, bem como apresentar o atual arranjo institucional
brasileiro quanto aos sistemas de gestão e gerenciamento de resíduos. Por fim, são
propostas recomendações no que se refere às ações setoriais que podem refletir no enfrentamento às mudanças do clima.
O setor de saneamento no Brasil é marcado pelo déficit histórico, impactando direta
-mente na qualidade de vida de seus habitantes. O setor também se qualifica com um
alto potencial de abatimento de emissões de GEE, onde a busca pela universalização do acesso ao serviços de saneamento deve ser acompanhada por boas práticas de ge-renciamento que priorizem a redução de emissões.
Quem são os autores desta análise
O ICLEI é a principal associação mundial de governos locais dedicados ao
desenvolvimento sustentável, cuja rede global conecta mais de 1.500 governos de estados e cidades de diversos portes, em mais de 100 países. Movido pela causa de mobilizar os governos locais para construir cidades mais sustentáveis, o ICLEI oferece apoio para que desenvolvam suas políticas e ações pela sustentabilidade. Orienta-se pela premissa básica de que iniciativas elaboradas e dirigidas
localmente podem fornecer uma maneira eficaz e economicamente eficiente
para alcançar objetivos locais, nacionais e globais.
Ao longo de sua trajetória pioneira de mais de 25 anos, tem promovido a articulação de cidades, estados e regiões pela agenda do desenvolvimento sustentável e está presente em todas as regiões do mundo, por meio de 17 escritórios e secretariados regionais.
No ano de 2015, as emissões do setor de resíduos totalizaram 64,35 milhões de tone-ladas (Mt) de CO2 equivalente5, representando em torno de 3,34% das emissões nacio
-nais. No período de 1970 a 2015, as emissões acumuladas do setor de resíduos assu-miram o valor de 1.582 milhões de toneladas de CO2e, que por sua vez representam
2,38% no valor total de emissões acumuladas do Brasil.
Apesar da baixa contribuição do setor de resíduos nas de emissões de GEE, com mé
-dia histórica de 3,03% no total nacional, o setor é marcado pelo crescimento acentua
-do. Analisando os dados do período 1970-1990, observa-se o aumento de 221% nas
emissões de GEE. Já em relação ao período 1990-2015, o crescimento observado foi de
247%. A figura 1 apresenta as emissões totais do setor.
Figura 1 – Emissões de GEE pelo setor de resíduos (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
5 Este documento utiliza como padrão os fatores de conversão para carbono equivalente no formato GWP presente do
Segundo relatório do IPCC (SAR ou AR2 – Second Assessment Report).
‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1
Milhões de toneladas de CO
2
Conforme pode ser observado na figura acima, em 2015, registra-se a maior contribuição, em termos absolutos, do setor de resíduos nas emissões nacionais. Outro aspecto signifi -cativo é a característica de crescimento exponencial das emissões até o ano de 2010, com posterior estabilização e crescimento menos acentuado para os anos subsequentes.
A figura 2 apresenta a contribuição de cada subsetor no total de emissões de GEE. No ano de referência de 2015, 53,3% das emissões foram provenientes da disposição final de RSU, 23,8% decorrentes do tratamento de efluentes líquidos domésticos, 22,4% do tratamento e afastamento de efluentes líquidos e 0,4% da incineração de RSS e RSI.
Historicamente, as emissões do setor são principalmente associadas à disposição final
de resíduos sólidos em aterros sanitários, aterros controlados ou lixões, com contribui
-ção média no período 1970-2015 de 57,9%. O segundo subsetor que mais contribui é o tratamento e afastamento de efluentes líquidos domésticos, com média de 25,6% para
o mesmo período destacado. A terceira maior fonte de emissões é proveniente do tra
-tamento de efluentes líquidos industriais, com índice médio de 16.3% na contribuição no total de emissões. Por fim, observa-se a contribuição média de 0,2% da incineração
de resíduos de serviços de saúde e resíduos industriais.
Figura 2 – Contribuição por subsetor nas emissões totais de GEE
a) Ano de referência 2015 b) Média da contribuição no período 1970-2015
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
25,3%
16,6% 57,9%
0,2%
Figura 2 ‐ Contribuição subsetorial média histórica
1 2 3 4
Tratamento de Efluentes
Domésticos
Tratamento de Efluentes
Líquidos Industriais
Disposição de Resíduos Sólidos
Apesar de o setor ser predominantemente atrelado às emissões de provenientes da
disposição final de RSU, o pico de contribuição – em percentual- do subsetor foi obser -vado nos anos 90 e no inicio dos anos 2000. A partir de 2002, observa-se uma diminui-ção da contribuidiminui-ção percentual das emissões associadas à disposidiminui-ção final de RSU.
Em relação aos efluentes líquidos, observa-se uma diminuição gradativa da contribui
-ção de emissões associadas ao tratamento e afastamento de águas residuais domés
-ticas, à medida que se nota o comportamento oposto para águas residuais industriais,
com paulatino crescimento inicial e aumento significativo a partir do início dos anos 2000. Em 2008, é possível observar que as emissões dos dois subsetores praticamente
se igualaram, com maior contribuição do setor industrial para os anos subsequentes.
As emissões decorrentes do processo de incineração de RSS e RSI passaram a ser
quan-tificadas a partir da década de 90 e, apesar de apresentarem um crescimento acentua
-do, representam uma contribuição pouco significativa no total de emissões de setor. A
figura 3 apresenta a evolução de emissões totais de CO2e, desagregadas por subsetor,
entre 1970 e 2015.
Figura 3 – Emissões de GEE desagregadas por subsetor (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
‐ 10 20 30 40 50 60 70
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõ es de to ne lada s d e CO2 e Figura 3
Series1 Series2 Series3 Series4 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1
Milhões de toneladas de CO
2
e
Tratamento de Efluentes Domésticos Tratamento de Efluentes Líquidos Industriais
2.1. ANÁLISES DAS EMISSÕES POR SUBSETOR
Disposição adequada ou inadequada de RSU
A disposição final de RSU produz quantidades significativas de metano, por meio da
decomposição da fração orgânica degradável do RSU em condições anaeróbias. O po
-tencial de geração de CH4 dos resíduos sólidos é estimado a partir da análise da
compo-sição gravimétrica, do tipo de gestão adotada nos locais de dispocompo-sição final – vazadouro a céu aberto, aterros controlados ou aterros sanitários – e da quantidade de material
encaminhada para cada tipo de destino.
A política ambiental brasileira se desenvolveu, principalmente, nos últimos 40 anos.
Ape-nas em 1973, sob influência de movimentos exógenos6, criou-se a Secretaria Especial de Meio Ambiente – SEMA (FADE 2014). A partir da década de 1980, com o inchaço urbano e a complexidade do estilo de vida nas cidades, observa-se uma saturação das áreas de dispo
-sição final de RSU7 e o início da discussão sobre os tipos de tratamento aplicados,
incorpo-rando o questionamento da viabilidade de diferentes rotas de tratamento, a necessidade de valorização e reciclagem (LOPES, 2006).
A década de 1990 foi marcada pela busca de regulamentação de legislações sobre a
temática dos resíduos sólidos, com o aumento da conscientização sobre a questão de limpeza pública e maior aporte de recursos do governo federal para o setor (LOPES,
2006). Ao fim do século XX, inicia-se o debate para a construção da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Até a implantação da PNRS, em 2010, o setor foi marcado pela falta de diretrizes nacionais, objetivos e instrumentos para gestão e gerenciamento nos
diferentes níveis federativos.
A disposição final de RSU é a maior contribuinte nas emissões de GEE do setor de re
-síduos, responsável pela emissão de 34,28 milhões de toneladas de CO2e em 2015 As emissões totais associadas à disposição final, assim como seu comportamento históri
-co, estão apresentadas na figura 4.
6 Pouco depois da Conferência de Estocolmo (FADE,2013).
7 Modelo de gestão aplicado priorizava a busca pela melhoria na coleta de resíduos , promovendo
A fração orgânica do material que efetivamente é degradada em condições anaeróbi
-cas é influenciada, entre outros fatores que serão posteriormente explicados, pela ges
-tão aplicada no local de disposição final. Em linhas gerais, locais não gerenciados apre -sentam potencial de geração de CH4 menor que em locais gerenciados (MCTI, 2015)8
A partir de 1990, observa-se o crescimento acentuado de emissões de GEE, devido ao
início mais significativo da implementação de políticas de encaminhamento de RSU
para aterros sanitários. Em 1991, cerca de 4% dos resíduos eram dispostos adequa
-damente (FADE, 2014), enquanto em 2015, em torno de 58,7% dos RSU foram enca
-minhados para aterros sanitários (ABRELPE, 2016). O maior potencial de geração de metano associado à disposição de resíduos em aterros sanitários, aliado ao aumento
de índices de coleta de RSU , o qual passou de um valor diário médio de 0,56 kg de RSU
por habitante em 1970 para 0,90 kg de RSU por habitante em 20159, foram os principais
responsáveis pelo forte crescimento observado.
Figura 4 – Emissões de GEE provenientes da disposição final de RSU (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
8 Essa característica é interpretada pelo fator de correção de metano (MCF). Para aterros sanitários aplica-se o fator 1,
para aterros controlados a taxa aplicada é de 0,8 e para lixões aplica-se o MCF 0,4. (IPCC,2006).
9 A taxa de coleta de 1970 foi obtida a partir da média de índices regionais descritos no relatório de refêrencia setorial
do Terceiro Inventário Nacional de Emissões e Remoçoes. Já a taxa de coelta de 2015 foi obtida no Panorama dos resíduos no Brasil 2015, elaborado pela ABRELPE.
‐ 5 10 15 20 25 30 35 40
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
Mi lh õe s de tonel adas d e CO2 e Figura 4 ‐ Disposição de Resíduos Sólidos ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1
Milhões de toneladas de CO
2
As características de gerenciamento de resíduos diferem fortemente por macrorregião,
onde as regiões Sul e Sudeste são caracterizadas por encaminhar mais de 70% dos
seus RSU para aterros sanitários. Já as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste enca
-minham em torno de 30% dos resíduos coletados para disposições finais consideradas
ambientalmente adequadas (ABRELPE, 2016).
Figura 5 – Percentual macrorregional dos tipos de gerenciamento adotados em locais
de disposição final de resíduos sólidos (2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul. Elaborado a partir de dados disponíveis no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2015.
Outro aspecto significativo é o aumento dos índices de geração e coleta de RSU. A figura
6 apresenta a correlação entre o crescimento populacional urbano e a quantidade de resíduos coletados. Nota-se que no período entre 1970 e 1995 as curvas apresentam um comportamento de crescimento bastante similar. Após 1995, com o aquecimento da economia decorrente do início do Plano Real e maior investimento em infraestruturas de
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
Norte Nordeste Centro‐Oeste Sudeste Sul Brasil Figura 5
Aterros Sanitários Aterros Controlados Lixões
Aterros Sanitários Aterros Controlados Lixões
70% 80%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
saneamento, observa-se que a quantidade de material coletado passa a aumentar mais
acentuadamente que o número de habitantes urbanos. Isso indica que a taxa de coleta
per capita aumentou mais significativamente que o crescimento populacional, impactan
-do diretamente na quantidade de RSU encaminhada para locais de disposição final.
Figura 6 – Correlação entre o crescimento da populacional urbano
e a quantidade total de RSU coletado
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
Conforme mencionado anteriormente, a composição gravimétrica é uma das variáveis
mais relevantes na determinação das emissões associadas aos tratamentos de
resí-duos sólidos. Diferentes aspectos culturais, fatores econômicos e sociais influenciam
na composição dos RSU, de modo que obtém-se diferentes quantidades de fração or
-gânica, materiais recicláveis e outros para os distintos contextos nacionais (IPCC, 2006).
A análise da composição gravimétrica também considerou as características macror
-regionais encontradas no território brasileiro, onde historicamente se observa um
de-créscimo da fração orgânica degradável10.
10 A fração orgânica degradável é o carbono orgânico presente no resíduos que é acessível para o
microrganismos realizarem a decomposição bioquímica (IPCC, 2006)
‐ 10 20 30 40 50 60 70 ‐ 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõe s de tone la das de R SU col et ados M ilhõe s de ha bi tante s Figura 6 Series1 Series2 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 ‐ 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõe s de tone la das de R SU col et ados M ilhõe s de ha bi tante s Figura 6 Series1 Series2 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 ‐ 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõe s de tone la das de R SU col et ados M ilhõe s de ha bi tante s Figura 6 Series1 Series2 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1
Pop Urbana Coleta de RSU
Milhões de habitantes
A fração orgânica degradável, juntamente com a análise do tipo de disposição final,
permitiu a obtenção do potencial de geração de metano de cada região brasileira, o
qual diminuiu significativamente para todas as macrorregiões. Nesse sentido, a dimi
-nuição observada corrobora com a tendência descrita na proposta do Plano Nacional
de Resíduos Sólidos (Planares), onde se indica que, apesar dos RSU brasileiros serem
predominantemente formados por matéria orgânica, observou-se um aumento por
-centual significativo na geração de recicláveis (Brasil, 2012).
Figura 7 – Potencial de geração de metano por macrorregião brasileira
para diferentes tipos de disposição final
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul. Elaborado a partir de dados disponíveis no Relatório de Referência do setor de tratamento de resíduos do
Terceiro Inventário Nacional de Emissões e Remoções Antrópicas. a) Aterros Sanitários
c) Vazadouros a céu aberto
b) Aterros Controlados
A maior diminuição no
potencial de geração ocorreu na macrorregião Sul. Em 2015, as regiões Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste apresentaram os maiores índices,
respectivamente. Enquanto a região Norte, em todo período analisado , apresenta os menores valores potenciais.
As emissões de GEE relacionadas à disposição adequada ou inadequada de resíduos
sólidos urbanos refletem principalmente o comportamento da geração/coleta de re
-síduos, composição gravimétrica e gerenciamento do local de destinação final. Para
uma análise que refletisse a complexidade brasileira na gestão de resíduos, buscou
--se incorporar as divergências macrorregionais observadas.
Em todo período analisado, nota-se o predomínio da região Sudeste no total de emis-sões de CO2e, evidenciando sua concentração populacional e seus instrumentos de
gestão mais avançados em relação às outras regiões brasileiras. As figuras 8 e 9 apre
-sentam as emissões de GEE desagregadas por macrorregião e suas contribuições per-centuais, tanto historicamente quanto para 2015.
Figura 8 – Emissões de GEE provenientes da disposição final de resíduos sólidos
urbanos desagregadas por macrorregião (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
A macrorregião Nordeste, devido ao número de Estados, composição gravimétrica e índices populacionais, é a segunda maior região fonte de emissão no Brasil. A região
Centro-Oeste, apesar de apresentar sistemas de gestão menos avançados do que a
re- ‐ 5 10 15 20 25
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ill io ns Figura 8 Series1 Series2 Series3 Series4 Series5 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1 ‐ 10 20 30 40 50 60 70
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Mil
hões
de
ton
elad
as d
e CO
2e
Figura 1gião Sul, se caracteriza como a terceira maior fonte de emissão de GEE pela disposição
de RSU, devido ao maior potencial de geração de metano observado nos estados cen
-trais. Por fim, têm-se a contribuição da região Sul e Norte, que apresentam os menores
potenciais de geração de metano.
Figura 9 – Contribuição macrorregional no total de emissões de GEE
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
Apesar de serem descritas na PNRS como mecanismos de destinação final
adequada, alternativas de tratamento intermediário como compostagem e reciclagem são irrisórias no Brasil. Portanto, suas contribuições não foram consideradas para os cálculos das estimativas relacionadas a resíduos sólidos urbanos.
2%
19%
11%
59% 9%
Figura 9 ‐ 2015
1 2 3 4 5 2%
18%
9%
58% 13%
Figura 9 ‐ Contribuição média histórica
1 2 3 4 5
a) No total de emissões em 2015 b) No total de emissões no período de 1970-2015
Norte
Nordeste
Centro-oeste
Sudeste
Incineração de RSS e RSI
A incineração é uma rota tecnológica para tratamento de resíduos sólidos pouco ado
-tada no Brasil, utilizada majoritariamente para o tratamento de resíduos de serviços
de saúde e sólidos industriais. É o subsetor com menor contribuição no total de emis-sões, responsável pela emissão de 286,7 mil toneladas de CO2e. Em 1990, o subse-tor foi responsável pela emissão de 22,4 mil toneladas de CO2e, isso representa um
crescimento maior que 1200% no período analisado. As figuras 10 e 11 apresentam a
evolução de emissões de setor entre 1990 a 2015 desagregadas por subsetores.
Figura 10 – Emissões de GEE desagregadas pela incineração de RSI e RSS (1990-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
Figura 11 - Contribuição por tipo de resíduos nas emissões totais
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul a) No total de emissões em 1990 b) No total de emissões em 2015
70% 30%
Figura 11 ‐ 1990
1 2
61%
39%
Figura 11 ‐ 2015
1
2
Resíduos Industriais
Resíduos Industriais Resíduos de Serviços de Saúde
Resíduos de Serviços de Saúde
Mil toneladas de CO
2
O aumento das emissões pela incineração de RSI pode estar associado às taxas de
crescimento da economia no Brasil, que avançaram consideravelmente no período 1990-2015, acompanhadas pelo aumento do consumo e da atividade industrial.
Se-gundo o IBGE, no período de 2001 a 2007, foi observado o aumento de 25% no número
de indústrias de transformação no Brasil11. Consequentemente, registrou-se também o aumento da geração de resíduos, tratamento intermediário e disposição final.
Até a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, os marcos regulatórios
do setor de resíduos industriais se direcionavam, principalmente, para a elaboração de um inventário nacional, onde as indústrias deveriam apresentar aos respectivos órgãos estaduais informações sobre geração, características, armazenamento e des-tinação de seus resíduos (IPEA, 2012a). A PNRS prevê obrigações para o setor
produ-tivo, responsabilizando o gerador pelo tratamento e destinação final dos resíduos,
podendo executar essa função internamente ou contratar serviços de empresas es
-pecializadas (BRASIL, 2010).
Já em relação à intensificação das emissões provenientes do tratamento de RSS, po
-de-se justificá-las pelo aumento da geração de RSS per capita e maiores restrições quanto ao tratamento e à disposição final.
De acordo com o Diagnóstico dos Resíduos Sólidos de Serviços de Saúde do IPEA12, elaborado em 2012, foi possível observar o aumento significativo número de médicos,
enfermeiros e odontólogos por habitante, em todas as macrorregiões do país. Assim
como a evolução positiva da oferta de leitos existentes desde 1990 até 2005, aliados ao
crescimento populacional e ao aumento da renda per capita, que por sua vez geram o aumento de demanda de serviços de saúde.
Em relação aos aspectos legais e normativos relacionados a RSS, nota-se a partir da
década de 90 o robustecimento dos marcos regulatórios, que incluem tanto ques
-tões ambientais e de saúde pública. Em 1993, foi aprovada a Resolução CONAMA
11 Disponvel em< http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=15621>.
Acessado em 06 de junho de 2017
12 Disponível em http://ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/relatoriopesquisa/120806_relatorio_residuos_solidos.
nº 05, que dispõe sobre a necessidade de realização de algum tipo de tratamento de resíduos gerados pelos prestadores de serviços de saúde. A mesma resolução
também estabelece a responsabilidade do manejo seguro pelos prestadores de
serviço, assim como dispõe sobre a obrigatoriedade da elaboração e implantação do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), quanto ao acondiciona-mento, á coleta, ao armazenaacondiciona-mento, ao transporte, ao tratamento e à disposição
final (IPEA,2012b).
Posteriormente, diferentes resoluções do CONAMA e da ANVISA e leis federais
re-forçaram a obrigatoriedade da implantação de PGRSS específicas para serviços de saúde e a importância de sistemas de tratamento e destinação final de RSS. Esse
robustecimento de marcos regulatórios culminou na elaboração do Manual de Ges-tão de Gerenciamento de RSS de 2006 e na regulamentação da Política Nacional de Saneamento Básico (Lei Federal nº11.445) e Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal nº12.305) (IPEA,2012b).
Tratamento e afastamento de efluentes líquidos domésticos
A emissão de CH4 ocorre quando os componentes orgânicos dos efluentes líquidos do
-mésticos são degradados anaerobicamente em reatores, lagoas, fossas sépticas, valas para o esgoto sem rede coletora e no lançamento em corpos d’água. A extensão da
produção de metano depende da quantidade de matéria orgânica, índices de tempera
-tura e tipos de tratamento aplicados (IPCC, 2006).
De acordo com as diretrizes do IPCC, a principal determinante para a geração de
me-tano associada ao tratamento de efluentes líquidos é quantidade de componentes or
-gânicos degradáveis presente nas águas residuais, parâmetro esse quantificado pela
concentração da Demanda Bioquímica por Oxigênio (DBO)13.
A emissão de N2O pode ocorrer direta ou indiretamente, proveniente da degradação
de componentes de nitrogênio (e.g. ureia, proteínas e nitratos) na excreção humana.
13 DBO quantifica a matéria orgânica oxidável por ação de microrganismos, na prática é um índice de concentração de
As emissões diretas estão relacionadas a processos de nitrificação e desnitrificação em
sistemas de tratamento avançados. As emissões indiretas, mais significativas, são de
-correntes do lançamento de efluentes domésticos em ambientes aquáticos.
O subsetor relacionado ao tratamento e afastamento de efluentes domésticos foi res
-ponsável pela emissão de 14,4 milhões de toneladas de CO2e em 2015. Na totalidade do período analisado, de 1970 a 2015, estima-se que foram emitidas 378 milhões to-neladas de CO2e. A figura a seguir apresenta o comportamento histórico das emissões,
onde é possível observar seu crescimento exponencial.
Figura 12 – Emissões de GEE decorrentes do tratamento e afastamento
de efluentes líquidos domésticos (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
O Relatório de Referência do setor de Resíduos, elaborado pelo MCTI, estabelece a
quantidade de carga orgânica gerada por habitante, isso significa que a quantidade de
emissões possui forte correlação com o número de habitantes atendidos por rede
cole-tora de efluentes líquidos domésticos. A figura 13 descreve a relação entre as emissões
de metano e fração da população com escoadouro.
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
16
14
12
10
8
6
4
2
Milhões de toneladas de CO
2
Figura 13 – Relação entre as emissões de CH4 e o número de habitantes com escoadouro (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
Apesar da forte correlação entre a população, geração de carga orgânica e emissões de
metano, é possível observar que as curvas de crescimento não apresentam comporta
-mentos semelhantes. Isso se deve à atuação de uma terceira condicionante: a aplica -ção de diferentes tipos de tratamento14, acompanhada da ampliação da cobertura de sistemas de coleta e tratamento de efluentes líquidos domésticos.
Até o início da década de 80 observam-se as mesmas características de crescimento
do número de habitantes com escoadouro e as emissões GEE do subsetor, onde
am-bos apresentam um aumento significativo. O período coincide com o início da imple
-mentação do Plano Nacional de Saneamento (Planasa), com vigência de 1971 a 1990
A partir do plano, organizou-se um forte esquema de financiamento, impulsionando o aumento de investimento de 0,15% do PIB em 1970, para 0,55% em 1980 (ARAÚJO
14 Fração do resíduo que de fato é degradada anaeróbicamente por tipo de tratamento. Valores default são
estabelecidos no IPCC, disponível em: <http://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/2006gl/pdf/5_Volume5/V5_6_Ch6_ Wastewater.pdf> ‐ 50 100 150 200 250 ‐ 2 4 6 8 10 12 14 16
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilh õe s d e hab itan te s Mi lh ões de tonel adas de CO 2e
Figura 13
Series1 Series2Milhões de toneladas de CO
2
e
Milhões de habitantes
‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 ‐ 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõe s de tone la das de R SU col et ados M ilhõe s de ha bi tante s Figura 6
Series1Emissões TotaisSeries2
‐ 10 20 30 40 50 60 70 ‐ 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilhõe s de tone la das de R SU col et ados M ilhõe s de ha bi tante s Figura 6
FILHO, 2008). O Planasa, considerado de caráter centralizador, priorizou principal-mente as regiões metropolitanas, a fim de atingir ganhos em escala quanto a índices de cobertura de sistemas de abastecimento de água e coleta e tratamento de águas
residuais (LIMA E MARQUES, 2012).
Em meados da década de 80 até 1995 observa-se um maior distanciamento do cresci
-mento da população com escoadouro e das emissões de GEE, decorrente
principalmen-te da desestruturação do modelo financeiro do Planasa, que provocou o crescimento no déficit absoluto nos serviços de saneamento básico (ARAÚJO FILHO, 2008). Durante
a primeira metade dos anos de 1990, foram criados diferentes programas para moder-nização e reestruturação institucional do setor, que impactaram positivamente na
di-minuição gradativa do déficit absoluto de esgotamento sanitário (ARAÚJO FILHO, 2008).
Consequentemente, foi observado um crescimento acentuado nas emissões de CO2e.
Atualmente, os marcos regulatórios do setor são a Lei 11.445 de 5 de janeiro de 2007 e
o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab). De acordo com a referida lei, o
pla-nejamento integrado, a regulação, a cooperação federativa e o controle social impul
-sionarão o setor de saneamento, focando estrategicamente no futuro. O Brasil ainda convive com as consequências de um atraso histórico nas infraestruturas de sanea-mento básico, principalmente quanto ao abastecisanea-mento de água e índices de cobertura e tratamento de águas residuais.
Um dos instrumentos promovidos pela lei de 2007, visando à diminuição gradativa
das desigualdades de acesso e universalização de serviços de saneamento, foi im-plantação do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC15. Iniciado em 2007 (1ª fase até 2010 e segunda fase de 2011 a 2015), concentrou investimentos importantes
do governo federal e trouxe relevantes contribuições para o setor de saneamento16.
No entanto, o programa se mostrou bastante aquém do desejado e, apesar dos in
-vestimentos realizados, o Brasil continua muito distante da universalização dos servi-ços de saneamento (TRATA BRASIL, 2016).
15 Instituto Trata Brasil - Relatório de Olho no PAC, disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/
de-olho-no-pac/2016/relatorio.pdf?pdf=Relatorio-Completo_De-Olho-No-PAC-16>
16 Foram exacutadas 340 obras, sendo que 183 são relacionadas a sistemas de esgotamento sanitário e 157
Tratamento de efluentes líquidos industriais
Efluentes líquidos industriais são despejos líquidos provenientes exclusivamente de ativi -dades de indústrias, compreendendo águas servidas de processos industriais e de
refrige-ração. As emissões associadas ao tratamento de efluentes industriais, assim como o apre
-sentado para efluentes domésticos, relacionam-se principalmente à quantidade de carga
orgânica presente no sistema de esgotamento, quantificada pela concentração de DBO.
Para analisar as estimativas do setor, foram classificadas as indústrias estratégicas que
geram grande volume de DBO no Brasil. De acordo com o relatório de referência do
setor de tratamento de resíduos, os nove setores produtivos indicados abaixo são res
-ponsáveis por mais de 97% da carga orgânica industrial no país:
i) Produção de açúcar; (ii) Produção de álcool; Iii) Produção de cerveja; iv) Produção de
carne bovina; v) Produção de carne suína; vi) Produção de carne avícola; vii) Produção
de leite cru; viii) Produção de leite pasteurizado e ix) Produção de celulose e papel.
Em 2015, estima-se que o tratamento de efluentes industriais foi responsável pela
emissão de cerca de 15,3 milhões de toneladas de CO2e. A figura 14 demonstra o cres
-cimento do subsetor no período analisado, também evidenciando uma forte caracte
-rística exponencial.
Figura 14 – Emissões de GEE desagregadas por setores industriais (1970-2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
‐ 2 4 6 8 10 12 14 16 18
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
M ilh õe s d e to ne ld as d e CO 2e Figura 14 ‐ 10 20 30 40 50 60 70 19 70 19 71 19 72 19 73 19 74 19 75 19 76 19 77 19 78 19 79 19 80 19 81 19 82 19 83 19 84 19 85 19 86 19 87 19 88 19 89 19 90 19 91 19 92 19 93 19 94 19 95 19 96 19 97 19 98 19 99 20 00 20 01 20 02 20 03 20 04 20 05 20 06 20 07 20 08 20 09 20 10 20 11 20 12 20 13 20 14 20 15 M ilh ões d e to nel ad as d e C O2 e Figura 1
Milhões de toneladas de CO
2
e
Nos períodos de 1994-1998 e 2002-2010, verificaram-se saltos no total de emissões. O primeiro período de expansão coincide com o início do Plano Real, onde se observou
um forte crescimento econômico e consequente maior acesso a bens de consumo e aumento da produção industrial. Já o segundo período destacado, entre 2002 e 2010,
também é marcado por um crescimento acentuado no número de indústrias, decor
-rente do aquecimento da economia. Assim como os investimentos em infraestrutura, programas de inclusão social, a Política Nacional de Saneamento Básico e ao maior
financiamento em obras de infraestrutura de saneamento propiciadas pelo PAC.
Figura 15 – Contribuição percentual dos setores industriais no total de emissões, para anos de interesse.
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
Observa-se o aumento significativo da contribuição, no período de 1990 a 2015, de
emissões associadas à produção de papel e celulose. Em menor escala, se observa o aumento da contribuição da produção de açúcar e mais timidamente da produção de carne suína e avícola. O período também foi marcado, principalmente, pelo decréscimo da contribuição de emissões associadas à produção de álcool e, menos significativa -mente, à produção de leite cru, leite pasteurizado e carne bovina.
34%
23% 1%
6% 15%
4%2%
14% 1%
Figura 15 ‐ 1990
18%
29%
2% 5% 11% 1% 1% 30%
3%
Figura 15 ‐ 2015
1 2 3 4 5 6 7 8 9
a) 1990 b) 2015
Álcool
Açúcar
Aves
Bovinos
Leite Cru
Leite Pasteurizado
Cerveja
Papel e Celulose
O subsetor de tratamento de efluentes industriais apresenta um comportamento de
emissões distinto do observado para efluentes domésticos, pois as emissões estão di
-retamente correlacionadas com a produção industrial, a qual está suscetível a oscila-ções provocadas por aspectos econômicos. Ressalta-se que, para todo período
anali-sado, de 1970 a 2015, foi possível observar a predominância de emissões associadas à
produção de papel e celulose, açúcar e álcool.
2.2. ANÁLISES DAS EMISSÕES POR ESTADO
A versão 4.0 da plataforma SEEG apresenta as emissões de GEE desagregadas por uni-dades da federação. O processo de alocação por estado do setor de resíduos é marcado pela influência de condicionantes diretas ou indiretas, como o número de habitantes e produção industrial. O quadro 1 apresenta a contribuição dos subsetores evidenciados no tópico 2.1, bem como o total de emissões de toneladas de CO2e produzidas por cada unidade da federação no ano de 2015.
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
Observa-se que em 2015, entre os quatros maiores estados emissores de GEE do se-tor de resíduos, três Estados se localizam na macrorregião Sudeste e um na Sul. Esse
comportamento reforça a forte influência populacional atribuída ao setor. Em contra
e baixas taxas de acesso a serviços de saneamento. A figura 16 apresenta os resultados
consolidados do setor de resíduos, em ordem decrescente de contribuição por Unida
-de da Fe-deração no total -de emissões -de GEE no território brasileiro em 2015.
Figura 16 – Emissões totais de GEE desagregadas por subsetor e Estado (2015)
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
Do total de emissões estimadas no setor de resíduos, cerca de 99,9% foram alocadas em
Unidades da Federação. A mínima fração não alocada, registrada na figura 16 como a
sigla NA, corresponde a dados de atividade de produção de carne bovina, suína e avícola.
Os itens a seguir se destinam a analisar o comportamento histórico das emissões por sub-setor e como o processo de alocação estadual ocorreu para cada unidade da federação.
Análise das emissões associadas aos sistemas
de gestão de RSU nos Estados brasileiros
A abordagem aplicada pelo SEEG buscou incorporar as características macrorregionais nas estimativas de emissões de metano de cada Estado brasileiro. Novamente, para o subsetor de disposição final de RSU, se observa a forte predominância da região Sudes
-Milhões de toneladas de CO
2
e
te, com o Estado de São Paulo responsável por cerca de 26% das emissões em 2015. Os
Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro contribuem com cerca de 16% e 14%, respec
-tivamente, no total de GEE gerados.
A evolução histórica das emissões do subsetor pode ser observada na figura 17, onde se observa um fenômeno interessante de decréscimo ou estabilização das emissões no
intervalo de 2002 a 2015 nos Estados do Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Cata-rina e São Paulo, devido ao aumento de índices de recuperação de metano em aterros
sanitários, seja pela queima ou pelo aproveitamento energético, sendo a primeira op
-ção mais comum nos sistemas de gestão observados no Brasil.
Figura 17 – Emissões totais de GEE provenientes da disposição final de RSU do Estados brasileiros em anos de interesse
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
Ressalta-se a baixa contribuição de Estados da região Norte, onde o total de emissões
macrorregional representa apenas cerca de 2% do total nacional. Outro aspecto inte
-ressante sobre as características estaduais de emissões é a contribuição mais signi
-ficativa de Estados da macrorregião Centro-Oeste, que apesar de não apresentarem taxas populacionais tão acentuadas, possuem índices de emissões relativamente altos. Goiás, por exemplo, é o nono Estado mais populoso do Brasil; no entanto, é o quinto
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO NA
Mi
lh
õe
s d
e
to
ne
la
da
s d
e
CO
2e
Figura 17
1970 1990 2002 2015
Milhões de toneladas de CO
2
e
maior emissor, à frente de Estados como Paraná e Rio Grande do Sul. Característica
justificada quando se analisa a composição gravimétrica e, consequentemente, o po
-tencial de geração de metano de cada região.
Análise das emissões provenientes da incineração
nos Estados brasileiros
Conforme mencionado anteriormente, a incineração é uma rota tecnológica pouco ex
-plorada como tratamento de resíduos sólidos no Brasil. A desagregação das emissões
por Unidades da Federação foi realizada por meio de dois processos distintos para
resíduos de serviços de saúde e resíduos industriais. Diferentemente do registrado no
subsetor de disposição final de RSU, a população não foi utilizada como uma variável
direta na obtenção do total de emissões.
Para RSS, foram utilizados dados de atividades obtidos nos panoramas anuais da ABRELPE, especialmente para anos recentes, enquanto para períodos sem informa-ções, foram utilizadas correlações matemáticas. Já para RSI, a alocação estadual foi baseada em informações compiladas a partir de inventários estaduais.
Figura 18 – Emissões totais de GEE provenientes da incineração de RSS e RSI
dos Estados brasileiros em anos de interesse
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
0 0.01 0.02 0.03 0.04 0.05 0.06 0.07 0.08 0.09
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO
M
ilh
ões de t
on
el
adas de
CO
2e
Figura 18
1970 1990 2002 2015
Milhões de toneladas de CO
2
e
Como nem todas as Unidades da Federação possuíam inventários regionais sobre re -síduos industriais, pode-se ter superestimado as emissões para os estados que
apre-sentaram informações sobre suas respectivas atividades industriais. Nesse contexto
regional, os Estados que mais contribuíram no subsetor foram São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná.
Análise das emissões provenientes do tratamento e afastamento
de efluentes líquidos domésticos nos Estados brasileiros
A análise das emissões associadas ao tratamento de efluentes líquidos domésticos,
caracterizada por sua baixa qualidade de dados, que será discutida na seção 2.3, ba
-seia-se principalmente nas taxas de urbanização de cada Unidade da Federação do
Brasil. A Figura 19 apresenta o comportamento histórico das emissões associadas ao tratamento e afastamento de águas residuais, marcado pelo acentuado crescimento para todos os Estados brasileiros.
Figura 19 – Emissões totais de GEE provenientes do tratamento e afastamento de
efluentes dos Estados brasileiros em anos de interesse
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO NA
Mil
hões
de
toneladas
de
CO
2e
Figura 19
1970 1990 2002 2015
Milhões de toneladas de CO
2
e
Como a principal condicionante do setor, na análise realizada no âmbito da plataforma
SEEG, foram as taxas populacionais, os seis Estados que mais emitem (São Paulo, Mi
-nas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná), responsáveis por cerca
de 58,4% do total de emissões do setor, são também os que apresentam o maior nú
-mero de habitantes com escoadouro.
Análise das emissões provenientes do tratamento e afastamento
de efluentes líquidos industriais nos Estados brasileiros
As emissões provenientes do tratamento de efluentes líquidos industriais foram esti
-madas a partir da produção industrial de cada Unidade da Federação. A figura 20 apre
-senta o comportamento histórico das emissões do subsetor.
Figura 20 – Emissões totais de GEE provenientes do tratamento de
efluentes líquidos industriais em anos de interesse
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul
0 1 2 3 4 5 6 7
AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO NA
M
ilh
õe
s de
ton
el
ad
as d
e CO2e
Figura 20
INDUSTRIAL 1970 INDUSTRIAL 1990 INDUSTRIAL 2002 INDUSTRIAL 2015
Milhões de toneladas de CO
2
e
O Estado de São Paulo novamente se posiciona como a principal unidade da federação
fonte de emissões de GEE pelo tratamento de efluentes industriais, responsável por 41% das emissões do subsetor, seguido por Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e
Goiás. Destaca-se que o posicionamento em relação à quantidade de emissões de GEE
das UFs não necessariamente coincidem com seu posicionamento na contribuição ao
PIB nacional17, pois a análise seleciona as atividades industriais por sua capacidade de
geração de DBO.
A figura 21 apresenta a contribuição percentual de cada atividade industrial no total de emissões das dez UFs que mais emitiram em 2015. Nesse sentido, destaca-se a
contribuição da produção de açúcar no estado de São Paulo e Alagoas; a produção de papel e celulose no Paraná, Santa Catarina e Bahia; a produção de álcool em Goiás e Mato Grosso de Sul; a produção de carne bovina no Mato Grosso; a produção de leite
cru no Rio Grande do Sul; e, por fim, a característica bastante diversificada do estado
de Minas Gerais.
Figura 21 – Contribuição percentual de cada atividade industrial nas emissões de GEE
pelo tratamento de efluentes líquidos industriais em 2015
Fonte: ICLEI – Governos locais pela sustentabilidade, Secretariado para América do Sul.
17 Ranking dos Estados elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), disponel em:
<http://perfilestados.portaldaindustria.com.br/ranking?cat=9&id=1354>
0% 20% 40% 60% 80% 100%
SP PR MG SC GO MS RS MT BA AL
Figura 21
Papel e Celulose Cerveja
Leite Pasteurizado Leite Cru
Bovinos Aves Suínos Açucar Álcool
Papel e Celulose
Cerveja
Leite Pasteurizado
Leite Cru
Bovinos
Aves
Suínos
Açúcar
2.3. ANÁLISE E LIMITAÇÕES DOS DADOS
Disposição de resíduos sólidos
A qualidade da estimativa de emissões de metano está diretamente relacionada à qualida-de e disponibilidaqualida-de dos dados qualida-de atividaqualida-de no setor qualida-de resíduos, que incluem o total qualida-de
resíduos sólidos urbanos gerados, índices de coleta, composição gravimétrica, fração de RSU encaminhada para disposição final e tipo de gestão aplicado nos locais de disposição.
Apesar dos Panoramas Anuais da ABRELPE, lançados a partir de 2004, apresentarem
os indicativos macrorregionais de coleta de RSU e tipos de disposição final, o setor de resíduos é caracteristicamente marcado pela ausência de informações, principalmente
pela disponibilidade de dados históricos. Já as informações sobre a composição
gravi-métrica e, consequentemente, a fração de carbono degradável presente no material
coletado, foram obtidas a partir do relatório de referência do setor de resíduos
elabo-rado e extrapolados para os anos subsequentes a 2010.
Incineração de resíduos sólidos
As variáveis chaves para o cálculo das emissões de CO2 e de N2O são a quantidade e o tipo de resíduos (industrial e de saúde) incinerados anualmente. Frente à impossibi-lidade de um levantamento mais assertivo da quantidade de resíduos incinerados de 1970 a 2015, as estimativas de emissões desse período foram calculadas pelo SEEG baseando-se nos dados disponíveis após 1990.
Os dados encontrados no período 1990 a 2015 também são parciais, sendo necessária
a aplicação de correlações matemáticas, não correspondendo à totalidade de
incinera-dores existentes e à quantidade de resíduos realmente incinerados.
Especificamente para resíduos industriais, observa-se a ausência de informações con
-sistentes, de modo que se utilizaram dados obtidos a partir do relatório de referência
como nem todas as Unidades da Federação elaboraram seus inventários, a alocação pode ter subestimado ou superestimado a contribuição de diferentes UFs.
Efluentes líquidos domésticos
De acordo com a metodologia de cálculo, as emissões desse subsetor variam, dentre
outros fatores, em função da população e do tipo de tratamento ao qual os efluentes
gerados são submetidos. Frente à inexistência de uma base de dados anual que per
-mita conhecer com exatidão as frações dos efluentes domésticos e cada tipo de trata
-mento, os autores do 3o Inventário Nacional realizaram um conjunto de inferências e
de integrações de dados de fontes e formatos diferentes. No entanto, as informações não estão integralmente descritas no relatório de referência, impossibilitando a repli-cação da metodologia de cálculo.
A estimativa realizada pela plataforma SEEG reproduziu os resultados obtidos no relatório de referência, com a adição da desagregação estadual, baseada na fração
de habitantes com escoadouro de cada UF. A metodologia aplicada para a quanti
-ficação das emissões de GEE pelo tratamento de efluentes líquidos é marcada pela
necessidade de aprimoramento.
Efluentes líquidos industriais
O cálculo abrange as atividades industriais que mais geram carga orgânica e que,
portanto, possuem o maior potencial de geração de GEE. Nesse sentido, os setores
contemplados são: cerveja, leite cru, leite pasteurizado, açúcar, álcool, papel, suíno e aves e bovinos.
De acordo com o método de cálculo, as emissões desse subsetor variam, dentre outros
fatores, em função do volume/quantidade produzida e do tipo de tratamento aos quais
Para o cálculo foram utilizados os dados de produção, porém não foram obtidos dados
específicos sobre o tipo de tratamento dos efluentes, para os quais foram reprodu
-zidas informações descritas no relatório de referência do setor de resíduos e valores
defaults estabelecidos pelo IPCC. Destaca-se também a falta de dados atualizados e oficiais sobre a recuperação energética do metano nos vários sistemas de tratamento de efluentes, impossibilitando uma estimativa precisa das emissões.
Dessa forma as estimativas variaram em função do aumento da produção dos
dife-rentes setores avaliados, porém não captaram totalmente as mudanças no padrão de
tratamento dos efluentes industriais. Tais mudanças possivelmente ocorreram, levan
-do-se em consideração a intensificação das exigências ambientais para a aprovação e