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Rev. adm. empres. vol.51 número3

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Academic year: 2018

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PERSPECTIVA INÉDITA SOBRE A DOENÇA

COMPORTAMENTAL NO TRABALHO

Cecília W. Bergamini

Livre-Docente pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo – São Paulo – SP, Brasil e Professora da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, Fundação Getulio Vargas – São Paulo – SP, Brasil cecilia@ceciliabergamini.com.br

O livro inaugura para os leitores brasileiros uma nova era de compre-ensão da interação homem-trabalho- organização. Não mais dentro de uma perspectiva ingênua como aquela divulgada pelos populares Manuais de Administração que pre-tenderam simplificar e divulgar nor-mas gerais de como lidar com as pessoas no contexto organizacional. Para tanto, Pedro F, Bendassoli e Lis Andrea P. Soboll, organizadores da obra, reuniram um conjunto de auto-res de reconhecida competência em psicopatologia do comportamento organizacional. Como os próprios or-ganizadores admitem que “a clínica do trabalho aproxima-se da clínica social, mas também contempla as vivências de sofrimento, neste caso, ancoradas nas experiências objetivas e subjetivas” dos trabalhadores. O li-vro contempla quatro teorias clínicas do trabalho - Clínica da Atividade, Psicossociologia, Psicodinâmica do Trabalho e Ergologia.

Dividida em três partes, a obra propõe na primeira delas os Fun-damentos das Clínicas do Trabalho, na segunda, as Perspectivas Fran-cesas e finaliza com as Perspectivas Brasileiras.

Na primeira parte é feita uma introdução que delineia aquelas si-tuações que levam à insegurança e formação de conflito que configuram

“neuroses de trabalho”. A obra não aborda apenas a influência deletéria do trabalho mas considerada que ele pode se caracterizar como atividade criativa e meio de sublimação.

As patologias são subdivididas em três grupos denominadas: da ativi-dade, da solidão e indeterminação no trabalho e, finalmente, aquelas associadas aos maus tratos e violên-cia no trabalho. Para os autores o sofrimento surge das solicitações de cunho social, econômico e cultural. A tônica da maioria dos artigos é propor que se reformulem os pressu-postos das políticas organizacionais abandonando um exame superficial e levando em conta os processos de subjetivação do sofrimento, retratan-do o munretratan-do interno de cada um.

Filiações Teóricas das Clínicas do Trabalho, proposto por Lhuilier, apresenta no segundo artigo dois en-foques distintos que são as correntes teóricas da psicologia social clínica e a psicopatologia do trabalho. A au-tora sinaliza ser o trabalho, o ponto fundamental para o encontro e tro-ca com os demais, sem esquecer a importância do conflito indivíduo-organização e suas consequências.

Na segunda parte do livro cabe a Gernet e Desjours apontarem impor-tantes restrições sobre a Avaliação do Trabalho e o Reconhecimento, res-saltando que quando ela não retrata

CLÍNICAS DO TRABALHO: novas perspectivas para a compreensão do trabalho na atualidade

De Pedro F. Bendassolli e Lis Andrea P. Soboll (org.), São Paulo,

Editora Atlas, 2011, 288 p.

RESENHA

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a verdade pode remeter o avaliado à “alienação mental, fazendo sentir seus efeitos na construção do sen-tido do trabalho”. A avaliação fide-digna atende à expectativa humana de servir-se do olhar do outro para chegar à confirmação da própria identidade.

Yves Clot apresenta no artigo seguinte a distinção entre a Clínica do Trabalho e Clínica da Ativida-de consiAtivida-derando que o cotidiano é composto dos conflitos ocultos, o que pode exercer um papel no-civo diminuindo e restringindo as pessoas. Com exceção do artigo oito - Manifesto por um Ergoengaja-mento - escrito por Yves Schwarts e do Prefácio assinado por Ives Clot - todos os artigos oferecem inúmeras sugestões bibliográficas de impor-tantes autores que podem e devem ser consultadas pelos interessados no assunto.

A Nova Gestão Paradoxal (NGP) de Vincent de Gaulejac propõe no quinto artigo o exame de confron-tações conflitantes entre os indiví-duos que uma vez pegos em erro, correm o risco de serem excluídos. A evasão com muita freqüência é feita usando a doença que permi-te fugir das exigências paradoxais e injunções que não têm sentido, apesar do sentimento difuso de as-sédio que paira no ar.

Em Psicodinâmica do Trabalho e Psicossociologia, Gilles Amado e Eugène Enriquez apresentam for-mas de conflito, entre dominantes e dominados, organizações formais e informais, nações, classes, religi-ões etc trabalhando dentro daquilo que chamam de “psicossociologia do conflito”, que nutre suas dire-trizes na orientação psicanalítica. Com reconhecida coerência, os autores exploram como os fun-cionários não são mais avaliados pela qualidade do trabalho, mas sim pela qualidade de vender a imagem na empresa. Os autores

ressaltam como funciona o recal-que e a repressão no mundo da produção, não mais do trabalho.

Ainda dentro das perspectivas francesas, Chanlat aborda o De-safio social da gestão. Recomen-da aos gestores a importância Recomen-da melhor compreensão das dimen-sões centrais do comportamento humano. O autor é bem claro ao propor a dimensão subjetiva da ação, uma vez que as pessoas têm desejos, sonhos e ambições enfati-zando a impossibilidade de disso-ciar a vida psíquica de cada um da experiência social concreta. Além disso, levanta a importância do re-conhecimento que está no coração da dinâmica humana no trabalho. Vários são os aspectos altamen-te relevanaltamen-tes para aprofundar a compreensão do comportamento propondo o autor “que o homem é um animal que fala” e em decor-rência disso “ele fabrica significa-dos e produz símbolos – isso é o que o distingue do resto do mundo vivo”. Este é o único trabalho que menciona na bibliografia Ketz De Vries reconhecido pesquisador em psicopatologia organizacional do INSEAD na França.

Iniciando a terceira parte que aborda as perspectivas brasilei-ras Mendes, Araújo e Merlo pro-põem um trabalho sobre Prática Clínica em psicodinâmica do trabalho: Experiências Brasilei-ras, fazendo comentários sobre a obra de Christophe Dejours e apresentam a experiência empí-rica de pesquisadores que con-templa a pré-pesquisa, a pesqui-sa propriamente dita, análise da demanda e do material da pes-quisa, observação clínica, inter-pretação, validação e refutação dos resultados. Finalmente iden-tificam as diretrizes de apresen-tação e discussão com os parti-cipantes da pesquisa frente dos resultados por ela obtidos.

De maneira semelhante ao arti-go anterior Silva, Barros e Lousada fazem um apanhado dos trabalhos e publicações Yves Clot. O artigo cobre os aspectos voltados a Clíni-ca da atividade com um olhar his-tórico sobre a análise do trabalho. Abordam também o trabalhar e o “sair de si”como função psicológi-ca do trabalho, as metodologias de análise do trabalho e, finalmente, os percursos da Clínica da Ativida-de no Brasil.

Carretero e Barros enfatizam no artigo onze as Clínicas do traba-lho: contribuições da psicossocio-logia no Brasil divulgando nomes dos inúmeros profissionais que se dedicam ao assunto. O artigo é es-sencialmente teórico. Vale lembrar que as autoras, embora não se apro-fundem, abordam o problema da terceirização como fonte de insegu-rança e impossibilidade de controle da própria vida.

O décimo segundo artigo é as-sinado por Lima que apresenta as Abordagens Clínicas e Saúde Mental no trabalho. Trata-se de um enfo-que apenas teórico sobre a histó-ria cronológica dessas abordagens. A autora analisa essas abordagens no campo da clínica do trabalho na França dando grande ênfase à obra de Christophe Dejours.

O livro termina com um artigo de Athayde e Brito sobre o tema da Er-gologia e Clínica de Trabalho indo além do biológico, psicológico, so-cial e institucional. A ergologia busca compreender e intervir no conjunto dos problemas gerados pelo processo de produção. São mencionados aci-dentes e adoecimentos, dificuldade de comunicação e de desenvolvi-mento de competências, produtivida-de e qualidaprodutivida-de aquém do esperado.

Provavelmente esta terceira par-te poderia sofrer uma revisão dos seus autores para que seja feito um cotejamento entre os temas e não haja repetição de assuntos.

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Referências

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