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A importância de canais de distribuição reversos para a reciclagem no varejo de moda

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ENEGEP 2006 ABEPRO

A importância de canais de distribuição reversos para a reciclagem no

varejo de moda

José Tadeu Gonçalves Fernandes (Uninove) jtgf.alp@zaz.com.br Maria Tereza Saraiva de Souza (Uninove) mtereza@uninove.br

Raquel da Silva Pereira (Uninove) raquelsp@uninove.br

Resumo:

As empresas agregam na oferta de serviços alguns componentes que causam impactos ambientais como a geração de resíduos. No caso do varejo de moda, as lojas que expõe as mercadorias aos clientes na área de vendas, utilizam cabides de plástico que são manuseados inúmeras vezes e ao longo do tempo quebram formando sucata. O objetivo deste trabalho é apresentar o processo de logística reversa que torna viável a reciclagem do material plástico dos cabides descartados, por meio de um estudo de caso único que mostra a aplicação da logística reversa e da reciclagem de plásticos no aproveitamento da matéria-prima secundária.

Palavras –Chave: Gestão Ambiental; Logística Reversa; Varejo de Moda

1 Introdução

O comércio varejista de confecções e acessórios de moda, em grandes magazines, utiliza como proposta de apresentação das mercadorias aos clientes, a exposição das peças penduradas em cabides. Devido à área das lojas, variedade de artigos, grande fluxo de clientes e a alta rotatividade dos estoques, este processo é bem diferente das demais lojas de comércio tradicionais de tamanhos menores que colocam os cabides somente nas mercadorias expostas como mostruário, ficando as demais unidades armazenadas dobradas no estoque atrás da área de vendas. Isso permite a utilização de uma numero reduzido de cabides e com isso, até optar por um padrão mais sofisticado, uma vez que o investimento é reduzido em função da pequena quantidade necessária.

Nos grandes magazines esta tarefa é realizada no momento da fabricação dos produtos que vêem desde o Fornecedor de Vestuário, passando pelo Centro de Distribuição e chegando às lojas prontos para a exposição. Neste caso o conceito é expor o máximo de mercadorias (tamanhos e cores) totalmente na área de vendas, ficando algumas peças na reserva da loja, mas já penduradas nos seus cabides. Com isso a grande quantidade de unidades necessárias faz com que os cabides precisem ser mais simples, mais baratos, mas com certa qualidade para não interferir negativamente na apresentação dos produtos. O modelo mais indicado é de material plástico rígido, com ou sem gancho metálico, de vários tamanhos, para se adequar aos diversos modelos de roupa (adulto, infantil, masculino, feminino, blusas, saias, camisas, calças, entre outros).

Dependendo do modelo e do custo, alguns cabides são reaproveitados várias vezes, indo e voltando do Fornecedor de Vestuário à Loja e da Loja ao Fornecedor de Vestuário. Outros modelos, menores e de menor custo, são do tipo “one way” ofertados aos clientes junto com a roupa adquirida. Os cabides que são reaproveitados geram sucata devido a quebras durante o processo de ida e vinda e do manuseio da mão-de-obra nestas etapas. Por outro lado, os do

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tipo “one way” nem sempre são levados pelo cliente, são deixados nos pontos de caixa, quando não são atirados nos cestos de lixo espalhados pela loja.

A classificação quanto às abordagens que uma empresa pode dar ao problema ambiental é “Controle da Poluição, Prevenção da Poluição e Estratégica.” (BARBIERI 2004 p. 103-104). Nessa última, o controle não é encarado como custo adicional e sim como vantagem competitiva, ao tratar os resíduos gerados pelo seu negócio, seja industrial ou de processo na prestação de serviço. Envolve não só a organização internamente, mas também toda a cadeia produtiva incluindo fornecedores e prestadores de serviço. A prevenção da poluição pode ser dividida em prioridades: a redução na fonte, reuso e reciclagem externa e a recuperação energética. A abordagem estratégica mencionada por Barbieri (2004 p.109-110) mostra que “os problemas ambientais são tratados como uma questão de busca de uma situação vantajosa no seu negócio, aumentando a produtividade aos recursos empregados na sua atividade, além de melhorar sua imagem institucional junto aos seus clientes e funcionários.”

Este artigo apresenta o trabalho desenvolvido para gerir o processo de reciclagem da sucata de plástico gerada em todas as fases do ciclo de reaproveitamento. Este lixo ambiental poderia ser descartado em cada uma das lojas que os utilizam na operação do varejo de moda. Individualmente não se trata de quantidade que justifique o envio para um processador de material plástico local. Além disso, as 108 lojas estão espalhadas por todo o país e haveria a necessidade de identificar vários processadores locais.

O objetivo é identificar o processo de reciclagem de plástico, definir um procedimento que garanta que toda a sucata recolhida por meio da logística reversa ao longo do ciclo de reaproveitamento dos cabides seja convertida em novos cabides para a continua utilização da matéria-prima. O conhecimento dos detalhes do processo de transformação da sucata em matéria-prima de acordo com as características dos cabides de plástico utilizado na fabricação, foram fundamentais para confirmar se o Fabricante de Cabides tem a tecnologia deste processo. Uma vez certificado, criar um indicador que possa aferir o máximo desempenho deste processo com segurança e mínimo custo.

O método utilizado é o estudo de caso único com duas unidades de análise, a empresa de varejo e o fabricante de cabides responsável reciclagem. O artigo está dividido em cinco partes: a introdução; a revisão teórica sobre logística reversa e reciclagem de plástico; a metodologia e a coleta de evidências; a análise e discussão dos resultados e, por fim, as considerações finais.

2 Revisão Bibliográfica 2.1. Logística Reversa

O estudo da Logística Reversa passa pelo entendimento da definição de Canal de Distribuição que de maneira mais ampla esta inserida no conceito de Canal de Marketing. Rosenbloom (2002 p. 27) define como “a organização contatual externa que a administração opera para alcançar seu objetivo de distribuição”. O Canal de Distribuição depende de uma logística que torna os produtos disponíveis para os clientes e faz isso movimentando os produtos certos aos lugares certos na hora certa. Neste contexto, os recursos envolvidos passam pelo manuseio, armazenagem, transporte dos bens, o que pode envolver a própria empresa ou em outras ocasiões, terceiros.

A mesma Logística que faz os materiais fluírem de forma direta no sentido do consumidor, é também envolvida em remover, descartar materiais desperdiçados da linha de produção, distribuição ou processo de embalagem, armazená-los temporariamente, transportados e dispensados, reutilizados, re-processados ou reciclados. Em face de crescente preocupação

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com a reutilização da embalagem, este assunto ganha importância no meio empresarial, Lambert et al. (1998)

Mais recentemente teve início à análise do caminho reverso de bens que pudessem ser reaproveitados ou reciclados motivados pela preocupação com os custos ou com o meio-ambiente. Leite (2003) define o canal reverso ou canal de distribuição reverso como:

As etapas, formas e meios em que uma parcela dos produtos com pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou depois de extinta sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios, readquirindo valor em mercados secundários pelo reuso ou pela reciclagem de seus materiais constituintes. (LEITE 2003 p. 4)

Para reforçar o entendimento dos canais de distribuição reversos, Leite (2003), define duas categorias:

pós-consumo, constituídos pela parcela de produtos e de materiais constituintes originados no descarte dos produtos depois de finalizada sua utilidade original e que retornam ao ciclo produtivo. Distinguem-se dois subsistemas: reciclagem e reuso.

pós-venda, compostos pelas diferentes formas de retorno dos produtos com pouco ou nenhum uso. (LEITE 2003 p.5-12)

Para o aprofundamento da categoria pós-consumo para efeito de enfoque da logística, os bens são classificados em: descartáveis, duráveis e semiduráveis. O bem descartável se caracteriza pela vida útil com duração de algumas semanas, típico de embalagens. Os duráveis que apresentam vida útil de anos a décadas e os semiduráveis que duram alguns meses, e para enfoque de distribuição reversa, ora apresentam características de duráveis ora de descartáveis. Leite (2003 p. 34).

Outra classificação importante para caracterizar o canal de distribuição reverso é se ele é de ciclo aberto, quando o bem gerado pelo material reciclado é diferente do original e de ciclo fechado quando a reciclagem produz um produto similar ao de origem. LEITE (2003 p. 52). Lambert et al (1998) define Supply Chain Management como algo mais amplo que a Logística, neste sentido Leite (2003) estabelece o Reverse Supply Chain para a formação de uma estrutura própria entre empresas especializadas em suas diversas etapas reversas. Podem ser formados diferentes níveis de integração, desde o não-integrado, o semi-integrado e o integrado em termos de reciclagem. O nível de integração é a existência ou não de intermediários entre os membros da cadeia, no processamento do material reciclado e a seu fluxo reverso.

2.2. Reciclagem do Plástico

Devido à sua capacidade de ser moldado, o plástico tem sido utilizado na produção de uma grande variedade de artigos, com as mais diversas conformações. Levantamento do CEMPRE (2003), informa que o consumo brasileiro de polietileno entre 1995 e 2002 cresceu 37% e desde então está projetado crescer 4,5% ao ano até 2006. O consumo per capita nos últimos anos esteve no nível de 22 kg.

A caracterização do material plástico vem da cadeia produtiva que esta dividida em três fases ou gerações industriais após a extração do petróleo e seu refino. A primeira geração é a fabricação dos produtos básicos, como eteno e propeno, entre outros. Esses produtos são transformados em resinas termoplásticas: polietileno e polipropileno, na segunda geração. A cadeia se completa com as industrias de transformação dessas resinas em produtos diversos. Leite (2003).

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Os resíduos sólidos gerados pela produção de artefatos de material plástico podem ser refugos, peças fora de especificação, aparas e rebarbas do processo e são classificados como resíduos industriais CEMPRE (2003). Os plásticos se degradam muito lentamente no meio ambiente, são bastante resistentes a radiações, calor, ar e água. O percentual médio de composição do lixo urbano é de 8%. CEMPRE (2003). Um dos meios de minimizar os efeitos dos resíduos dos artefatos plásticos no meio ambiente é a reciclagem.

A reciclagem de plásticos com utilização de resíduos plásticos para obtenção de outro artefato plástico é chamada de reciclagem mecânica. Esta pode ser primária ou direta, quando há o re-processamento do resíduo plástico industrial composto de aparas do canal de injeção, borras ou outros refugos, e é feito na própria fábrica. A reciclagem secundária ou indireta é a reciclagem de resíduos plásticos urbanos ou agrícolas pós-consumidos e necessita de operações adicionais à recuperação primária. CEMPRE (2003).

Os principais estágios do processo de reciclagem de plásticos são segundo CEMPRE (2003): Estocagem, Separação Manual, Moagem, Lavagem, Secagem, Aglutinação (para filmes flexíveis), Extrusão e Granulação

Na preparação de uma mistura moldável de plástico, além das resinas sintéticas, são utilizados outros ingredientes cuja seleção qualitativa e quantitativa permite a utilização da mesma resina em diferentes processos de moldagem. Os principais são: plastificantes, cargas, corantes e pigmentos, estabilizadores, modificadores de impacto, lubrificantes e agentes de expansão. Uma vez homogeneizada a massa em misturadores, pode-se proceder à compactação do pó em extrusoras, obtendo-se pequenos grânulos que serão utilizados com matéria-prima virgem para a produção de novos artefatos plásticos.

3 Metodologia

A estratégia de pesquisa utilizada foi o Estudo de Caso de caso único incorporado com duas unidades de análise. Yin (2005 p. 67) afirma que “um projeto de caso único é justificável quando representa um caso típico ou representativo ou quando o caso serve a um propósito.” A empresa varejista estudada é uma cadeia de lojas de comércio de vestuário completo feminino e masculino, calçados e acessórios. Sede em São Paulo, dois Centros de Distribuição, São Paulo e Rio de Janeiro. Em 2005 tinha 108 lojas espalhadas pelo país, localizadas em todas as capitais e em cidades expressivas do interior dos grandes estados. Enquanto o fabricante de cabides é uma indústria que produz artefatos de material plástico por meio de injeção de resinas plásticas, localizada em Sorocaba, interior do Estado de São Paulo. “As evidências para um estudo de caso podem vir de seis fontes distintas: documentos, registros em arquivo, entrevistas, observação direta, observação participante e artefatos físicos” Yin (2005 p. 109

Os documentos foram utilizados para a coleta de informações sobre os processos internos das empresas estudadas e as fontes foram os relatórios administrativos internos e manuais de procedimento operacional. Os registros em arquivo forneceram as especificações técnicas da produção de artefatos plásticos, processo de reciclagem e reaproveitamento do material na produção de novos itens. Yin (2005) ressalta que estas duas fontes têm os mesmos pontos positivos por serem estáveis, precisas e amplas.

Quanto às entrevistas Yin (2005) afirma que são direcionadas e perceptivas e em conjunto com fonte observação direta, que trata o acontecimento em tempo real, ajuda a minimizar os pontos fracos que seriam vieses e imprecisões. Estas duas fontes de evidências foram utilizadas para coletar informações adicionais e o melhor entendimento dos processos, seus

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limites e problemas enfrentados e ao reconhecimento do domínio tecnológico do processo de reciclagem.

Na empresa de varejo foi entrevistado o Gerente de Logística, que explicou o processo de comercialização de vestuário utilizando a exposição das mercadorias penduradas nos cabides. O ciclo dos cabides ao longo da cadeia de abastecimento desde dos fornecedores de mercadorias, passando pelo Centro de Distribuição e chegando ás lojas. Especialmente o caminho reverso foi detalhado, assim como sua implicação com o recolhimento da sucata de plástico dede as lojas até chegar no fabricante de cabides. Os dados de custo, quantidades e os tempos envolvidos no processo foram coletados por meio de pesquisa documental em relatórios fornecidos pela empresa.

Na empresa fabricante de cabides foi verificado junto ao Supervisor Técnico de Desenvolvimento e Processos, o processo de produção de cabides novos, o processo de reciclagem de material plástico, as especificações de matéria-prima, os equipamentos utilizados e discutido sobre os aspectos técnicos que devem ser levados em consideração para a decisão sobre a proporção entre material reciclado e virgem na produção de novos cabides. A análise das evidências do estudo de caso segue a estratégia de construção da explanação na medida em que cria uma declaração teórica inicial, compara as verificações dos instrumentos de pesquisa com a declaração inicial, revisa e compara detalhes do caso com a proposição. YIN (2005).

4 Análise e discussão dos resultados

Observando o processo de reciclagem de material plástico através da logística reversa aplicado nestas empresas, verifica-se que os preceitos teóricos são aplicados e atendem os objetivos traçados. A seguir estão detalhadas as informações coletadas e a descrição dos processos observados na pesquisa de campo:

4.1. O ciclo dos Cabides e a Logística Reversa:

A Quadro1 apresenta os três modelos de cabides com as especificações da matéria-prima, cor e peso. Existem variações de tamanho para um mesmo modelo para adequarem-se ao tamanho da roupa em que serão utilizados.

FIGURA Modelos / Tamanhos Matéria-Prima COR

Matéria-prima Plástica (gr)

Cabide Fechado / Grande e Pequeno

Gancho de Metal

Corpo de (PS) Poliestireno Preta

Grande: 50 Pequeno: 36

Cabide Aberto / Grande, Médio e Pequeno

Gancho de Metal

Corpo de (PS) Poliestireno Preta

Grande: 26 Médio: 24 Pequeno: 19

Cabide Lingerie (PP) Polipropileno Incolor 8,7

Fonte: construído pelos autores

Quadro 1 – Modelos e especificações de cabides

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Quando o Fornecedor de roupas prepara a sua mercadoria para entregar no Centro de Distribuição da empresa de varejo, ele coloca o cabide apropriado que foi retirado dias antes no mesmo Centro de Distribuição. No Centro de Distribuição a mercadoria é recebida, conferida, controlada quanto a sua qualidade e distribuída paras diversas lojas. Este processo fica facilitado porque a mercadoria já pendurada no cabide não necessita de caixas de papelão e já esta visível e disponível para ser manuseada. Do Centro de Distribuição, a mercadoria segue também pendurada nos cabides para as lojas para ser exposta na área de vendas no sistema de auto-serviço, onde o cliente escolhe, prova e se dirige ao Ponto de Caixa para efetuar o pagamento e adquirir o produto. Os caminhões utilizados nesta operação possuem um equipamento especial na carroceria que permite o transporte das mercadorias penduradas nos cabides.

No momento da venda, o operador de caixa retira o(s) cabide(s) da(s) peça(s) e vai acumulando em caixas próprias, que serão estocadas no interior da loja, esperando a próxima entrega de novas roupas. No retorno do caminhão, os cabides são enviados de volta ao Centro de Distribuição. No Centro de Distribuição os cabides são conferidos, separados por modelo e tamanho, e embalados em lotes para serem retirados novamente pelos fabricantes de mercadorias que os utilizarão para colocar em novos produtos a serem entregues futuramente. Este processo gera algumas quebras nos cabides em vários pontos do ciclo, ao serem manuseados no Fornecedor de roupas, no Centro de Distribuição, na Loja e, novamente, no Centro de Distribuição, até voltar ao Fornecedor das Roupas. Os pedaços de cabides quebrados são recolhidos em qualquer um dos pontos do ciclo e enviados para o Centro de Distribuição para serem acumulados, pesados, guardados e enviados para o Fabricante de cabides.

4.2. O processo de fabricação do cabide

O resultado da entrevista com o funcionário da empresa fabricante de cabides descreveu os processos de fabricação e de reciclagem do plástico, reproduzida a seguir.

4.2.1. O processo para reciclagem dos resíduos dos cabides

O material é selecionado visualmente para separar materiais estranhos e classificado de acordo com a matéria-prima. Acondicionamento em sacos plásticos e caixas, com identificação do tipo de material e lote de fabricação para materiais da própria produção, e separadamente os demais itens recebidos externamente.

Uma outra separação é feita de acordo com o critério de aproveitamento, os materiais com coloração diversa devem ser reciclados juntos e enviados para beneficiamento externo em empresa de extrusão contínua, para inclusão de aditivo de cor preta ou marrom. Materiais de cor natural, respeitando-se o tipo de resina e a aplicação.

Cada material é alimentado de cada vez, em um moinho que tritura mecanicamente através de facas e lança em peneira que de acordo com a espessura de seus furos deixa passar o que está bom e retornar os maiores pedaços para nova trituração. Assim se procura eliminar os resíduos com baixa granulometria, evitando-se a degradação por temperatura no seu retorno à máquina injetora.

O material resultante devidamente, ensacado e identificado, sendo enviado para beneficiamento para homogeneizar a granulometria. Pode ser adicionado algum aditivo visando melhorar a resistência mecânica do material, o que possibilitaria aumentar o percentual na mistura com material novo.

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A matéria-prima nova fica média de 4 horas a 80°C em uma estufa, passando por um processo onde é desumidificada para garantir a retirada de qualquer umidade remanescente e garantir a qualidade. Como toda resina base é branca, nesta etapa podem ser acrescentados 2% de pigmentos da cor desejada. Após esta fase são acrescentados até 15% de material reciclado para compor a mistura final que será alimentada na injetora.

O material é depositado na injetora que o pressiona por meio de um fuso com rosca contínua e ao mesmo tempo o aquece para passar ao estado líquido e assim penetrar na cavidade do molde e preencher o formato do cabide.

Após esta etapa o molde abre e o cabide é retirado, separado do material do canal de alimentação, aparado de eventuais rebarbas, examinado e armazenado para resfriamento. 4.3. O controle de uso integral da sucata.

Foi feito um acordo entre as duas empresas para controle do aproveitamento dos resíduos de cabides na produção de novos cabides. O material recolhido das lojas chega ao Centro de Distribuição por meio do retorno do transporte que levou a mercadoria originalmente. Este material é acumulado e pesado. Periodicamente o Fabricante de Cabides, aproveitando entregas de cabides novos, recolhe os resíduos e leva para a fabrica.

Acertado o peso final do lote de resíduos recolhido, o resíduo vai para reciclagem e é utilizado pelo fabricante de cabides, na proporção de até 15%, com a matéria-prima virgem para a produção de novos cabides. O peso dos resíduos é pago pelo fabricante de cabides ao varejista em cabides novos na proporção do uso de material reciclado na mistura de matéria-prima para a produção de novos cabides.

As informações obtidas junto as duas empresas sobre a operação de logística reversa, o processo de reciclagem dos cabides plásticos e o reaproveitamento da matéria-prima de forma controlada, tanto qualitativamente como quantitativamente, corroboram os conceitos teóricos mencionados na revisão apresentada e contribuem para atingir os objetivos propostos neste estudo.

Foi identificado o processo de reciclagem do plástico utilizado na fabricação dos cabides sendo realizado internamente no fabricante do cabide para alguns tipos de plástico e para outros com algumas etapas sendo executadas externamente. A seqüência das operações obedece à mesma relacionada no referencial teórico, reforçando neste caso que os resíduos são utilizados para a produção do mesmo tipo de artefato, o que caracteriza a reciclagem primária ou direta.

Esta situação no mercado de sucata de material plástico não ocorre normalmente porque os resíduos plásticos são coletados por empresas com atividade única de reciclagem e que os vendem após o beneficiamento para outros fabricantes de diferentes produtos, reciclagem secundária ou indireta CEMPRE (2003).

O fabricante de cabides tem a tecnologia para executar a reciclagem e assim atender o varejista no aproveitamento integral dos resíduos, colaborando para a viabilidade econômica da atividade de logística reversa. As 108 lojas espalhadas em todo o país encaminham os cabides até o Centro de Distribuição, onde é disponibilizada para o fabricante. O procedimento é sustentado por um controle de peso e percentual de mistura que proporciona novos cabides ao varejista em troca dos resíduos plásticos.

Este fator comprova a sustentabilidade do projeto e a abordagem estratégica mencionado por Barbieri (2004), por trazer vantagem competitiva de imagem, custo de operação e cooperação dentro da cadeia de abastecimento reversa, de acordo com Leite (2003).

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Outro conceito teórico mencionado encontra sua aplicação na operação estudada quando, por exemplo, é verificada a utilização da mesma logística que armazena, distribui e transporta as mercadorias para as lojas, de modo reverso recolhe os cabides para o Centro de Distribuição e encaminham para a reciclagem.

A classificação de Leite (2003), dentro da categoria pós-consumo para efeito de logística, encontra os cabides como bens descartáveis e semiduráveis, típicos de embalagens, que é de certa forma a função do cabide quando expõe a mercadoria na loja. Encontramos ainda a classificação que caracteriza o canal de distribuição reverso com sendo de ciclo fechado, uma vez que a reciclagem produz um bem similar ao produto original. Outra classificação é a existência de total integração no canal por não haver intermediários nos membros da cadeia. Quanto aos conceitos teóricos referentes ao processo de reciclagem de plásticos, igualmente podemos comprovar aplicações no estudo deste caso, notadamente a classificação da matéria prima que é o Polipropileno (PP) – código de reciclagem 5 e o Poliestireno (PS) – código de reciclagem 6. Esses materiais podem ser reciclados, desde que observados os limites máximos do percentual adicionado à matéria-prima nova, caso contrário comprometerão a resistência mecânica do produto. A cor também exerce influência sobre a reutilização direta dos resíduos na fabricação de um novo produto igual ao de origem. A cor preta é a mais flexível, pois pode receber a mistura de resíduos de qualquer outra cor. Outras cores dependerão da adição de pigmentos ou serão misturados para a geração de produtos na cor marrom.

O processo de reciclagem na prática, constatado e relatado na entrevista, segue a seqüência de operações descritas no referencial teórico, o que torna o processo confiável e representativo. Comprova que o fabricante de cabides possui a tecnologia para este processo, o que permite uma atuação sem intermediários e conseqüentemente com menor custo, por meio de canais reversos e fechados.

5 Considerações Finais

O estudo deste caso serve de exemplo para reforçar a tese de que há solução para os problemas ambientais gerados na atividade varejista e que a solução esta na integração de todos os participantes da cadeia para viabilizar economicamente o processo.

Vale ressaltar que a gestão ambiental nem sempre gera custos ou é implementada para atender determinada legislação. Pode ser encontrada uma ou um conjunto de soluções dentro das atividades das empresas para resolver o problema ambiental.

Assim o objetivo inicial de identificar o processo de reciclagem e por meio da logística reversa, reaproveitar os resíduos dos cabides plásticos sucatas e descartados, proporcionou a solução para o problema ambiental de forma lucrativa e sustentada. A relação encontrada entre, os resíduos e cabides novos pela proporção do valor do quilo da sucata versus o valor do quilo da matéria-prima nova, premiam o objetivo de encontrar um indicador para atestar a validade da operação para ambas empresas.

A experiência deste estudo pode ser utilizada para situações semelhantes no ramo do varejo, envolvendo embalagens plásticas utilizadas para comercialização de produtos. Produtos que são embalados em material plástico, cujas embalagens são abertas e os produtos são entregues aos clientes no momento da compra, geram resíduos plásticos que são descartados, como os equipamentos instalados em veículos por lojas de acessórios, suportes para exposição de produtos em supermercados entre outros.

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BARBIERI, J. C., Gestão Ambiental Empresarial: conceitos, modelos e instrumentos – São Paulo: Saraiva, 2004.

CEMPRE, Compromisso Empresarial para Reciclagem, Reciclagem & Negócios:Plástico Granulado – São Paulo, ed. 3, 2003

LAMBERT, D. M., STOCK, J.R., ELLRAM, L. M., Fundamentals of Logistics Management – USA: Irwin/McGraw-Hill, 1998

LEITE, P. R., Logística Reversa: Meio Ambiente e Competitividade – São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2003. ROSENBLOOM, B. Canais de Marketing – São Paulo: Atlas, 2002.

Referências

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