A PERCEPÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) NA VISÃO DOS CATADORES DA LIXEIRA DA TERRA DURA

    Journal homepage: 

www.arvore.org.br/seer 

A PERCEPÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS (LIXO) NA VISÃO DOS CATADORES DA LIXEIRA DA TERRA DURA

EM ARACAJU, BRASIL

RESUMO

Nas últimas décadas, o aumento da população aliado ao processo de urbanização desordenado e o modelo de desenvolvimento econômico foram responsáveis por uma série de impactos ambientais, onde se destaca a problemática dos resíduos sólidos urbanos. A formação de uma sociedade altamente consumista tem sido um fator importante para uma maior produção de rejeitos, que se acumulam e acabam sendo depositados em áreas muitas vezes impróprias para essa finalidade. Os resíduos sólidos representam no momento um dos grandes desafios dos gestores públicos, visto que causam danos à saúde, a higiene pública e ao meio ambiente. A cidade de Aracaju/SE enfrenta essa problemática ambiental, onde os materiais gerados pelos processos produtivos e atividades antrópicas são lançados a céu aberto. Diante desta realidade, este trabalho tem por objetivo avaliar a dinâmica dos resíduos sólidos face ao modelo de ocupação urbana, econômica, socioambiental, segundo a percepção dos diferentes níveis de vida da população do Povoado Terra Dura. A metodologia do trabalho constou de pesquisa bibliográfica e exploratória.

Utilizou-se como instrumento de coleta de dados observação, com registro fotográfico, e entrevista semiestruturada com catadores. Na percepção dos catadores da lixeira de Terra Dura relação aos resíduos sólidos urbanos identificaram-se três níveis e/ou personagens envolvidos na mesma: a sociedade, ou seja, a população do bairro, incluindo residentes e trabalhadores locais; o poder público e o contexto socioambiental do bairro. Dessa forma, faz-se necessário o envolvimento de agentes ambientais colaboradores e toda a população local com o objetivo de se criar laços entre os moradores e os trabalhadores locais e o seu meio ambiente, através de um trabalho de sensibilização, conscientização, e mobilização ambiental em torno dos problemas ambientais locais.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos; Impacto Ambiental; População.

THE PERCEPTION OF SOLID WASTE (GARBAGE) IN VIEW OF THE TRASH PICKERS OF TERRA DURA IN

ARACAJU, BRAZIL

ABSTRACT

In recent decades, the increasing population coupled with the disorderly urbanization process and the model of economic development were responsible for a series of environmental impacts, which highlights the problems of municipal solid waste. The formation of a highly consumerist society has been a major factor for increased production of waste, which accumulate and end up being deposited in areas often unsuitable for this purpose. Solid waste currently represent one of the great challenges of public managers, seen that cause damage to health, environment and public hygiene. The city of Aracaju/SE face this environmental problem, where the materials generated by production processes and anthropogenic activities are launched. Faced with this reality, this work aims to evaluate the dynamics of solid waste in relation to urban occupation, economic model, according to the social perception of the different standards of living of the population of the town hard land.

The methodology of the work consisted of bibliographical research and exploratory.

It was used as a tool for data collection, photographic record, observation and semi- structured interview with collectors. The trash pickers ' perception of hard land for municipal solid waste identified three levels and/or characters involved in it: the society, that is, the neighborhood's population, including residents and local workers;

the public authorities and the social and environmental context of the neighborhood.

Thus, it is necessary the involvement of environmental employees and agents all over the local population with the aim of creating links between the residents and the local workers and their environment, through an awareness, environmental awareness, and mobilization around the local environmental problems.

KEYWORDS: Solid Waste, Environmental Impact; Population.

Scire Salutis, Aquidabã, v.3, n.1,  Out, Nov, Dez 2012, Jan, Fev, Mar  2013. 

ISSN 2236‐9600   

SECTION: Articles 

TOPIC: Saúde, Sociedade e  Ambiente 

DOI: 10.6008/ESS2236‐9600.2013.001.0008

Edmara Oliveira Mota 

Universidade Tiradentes, Brasil  http://lattes.cnpq.br/2902489621335730   mara1985om@hotmail.com  

Mayanna Machado Freitas 

Universidade Tiradentes, Brasil  http://lattes.cnpq.br/2088961229850444   mayanna_freitas@hotmail.com    

Rafael dos Reis França 

Faculdade São Salvador, Brasil  http://lattes.cnpq.br/8925528623897587   francarafael@yahoo.com.br  

Received: 13/12/2012  Approved: 20/02/2013 

Reviewed anonymously in the process of blind peer. 

Referencing this:  

MOTA, E. O.; FREITAS, M. M.; FRANÇA, R. R.. A  percepção dos resíduos sólidos (lixo) na visão dos  catadores da lixeira da Terra Dura em Aracaju, Brasil. 

Scire Salutis, Aquidabã, v.3, n.1, p.86‐96, 2013. DOI: 

http://dx.doi.org/10.6008/ESS2236‐

9600.2013.001.0008  

INTRODUÇÃO

O homem sempre deixou sua marca na natureza, desde que vivia da caça e da coleta de alimentos para o seu sustento. Nessa época, aproveitava o que a natureza oferecia, sendo poucas as modificações no ambiente natural. Contudo, foi a partir da prática da agricultura que a situação mudou. Atualmente, para plantar, o homem precisa limpar a terra, utilizando-se muitas vezes de queimadas e desmatar florestas naturais, deixando a camada de solo exposta e sujeita aos processos de erosão (GONÇALVES, 2008).

A preocupação com a degradação ambiental ganhou força em meados dos anos 50. A década de 60 foi marcada por intensas manifestações populares, que proporcionavam algumas reivindicações, denúncias e protestos contra a degradação ambiental e em defesa da natureza (DIAS, 2003). Em 1965, o termo Environmental Education (Educação Ambiental) foi utilizado pela primeira vez, durante a realização da Conferência em Educação na Universidade de Keele, na Grã-Bretanha (SILVA, 2006).

A questão ambiental está cada vez mais presente no cotidiano da população das nossas cidades, principalmente no que se refere ao desafio de preservar a qualidade de vida. Porém, a dinâmica de urbanização predatória tem provocado o aumento dos problemas ambientais nas nossas cidades. Todos têm sido afetados pelos problemas, em particular os setores mais carentes da população (JACOBI, 1998).

O contexto urbano metropolitano brasileiro quanto a essas questões têm-se avolumado disparadamente e sua lenta resolução causa sérios impactos sobre a população. Os problemas não são novos (SERPA, 2008). Destacam-se a contaminação das fontes de água, o aumento desmesurado do número de enchentes, a incapacidade da rede de esgotos, as dificuldades em conduzir os resíduos sólidos e a interferência crescente do despejo inadequado de lixo em áreas potencialmente degradáveis em termos ambientais, e naturalmente os problemas da poluição do ar (MENDONÇA, 2001).

A produção crescente de resíduos sólidos urbanos tem como causas principais, os fatores socioeconômicos, inerentes ao mundo: intenso processo de urbanização; industrialização em ritmo acelerado; mudanças nos hábitos de consumo motivadas por aumento de renda; população flutuante (turismo); sazonalidade (MATULJA, 2001). O processo gera mudanças significativas nos hábitos diários acarreta no aumento da quantidade de resíduos sólidos, ocasionando sérios problemas ambientais, afetando não só a saúde, mas principalmente a qualidade de vida da população (SILVA; TORRE, 2008).

É notável que muitos enigmas ambientais urbanos estejam relacionados ao crescimento

populacional desordenado, nas periferias das grandes cidades, aliado a ineficiência administrativa

e ao descaso político das administrações públicas dos países em desenvolvimento. No mundo,

muitas populações sofrem com a falta de água potável, de tratamento de esgoto doméstico e de

coleta regular de lixo. Essa realidade, típica das periferias das grandes cidades dos países em

desenvolvimento, propicia o aparecimento e a disseminação de diversas doenças, assim como problemas de ordem social (FERREIRA, 2010).

A questão do lixo é apresentada como um dos maiores desafios a ser enfrentado, principalmente pelas Administrações Públicas. Porém, o problema maior são as medidas paliativas e impactantes adotadas, como a de afastar dos olhos e das narinas esse incômodo e apresentar uma falsa solução à população (GOUVEIA, 1999). Enquanto isso, na região receptora do lixo está o homem, no posto de separador de lixo, à esperada matéria- prima que possibilite a sua sobrevivência, convivendo com urubus, insetos, ratos e suscetível a doenças que através dele voltarão depois para os centros urbanos (TEIXEIRA, 1999).

Atualmente, vivemos num ambiente onde a natureza é profundamente agredida.

Toneladas de matéria-prima, provenientes dos mais diferentes lugares do planeta, são industrializados e consumidos gerando rejeitos e resíduos, que são comumente chamados lixo.

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o Brasil produz, em média, 90 milhões de toneladas de lixo por ano e cada brasileiro gera, aproximadamente, 500 gramas de lixo por dia, podendo chegar a mais de 1 kg, dependendo do local em que mora e do poder aquisitivo (LIMA, 2007).

Nesta estatística em média Aracaju produz 338 toneladas de lixos diários, a geração do lixo ainda é sua maioria, de precedência orgânica; contudo, nos últimos anos o crescimento populacional à intensa urbanização e às mudanças de consumo está mudando este perfil. Porém essa modernidade não está sendo acompanhada das medidas necessárias para dar ao lixo gerado um destino adequado (IBGE, 2008).

Dos 76% de todo esse lixo fica a céu aberto em lixões. O lixão é uma mera disposição do lixo a céu aberto, sem nenhum critério sanitário de proteção ao ambiente, que contamina a água, o ar e o solo, pois a decomposição do lixo sem tratamento produz chorume, gases e favorece a proliferação de insetos (baratas, moscas), ratos e germes patológicos que são vetores de doença.

O lixão traz ainda mais um problema: atraem a população mais carente e desempregada, que passa a se alimentar dos restos encontrados no lixo e a sobreviver dos materiais que podem ser vendidos (FERREIRA, 2001).

Nesse contexto, este projeto tem como finalidade avaliar a dinâmica dos resíduos sólidos face ao modelo de ocupação urbana, econômica, socioambiental, segundo a percepção dos diferentes níveis de vida da população do Povoado Terra Dura.

METODOLOGIA

A pesquisa foi realizada em dois momentos. O primeiro envolveu um levantamento

bibliográfico onde foram feitas leituras de livros, artigos científicos, teses, legislação vigente e

documentos a respeito da problemática dos resíduos sólidos.

Num segundo momento, foi realizada visita ao lixão. Foram entrevistados, nos seus respectivos locais de trabalho, os catadores, para entender como eles compreendem a gestão dos resíduos no Município, como relacionam o seu trabalho com as questões ambientais e a percepção do lixo.

A amostra foi composta apenas por essa população porque grande parte, principalmente as mulheres, não se dispôs a participar da pesquisa.A escolha dos catadores se deu de forma aleatória respeitando a vontade de participação de cada um.

No intuito de descobrir a percepção dos resíduos sólidos (lixo) na visão dos catadores da

“lixeira da Terra Dura”, utilizamos uma metodologia caracteristicamente qualitativa como forma de captar o ponto de vista e o imaginário dos catadores do lixão durante o desenvolvimento de sua atividade.

Realizamos jornadas de observação livre, com base num acompanhamento direto e intensivo, valendo-nos de entrevistas não estruturadas e adaptadas à realidade deles, de forma a prevalecerem à espontaneidade e a informalidade durante as conversas, bem como a não indução de respostas.

Para melhor compreender a situação em estudo, fizemos uso também de um diário de campo, no qual registramos todos os fatos considerados relevantes não colhidos pelas técnicas utilizadas.

Fizemos uso da técnica de observação livre dos catadores, que consistiu em acompanhar, passo a passo, por um período integral, a sua rotina de trabalho. A observação dispõe de uma técnica de coleta de dados para conseguir informações que utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade”.

A utilização dos sentidos, aliada ao exame dos fatos, é de importância vital, uma vez que se vivencia a interação de pessoas. O que interessa, portanto, é “expressar o que se vê, ouve e sente”. Foi uma observação da vida real, uma vez que se realizou no ambiente em que ocorre o fenômeno, em seu período habitual de funcionamento, “registrando-se os dados à medida que foram ocorrendo espontaneamente”.

Durante o período de observação, foram realizadas entrevistas abertas e individuais direcionadas por três eixos: um que identificava o informante, abordando idade, nível educacional, procedência e tempo dedicado ao trabalho de catação; outro que objetivava a caracterização de um dia típico do seu processo de trabalho, no qual foram abordadas as experiências relacionadas à sua atividade, e um terceiro eixo que procurava captar a percepção do lixo na visão desses trabalhadores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

À medida que adentrávamos em nosso setting de estudo, ou seja, o “Lixão da Terra Dura”

observamos que ao redor desta montanha de lixo estão dispostos pequenos casebres, cuja

maioria é habitada por catadores de lixo.

Inseridos neste ambiente, percebemos ainda que toda a área onde o lixão esteja situado é cercada com um aramado repleto de sacos de lixo, que mais parecem bandeirolas dando boas- vindas aos visitantes.

Chocou-nos a enorme variedade de detritos espalhados. Era impressionante a quantidade de plásticos e fuligem que pairava no ar, provocando um desconforto em nossos olhos, bem como era fétido e desagradável o odor que se alastrava por toda a área do lixão, incomodando-nos durante a primeira visitação. Pudemos detectar também a presença de inúmeros catadores vasculhando entre os detritos, em local somente autorizado para a descarga de lixo.

Os catadores não contam com nenhum abrigo para a proteção contra as intempéries, muito menos com um serviço de saúde visando ao atendimento ambulatorial. As condições insalubres constatadas nos motivaram a direcionar nossa atenção para os catadores autônomos que trabalham a céu aberto, dentro do enfoque da percepção de risco ambiental e ocupacional.

Elegemos como informantes aqueles trabalhadores que se ocupavam integralmente da garimpagem de recicláveis no lixão, e que dependiam exclusivamente desta ocupação como meio de sobrevivência. Levamos em conta, também, o tempo de trabalho do catador nesta ocupação (mínimo de dois meses), e o fato de o próprio ou um parente próximo já ter vivenciado problemas de saúde relacionados à atividade de catação.

Os resultados apresentados nesse trabalho foram obtidos por uma pesquisa qualitativa com os catadores da lixeira de Terra Dura do Município de Aracaju- SE sendo que foi aplicado questionário objetivando coletar informações dos mesmos a cerca da percepção do lixo.

Os estudos da pesquisa qualitativa diferem entre si quanto ao método, às formas e aos objetivos. Godoy (1995) considera que nesse tipo de pesquisa é relevante observar o ambiente natural como fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental, o caráter descritivo, o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida como preocupação do investigador e o enfoque indutivo.

Ainda segundo este autor, a pesquisa qualitativa atende à necessidade de aprofundamento nas percepções do entrevistado. O estímulo não estruturado é capaz de levantar informações ligadas ao subconsciente das pessoas, como as emoções, motivações, necessidades, atitudes e valores sem o disfarce da racionalização.

Desta forma, elaboraram-se os gráficos com as respostas obtidas.

Os dados apresentados revelam que dos catadores respondentes, 100% são do sexo masculino. Observa-se que 8% possuem idades entre 15 e 17 anos, 17% com idades entre 18 e 25 anos, 39% dos entrevistados possuem entre 26 a 40 anos e os outros 36% acima de 50 anos.

Estudos realizados por Ferreira (2004) corroboram com a presente pesquisa, onde mostra

que a maior parte dos “catadores” (68%) tem idade superior a 30 anos, concentrando-se na faixa

etária adulta da vida.

Gráfico 1: Idade dos catadores de resíduos sólidos.

Embora apenas os homens tenham participado da presente pesquisa, mulheres e até crianças colaboram no processo da limpeza urbana, interceptando materiais que seriam levados aos lixões ou aos aterros. Vale ressaltara a importância do tema lixo como meio propício para favorecer também a reflexão sobre a relação saudável dos cidadãos com o seu ambiente.

O catador de lixo não é um novo personagem nas ruas das cidades brasileiras, o novo, aqui, é a elevação do número de catadores. Esses profissionais, através da catação informal de papéis e outros materiais encontrados nas ruas ou lixões, sustentam a indústria de reciclagem do Brasil. Eles não são mendigos, mas desempregados que devido à crise econômica, nos últimos anos, foram expulsos do mercado oficial de trabalho (OLIVEIRA, 2006; FERREIRA, ANJOS, 2001).

Se fosse cientificamente possível estabelecer uma relação de custo beneficio de todo o processo civilizatório, os problemas resultantes do mundo moderno ultrapassariam os benefícios produzidos pela sociedade pós-industrial (DIAS, 2003). O ser humano criou sociedades dualistas, em que a riqueza convive com a pobreza. O consumo excessivo de recursos ambientais por poucos contrasta com a escassez para outros (PHILIPPI; ROMERO; BRUNA, 2004).

Analisando a percepção dos moradores com relação Ao tema abordado, percebemos claramente que existe uma compreensão do que é o meio ambiente, mostrado no gráfico 2.

Gráfico 2: Representação social do meio ambiente.

Considerando a percepção dos moradores com relação aos elementos inclusos na natureza, há uma percepção evidente do conceito de meio ambiente.

8%

17%

39%

36%

15 a 17 anos 18 a 25 anos 26 a 40 anos  Acima de 50 anos

42%

58%

Natureza, os  animais, as  plantas, a água

Tudo que 

envolve os 

seres humanos

Apesar de todas as dificuldades do trabalho, sem apoio do poder público e com o preconceito da sociedade, esses trabalhadores informais, criativamente, conseguem sobreviver e ao mesmo tempo cuidar do meio ambiente, ou seja, da nossa "casa" comum: a terra. Diante do exposto, podemos denominar os catadores de lixo como agentes ambientais e econômicos, ou melhor, como trabalhadores.

Gráfico 3: Elementos que fazem parte ou estão incluídos no meio ambiente.

Observa-se que 78% dos entrevistados não possuem interesse pelas questões ambientais.

Desta forma é notório que seja papel da educação, do poder público e demais segmentos da sociedade, no sentido de adotar e programar estratégias de Educação Ambiental eficazes, junto à comunidade, respeitando e considerando as diferentes realidades locais.

A Educação ambiental vista no contexto da cidadania, da participação e da ação comunitária, faz parte de um processo que tem como fundamentos a reflexão e a consciência sócio ambiental (LAURELL et al., 1989). Do ponto de vista pedagógico, espera-se que a Educação ambiental alcance uma mobilização coletiva no sentido de transformar, prevenir e amenizar os problemas ambientais, levando-se em conta as diversas relações entre a realidade natural e social (PINHEIRO, 2003).

Gráfico 4: Interesse pelas questões ambientais.

Observa-se que 89% dos entrevistados veem a lixeira como um trabalho os outros 11%

associaram ao mau cheiro e a doenças.

39%

61%

Água, ar, fauna,  flora, minerais e  solo

Água, ar, fauna,  flora, minerais,  solo, população  e população  indigena

22%

78%

Muito Pouco

O desemprego é um dos problemas mais sérios apresentado neste estudo, assolando de forma trágica principalmente aqueles que possuem baixa escolaridade, pouca ou nenhuma qualificação técnica: mulheres, negros, idosos e deficientes físicos, uma vez que são os mais afetados neste processo de restrição de oportunidades (SILVA, 2012). A resposta encontrada por esses atores, por não terem condições de competir por vagas no mercado formal, é o subemprego, a ocupação precária do espaço urbano e o ‘inchaço’ da economia informal (PORTO, 2000).

Coletar lixo” é uma alternativa encontrada por alguns desses excluídos. Como não atingem a qualificação exigida pelo mercado, vêem nessa função uma estratégia de sobrevivência. Ainda sendo uma forma de trabalho vista como degradante pela sociedade, os “catadores de materiais recicláveis” fizeram do lixo uma forma de obter a renda para o próprio sustento (MACEDO, 2000).

É notável também que muitos problemas ambientais urbanos estejam relacionados ao crescimento populacional desordenado, nas periferias das grandes cidades, aliado a ineficiência administrativa e ao descaso político das administrações públicas dos países em desenvolvimento.

No mundo, muitas populações sofrem com a falta de água potável, de tratamento de esgoto doméstico e de coleta regular de lixo. Essa realidade, típica das periferias das grandes cidades dos países em desenvolvimento, propicia o aparecimento e a disseminação de diversas doenças, assim como problemas de ordem social.

A problemática que envolve o homem e o lixo é tão antiga quanto a sua própria existência, contudo, a sua capacidade de geração de resíduos era bastante limitada se comparada com os dias atuais. Há vários relatos nas escrituras sagradas que citam o comportamento do homem primitivo em relação aos seus rejeitos. Na cidade de Jerusalém, animais que eram sacrificados tinham suas peles, carnes e excrementos incinerados. A presença de lixo e de ratos nos fossos dos castelos, nos becos e ruelas, era responsável pela transmissão da peste bubônica, que levou a morte de milhões de europeus na Idade Média (CASTILHOS, 2003).

Gráfico 5: O que a lixeira representa.

A palavra lixo, nos seus similares linguísticos, em uma abordagem semiótica, possui diversos e diferentes significantes, mas o seu significado é muito semelhante, quando se fala de sujidade, coisa desagradável , feia, repugnante, etc (MAZZINI, 2004).

11%

89%

Mau cheiro,  doenças

Trabalho

O ser humano no desenvolvimento de suas atividades do dia-a-dia gera e descarta uma grande quantidade de resíduos. Assim percebe-se que, como não podemos deixar o lixo acumular dentro de nossas casas, é preciso conter a geração de resíduos e dar um tratamento adequado para o lixo no nosso planeta (GIDDENS, 2005). Para isso será preciso conter o consumo desenfreado, que gera cada vez mais lixo, além de investir em tecnologias que permitem diminuir a geração de resíduos, além da reutilização e da reciclagem dos materiais em desuso (GONÇALVES, 2005).

A ausência de uma disposição final adequada do lixo resulta numa acelerada degradação dos recursos naturais que compromete a qualidade de vida das atuais e futuras gerações. Cada brasileiro produz aproximadamente um quilo de lixo por dia, sendo a maior parte de matéria orgânica (DIB-FERREIRA, 2005).

CONCLUSÕES

Sem sombra de dúvida, a promoção da Educação Ambiental no contexto social, seja através de cursos nas escolas, palestras, dinâmicas, como também através de campanhas educativas é de suma importância.

Faz-se necessário o envolvimento de agentes ambientais colaboradores e toda a população local com o objetivo de se criar laços entre os moradores e os trabalhadores locais e o seu meio ambiente, através de um trabalho de sensibilização, conscientização, e mobilização ambiental em torno dos problemas ambientais locais.

Um programa de educação ambiental somente se concretiza dentro de um processo de mudanças. Deve haver uma nova mentalidade que conduza a população à mudança de valores, atitudes e comportamentos, no longo prazo. O processo do despertar ecológico deve ser continuado, através da conscientização da população.

A mudança de comportamento da população em relação ao problema dos resíduos sólidos urbanos pode contribuir decisivamente para a redução de lixo na própria fonte de produção. Trata- se, contudo, de uma questão essencialmente ética, que requer reflexões sobre desenvolvimento econômico e desenvolvimento sustentável, destacando-se a priori que meio ambiente restará às futuras gerações.

Finalmente, vale enfatizar que as questões socioambientais deverão ter um caráter de urgência, visando à responsabilidade social, econômica e ecológica no grande desafio da sustentabilidade do ambiente local pesquisado.

REFERÊNCIAS

CASTILHOS, J.; ARMANDO, B.. Resíduos sólidos urbanos: aterro sustentável para municípios de pequeno porte. 3 ed. Rio de Janeiro: ABES; RIMA, 2003.

DIAS, G. F.. Educação ambiental: princípios e práticas. 8 ed. São Paulo: Gaia, 2003.

DIAS, G. F.; SILVA, C. P.. Educação ambiental: princípios e práticas. 8 ed. São Paulo: Gaia, 2003;

DIB, F.; DECLEV, R.. As diversas visões do lixo. Dissertação (Mestrado em Ciências Ambientais) – Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, 2005.

FERREIRA, J. A.; ANJOS L. A.. Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à gestão dos resíduos sólidos municipais. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.17, n.3, p.689-696, 2001. DOI:

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2001000300023

FERREIRA, H. L. M.. Expansão urbana e periferização em áreas de interesse turístico: o caso da ilha do mosqueiro, Belém (PA). Dissertação (Mestrado em Ambiente Urbano) – Universidade do Amazonas, Pará, 2010;

GIDDENS, A.. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2005.

GONÇALVES, R.. Catadores de materiais recicláveis: trabalhadores fundamentais na cadeia de reciclagem do país. Serviço Social e Sociedade, v.26, n.82, p.86-109, 2005.

GONÇALVES, M. A. U.. O impacto da reserva legal e da área de preservação permanente sobre pequenas propriedades rurais (um estudo na agricultura ecológica de santo Antonio Prado/RS).

Dissertação (Mestrado em Direito Ambiental e Biodireito) – Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, 2008.

GOUVEIA, N.. Saúde e meio ambiente nas cidades: os desafios da saúde ambiental. Saúde e sociedade, São Paulo, v.8, n.1, p.49-61, 1999. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-12901999000100005

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas básicas. Brasília: IBGE, 2008.

JACOBI, P. O.; CASCINO, F.. Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998.

LAURELL, A. C.; NORIEGA, M.. Processos de produção e saúde: trabalho e desgaste operário. São Paulo: Ática, 1989;

LIMA, M. F. S.. As lições que lixo traz: educação ambiental práticas de exercícios de cidadania.

Monografia (Especialização em Educação Ambiental) – Universidade Candido Mendes, Rio de Janeiro, 2007.

MACEDO, R. L. G.. Percepção e conscientização ambiental. Lavras: EdUFLA/FAEPE, 2000.

MAZZINI, A. L. D. A.. Dicionário educativo de termos ambientais. Belo Horizonte: Mazzini, 2004.

MENDONÇA, F.. Abordagem interdisciplinar da problemática ambiental urbano-metropolitana: esboço metodológico da experiência do doutorado em MA&D* da UFPR sobre a RMC – Região Metropolitana de Curitiba. Desenvolvimento e Meio Ambiente, n.3, p.79-85, 2001.

SERPA, A.. Cidades e metrópoles: uma perspectiva geográfica para a análise dos “problemas ambientais urbanos”. GEOUSP - Espaço e Tempo, São Paulo, n.23, p.30-43, 2008.

OLIVEIRA, N. A. S.. A percepção dos resíduos sólidos (lixo) de origem domiciliar, no Bairro Cajuru – Curitiba - PR: Um olhar reflexivo a partir da educação ambiental. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2006.

PHILIPPI A., ROMERO, M. A., BRUNA, G. C.. Estudo de impacto ambiental como instrumento de planejamento no curso de gestão ambiental. Barueri: Manole, 2004.

PINHEIRO, J. Q.. Psicologia ambiental brasileira no início do século XXI. São Paulo: Casa do

Psicólogo, 2003.

PORTO, M. F. S.. Análise de riscos nos locais de trabalho. São Paulo: Fundacentro, 2000;

SILVA. A. S.. A química, o lixo e a necessidade de uma consciência ambiental. Natal: 2012.

SILVA, E.A.; TORRE, M.B.R. Disposição de resíduos sólidos urbanos: um estudo de caso a partir das concepções de moradores das comunidades de moranguinho/metrô, Areia Branca-RN. Revista Brasileira de Gestão Ambiental, v.2, n.1, p.5-25, 2008;

TEIXEIRA, E. N.. Redução na fonte de resíduos sólidos: embalagens e matéria orgânica. In: BIDONE, F. R.

A.. Metodologias e técnicas de minimização, reciclagem e reutilização de resíduos sólidos urbanos.

Rio de Janeiro: PROSAB, 1999.