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LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE ITALIANAS NO CANTO POPULAR MÈRICA MÈRICA. PALAVRAS-CHAVE: Mèrica Mèrica; canção popular italiana; identidade étnica.

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LÍNGUA, CULTURA E IDENTIDADE ITALIANAS NO CANTO POPULAR MÈRICA MÈRICA

Wânia Cristiane Beloni - Unioeste1

RESUMO: A proposta neste trabalho é apresentar uma análise preliminar da cultura italiana a partir

da música Mèrica Mèrica. Instituída como hino oficial da colonização italiana no Rio Grande do Sul, essa canção representa diversos aspetos da língua, cultura e identidade italianas. O objetivo deste trabalho é analisar essa música popular, produzida e popularizada pelos e entre os descendentes italianos. Para isso, foram levantados alguns aspectos da história dos imigrantes italianos que se fixaram no Brasil, especialmente, no Rio Grande do Sul, onde essa canção foi criada, até chegar a Cascavel. Pesquisar uma composição musical popular é uma forma de compreender a identidade do ser humano por meio da língua e da cultura desse povo. Damke e Savedra (2013) defendem que as músicas só podem ser compreendidas se observadas dentro de seu contexto histórico, geográfico e cultural em que estas surgiram. Por isso, apresenta-se primeiro a história da imigração italiana, desde a motivação para virem ao Brasil, até as dificuldades que aqui enfrentaram, o que é também anunciado na canção. Estudar a música é uma forma de compreender, também, por que esta continua sendo cantada entre os descendentes e falar sobre a identidade de um grupo é fundamental para isso.

PALAVRAS-CHAVE: Mèrica Mèrica; canção popular italiana; identidade étnica. INTRODUÇÃO

O europeu acabou migrando para diversas regiões do mundo quando a Europa sofreu grandes transformações políticas, sociais e econômicas, tanto por causa das unificações nacionais da Itália e da Alemanha, como por outras questões, tais como o crescimento do capitalismo. Por isso, o europeu foi movido, segundo Gregory (2008) pelo desejo da conquista de novas terras vazias da América, a chamada “febre da América” ou “sonho da América”.

A suspensão do tráfico negreiro, na década de 1859, e no século XX o desenvolvimento dos meios de comunicação, das ferrovias e da navegação a vapor também favoreceram o processo de imigração. Tudo isso, vinculado à pobreza e à falta de perspectivas, motivou o europeu a buscar novas oportunidades, novas terras e novos horizontes. “Migra-se por motivos diversos, mas é sempre para deixar algo e para alcançar alguma coisa, nem que isto implique em vontade utópica” (GREGORY, 2008, p. 43).

Com base nesse sonho da América, os imigrantes se estabeleceram no Brasil e a música

Mèrica Mèrica mostra diversos aspetos da língua, da cultura e da identidade italianas. Portanto,

analisar essa canção popular, produzida e popularizada pelos e entre os descendentes italianos, é uma maneira de compreender a identidade étnica desse grupo. Para isso, foram levantados alguns aspectos da história dos imigrantes italianos que se fixaram no Brasil, especialmente, no Rio Grande do Sul, onde essa canção foi criada, até chegar a Cascavel.

Pesquisar a composição de uma música popular é uma forma de compreender a identidade do ser humano por meio da língua e da cultura desse povo. A música é uma forma de manter tradições e ela acaba evidenciando o pensamento de uma comunidade, por meio de seus versos e melodias. “A prática do canto sempre foi considerada como fator importante para a manutenção da língua e de toda a cultura alemã” (DAMKE; SAVEDRA, 2013, p. 12). Da mesma forma pode-se compreender que a comunidade italiana também manteve e mantém língua e cultura italianas por meio das canções. Em relação a isso, Teis observa que: “Não há como se referir à língua sem se referir à cultura, da mesma forma não há como se referir à cultura sem mencionar o aspecto linguístico, pois há uma relação muito íntima entre língua e cultura, uma vez que ambas são socialmente construídas” (TEIS, 2004, p. 40).

Damke e Savedra (2013) explicam que o espírito de aventura, característico do povo germânico influenciou no processo de migração, e que isso aparece em canções populares, assim como

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Aluna do Mestrado do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Letras - Nível de Mestrado e Doutorado, área de concentração em Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste - Campus de Cascavel, bolsista da Capes.

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os temas: saudade da terra natal, saudade da infância e da juventude. Além destes temas, as músicas destacam ainda aspectos históricos, regionais e religiosos. O espírito de aventura, assim como os temas das composições são semelhantes entre os descendentes de italianos, que cantam a saudade da terra natal e a luta árdua que enfrentaram neste país.

As músicas só podem ser compreendidas se observadas dentro de seu contexto histórico, geográfico e cultural em que estas surgiram. Por isso, antes de analisar a canção foi necessário recuperar a formação histórica e cultural da região Sul, do Oeste paranaense e de Cascavel. Trata-se de uma tentativa, no espaço que este trabalho permite, de investigar os elementos que atuam sobre o encaixamento dos fenômenos linguísticos na estrutura social e linguística, conforme destacam Weinreich, Labov e Herzog (2006, p. 123): “A estrutura linguística mutante está ela mesma encaixada no contexto mais amplo da comunidade de fala”. Desta forma, trata-se, neste trabalho, desde a motivação dos imigrantes italianos para virem ao Brasil, até as dificuldades que aqui enfrentaram, o que é anunciado na canção e na história desse grupo. Estudar a música é uma forma de compreender, também, por que esta continua sendo cantada aqui e falar sobre a identidade de um grupo é fundamental para isso.

A IMIGRAÇÃO NO SUL DO BRASIL ATÉ O OESTE PARANAENSE

Apesar de o Brasil ter como língua oficial a língua portuguesa, decretada na constituição de 1988, no artigo 13, e, portanto o país ser visto como monolíngue, seria uma incoerência não enxergar e observar os grupos étnicos minoritários no país, no caso, em especial, no Sul do Brasil.

Altenhofen (2005, p. 87) chama atenção para o fato de o Brasil ser considerado “monolíngue”, apesar de toda diversidade linguística e de tantas línguas minoritárias aqui presentes. O autor explica ainda que isto se deu, talvez, pelo fato de que, na época das guerras mundiais, falar português era condição inerente para ser brasileiro e que por isso, o ensino do português era sinônimo de civilidade.

Os dados do Atlas Linguístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil/ALERS (KOCH; KLASSMAN; ALTENHOFEN, 2002) registram a diversidade linguística da região quanto à presença de línguas europeias não-lusas, trazidas por seus imigrantes no início do século XIX: alemães (a partir de 1824), italianos (1875), poloneses (1891), japoneses (1918), entre outros.

Os três estados sulistas do Brasil configuram uma grande área de línguas em contato e de bilinguismo. Neste contexto está o Oeste do Paraná, e Cascavel, que concentra um grande número de descendentes alemães e italianos.

Ao lado dos alemães, o italiano é um dos grupos linguísticos mais relevantes de ocupação no Sul brasileiro: “o italiano assume uma posição de destaque, tanto pelo número de falantes quanto pela área ocupada e sua influência no contexto linguístico e sociocultural brasileiro” (MARGOTTI, 2004, p. 1). Além disso, segundo Margotti (2004 apud IANNI, 1979), o Brasil recebeu, nos séculos XIX e XX, cerca de cinco milhões de imigrantes, sendo dentre eles cerca de um milhão e meio de italianos.

Von Borstel (2011), em sua obra A linguagem sociocultural do Brasildeutsch, discorre sobre o falar dialetal alemão hibridizado, o brasildeutsch, que possui traços linguísticos regionais, sociais, familiares e culturais de dois códigos, que seriam do dialeto alemão (padrão e dialetos locais e regionais) e do português (bidialetal). Alguns estudiosos, segundo a autora, consideram que a “fala de descendentes de alemães vem a ser um regionalismo brasileiro e não simplesmente traços comuns da língua estrangeira (alemã), podendo, sim, ser considerado um regionalismo do falar alemão no Brasil”

(VON BORSTEL, 2011, p. 23). Da mesma forma, pode-se comparar o talian2, com o brasildeutsch.

Estes são dois tipos de contatos linguísticos e de bilinguismos.

O Oeste paranaense localiza-se entre os rios Guarani, Iguaçu, Paraná e Piquiri. A região ficou praticamente esquecida durante a época imperial e, segundo Wachowicz (2001, p. 231), nenhuma picada que chegasse até as margens do Rio Paraná foi aberta nesta época e por isso, por terra, era praticamente impossível chegar nesta região.

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Mais de 60% dos italianos que se fixaram no Rio Grande do Sul vieram da região do Vêneto, no norte da Itália. Por isso, o dialeto vêneto acabou se tornando, no início, em língua franca entre as famílias italianas. Com base no dialeto vêneto, as famílias italianas, em um novo contexto, em que se fala português, quando se tornaram bilíngues, acabaram transformando o dialeto vêneto. Este sofreu influências do português e assim se transformou em um novo modo de falar, chamado pelos colonos de talian ou vêneto brasileiro.

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Foi por volta de 1950 que os colonos agricultores chegaram aqui. A colonização do Oeste iniciou de fato com a intervenção das empresas colonizadoras que loteavam áreas para revender aos colonos. Antes disso, porém, estiveram por aqui, também, os caboclos3, e foram eles, segundo Piaia (2004, p. 64), que “assinalaram muitos dos locais que serão tomados posteriormente pela onda de imigração”.

Os primeiros colonos chegaram às terras oestinas, segundo Sperança (1992, p. 78), em 1920, sendo um grupo de 200 famílias de agricultores, predominantemente italianas e alemãs, que se instalaram na região de Santa Helena. No mesmo ano começaram também a se desenvolver, segundo o autor, a imigração polonesa no Estado.

O papel das colonizadoras foi fundamental para a ocupação do Oeste do Paraná. Gregory cita as empresas que se destacaram na região:

[...] a Companhia Madeireira Colonizadora Rio Paraná S/A - MARIPÁ, a Pinho e Terras com as secções Piquiri, Céu Azul, Porto Mendes, Lopeí, a Industrial Agrícola Bento Gonçalves Ltda., a Colonizadora Gaúcha Ltda., a Colonizadora Matelândia Ltda., a Colonizadora Criciúma Ltda. Estas empresas foram criadas para se dedicarem à exploração da madeira, à mercantilização de terras, ao comércio e à indústria (GREGORY, 2008, p. 93).

As colonizadoras tiveram que investir nas áreas para estruturá-las e conseguir vendê-las. Apesar disso, o preço dos lotes na região era bem mais baixo do que os lotes gaúchos. O preço foi, portanto, um dos atrativos para os colonos, além do interesse por áreas próprias para o desenvolvimento agrário. Piaia também destaca que “A motivação essencial para o deslocamento dos imigrantes gaúchos, primeiro para o oeste catarinense, e posteriormente para o sudoeste e oeste paranaense, repousa na questão agrária” (PIAIA, 2004, p. 198-199).

A região foi, portanto, colonizada por descendentes alemães e italianos, já que as colonizadoras almejavam estes colonos, vistos como ideais porque traziam consigo a experiência na criação de suínos, da fabricação da manteiga, do cultivo do feijão, entre outras culturas (PIAIA, 2004, p. 214). Schneider (2000) explicita que a vinda dos euro-brasileiros foi encarada como vantajosa para a região:

Considerar válidos somente os colonos euro-brasileiros, provenientes das colônias do Sul, descendentes em sua maioria de alemães e italianos, com dedicação a cultivo e produção de bens, significava conferir a estes a capacidade de colaboração com o desenvolvimento e a integração do oeste paranaense ao restante da nação e aqueles que fugissem destas características representavam, de certo modo, ameaça ao controle do poder público e privado, da empresa colonizadora (SCHNEIDER, 2000, p. 102).

Para o autor, essa identidade étnica tinha como objetivo facilitar a organização da colônia, pois se a comunidade fosse de uma mesma descendência, fácil seria fazer com que ela se identificasse e ali permanecesse. Além disso, o colono acabaria criando raízes no local em que se estabeleceu quando se sentisse “em casa”.

Assim como Toledo, Cascavel também apresenta uma colonização mista, tanto por descendentes italianos e alemães, como por outras etnias aqui presentes. Piaia (2004) evidencia que Toledo e Cascavel, no entanto, tiveram processos de colonização diferentes. Enquanto a primeira foi colonizada pela Maripá, Cascavel teve uma colonização mais livre:

Na primeira, o processo de ocupação deveu-se primordialmente aos parâmetros estabelecidos pela colonizadora. Em Cascavel, o processo foi mais anárquico, nenhuma colonizadora teve supremacia no processo de formação do seu núcleo urbano, tampouco nenhuma demonstrou influências consideráveis (PIAIA, 2004, p. 211).

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O caboclo era um europeu descendente de portugueses ou espanhóis miscigenado com o índio, que se adaptara às condições do meio físico e cultural.

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Apesar de Cascavel não ter sido tão influenciada pelas regras estabelecidas pelas colonizadoras, com a intervenção do Estado, a cidade acabou atraindo também grupos de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Piaia (2004) destaca que o colono gaúcho trouxe consigo uma mistura da cultura italiana com a gaúcha, prova disso é a língua falada pelos descendentes, o talian, um dialeto italiano sul brasileiro, também conhecido como vêneto brasileiro, que surgiu naquele estado.

Além da variedade linguística, os migrantes, colonos italianos, trouxeram também a cultura e o desejo de preservar a história de seus antepassados. Oro (1996) observa que pequenos conjuntos e bandas foram formadas por imigrantes-músicos, como a banda de Nova Pádua, fundada há 78 anos. “Hoje em dia quase todas as cidades da região de colonização italiana do Rio Grande do Sul possuem uma banda municipal ou de colégios, ou ao menos conjuntos musicais, ou então tocadores isolados que cultivam a música” (ORO, 1996, p. 616). Sendo assim, Cascavel, por ser uma região povoada por migrantes colonos, descendentes de italianos de frente sulista, também apresenta esta realidade linguística e cultural.

CASCAVEL E O GRUPO FILÒ

O contexto italiano, atualmente, em Cascavel, pode ser percebido, por exemplo, pela utilização de unidades lexicais nas atividades comerciais e públicas, assim como pelos sobrenomes de origem italiana de diversas famílias da cidade. Os movimentos de preservação e divulgação da cultura italiana também são expressivos na comunidade e podem ser percebidos pela existência do Círculo Italiano de Cascavel, do grupo de dança Gruppo Folklorico Italiano Ladri di Cuori, pela praça Itália, pelo programa de rádio de Cascavel Italia del mio cuore, que tem quase 18 anos e é transmitido pela Rádio Colméia (AM - 650 KHZ), assim como pelos cursos de Língua Italiana padrão, no ensino formal, como o curso de Letras Português/Italiano, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), o curso de Língua Italiana oferecido pelo Programa de Ensino de Línguas (PEL), da mesma instituição, e também pelos cursos de língua italiana em escolas particulares e no Centro de Estudos de Línguas Modernas (Celem), nas escolas estaduais.

O grupo de canto de música folclórica italiana de Cascavel, Filò, e o programa de rádio Italia

del mio cuore, valorizam e mantêm a variedade minoritária italiana. O Filò, que surgiu em meados de

1997, segundo o Jornal Hoje, de Cascavel, do dia 3 de junho de 2012, lançou no início de 2012 o primeiro CD. Este conta com 15 músicas da cultura folclórica italiana, tais como Da l’Italia noi siamo

partiti (Mèrica, Mèrica), Quel mazzolin di fiori e Nel mio bel giardin. Apesar de todas as músicas

serem regravações, o grupo, no entanto, exprime sua emoção e seu estilo em cada canção. A produção inicia com um texto de abertura e termina com outro, ambos de Geraldo Sostizzo, que definem bem o que é o filò, o que é a italianidade e a nostalgia, narrado em talian. Muitas músicas, no entanto, são em sua maioria, cantadas no dialeto vêneto, por serem canções mais antigas.

Segundo a reportagem, o grupo se reúne todas as sextas-feiras à noite na casa de um dos membros para conversar, cantar, comer e tomar um bom vinho, uma atividade típica italiana chamada de Filò. Ribeiro (2004, p. 340) explica que “O espaço privilegiado para o canto associativo foi o filó” e que este era um costume de reuniões entre parentes e vizinhos mais próximos, os quais ocorriam em geral nas cozinhas, ou nas cantinas domésticas, principalmente na zona rural.

Nessas ocasiões as mulheres faziam, principalmente, a dressa – trança de palha de trigo que daria origem aos chapéus e às sporte. Remendar a roupa e fazer crochê eram outras atividades das mulheres no filó. Já os homens podiam dedicar-se, também, a pequenas atividades artesanais, como por exemplo, fazer um cabo para a enxada ou tecer um cesto de vimes. As crianças brincavam com os sabugos do milho, ouviam histórias e, no verão, brincavam ao ar livre. É durante o filó que, entre copos de vinho, emergem as canções que são executadas sem acompanhamento instrumental (RIBEIRO, 2004, p. 341).

Apesar de o filò mais moderno, realizado pelo grupo cascavelense, contar normalmente apenas com os integrantes do grupo de canto do local em diversas ocasiões parentes se reúnem ao grupo, ainda que não façam aquelas atividades artesanais de antigamente.

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Savoldi, o gaiteiro do grupo e anfitrião, foi o último a entrar para o grupo, começando a fazer parte da equipe em 1998. Ainda segundo a notícia do Jornal Hoje, Geraldo Sostizzo, um dos componentes, explica que assim como a cultura, a língua italiana é àquela de seus avós, de italianos imigrantes que vieram para o Brasil e que aqui criaram uma nova língua e uma nova cultura, baseadas naquelas do Norte do país de origem. “A Itália hoje é muito diferente. Essa cultura a que nos referimos está em nossas raízes, na Itália antiga e na formação do Sul do Brasil”, esclarece. Todos são descendentes de italianos e estão em Cascavel há mais de 30 anos. Enquanto Savoldi e Sostizzo são netos de italianos, Zanatta, Nichetti e Richetti são bisnetos. Os avós e bisavós vieram do Norte da Itália, sendo a maioria deles, do Vêneto, e se instalaram no Rio Grande do Sul.

O CANTO POPULAR MÈRICA MÈRICA EM ANÁLISE

A música Mèrica Mèrica, também conhecida como La Mèrica, Da l’Italia noi siamo partiti ou ainda como Canto dei emigranti, é um canto popular dos emigrados vênetos, feita pelo compositor Angelo Giusti, nascido na Itália em 1848 e que foi um dos primeiros a habitar a Região de Colonização Italiana (RCI). Ele viveu nessa região até sua morte, em 1929. Em 1976 foi publicada a obra Poemas de um Imigrante Italiano, de Angelo Giusti, composta pelas poesias do autor recolhidas por Luis De Boni e outros amigos.

Frei Rovílio Costa declarou no dia 5 de maio de 2005, no site

www.imigrantesitalianos.com.br, que “Giusti fazia os poemas e nos fins de semana, nos encontros de

Igreja, ele os cantava com os amigos. Frequentemente ia a Flores da Cunha para pedir ao conhecido músico sacro francês, Frei Exupério de la Compôte, de compor as músicas para seus poemas”. Rovílio conta, ainda, que Angelo Giusti fazia parte da primeira geração de imigrantes da então Colônia Caxias, e que morava no atual território de Flores da Cunha, no travessão Rondelli, à beira da estrada que vai de Flores da Cunha a Antônio Prado, onde faleceu com 81 anos, a 23 de fevereiro de 1929.

Os títulos dos poemas de Giusti são todos referentes a histórias italianas, tais como: Le

campane di Nuova Trento; Benedizione delle Campane; Per la chiesa nuova di Nova Trento; Festa di San Pietro; Pio Décimo; Bandiera Cattolica; Le streghe; Inno in onore alla Madonna di Maggio; Le cavalete; Le donne si fanno tosar; Padre Raimondo; Archivescovo Giovanni Becker.

Em 2005, o governador do Estado, Germano Rigotto sancionou o projeto de lei do deputado estadual José Sperotto, que institui a música Mèrica Mèrica como hino oficial da colonização italiana no Rio Grande do Sul. A Lei 12.411 foi sancionada dia 22 e publicada no Diário Oficial do Estado no dia 23 de dezembro de 2005.

Em 2007, Santa Catarina também oficializa La Mèrica como tema dos 130 anos da imigração italiana. Foi o deputado Clésio Salvaro o autor do projeto que oficializou o tema das festividades da imigração italiana em Santa Catarina.

Além do título, há variações em diversas palavras da música, dependendo do grupo que a canta. No entanto, o texto segue uma sequência geral de sentido. A composição de Angelo Giusti pode ser observada no site <www.italiasempre.com>. Vale lembrar, porém, que a música Mèrica Mèrica foi composta por Giusti em uma variação linguística muito mais próxima do dialeto vêneto, o qual foi sendo alterado conforme os colonos se tornavam bilíngues e falantes do português, ou seja, foi a partir disso que surgiu o talian, falado ainda hoje no Rio Grande do Sul. Talvez seja por isso que se encontram composições desta mesma canção com termos pronunciados e grafados de forma diferente, o que poderia ser pesquisado e analisado em outra ocasião. Na sequência a transcrição do canto popular e uma tradução nossa:

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Da l’Italia noi siamo partiti Siamo partiti col nostro onore

Trentasei giorni di macchina e vapore, e in Merica noi siamo arrivà

Mèrica, Mèrica, Mèrica, cosa saràla ‘sta Merica? Mèrica, Mèrica, Mèrica, un bel mazzolino di fior Alla Merica noi siamo arrivati

no' abbiam trovato nè paglia e nè fieno Abbiam dormisto sul nudo terreno, come le bestie abbiamo riposà Mèrica, Mèrica, Mèrica, cosa saràla ‘sta Merica? Mèrica, Mèrica, Mèrica, un bel mazzolino di fior

La America l'è lunga e l'è larga, l'è formata dei monti e dei piani, e con la industria dei nostri italiani abbiam fondato paesi e città Mèrica, Mèrica, Mèrica, cosa saràla ‘sta Merica? Mèrica, Mèrica, Mèrica, un bel mazzolino di fior

Da Itália nós partimos, Partimos com a nossa honra Trinta e seis dias de navio E na América chegamos América, América, América, Que coisa será esta América? América, América, América, Um lindo ramalhete de flores. Na América nós chegamos

Não encontramos nem palha e nem feno Dormimos sobre o nu terreno

Como os animais, repousamos. América, América, América, Que coisa será esta América? América, América, América, Um lindo ramalhete de flores. A América é longa e larga É formada de montes e planícies. E com o esforço dos nossos italianos Construímos vilas e cidades. América, América, América, Que coisa será esta América? América, América, América, Um lindo ramalhete de flores.

Pode-se perceber na canção o “sonho da América” quando eles cantam “O que será esta América?” e a utopia de que aqui o país seria perfeito como um ramalhete de flores, discurso que pode ser comparado com o romance A Cocanha, uma saga da utopia dos colonizadores italianos no Alto da Serra. Boniatti (2004) explica que Paese di Cuccagna, ou País das Maravilhas, era a configuração do Eldorado, para o imigrante italiano. Na obra o país conta com uma montanha, ou melhor, com um vulcão, que lança moedas de ouro:

A utopia motiva o exílio voluntário e sustenta o desejo dos colonos italianos de ‘fazer a América’, trocando o espectro da fome pela imagem da fartura, num lugar onde chovem pérolas e diamantes e também raviólis, presuntos, mortadelas e especiarias. Nos rios de vinho grego, aves assadas despencam do céu, enquanto as árvores cobrem-se de frutos e as vacas parem um vitelo ao mês. Esse país imaginário, de fartura e abundância, justifica a invenção teórica de um conceito de

região e de regional, como se lê na ficção do escritor José Clemente Pozenato.

Nesse sentido, sua obra ficcional ora desenvolve, ora subverte grande parte das noções tradicionais expressas em outros textos críticos e na própria correspondência do autor (BONIATTI, 2004, p. 124).

O autor chama atenção para a obra e enfatiza que o exílio voluntário era motivado pelo desejo dos colonos italianos de “fazerem a América”, com o objetivo principal de trocar o fantasma da fome pela idealização da fartura. Na obra, o personagem Cósimo, apesar de desejar imigrar para buscar melhores condições de vida, receava o risco. Boniatti explica que, no entanto, “na Itália, não havia mais futuro e, sem poder ‘adivinhar o que os esperava na América’, mantinham esperança”’ (BONIATTI, 2004, p. 126). Na canção, eles também se perguntam o que será esta América e enfatizam que partiram com a honra, ou seja, apenas com isso, pois as condições financeiras eram escassas.

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Além da dificuldade de chegar até o Brasil – “trinta e seis dias sobre um navio” -, os imigrantes enfrentaram muitos problemas no novo país. Flores (1983) fala sobre os descendentes de germânicos e sobre as canções que cantavam quando no Brasil se instalaram. No entanto, as reflexões sobre os colonos alemães podem se encaixar perfeitamente sobre os italianos: “Os emigrados trouxeram para a nova pátria suas vivências anteriores. Enquanto aqui construíram seu novo lar, recordavam em canções nostálgicas e sentimentais as situações de angústia e sofrimento que outrora viveram” (FLORES, 1983, p. 48). Assim, quando aqui chegaram, tiveram que enfrentar muitas dificuldades, em locais que não tinha nenhuma estrutura:

O início na floresta subtropical foi duplamente difícil para o imigrante: porque não a conhecia a não sabia como lidar com ela, e porque se encontrava geralmente desprovido de bens materiais indispensáveis à sua sobrevivência. Faltavam-lhe dinheiro, gêneros alimentícios, instrumentos agrícolas e conhecimento dos recursos que a própria selva podia ofertar (FLORES, 1983, p. 119).

Ribeiro (2004, p. 339) comenta que nas primeiras décadas os imigrantes italianos que se instalaram no Rio Grande do Sul, principalmente no Nordeste do estado, conhecido como a Região Colonial Italiana (RCI), foram os anos em que o processo de criação cultural se alicerçou na “tendência à manutenção de hábitos, valores e instituições da pátria de origem” e também na adaptação à nova natureza, pois vindos das montanhas e vales pré-alpinos, tiveram que adaptar a forma de produzir aqui.

Canta-se, ainda, na música: “Na América nós chegamos/ Não encontramos nem palha e nem feno/ Dormimos sobre o nu terreno/ Como os animais, repousamos”. Esse trecho demonstra o sofrimento e o desamparo que se depararam quando chegaram ao Brasil e também evidencia o que Flores descreveu acima, quando recordavam canções nostálgicas das situações em que se encontravam. Pozenato (2004, p. 140) enfatiza que os imigrantes chegaram à região Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, em 1875, e que receberam um lote por família, mas que, no entanto, os lotes ficavam distantes uns dos outros e “quase todos estavam na mata virgem”. Isolados, então, “conheceram a solidão, a miséria, a fome e praticaram o trabalho incansável” (POZENATO, 2004, p. 141).

Além dessas imensas dificuldades que enfrentaram quando chegaram, o trecho “[...] com o esforço dos nossos italianos/ Construímos vilas e cidades” deixa claro que realmente construíram seu novo lar, neste país, e demonstra, ainda, o orgulho de terem superado todas essas barreiras.

O canto é uma forma de recordar, de se integrar e de consolar. “O imigrante cantava sozinho, em família e em sociedade. Nas horas de lazer, aos domingos, reunia-se com amigos, amainando a recordação da pátria que deixaram, através de saudosas canções” (FLORES, 1983, p. 205). Deve-se lembrar que a música surgiu em um contexto de dificuldade, em que o imigrante europeu se deparava com dificuldades imensas. Cantava-se, portanto, para enfrentar a dificuldade e a canção Mèrica

Mèrica se configurava como uma epopeia, como forma de enfrentamento e consolo para aqueles que

se encontravam aqui e que tinham muito ainda a enfrentar.

CONCLUSÃO

O hábito de cantar é uma realidade entre os descendentes de italianos. Colognese (2004) nota que o canto sempre foi tradicional e uma atividade coletiva seja em família, em festas e em visitas. Ele lembra, ainda, que as canções são passadas de pai para filho, no dialeto italiano. “São canções geralmente carregadas de emotividade e que tratam da saudade e dos sofrimentos enfrentados pelos membros do grupo étnico que tiveram que abandonar a Itália e embarcar na aventura de ‘fazer a América’” (COLOGNESE, 2004, p. 156). Ele observa, ainda, que assim como o canto, os corais também se destacam, os quais são predominantemente compostos por membros do sexo masculino, das faixas etárias mais velhas, uma vez que os mais jovens não dão a mesma importância, o que pode ser notado, inclusive, no grupo cascavelense Filò, composto apenas por homens mais velhos.

Damke e Savreda (2013, p. 98) citam que a estreita relação entre língua, cultura e identidade é destacada por Scherre quando afirma que as línguas humanas são reflexos da cultura de um povo, mecanismos de identidade, uma vez que “um povo se individualiza, se afirma e é identificado em função da sua língua”. Oro corrobora ao dizer que ainda no contexto atual tanto língua como músicas

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italianas são importantes valores da cultura dos imigrantes dos descendentes do Rio Grande do Sul e que eles as conservam com certa consciência, atribuindo vários sentidos a isso, como “a afirmação da sua especificidade étnica frente aos grupos sociais com os quais estão em contato, como os alemães, os poloneses e os gaúchos-brasileiros que, com maior ou menor ênfase, também cultivam seus linguajares, suas canções e suas tradições” (ORO, 1996, p. 616).

A música, portanto, retrata a língua e a cultura de um povo, mas mais do que isso, retrata a identidade étnica de uma comunidade. Os descendentes italianos, ao cantarem Mèrica Mèrica, se identificam não apenas com a variedade linguística e com a descendência, mas também, com o discurso defendido na canção, em que se valoriza a heroicidade do imigrante europeu em desbravar novas terras, assim como a valorização do trabalho árduo. Oro ressalta as adversidades que os imigrantes tiveram que enfrentar para sobreviver e destaca o trabalho como fator de identidade: “Para tanto, duplicaram a sua já extraordinária capacidade de trabalho e, para enfrentar e superar a perplexidade causada pelos traumatismos da imigração, foram buscar a força e a coragem nos mais significativos valores da tradição” (ORO, 1996, p. 620-621), citando a religião católica, a solidariedade social, a língua e o amor ao trabalho. Zanini (2006, p. 126) corrobora, ao dizer que “A imagem de que os antepassados trabalharam arduamente (come bestie), exaurindo ao máximo suas possibilidades físicas, está presente no imaginário dos descendentes contemporâneos”. A autora enfatiza, ainda, que reviver o processo colonizador, por meio de festas, obras literárias ou canções, “é uma forma de honrá-los e de cristalizar acerca deles uma construção de gente trabalhadora e titânica”, os quais superaram as dificuldades e isto faz com que “se sintam mais orgulhosos de suas origens italianas” (ZANINI, 2006, p. 126).

Por meio da música, portanto, os descendentes italianos, ainda hoje buscam se identificar com seus antepassados, heróis desbravadores de novas terras. Ribeiro enfatiza que o canto é uma das formas de expressão mais significativas para uma coletividade, especialmente, a italiana, e que o canto popular é uma das principais formas de manifestação cultural das colônias italianas no Rio Grande do Sul. Ao lado das canções, Ribeiro cita as histórias, as narrativas, os provérbios, entre outras formas de cristalizar tradições por meio da oralidade, mas que a música é a mais forte entre elas, pois o canto “É um testemunho da origem do povo da Serra gaúcha. Isso vale dizer que o canto reforça, como prática coletiva, um dos traços de identidade dos descendentes dos imigrantes italianos” (RIBEIRO, 2004, p. 340).

Do mesmo modo, em Cascavel, por meio do grupo Filò, o canto popular é uma forma de preservar língua, cultura e identidade italianas. Deve-se lembrar, ainda, que o CD do grupo em questão foi gravado em 2012, tendo como primeira música Da l’Italia noi siamo partiti (Mèrica, Mèrica).

Ribeiro, no entanto, cita o fato de que o canto também é uma forma de falar sobre suas tristezas. Isto fica claro na composição de Giusti, que coloca toda nostalgia, toda saudade que os imigrantes tinham de seu país de origem e também toda a melancolia e sofrimento que enfrentaram. Sobre isso, o pesquisador complementa:

Os imigrantes que se estabeleceram nas terras do Nordeste gaúcho experimentaram, depois das peripécias da viagem, a solidão das distâncias, o medo dos animais selvagens e da doença, o trabalho de derrubar o mato e abrir estradas, enfim, tiveram que amargar um reinício de vida sem um aparato cultural adequado a tantas mudanças ao mesmo tempo. Mesmo alimentando a esperança de construção de um novo lugar, de um novo espaço para si e para seus filhos, o sentimento de

desenraizado acabou por ditar-lhes um comportamento novo: cantar, no exílio, nem

sempre voluntário, para lembrar lugares e pessoas queridas (RIBEIRO, 2004, p. 340).

Para o autor, o canto popular é uma das manifestações de maior tradição. Os imigrantes trouxeram um grande repertório de canções no dialeto de origem, no caso, maioria, do vêneto e algumas dessas canções desapareceram com o tempo. A composição de Giusti, no entanto, feita no território brasileiro, tem se mantido cada vez mais forte. Faz parte do repertório de quase todos os grupos folclóricos italianos brasileiros, inclusive do grupo cascavelense Filò. Os componentes desse grupo, ao cantarem essa e outras músicas folclóricas italianas nesta localidade, demonstram que se sentem pertencentes a esse grupo, a essa identidade étnica. Ao cantarem na variedade linguística

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minoritária, eles conservam e valorizam o passado, suas raízes, a história, a cultura e a língua de seus antepassados e reafirmam as fronteiras étnicas, afirmando o “nós” diante dos “outros”, exemplificado por Frederik Barth (2011), antropólogo social da Noruega.

Ribeiro (2004, p. 343) destaca ainda, que em 1984, o estudo dos Elementos Culturais das Antigas Colônias Italianas na Região Nordeste do Rio Grande do Sul (Ecirs) editou um disco intitulado Mèrica Mèrica – cantos populares da imigração italiana, o qual ilustra os primeiros resultados do estudo e que contem as músicas populares italianas. “Entre elas está a conhecidíssima

Mèrica Mèrica ou Canto dei emigranti”. O autor explica que as músicas selecionadas para compor o

disco foram aquelas mais populares e que são cantadas por todos os grupos.

As canções populares da imigração italiana, especialmente a Mèrica Mèrica é uma manifestação cultural que resiste ao tempo e ao distanciamento cultural. Esta canção, principalmente, estreita os laços identitários dos descendentes italianos com os imigrantes.

Soldatelli (2004, p. 346) cita uma dissertação de mestrado que se debruça sobre a canção

Dona Lombarda, trazida ao Brasil pelos primeiros imigrantes italianos. O autor enfatiza que por meio

de uma canção pode-se compreender valores, costumes, crenças e visões de mundo de uma comunidade. “[...] a canção se apresenta não apenas como uma obra literária plurissignificativa, mas principalmente como patrimônio cultural representativo de valores comuns ao ser humano, além de se revestir de traços particulares que formam a identidade de um povo”. Da mesma forma, pode-se considerar que a música Mèrica Mèrica é um patrimônio cultural, a qual representa ideologias e ideais de uma comunidade étnica.

A música Mèrica Mèrica é a mais marcante entre os imigrantes e descendentes italianos. No período da imigração e do surgimento da canção, esta materializava todo o saudosismo dos imigrantes, pois fazia recordar a pátria que deixaram. Além disso, esta representava uma forma de encorajar os imigrantes perante as dificuldades que se deparavam e que ainda enfrentariam. Hoje, a canção ainda configura o saudosismo dessa comunidade, porém, a saudade é referente ao passado, aos avós e ao período em que se falava o dialeto vêneto brasileiro em casa, no Rio Grande do Sul.

Tanto no período de criação da música, como atualmente, a canção representa o orgulho de ser italiano e de ter conseguido formar e construir “vilas e cidades”. Vinculado a isso, deve-se considerar, ainda, que o fato de os descendentes de italianos terem tido uma ascensão social garantiu o fato de que eles se orgulhassem por fazerem parte desse grupo, pois as atitudes de um grupo sempre são determinadas por questões econômicas. Krug (2004, p. 8-9) salienta que “uma variedade minoritária pode ser, em determinado contexto ou comunidade, fortemente estigmatizada e, em outro, gozar de amplo prestígio, dada a condição sócio-econômica de seus falantes”. Sendo assim, além de fatores cognoscitivos, afetivos e emocionais, os quais estão ligados à forma de pensar, sentir e avaliar, as atitudes de um falante são determinadas, acima de tudo, por questões sócio-econômicas, uma vez que isto está relacionado ao prestígio e status de um grupo. Sendo assim, esta pesquisa poderia ser feita, ainda, sobre o viés das crenças e atitudes, para que pudesse ser mais aprofundada.

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