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A Observação Do Comportamento Supersticioso Em Estudantes De Psicologia 1

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Comportamento em Foco 2001 | 1 1 Estudo piloto da dissertação de mestrado da primeira autora apresentada a PUC de Goiás sob orientação da segunda.

Na visão tradicional a superstição é uma espécie de crença irracional ou mitológica que acaba por desencadear na vida do sujeito um temor que envolve algum tipo de tabu. Deste modo, apresentar comportamentos de medo ao ver um gato preto é um exemplo de comportamento supersticioso (Dundes, 1996). A superstição foi definida por Dundes (1996) como o ato de crer em práticas infundadas em si mesmas e incompatíveis com o grau de cultura alcançado pela comunidade a qual o indivíduo pertence.

A análise do comportamento ofereceu uma visão alternativa em que é possível explicar o comportamento supersticioso de modo científico. Numa tentativa bem sucedida de estudar as relações entre as contingências de reforço e o comportamento supersticioso, Skinner (1948) estudou experimentalmente o efeito do reforço acidental ao observar os comportamentos de pombos como sujeitos experimentais expostos a um esquema de tempo fixo.

O experimento de Skinner (1948) consistiu em apresentar o alimento aos pombos ingênuos, ou seja, que nunca haviam tido contato com aquela situação. Os pombos se encontravam privados de alimento e, a cada 15 segundos, o alimento era liberado automaticamente independente do comportamento que as aves estivessem emitindo no momento. Enquanto a relação de contiguidade estabelecida com o tempo fixo foi mantida, os animais emitiam os mais variados comportamentos, como por exemplo, dar voltas ao redor do próprio corpo, que não eram estipulados para que fossem reforçados com alimento. O aspecto crítico foi que as respostas aumentaram de frequência e aconteciam com maior probabilidade pouco antes das apresentações do alimento.

Um ponto importante a respeito do estudo foi que os pombos se comportavam como se houvesse uma relação de causalidade entre o comportamento emitido e a apresentação do alimento. Deste modo, constata-se uma relação do tipo acidental no comportamento supersticioso, uma vez que não havia programação de reforço contingente a uma determinada resposta.

No que tange as relações entre as contingências de reforço acidentais e o comportamento supersticioso, Skinner (1953/2007) esclarece que as pessoas “(...) podem não ser capazes de descrever A Observação Do Comportamento Supersticioso Em Estudantes De Psicologia 1

Livia Amorin Cardoso lívia-cardoso@uol.com.br

Ilma A. Goulart de Souza Britto Pontifícia Universidade Católica de Goiás

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Comportamento em Foco 2001 | 1 Cardoso . Britto

uma contingência que nitidamente teve efeito” (p. 94) e, também, que não é necessário que haja uma conexão permanente entre uma reposta e o reforço.

Para que haja o que se chama de resposta supersticiosa, alguns pontos devem ser considerados: (1) a contiguidade temporal entre o comportamento e o reforçador (mesmo que independentes); (2) a demora da extinção com relação ao condicionamento, proporcionando a predominância das respostas reforçadas intermitentemente; (3) o reforçamento não requer uma contiguidade temporal fixa entre o reforçador e a conduta, basta que haja uma aproximação; (4) os comportamentos aprendidos podem ser mantidos por reforço intermitente; (5) a liberação do reforçador não é contingente a nenhum comportamento. Os esquemas de reforço são controlados por passagem de tempo e não por relações de dependência de emissões de resposta.

Honig (1966/1975) acrescentou que o reforço, em caso de animais ingênuos, tem como função fortalecer comportamentos já existentes em seu repertório. Como tais comportamentos são mantidos? Sabe-se que nenhum comportamento ocorre ao acaso, isto é, comportamento não ocorre no vazio como declara Honig. Para o autor, a causa de um comportamento não é, necessariamente, a mesma causa que dá uma característica de persistência ou continuidade deste comportamento.

De acordo com os achados de Skinner (1948) tal qual descreveu Benvenuti (2006) o comportamento supersticioso pode ser explicado através de um reforçamento acidental uma vez que as respostas emitidas pelo pombo e os reforçadores disponibilizados seriam suficientes para a manutenção desse tipo de comportamento. E o reforço acidental pode ser responsável tanto pela manutenção quanto pela aquisição do comportamento já adquirido (Weisberg e Kennedy, 1969). Benvenuti e Neto (2010) acrescentam ainda que o comportamento humano é sensível às coincidências e pode ser fortalecido por reforço acidental.

Skinner (1948) demonstrou que os pombos aprenderam a se comportar de modo supersticioso quando seus comportamentos foram seguidos pela liberação do reforço contiguo ao que fizeram num esquema de tempo fixo. Esse processo também se aplica ao comportamento humano.

No caso dos comportamentos supersticiosos, há a presença de um reforço intermitente de modo que o comportamento pode ser mantido por longos períodos de tempo com pouquíssima retribuição (Skinner, 1974/2007; Honig, 1966/1975). Para Cirino e Júnior (2004), não é necessário que se reforce um comportamento continuamente para que ele volte a ocorrer. Um determinado repertório comportamental pode ser reforçado intermitentemente para ser estabelecido. Deste modo, no comportamento supersticioso o sujeito não obtendo a consequência esperada, continua a comportar-se. Tendo em vista que as probabilidades encontram-se nas contingências, ou seja, na resposta posterior a um estímulo e antecedente às consequências, o comportamento assume um caráter de busca somente após ser reforçado.

O reforço intermitente é um esquema no qual o reforço não está disponibilizado sempre que o comportamento ocorre. Os esquemas que constituem o reforço intermitente são: intervalo fixo (FI), intervalo variável (VI), razão fixa (FR) e razão variável (VR). O FI é caracterizado por um aumento na taxa do responder quando está próxima a liberação do reforço.

O VI, por sua vez, é definido como aquele onde o intervalo pode variar, ficando os reforços submissos aos intervalos variados. O pombo, na gaiola pode ter seu alimento apresentado a cada 10 seg, 20 ssg, 25 seg, 30 seg, dependente do que realizar. É importante colocar que nos esquemas de intervalo, é necessário que haja a emissão de uma resposta. No esquema de tempo fixo o reforço é apresentado independentemente da emissão da resposta e é neste esquema que se observa a emissão de comportamentos supersticiosos.

No esquema de FR, nota-se que o reforço vem após uma quantidade de respostas emitidas, que não oscilam. Por exemplo, trabalha-se trinta dias no mês para se receber o salário; ou seja, tem-se uma FR = 30 dias. Na VR, ocorre uma variação do número de respostas obtida para se obter o reforço. O pombo pode ter que bater as asas três vezes para receber comida, na sequência, será cinco batidas e assim por diante.

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Mas, seria possível extinguir um comportamento que foi estabelecido através de um esquema de reforço intermitente uma vez que esse esquema tem uma resistência à extinção muito maior do que as do esquema de reforço contínuo? Outra variável muito importante a ser observada, de acordo com os autores, é o histórico de reforçamento das pessoas. Esse histórico pode auxiliar na compreensão do por quê alguns comportamento e outros não.

Em suas considerações, Skinner (1953/2007) parte da ideia de que o reforço sempre vai afetar algum comportamento, pois sempre coincidirá com comportamentos. Caso a relação existente seja somente a conexão acidental, ter-se-á o comportamento denominado de supersticioso. E “(...) quando uma resposta supersticiosa estiver estabelecida, sobreviverá mesmo quando for esporadicamente reforçada” (Skinner, 1953/2007, p. 95).

Nos estudos de Starr e Staddon (1982), nos quais pombos foram expostos a múltiplos esquemas de tempo fixo, observou-se que os animais agiam como se estivessem numa contingência de causalidade. Os resultados demonstraram que quando não há alterações nos níveis de razão da liberação do reforço (alimento), os animais desenvolveram diferentes respostas na presença do estímulo relacionado com o mesmo esquema de reforçamento.

Outro trabalho realizado sobre comportamento supersticioso é o de Ono (1987). Sua pesquisa consistiu em submeter uma amostra de vinte estudantes (6 homens e 14 mulheres), com idades de 19 a 24 anos de idade, não graduados, a um esquema de reforçamento simples com tempo fixo e variável com valores de 30s e 60s. Os reforçadores eram apresentados juntamente com uma luz vermelha e uma buzina. Esta etapa totalizava 30 minutos. Três cores diferentes eram apresentadas independentemente do reforço ou do comportamento emitido. No final de cada intervalo, ganhavam- se pontos. Sons e flashes eram mantidos – independente do tipo de resposta. O estudo também era seguido de 10 minutos de extinção, totalizando 40 minutos de experimento.

Dos vinte participantes, três desenvolveram algum tipo de comportamento supersticioso considerado persistente, como puxar ou tocar coisas. Destes, um teve um tipo de comportamento supersticioso que não envolvia a manipulação das alavancas. Sua topografia era a de tocar o marcador de pontos. Ao final do estudo, o participante emitia o comportamento de pular sobre a cadeira e bater com o chinelo no teto da sala experimental. É interessante observar que os comportamentos supersticiosos considerados persistentes e estereotipados ocorreram no esquema de tempo fixo. O estudo de Ono (1987) demonstrou que os participantes que desenvolveram algum tipo de comportamento supersticioso criaram uma relação de causalidade entre o seu comportamento e o reforço apresentado.

Neste sentido, estudos em que as respostas sejam fortalecidas por relação acidental com o reforço em nosso contexto são escassos. Ao chamar atenção para o efeito de uma regularidade evidenciada pelo ambiente, o presente estudo teve como objetivo observar os comportamentos de estudantes de psicologia a um esquema de tempo fixo de vinte segundos em uma condição experimental.

Método

Participantes

Os participantes do experimento foram quatro estudantes do curso de Psicologia, sem história experimental prévia, com idades entre 20 e 28 anos, sendo dois estudantes do sexo masculino e dois do sexo feminino. Os participantes foram selecionados a partir de anúncios fixados nos murais da Pontifícia Universidade Católica de Goiás, PUC Goiás. Antes do início da coleta de dados os participantes foram informados que o trabalho envolvia atividades no computador e que no final da sessão eles ganhariam uma ficha para ser trocada por um lanche. A Tabela 1 apresenta o curso, sexo, período e idade dos dez participantes.

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Tabela 1

Características dos participantes em relação ao período, sexo e idade Características

Participantes Período Sexo Idade

P1 7 Feminino 18

P2 8 Feminino 25

P3 2 Masculino 20

P4 6 Masculino 29

Figura 1

A palavra PARABÉNS desenhada em letras vermelhas

Comportamento em Foco 2001 | 1 Cardoso . Britto

Ambiente e Materiais

O experimento foi realizado numa das salas do Laboratório de Análise Experimental (LAEC) da PUC-Goiás. A sala media 1,5m por 2,90m por 2,80m com iluminação e climatização adequadas. A sala foi equipada com um notebook Compaq CQ-40 da HP com o programa “Superstição” e mouse. A sala continha ainda: uma cadeira, uma mesa, uma filmadora, lápis e caneta. Além desses, foram utilizados: folha de registro, fichas de lanche, computador para futuras transcrições e análise das sessões. Ainda compunha a sala experimental uma folha de papel impressa com a questão “o que você está fazendo para que os “PARABÉNS” apareçam na tela do computador” para ser respondida pelo participante.

O programa Superstição foi elaborado na tecnologia JAVA SE com um componente chamado

“TimerBin” usado na contagem do tempo fixo de vinte segundos, em que foram apresentadas a palavra

“PARABÉNS” e quatro figuras: casa, comida, cachorro e mulher. Assim, a palavra “PARABÉNS” era disponibilizada em esquema de tempo fixo de vinte segundos (TF-20’’) de modo que, no final desta etapa experimental essa palavra foi apresentada 30 vezes.

A palavra PARABÉNS foi desenhada em letras vermelhas com um fundo preto e lateral azul, como demonstra a Figura 1.

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O programa contava ainda com medidor cuja função era de marcar quantas vezes cada participante clicava em cada imagem. O marcador poderia ser acessado a qualquer momento do experimento, bastando pressionar a tecla “F5” do computador.

Procedimento

Cada participante foi conduzido individualmente à sala experimental pela experimentadora. Na sala foi-lhe oferecido o Termo de Consentimento Livre Esclarecido para ser lido e assinado. Todos os documentos foram assinados em duas vias: uma ficava com a experimentadora e outra com o participante. O participante foi informado que poderia abandonar o experimento quando quisesse, porém as fichas de lanche só seriam dadas àqueles que permanecessem no experimento até o final da tarefa. Antes de iniciar a sessão experimental os participantes receberam instruções de como proceder. Caso não tivessem dúvidas, deveria teclar qualquer tecla para iniciar o experimento. Caso contrário, antes de iniciar o experimento, deveria chamar a experimentadora para possíveis esclarecimentos. Não foram fornecidos esclarecimentos durante a realização do experimento.

A filmadora permaneceu ligada durante toda a sessão e registrou o participante de perfil e de frente. Foram registrados em vídeos os comportamentos dos participantes durante o experimento sem interrupções. Para a realização das sessões experimentais os participantes deveriam sentar um a um frente à tela do microcomputador. No início de cada sessão eram apresentadas ao participante as seguintes instruções na tela do computador:

Você está participando de um estudo sobre o comportamento humano que durarão dez minutos, pelo qual lhe agradecemos. Na tela deste computador, aparecerão algumas figuras e à medida que você tocá-las, você visualizará a mensagem “PARABÉNS”. Cada vez que aparecer a mensagem

“PARABÉNS” você ganhará um ponto que será trocado por uma ficha de lanche. Tente obter o maior número de pontos possível. Ao seu lado, encontra-se uma câmera cuja finalidade é auxiliar na posterior análise dos dados. Não toque nela! Também, uma folha de papel e caneta para que você anote o que está fazendo para ganhar pontos. O estudo termina quando a mensagem “fim” aparecer na tela. Quando terminar, chame a experimentadora. Não haverá esclarecimentos durante o experimento. Em caso de dúvidas, chame a experimentadora. Caso contrário, pressione qualquer tecla para iniciar.

Ao final a pesquisadora registrava no verso da folha de registro de cada participante a frequência dos cliques. Após o participante ter lido as instruções e declarar que entendeu a tarefa, ele pressionava a tecla de sua preferência e o experimento era iniciado. Os estímulos, então, apareceriam na tela do computador e o cronômetro do programa era imediatamente acionado. Os pontos acumulados poderiam ser trocados por uma ficha. Na folha de papel que se encontrava à direita do participante deveria relatar o que ele fez para que a palavra “PARABÉNS” fosse apresentada mais vezes na tela. O programa de superstição também contava com um recurso que media a quantidade de vezes que o participante clicou em cada estímulo (bastando pressionar F6). O participante foi informado também que poderia interromper a sessão quando quisesse, bastando chamar a experimentadora. Porém, trocariam os pontos pelas fichas aqueles que concluíssem a sessão.

Após a coleta de dados das sessões experimentais (TF-20’’), o material registrado em vídeo foi transcrito. O procedimento para transcrição do material registrado em vídeo consistiu no registro cursivo dos eventos comportamentais, isto é, o registro das ações dos participantes que ocorreram durante a sessão experimental nomeando-as individualmente. A categorização dos eventos comportamentais foi realizada após todas as fitas terem sido transcritas. Ainda assim, as fitas foram reprisadas tantas e quantas vezes fossem necessárias na medida em que o evento comportamental ia sendo categorizado e anotado nas folhas de registro.

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Figura 2

Freqüências dos comportamentos dos quatro participantes nas condições experimentais durante o TF 20’’ referentes à categoria “manipular o computador” cujas frequências variaram de 0 a 60

Frequência Frequência

Frequência Frequência

P1 P2

P3 P4

Minutos Minutos

Minutos Minutos

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As ações registradas foram (1) “Manipular o computador” sendo considerados qualquer manipulação feita no teclado, tela, mouse e borda do computador, (2) “Manipulação pessoal” como ‘passar a mão na face’, ‘passar a mão no cabelo’, ‘passar a mão na boca’, ‘colocar a mão na boca durante até 40 segundos’ e ‘permanecerem com a mão na boca durante a sessão’ e (3) “Manipulação de outros objetos” como ‘colocar a mão direita sobre o teclado’, ‘apanhar a caneta’, ‘tocar na folha’,

‘tocar no celular’, ‘colocar a caneta do lado esquerdo’, ‘colocar a mão na caneta’. Categorias de eventos comportamentais que envolviam (4) “Autoestimulação” tais como: ‘morder os lábios’, ‘limpar os dentes’, ‘cerrar os punhos’, ‘estalar os dedos’, ‘balançar o corpo na cadeira’, ‘coçar o rosto’, ‘bater a mão sobre a mesa’ e ‘elevar as mãos até a nuca’. Categorias que resultaram das (5) “Mudanças de posturas” como ‘erguer os ombros’, ‘erguer a mão em direção ao mouse’, ‘virar-se para frente e para trás’, ‘levantar as pernas’, ‘virar a cabeça de um lado para outro’, ‘virar o tronco de um lado para outro’,

‘olhar em direção a outro ponto na sala’, ‘olhar em direção ao relógio’ e ‘olhar em direção à folha de papel’. Ainda categorias sobre (6) “Expressões faciais”, como ‘franzir as sobrancelhas’, ‘sorrir’, ‘franzir a testa’, ‘fazer careta’ e ‘piscar os olhos’. Também categorias com os (7) “Eventos fisiológicos como,

‘tossir’, ‘respirar fundo’ e ‘mastigar’”. Ainda categorias de (8) “Comportamentos vocais” como ‘uai’. O presente estudo contou ainda com mais uma fonte de dados: a resposta verbal dos participantes a respeito da pergunta “O que você está fazendo para que os PARABÉNS apareçam na tela do comutador”. Deste modo, na folha em branco que se encontrava ao lado de cada participante, foi descrito o modo pelo qual seus comportamentos eram emitidos.

Resultados

Os resultados do experimento em que a palavra “Parabéns” foi disponibilizada em esquema de tempo fixo de vinte segundos serão apresentados em forma de gráfico e tabelas.

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A Figura 2 resume os dados obtidos com os quatro participantes. Nota-se que P1 manipulou o computador regularmente durante os dez minutos da sessão alcançando a frequência de quarenta e nove manipulações durante a sessão experimental. Já P2, manipulou o computador apenas uma vez no início da sessão.

Conforme dos dados da Figura 2, nota-se que P3 manipulou o computador até o sexto minuto da sessão cuja frequência foi a de 2. Infere-se que, provavelmente, essa participante discriminou as contingências vigentes pelo fato de ter parado de manipular o computador a partir do sexto minuto da sessão. Já P4, manipulou o computador até o sexto minuto com a freqüência de 2. Nos três últimos minutos da sessão a freqüência de emissões cai para zero, porém voltou a manipular o computador no minuto final do experimento com a frequência de 1.

Nas tabelas a seguir, estão resumidos os dados das categorias com os eventos comportamentais que envolveram as ações que resultaram no estabelecimento de contato físico dos participantes consigo mesmo ou com o ambiente experimental no transcorrer das sessões experimentais. Porém, nem todos os comportamentos podem ser categorizados como “supersticiosos”. A Tabela 8 apresenta comportamentos que podem ser definidos como do tipo supersticioso do presente estudo uma vez que foram comportamentos estereotipados e poucos comuns de ocorrerem.

A Tabela 2 refere-se a categoria “manipular o computador” e demonstra P1 com a maior taxas de resposta (duzentas e oitenta e oito) o que impossibilita afirmar que houve uma discriminação das contingências. Ao observar P2, em função da ausência do responder no comportamento referente a “manipular o mouse”, pode-se afirmar que o participante discriminou as contingências vigentes no experimento.

Tabela 2

Frequência e percentual da categoria e subcategorias de Manipular o computador Categoria/

Participante Manipular o teclado

F e % Manipular o mouse

(clicar) F e % Total

P1 279 / 91 9/ 9 288

P2 1 / 0 0/ 0 1

P3 3 / 0 6/ 0 9

P4 3/ 0 6/ 0 9

Total 285 21 307

A Tabela 3 trata da categoria “manipulação de objetos”. Nela, P3 se destaca como o participante que mais manipulou a caneta apresentando dezessete emissões, considerado como objeto no presente estudo. Por outro lado, P4 e P1 não tiveram nenhuma emissão.

Tabela 3

Frequência e percentual da categoria e subcategorias de Manipulação de objetos Categoria/

Participante Tocar a caneta F e % Tocar a folha de

papel/ F e % Total

P1 0 / 0 0 /0 0

P2 6/ 15 6 /15 12

P3 17 / 40 13/ 30 30

P4 0 / 0 0/ 0 0

Total 23 22 45

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A Tabela 4 refere-se às topografias comportamentais referentes à categoria “Autoestimulação”. Nesta, observa-se P3 tocando o cabelo catorze vezes, seguido por P4, que tocou o rosto por 12 vezes. Em contrapartida, P1, P2 e P3 não emitiram nenhuma freqüência comportamental relacionado à categoria “elevar as mãos até a nuca”.

Tabela 4

Frequência e percentual da categoria e subcategorias de Autoestimulação

Categoria/ Participante

Tocar o corpo/ F e %

Tocar o cabelo/ F e %

Tocar o rosto/ F e %

Elevar as mãos até a nuca/ F e %

Total

P1 7/ 12 0/ 0 0/ 0 0/ 0 7

P2 0/ 0 3/ 4 10/ 17 0/ 0 13

P3 3/ 4 14/ 22 5 /8 0/ 0 22

P4 5/ 8 0/ 0 12/ 20 3/ 5 20

Total 15 17 27 3 62

A Tabela 5 refere-se à categoria “mudança de postura”. De todas as suas topografias, “erguer a mão em direção ao mouse”, emitidos por P2, contou com seis emissões. Ainda na mesma topografia, P3 e P4 tiveram cinco emissões cada. Porém, P2 e P3 não tiveram nenhuma emissão tabulada referente à categoria “olhar em direção a outro ponto da sala”.

Tabela 5

Frequência e percentual da categoria e subcategorias de Mudança de Postura

Categoria/ Participante

Erguer os ombros/ F e %

Erguer a mão em direção ao mouse/

Fe %

Olhar em direção a outro ponto na

sala/ F 3 %

Total

P1 3/ 9 4/ 12 3/ 9 10

P2 1/ 3 6/ 19 0/ 0 7

P3 2/ 6 5/ 16 0/ 0 7

P4 2/ 6 5/ 16 1/ 4 8

Total 8 20 4 32

A Tabela 6 refere-se às expressões faciais. “Fazer careta” e “sorrir” foram os comportamentos mais freqüentes (três emissões cada um), todos emitidos por P3. Já a topografia de piscar os olhos com força foi emitido apenas por P1.

Tabela 6

Frequência e percentual da categoria e subcategorias Expressões Faciais

Categoria /

Participante Sorrir / F e % Fazer careta/ F e % Piscar os olhos/

F e % Total

P1 1/ 9 0/ 0 2/ 16 3

P2 1/ 9 0/ 0 0/ 0 2

P3 3/ 25 3/ 25 0/ 0 6

P4 2/ 16 0/ 0 0/ 0 2

Total 7 3 2 13

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Comportamento em Foco 2001 | 1Cardoso . Britto

Dentre os comportamentos referentes aos eventos fisiológicos, a Tabela 7 demonstra “tossir” (P1) e “respirar fundo” (P4) os mais freqüentes, cada um com duas emissões. Já P2, P3 e P4 não demonstraram nenhuma emissão na categoria “mastigar”.

Tabela 7

Frequência e percentual da categoria e subcategorias eventos fisiológicos

Categoria/ Participante

Tossir/ F e % Mastigar/ F e % Respirar fundo/ F e %

Total

P1 2/ 33 1/ 17 0/ 0 3

P2 1/ 17 0/ 0 0/ 0 1

P3 0/ 0 0/ 0 0/ 0 0

P4 0/ 0 0/ 0 2/ 33 2

Total 3 1 2 6

A Tabela 8 refere-se aos comportamentos verbais gestuais considerados supersticiosos dos participantes. As topografias “piscar os olhos com força” e “elevar as mãos até a nuca, partindo dos joelhos” podem ser consideradas supersticiosas pelo fato de não ter nenhuma relação de causalidade e por serem topografias pouco comuns e particulares.

Tabela 8

Frequência e percentual dos comportamentos considerados supersticiosos

Categoria/

Participante Elevar as mãos até a nuca/ F e % Piscar os olhos/ F e % Total

P1 0/ 0 2/ 40 2

P2 0/ 0 0/ 0 0

P3 0/ 0 0/ 0 0

P4 3/ 60 0/ 0 3

Total 3 2 5

Discussão

Os estudos experimentais são de grande valia por proporcionarem uma visão ampla e completa sobre o comportamento humano, uma vez que nele se tem um alto nível de controle de variáveis, proporcionado assim uma observação confiável. Como tarefa experimental, o estudo contou com um programa de computador onde eram apresentadas as imagens dos seguintes estímulos: mulher, cachorro, comida e casa durante todo o experimento. De vinte em vinte segundos os “PARABÉNS” eram disponibilizados na tela do computador. Optou-se por este tipo de tarefa por se observar estudos que utilizavam recursos da informática como é o caso dos estudos de Mellon (2009).

Por meio dos registros em vídeos durante as sessões experimentais vários comportamentos foram observados. Uns interessantes pela freqüência; outros, pela topografia. O comportamento de manipular o computador, emitido por P1, teve uma taxa de mais de duzentas emissões, a mais alta do estudo. Pelo fato de se tratar de uma tarefa realizada em um computador, o comportamento de

“manipular o computador” pode não ser caracterizado como supersticioso. Ou seja, o participante pode ter emitido o comportamento não por uma relação errônea de causalidade, mas sim por ser

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Comportamento em Foco 2001 | 1 Cardoso . Britto

uma habilidade própria de seu repertório. Até porque, manipular computador é experiência comum para a maioria dos estudantes universitários.

Houve, no entanto, outro comportamento que chama atenção pela sua topografia descrito na Tabela 8. Sentado diante do computador, com as duas mãos sobre os joelhos, o participante as iam levantando lentamente, num movimento semicircular até tocar a nuca. Este trajeto, do joelho até a nuca, demorava cerca de vinte segundos. Quando ele tocava a nuca, os “PARABÉNS” eram liberados. Essa ocorrência se dava ao fato único da temporalidade. Coincidentemente, o momento do toque na nuca era o mesmo da liberação do reforço. Essa topografia ocorreu três vezes e sequencialmente.

Este tipo comportamento pode ser considerado supersticioso, pois se trata de um comportamento estereotipado e de difícil emissão por outro participante nas mesmas condições. No presente estudo, o participante emitiu um comportamento estereotipado funcionalmente semelhante ao do participante dos estudos de Ono (1987) que batia com o chinelo no teto da cabine experimental. É cabível a hipótese de que ele não tenha discriminado as contingências e que tenha formulado uma relação de causalidade errônea entre fazer o movimento de tocar a nuca e o reforço ser liberado. Referências Bibliográficas

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