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(1)

Á VOLTA DO MUNDO 195 collocados em posições officiaes, q u e me par-

ticipem p o r escripto na p r i m e i r a o p p o r t u n i - dade de correio depois da publicação d'esta p r o c l a m a ç ã o , a s u a vontade de c o n t i n u a r e m ou não, sob a nova f ô r m a de governo, a oc- c u p a r e m a s s i t u a ç õ e s e m q u e agora e s t ã o .

Deus salve a r a i n h a . — D a d a e sellada p o r m i m e m P r e t o r i a , T r a n s v a a l , n'este duodéci- mo dia de abril do a n u o do S e n h o r de mil oito c e n t o s setenta e sete.

(a) T. Shepstone, c o m m i s s a r i o especial de Sua Magestade e a d m i n i s t r a d o r do g o v e r n o . P o r o r d e m de s u a excellencia, (a) M. Os- born, s e c r e t a r i o .

I I I

P R O T E S T O S DO T R A N S V A A L C O N T R A A A N N E X A Ç Ã O , 1 8 7 7

Protesto

C o n s i d e r a n d o q u e eu, T h o m a z F r a n ç o i s B u r g e r s , p r e s i d e n t e da republica da Africa Austral, recebi um d e s p a c h o , c o m data de 9 do c o r r e n t e , de Sir Theophilo S h e p s t o n e , c o m - m i s s a r i o especial de Sua M a g e s t a d e b r i t a n - nica, a n n u n c i a n d o - m e ter s. ex.a resolvido, em n o m e do g o v e r n o de Sua Magestade, col- locar a republica da Africa A u s t r a l , p o r an- n e x a ç ã o , sob a auctoridade da corôa b r i t a n - nica.

E c o n s i d e r a n d o q u e s o u i m p o t e n t e p a r a com b o m êxito d e s e m b a i n h a r a e s p a d a p a r a d e f e n d e r a i n d e p e n d e n c i a do E s t a d o contra u m a potencia s u p e r i o r c o m o é a Inglaterra, e q u e tendo além d'isso em attenção o b e m e s t a r de toda a Africa A u s t r a l , me não sinto inclinado a envolver os s e u s h a b i t a n t e s b r a n - cos e m u m a g u e r r a d e s a s t r o s a , p o r u m a at- titude m i n h a , d e t e r m i n a d a m e n t e hostil, s e m q u e p r i m e i r a m e n t e s e t e n h a m e m p r e g a d o p o r m o d o s pacíficos, todos os m e i o s de a s - s e g u r a r os direitos do p o v o ;

Eu, ém n o m e e c o m o r e p r e s e n t a n t e da auctoridade do g o v e r n o e do povo da republi- ca da Africa Austral, p r o t e s t o s o l e m n e m e n t e p o r esta f o r m a contra a p r o j e c t a d a a n n e x a ç ã o . Dada sob o m e u proprio p u n h o , e sellada

com o sello do Estado, na secretaria do go- v e r n o em Pretória, no dia 11 de abril do a n n o de 1877.

Thos. Burgers, p r e s i d e n t e .

Resolução do conselho exxulico da republica da]Africa Austral, datada de 11 de abril de 1877 — Artigo 7."

Foi a p r e s e n t a d o u m d e s p a c h o d o c o m m i s - s a r i o especial de Sua Magestade Britannica c o m data de 9 de abril de 1877, p a r t i c i p a n d o ter s . exc.a decidido p r o c l a m a r s e m d e m o r a a a u c t o r i d a d e b r i t a n n i c a s o b r e a republica da Africa Austral, e r e s o l v e u - s e :

Que c o n s i d e r a n d o q u e o g o v e r n o de S u a Magestade Britannica, na convenção celebra- da no rio Sand em 1852 se o b r i g o u s o l e m n e - m e n t e a r e c o n h e c e r a i n d e p e n d e n c i a dos po- v o s ao n o r t e do rio Vaal, e c o n s i d e r a n d o q u e o Governo da r e p u b l i c a da Africa A u s t r a l n ã o s e a c c u s a d e ter j a m a i s dado q u a l q u e r p r e - texto p a r a u m a acção hostil da p a r t e do Go- v e r n o d e sua Magestade, n e m q u a l q u e r b a s e p a r a um tal acto de violência;

Que c o n s i d e r a n d o que este governo s e m - p r e se m o s t r o u p r o m p t o , e ainda o e s t á a fa- zer t u d o o que j u s t a e e q u i t a t i v a m e n t e lhe p o s s a s e r exigido, e a affastar t o d a s as cau- s a s d e d e s a g r a d o que p o r v e n t u r a e x i s t a m ; c o n s i d e r a n d o i g u a l m e n t e q u e o Governo em t o d a s as occasiões m o s t r o u a s u a s i n c e r a vontade de e n t r a r na negociação de t r a t a d o s ou convénios c o m o Governo de Sua Mages- tade com o fim de a s s e g u r a r protecção geral ás populações b r a n c a s da Africa A u s t r a l , e está ainda p r o m p t o a c u m p r i r p o n t u a l m e n t e t a e s c o n v é n i o s ; e c o n s i d e r a n d o , s e g u n d o se d e p r e h e n d e de d e c l a r a ç õ e s publicas de L o r d Carnarvon, Secretario de Estado p a r a as co- lonias, que não existe da parte do Governo Britannico desejo de compellir o povo da R e - publica da Africa A u s t r a l , c o n t r a s u a vonta- de, a acceitar a a u c t o r i d a d e do Governo Bri- t a n n i c o ;

E c o n s i d e r a n d o que o povo tem, por u m a g r a n d e maioria declarado c l a r a m e n t e em m e - m o r i a e s e d ' o u t r a s m a n e i r a s , que é a d v e r s o a e s s a a u c t o r i d a d e .

(Continua).

A U G U S T O D E C A S T I L H O .

(2)

19G Á VOLTA DO MUNDO

PELO MUNDO

E U R O P A

snr. ministro da marinha nomeou umas commissões X de homens conhecedores, por lá terem estado, das cou-

sas das nossas províncias ultramarinas, a fim de se reorganisar o estado financeiro das nossas possessões.

Sabemos que o illustrado ministro tem o máximo empenho em resolver esta importantíssima questão, principalmente no que toca aos nossos estados da índia, que, depois do tratado havido com a Inglaterra, segundo o affirma n'uin relatório, re- centemente publicado no Jornal do Commercio, o actual gover- nador Albuquerque vae n'um caminho seguro de prosperidade.

— Foi já assignado e publicado na folha officiai o contracto celebrado entre o governo portuguez e o SI a fjord commitée house para a construcção do caminho de ferro de Mormugão.

O commitée foi representado por sir Donglos Farster e o governo portuguez p3lo snr. ministro da marinha e ultramar.

O contracto é extensíssimo e tiraram-se d'elle cópias em inglez e portuguez. E' dos chamados contractos a longo praso, porque vigorará por noventa e nove annos, a contar da dato da abertura do caminho de ferro ao serviço publico. O governo concede gratuitamente á companhia todos os terrenos para a construcção da linha ferrea, telegraphos e respectivas depen- dencias. Os terrenos concedidos e os edilicios que n'elles se con- struírem são isentos de todos os impostos, rendas, direitos e bem assim todo o material importado pela companhia.

São egualmente concedidas á companhia as florestas do estado, que ella poderá explorar gratuitamente, sob a inspec- ção do governo. Os rendimentos da companhia serão egualmente isentos de impostos. Os telegrammas do governo portuguez no territorio inglez e os do territorio inglez no território portuguez serão transmittidos á fronteira gratuitamente e de preferencia a todos os outros.

O gosrerno portuguez pagará todos os seis mezes á compa- nhia a quantia necessaria para dar um dividendo de 5 p. c.

sobre 800:000 libras., ficando como garantia as 400:000 rupias que o governo inglez é obrigado a pagar a Portugal pelo con- tracto de 26 de dezembro de 1878. As obras do caminho de ferro registam-se em 800:000 libras e as do porto de Murmu- gão em 200:000 libras. .Veste poderá a companhia construir caes, dokas, planos inclinados, todas as obras d'arte que quei- ra, exactamente com todas as isenções e previlegios que tem para o caminho de ferro. Findos os 99 annos o governo portu- guez tomará conta de todas as obras realisadas, sem nenhum dos encargos da companhia, pagando um valor estipulado pela arbitragem dos peritos.

— A conimissão de marinha da Sociedade de Geographia Commercial do Porto, reunida ultimamente, deliberou:

1'roceder desde já a um inquérito ácerca dos meios de exis- tência da classe piscatória, estudando a melhor fôrma como se poderá obviar ás irregularidades da exploração da industria da pesca e ás contingências que lhes são relativas :

Estudar a influencia do caminho de ferro do Douro sobre a navegação fluvial : e a influencia das linhas ferreas do norte e sul sobre o commercio de cabotagem :

OITiciar á commissão nomeada pela portaria de 26 de no- vembro de 1879, encarregada pelo governo para que estudasse a forma e meios a empregar para o estabelecimento de postos de salvação, rogando-se-lhe queira fornecer à Sociedade de Geo- graphia os resultados dos seus estudos e trabalhos.

Foi tomado em consideração um officio da commissão dos capitães de Espozende, chamando a attenção da sociedade so- bre as provações por que está passando a marinha mercante nacional.

— M. E. Cambier, capitão d infanteria, addido ao estado maior do exercito belga que fez parte da expedição da Associa- ção Internacional Africana, chegou a Marselha a bordo do F.r- gmantlie. M. Cambier tinha sido encarregado d'estabelecer em Karéma no lago Tanganyika uma estação hospitaleira e a sua missão foi felizmentelevada a cabo. Este corajoso explorador foi substituído, depois de se ter demorado dois annos nos logares visitados por Livingstone, Cameron e Stanley, por quatro via-

jantes belgas dos quaes dois irão para Nyangué depois da esta- ção das chuvas com o fim de fundar uma segunda estação hos- pitaleira. Estes postos são creados com o fim de facilitar a ex- ploração do centro da Africa com intuitos commerciaes, scien- ti ticos e religiosos.

AFRICA

A Companhia Ruballino acaba de ver surgir uma rival. O sultão de Zanzibar ordenou que tres vapores estabelecessem com- municações regulares entre Zanzibar, Aden, Hodeida, Massa- nah, Djeddah e Sonakim. Os capitães e a tripulação são natu- raes de Zanzibar, os maehinistas são portuguezes*

A 18 de janeiro um vapor, tendo arvorada a bandeira do sultão de Zanzibar, ancorou cm Sonakim; tinha a bordo um grande numero de peregrinos e de mercadorias com destino aos differentes portos do mar vermelho.

— Na ultima sessão da sociedade real de geographia de Londres, M. J. Stewart, engenheiro civil, fez uma communica- ção a respeito do lago Nyassa e do caminho fluvial, por meio do qual lá se poderia chegar. O viajante declarou que o fim da sua expedição era determinar a posição norte do lago Nyassa e de procurar uma communicação fluvial com o lago Tanganyika.

O viajante já reuniu um fundo de 46 contos para a sua em- preza. >1. J. Stewart já percorreu aquellas regiões e espera que um dia possam chegar barcos a vapor ao lago Tanganyika.

A M E R I C A

Noticia-se dos Estados-Unidos que o secretario da marinha nomeou uma commissão composta d'officiaes de marinha com o fim de se proporem os meios d'organisar uma expedição na- val, que vá em procura da Jeannette ao oceano Ártico. 0 con- tra-almirante John Hogers foi nomeado presidente da commis- são, composta d'officiaes muito distinctos.

— Dizem de Los Angeles que se acaba de fazer no deserto de Mogave uma descoberta, que produzirá uma revolução na viti- cultura da Califórnia do Sul. Dizem que uma pequena haste de uma videira espetada no tronco d'um cactus cresce com tanto vigor como se fosse plantada na terra. Este facto é considerado como d'uma grande importancia, pois que unicamente um ho- mem em um só dia pôde plantar uma grande extensão de vi- nhedo. A cepa trepa pelo cactus e produz uvas em abundancia, que amadurecem sem mais cultura. Egualmente se affirma que se obteem os mesmos resultados com o melão, com o pepino e com os tomates, plantados da mesma fôrma nos cactus, de que ha abundancia no deserto, que assim em breve se transformará n'uma verdadeira quinta productiva.

E' claro que apenas damos esta noticia como curiosidade, deixando ao jornal, onde a lemos, toda a sua responsabilidade.

O C E A N I A

Formou-se uma companhia com o fim d'estabelecer na costa da ilha de Bornéo uma nova colonia analoga áquella que, com tanto êxito, fundou o rajah Brooke na pequena ilha visinha de Sarawak.

Os iniciadores d'este projecto, para o qual solicitam a pro- tecção official do governo inglez, estão em relações com os che- fes indígenas, que se mostram nas disposições mais favoraveis para com esla tentativa de colonisação europèa.

A immensa extensão da ilha, a riqueza do solo e dos pro- ductos naturaes nas raras partes que se teem explorado, fazem olhar com uma grande sympathia para os esforços dos auctores do projecto. A visinhança das Filippinas, das índias neerlande- zas, de Singapura, da Cochinchina e da China meredional fa- cilitarão o começo das relações da colonia projectada, que ul- teriormente poderá servir de base para a exploração de toda a ilha e assim abrir á civilisação e ao commercio um territorio vasto e fértil, ao mesmo tempo que um mercado á actividade dos europeus.

L i s b o a , 25 d ' a b r i l de 1881. A. L.

(3)

Á VOLTA DO MUNDO 197

A R U S S I A L I V R E

(Continuado do numero antecedente)

X X

A S C I D A D E S

•^lljioLLOCADAS fóra do cantão e do volost, as

^ H l cidades são r e g i d a s p o r princípios to- talmente différentes. O b u r g u e z tem o p o d e r , que não p o s s u e o h a b i t a n t e da aldeia, de c o m p r a r e vender, de fabricar e aperfeiçoar, de fazer p a r t e de c o r p o r a ç õ e s ; c o m t u d o , está t a m b é m agrilhoado ao seu officio como o al- deão ao solo. As s u a s c a s a s são t a m b é m cons- t r u í d a s de m a d e i r a ; m a s tintas v e r d e s e côr d e rosa dão-lhes u m aspecto m a i s r i s o n h o ; os p a v i m e n t o s d a s r u a s são f o r m a d o s de ta- b o a s , m a s as r u a s s ã o l a r g a s e b e m c o n s e r - v a d a s . A cidade não se a d m i n i s t r a a si pro- pria : no ministro, no g o v e r n a d o r , no chefe da policia encontra os s e u s t u t o r e s . A aldeia é u m a republica i n d e p e n d e n t e ; a cidade é u m a fracção do i m p é r i o .

E x c e p t u a n d o cinco ou seis g r a n d e s cen- t r o s de população, todas as cidades r u s s a s teem o m e s m o a s p e c t o ; depois de se terem visitado d u a s ou très em différentes p o n t o s do império, viram-se todas. Visite-se u m a ci- dade q u a l q u e r d e s e g u n d a classe b a n h a d a p o r um rio, c o m o o são quasi todas, d e s d e o Onega até Rostoff ou d e s d e Nijni a K r e m e n c h u g e as p r i m e i r a s coisas que a t r a h i r ã o a v o s s a at- tenção são : u m a torre, u m a cadeia, um m e r - cado de peixe, u m a cathedral e um b a z a r . N'uma e 11'outra m a r g e m do rio e r g u e m - s e edifícios religiosos; u m a ponte de b a r c a s põe e m c o m m u n i c a ç ã o a s d u a s m a r g e n s . J u n t o do caes a c c u m u l a m - s e smacks e j a n g a d a s ; aquelles c a r r e g a d o s de peixe e e s t a s f o r m a - d a s de t r o n c o s de pinheiros. Que multidão no caes ! m a s que ar grave e pezaroso ! Que as- pecto p o u c o limpo tem toda esta g e n t e ! A s u a tristeza p r o v é m do clima, a porcaria é propria do Oriente «sim, sim, diz um moujick, f a d a n d o d ' u m dos s e u s - v i s i n h o s , é um ho- m e m muito respeitável, veste r o u p a lavada u m a vez p o r s e m a n a » . O h a b i t a n t e dos cam- p o s come pouca c a r n e ; o seu j a n t a r m e s m o

VOLUME I. — FOL. 25.

n o s dias q u e não são d e j e j u m , c o m p õ e - s e d ' u m b o c a d o de pão negro e d ' u m a p o s t a de b a c a l h a u salgado. E' olhar p a r a elle e r e p a - r a r c o m o elle lucta por c a u s a d ' u m kopek!

Com o a r t i s t a c a u s a p r a z e r até o tratar nego- c i o s ; é c o n d e s c e n d e n t e , está s e m p r e satis- feito, p r o m p t o s e m p r e a c o n t e n t a r o freguez tanto pelas s u a s o b r a s , c o m o pelas s u a s p a - l a v r a s ; todavia n u n c a s e pôde ter u m a g r a n - de certeza de q u e c u m p r i r á as p r o m e s s a s que fizer. O artista r u s s o não tem u m a n o ç ã o b e m clara do t e m p o e do e s p a ç o e se p r o - metteu e n t r e g a r u m a obra ás dez h o r a s da m a n h ã não s e r á fácil fazer-lhes c o m p r e h e n - d e r q u e fez mal em só a e n t r e g a r ás onze da n o u t e .

Ao c h e g a r ao m e r c a d o s e n t e m - s e a s p h i - x i a n t e s e m a n a ç õ e s d'azeite, de sal, de vina- gre que se e x a l a m de m o n t õ e s de f r u c t o s , de t r i p a s de b a c a l h a u e de s a r d i n h a s . Os prin- cipaes artigos de venda são pão, loiças de b a r r o , d ' e s t a n h o , p r e g o s e i m a g e n s de s a n - tos. O p a v i m e n t o do m e r c a d o não é. m a i s do que um lamaçal i m m u n d o pelo meio do qual estão a l g u n s p e d r e g u l h o s soltos, que auxi- liam o c o m p r a d o r a ir d'um lado para o o u t r o .

Um negociante de peixe p e r t e n c e s e m p r e ao s e x o q u e cada um lhe a p r a z d a r e m e s m o , q u a n d o revendica p a r a si a h o n r a de p e r t e n - cer ao bello s e x o , é difficil e n c o n t r a r na s u a p h i s i o n o m i a ou no t r a j e q u a l q u e r c o u s a que o distingua do s e x o forte, m a s a q u i não o m a i s feio. V e n d o u m a m u l h e r j u n t o do seu marido, s o b a acção d ' u m n o r d e s t e vivo, e m - b r u l h a d a na s u a pelle de carneiro com u m a s p o l a i n a s de pelle de veado, o r o s t o contra- indo pelo frio, as m ã o s e n e g r e c i d a s pelo tra- balho, seria impossível o dizer qual dos dois era o h o m e m , se a este a Providencia n ã o lhe tivesse d a d o a b a r b a como distinc- tivo. Ha d u a s c o u s a s , que fazem r e c o n h e c e r o r u s s o , q u a n d o está m i s t u r a d o com habi- t a n t e s de o u t r o s p a i z e s : são a b a r b a e as bo- t a s ; m a s c o m o m u i t a s m u l h e r e s u s a m d o m e s m o g e n e r o de calçado, não ha c a r a c t e - rístico certo p a r a r e c o n h e c e r o h o m e m , se não os pellos q u e lhe a d o r n a m a face.

NUMERO 13.

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198 A VOLTA 1)0 MUNDO No b a z a r estão as lojas, cavidades p r o -

f u n d a s , e g u a e s á s v e l h a s t e n d a s m o u r i s c a s de Sevilha e de G r a n a d a , em q u e o" nego- ciante está ao balcão, m o s t r a n d o um p o b r e s o r t i m e n t o de tecidos, de loiças, de s a n t o s e de velas. Depois do pão de cevada e do peixe salgado, os artigos, q u e teem m a i s p r o c u r a , são as . i m a g e n s de s a n t o s e as c a r t a s ; na

R ú s s i a todo o m u n d o reza e j o g a : o n o b r e no seu club, o negociante na sua loja, o b a r - queiro no seu barco, o peregrino j u n c t o da cruz. O a m o r pelo jogo e pela prece p a r e c e m ter u m a raiz c o m m u m : uma especie de fe- tichismo, a confiança no poder d a s c o u s a s invisíveis, na virtude do accaso. Como as c r e a n ç a s o R u s s o p r e n d e - s e a tudo que é ex-

t r a o r d i n á r i o e elle proprio se estima na razão directa da sua. credulidade.

Todos a r r i s c a m a o jogo q u a n t i a s e n o r m e s , r e l a t i v a m e n t e aos h a v e r e s de cada u m , e na- da m a i s vulgar, do que ver um b u r g u e z , ins- talado em f r e n t e d'uni parceiro, p e r d e r pri- meiro o d i n h e i r o , depois as botas, o seu boné, o seu caftan, n ' u m a palavra tudo q u a n t o tiver em cima de si, incluindo m e s m o a c a m i s a . Salvo a a g o a r d e n t e nada tein um p o d e r m a i s

s e g u r o d ' e n t r e g a r um r u s s o ao demonio, do q u e um b a r a l h o de c a r t a s .

Mas r e p a r e m : o s j o g a d o r e s a b a n d o n a m r e p e n t i n a m e n t e as cartas, d e s c o b r e m - s e e c a e m de j o e l h o s . Um p a d r e desce a rua com a cruz. E' dia de feira na cidade, vae i n a u g u - r a r ou b e n z e r a l g u m a das lojas do b a z a r ; a q u e l l e s q u e até ali e s t a v a m a j o g a r a cami- za, rezam agora com fervor, h u m i l d e m e n t e p r o s t r d o s na r u a e n l a m e a d a .

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200 A VOLTA A cerernonia, pela qual u m a loja, u m a

t e n d a , u m a c a s a , é c o n s a g r a d a a Deus, tem u m a certa poesia. P r e v e n i d o a n t e c i p a d a - m e n t e , o pope fixa a hora p a r a a b e n ç ã o , afim de que p a r e n t e s e a m i g o s p o s s a m a s s i s t i r . Chegada a h o r a o p a d r e tira a cruz do altar e, precedido d ' u m c h a n t r e e d ' u m diácono e s e g u i d o d ' u m m e n i n o do côro com o t h u r i - bulo, avança p o r e n t r e u m a multidão d'ho- m e n s e de m u l h e r e s a j o e l h a d o s , dos q u a e s a m a i o r p a r t e s e g u e o s a c e r d o t e á i n a u g u r a - ção, j u l g a n d o - s e m u i t o felizes p o r tão fácil e e c o n o m i c a m e n t e p o d e r e m aproveitar-se d a s b ê n ç ã o s do S e n h o r .

Depois d ' e n t r a r o limiar da loja ou da casa, o p a d r e lê as r e z a s p r ó p r i a s , a b e n ç o a o d o n o e por fim s a g r a o edifício, p o n d o no logar d ' h o n r a a i m a g e m do s a n t o p a t r o n o do p r o - prietário, de m a n e i r a q u e nada ali p o s s a s e r feito s e m q u e aquella sentinella celeste o veja.

Ainda q u e b a s t a n t e o r d i n a r i a s , debaixo do ponto de vista da arte, e s t a s i m a g e n s ins- p i r a m respeito e a v e n e r a ç ã o . A a l g u m a s lé- g u a s de T a m b o v vivia u m a velha d a m a , q u e u s a v a p a r a o s s e u s s e r v o s d e u m a tal cruel- d a d e q u e o s d e s g r a ç a d o s , e x a s p e r a d o s pelas t o r t u r a s do knout e d a s r e p e t i d a s p r i s õ e s , i r r o m p e r a m pelo q u a r t o da feroz velha, a n - n u n c i a n d o - l h e q u e era c h e g a d o o m o m e n t o da expiação, que ia m o r r e r . Saltando a b a i x o da c a m a , a velha tirou da p a r e d e a i m a g e m da Virgem e a p r e s e n t o u - a aos revoltados, c o m o se os d e s a f i a s s e a que l e v a n t a s s e m a m ã o s o b r e a Mãe de Deus. T r a n z i d o s de m e d o , r e s p e i t o s o s , o s a g g r e s s o r e s r e t i r a r a m - s e s e m mal a l g u m fazer á d a m a . Mas a n i m a d a com este êxito, a velha d e p e n d u r o u n o v a m e n t e a i m a g e m na p a r e d e , vestiu um vestido e d e s - ceu ao p a t e o ; e s q u e c e u - s e q u e já não estava protegida pelo talisman e os a m o t i n a d o s ca- h i r a m - l h e e m cima a r m a d o s d e g r a n d e s p a u s e a s s a s s i n a r a m - n ' a á p a u l a d a .

O e s t r a n g e i r o , que p e r c o r r e a cidade, fica s u r p r e h e n d i d o com o n u m e r o de t a b e r n a s q u e yê e com a multidão de b ê b a d o s que en- c o n t r a . E n t r e as r e f o r m a s s e c u n d a r i a s a q u e a c t u a l m e n t e o b u r g u e z tem de se r e s i g n a r , c o n v é m n o t a r aquella q u e c o n s i s t e em dimi- n u i r a força alcoolica d o s líquidos. O impe- r a d o r o r d e n o u q u e o s licores fortes f o s s e m diluídos em a g u a e q u e cada medida c u s t a s - se cinco k o p l e s , em vez de quinze c o m o até

1)0 MUNDO

aqui. Esta r e f o r m a a g r a d o u p o u c o aos b e b e - d o r e s de p r o f i s s ã o , que d e s i g n a m as a c t u a e s b e b i d a s pelo n o m e de dechofka (bebidas eco- n ó m i c a s ) ; m a s o s m a i s i n g é n u o s a g r a d e c e m tão g r a n d e beneficio ao s o b e r a n o , d i z e n d o :

«Como é b o m o n o s s o czar, d á - n o s tres co- p o s de w h i s k e y pelo p r e ç o d ' u m só!» E to- davia, a p e z a r de s e r e m f r a c a s as b e b i d a s , fa- zem vacillar os b e b e d o r e s , p o r q u e os esto- m a g o s a n d a m vasios, o s m u s c u l o s óom p o u - co tonicidade e o s a n g u e descolorido. Se o R u s s o fosse m e l h o r alimentado, a avidez pe- las b e b i d a s diminuiria. Felizmente a e m b r i a - guez não torna o R u s s o r i x o s o ; canta, ri, p r e t e n d e a b r a ç a r q u e m e n c o n t r a n a r u a . Nada m a i s e n g r a ç a d o , do q u e vêr dois moajiks bê- b a d o s v i a j a r n ' u m trenó, a b r a ç a d o s t e r n a - m e n t e e com as faces m e i g a m e n t e e n c o s t a - d a s . E s t á u m b ê b a d o p r o f u n d a m e n t e a d o r - mecido n ' u m a r u a e m cima d o l a m a ç a l ; u m o u t r o não m e n o s b ê b a d o a t r a v e s s a a r u a , avista o n o s s o h o m e m , aconchega-lhe a r o u - pa e pedindo p e r d ã o aos d e u s e s e a o s ho- m e n s , deita-se c o m o um terno amigo, ao lado do seu i r m ã o .

X X I

KIEV

A s cidades m a i s a n t i g a s d a R ú s s i a , a s s u a s a n t i g a s capitaes, bem a n t e r i o r e s á cons- t r u c ç ã o do Palacio d'Inverno, á edificação de K r e m l i n q u e s e e r g u e s o b r e a s m a r g e n s d e M o s k o w a , n ' u m a palavra Kiev e Novogorod s ã o ainda as cidades poéticas e a d o r a d a s do i m p é r i o ; a primeira é a c o l u m n a da fé, a se- g u n d a é o esteio do p o d e r imperial.

Kiev não faz p a r t e da R ú s s i a p r o p r i a m e n t e dita e m a i s d ' u m historiador a c o n s i d e r a c o m o u m a cidade polaca. A população é r u - t h e n i a n a . D u r a n t e séculos Kiev foi um florão da coroa dos Jagellons. As planícies que se a l a s t r a m p a r a além da fronteira oriental do g o v e r n o de Kiev são os s t e p p e s da U k r a n i a , p a t r i a dos c o s s a c o s Z a p a r o g u e s , do h e t m a n Mazeppa, terra d a s l e g e n d a s c o m m o v e d o r a s e d o s c a n t o s i n s u r r e c c i o n a e s . A raça é pola- ca, os c o s t u m e s são polacos. E todavia é alli q u e se encontra o b e r ç o d ' e s s a Egreja que fez á s u a i m a g e m toda a vida politica, social e domestica da R ú s s i a .

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Á VOLTA A cidade compõe-se de três b a i r r o s , ou an- tes de très cidades distinctas : Podol, a Velha Kiev e P e t c h e r s k . T o d a s r e g o r g i t a m de re- partições, d ' a r m a z e n s e de c o n v e n t o s ; toda- via a primeira é e s p e c i a l m e n t e a séde do com- mercio, a s e g u n d a a do governo e a terceira a dos p e r e g r i n o s . C o n s t r u í d a s s o b r e p e n e d o s alcantilados ellas p e n d e m por cima cio Dnie- p e r ; a sua população pôde s e r calculada em 70 mil a l m a s ; divididos cm d u a s relíquias différentes Kiev g u a r d a todos os d e s p o j o s m o r t a e s do d u q u e pagão, q u e se t o r n o u o s a n t o m a i s reverenciado do paiz.

Kiev é a cidade d a s legendas, d o s factos m e m o r á v e i s ; ella viu Santo André, p r e g a n d o o zelo religioso de Santa Olga, a c o n v e r s ã o de S. V l a d i m i r , o assalto dos Mongols, a con- quista polaca, a Victoria definitiva de P e d r o , o Grande. As p r o v í n c i a s q u e estão em volta de Kiev, tiveram um destino c o m m u m e dis- p e r t a m e g u a l m e n t e u m g r a n d e n u m e r o d e r e c o r d a ç õ e s históricas. A U k r a n i a , patria de Mazeppa, tem os s e u s a n n a e s f e c u n d o s em f u g a s , e m a t a q u e s n o c t u r n o s , e m s a q u e s , e m p i l h a g e n s . Cada aldeia tem a s u a legenda, cada cidade o seu p o e m a épico de g u e r r a ou d ' a m o r . Tal capella e r g u e - s e no logar em q u e um g r a n d e d u q u e foi morto, tal e m i n e n - cia é a s e p u l t u r a d ' u m a h o r d a de t a r t a r o s n'aquella planície feriu-se u m a b a t a l h a con- tra os Polacos.

N'esta região os h o m e n s são m a i s b e m feitos, m a i s energicos, as c a s a s m e l h o r c o n s - t r u í d a s e os c a m p o s m a i s b e m cultivados q u e no norte ou no este. A m u s i c a é m e n o s mo- notona, a a g o a - a r d e n t e m a i s forte, o a m o r m a i s a r d e n t e , os odios m a i s p r o f u n d o s cio q u e n a s o u t r a s províncias do império. E' a patria cie Gogol; foi aqui que elle localisou a s s u a s novellas m a i s p o p u l a r e s .

J u n t o de d u a s altas colinas, a u m a légua da Velha-Kiev, onde Vladimir, c o n s t r u i u o seu liarem e e r g u e u a e s t a t u a do d e u s pagão, a l g u n s p i e d o s o s e r e m i t a s , Antonio e Theo- dosio, e s c a v a r a m na rocha galerias e collas s u b t e r r â n e a s ; aqui elles, m o d e l o s de todas as virtudes, viveram e m o r r e r a m como s a n - tos.

A palavra r u s s a q u e significa s u b t e r r â - neo é petchera, pelo q u e foi dado ao logar, onde p a s s a r a m a vida aquclles s a n t o s ere- m i t a s o n o m e de P e t c h e r s k . P o r cima d a s cellas, que os dois e r e m i t a s h a b i t a r a m , c o n s -

DO MUNDO 201 t r u i r a m dois c o n v e n t o s s o b a invocação de

Antonio e de T h e o d o s i o q u e m a i s tarde se t o r n a r a m os s a n t o s p r o t e c t o r e s de Kiev e f o r a m tidos c o m o os p a t r o n o s de todos os R u s s o s que se dedicam á vida m o n a s t i c a .

Declives s u a v e s a t a p e t a d o s de relva e a s - s o m b r e a d o s por arvores, c o m m u n i c a m o convento de Santo Antonio, d ' u m lado com a velha cidade e do outro com o m o s t e i r o de S. T h e o d o s i o . E s t e s dois edifícios, d ' u m es- tylo p u r o e g r a n d i o s o , d'uma c o n s t r u c ç ã o notável pela sua solidez, são tidos como os m a i s bellos da E u r o p a oriental. As c u p u l a s e os z i m b o r i o s elegantes e de vivas cores, que c o r o a m os dois edifícios, são do m a i s fino g o s t o ; t o d a s a s p a r e d e s estão o r n a m e n - t a d a s com q u a d r o s r e p r e s e n t a n d o factos d a vida d o s dois s a n t o s . Até o solo é s a g r a d o . U m a centena d ' e r e m i t a s h a b i t a m o s s u b t e r r â - n e o s e um g r a n d e n u m e r o d ' h o m e n s , victi- m a s voluntarias d a penitencia, estão s e m p r e p r o s t r a d o s ante os nichos que ladeiam as galerias s u b t e r r â n e a s . Todos c h o r a m o pó d'aquelles q u e alli tem m o r r i d o em cheiro cie s a n t i d a d e . Pó, disse eu. Que h e r e s i a ! Nunca o s c o r p o s d o s s a n t o s s e d e c o m p õ e m , n u n c a se c o r r o m p e m . A pureza da c a r n e na m o r t e n ã o é um signal evidente da sua pureza du- r a n t e a vida, e os d e s p o j o s dos b e m a v e n t u - r a d o s n ã o s ã o incorruptíveis c o m o o é a s u a a l m a ? No convento de Santo Antonio m o s - tra-se aos visitantes a cabeça de S. Vladi- m i r , ou a n t e s um bocado de velludo que di- zem envolvel-a. A f f i r m a m todavia que a pelle c o n s e r v o u a s u a natural flexibilidade, os m ú s c u l o s o aspecto de vida e q u e não tem m a u cheiro.

E' difficil a um e s t r a n g e i r o o ter opinião s e g u r a a respeito do estado de c o n s e r v a ç ã o d ' e s t e s s a n t o s : á vista só lhe a p r e s e n t a m tu- m u l o s ou um saco e u m a i n s c r i p ç ã o em lin- g u a g e m eslava.

Cincoenta mil p e r e g r i n o s , R u t h e n i a n o s na m a i o r p a r t e , vem d u r a n t e o verão, dos g o - v e r n o s de Podolia, cle Kiev e de Volhynie, visitar e s t a s relíquias.

Na e p o c h a em que Kiev sacudiu o j u g o T a r t a r o , as vicissitudes da g u e r r a f i z e r a m d'esta cidade moscovita u m a cidade p o l a c a ; a r r a n c a d a ao r a m o oriental da raça e s l a v a , foi r e u n i d a ao r a m o occidental. Até e n t ã o n u n c a ella tinha sido r u s s a como Moscou.

De todas as cidades r u s s a s do interior ó

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202

cila a m a i s bem situada. Edificada sobre r o c h e d o s alcantilados, domina uma im- m e n s a extensão de steppes e um poderoso rio navegavel. E' o porto e a capital da U k r a - n i a ; os R u s s o s do Dom, do Ural, do Rnies-

ter, ieem os olhos fitos n'ella e estão s e m p r e esperando as s u a s ordens. Com a mão direi- ta appoia-se na Polonia, com a esquerda na Rússia. Está ligada á Galicia e á Moldavia, faz frente aos Búlgaros, aos Montenegrinos

e a o s S e r b i o s : é um composto de Iodas as r a ç a s e de todos os cultos eslavos. Um terço da sua população é moscovita, um outro r u s - so e ainda cuti o polaco. Em religião é ortho- doxa, catholica-romana e professa também

o culto giego. Se alguma cidade da Europa

leune as condições requeridas para ser a ca- pital que a imaginação dos panslavistas so- nha, é sem duvida Kiev.

(Conti,, átt).

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Á VOLTA DO MUNDO 203

CRUZEIROS NA COSTA DAFRICA

(Continuado do numero antecedente)

« a s planícies a f r i c a n a s e n c o n t r a m - s e nu- m e r o s o s r e b a n h o s d'antilopes que d e preferencia f r e q u e n t a m a q u e l l a s em q u e h:i n a s c e n t e s d'agua, o n d e p o s s a m beber. P a r a os m a t a r o caçador deve e s p e r a l - o s . E' ditfi- cil alcançar a l g u m , a não s e r p o r s u r p r e z a , p o r q u e , q u a n d o o s r e b a n h o s p a s t a m , tecm s e m p r e de sentinella a l g u m velho m a c h o de

vista p e n e t r a n t e e ouvido fino, q u e dá si- gnal se algum inimigo se a p r o x i m a , e o re- b a n h o foge então com u m a rapidez i n c a l c u - lável. O leão g e r a l m e n t e p e r s e g u e os r e b a - n h o s dos antílopes e faz n'elles terríveis e s - t r a g o s . Comtudo não d e s p r e s a t a m b é m a s p i n t a d a s ou gallinhas d'Africa, e s a b e c o m todo o cuidado e s t u d a r os h á b i t o s d ' e s t a s aves, e de tal modo, que m u i t a s vezes c o m

P A L A C I O DO G O V E R N A D O R X\ G O K Ê A — Dcspnho de A. do li ir, segun lo nina photogr.iphia

u m meneio d ' u m a d a s s u a s g a r r a s a p a n h a m u i t a s d ' u m a só vez.

Um official que c o m m a n d a v a um d o s va- p o r e s q u e estacionava no rio, era muito a p a i x o n a d o pela caça d a s p i n t a d a s : e s t a s a v e s são m u i t o s e l v a g e n s e fogem com uma g r a n - de rapidez; só com muita difficuldade se pôde a p r o x i m a r d'ellas. Um dia este ofli -ial c o n s e g u i u a p r o x i m a r - s e d ' u m bando, e ao le- v a n t a r o vôo, deitou a terra dois f o r m o s o s e x e m p l a r e s . D i s p u n h a - s e já a levantar as s u a s victimas, q u a n d o u m a s patas terrivel- m e n t e a r m a d a s e f e l p u d a s s a h i r a m de den- tro d ' u m a moita e se a p o d e r a r a m das d u a s a v e s m o r t a s . E s c u s a d o é dizer (pie o caçador n e m m e s m o tentou d i s p u t a r a p r e s a ao rei

do deserto. Afastou-se r e c u a n d o e c a r r e g a n - do a sua carabina com d u a s b a l a s . O leão, esse, c o m o tinha sido servido a t e m p o , n e m se q u e r se m o s t r o u .

o leão anda só e não é p a r a t e m e r , q u a n - do o não a t a c a m . A f f i r m a r a m - m e q u e o m a - r a b ú , u m a especie de g r o u africano, cuja c a u - da n ó s v e m o s a d o r n a n d o m u i t a s vezes a ca- beça das n o s s a s p a r i s i e n s e s , paira s e m p r e nos logares f r e q u e n t a d o s pelo leão para se aproveitar dos r e s t o s que esta fera deixa d o s s e u s r e p a s t o s .

As o n ç a s que se vêem nas planícies v i s i - nlias do Senegal são pouco p a r a t e m e r ; a p a n t h e r a e o leopardo fogem t a m b é m á a p r o - x i m a ç ã o do h o m e m . Eu m u i t a s vezes d i s p a -

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204 A VOLTA rei s o b r e l e o p a r d o s s e m q u e e s t e s t e n t a s -

s e m voltar a traz.

O chacal a c o m p a n h a o leão e dizem q u e m u i t a s vezes é o seu f o r n e c e d o r . A' noite es- tes quaclrupedes s a h e m dos s e u s covis e ou- v e m - s e o s s e u s r u g i d o s l ú g u b r e s , q u e m u i - tas vezes c h e g a m a a s s e m e l h a r - s e a gritos d e c r e a n ç a s .

O lobo d o u r a d o é um p o u c o m a i o r do q u e o chacal.

A h v e n a é p o u c o de r e c e i a r pelo h o m e m . E s t e c a r n í v o r o r a r a m e n t e s a h e d e d i a ; a s e m a n a ç õ e s d o s c o r p o s e m d e c o m p o s i ç ã o at- t r a e m - n o p r i n c i p a l m e n t e e f r e q u e n t a de p r e - ferencia os cemiterios. E' p r e c i s o r o d e a r os t u m u l o s de g r a n d e s p e d r a s e cobril-os de e s - p i n h o s p a r a p r e s e r v a r o s r e s t o s q u e ali des- c a n c e m d a v e r o c i d a d e d a s h y e n a s . .

T a m b é m s e e n c o n t r a m n a Africa u n s o u - t r o s p e q u e n o s c a r n í v o r o s d o t a m a n h o d ' u m cão r e g u l a r . Tem u m a especie de s a c o con- tendo a l m í s c a r e são p r o c u r a d o s especial- m e n t e p o r c a u s a d'este p e r f u m e . E s t e animal tem u m a crina c o m o a h y e n a . A s u a pelle rajada de b r a n c o e p r e t o é de n e n h u m valor.

A caça no rio é m u i t o a t r a h e n t e em t o d a s as e s t a ç õ e s . D u r a n t e a e s l a ç ã o d a s c h u v a s r e q u e r ella m e n o s t r a b a l h o que d u r a n t e o t e m p o s e c c o ; e s t a n d o a s planicies i n u n d a d a s a caça a m o n t o a - s e s o b r e as elevações q u e e m e r g e m dos t e r r e n o s i n u n d a d o s , e n ã o é r a r o e n c o n t r a r e m - s e leões, javalis e o u t r o s q u a d r ú p e d e s a g l o m e r a d o s n ' u m p e q u e n o e s - paço.

O crocodilo povoa as a g u a s do S e n e g a l ; a baila redonda não lhe pôde p e n e t r a r a c o u r a ç a , m a s a baila cónica c o n s e g u e victi- mal-os.

Os n e g r o s g o s t a m m u i t o cla c a r n e do cro- codilo, m a s o activo cheiro d ' a l m i s c a r , de q u e está i m p r e g n a d a , torna-a r e p u g n a n t e p a r a o e u r o p e u .

C o n t a m - s e m u i t o s factos que fazem a c r e - ditar q u e o instincto do corcodilo é m u i t o d e s e n v o l v i d o . Depois de ter afogado a sua p r e s a , e s c o n d e - a e m c a v e r n a s d e b a i x o d ' a g u a e c o n v i d a os s e u s c o n g e n e r e s p a r a a devo- r a r e m .

Os n e g r o s m u i t a s vezes são a r r e b a t a d o s p o r e s t e s a m p h i b i o s . A l g u m a s m u l h e r e s m o s - tram u m a g r a n d e c o r a g e m p a r a s a l v a r o s fi- lhos, c h e g a n d o m e s m o a sacrificar a l g u m (los s e u s m e m b r o s . A tradição diz q u e é ne-

1)0 MUNDO

c e s s a r i o m e t t e r os d e d o s nos olhos do cor- codilo p a r a o fazer l a r g a r a p r e s a . E' r a r o q u e o s corcodilos a t a q u e m o s r e b a n h o s , q u a n d o a t r a v e s s a m o s r i o s ; m a s , q u a n d o o s bois estão i s o l a d o s e se c h e g a m á beira d'agua p a r a b e b e r , são m u i t a s vezes a g a r r a d o s pe- las v e n t a s e a r r a s t a d o s p a r a o f u n d o .

A h a b i l i d a d e d o s p a s t o r e s p e ^ f e é p r o v e r - bial. Teem n o s s e u s r e b a n h o s u m a m a r a v i - lhosa influencia. Q u a n d o o p a s t o r receia o a t a q u e dos h o m e n s ou d o s carniceiros, o re- b a n h o r e u n e - s e ou d i s p e r s a - s e ao signal do p a s t o r , o b e d e c e n d o s e m p r e p o n t u a l m e n t e á s u a voz.

P a r a ir da terra f i r m e p a r a a ilha de Mor- fll, os r e b a n h o s a t r a v e s s a m o rio em N'dioum ou S a l d é ; os n e g r o s s e g u e m - n ' o s a n a d o e m u i t a s vezes são o b r i g a d o s a a g a r r a r os vi- tellos p a r a os l e v a r e m p a r a o lado p a r a o n d e s e d i r i g e m .

Os h i p p o p o t a m o s são n u m e r o s o s no Sene- gal. E n c o n t r a m - s e vestigios d'elles em todos os p a n t a n o s que c o m m u n i c a m com o Sene- gal. Caçam-se á e s p e r a .

O s n e g r o s t e m e m - n o s muito, p o r q u e lhes d e s t r o e m as c e a r a s , e logo que se dá signal d ' u m , aldeias inteiras o p e r s e g u e m . Os Yo- loffs são n'este g e n e r o excellentes c a ç a d o r e s .

No fim do outono, os m a c a c o s c o n c o r r e m ás m a r g e n s do Senegal e aos t e r r e n o s de C a y o r ; a l g u n s são p e q u e n o s e m u i t o feios e o u t r o s são p r e t o s e b a s t a n t e r o b u s t o s . Os m a i s p e q u e n o s são u n s m a c a c o s v e r m e l h o s , d ' o r e l h a s p e l l u d a s e p r e t a s . Saltam d ' a r v o r e em a r v o r e ao longo d a s m a r g e n s do Senegal, d a n d o u m e s p e c t á c u l o e x t r e m a m e n t e diver- tido. Q u a n d o se mata u m a m a c a c a , q u e te- n h a um filho, este não a a b a n d o n a . Os g r a n - des m a c a c o s d e Galam não a b a n d o n a m a s t e r r a s altas do alto Senegal, onde os a c c u s a m d e a s s o l a r a s c e a r a s . E s t e s c y n o c e p h a l o s p e r t e n c e m a t r è s ou q u a t r o e s p e c i e s différen- tes e são c a r a c t e r i s a d o s pela a u s ê n c i a da cau- da, p o r t e r e m callos na parte p o s t e r i o r e pelo seu focinho de c ã o ; são intelligentes, colhem com muita habilidade os fructos de que se ali- m e n t a m ; m a s o m a i s d a s vezes são maus,, m o r d e m e a t i r a m com muita destreza e vi- g o r g r o s s a s p e d r a s . A g a r r a m - s e o s m a c a c o s m e t t e n d o q u a l q u e r gulodice d e n t r o d ' u m a cabaça, onde elles m e t t e m a m ã o vazia e d'onde a não p o d e m t i r a r por não l a r g a r e m o objecto de q u e se a p o d e r a r a m .

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Á VOLTA DO MUNDO 205 Durante o t e m p o q u e e s t i v e m o s fundea-

dos na Goròa, r e u n i a m o s - n o s m u i t a s vezes oito ou dez c a ç a d o r e s p a r a e x p l o r a r os c a m - pos em volto de Dakar. Us g u i a s e os p r e t o s que nos t r a n s p o r t a v a m , e s t a v a m s e m p r e na praia á n o s s a e s p e r a , e nós c o m e ç á v a m o s a m a r c h a r para o interior no meio d ' u m a es- curidão que m u i t a s vezes a u g m e n t a v a por c a u s a do nevoeiro. Geralmente o guia ia na frente e um de nós servia de batedor, indo os o u t r o s officiaes atraz, em fila.

A l g u m a s vezes os c a ç a d o r e s noviços teem e n g a n o s e n g r a ç a d o s . Em 1832 estava eu na Gorèa a bordo da fragata Hermione. A's q u a t r o h o r a s da m a n h ã um escaller lançava- nos em terra. O guia fez-me p a r a r e disse-

me baixo em Yoloff g u i s n a : ((Olha». Uma ca- beça pelluda avistava-se por cima da s e b e de a r b u s t o s d ' e s p i n h o com que os n e g r o s c o s t u m a m cercar os s e u s longhans, campos- s e m e a d o s . Dei o signal, a e o l u m n a poz-se na defensiva, p r e p a r o u as a r m a s . Fui ao en- contro do animal que não fugiu n e m se lan- çou s o b r e m i m . I m m e d i a t a m e n t e reconheci q u e era o camello do correio de S. Luiz, q u e t r a n q u i l l a m e n t e descançava de tres dias de j o r n a d a .

Quando se p e r c o r r e o interior, ao a m a - n h e c e r l o n g a s filas de n e g r o s com c a b a y a s b r a n c a s o u a z u e s a p p a r e c e m s u b i t a m e n t e n o s c a r r e i r o s t r i l h a d o s ; vão, a n t e s que r o m p a o sol, d a s s u a s aldeias para o u t r a s t r a t a r d o s

1'HAÇA D O M E I í C A D O X A G O R Ê A — D e s e n h o d e A . d e B a r , s e g u n d o u m a p h o t o g r a p h i a

s e u s negocios ou para os s e u s t r a b a l h o s ! agrícolas. <) seu m a r c h a r é pesado e silen- cioso; cada um vae a r m a d o d'uma zagaia de ponta acerada ou d'uina especie de s a c h o com a fôrma d ' u m a cauda d'andorin!ia com

«pie cavam o solo. Quando n a s c e o sol viram- se para elle, a j o e l h a m - s e e fazem as s u a s genuflexões, p r o s t r a n d o a fronte em t e r r a . Os Africanos são muito religiosos.

Ao levantar do sol começa-se a caçar, m a s deve t e r m i n a r - s e ás dez h o r a s , por que, no caso contrario, os raios do sol a s s a s s i n a r i a m . o i m p r u d e n t e e u r o p e u que os a f f r o n t a s s e .

Nas c a ç a d a s a f r i c a n a s mil vozes d i v e r s a s de todos os lados a s s a l t a m o c a ç a d o r : ou- vem-se os últimos r u g i d o s do l e ã o ; o m u g i r dos r e b a n h o s faz fantasiar (pie o h o m e m do- mou o d e s e r t o ; as perdizes c o r r e m a b a i x a n - do as a z a s ; as codornizes c a n t a m ; os cucos fazem um b a r u l h o i n s u p o r t á v e l ; as p i n t a d a s lançam gritos e s t r i d e n t e s ; os g r a n d e s ea- |

V O L O I E I. — KOL. 26.

láos, c h a m a d o s dobi/icc pelos Yoloffs, fogem a bom c o r r e r . Esta ave é do t a m a n h o d ' u m gallo da índia, com u m a s c a m p a i n h a s d ' u m v e r m e l h o vivo e trazendo s o b r e o bico, m u i - to p r o e m i n e n t e , u m a protoberancia que lhe cobre a s n a r i n a s . E s t e a p a r e l h o emitte u m a s o n o r i d a d e que faz com que o grito do caláo se p a r e ç a com o s o m d'um clarim. P e q u e n o s faisões p a r d o s e t u c a n o s de c o m p r i d o s bicos c a c a r e j a m s o b r e as a r v o r e s , onde as perdi- zes a f r i c a n a s se e m p o l e i r a m , q u a n d o p e r s e - guidas pelos cães. Mil espécies d'aves de p l u m a g e m variada e brilhante se cruzam no ar. As viuvas de p e n n a s b r a n c a s , o mellia- r u c o de cauda b i f u r c a d a , o tordo, o pardal de bico de coral, as p e q u e n a s b e n g a l i n h a s de cores b r i l h a n t e s veem todas as m a n h ã s p r o c u r a r nos t e r r e n o s s e m e a d o s de milho m i ú d o o s u s t e n t o q u o t i d i a n o ; as rolas ge- m e m e n a m o r a d a s .

A l g u m a s lebres retarda ta rias p a r t e m d'aqui

(12)

206 A VOLTA 1)0 MUNDO e d'ali, e não r a r o vem e n c h e r as b o l s a s de

caça. O sonïmanga, especie de colibri africa- no, volteia rápido em r e d o r d a s flores q u e elle inspecciona c o m o seu bico r e c u r v o afim

de e n c o n t r a r os i n s e c t o s que são a s u a ali- m e n t a ç ã o .

(Contínua).

O H O M E M

1

IF|LSJ> HOMEM, c o m o s ê r o r g a n i s a d o , p e r t e n c e ao reino a n i m a l .

Teve um pae e u m a m ã e ; começa p e q u e n o , e c r e s c e até certo limite; s e n - te a fome, a sêde e as d o r e s ; d o r m e e satis- f a z - s e ; alimenta-se e fortalece-se; r e p r o d u z - se, decae, e n f r a q u e c e e m o r r e .

Como s e r intelligente, f ô r m a um reino á parte, o reino hominal, em que se c o n f u n - dem as c l a s s e s , as o r d e n s as famílias e os g e n e r o s , ficando só a especie.

O h o m e m participa, p o r t a n t o , dos a n i m a e s , m a s não é só a n i m a l ; b e m c o m o os a n i m a e s p a r t i c i p a m d o s vegetaes, e m q u a n t o ao p l a n o geral da vida, m a s não s ã o só vegetaes.

Este plano, q u e liga os vegetaes aos a n i - m a e s , liga os a n i m a e s ao h o m e m . Mas, se o s a n i m a e s s e s e p a r a m d o s vegetaes pela s u p e r i o r i d a d e da s u a o r g a n i s a ç ã o , locomo- ção, s e n t i m e n t o e relações de a m i s a d e , ou i n i m i s a d e , d ' u n s p a r a com os o u t r o s , e pelos m e i o s de c o m m u n i c a ç ã o etc., a s u a historia é b r e v e s s i m a , p o d e n d o e s c r e v e r - s e , a p e n a s , n ' u m a pagina de papel, ficando escripta p a r a s e m p r e . Mas o h o m e m s e p a r a - s e dos ani- m a e s , não só, pela s u a f ô r m a m a g e s t o s a e o r g a n i s a ç ã o a d m i r a v e l , a d e q u a d a a tudo e p a r a tudo, m a s pela l i n g u a g e m da voz arti- culada, pelo seu p e n s a r , pelos s e n t i m e n t o s de a m i s a d e e de a m o r , pelas p a i x õ e s vehe- m e n t e s de que é susceptível, pelo conheci- m e n t o do b e m e do mal, do bello, do subli- me, do a r r e p e n d i m e n t o , da e m e n d a , do d e s e - jo de s a b e r , da indagação, da satisfação d o s c o n h e c i m e n t o s , da imaginação, da invenção, do d e s e n v o l v i m e n t o e a p e r f e i ç o a m e n t o , da e s p e r a n ç a da i m m o r t a l i d a d e e do desejo de o u t r a vida, d a s c r e n ç a s religiosas, da socie- d a d e c o m r n u m de todos, e da sua historia,

i Extrahido da parte politica do Compendio de Geogra- phia, que brevemente sahirá á luz, devido ao sábio professor o snr. Augusto Luso.

e m f i m , tão d u r a d o i r a como elle, c u j o s volu- m e s não tem l i m i t e s ; historia s e m p r e nova, p o r q u e o h o m e m é s e m p r e novo, p o r q u e o h o m e m é o p r o g r e s s o .

Se os a n i m a e s , pela s u a s u p e r i o r i d a d e , se d i s t i n g u e m d o s vegetaes, servindo-se d'elles, p a s t a n d o a s h e r v a s , roendo a s raizes, f u r a n - d o a s m a d e i r a s d a s a r v o r e s , c o m e n d o - l h e s as folhas e os f r u c t o s t r e p a n d o - l h e s aos ra- m o s ; não l h e s p o d e n d o e s t e s e s c o n d e r - s e n e m e s c a p a r - s e - l h e s das u n h a s e d e n t e s ; n e m occultando no solo as raizes, aos r o e d o r e s e insectos, n e m , elevando a s c o p a s á s n u v e n s , aos t r e p a d o r e s e ás aves, n e m , no f u n d o d a s a g u a s , aos cetáceos e p e i x e s ; q u e r no f u n d o dos vales, q u e r no alto d o s m o n t e s ; o h o m e m m u i t o m a i s s e distingue dos a n i m a e s ! Pois, s e m a força e r o b u s t e z do elephante, do ca- mello, do h y p p o p o t a m o , e de g r a n d e n u m e - ro d'elles, é m a i s forte do q u e todos j u n t o s , p o r q u e s o u b e servir-se da alavanca, e pôde d e s c o b r i r e applicar as leis da m e c h a n i c a .

Se não tem a ligeireza e a rapidez do vea- do, nem pode alcançar o cavallo na c a r r e i r a , s e r v e - s e d'este m o n t a n d o n'elle, p a r a alcan- çar os o u t r o s ; e excede-os a todos com a descoberta do vapor.

Se não tem a vista do lynce, ou da aguia p a r a d e s c o b r i r a preza a g r a n d e distancia, p o d e n d o aquella e n c a r a r o sol, pela a d m i r a - vel c o n s t r u c ç ã o d a s s u a s pupillas, pode elle vêr os m o n t e s na lua, o annel de S a t u r n o , as f a x a s de J u p i t e r , e as m a n c h a s no sol, pela invenção d o s telescopios e dos vidros córa- dos, s e m offender a r e t i n a ; vêr os globulos do s a n g u e , a s u a circulação nos a n i m a e s , a da seiva n a s plantas, e os parazitas dos pe- q u e n o s insectos p o r meio do microscopio ;• e p ô d e até vêr os m e t a e s n o s a s t r o s e volatili- s a d o s , invisíveis e d i s p e r s o s no a r ; p o r que s o u b e f a b r i c a r o vidro e c o n s t r u i r um pris- m a .

Se não t e m a força m u s c u l a r e as g a r r a s do leão e do tigre, a todos subjeita e a b a t e

(13)

Á VOLTA DO MUNDO 207 pela invenção d a s a r m a s ; se lhe falta as azas

p a r a m o v e r - s e no ar, e carece de b a r b a t a n a s p a r a p o d e r a t r a v e s s a r a s a g u a s , pôde c r u z a r os m a r e s e e n t r a r n o s rios pela navegação, e elevar-se ás n u v e n s pelos a r e o s t a t o s .

Não lhe e s c a p a na c a r r e i r a o veado, não se lhe e s c o n d e na selva o tigre, não se lhe occulta na t e r r a o coelho.

Vê elevar-se a aguia, q u e se julga s e g u r a , d i s t a n c i a n d o - s e d'elle, e, s e m levantar-se um p a l m o do solo, pela invenção da polvora a vê c a h i r a s e u s p é s .

Nem n o f u n d o d a s a g u a s s e g u r o s são o s peixes, p o r q u e a s r ê d e s são obra d o h o m e m .

Os lobos foram e x p u l s o s da Inglaterra

que h a b i t a v a m , e não poderarn v o l t a r ; o ho- m e m tem povoado os l u g a r e s d e s h a b i t a d o s , f o r m a n d o nações q u e s e g o v e r n a m i n d e p e n - tes, e ligadas pelas relações de a m i z a d e scien- tificas, litterarias e c o m m e r c i a e s . Unidas es- tas, pela invenção da escripta p o d e m c o m - m u n i c a r e levar as s u a s ideias a t o d a s as p a r t e s d o m u n d o .

Pelo t e l e g r a p h o envia o h o m e m os s e u s p e n s a m e n t o s , que voam a distancia de cen- t e n a r e s de léguas, e, finalmente, s e p a r a d o p o r e s t a s distancias, pôde hoje c o n v e r s a r com os o u t r o s , c o m o se fôra no seu g a b i n e - te, p o r meio do telephonio.

A U G U S T O Luso.

> H B»K

A QUESTÃO DO TRANSVAAL

(Continuado do numero antecedente)

-SFLPP CONSIDERANDO c o m o este Governo com- -$§j§ii p r e h e n d e q u e não está em condições de m a n t e r pela e s p a d a contra u m a potencia s u p e r i o r c o m o é a Grã-Bretanha, os direitos e a independencia do povo, e de m a i s não tem d e s e j o p o r modo a l g u m , d e d a r u m p a s - so que faça dividir os h a b i t a n t e s b r a n c o s da Africa Austral, na p r e s e n ç a do inimigo c o m - m u m , u n s contra o u t r o s , o u que p o s s a le- val-os a um contacto hostil com grave perigo de toda a p o p u l a ç ã o christã da Africa Austral, s e m que p r i m e i r o tenha e m p r e g a d o todos o s m e i o s de, p o r m o d o s pacíficos e p o r u m a m e d i a ç ã o amigavel, a s s e g u r a r os direitos do p o v o :

O Governo protesta m u i t o e n e r g i c a m e n t e , contra este acto do c o m m i s s a r i o especial de Sua M a g e s t a d e ;

Resolve o u t r o s i m m a n d a r s e m d e m o r a á E u r o p a e á America u m a c o m m i s s ã o de dois delegados, com plenos p o d e r e s de addiciona- r e m u m a terceira p e s s o a , se o j u l g a r e m con- veniente, a fim de fazer a diligencia de apre- s e n t a r p e r a n t e o Governo de Sua Magestade os d e s e j o s e a vontade do povo, e, no caso de não s u r t i r isto o d e s e j a d o effeito, o que este Governo p r o f u n d a m e n t e l a m e n t a r i a , não o p o d e n d o ainda s u p p ô r , appellar então para o auxilio amigavel e p a r a a intervenção d o u - t r a s potencias, n o m e a d a m e n t e d ' a q u e l l a s que r e c o n h e c e r a m a independencia d'este E s t a d o .

P a r a m e m b r o s d'esta c o m m i s s ã o são no- m e a d o s o h o n r a d o p r o c u r a d o r geral dr. E.

J. P. J o r i s s e n , e S. J. P. Kruger, Vice-Presi- dente da Republica A u s t r a l .

IV

ESFORÇOS PACÍFICOS DO T R A N S V A A L PARA R E H A V E R A S U A INDEPENDENCIA, 1 8 7 8

Carta dos delegados do Transvaal a Sir M. Hicks-Beach, Secre- tario d'Estado das colonias, datada de 10 de julho de 1878.

Hotel AlLemarle, Londres 10 de j u l h o de 1878.

S E N H O R . — A d e p u t a ç ã o que foi c o m m i s - sionada pelo Governo e pelo povo da R e p u - blica da Africa A u s t r a l , para a p r e s e n t a r ao Governo de Sua Magestade a Rainha da In- glaterra o seu protesto contra a a n n e x a ç ã o do territorio do T r a n s v a a l , não tendo podido obter o fim para que havia sido enviada, c o m m u n i c o u aos h a b i t a n t e s o resultado d a s sua diligencias.

P r o f u n d a m e n t e m o l e s t a d o s e d e s a p o n t a - dos, p o r não t e r e m podido alcançar a resti- tuição dos s e u s direitos, resolveram os cida- d ã o s da Republica appellar n o v a m e n t e p a r a a justiça da Inglaterra, e d e p u t a r a m os a b a i - xo a s s i g n a d o s S. J. P. K r u g e r e P. J. J o u - b e r t p a r a n o v a m e n t e s u b m e t t e r e m , c o m o s e u ,

(14)

208 A VOLTA 1)0 MUNDO a q u e l l e protesto, e o s e u m e m o r i a l s o b r e o

a s s u m p t o .

A p r e s e n t a n d o o s d e s e j o s d o s s e u s consti- t u i n t e s , é dever da d e p u t a ç ã o fazer notar com attenção ao Governo de Sua Magestade, certos factos relativos ás i n s t r u c ç õ e s d a d a s ao c o m m i s s a r i o especial de Sua Magestade, Sir T h e o p h i l o S h e p s t o n e , c o m m e n d a d o r de S. Miguel e S. J o r g e , no decreto da R a i n h a , d a t a d o em Balmoral a 5 de o u t u b r o de 1876, e t a m b é m com relação ás c i r c u m s t a n c i a s ati- n e n t e s a o c u m p r i m e n t o d ' e s s a s i n s t r u c ç õ e s p o r p a r t e d'elle, c o m o á s que s e r v i r a m d e b a s e á a p p r o v a ç ã o de Sua Magestade ao s e u p r o c e d i m e n t o .

A meditada c o n t e m p l a ç ã o d ' e s t a s c i r c u m s - tancias, ha-de, crê-o a Deputação, justifical-a p e r a n t e o Governo de Sua Magestade, p e r a n - te as c o m m u n i d a d e s da Africa do Sul, e pe- r a n t e o m u n d o todo pela attitude q u e ella h o j e t o m a , e c o n q u i s t a r á p a r a ella e p a r a a s u a patria, a r e s t a u r a ç ã o q u e p r o c u r a .

No decreto q u e n o m e i a Sir T h e o p h i l o S h e - p s t o n e , e q u e lhe dá p o d e r e s , s o b c e r t a s con- dições, p a r a ir até á ultima e x t r e m i d a d e da a n n e x a ç ã o , impõe-se-lhe c o m o condição ne- c e s s á r i a o s e g u i n t e :

«Contando p o r é m , em p r i m e i r o logar, q u e

«tal p r o c l a m a ç ã o não s e r á p r o m u l g a d a p o r

«vós a respeito de n e n h u m districto, territo-

«rio ou Estado, s e n ã o q u a n d o v ó s e s t i v e r d e s

«convencido q u e o s s e u s h a b i t a n t e s o u u m

«sufficiente n u m e r o d'elles, ou o p a r l a m e n - to «d'esse paiz, d e s e j a m s e r n o s s o s s ú b d i - tos».

Não é desejo n o s s o n'este logar a p r e c i a r a q u e s t ã o d a s r a s õ e s a d d u z i d a s o u d o s m e i o s a d o p t a d o s p o r Sir Theophilo S h e p s t o n e p a r a c o n v e n c e r o Governo de Sua M a g e s t a d e q u e de a l g u m a f o r m a tinha sido c u m p r i d a esta condição.

Era na f i r m e convicção de q u e a s s i m ti- n h a sido c u m p r i d a , q u e o v o s s o p r e d e c e s - s o r , o Conde de Carnarvon, se r e c u s o u a dis- c u t i r c o m a ultima d e p u t a ç ã o a legalidade e c o n v e n i ê n c i a da a n n e x a ç ã o em si, e a esta d i s t a n c i a t o r n a v a - s e i m p o s s í v e l á d e p u t a ç ã o , a p e s a r de d i s p u t a r s o b r e o facto, r e f u t a r u m a affirmativa feita com tanta s e g u r a n ç a .

Desde e s s e t e m p o e n t r e t a n t o , t o m a r a m - s e p r o v i d e n c i a s p a r a c o n h e c e r fóra de toda a duvida q u a e s são os s e n t i m e n t o s da g r a n d e maioria dos eleitores, o q u e s e r á m o s t r a d o

pelos s e g u i n t e s d o c u m e n t o s , c u j a s copias te- m o s a h o n r a de incluir n ' e s t a :

a Resolução do h o n r a d o V o l k s r a d da Re- publica, d a t a d a de 22 de fevereiro de 1877 ap- pellando p a r a o executivo p a r a m a n t e r a in- d e p e n d e n c i a da patria.

b R e s o l u ç ã o do Conselho executivo de 11 de abril de '77 p r o t e s t a n d o contra a a m e a ç a - da a n n e x a ç ã o e n o m e a n d o u m a d e p u t a ç ã o p a r a a p r e s e n t a r o p r o t e s t o p e r a n t e Sua Ma- gestade.

c P r o t e s t o do P r e s i d e n t e da Republica de 11 de abril de '77.

d Memorial c o r r o b o r a n d o o protesto, as- s i g n a d o p o r 6:591 entre talvez 8:000 eleitores, e d a t a d o de 7 de j a n e i r o de 1878.

Como a satisfação da.condição p r e p a r a t ó - ria acima citada pôde s e r e n c a r a d a c o m o pos- ta pelo g o v e r n o de Sua Magestade p o r condi- ção essencial p a r a se justificar a a n n e x a ç ã o , e c o m o os d o c u m e n t o s acima a p o n t a d o s p r o - v a m além de toda a duvida, q u e longe de h a - v e r e m sido satisfeitas e s t a s condições, o par- l a m e n t o , o Governo executivo, e a p p r o x i m a - d a m e n t e 7 oitavos da população se o p p u - n h a m , c o m o agora p r o v a m , á a n n e x a ç ã o , d e s n e c e s s á r i o s e t o r n a r á q u a l q u e r o u t r o a r - g u m e n t o , p a r a dar força a u m a c a u s a tão cla- r a m e n t e d e m o n s t r a d a .

Mas Sir Theophilo S h e p s t o n e não quiz fi- c a r - s e n'este c a m p o , e j u l g o u conveniente a p r e s e n t a r m u i t a s o u t r a s r a s õ e s e m defeza do s e u p r o c e d i m e n t o , as q u a e s p a s s a m o s a e x a m i n a r .

Além da q u e s t ã o d o s d e s e j o s dos h a b i t a n - tes, os p r i n c i p a e s p o n t o s em q u e o c o m m i s - sario tentou justificar-se, e que se p ó d e m en- c o n t r a r no p r e a m b u l o da p r o c l a m a ç ã o da an- nexação, são o s s e g u i n t e s :

«Que a g a r a n t i a de independencia dada

«pelo Governo Britannico aos fazendeiros

« e m i g r a n t e s , foi dada debaixo de u m a certa

« e s p e r a n ç a e p e r s u a s ã o , q u e d'entâo p a r a cá

«se não r e a l i s a r a m .

«Que havia u m a geral decadencia de po-

«der e um e n f r a q u e c i m e n t o de a u c t o r i d a d e

«no p r o p r i o Estado, e u m , m a i s que p r o p o r -

«cional, desenvolvimento da força real e da

«confiança entre as t r i b u s indígenas, p r o d u -

«zindo fortes tentações entre os p r o x i m o s po-

«tentados cafres, de fazerem a t a q u e s e cor-

«rerias no Estado, o qual as não poderia r e -

«chaçar attenta a s u a pouca força, e de q u e

(15)

Á VOLTA DO MUNDO 209

«havia até aqui sido salvo pela influencia re-

« p r e s s i v á d o Governo Britannico, exercida de

«Natal pelo r e p r e s e n t a n t e de Sua Magestade

«n'aquella colonia.

«Que o m a u êxito da c a m p a n h a c o n t r a o

«Secocoeni tinha m a n i f e s t a d o pela p r i m e i r a

«vez aos p o d e r o s o s régulos i n d í g e n a s de f ó r a

«da Republica, d e s d e o Z a m b e z a até o Cabo,

«as g r a n d e s m u d a n ç a s que se t i n h a m realisa-

«do n a s forças relativas d a s r a ç a s b r a n c a e

«preta, e q u e esta revelação p a r a logo abalou

«o prestigio do b r a n c o na Africa do Sul, e

«collocou e m perigo t o d a s a s c o m m u n i d a d e s

«européas».

A s s i m v e m o s que a s r a s õ e s q u e l e v a r a m Sua Magestade a a p p r o v a r a a n n e x a ç ã o ti- n h a m p o r b a s e o s e g u i n t e :

1.° A crença q u e u m a g r a n d e p r o p o r ç ã o dos h a b i t a n t e s d o T r a n s v a a l , a r d e n t e m e n t e desejava o estabelecimento do r e g i m e n de Sua Magestade.

2.° A decepção da e s p e r a n ç a s o b r e q u e se t i n h a dado a garantia da independencia, isto é: «Que a republica da Africa A u s t r a l , se tor- naria um e s t a d o a u t o n o m o e florescente, ori- g e m de força e de s e g u r a n ç a para as v i s i n h a s c o m m u n i d a d e s e u r o p é a s , e um foco d ' o n d e r a p i d a m e n t e se p r o p a g a r i a p a r a a Africa Central o c h r i s t i a n i s m o e a civilisação».

3.° A geral p o b r e z a e carência de m e i o s de defeza em todo o paiz, as i n v a s õ e s d o s p r e t o s , o m a u êxito da g u e r r a c o m o Seco- coeni, e o perigo i m m i n e n t e para as colonias b r i t a n n i c a s .

A e s t e s p o n t o s reduz a Deputação, a s u a r e s p o s t a .

1.° Relativamente ao p r i m e i r o ponto te- m o s que declarar que, c o m o a inclusa cor- r e s p o n d ê n c i a 6, 7, 8, 9 o prova, o c o m m i s s a - rio de Sua Magestade estava na p o s s e da re- solução do V o l k s r a a d p a r a a m a n u t e n ç ã o da independencia da Republica, c o m o t a m b é m do protesto do Executivo, a n t e s de d a r ao p u - blico a p r o c l a m a ç ã o da a n n e x a ç ã o .

Que as petições em favor da a n n e x a ç ã o , q u e n a totalidade r e p r e s e n t a v a m u m a p e q u e - na p a r t e da população do paiz, f o r a m pela m a i o r p a r t e obtidas depois da a n n e x a ç ã o , e q u e a s a s s i g n a t u r a s que n'ellas a v u l t a m são as d a s c l a s s e s d e s c r i p t a s no d i s c u r s o de Sir Theophilo S h e p s t o n e a o s cidadãos, c o m o s e n - do os mil q u e vivem n a s cidades e aldeias, e os 350 que c o n s t i t u e m a população fluctuante

d o s m i n e i r o s do oiro, e não p e r t e n c e m a ne- n h u m dos 6:650 l a v r a d o r e s a q u e m i n c u m - be a s u s t e n t a ç ã o do Estado pelo producto d a s s u a s h e r d a d e s , e a q u e m i g u a l m e n t e i n c u m - be o dever militar de d e f e n d e r a patria, ou de b a t a l h a r pelos s e u s direitos.

2.° Sir Theophilo S h e p s t o n e a s s e v e r a n d o q u e a g a r a n t i a da independencia se f u n d a v a n ' u m a certa «esperança e p e r s u a s ã o » refere- se p a r a a explicação d'isso ao seu d i s c u r s o ao povo, o n d e n ó s a c h a m o s que elle i n g e n u a - m e n t e confessa que tal condição se conclue do sentido da convenção, e m a i s d a s s u a s e n - t r e l i n h a s do q u e do texto e x p r e s s o d'ella.

Nós pela n o s s a parte, e p o r parte do povo d o T r a n s v a a l , c o m q u a n t o a d m i t t a m o s que u m a tal «esperança e p e r s u a s ã o » s e r i a m r a - soaveis, não p o d e m o s por f ô r m a a l g u m a ad- mittir que isso fosse u m a condição p a r a a n o s s a independencia, n e m que a s u a falta de realisação seja motivo sufficiente para a ces- sação d a m e s m a .

Mas m e s m o que a s s i m fosse, d i z e m o s m a i s q u e e s s e a r g u m e n t o não é d'aquelles de q u e o Governo Britannico em boa j u s t i ç a p o s - s a s e r v i r - s e .

As razões q u e levaram o Governo Britan- nico a r e c o n h e c e r a independencia do T r a n s - vaal, e a b a n d o n a r a s u a s o b e r a n i a s o b r e o E s t a d o d'Orange, m a i s facilmente se e n c o n - t r a r ã o c o r r e n d o a c o r r e s p o n d ê n c i a s o b r e tal a s s u m p t o trocada entre o Governo de Sua M a g e s t a d e e os c o m m i s s a r i o s e m p r e g a d o s em p ô r em execução a politica da Métro- pole.

Mas se a e s p e r a n ç a de que a Republica viesse a s e r u m a origem de força e de segu- r a n ç a p a r a a s colonias Britannicas v i s i n h a s , n ã o foi realisada até ao ponto d e s e j a d o p o r Sua Magestade, então d i r e m o s , e e s t a m o s p r o m p t o s a mostral-o, que se tal deixou de s u c c e d e r deve-se principalmente, se não no todo, aos actos dos Governos d ' e s s a s colo- n i a s Britannicas v i s i n h a s .

S o b r e este ponto t e r e m o s que dizer m a i s a l g u m a c o u s a .

3." R e l a t i v a m e n t e ao terceiro ponto, isto é: á falta de defeza do paiz, âs u s u r p a ç õ e s feitas pelos cafres, e ao m a u êxito da g u e r r a com o Secocoeni, e s t a m o s p r o m p t o s a a d - mittil-o em parte, a s s i m como t a m b é m á fal- ta de o r d e m nas n o s s a s finanças; c o m q u a n - to repillamos e n e r g i c a m e n t e a e x a g e r a ç ã o

Referências

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