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O CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

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O CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

NA CONSTITUIÇÃO DE 1988*

Sérgio Ferraz

Ex-Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros Ex-Presidente Titular de Direito Administrativo da PUC-RJ

______________________ S U M A R I O ______________________ 1. Introdução 2. Função administrativa 2.1. agentes adm inistra-tivos 2.2. Ampliação do elenco: as autorizações e as permissões, as privatizações 2.3. A relação de administração pública 3. Polí-tica e éPolí-tica da administração 3.1. Os princípios da adm inistra-ção pública 4. Os tipos de controle da administrainistra-ção pública: in-trodução 4.1. O controle interno 4.1.1 peculiaridades nas funda-ções e nas em presas estatais 4.2. O controle externo 4.2.1 A sustação, pelo Legislativo, dos atos normativos do Executivo 4.3. O controle da cidadania: introdução 4.3.1 Seus alicerces: 4.3.2 Seu exercício por meio do Judiciário 4.3.3 Seu exercício direto, perante a administração pública; o direito à informação e à privacidade; o direito de petição: o processo administrativo; a garantia do devido processo legal 4.3.4 Seu exercício pelos m ei-os políticei-os: a atuação direta do cidadão, perante as cortes de contas 4.3.5 A plena eficácia dos direitos e garantias fundam en-tais 4.4 O controle institucional: introdução 4.4.1 O M inistério Público 4.4.2 A advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.

* Transcrição da conferência proferida no VII Congresso Brasileiro de Direito A d m in is-trativo (Blumenau. Abril de 1992).

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1 INTRODUÇÃO

Sérgio Ferraz _________

A vastidão do tema do controle da atividade administrativa to m a impe-rioso seu prévio confinamento, pena de se ter não um a palestra, mas um en-saio de consideráveis proporções. Doutra parte, as tecnicalidades de alguns dos tópicos, do tema em questão, envolvem o risco de resvalar o expositor para searas de aridez indiscutível, provocando desnecessário cansaço aos seus indulgentes e eventuais ouvintes. Disso tudo decorreu nossa eleição apriorística, por circunscrever a exposição aos aspectos de controle contidos na Constituição de 1988, com o que, inclusive, estamos guardando fidelidade ao propósito maior deste Congresso, proclamado em todo o pertinente e res-pectivo material promocional: a definição dos “N ovos rumos do Direito A d-ministrativo” brasileiro.

2

FUNÇÃO ADMINISTRATIVA

Impõe-se, num primeiro momento, estabelecer o patamar conceituai do nosso trabalho.

Ao falarmos em controle da atividade administrativa, teremos em vis-ta. de início, o desempenho, pelo Poder Público, da cham ada

função

admi-n is tra tiv a . Não descoadmi-nhecemos quão tormeadmi-ntosa é a tarefa de defiadmi-nir tal fuadmi-n- fun-ção. sendo múltiplos os critérios e as escolas que a ela se dedicam, com resul-tados consideravelmente diversificados. Sem fazermos, aqui e agora, um a op-ção por qualquer delas, proclamaremos todavia nossa adesão, para os estritos propósitos desta exposição, ao chamado

critério residualista.

Com essa ex-pressão. estamos a designar uma corrente de pensam ento (que é, por exem -plo. a de A. Gordillo), segundo a qual diz-se

administrativa

toda função es-tatal que não se identifica com a jurisdicional e a legislativa. O critério residualista. conquanto possa merecer críticas sob a perspectiva da rarefação de suas fronteiras conceituais, revela-se contudo útil, quando o objeto do es-tudo não é próprio exame e classificação das diferentes funções estatais. A s-sim. se o que se tem em vista - tal como ocorre com o propósito desta exposi-ção - é uma

atividade (in casu,

o controle), que incide sobre um a das

fun-ções estatais (no caso. a administrativa), não há prejuízo científico na aceitação da conceituaaceitação residual, até porque jurisdiaceitação (aplicaaceitação, ao caso co n -creto, de uma norm a genérica e apriorística, de com posição de condutas conflitantes ou reciprocamente resistentes) e legislação (produção e edição da antes referida norma) constituem conceitos com alto teor de univocidade de sentido.

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Controle da Administração Pública na Constituição Federal de 1988

Em resumo, por toda a nossa palestra, ao nos referirmos a função a d -ministrativa, estaremos contemplando as atividades estatais que não podem ser subsumidas aos escaninhos da legislação e da jurisdição.

2.1 Agentes administrativos

Doutra parte, uma ponderação desde j á se impõe, e ela se faz até m es-mo pela estreita vinculação do plano da exposição à Constituição de 88: na form a do que se decanta do artigo 37,

caput,

da Lei Maior, a função adm i-nistrativa pode até ser prioritariamente desem penhada pelo Poder Executivo, mas dele não é apanágio: desempenham-na, também, o Legislativo e o Judici-ário, a adm inistração direta e a indireta (bem assim a fundacional), a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios. Mas não só.

2.2 Ampliação do elenco: as autorizações e as permissões, as

privatizações

Fenôm enos marcantes estão a sublinhar, em nossos dias, a diversifica-ção da execudiversifica-ção das atividades em benefício dos administrados.

De um lado, ganham relevo cada dia maior as delegações administrati-vas, nas formas tripartidas, constitucionalmente assentadas (artigos 21, XII;

175): autorização, perm issão, concessão. C o nseq ü ên cia expressiva dessa flexibilização se reflete na adoção das figuras da autorização e sobretudo da permissão, para atuações que nada têm de precárias e que, pelo contrário, d e-mandam do particular ingentes investimentos a requererem (até mesmo em razão dc equilíbrio das contraprestações, constitucionalmente assegurado no artigo 175) um mínimo de estabilidade, no tempo, da existência da relação entre Poder Público e executor particular da função. Foi certamente em razão de correto - mas audacioso, sobretudo na perspectiva doutrinária - e n te n d i-mento dessas novas dimensões que o constituinte de 88 não teve receio em referir-se a

contrato de permissão

(com todas as garantias daí decorrentes), outorgando destarte a essa figura um grau de consistência mais avançado do que aquele já alcançado, com a idéia, antes difundida, das

permissões

c o n d

i-cionadas.

A par das figurações, acima relembradas, é indiscutível que, doutro lado, adquire dia-a-dia mais presença e expressão a transferência da própria função (e não apenas de sua execução), para a empresa privada - é o fenôm e-no da

privatização,

que surge como verdadeira pedra-de-toque, na tentativa de modernização do Estado, para além dos figurinos das administrações

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retas e descentralizadas, que, de modo geral, se vêm relevando desgastadas e ineficazes, nas últimas décadas.

2.3 A relação de administração pública

A breve incursão, que se fez no item precedente, aos novos canais de satisfação das necessidades e anseios da coletividade teve apenas por fito tra-zer luz para o sugestivo dinamismo que a flexibilização da atividade estatal vem conhecendo, tal como analisado na Constituição de 1988. Q ualquer que seja, entretanto, o molde adotado, inclusive o das privatizações mais extre-madas. uma realidade permanecerá intangivel: a satisfação precípua da n e-cessidade e do interesse públicos constitui o cerne eidético da função adm i-nistrativa. Ao concretizá-la, o Estado - ou o particular que em seu nome, por qualquer figura de direito, atue - não está praticando atos de dono, que, como tal, gozaria do atributo da

disponibilidade,

em razão do qual poderia, inclu-sive, despir-se da função. Na clássica e feliz imagem de C im e Lima, ao

reali-z a r efetivamente tais deveres, por si ou por terceiros, está o Estado em penha-do numa

relação de administração.

E, como tal, sujeito - bem como assim também sujeitos os particulares que façam suas vezes - a todo um plexo de mecanismos de controle, como é curial que ocorra com todos os que não es-tão a braços com mera relação de propriedade.

Daí a última estaca no patamar conceituai até aqui elaborado: m esmo quando a execução da função administrativa se aparta, intensamente, quanto à identidade do executor, da fiçura do Estado, ainda assim o tema do controle incide massivãmente, como consectário inafastável da constatação de que, na base de todas essas atuações, existe o estatuto típico da relação de adm inis-tração.

S éreio F e r r a z ____________________ _______________________________________________________

3 P O L Í T I C A

E

É T IC A DA A D M I N IS T R A Ç Ã O

Para que o exercício da função administrativa possa mais aptamente atingir os fins, a que proposta, impende a observância de dois parâmetros:

a) o de que se encarte numa

política

de administração, com o que de regra se viabiliza e se otimiza sua eficácia.

Limitando-nos à enunciação da questão, eis que a política da adm i-nistração pública é tema alheio a nossa exposição;

(5)

Controle da Administração Pública na Constituição Federal de 1988

b)

o de que observe uma

ética

administrativa, com o que se assegura (ao menos esse o propósito) a higidez axiológica das atuações esta-tais, dado essencial na configuração da validade de qualquer ação nas relações de administração.

3.1 Os princípios da administração pública

A Constituição de 1988 oferece linhas seguras de amarração da ética administrativa. Consubstanciam -se elas nos cham ados princípios da A d m i-nistração Publica. Não se afeiçoaria ao tempo, que nos foi reservado, mergu-lhar a fundo no tema. Limitamo-nos a referi-lo, eis que falar de controle de administração pública, sem mencioná-lo, seria esdruxularia incomensurável. O que pretendemos deixar nitidamente assentado é que, ao controlar o a c o m -panh am en to ou a execução da função adm inistrativa, o órgão ou agente controlador deverá ter em conta se:

a)

na origem e no resultado, foram respeitados os princípios da legali-dade, da im pessoalilegali-dade, da m oralidade e da razoabilidade. da proporcionalidade, da publicidade (C.F., art. 37,

caput);

b)

houve, ou não, causação de dano a terceiros; em caso positivo, im- por-se-á o dever da reparação, num regime de r e s p o n s a b ilid a d e

objetiva, independentemente da natureza jurídica do

a g e n te d i

-reto

(C.F. art. 37, § 6o);

c)

correta e efetivamente motivada a atuação. O dever de motivação, insculpido no art. 93, X, da Constituição, dirige-se não apenas à

função administrativa

desem penhada pelo Judiciário, mas sim, à que qualquer agente estatal (ou que atue em nome do Estado, por

delegação

ou

atribuição

estatal) assuma, o que é decorrência ine-vitável do

caput

do artigo 37. Acresce que, num sistema jurídico em que não se discute a possibilidade da sindicabilidade judicial do desvio e do abuso do poder, automaticamente se exige a motivação do ato administrativo, por isso que só do exame de sua existência, autenticidade e propriedade se pode chegar à constatação das aludi-das patologias.

(6)

S é ra io Ferraz

4

O S

TIPOS DE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

INTRODUÇÃO

Cabe agora examinar os diferentes tipos de controle da adm inistração pública, inseridos na Constituição a que vestibularmente nos vinculamos, só iremos discorrer efetivamente sobre as inovações aqui operadas pela Carta de

1988.

Conform e iremos verificar, se a A dm inistração Pública bem não anda isso não se deve à ausência de mecanismos de controle. Bem antes, eles exis-tem, em excesso até, talvez. O que falta é, provavelmente, um a

cultura de

c o n tro le que, introjetando em administradores e administrados, com todas as suas conseqüências, a idéia de relação de adm inistração pública, tom asse operante toda a farta coleção de remédios constitucionalm ente consagrados. Provavelmente, com o tempo iremos conhecer, também entre nós, o efetivo primado da lisura administrativa.

4.1 O

controle

interno

A taxinom ia consigna, em prim eiro lugar, o

controle interno,

ou autocontrole. Sob essa denominação enquadram-se os mecanismos de contro-le existentes dentro da própria estrutura administrativa a ser controlada. Tais mecanismos atuam mediante a operacionalização dinâmica do conceito de

hi-erarquia.

Em verdade, no que diz respeito ao controle interno a Constituição de 1988 não trouxe novidades conceituais. Assim é que continua ela a traduzir- se em atos de invalidação, revogação, aprovação e homologação. Provavel-mente a única inovação aqui, defluente da nova ordem constitucional, esteja concretizada num

enriquecimento conteudístico,

de

qualidade,

do autocon-trole. eis que está ele agora textualm ente balizado por diretrizes

éticas,

consubstanciadas nos princípios da atuação administrativa, antecedentemente referidos.

4.1.1

Peculiaridades nas fundações e nas empresas estatais

Com o subtipo de controle interno cabe referir a incidência, nas em pre-sai estatais e nas fundações, dos equipamentos de controle, próprios dessas entidades (o Ministério Público e os diversos conselhos, previstos nas leis atinentes a tais pessoas), cuja existência não se afasta nem se adultera, pelo só fato de eventualmente integrarem elas a Administração Pública.

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Controle da Administração Pública na Constituição Federal de 1988

4.2 O controle externo

Em contraste com o que registrado relativamente ao controle interno, o

controle externo

se revela muito ampliado, na Constituição de 1988. E nten-de-se por controle externo aquele que é exercido pelo Legislativo, particular-mente mediante a atuação do Tribunal de Contas.

Anote-se, em primeiro lugar, que o âmbito da atuação do Legislativo e das Cortes de Contas é, hoje, imenso, por isso que não mais restrito à legali-dade, abrangendo também a

legimidade

e a

economicidade

da atuação ad-ministrativa (C.F., art. 70,

caput).

Da m esm a sorte, vitalizou-se, de muito, o papel dos Tribunais de C on-tas. Dificilmente pode-se dizer serem eles, hoje, apenas um

auxiliar

(C.F.. art. 71,

caput)

do Legislativo, no exercício do controle externo. Basta, para chegar-se a tal conclusão, meditar na conjugação de alguns comandos consti-tucionais. Verifique-se, por exemplo, que, a teor do inciso X do artigo 71. pode o Tribunal

sustar

a execução do ato que impugnar, se não corrigidas as ile g a lid a d e s que n ele ap o nta; a su sta ç ã o é,

in casu,

u m a p r o v id ê n c ia m a n d a tó ria e de p la n o eficaz, sendo o b je to de m era

com unicação

ao Legislativo, salvo quando se trata de contrato, hipótese em que o ato de sustação será adotado diretamente pelo Legislativo,

ex vi

do parágrafo 1° do artigo 71. M as

mesmo no caso de contrato,

se o Legislativo ou o Executivo não sustarem sua execução, no prazo de 90 (noventa) dias da data em que apontada pelo Tribunal a ilegalidade, à Corte é integralmente atribuída a competência para agir, podendo decidir como considerar necessário, assumin-do, inclusive, a prática do ato de sustação, diretamente (C.F., art. 71, § 2U). Nesse contexto e ampliação de com petência assume ainda ênfase a natureza executória direta de que agora revestidas as decisões do Tribunal de Contas, de que resultem imputação de débito ou multa: têm elas,

ex vi

do art. 71, § 3o, eficácia de título executivo.

4.2.1

A sustação, pelo Legislativo, dos atos normativos do Executivo C a te g ó ric a in ov ação , no cam p o do co n tro le ex tern o , se e n c o n tra insculpida no artigo 49, V, da Lei Maior: a competência do Congresso N acio-nal para “sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do po-der regulam entar ou dos limites da delegação legislativa’'. Deixando-se de lado o sabor parlamentarista de tal competência, a verdade é que está posta em texto constitucional, sendo pois, só por isso, dotada de indiscutível eficá-cia. Além disso, é preciso proclamar que o constituinte aqui "disse menos do que queria” ou do que devia: sendo o preceptivo indiscutivelmente um meio

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de resguardo do princípio da separação de poderes, tem-se, por conseqüência, que, além dos atos normativos do Executivo, tam bém os atos adm inistrati-vos, nos normativos eventualmente exorbitantes respaldados, se subm etem à regra da sustação, do artigo 49, V. Estamos pois em face de fortíssimo proce-dimento de controle administrativo.

4.3 O controle da cidadania

As alterações mais profundas, no sistema constitucional de controle da função administrativa, expressam-se nos meios para tanto postos à disposi-ção da cidadania. Além de fazer-se ela atuante presença com a intermediação do Judiciário, revela-se ela também eficaz mediante ações diretas. Imprescin-dível. por tudo isso, certa detença neste segmento do nosso tema.

4.3.1

Seus alicerces

Na cerimônia de promulgação da Constituição, o Presidente da A ssem -bléia Nacional Constituinte, Deputado Ulisses Guimarães a batizou: C onsti-tuição Cidadã, Constionsti-tuição da Cidadania. A fórmula tinha finalidade clara: indicar não só que essa era uma Lei M agna nascida dos anseios m anifesta-dos. direta e indiretamente, pela cidadania; mas também, e acima disso, um a Constituição que assegura ao cidadão - e o conclam a a isso! - a fiscalização ( p a r i p a ssu ) e a correção da atividade administrativa. A proclam ação da C o n s titu iç ã o C idadã, para não se revestir das feições da sim ples dicção retórica, se fez juridicam ente instrumentalizada, com o levantamento de três pilares técnico-jurídicos fundamentais: a consagração e difusão da idéia de interesses e direitos difusos e coletivos: a criação de remédios processuais de tutela a tais interesses difusos e coletivos; a adoção e expansão da técnica das legitimações extraordinárias (processuais e políticas), coletivas e difusas. O levantamento desse tripé enseja a realização efetiva da regra do parágrafo único do artigo I o da Lei Maior, segundo o qual o poder, que em ana todo do povo, por ele é exercido, não só por meio de seus representantes, mas tam -bém diretamente.

4.3.2

Seu exercício por meio do Judiciário

C om o decorrência de todos os vetores, acima enunciados, de muito se ampliaram as atuações de controle do Judiciário, bem como as pertinentes \ ias de acesso. Assim, e como simples exemplo:

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Controle da Administração Pública na Constituição Federal de 1988

a)

o Judiciário aprecia não mais apenas a lesão, mas tam bém qualquer

ameaça

a direito (com o que,

verbi gratia,

se dá berço constitucio-nal ao m andado de segurança preventivo e às ações cautelares em geral) - C.F., art. 5o, XXXV;

b)

as entidades associativas podem representar seus filiados (judicial e extrajudicialmente) - C.F., art. 5o, XXI;

c) sem prejuízo da letra “b” supra, a ela aditando reforço, tem-se o fe-nôm eno da legitimação coletiva (direta ou substitutiva, conforme o caso), não só no caso do m andado de segurança (C.F., art. 5o, LX X ), mas também nos pleitos em defesa de direitos e interesses coletivos ou individuais das categorias profissionais (C.F., art. 8o,

m);

d) o vetor axiológico da moralidade, no exercício da atividade adm i-nistrativa, teve o controle de sua observância depositado nas mãos do cidadão, que conta, para tanto, com o eficaz instrum ento da ação popular, ampliada em se escopo na nova Lei M aior (C.F., art. 5o, LXXIII).

Coexistindo com todas essas conquistas, permanecem meios de controle, o

habeas corpus

e o

mandado de segurança.

4.3.3 Seu exercício direto, perante a administração pública; o direito à informação e à privacidade; o direito de petição; o processo ad-ministrativo; a garantia do devido processo legal

A par da intermediação do Judiciário, tem o cidadão outros meios de controle na Lei Maior, no particular intensamente aprofundada e ampliada.

Em primeiro tomo, assinale-se que, conquanto a Constituição assegure o direito à privacidade (artigo 5o, particularmente nos incisos X, XI e XII), garante em contrapartida um

direito à informação

(art. 5o,

XIV),

tutelado, inclusive, por um novo rem édio processual constitucional específico - o

habeas data

(art. 5o,

LXXII).

Aliás, no que particularmente diz respeito ao

habeas data,

ressalte-se que, na forma da consagração constitucional, serve ele não só para realizar concretamente o direito à informação, senão também para com pelir a Administração à retificação de dados equívocos ou adultera-dos, guardados em seus registros. Trata-se, pois, de um excelso instrumento de controle, posto à disposição do cidadão.

(10)

Em segundo tomo, merece referência a circunstância de ter sido o clás-sico direito de petição (art. 5o, XXXIV, “a ”), valioso meio de contraste da atuação administrativa, adequadamente regulado e aparelhado. Isso porque, exercitando-se ele por meio de um processo administrativo, irá

diretamente

beneíiciar-se da extensão, a este conferida, das clássicas e fundam entais ga-rantias do processo judicial: publicidade, contraditório, ampla defesa (C.F., art. 5o. LV). Caberia, a propósito, sublinhar que, ao ter sido assim conotado, o processo administrativo,

com esse perfil,

é o único que preenche a previsão do

devido processo legal,

este por seu turno agora alçado à condição de ga-rantia constitucional expressa (C.F., art. 5o, LIV). O resultado desse conjunto pode ter sabor verdadeiramente revolucionário, capaz de reform ular toda a p r a x is do nosso direito administrativo, classicamente vincado a um a visão autoritária: tal sabor concentracionário do poder não mais estará apto a pre-valecer, a partir do simples momento em que o processo administrativo deixa de ser

propriedade

da Administração ou de sue agentes. Lançado ele à luz, à transparência das garantias judiciais, tom ará evidente a motivação dos atos administrativos, inviabilizará as decisões ou os pareceres reservados, concre-tizará a idéia de igualdade. Em suma, com essas tônicas, o processo adm inis-trativo passa a ser, só por si, um extraordinário instrumento de controle da atividade administrativa.

4.3.4 Seu exercício pelos meios políticos; a atuação direta do cidadão, perante as cortes de contas

Ademais de tudo até aqui enunciado, goza também o cidadão, na nova ordem constitucional, de valiosos meios de ação política, para o controle da atividade administrativa.

Parece-nos claro que, como tal, funcionam, com formidável alcance, o plebiscito, o referendo e a iniciativa legislativa popular (provisão genérica no artigo 14). M as para além dessas notáveis conquistas, importa destacar duas inovações controladoras, de ousadíssima amplitude:

a) o direito do contribuinte, de questionar a

legitimidade

das contas municipais (C.F., art. 31, § 3o);

b)

o direito do cidadão, ou de suas entidades representativas, de d e-nunciar irregularidades ou ilegalidades perante as cortes de contas da União. Estados. Distrito Federal e M unicípios (C.F., art. 74,

§

2

o).

(11)

Controle da Administração Pública na Constituição Federal de 1988

4.3.5 A plena eficácia dos direitos e garantias fundamentais

Aduza-se, por ser de imperativo relevo, que a Constituição de 1988

re-%

pele qualquer interpretação tendente a transform ar todas as conquistas, até aqui examinadas, em simples proclamações programáticas ou retóricas. Nes-sa perspectiva é que cumpre estudar - o que não é propósito desta exposição - o m andado de injunção (art. 5o, LXXI), a argüição de descum prim ento de preceito fundam ental (art. 102, parágrafo único) e a inconstitucionalidade por omissão (art. 103, § 2o), sempre à luz do parágrafo Io do artigo 5o, pelo qual “as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplica-ção imediata” .

4.4 O controle institucional

Não bastassem todos esses variadíssimos meios de controle da ativida-de administrativa, a Constituição ativida-de 1988 ainda fundou um outro tipo ativida-de controle, que denominaremos

institucional,

por isso que confiado a duas ins-tituições de inserção constitucional.

4.4.1

O Ministério Público

M uito já se escreveu sobre as novas dimensões e o merecido enobreci - mento do Ministério Público, no seio da nova Constituição.

Para os propósitos específicos de nossa exposição, conviria agora des-tacar o artigo 129, com foco: no inciso Dl, em razão do qual se confia ao Ministério Público (particularmente por meio da ação civil pública, mas tam -bém com o inquérito civil) a “proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos ’ (mesmo quando a agressão ou ameaça parta da Administração Pública); no inciso IV, que m an-teve a legitimação ativa da instituição, para a ação direta de inconstituciona- lidade e, particularmente, a representação interventiva (quase sempre calcada em atos da função administrativa, infringentes aos chamados princípios sen-síveis da Constituição): no inciso VII, que põe nas mãos do “Parquet" o con-trole externo da atividade policial.

4.4.2

A advocacia e a Ordem dos Advogados do BrasilK m *

A Constituição de 1988 a seu patamar a advocacia e a sua instituição aglutinadora, a Ordem dos Advogados do Brasil. Tendo em vista que o Esta-tuto básico da profissão e de sua instituição, a Lei 4.215/63, com anda à

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S creio Ferraz

dade (artigo 18, inciso I) e ao advogado individualmente considerado (artigo 87. incisos I e X) o dever de lutar pela ordem jurídica, a Constituição, a boa aplicação das leis e o aperfeiçoamento das instituições (com petindo-lhes re-presentar contra autoridades e funcionários, pela falta de exação ou pelo abu-so no d esem p en h o de suas atribuições), conclui-se que à a d v o c a c ia e à

O.A.B. cabe agora, igualmente, um excelso papel, no conjunto das atividades

de controle administrativo. Tal conclusão ganha particular ênfase quando se traz a lume o artigo 129 da mesma Lei 4.215, segundo o qual os presidentes do Conselho Federal, das Seções e Subseções “têm qualidade para agir, m es-mo criminalmente, contra qualquer pessoa que infringir as disposições desta lei...” Todo esse arcabouço adquire expressivas tintas definitivas, ao se veri-ficar, no artigo 103, VII da Constituição Federal, que também à O.A.B. foi conferida legitimação ativa para a ação direta de inconstitucionalidade.

Assim aparelhados, deverão os advogados, mais que nunca, adotar com o norma de agir, em suas vidas, as célebres palavras de Poincaré, ao dis-cursar por ocasião do Centenário da restauração da Ordem dos A dvogados na Franca.>

“Porque constrói, por seu trabalho, uma situação normal, o A dvogado não depende mais do que de si mesmo. É o hom em livre em toda a ex-tensão da palavra. Sobre ele pesam tão somente servidões voluntárias. Autoridade aleuma exterior detém sua atividade individual. A nins^iém dá conta de suas opiniões, de suas palavras, de seus atos. Sobre sua cabeça não pende outra autoridade que a da Lei.”

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