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Nota introdutória: o Tribunal Penal Internacional em África

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Academic year: 2021

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o TRtBUNAL PENAL INTERNActoN^L gx

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o TRTBUNAL PENAL INTERNAcToNÂL n¡¡ Á¡R.rc¡ 0 0 5 Filipo Rainundo e Ana Lúcia Sd

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15 ANOS

DE TRIBUNAL PENAL INTERNACIoNAL! À ¡sprn¡ or Goocrr

Aluandrc Guerreiro

r¡ì,

009 DIRÀTOR

Nuno Seveliano Teixeira I IPRI-NOVA

CHËFE DI REDAçÃO

Carmen Fonseca I IPRI-NOVA O TFJBUNAL PENÁ,L IMTERNACIoNAL: 027

coNs¡LHo Pa¡ftia DESAFIOS ATUAIS

Galuão Telu e Da¡iela Marti¡s António Costâ

FE,NOVA Cha¡les de Georgetown

Miami

O srs"rEMA NoRMATrvo AFRTCANo DE D¡REITOS HUMANOS

Mbugi Kabunda

PoDE o TRIBUNAL AFRICANo DE JUSTIçA

D DrRErros HuMANos sER uMA soluçÂo ernrcaña

PARA PROBLEMAS AFRJCANOS?

Rui Gorrido 045 Diana IPR].NOVA Madalena IPRI-NOVA 055 Manuelâ Marco t-isi Freire

JEAN-prERRE BEMBA GoMBo vs o pRocuRADoR:

,ocoDEESpELHosNorpr 073

Filomena Capela

FL-UL Aires Olivei¡a

Pedro Tavares de IPR]-NOVA

Vaz-Pìnto

IPRI.NOVA

Vasco Rato

Yves Meny

ENTRI .a Crr,A Do DrRErm

¡ e C¡nlno¡s oe polllce: UM PONTO DE PARîIDA PARA O ESTUDO

Do TFJBUNAL CoNsrrrucroNAL

NA coNsrRuçÃo DA DEMocR.acrA poRrucuEsA loão Frcncisco Diogo coNSEtHO CONSrrf.TrVO

Alexandra Barahona de Brito

Alexandre Reis Rodrigues António Montei¡o António Telo

Be¡mrdo Futscher Pereira

Bruno Cardoso Reis

Eunice Goes Eusebio Mujal-León Fernando And¡esen Guimã¡ães Fernando Rosas

Filipe fubei¡o de Meneses

loão de Deus Ramos João Gomes Cravinho

)osé Alberto Loureiro dos Santos )osé Cutileiro

José )tílio Pe¡eira Gomes Iosé Manuel Pureza

Kentreth Maxwell Leonardo Mathias Luís Lobo-Femandes Luls Salgado de Matos

Lufs Valença Pinto Manuel Enhes Ferreira Maria Calrilho

Maria do Céu Pinto Marina Costa Lobo Miguel Poiares Maduro Nuno Brito Pierre Hassner Rui Ramos Teresa de Sousa

Vltor Rodrigues Via¡a PROPR¡ETl4RIO

IPÌJ-NOVA

Rua de D. Estefânia, r95-5.o, D.to rooo-r55 Lisboa Tel.: +35r zr 3r4 1176 Fax: +35r zr 3r4 rzz8 Ë-mail: ip¡i@ipd.pt Website; w.ipri.pt NIF:5o6346o64 DESIGN

José Brandão [Atelier B2l REvrsÃo António Alves Martins

TMtRESSÁO

GIO - cabinete de Impressão OFset Lda

Est. da Outorela, ¡¡8 Bloco r

2794-o84 CARNAXIDE rttecru 4oo exemplares

INSCf,IçÃo NA ERC 124442 ISSN r645'9¡99

DoI htrps:r/doi.orgrro.239oó/rir64j9¡99 DEPósITo LEcAL 207 795to4 Os sumários dâ R:I sào indexrdos pela CSA 0AlS, IBSS, IPSA, LATINDEX,

SciELO Citation Index da Thomson

089 RECENSõES TISTA DE AUTORES 101 121 Reuters e EBSCO O estatuto editorìal disponlvel online na encontra-se

(2)

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TRIBUNAL

PENAL

INTERNIACIONAL

EM AFRICA

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TrusuNAL

Pnuel, hvrnRNAcroNAL

E¡n

Ár'RIcA

Filípø Raímundo

e Ana Lúcia

Sd

¡lTribunal

Penal Internacional (o Tribunal / TPÐ foi fundado pelo Estatuto de Roma

\-,¡/em r9g8,

e tem sede em A Haia desde zooz. É um mecanismo global e concertado

criado para que a comunidade internacional possa combater crimes contra a

humani-dade, crimes de guerra e crimes de genocídio.Fazem parte do Estatuto rz4 países, 34 dos quais em África.

Foram precisamente três países africanos partes no Estatuto que, em outubro de zor6, anunciaram a intenção de sair do TPI: Burundi, África do Sul e Gâmbia. Estes países

sustentam o seu argumento nâ questão da seletividade do Tribunal, já que apenas um dos casos julgados até hoje se reportou a um país não africano (o conflito na Ossétia

do Sul, Geórgia, em zooS¡.

o

Burundi foi o primeiro a manifestar estâ intenção, num contexto doméstico de desrespeito pelas instituições democráticas por parte do

incum-bente Pierre Nkurunziza e de insistência por parte do TPI em investigar crimes de

perseguição política no país. seguiu'se a Áfrìca do Sul e, por fim, a Gâmbia, país de

origem da atual procuradora Fatou Bensouda. Os argumentos centrais destas tomadas

de posição são a alegad a prática de justiça de vencedores e um comporramento

discri-minatório por parte do TPI, críticas que já haviam sido feitas pela União Africana (uA)

ao Tribunal. O caso mais emblemático da hostilidade da UA em relação ao TpI diz

respeito ao mandato de captura internacional por genocídio e crimes contrâ a huma-nidade a omar al-Bashir, Presidente do sudão desde rg891. Aquando

da

z5.a sessão

ordinária de chefes de Estado e de governo da uA, em Ioanesburgo em junho de zor5,

a África do Sul recusou extraditá-lo.

As declarações de intenção de abandono do TPI por parte da África do Sul, Burundi e

Gâmbia receberam grande destaque mediático no

final

de zo16, mas, ainda que a

desintegração regional e o abandono de tratados não seja um fenómeno sem

preceden-tes, ele tende a ser pouco comum. Os recentes desenvolvimentos no caso dos países

africanos uersus TPI parecem âpontar nesse sentido.

Em janeiro de zor7, a UA aprovou umâ resolução não vinculativa designada

<Estra-tégia de Abandono do TPI> que parecia apelar ao abandono em mâssa do Tribunalr.

(4)

No entanto, aquela resolução declarava acima de tudo a intenção de propor ao

conse-lhodeSegurançadasNaçõesUnidasareformadaqueleorganismo,particularmente

no que diz respeito

"o

.on..ito

de

imunidade e impunidade. Não só a posição assumida

p.t"uanãoremet.deformaclaraparaoabandono'comoessaposiçãonãoéconsen-sualentreosseusestados-membros.Porexemplo,oBotswana,oGabãoeaTanzània

têm demonstrado diversas vezes o seu apoio â.o TPI, e a Nigéria, o senegal e cabo verde apresentâram reservas formais relativamente à resolução aprovada. Para além disso, o

novo presidente da Gâmbia, eleito em dezembro' decidiu reverter a decisão do seu

antecessor3, bem como a África do Sul anunciou em março que iria rever a sua decisão

na sequência de o Supremo Tribunal sul-africano ter declarado o abandono

inconsti-tucional e inválido,

-.r.o

que isso não signifique necessariamente que a África do

Sul irá permânecer no TPI1.

Existe,portanto'umhistorialqueapontaparaumarelaçãoconturbadaentreoTPle

certos países africanos, cujo desfecho é ainda incerto. Na realidade, a decisão de

estâ-dosafricanosnãocooperaremcomoTPlnãoérecente,maspertenceaummodode

relacionamento entre estes estados e A Haia, sede de um tribunal acusado de ser

manie-tado pelas grandes potências, pautado pela parcialidade e humilhação a líderes africa-nos e, também, pela imposiçao neocolonial qUle faz ao mundo não ocidental' Quinze anos após a sua fundaçáo,

int"r..r"

refletir sobre os desafios que se colocam e

apre-sentâr perspetivas

,obr.

,

relação existente entre o TPI e instituições e países africanos'

Este dossiê tem esse objetivo e-traz abordagens multidisciplinares, do direito às relações

internacionais, sobre o TpI, as questões que enfrenta e o papel de jurisdições penais

regionais africanas de proteção dos direitos humanos'

No primeiro artigo deste dossiê, Alexandre Guerreiro, após apresentar â história da

criação do TPI e debater os seus fundamentos, reflete sobre a atual posição do Tribunal'

que oscila entre o desinteresse e a manifesta vontade de sair por parte de estados

par-tes no Estâtuto de Roma, alinhados com posições da uA.

o

autor aponta algumas

fragilidades ao TPI, como o ónus que se coloca sobre os estados no momento em que

um condenado é colocado em liberdade, não estando previstos mecanismos de

prote-çãoapósjulgamentoeapóslibertação'Refereosdesafiosquesecolocamemtermos

de se pensar uma justiça internâcional e no contrabalanço aos sistemas nacionais e aos

jogos domésticos de interesses e de impunidades, mas também salienta a possibilidade

de justiça em contextos nos quais reina a impunidade'

o TpI é um tribunal de vigência permanente, que tem uma competência potencialmente

universal e que atua

.ori b"..

no princípio de complementaridade com os tribunais nacionais, cingindo-se ao julgamento de indivíduos' como podemos ler neste primeiro

artigo de Alexandre Guerreiro. Patrícia Galvão Teles e Daniela Martins' no segundo

arrigo deste dossiê, debatem o princípio da complementaridade como um dos desafios

que âtualmente se coloca ao tribunal. A complementaridade cria-se por mecanismos

regionais, como o Tribunal Africano dos Direitos Humanos e dos Povos (TADHP)'

RELAçÕESINTERNACIoNAIS JUNHO '2017 5t+

00ó

e leva a terem de questionar-se a forma como os mecanismos regionais e nacionais

trabalham com o TPI, nomeadamente considerando que este possa intervir apenas

quando as demais jurisdições não conseguem/podem atuar.ou atendendo a que as

legislações nacionais deverão ser consentâneâs com os princípios do TPI.

A complementaridade é um dos quatro desafios que se colocam âo TPI, de acordo com

as âutorâs. Os restantes são a universalidade, a cooperação e o crime de agressão. Em

primeiro lugar, universalidade do Estatuto de Roma coloca-se como umâ fragilidade

do TPI a partir do momento em que continua â ser necessário criarem-se tribunais ad hoc. Em segundo lugar, no que respeita à cooperação, o TPI depende da cooperação dos estados partes. O caso do Presidente sudanês Omar al-Bashir, que já referimos nesta

nota introdutória, mostrou como a cooperação é ainda um premente desafio,

q',:.e é

exemplo da tensão entre a imunidade de um chefe de Estado, as proteções nacionais e

a justiça internacional. Este não é o único caso de detenções e processos de entrega

pendentes. Saif Al-Islam Gaddafi, posto em liberdade pela justiça líbia no dia ro de

junho

de

zot7, ou

o

senhor da guerra ugandês /oseph Kony são dois exemplos

de indivíduos aos quais o TPI ainda não acedeu. Por

fim,

o crime de agressão como

crime internacional relevante, a par de crimes contra a humanidade, liga-se ao princípio da cooperação e ao papel daOrganização das Nações Unidas (ONU) como promotora do

Estado de direito e da paz e à importância da posição dos membros permanentes

do Conselho de Segurança como fundamentais para o funcionamento do próprio TPI.

Os temas da universalidade, da cooperação e da complementaridade são recuperados

no artigo de Mbuyi l(abunda, que detalha a ineficácia das jurisdições nacionais e

regio-nais africanas na proteção dos direitos humanos, tanto ao nível legal como de atuação.

De acordo com o académico congolês, assiste-se, no continente africano, à impunidade,

ao silêncio e âo pouco respeito pelos direitos humanos, mesmo considerando regimes democráticos e os mecanismos e textos próprios, como a Carta Africana dos Direitos

Humanos e dos Povos (ou Carta de Banjul) e o TADHP, que nunca julgou um crime.

Aliás, o Protocolo de Malabo, que cria o Tribunal Africano de fustiça e Direitos

Huma-nos e alarga a jurisdição do tribunal a crimes de justiça penal internacional, como genocídios, tráficos diversos ou crimes de guerra, ainda não foi ratificado por nenhum

Estado. De acordo com I(abunda, a debilidade da Carta reside na consagração do

prin-cípio de não ingerência da UA e no cariz autoritário de muitos regimes e de estados

que enfrentam problemas de desenvolvimento e de construção estâtal. No seu artigo,

destaca as características dos sistemas normativos africanos de direitos humanos como

forma de se compreender a tensão entre alguns governos africanos e o TPL

A máxima <soluções africanas para problemas africanos>, que revela a ineficiência das

ins-tiruições africanas na proteção de vítimas e na luta con[ra a impunidade no artigo de Mbuyi

I(abunda, é aprofundada por Rui Garuido, cujo artigo tratå da criação de um tribunal penal africano como mecânismo institucional mais forte no continente no combate à impunidade

e como umâ resposta às estratégias de não cooperação com o TPI. O artigo trata da criação

(5)

do Tribunal Africano de |ustiça e Direitos Humanos, resultado da fusão do Tribunal de

]ustiça da União AÍiicana com o TADHP, e das perspetivas que se abrem em termos de pro' teção dos direitos humanos no continente. O autor conclui que este mecanismo pertence a

uma estratégia de reforço de instiruições africanas e de demonstração na arena

interna-cional de que o continente dispõe de instituições fortes e consentâneâs com os princípios

internacionais, não deixando de destacar a possibilidade de replicar o modelo africano

de proteção de direitos humanos â outros sistemas regionais. No entanto' coloca também

algumas dúvidas que a criação de um tribunal penal africano pode suscitar, nomeadamente ao nível da relação que terá com o TPi que, como se lê nos cinco artigos deste dossiê,

tem sido alvo de repúdio por alguns dos países que compõem a UA.

por fim, Filomena Capela apresentâ o câso de Jean-Pierre Bemba, líder do Movimento

de Libertação do Congo e antigo Vice-Presidente da República Democrática do Congo, condenado pelo TpI a 18 anos de prisão pelo envolvimento do seu exército no conflito na República Centro-Africana que opôs o então Presidente Ange-Félix Patassé a François

Bozizé,antigo chefe das Forças Armadas e líder do golpe de Estado de zoo3. )ean-Pierre

Bemba

foi

um dos quatro condenados pelo TPI até ao presente (os restântes são os

também congoleses Germain l(atanga e Thomas Lubanga e o maliano Ahmad Al Faqi

AI Mahdi, membro da milícia tuaregue Ansar Dine que destruiu património histórico

em Tombuctu). Filomena Capela examina a forma como o caso contra Iean-Pierra Bemba

se construiu no TpI como um processo destinado a condenar o líder por todo o

movi-mento e como processo condenatório de crimes sexuais enquanto arma de guerra.

A exemplaridade da condenação e a sua ligação ao contexto político da instável região dos Grandes Lagos permitiu criar jurisprudência nestes dois âmbitos.

Todos os autores destacâm a importância do TPI para a proteção dos direitos humanos

e no quadro das instituições internacionais, mesmo considerando problemas de

credi-bilidade (ainda há detenções pendentes) e o incumprimento de objetivos para os quais

fora criado. O TpI é, ainda, e atendendo à possível complementaridade com as

jurisdi-ções penais regionais e nacionais, um mecanismo que a comunidade internacional tem

para proteger os cidadãos de abusos de poder e de crimes contra a humanidade' crimes

de guerra e crimes de genocídio'

NOTAS

L5

ANOS

DE

TTBUNAL

PEUET,

IUTERNACToNAL

À

EspnRA DE

GoDor

Aluqndre

Guerreiro

1 Sobr" este caso, ver MILLS, Kurt

"'Bashir is lnternat¡onaI Criminal Court>. ln Dividing Us : Af rica and theHuman

R¡ghts Quarterly. Vot. 34, N.o 2, 2012,

pp.404 447.

2 Withdrawal Stralegy Document. Uniao

Afrlcana. [Consuttado em: 20 de iunho de 20171. Disponívet em: https://www.hrw.

org/sites/def auLt/f ites/supporting resour

ces/icc withdrawat-strategy-jan. 2017.

pdf.

3 nGambia announces ptans to stay in

lnternatìonal Criminal Court". ln Reuters. {Consultado em: 20 de junho de 20171.

Dis-ponívet em: httpr//www.reuters.com/articte/ us-gambia justice-icc idUSKBNI552HF

4 *lCC Withdrawat revoked afte. Cou.t ruting: UN". /n A[jazeera. IConsuttarJo em:

20 de junho de 2A171. Disponível em:

http ://www.atja ze e r a.com I new s I 2017 / 03 I

icc withdrâwat-revoked-court-ruting

1 70308084ó28230.htmt/.

008

TNTRODUçÃO

O dia r de julho de zotT assinala o décimo quinto

aniver-sário da entrada em fun'cionamento do Tribunal Penal

Internacional (TPI), após ter sido depositado o 6o.0

ins-trumento de ratificação, de aceitação, de aprovação ou de adesão ao Estâtuto de Roma, tratado que criou o tribunal

estabelecido

n'A Haia,

em cumprimento com

o

seu

artigo 126.o.

Após uma intensa campanha em favor da constituição de

um tribunal permanente e com jurisdição global capaz de

perseguir, deter e condenar crimes que a comunidade

global de estados tenha interesse em combater, por aten-tarem contra interesses comuns à humanidade,'assiste-se,

atualmente, a uma tendência de contenção do entusiasmo evidenciado até ao início do século XXI. A situação é de

tal forma crítica que é notório um relativo desinteresse

de alguns estados partes no Estatuto de Roma,

compor-tamento este que se manifesta através da falta de

colabo-ração com

o Tribunal

e ainda, em alguns casos, nâ

insistente manifestação de vontade de romper os laços

com A Haiar.

Esta realidade contrasta com os esforços do Tribunal e

até de algumâs potências e organizações regionais e

mun-diais com vista à inversão do panorama atual marcado

pelo relativo descrédito e pela exposição de fragilidades

da justiça internacional. Ora, tal cenário ensombra e

com-promete a afrrmação plena do TPI enquanto autoridade

judicial com capacidade para prosseguir os fins para os

RELAçÕESINTERNACIONAIS JUNHO 12017 54 [ PP, OO9-02ó J

RESUIIO

/ldia r de julho de zorT assiuala o

\zfdécimo quinto aniversário do

início de funções do Tribunal Penal

Internacional (TPI). Desde então, algumas foram as intervenções mar-cantes de um TPI gâlvânizado pela expectativa global. Todavia, o choque com a realidade da ordem internacio-nal acabou por expor obstáculos que

impediram que se concretizasse o

muito que podia ter sido feito. No

presente artigo propomos uma

refle-xão analítica sobre as motivaçôes que

justificaram a criação do TPt, os feitos alcançados e as vulnerabilidades da

justiça internacional ao longo dos

últimos r5 anos e ainda os âspetos passíveis de comprometer o Futuro do

Tribunal.

P alauras-cho,ve: TpI, justiça internacio nal, África, direitos humanos.

ABSTRACT

15 YEARs op lrgr:¡RxerrorgRr,

Cm¡nr¡¡er,

Coutr:

wArrrNG FoRGoDor tfrhe r" o( Iuly oî zory marks the

I r5'r' anniversary since the Rome

Statute of the International C¡iminal

Court (ICC)entered into force. Over these

years many were the achievements

)

htt ps://d o i. orq/1 0.239061ri2017 .54a02

(6)

do Tribunal Africano de )ustiça e Direitos Humanos, resultado da fusão do Tribunal de

fustiça da União Africana com o TADHP, e das perspetivas que se abrem em termos de

pro-teçao dos direitos humanos no conlinente' O autor conclui que este mecanismo pertence â

uÁ"

.rtrrtégia de reforço de instituições africanas e de demonstração na arena interna-cional de que o continente dispõe de instituições fortes e consentâneas com os princípios internacionais, não deixando de destacar a possibilidade de replicar o modelo africano

de proteção de direitos humanos â outros sistemas regionais' No entanto, coloca também

algumas dúvidas que a criação de um tribunal penal africano pode suscitar, nomeadamente ao nível da relação que terá com o TPI que, como se lê nos cinco artigos deste dossiê,

tem sido alvo de repúdio por alguns dos países que compõem a uA'

Por fim, Filomena Capela apresenta o câso de Jean-Pierre Bemba, líder do Movimento

de Libertação do Congo e antigo Vice-Presidente da República Democrática do Congo, condenado pelo TpI a r8 anos de prisão pelo envolvimento do seu exército no conflito na República Centro-Africana que opôs o então Presidente Ange-Félix Patassé a François

Bozizé,antigo chefe das Forças Armadas e líder do golpe de Estado de zoo3' )ean-Pierre

Bemba

foi

um dos quatro condenados pelo TPI até ao presente (os restantes são os

também congoleses Germain I(atanga e Thomas Lubanga e o maliano Ahmad Al Faqi

AI Mahdi, membro da milícia tuâregue Ansar Dine que destruiu património histórico

em Tombuctu). Filomena Capela examina a forma como o caso contra Jean-Pierra Bemba

se construiu no TPI como um processo destinado a condenar o líder por todo o

movi-mento e como processo condenatório de crimes sexuais enquânto arma de guerra'

A exemplaridade da condenação e a sua ligação âo contexto político da instável tegião dos Grandes Lagos permitiu criar jurisprudência nestes dois âmbitos.

Todos os autores destacam a importância do TPI para

^ proteção dos direitos

humanos

e no quadro das instituições internacionais, mesmo considerando problemas de

credi-bilidade (ainda há detenções pendentes) e o incumprimento de objetivos para os quais

fora criado. O TPI é, ainda, e atendendo à possível complementaridade com as

jurisdi-ções penais regionais e nacionais, um mecanismo que a comunidade internacional tem

para proteger os cidadãos de abusos de poder e de crimes contra a humanidade, crimes

de guerra e crimes de genocídio'

NOTAS

1 Sob.u este caso, ver fy'lLLS, Kurt

-""Bashlr is Dìviding Us: Africâ and the

lnternationaI Criminat Court". ln Human

Rights Auarterly. Vot. 34, N.o 2, 2012' pp.404 447.

2 WithdrawaL Strategy Dacument. lJntào

Africana. [Consultado em: 20 de junho de 20171. Disponívet em: https://www hrw

org/sites/def auit/f iles/supporting-resour

ces/Ìcc withdrawat-strategy ian

2017-pdf.

3 ..urmb d dnnoun, es ptdns Io 5tay tn

lnternationaI Criminat Court". ln Reuters [Consultado em: 20 de iunho de 20]7l

Dis-ponívet em: http://www.reuters com/articte/ us-gambia justice-icc-iduSKBNl552HF

4 .lCC Withdrawêt tevoked after Court

ruiing: UN". /n Aliazeera. [Consultado em:

l0 .lê irnho de 20171 D sPorivet em: htrp://www.¡l jdreer d.Lom/n"w'/20 1 7/01/

icc-withdrawal-revoked-court-rutìng

1 70308084ó2B230.htmt/.

(7)

LISTÂ DE AUTORES

Aluandre Guerreí¡o

Ana Lúcia Sá

Anténío Horts Fernandes Daniela Martíns

Filipa Rcímundo

Filomena Capela

loão Francisco Díogo

Mbugi Kabunda

Moísds Sílua Fernandes

LIsrA DE AûroR¡s

Doutorando na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, incidindo a sua

investigação na área do direito internacional. Mestre em Ciências Jurídicas

Internacionais pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e

licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Ex-analista do

Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED). Autor de diversos artigos

na área do direito publicados em revistas científicas e âutor das obras A

R¿sis-tência dos Estados Aficonos à lurísdição do Ttíbunal Penal Intemacíonal (Almedina,

zorz) e Islõ0, o Estodo Islômico e os Rejrgíados: Quebrar Mitos eDesvendñ Místy'¡ios

(Quimera, zo16). Desenvolve um projeto de ida às escolas para partilhar con-terldos relacionados com terrorismo, direitos humanos e polltica internacional.

Doutorada em Sociologia. Atualmente é professora auxiliar convidada no

ISCTE--IUL e diretora do mestrado em Estudos Africanos. É invesúgadora no Centro

de Estudos Internacionais (CEI-IUL). A sua investigação centra-se nas relações

sociedade-Estado em regimes autoritários em África, especialmente em Angola

e na Guiné Equatorial, e nas heranças coloniais nas atuais idiossincrasias sociais,

culturais e políticas em contextos africanos.

Docente do Departamento de Estudos Políticos da FCSH-NovA. Estrategista.

Finalista do curso de Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de

Lisboa. Assistente de investigação da Professora Doutora Patrícia Galvão Teles

(membro da Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas). Doutorada em Ciências Políticas e Sociais pelo Instituto Universitário Europeu

de Florença. Atuâlmente é investigadora no ICS-UL e professora auxiliar convi-dada no Departamento de Ciência Política e Políticas Públicas do ISCTE-IUL.

Tem publicado nas revistas Demoústizatíon, South European Societg cnd Politics, Andlise Sociol, entre outras, ç nas editoras Palgrave/Macmillan, Routledge e Civi-lização Brasileira. Os seus interesses de pesquisa incluem a justiça transicional,

democratizações e decisão política.

Doutoranda em Estudos Africanos no ISCTE-IUL. Anteriormente trabalhou como especialista em floresta tropical, sustentabilidade e responsabilidade social na República Democrática do Congo.

Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na FCSH-NovA.

Licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa.

Colaborador do Grupo de Investigação <Direito, Política e Participação> do

CEDIS.FDUNL.

Professor de Relações Internacionais e Direitos Humanos na Universidade

Autó-noma de Madrid. Doutorado em Ciência Política pela Universidade Complutense

de Madrid. Atualmente dirige o Obserqatório de Ëstudos sobre a Realidade Social

Africana da Universidade Autónoma de Madrid. É especialista em questões de

integração regional, desenvolvimento, direitos humanos e conflitos em África. Investigador e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Autor de Conluência delnteresses: Macau nas Relações Luso-Chinuas Contemporâneas,

rg45-2oos (Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros e

Centro Científico e Cultural de Macau, zoo8) entre outras obras, artigos e

recen-sões críticas em português, inglês e chinês.

Referências

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