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Processo de ensino-aprendizagem em Odontologia: reflexões de docentes a partir da experiência de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva

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Processo de ensino-aprendizagem em Odontologia: reflexões de docentes a

partir da experiência de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva

Mônica Villela Gouvêa¹, Elisete Casotti¹

Instituto de Saúde Coletiva – Universidade Federal Fluminense Niterói, RJ, Brasil Mestrado Profissional Ensino na Saúde Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil

1monicagouvea@gmail.com; elisete.casotti@gmail.com

Resumo. O artigo discute a formação odontológica a partir dos Estágios Supervisionados em Saúde Coletiva

1 e 2, da Universidade Federal Fluminense, Brasil. Estudo exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa, envolvendo 07 professores que orientam estagiários em unidades do sistema público de saúde. Os dados foram obtidos a partir da síntese de encontros na perspectiva de rodas de conversa realizados no ano de 2018 e submetidos à análise de conteúdo temática. São categorias de análise: a organização do estágio, as possibilidades de aprendizado e as limitações do desenvolvimento do estágio. Os professores destacam que a realização do estágio na rede pública é um diferencial; que representa uma reflexão sobre o papel do dentista frente às condições de vida da população; e que fatores como violência e desfinanciamento do Sistema são limitantes. Concluiu-se que a instituição decenários de prática no sistema público de saúde contribui para a compreensão da dimensão ética do trabalho em saúde.

Palavras-chave: Educação;Odontologia; Aprendizagem; Estágio.

Dentistry Teaching-learning process: teacher reflections on the supervised academic Internship in Collective Health

Abstract. The article discusses the dental training on the supervised internship in Collective Health 1 and 2,

of the Federal Fluminense University, Brazil. It’s a exploratory and descriptive study, with qualitative approach, involving 07 teachers that guides trainees in units of the public health system. The data were obtained from the synthesis of conversations circles in 2018 and submitted to the thematic content analysis. The categories of analysis are: the organization of the internship, its possibilities of learning and development limitations. The teachers emphasize that the realization of the internship in the public network is a differential; that its represents a reflection about dentist’s role in face of the population living conditions; and that violence and de-financing of the public health system are limiting factors. It was concluded that defining practice spaces in the public health system contributes to the understanding of the ethical dimension of health work.

Keywords: Education; Dentistry; Learning; Internship

1 Introdução

No Brasil, desde a realização da reforma sanitária que resultou na consolidação de um sistema público universal de saúde em 1988e a publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para cursos de graduação em saúde (DCN) a partir do ano de 2001, o papel da Instituição de Ensino Superior na formação de estudantes com visão crítica e reflexiva é essencial para transformação da prática profissional nos diversos cenários do sistema público universal de saúde (SUS). A constituição brasileira registra a saúde como sendo de relevância pública, sendo da responsabilidade do Estado prover para todos, condições para a sua promoção, proteção e recuperação. Nesse sentido, o Brasil tem procurado ampliar o foco da formação superior em saúde na direção de sua defesa como uma dimensão dos direitos humanos e as DCN, explicitam a necessidade de serem formados profissionais generalistas,

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Para alcançar esse objetivo foi preciso uma ampla discussão e a redefinição da organização curricular através de projetos políticos pedagógicos capazes de propiciar a formação de profissionais qualificados para realização de mudanças que venham fortalecer o Sistema Único de Saúde (Tonhom, Moraes, & Pinheiro, 2016). Apesar de todo esse movimento, a formação em odontologia no país permanece prioritariamente voltada para a clínica odontológica, o que confere aos egressos competências e habilidades individuais e de caráter cirúrgico-restaurador, muito voltadas para a atuação liberal/privada no mercado de trabalho, e com pouca vinculação às necessidades de saúde da maioria da população brasileira. Por outro lado, estudos apontam que esse campo da atuação se encontra saturado para o cirurgião-dentista, tendo a atuação no serviço público de saúde se tornado uma alternativa segura e desejada, especialmente depois da inserção de equipes de saúde bucal na estratégia de saúde da família. (Soares, 2016)

A reforma sanitária brasileira reconheceu a necessidade da formação de um perfil de profissional de saúde apto a cuidar das necessidades da população e para tanto era preciso incentivar a articulação entre a academia (espaço de formação) e o serviço de saúde. O cirurgião dentista que atua como profissional de saúde numa unidade pública brasileira, lida diretamente com as necessidades da população o que exige reflexões que extrapolam o campo da biologia humana e os limites da clínica odontológica, requerendo, sobretudo, ações sociais e protagonismo político. Assim, para que possa adquirir esse aprendizado, o estudante deve estar inserido em diversificados cenários de prática, de forma articulada aos serviços de saúde, a fim de proporcionar a formação desejada (Baldoino, Veras, Baldoino, & Veras, 2016).

Nesse sentido, no âmbito da educação superior em saúde, permanece o debate sobre os conhecimentos que precisam constituir a base do exercício da docência, incluindo conhecimentos técnicos e domínio conceitual referentes ao processo de ensino-aprendizagem (Freitas et al., 2016). Na graduação em saúde a aprendizagem pode ser facilitada com a utilização de diversas estratégias pedagógicas, por meio das quais o aluno deve ter a oportunidade de praticar habilidades em ambientes de aprendizagem adequados, bem como de participar ativamente na aprendizagem de práticas. Considera-se que esses ambientes de aprendizagem podem abranger desde os laboratórios, onde se desenvolvem situações controladas ou simuladas, utilizando modelos anatômicos e videoteipes, até cenários de práticas em serviços de saúde, exemplo do que ocorrem nos estágios supervisionados (Uysal, 2016). Diante do exposto, entende-se que, com as inovações das propostas curriculares e das metodologias de ensino-aprendizagem, urge-se que futuros profissionais adquiram novos saberes e fazeres, e o processo de avaliação também esteja inserido nesses avanços do ensino aprendizado (Barreto, Xavier, & Sonzogno, 2017).

Diante das reflexões apresentadas, percebe-se que ao estudante é preciso oportunizar a oportunidade de potencializar conhecimentos, habilidades e atitudes, por meio da associação da teoria com a prática e a aproximação com as condições de vida da maioria da população, o que é em grande medida proporcionado pelo estágio supervisionado em saúde coletiva. No Brasil, o campo da Saúde Coletiva trouxe à tona a discussão sobre a integralidade das ações de saúde, reacendendo o debate sobre as práticas de cuidado integrais e as possibilidades de construção de uma clínica ampliada (Campos, 2007), na medida em que se tornou consensual a importância dessa reflexão para a realização de um trabalho em saúde humanizado e mais resolutivo. A Faculdade de Odontologia da Universidade Federal Fluminense realizou sua primeira reforma curricular após oito anos de intensas discussões e formou em 2018 a primeira turma após a implantação do novo currículo que prioriza a integração entre conhecimentos “básicos” e “profissionais”, individuais clínicos e de saúde coletiva. Nesse contexto os docentes envolvidos com o Núcleo de Saúde Coletiva vem aprimorando suas articulações na expectativa de oferecer atividades capazes de despertar, desde os períodos iniciais, para a atuação no sistema de saúde brasileiro através da utilização de metodologias ativas de ensino-aprendizagem.

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Dessa forma, a questão norteadora desse estudo surgiu a partir da seguinte reflexão: como se dá o processo de ensino aprendizagem e a articulação teoria e práticanos estágios supervisionados em saúde coletiva para alunos de odontologia? Nesse contexto, intencionou-se abordar tais questões sob a perspectiva de docentes implicados com a perspectiva do desenvolvimento de competências relacionadas à saúde. Este estudo objetivou, portanto, analisar as reflexões de docentes sobre o ensino-aprendizagem de graduandos nos estágios supervisionados em saúde coletiva em um curso de Odontologia.

2 Metodologia

Trata-se de estudo qualitativo, do tipo exploratório e descritivo. Trabalhou-se com a pesquisa qualitativa por esta ser apropriada para a incorporação do significado e da intencionalidade dos atos, considerando relações e estruturas sociais, oriundas de construções humanas significativas (Minayo, 2014). Nesse sentido, procurou-se com a pesquisa, considerar significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes (Minayo, 2002), conforme a natureza do objeto em apreensão, qual seja a experiência de docentes em relação ao ensino aprendizagem em estágios de saúde coletiva para alunos de graduação em Odontologia. A pesquisa foi realizada em uma instituição pública de ensino superior, situada em Niterói/RJ, Brasil, que insere e supervisiona estudantes dos dois últimos períodos curriculares em unidades de saúde de dois municípios do estado do Rio de Janeiro: Niterói e Rio de Janeiro. Esta inserção é viabilizada mediante convênio firmado entre as instituições de ensino e os municípios envolvidos.

A pesquisa envolveu encontros realizados na perspectiva de rodas de conversa formadas por 7 professores que atuam no núcleo de saúde coletiva da referida instituição, e que trabalham nas disciplinas de Estágio Supervisionado em saúde coletiva. Para a preservação do sigilo, foi realizada uma codificação dos participantes utilizando-se a letra P numerada seguidamente de 1 a 7.

Não houve exclusão de participantes segundo o critério predefinido de férias ou de licença durante o período das rodas de conversa. No intervalo de tempo relativo à pesquisa, os sete participantes desenvolveram atividades de supervisão de estágio em 22 unidades de atenção primária à saúde sendo todas na estratégia de saúde da família, 12 unidades especializadas e 03 espaços de gestão setorial.

As rodas de conversa foram utilizadas conforme definição apresentada por Melo & Cruz (2014) que apontam que a coleta de dados por meio de Roda de Conversa permite a interação entre participantes como uma espécie de entrevista de grupo. Os autores ressaltam que não se trata de um “processo diretivo e fechado em que se alternam perguntas e respostas, mas uma discussão focada em tópicos específicos na qual os participantes são incentivados a emitirem opiniões sobre o tema de interesse” (Melo & Cruz, 2014, p.33)

A coleta de dados foi realizada por duas pesquisadoras durante o ano de 2018, a partir das rodas de conversa em que todos foram convidados a narrar suas experiências, a partir de uma questão norteadora inicial: “como você avalia a inserção dos alunos de odontologia nos espaços em que os supervisiona?” Dutra (2002) argumenta quer o narrador não “informa”, mas conta sobre a sua experiência, dando oportunidade para que o outro a escute e a transforme de acordo com a sua interpretação, levando a experiência a uma maior amplitude (p. 373).

O material empírico foi representado pelo compilado de registros, não nominados, realizado a partir das sínteses elaboradas em diários de campo durante e ao final de cada roda de conversa . Este foi analisado com base na análise de conteúdo temática, buscando -se conferir à interpretação maior profundidade e criticidade em relação ao fenômeno estudado (Minayo, 2014).

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A fase de pré-análise dos dados ocorreu a partir da leitura flutuante dos registros das roda de conversa, definindo-se o corpus do trabalho. A segunda etapa consistiu na exploração do material, com o recorte do corpus, descrição e definição das categorias. Na terceira etapa foi realizado o tratamento dos resultados concomitante com a interpretação feita sobre os achados à luz da literatura. A análise promoveu a identificação de categorias obtidas por meio da leitura exaustiva do material de pesquisa , identificando as semelhanças, os elementos e idéias, chegando aos núcleos de sentidos (Organização; Possibilidades de aprendizado; Fatores limitantes ) e tema (Processo de Ensino aprendizagem em odontologia: reflexões de docentes a partir da experiencia de estagio supervisionado em saúde coletiva) .

O estudo respeitou os princípios éticos preconizados pela Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil, que regulamenta as diretrizes e normas de pesquisas envolvendo seres humanos, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal Fluminense, Parecer Consubstanciado nº 252232.

3 Resultados e discussão

3.1 Da caracterização dos participantes

Os sete professores que participaram das rodas de conversa apresentam um perfil que tem a saúde coletiva e a área de ensino como interseção. Os professores P1, P2 e P3 já trabalham na Universidade há mais de 10 anos; P4, P5 e P6 há mais de 5 anos; e o professor P7 é o mais jovem com dois anos. Quanto à formação todos os participantes são graduados em odontologia e são doutores e suas áreas de formação que variam entre Saúde Coletiva (P7), Odontologia Social (P1, P2, P3, P5), Educação (P4) e Ética Aplicada e Bioética (P6).

Possuem faixa etária entre de 30 e 62 anos e quatro são do gênero feminino, sendo o mais velho o que tem maior tempo na universidade. Quanto à experiência prévia de trabalho no serviço público de saúde, apenas P7 não possui. Com relação à formação pedagógica, apenas P2 e P4 possuem curso de formação de professores ou de qualificação em metodologias de ensino . Sobre experiência em docência prévia ao acompanhamento do estágio supervisionado, todos são ou já foram professores em outras disciplinas, inclusive em outras instituições de ensino. Os professores atuam tanto em disciplinas do curso de graduação de odontologia como também em outros cursos de graduação e pósgraduação na referida universidade.

3.2 Da organização dos Estágios Supervisionados

Os estágios supervisionados em saúde coletiva são precedidos de três disciplinas teórico práticas ofertadas no segundo, quinto e sexto períodos do currículo do Curso de Odontologia da UFF. Essa organização contempla em nível crescente de complexidade, os três principais campos da Saúde Coletiva (Ciências Sociais na Saúde, Epidemiologia, Política e Planejamento em Saúde) e possibilita que os estudantes vivenciem, no cotidiano das ações do estágio supervisionado, conceitos e ferramentas previamente aprendidos/discutidos.

No curso de Odontologia da UFF, o Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva (ESC) se insere nos dois últimos períodos de formação. O ESC 1 é ofertado no oitavo período e promove a vivência dos alunos em unidades de atenção primária especificamente na estratégia de saúde da família. Por sua vez.o ESC 2 é ofertado no nono e último período, com foco na atenção de média e alta complexidade em saúde bucal, bem como em outras experiências como a vivencia em diferentes níveis de gestão ou vigilância.

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produtos a serem elaborados pelos estudantes a partir das vivencias. Nesse processo, participam os preceptores, profissionais de saúde das unidades que aceitam receber e orientar os alunos durante o seu cotidiano de atuação na unidade de saúde. Estes promovem a inserção dos estudantes na realidade social e compartilham saberes e experiências do mundo do trabalho. A presença dos estudantes nas unidades, por sua vez, contribui para o desenvolvimento da educação permanente nos serviços. Dessa forma, favorece-se a integração entre a universidade, os serviços e a comunidade, contribuindo para ampliar os alcances da formação profissional oferecida.

Os estágios estão estruturados numa alternância entre a atuação individual ou no máximo em duplas, nos espaços de aprendizagem chamados de momentos de dispersão, e encontros coletivos presenciais na universidade chamados, momentos de concentração. Busca-se, através de uma metodologia alicerçada nos princípios da educação democrática e problematizadora, favorecer a autonomia dos futuros cirurgiões-dentistas.

Os participantes ressaltam que a disciplina busca induzir, por meio das vivências de cada estudante, reflexões sobre os avanços, limites e potencialidades das ações de saúde nos diversos níveis de atenção do sistema de saúde. Tais experiências são compartilhadas nos momentos de concentração, possibilitando discussões e a ressignificação coletiva de conceitos e pré-conceitos em torno do modelo de prática no SUS.

Os campos de estágio são lugares de desenvolvimento e amadurecimento de competências (saber-fazer) necessárias para autonomia do profissional na intervenção nas práticas de saúde (Marran, Lima, & Bagnato, 2015). No entanto, nos desenhos tradicionais de estágios em serviços de saúde, os estudantes são levados para conhecer tais serviços sem qualquer envolvimento ou responsabilidade. Essa prática gerou a percepção de que nestes casos as unidades são vistas (e utilizadas) como “locais onde se podem observar profissionais de saúde atuando e pacientes pobres” (Silva Junior et al., 1996). Essa prática pode ser relacionada ao modelo tradicional de ensino, ainda predominante, que não acompanha as transformações do sistema e dos serviços de saúde, não atendendo aos novos desafios e às exigências contemporâneas (Freitas et al., 2016; Ribeiro & Medeiros Júnior, 2016).

As discussões realizadas durante as rodas de conversa e respectivos registros no diário de campo, permitiram observar o quanto a estrutura relatada dos estágios prioriza e favorece a participação efetiva de preceptores nas atividades desenvolvidas no cotidiano da unidade, que demonstram compreensão de seu papel na formação dos alunos.

No exercício da docência, os professores devem refletir sobre o processo educacional e planejá-lo de tal maneira que sua implementação seja capaz de promover processos de aprendizagem, nos quais, além da construção de conhecimentos, ocorra desenvolvimento de habilidade e atitudes. Desta forma, os campos de estágio são lugares de desenvolvimento e amadurecimento de competências (saber-fazer) necessárias para autonomia do profissional na intervenção nas práticas de saúde (Marran, Lima, & Bagnato, 2015). As possibilidades de aprendizado proporcionadas pelos estágios supervisionados, garantem preparo para lidar com demandas do campo da saúde coletiva de forma responsável e ética. As diferentes situações oferecidas pelas vivências e apresentadas nos momentos de concentração, são exploradas como material de ensino e de produção de conhecimento, retroalimentando mudanças e aprimorando o estágio a cada período. Esse movimento indica a percepção de que o estágio constitui um momento importante para a construção da identidade profissional, sendo fundamental o desenvolvimento de uma ação vivenciada, reflexiva e crítica.

A prática docente requisita um conjunto de saberes que precisa ser permanentemente atualizado e colocado a disposição para interagir com as diferentes situações trazidas pelos preceptores e pelos alunos, situações estas marcadas pelo imprevisto e pela diversidade. Estes conhecimentos podem ser adquiridos na formação ou atuação profissional, destacando-se os saberes relacionados ao contexto

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3.3 Das possibilidades de aprendizado dos Estágios Supervisionados

Na opinião dos participantes do estudo, as disciplinas de Estágio Supervisionado em Saúde Coletiva possibilitam que o estudante construa conhecimentos, desenvolva habilidades de atenção em saúde bucal (incluindo a assistência odontológica), desenvolva autonomia e senso crítico, exercite habilidades de comunicação e, também, que atue com protagonismo, comprometimento e responsabilidade frente às demandas de saúde/saúde bucal da população adscrita à sua unidade de estágio.

Referem ainda que tais aspectos são fundamentais para o desenvolvimento competências técnicas, humanísticas e sociais, conforme preconizado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Odontologia (2002) e são indispensáveis para a formação de cirurgiões-dentistas críticos e reflexivos sobre sua futura práxis, tendo como horizonte o alcance de melhores condições de saúde para a população

Os docentes referiram nas rodas de conversa o quanto a experiência do estágio supervisionado afeta os alunos especialmente quando os preceptores são dedicados e conscientes de seu papel na formação do aluno e desenvolvem o Plano de Estágio. A partir das vivências os alunos puderam aplicar alguns conceitos/ferramentas-chave para a produção do cuidado em saúde que até então tinham conhecido no plano teórico. Dentre elas: taxonomia de necessidades de saúde, processo de trabalho, acolhimento, integralidade, projeto terapêutico singular , familiograma, planejamento em saúde e trabalho em equipe. Puderam também conhecer ferramentas valiosas para o desenvolvimento da clínica ampliada, conhecer o sistema de informação da unidade, refletir sobre o papel da intersetorialidade na produção da saúde e participar de programas e ações de saúde coletiva. Nessa perspectiva, a adoção de estratégias consideradas eficientes, reconhecidas como tal por seu potencial de articulação teórico-prática, estimulando a criticidade do aluno e a intervenção adequada no âmbito do sistema de saúde, constitui dimensão que confere qualidade à formação, principalmente quando estas se mostram potentes para oferecer soluções às demandas apresentadas pela sociedade aos serviços de saúde (González-Chordá & Maciá-Soler, 2015).

A aproximação ao cotidiano dos serviços de saúde pode tornar a aprendizagem significativa, considerando que o processo ensino-aprendizagem em cenários de estágio apresenta aspectos diferenciados daqueles efetuados em salas de aula, permitindo que as relações se estendam além do docente-discente, incluindo, também, os usuários e a equipe de trabalho, em uma perspectiva de inserção do aluno no mundo do trabalho, permitindo-lhe compreender sua dinâmica (Pimentel, Vasconcelos, Rodarte, Pedrosa, & Pimentel, 2015).

Nesse contexto, a seleção das estratégias de ensino-aprendizagem articuladas a uma nova forma de pensar e agir em saúde, a diversificação de cenários e a formação dos preceptores são fundamentais para criação de cenários propícios à aprendizagem e à organização dos serviços de saúde (Pimentel et al., 2015).

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3.4 Dos fatores limitantes dos Estágios Supervisionados

A questão central referida como capaz de interferir negativamente no andamento dos estágios é a instabilidade das parcerias com as secretarias municipais e estaduais de saúde, representadas pelas mudanças políticas e econômicas que acarretam no desfinanciamento do Sistema, provocando demissões de servidores/preceptores, redução do número de equipes completas e desabastecimento dos serviços. Os participantes ressaltam que movimentos de retrocesso nas políticas públicas produzem profundos impactos nas condições de trabalho e na motivação dos profissionais, incidindo diretamente sobre a qualidade da preceptoria dos estudantes.

Outro fator apontado se refere ao crescimento da violência urbana, que tem recrudescido a cada dia e que está muito próxima dos cenários de prática, dada a localização da maioria das Unidades de Saúde. Essa situação restringe o desenvolvimento de algumas ações das Equipes, como as visitas domiciliares e as atividades preventivas promocionais em equipamentos sociais dentro das comunidades, até o fechamento total da Unidade. Deriva dessa situação também a permanente reflexão sobre a responsabilidade da Universidade em manter ou retirar os alunos nestes espaços. Os professores ponderaram sobre as medidas de segurança recomendadas e acordadas entre alunos e preceptores, que envolve comunicação em tempo real antes do deslocamento para a Unidade, e sobre a avaliação da permanência ou não da oferta do campo de estágio.

Destaca-se, ainda que autores argumentam que a inserção tardia do aluno apenas nos últimos períodos no estágio pode acarretar dificuldades relacionadas ao desenvolvimento do diálogo diante de situações que o desafiam a desenvolver o raciocínio crítico (Ribeiro & Medeiros Júnior, 2016; Tonhom et al., 2016). Assim, o contato dos discentes com cenários de práticas deveriam ocorrer ao longo da formação, como requisito para potencializar o aprendizado, construindo conhecimentos com base na realidade social de saúde da população.

4 Conclusões

Esta pesquisa investigou a percepção de docentes de uma instituição superior de ensino sobre o desenvolvimento de uma experiência de aproximação entre alunos do curso de Odontologia e serviços de saúde em estágio de saúde coletiva. O estudo é desafiador no contexto da formação de profissionais de saúde em um país em desenvolvimento tanto pela defesa de uma experiência de diálogo com pares da educação e da saúde como também pela abordagem metodológica qualitativa nestas áreas. O processo ensino-aprendizagem proporcionado pelo estágio supervisionado é percebido pelos docentes como uma experiência estruturada, dinâmica e interativa, sendo oferecido ao aluno a oportunidade de perceber a articulação entre a teoria e a prática em serviços de saúde, mediante as diversas trocas proporcionadas nos momentos de dispersão e concentração. A estruturação, organização e reflexão sobre as atividades do estágio são elementos fundamentais na construção da qualidade da experiência e neste sentido, a realização do estágio na rede pública de saúde é um diferencial, que representa uma reflexão sobre o papel do dentista frente às condições de vida da população. Os fatores violência e desfinanciamento do Sistema são limitantes e correspondem ao contexto de vida no Brasil nos últimos tempos em especial se considerarmos que o estudo foi desenvolvido no entorno de uma capital como o Rio de Janeiro.

Por fim, considerando que o presente estudo permitiu identificar desafios encontrados por um grupo de professores através das narrativas proporcionadas pelos encontros nas rodas de conversa, cabe destacar que a metodologia qualitativa foi fundamental para a apreensão e análise dos dados, uma vez que possibilitou retratar caminhos trilhados e percepções dos professores em sua

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prática cotidiana. Nesse contexto, conclui-se que a instituição de cenários de prática no sistema público de saúde contribui para a compreensão da dimensão ética do trabalho em saúde.

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