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"Descrição e organização do fundo do convento S. Francisco do Porto"

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Academic year: 2021

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José Guilherme da Silva Coutinho Gouveia

DESCRIÇÃO E ORGANIZAÇÃO DO FUNDO DO

CONVENTO DE SÃO FRANCISCO DO PORTO:

valorização de um património arquivístico religioso

conventual

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

(2)

2 Relatório de Estágio De Mestrado em História e Património, no ramo de especialização de Arquivos Históricos, apresentado à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, sob a orientação da Prof. Doutora Fernanda Ribeiro e da Prof. Doutora Inês Amorim, pela FLUP, e do Dr. António Sousa, pelo ADP, instituição de acolhimento de estágio

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Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço imenso à Prof. Doutora Fernanda Ribeiro e à Prof. Doutora Inês Amorim, orientadoras de mestrado e estágio, pelo acompanhamento científico e atento em todo este caminho de aprendizagem. Ajudaram-me a acreditar no meu projecto e transmitiram-me o seu entusiasmo pelo conhecimento e pela sabedoria. Obrigado pela análise crítica, pela compreensão e pela ajuda. Em nome delas, agradeço a Faculdade de Letras da Universidade do Porto pelas estruturas e condições que oferece para o bom desempenho académico.

Uma palavra de muita gratidão ao orientador de estágio no ADP, o Dr. António Sousa, que se mostrou sempre disponível a ouvir, a partilhar e a aconselhar, que disponibilizou os materiais necessários à realização desta tarefa e por todos os ensinamentos transmitidos. Em nome dele, o meu obrigado ao Arquivo Distrital do Porto e à sua Directora, a Dr.ª Maria João Pires de Lima, por esta oportunidade de participação na sua missão de preservação e de transmissão da informação.

Obrigado ao Dr. Paulo Tremoceiro, do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, que prestou o apoio necessário ao acesso aos documentos que quisemos consultar nesse mesmo arquivo e à pesquisa dos mesmos.

Ao Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto, e à sua Técnica de Biblioteca e Documentação, a Dr.ª Maria João Ferreira Figueira, pelo acolhimento, ajuda e simpatia na consulta dos seus livros.

Às Técnicas de Biblioteca e Documentação da Biblioteca Pública Municipal do Porto pelo apoio prestado à consulta e à leitura.

Ao Doutor Frei Isidro Lamelas e ao Doutor Frei Henrique Pinto Rema, da Ordem dos Frades Menores, pelas preciosas orientações dadas ao estudo da espiritualidade e da regra franciscanas.

À Prof. Doutora Cristina Cunha, da FLUP, pelo auxílio nas questões de Paleografia e Diplmática.

À Obra A.B.C. e à Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) pelo apoio e incentivo ao longo do meu trabalho.

Por fim, mas não menos importante, a minha imensa gratidão e palavra de apreço à minha família, em especial à Raquel, que estiveram sempre a meu lado a encorajar-me. Sem eles não teria conseguido realizar esta odisseia.

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Resumo

O conjunto de actividades de descrição arquivística e de contextualização histórica realizadas em estágio no Arquivo Distrital do Porto, produziu resultados de investigação e de trabalho de arquivo interessantes. O estágio desenrolou-se entre os meses de Novembro de 2010 e Maio de 2011 com vista à obtenção do grau de Mestrado em História e Património, ramo Arquivos Históricos, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. O estágio teve por objecto a documentação do Fundo do Convento de São Francisco do Porto existente no Arquivo Distrital do Porto, cujo conteúdo informacional possui grande valor patrimonial. O seu principal objectivo foi o de corrigir a descrição e organização arquivísticas, a que esse fundo já tinha sido submetido, a fim de contribuir para a sua preservação e disponibilização ao acesso do público. Pretendeu-se, de igual modo, reorganizar a sua documentação deste fundo em secções e séries e reconstituir intelectualmente o arquivo original do Convento de São Francisco do Porto por altura da sua extinção em 1834. Para tal, foi feita a verificação e validação das descrições já efectuadas e a descrição de todos os documentos ao nível do catálogo na plataforma digital Digitarq, com base nas normas arquivísticas internacionais e nacionais em vigor, nomeadamente a ISAD (G) e as ODA. A par destas tarefas, foi desenvolvido um trabalho de pesquisa de documentação produzida pelo mesmo convento portuense e tutelada por outras instituições, mormente pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo e pela Biblioteca Pública Municipal do Porto, bem como um estudo de contextualização da documentação, centrado em particular na história deste convento franciscano e na estrutura orgânica e funcionamento da sua comunidade. Tendo sido uma experiência bastante enriquecedora e formativa, quer pelo contacto e tratamento da documentação, quer pela inserção na dinâmica de um arquivo distrital, este relatório apresenta como principais frutos do estágio o catálogo do Fundo do Convento de São Francisco do Porto do ADP, uma lista de tipologias documentais do fundo, a história administrativa do convento, suportada por uma cronologia, e organigramas da estrutura da Ordem dos Frades Menores e da estrutura interna do convento.

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Abstract

An archival description activity complemented with background study undertaken during a period of internship in the Arquivo Distrital do Porto (Oporto´s district archives) brought several interesting research conclusions. The study ran from November 2010 until May 2011; and research was conducted towards a Master´s Degree in History and Heritage, specializing in Historical Archives, from the Faculdade de Letras da Universidade do Porto. The internship involved archival description concerning the historical documentation from the Convento de São Francisco do Porto Fonds, housed in the Arquivo Distrital do

Porto, in order to promote its preservation and accessibility. Study included correction of

the previous descriptions concerning the documentation and research into the convent’s historical background. Work also included rearrangement of the fonds’ series and reconstruction of the original archives at the time of the Convent’s closing in 1834. Digitarq, a computerized information system, was used to accomplish verification and validation of previous descriptions and to conduct the description of the remaining files concerning the Convent’s Fonds at catalogue level, based on international/national archival standard rules, namely ISAD (G) and ODA. In addition, other documents produced by the Convento de São Francisco do Porto Fonds were searched for, and those housed at Arquivo Nacional da Torre do Tombo (Portugal’s national archives) and

Biblioteca Pública Municipal do Porto (Oporto’s disctrict public library) were examined.

Findings were developed through in-depth study into document context, the history of the Franciscan convent, and the functional structure of the religious community at the

Convento de São Francisco do Porto. The internship in Arquivo Distrital do Porto was an

enriching educational experience which involved document management and led to the creation of the archive catalogue for the Convent/Fond, a document classification list; an administrative, chronological history of the convent; and organizational charts which detail the structure of the Minor Friars Order and that found within the Convento de São

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Siglas e Abreviaturas

ADP - Arquivo Distrital do Porto

ANTT - Arquivo Nacional da Torre do Tombo BPMP - Biblioteca Pública Municipal do Porto

DGARQ - Direcção-Geral de Arquivos

EAC - Encoded Archival Context EAD - Encoded Archival Description

f. - folha, fólio

FLUP - Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Fr. - Frei

ISAAR(CPF) - Norma Internacional de Registos de Autoridade Arquivística para Pessoas Colectivas, Pessoas Singulares e Famílias

ISAD(G) - Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística (em inglês, General International Standard Archival Description)

ODA - Orientações para a Descrição Arquivística OFM - Ordem dos Frades Menores

p. - página

UI - Unidade de Instalação

v. - verso

ver. - versão

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Sumário

Introdução ... 9

1. A Instituição de estágio: o Arquivo Distrital do Porto ... 12

2. O Convento de São Francisco do Porto ... 14

2.1. Breve historial do Convento de São Francisco do Porto ... 14

2.2. Regra de Vida e outros textos normativos da Ordem dos Frades Menores ... 24

2.3. A Espiritualidade Franciscana ... 26

2.4. A Organização Administrativa da OFM... 30

2.5. Ofícios e funções dos religiosos dentro e fora da comunidade do convento ... 31

3. O Objecto de Estudo: O Arquivo do Convento ... 38

3.1. O Cartório e os Livros do Arquivo do Convento ... 38

3.2. A reforma dos tombos do cartório e a sua autoria ... 44

3.3. A dispersão do arquivo e os Fundos do Convento de S. Francisco do Porto no ADP e no ANTT ... 48

4. Desenvolvimento do Estágio ... 52

4.1. As actividades desenvolvidas ... 52

4.2. Principais questões encontradas e resoluções tomadas ... 57

a) Códigos de Referência ... 57

b) Títulos dos documentos ... 57

c) O Produtor/autor dos documentos ... 59

d) A Datação ... 59

e) Abreviaturas ... 60

f) Âmbito e conteúdo ... 60

g) Aspecto físico e suporte ... 61

h) Idioma e Escrita ... 62

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j) Unidades de Instalação como Documentos ... 62

k) Documentos simples ou compostos... 63

l) Cópias dos documentos ... 64

m) Descrição das notas do comissário das capelas ... 65

n) O desaparecido Tomo Nono dos Títulos das Capelas e Legados ... 65

o) Transferência de um Tombo para outro Fundo ... 66

p) Autonomização do Sub-fundo da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito ... 67

Fontes e Referências Bibliográficas Consultadas ... 72

ANEXO I: Cronograma de actividades planeadas e realizadas ... 77

ANEXO II: Lista de tipologias documentais do Fundo do Convento de São Francisco do Porto no ADP ... 78

ANEXO III: Cronologia do Convento de São Francisco do Porto... 84

ANEXO IV: O Convento de São Francisco do Porto na Estrutura Orgânica da Ordem dos Frades Menores ... 93

ANEXO V: Estrutura Interna do Convento de São Francisco do Porto (1772-1786) ... 94

ANEXO VI: Texto proposto para “História administrativa/biográfica” do Fundo do Convento de São Francisco do Porto no ADP ... 95

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Introdução

No âmbito do Mestrado em História e Património, ramo de especialização em Arquivos Históricos, realizámos um estágio no Arquivo Distrital do Porto entre os meses de Novembro de 2010 e Maio de 2011, sob a orientação da Prof. Doutora Cândida Fernanda Antunes Ribeiro, e co-orientação da Prof. Doutora Maria Inês Ferreira de Amorim Brandão da Silva, por parte da FLUP, e também sob a orientação do Dr. António Armando Sousa, por parte do Arquivo Distrital do Porto, como instituição de acolhimento de estágio. O trabalho que aqui se apresenta, reflecte a concretização do plano de estágio proposto, que pretendeu ser um contributo para a valorização do património histórico documental e cultural, bem como uma concretização dos conhecimentos teóricos adquiridos dentro da formação de mestrado, numa relação próxima entre História e Arquivística.

Actualmente, quando se fala em Património Histórico, as luzes da ribalta direccionam-se de imediato para o património material arquitectónico, para os grandiosos monumentos que fazem parte do nosso caminho histórico. Porém, o nosso património histórico é um património cultural muito mais vasto e rico. Tal como esses monumentos de pedra e arte, os livros, as criações artísticas e a documentação preservada em bibliotecas, museus ou em arquivos – muitos ainda num estado de letargia, de esquecimento ou desconhecimento - têm o poder de nos ligar à experiência de vida dos que nos antecederam. Os documentos nos arquivos são testemunhos do nosso passado, muitas vezes os únicos capazes de atribuir um sentido às tradições ou bens que herdámos. Mais importante ainda, como património rico que o são, os documentos oriundos do passado podem ajudar-nos na descoberta da nossa identidade pessoal e social e orientar os passos futuros da odisseia humana. Os fundos monásticos e conventuais dos arquivos são um extraordinário manancial de informação sobre a nossa história e identidade. No entanto, muitos deles vão-se mantendo sem receber o tratamento arquivístico apropriado que possibilite um fácil e contextualizado acesso à sua informação. Preservar, valorizar, transmitir e dinamizar este património faz parte da nossa responsabilidade humana.

Pareceu-nos importante que o nosso estágio pudesse colaborar para que a documentação de uma instituição com um papel considerável na história da cidade do Porto e com um significativo património cultural, pudesse ser preservada e acessível ao público em geral. Por isso, escolhemos como objecto do nosso trabalho de estágio a documentação produzida pelo Convento de São Francisco do Porto que se encontra no Arquivo Distrital do Porto (ADP). Da estrutura física do Convento de São Francisco do Porto, apenas resta a Igreja de São Francisco, exemplar belo e único do gótico na cidade do Porto. No lugar que era o do convento situa-se agora o Palácio da Bolsa, sede da Associação Industrial do Porto. A Igreja de São Francisco mantém-se como um dos monumentos mais marcantes da paisagem do centro histórico portuense e um dos mais visitados turisticamente. Apesar de não estarem visíveis as paredes do Convento de São Francisco do Porto, o seu acervo, afectado já por tantos perigos e condicionalismos, apresenta-se hoje como testemunha fiel da sua existência e da interligação de uma forma de vida humana, comunitária e religiosa com a vida urbana portuense ao longo dos

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10 tempos. O Fundo do Convento de São Francisco do Porto no ADP apresentava-se como um bom fundo para ser trabalhado devido não só ao valor do seu produtor e ao interesse do seu conteúdo, mas também devido à sua dimensão acessível e ao trabalho de descrição já efectuado mas incompleto.

O principal objectivo para o nosso estágio foi então o de corrigir e completar a descrição já feita do Fundo do Convento de São Francisco do Porto do ADP, possibilitando a posterior reorganização intelectual dos seus documentos e catalogação, dentro de uma lógica orgânico-funcional, e posterior recriação virtual do que teria sido o arquivo do convento aquando da sua extinção. Propusemos para o nosso trabalho os seguintes objectivos específicos:

- verificar e validar as descrições efectuadas no Fundo do Convento de São Francisco do Porto presente no ADP, completando as faltas relativamente ao previsto nas normas da ISAD(G), da ISAAR(CPF) e da ODA (ver. 2);

- descrever os documentos do mesmo fundo ainda não descritos até ao nível do catálogo; - anexar a referência aos documentos provenientes do Convento de São Francisco do Porto e que se encontram noutras instituições;

- reorganizar as séries e respectivos documentos do fundo, se necessário, resultante das pesquisas efectuadas e da análise desses documentos.

Para a consecução destes objectivos, planeámos cinco tarefas principais: o reconhecimento do ADP, instituição de estágio, e do seu Fundo do Convento de São Francisco do Porto; a contextualização do fundo; a descrição da sua documentação ao nível de fundo, das séries e dos documentos; o relacionamento com documentos do Convento de São Francisco do Porto custodiados por outras instituições; a reorganização dos documentos do fundo nas séries e secções.

No reconhecimento do ADP, tomámos conhecimento do seu trabalho, das suas funções e das suas regras internas. Procurámos conhecer a documentação do Convento de São Francisco do Porto nele existente, o trabalho de tratamento arquivístico já efectuado sobre esse fundo e o modo de efectuar a descrição no arquivo. Estudámos igualmente as normas arquivísticas em uso no ADP, nomeadamente da ISAD(G), da ISAAR(CPF) e da ODA. Contactámos e aprendemos a trabalhar com a base de dados e ferramenta informática do arquivo, o Digitarq.

Para a contextualização do Fundo do Convento de São Francisco do Porto, dedicámo-nos à pesquisa e à recolha bibliográfica sobre a Ordem dos Frades Menores, sobre a sua espiritualidade e normas, sobre a sua história, sobre a sua presença em Portugal, e particularmente sobre a história, organização e funcionamento do Convento de São Francisco do Porto. Com o resultado do nosso estudo de contextualização, elaborámos uma cronologia do convento, o organigrama estrutura da OFM e o organigrama da estrutura interna orgânico-funcional do convento, com os quadros de possível produção informacional1. Este trabalho, moroso e cuidado, foi, todavia, limitado e requeria a continuação que possibilitasse mais certezas para o que pretendíamos inicialmente, a recriação virtual do arquivo do convento, assim como a reorganização do fundo em secções e séries.

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11 A tarefa de descrição do fundo desenvolveu-se na verificação, correcção e aprofundamento das descrições já existente no Digitarq do Fundo do Convento de São Francisco do Porto, das suas séries e dos seus documentos. Poucos foram os documentos que ainda não estavam descritos. Por essa razão, o trabalho de descrição foi principalmente o de correcção e aprofundamento da descrição ao nível dos documentos quanto aos títulos, datas, dimensão, suporte e, principalmente ao seu contexto e conteúdo. Este trabalho exigiu uma análise e leitura atenta, ainda que não completa, de cada um dos documentos.

Para o relacionamento dos documentos do Convento de São Francisco do Porto com documentação presente noutras instituições, procurámos identificar outras instituições, como arquivos e bibliotecas, que possuíssem livros ou documentos do convento. Demos particular destaque à Biblioteca Municipal do Porto e ao Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Pesquisámos também no Arquivo Histórico do Porto - Casa do Infante, mas a documentação nele existente e relacionada com o Convento de São Francisco do Porto não foi por este produzida mas sim pela Câmara Municipal do Porto. Procurámos ainda na Biblioteca do Seminário Maior de Nossa Senhora da Conceição do Porto, onde apesar de não encontrarmos documentação do convento descobrimos livros que nos foram de enorme utilidade no nosso esforço de contextualização. Descrevemos os documentos que encontrámos no ANTT e na BPMP e, para eles, propusemos a mesma reorganização intelectual em secções e séries que propusemos para o fundo do ADP, ainda que este trabalho se tenha realizado já fora da instituição e do tempo de estágio.

Em anexo a este relatório estão alguns instrumentos que são úteis para o acompanhamento das actividades de estágio realizadas e para a compreensão do conteúdo informacional dos fundos documentais relacionados com o Convento de São Francisco do Porto: cronograma das actividades planeadas e realizadas, lista de tipologias documentais, cronologia do convento, organigramas da estrutura orgânica da OFM e da estrutura orgânica interna do Convento de São Francisco do Porto, o texto com a história administrativa a colocar ao nível de fundo e o catálogo dos documentos existentes no ADP.

O catálogo é resultado do trabalho de descrição ao nível do documento que nos ocupou a maior parte do tempo. Nele não estão incluídas as UI, que são, em si mesmas, documentos também. A formatação e visualização deste catálogo ficou limitada, porque é um instrumento produzido automaticamente pelo Digitarq. Por essa razão, não incluímos em anexo os inventários das UI. Os catálogos e inventários estão disponíveis juntamente com este trabalho apenas em formato digital.

Considerámos que o trabalho efectuado se tornou positivo no que diz respeito à tarefa de descrição de fundos monásticos e conventuais, ao conhecimento do Convento de São Francisco do Porto e também à pesquisa dos fundos do ADP. Possam os frutos do nosso estágio dar um pequeno contributo para a valorização do património documental, em especial monástico e conventual, em Portugal.

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1. A Instituição de estágio: o Arquivo Distrital do Porto

O Arquivo Distrital do Porto foi criado a 27 de Junho de 1931 pelo Decreto 199522. Instalado primeiramente numa casa particular arrendada na Praça da República, o ADP situa-se actualmente na Rua das Taipas, numa parte do edifício restaurado do antigo Convento de São Bento da Vitória, para onde foi transferido em 1995. Procurando responder à sua missão específica, o ADP dedica-se ao depósito, preservação e ao tratamento técnico da documentação e à sua disponibilização à consulta do público.

São tarefas específicas do ADP3, como arquivo distrital, adquirir património arquivístico, prestar os cuidados técnicos de conservação e restauro, necessários à preservação desse património, valorizar a informação com ele relacionada e colocá-la acessível ao público em geral. Além disso, o ADP presta serviços de apoio técnico e consultoria a organismos públicos e privados, participa em fóruns nacionais e internacionais na área da Ciência da Informação, dinamiza acções de âmbito cultural e educativo e estabelece acordos de cooperação e desenvolvimento com outras entidades.

Na sua acção de aquisição patrimonial arquivística, o ADP incorpora, cuida e valoriza os acervos documentais, com direito à conservação definitiva, provenientes de variados organismos públicos e privados, com destaque para os acervos da Administração central e local, judiciais e notariais, eclesiásticos e paroquiais, de empresas, de famílias, de associações e pessoas particulares. Os fundos monásticos e conventuais e os das confrarias representam uma boa fatia do espólio custodiado pelo ADP, sendo 67 os fundos monásticos e conventuais (e também os mais antigos, juntamente com os diocesanos) e 10 os das confrarias e irmandades. Provavelmente muitos mais fundos de confrarias seriam criados se a estes se juntasse a documentação de arquivo proveniente de conventos e de confrarias existente na BPMP.

A preservação da documentação e a sua disponibilização ao público têm sido uma prioridade na actividade do ADP que, desde 2004, disponibiliza ao utilizador em linha o acesso à informação sobre os fundos e a visualização dos documentos já digitalizados. Em 2008, abriu a sua sala virtual de referência e de leitura online com o projecto CRAV, Consulta Real em Ambiente Virtual4. Com esta versátil funcionalidade, ao pesquisador registado é-lhe permitido estabelecer contacto com o arquivo, obter reproduções ou solicitar a execução de pesquisas pelo ADP, efectuar pagamentos necessários e ter um espaço para apontamentos e para consultar pesquisas anteriores. O uso do CRAV pode ser feito em qualquer computador com acesso à Internet a qualquer hora.

Porém, o interesse do ADP pelo tratamento, gestão e disponibilização dos conteúdos dos seus fundos por uma plataforma digital é mais antigo. Num projecto conjunto com a Universidade 2 Cf. http://www.adporto.pt/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=15&Itemid=90, acedido em Setembro de 2011. 3 Cf. Loc. cit 4 Cf. Loc. cit.

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13 do Minho, e sob a administração da DGARQ, o ADP desenvolveu o Digitarq: Produção, Conversão e Gestão de conteúdos Digitais de Arquivo que, em 2004, recebeu o Prémio Fernandes Costa - Agência para a Sociedade do Conhecimento, IP5. A equipa técnica informática da Universidade do Minho que o desenvolveu, criou a Keep Solutions que disponibiliza actualmente no mercado o software gratuito do Digitarq na versão monoposto.

O Digitarq, na versão cliente-servidor, é o instrumento de trabalho digital do ADP, que por nós foi também usado na tarefa de descrição dos documentos e na criação do catálogo. Os catálogos e inventários produzidos pelo Digitarq destinam-se principalmente ao uso interno, para gestão da informação produzida, e não propriamente para uso de consulta externa ou para fins académicos. A versão cliente-servidor do Digitarq oferece um conjunto de funcionalidades avançadas como o trabalho colaborativo em rede, a gestão de utilizadores, a avaliação de produtividade, a publicação de informação na Web e outras. É uma plataforma de software que tem como objectivo a simplificação e optimização do trabalho de gestão, de tratamento e de publicação da informação num arquivo definitivo. Esta solução integrada para arquivos definitivos assenta nas quatro normas internacionais fundamentais para arquivos: a EAD e a ISAD (G), destinadas a apoiar o processo de descrição arquivística, a ISAAR (CPF) e a EAC, destinadas a apoiar a produção de registos de autoridade.

O Digitarq é constituído por seis aplicações ou módulos independentes:

- Módulo de Descrição Arquivística – este módulo de produção e gestão da meta-informação, foi o módulo no qual trabalhámos;

- Módulo de Gestão de Objectos Digitais – gestão e estruturação de objectos digitais; - Módulo de Publicação de Objectos Digitais – permite a associação dos objectos digitais à meta-informação para publicação na Web;

- Módulo de Disseminação, Navegação e Produtividade – responsável pela comunicação entre arquivo e utente pela Internet, disponibilizando a pesquisa, a consulta e descarregamento de informação;

- Módulo de Gestão de Utilizadores – responsável pela gestão dos utilizadores com possibilidade de produção de estatísticas;

- Módulo de Gestão de Produtividade – módulo de auxílio à gestão e administração do arquivo, dos seus técnicos e colaboradores, com possibilidade de produção de estatísticas.

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2. O Convento de São Francisco do Porto

A documentação do Convento de São Francisco do Porto chegou aos nossos dias graças ao esforço de várias instituições ao longo dos tempos, incluindo próprio convento, no sentido de a preservar. O resultado desse esforço expressa uma vontade consciente em dar corpo pela escrita, em criar memória de decisões e orientações da administração, de mudanças, de acordos ou de outros factos que foram significativos quando aconteceram e que mantiveram um valor intrínseco digno de ser mantido e transmitido. Por isso impõe-se uma reconstituição dessa história de relações pessoais e institucionais, de conjunturas sociais, económicas, religiosas, e políticas até, entre a Igreja e o século e dentro da própria Igreja.

2.1. Breve historial do Convento de São Francisco do Porto

O Convento de São Francisco do Porto pertencia à Ordem dos Frades Menores, também conhecida como Ordem de S. Francisco, Ordem dos Penitentes, Franciscanos ou Menoritas. A Ordem dos Frades Menores é uma ordem conventual religiosa cristã iniciada por S. Francisco de Assis em Abril de 1208 com um grupo de seguidores, na altura denominados de Viri Paenitentiales (Homens Penitentes), e reconhecida oficialmente a 16 de Abril de 1209. Fundado em 1233, o Convento de S. Francisco do Porto foi um dos primeiros conventos franciscanos fundados no Reino de Portugal, alguns anos após a chegada dos primeiros frades menores em 12166.

A vinda dos Franciscanos para Portugal insere-se no contexto do envio missionário dos seus primeiros frades para fora da Península Itálica pelo 1º Capítulo Geral da Ordem em Assis em 12167. Frei Manuel da Esperança nas suas crónicas refere a passagem de S. Francisco de Assis por Portugal, aquando da sua visita à Península Ibérica, entre 1213 e 1214, acompanhado por Frei Bernardo de Quintaval e Frei Mateus, com o intuito de visitar Santiago de Compostela e de – segundo o cronista - contactar os mouros, a fim de os converter à fé cristã. Nessa altura, terá passado por Guimarães, Braga, Ponte de Lima e, no regresso, por Bragança8. Segundo a lenda e a tradição, por falta de confirmação histórica documental, o Convento de S. Francisco em Bragança terá sido fundado em 1214 pelo próprio S. Francisco9. O certo é que em 1217, Frei Gualter, Frei

6

Cf. ANTT, Tombo 1º do Convento, f. 3, PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica

da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal: primeira parte, que contem seu principio e augmentos no seu estado primeiro de custodia. Lisboa: Officina Craesbee e Kiana, 1656, p. 58,

64; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir. - Ordens religiosas em Portugal: das origens a Trento: guia

histórico. Lisboa: Livros Horizonte, 2005, p. 257.

7

Cf. SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (dir.) – Op. cit., p. 257.

8

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 41-42.

9 Cf. ANTT, Fundo do Convento de S. Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 3, PT/TT/CSFP/005/0001;

ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 58; ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal. Porto/Lisboa: Livraria Civilização Editora, 1967. Vol. 1, p. 136.

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15 Zacarias, e mais dois frades italianos, foram enviados para Portugal10. Vinham acompanhados de uma carta de S. Francisco destinada aos governantes que eles contactassem. Os frades procuraram e receberam a protecção da rainha D. Urraca, em Guimarães, e da infanta D. Sancha, em Alenquer. As primeiras comunidades dos Frades Menores estabelecidas em Portugal foram as de Alenquer e Guimarães em 1216, a de Lisboa em 1217 e a de Coimbra em 1217/18.

Segundo as crónicas de Frei Manuel da Esperança, foram os próprios habitantes do Porto que, inspirados pela doutrina e exemplo dos frades menores dos conventos de Guimarães e de Coimbra que passavam pela cidade, lhes pediram para fundar um convento na sua cidade11. Em 1233, Frei Gualter deslocou-se com alguns frades de Guimarães ao Porto a fim de fundar o novo convento, levando consigo o breve da nova fundação, Attendentes dilecti filii, do Papa Gregório IX, de 20 de Maio de 1233. O povo da cidade, rezam as crónicas, recebeu com entusiasmo os frades e um ancião concedeu-lhes um terreno no lugar da Redondela, em Belmonte, junto às ermidas de S. Sebastião e S. Nicolau. Os frades fundaram aí o seu convento com a ajuda de esmolas da população e sob a protecção do rei D. Sancho II. O bispo, D. Martinho Rodrigues, encontrava-se ausente em Roma para resolver um litígio com D. Sancho II acerca dos limites do senhorio sobre a cidade. De acordo com o que é descrito nas bulas do Tombo 1º do Convento, o cabido e o deão da Sé do Porto não reconheceram a bula que os frades traziam consigo, negaram-lhes o terreno, que diziam tratar-se de couto episcopal, e impediram a construção do convento12.

Em 1234, D. Martinho Rodrigues regressou de Roma e, além de se opor à construção do convento, expulsou os franciscanos da cidade. Frei Manuel da Esperança na sua História Seráfica descreve, romanceados, vários episódios de violência e perseguição aos frades por parte do bispo, deão e do cabido da Sé; o doador do terreno foi encerrado na cadeia da Sé, as pessoas que dessem esmola aos frades, ou assistissem aos seus ofícios, ou apenas que contactassem com eles, eram excomungadas; o bispo incentivou os seus criados e alguns homens vadios a levantarem motins contra os frades, a saquear e a incendiar a construção inicial do convento. Isto está também registado na Bula de Gregório IX Duobus ex eidem fratribus per servientes suos usq ad

effusionem sanguinis verberatis13. Perante a perseguição, os frades refugiaram-se quer em casas

de pessoas devotas quer em barcos ancorados no rio Douro, e pediram protecção a D. Sancho II. O rei respondeu com uma carta, alegando que os terrenos estavam fora da administração do bispo, e autorizou a continuação da construção do convento. Também Frei Gualter, vindo de Guimarães, acudiu à questão, trazendo consigo essa carta do rei D. Sancho II a defender o convento. A população, por seu lado, revoltou-se contra o bispo14.

Em 1235, D. Pedro Salvadores sucedeu a D. Martinho como bispo do Porto e continuou com a mesma atitude do antecessor, opondo-se à construção do convento e fazendo uso de

10

Cf. ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 3, PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel – Op. cit., p. 58, 64.

11

Sobre a fundação e inícios do convento cf. ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo

1º do Convento, PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal: Primeira Parte…, p. 397-402; BPMP, Miscellanea compillada para a livraria do extincto Convento de São Francisco do Porto, Ms. 64 (759). Porto: 1755-1794.

Vol. 1, p.65-66; AMORIM, Maria Abigaíl da Costa - Inventário dos Documentos do Convento de São Francisco

do Porto. Coimbra: [s.n.], 1958, p. 14; ALMEIDA, Fortunato de – Op. cit., p. 136-139; SOUSA, Bernardo

Vasconcelos e, dir. - Ordens religiosas em Portugal… (op. cit.), p. 276.

12

Cf. ANTT, Fundo do Convento de S. Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, PT/TT/CSFP/005/0001.

13 ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 402. 14

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

(16)

16 violência física. Além disso, tentando contrariar a intenção dos Franciscanos, o bispo convidou os Dominicanos a instalarem-se na cidade, oferecendo-lhes terreno próximo daquele que tinha sido doado aos frades menores. Os Franciscanos apelaram novamente ao Papa Gregório IX, que enviou várias missivas ao bispo a fim de o demover da sua oposição, mas todas sem efeito. Gregório IX apelou também ao Arcebispo de Braga e aos Bispos de Lamego e de Viseu, através das Bulas Non est industriae pastoralis, de 25 de Maio de 1237, e In honore subditis impenso, de 23 de Junho de 1237, para reconciliarem o Bispo e Cabido do Porto com os menoritas e assim possibilitar a fundação do convento destes na cidade15. Em Agosto de 1238, o Papa voltou a recorrer à intercessão do Arcebispo, Deão e Chantre da Sé de Braga, através do Breve Quos dilecti, para convencerem o deão e o cabido da Sé do Porto a não molestarem os frades menores e a não negarem o início da construção do convento. Esta intervenção também não obteve consequências positivas.

Os cidadãos do Porto insistiram de novo com uma carta ao Papa Gregório IX, relatando a situação e pedindo a intervenção do Arcebispo de Compostela. Em resposta, o Sumo Pontífice expediu a 17 de Maio de 1241 a bula Dilectis filiis, Concilio et Populo Portugalensibus à Câmara e ao povo do Porto, agradecendo o acolhimento que os moradores do Porto fizeram aos frades de S. Francisco e expressando a sua intenção de enviar o Arcebispo de Compostela ao bispo do Porto para interceder pelos frades16. Contudo, tal não chegou a acontecer devido à morte de Gregório IX a 22 de Agosto desse ano. Em consequência do impasse na intervenção de um novo pontífice nesta questão, os frades acabaram por anuir à ordem do Bispo do Porto para se instalarem do lado de Gaia.

Em 1243, Inocêncio IV foi eleito Papa e, atendendo às súplicas dos frades franciscanos pela bula Dolentes accepimus et referimus cum rubore, de 1 de Junho de 1244, enviou o Arcebispo de Compostela ao Porto para obrigar o bispo a restituir o terreno aos frades, sem fazer qualquer tipo de oposição, sob ameaça de destituição, e para benzer a primeira pedra do convento. As obras de construção do convento, abastecido por água de uma das melhores fontes da cidade, recomeçaram em 1245 no lugar de Redondela17. O mesmo Inocêncio IV, na bula Sane dilecti filii, de 15 de Outubro de 1249, estimula os fiéis a contribuírem com esmolas para as obras do convento e da sua Igreja e para o sustento dos frades, que deveriam viver em pobreza pessoal e comunitária18. O Convento de São Francisco do Porto nessa altura fazia parte da Custódia de Portugal da Província de Santiago da Ordem dos Frades Menores. Porém, a 14 de Setembro de 1272, o convento passou a pertencer à Custódia de Lisboa da mesma Província de Santiago, após esta, em Capítulo Provincial realizado em Leão, dividir a Custódia de Portugal em duas - a Custódia de Lisboa ou de Portugal (com 7 conventos) e a Custódia de Coimbra (com 6 conventos)19.

15

Cf. ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel – Op. cit., p. 402.

16

ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 5 v., PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 403.

17

ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 5 v., PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 404-407; AMORIM, Maria Abigaíl da Costa -

Inventário dos Documentos do Convento de São Francisco do Porto, p. 16.

18

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 407.

19 Cf. ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 9 v.,

PT/TT/CSFP/005/0001; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e (dir.) - Ordens religiosas em Portugal : das origens a

(17)

17 O Convento de S. Francisco do Porto ficou isento da jurisdição do seu Ordinário eclesiástico a partir de 1294, em virtude da bula do papa Bonifácio VIII, de 11 de Novembro de 1294, que isentava toda a Ordem dos Frades Menores do poder e da jurisdição eclesiásticas20. Este privilégio foi confirmado pelo Papa Bento XI a 3 de Abril de 130421. A 13 de Dezembro de 1319, após controvérsias com o Bispo e o Cabido do Porto e após intervenção papal, os Conventos de S. Francisco e de S. Domingos conseguem do Papa João XXII autorização para sepultarem livremente seculares nos seus conventos22. A 7 de Novembro de 1366, o Convento de S. Francisco do Porto assina um acordo com D. Afonso Pires, bispo do Porto, juntamente com o seu Cabido, pelo qual o bispo tinha direito à quarta parte das obladações23 e a outros bens que o convento recebesse pelos funerais e sepulturas no seu convento24.

Ao longo do séc. XIV, os Franciscanos, tal como os Dominicanos, promoveram bastante o povoamento das encostas da margem direita do chamado Rio da Vila, desde a Rua Nova até à Vitória. Em 1383, com D. Fernando, deu-se início a remodelações ao convento e à construção da nova igreja, que iria ser finalizada nas primeiras décadas do séc. XV25. Alguns autores apontam o fim das obras para 1410, mas não há consenso quanto a essa data. Tendo em conta uma sentença obtida pelo convento em 1412, por causa do azeite para a lâmpada do altar-mor da Igreja, podemos colocar a hipótese de que ela já estaria concluída nesse ano26. As reconstruções no convento tiveram também o patrocínio do rei D. João I, que fora recebido pelo bispo do Porto, D. João de Azevedo, às portas do convento em 1385, após a sua aclamação pelas Cortes de Coimbra27. D. João expressou a sua estima por este convento ao escolhê-lo para celebrar o seu casamento com D. Filipa de Lencastre em 1387. O rei hospedou-se nele nas vésperas do casamento, enquanto D. Filipa se recolheu no Paço Episcopal. Segundo a História Seráfica do Frei Manuel da Esperança, o rei e a rainha gostaram tanto do convento e do acolhimento feito, que posteriormente lhe chamavam "minha casa de S. Francisco do Porto"28. Após o casamento, o rei concedeu também ao convento a canalização para a água que vinha de uma fonte sita no Lugar ou Quinta do Laranjal29. O convento viria a ter mais tarde essa água, que por ele passava, repartida por Manuel Cirne, fidalgo da casa del-rei (segundo contrato de 7 de Setembro de 1546),

20

Cf. ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 10, PT/TT/CSFP/005/0001

21

Cf. Loc. cit.

22

Cf. ANTT, Ibidem, f. 10 v., PT/TT/CSFP/005/0001; ESPERANÇA, Manuel – Historia Serafica da Ordem dos

Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal: Primeira Parte…, p. 230.

23

As obladações, também designada por oblações, oblatas ou obradas, consistiam nos objectos oferecidos pelos fiéis cristãos às suas igrejas, mosteiros ou a conventos fora da missas. Podiam ser bens naturais, tais como cereais ou frutas, ou de origem natural, tais como azeite, vinho, pão, cera para as velas. Podiam ser espontâneas ou para cumprir promessas ou votos de penitência. Havia também as que eram dadas como legados pios em sufrágio da alma de defuntos, sobretudo durante o primeiro ano de falecimento. Cf. SERRÃO, Joel, dir. – Dicionário de História de Portugal. Porto: Livraria Figueirinhas, 1979. Vol. 4, p. 409.

24

Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 19, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55019.

25

Cf. AMORIM, Maria Abigaíl da Costa - Inventário dos Documentos do Convento de São Francisco do Porto, p. 17.

26

Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 77, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55077.

27 Cf. AMORIM, Maria Abigaíl da Costa – Op. cit., p. 16. 28

ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de

Portugal: Primeira Parte…, p. 409

29 Cf. AMORIM, Maria Inês; OSSWALD, Maria Helena – A Água do Convento de S. Francisco do Porto:

organização, conflitos e decisões régias. [s. l. : s.n. ], 1982. Separata do Boletim do Arquivo Distrital do

(18)

18 pelo Convento de Santo Elói (segundo contrato de 14 de Outubro de 1563), pelo Convento de São Domingos (segundo contratos de 1 e 19 de Junho de 1615) e pela Ordem Terceira de S. Francisco (segundo contrato de 21 de Abril de 1722)30. Desde D. Afonso IV que vários reis, como D. Fernando e D. João III, foram defendendo os direitos dos franciscanos sobre a água canalizada para o convento, enviando cartas de sentença contra os que plantavam árvores, construíam perto do aqueduto da água ou de algum modo intentavam contra esses direitos dos franciscanos31. Estes factos demonstram a importância que o convento assumiu dentro da cidade do Porto.

O Convento de S. Francisco do Porto sempre recebeu protecção e privilégios por parte dos monarcas portugueses. Não é pois de estranhar que o convento fosse intitulado de “real convento”. D. Afonso III, continuando a determinação do seu pai, D. Sancho II, em proteger e favorecer o convento, obrigou os barcos e navios a descarregarem e a pagarem tributo no lado de Vila Nova d’el Rei, por ele criada (actualmente Vila Nova de Gaia), em prejuízo da alfândega do Porto que pertencia ao bispo, como resposta às hostilidades do bispo para com o convento e para com ele próprio32. No seu testamento de 1271, Afonso III legou cem libras ao convento33. A 14 de Maio de 1326, é o rei D. Afonso IV que toma o Convento de S. Francisco à sua protecção34. Também D. Fernando, através de uma carta de provisão de 7 de Julho de 1383, concedeu ao convento os resíduos dos testamentos dos cidadãos sepultados no convento e nomeou dois juízes para defenderem as causas do convento em relação a esses testamentos35. O mesmo D. Fernando ordenou que se dessem 10 soldos por dia para sustento dos frades, mercê confirmada a 18 de Maio de 1384 pelo Mestre de Avis ainda príncipe, D. João36, que também, já como rei, isentaria, a 5 de Março de 1423, todos os oficiais que fossem servidores do convento de ir para a guerra37. D. João I enviou cartas a oficiais de justiça do Porto – corregedores, juízes, alcaides, meirinhos – para proteger os frades das perseguições e violência de clérigos seculares38 e para defender o cumprimento do privilégio de isenção eclesiástica obtido pelos frades dos Papas Bonifácio VIII e Bento XI39. O mesmo fez D. Duarte a 1 de Abril de 143540. D. Afonso V, tal como os seus predecessores, assumiu a protecção do convento em 1448 e a 22 de Julho de 1451 ordenou que se dessem anualmente 400 reis brancos de esmola41. D. Manuel I, a 5 de Outubro de 1497, adopta a mesma disposição generosa de D. Afonso V. De igual modo, os Filipes defenderam o convento

30 Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo da Água do Convento, f. 69, 80, 84,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6058/58069, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6058/58080,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6058/58084; AMORIM, Maria Inês; OSSWALD, Maria Helena – Op. cit., p. 15-16.

31

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo da Água do Convento,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6058; ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 409.

32 Cf. ESPERANÇA, Manuel – Op. cit., p. 401. 33

AMORIM, Maria Abigaíl da Costa - Inventário dos Documentos …, p. 16.

34

ANTT, Fundo do Convento de São Francisco do Porto, Tombo 1º do Convento, f. 11, PT/TT/CSFP/005/0001.

35

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 30, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55030. 36 Cf. Ibidem, f. 33, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55033. 37 Cf. Ibidem, f. 33, 36, 39, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55033, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55036, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55039. 38 Ibidem, f. 49, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55049.

39 ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 72,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55072.

40

Ibidem, f. 54, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55054.

41 Ibidem, f. 67, 81, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55067,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55081; ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos

(19)

19 nas contendas com o Deão e Cabido da Sé do Porto a respeito da quarta parte das obladações nos funerais e sepulturas no convento42.

Também alguns bispos do Porto foram protectores do convento, como foi o caso de D. Julião II, D. Vicente Mendes e de D. Sancho Pires que fizeram o convento legatário das disposições pias em testamentos e em contratos de instituição de capelas e legados43. A 10 de Dezembro de 1457, o bispo de Silves e legado apostólico, D. Álvaro Afonso, visitou a cidade do Porto e concedeu 100 dias de indulgências a todos os que visitassem a Igreja do convento e dessem esmola nos dias das festas de S. Francisco e de S. António44. Várias famílias proeminentes do Porto escolheram o Convento de S. Francisco para nele edificarem capelas destinadas a conter as suas sepulturas familiares. A instituição de capelas e legados no convento por essas famílias, tradição já existente no séc. XV, adquiriu particular destaque entre os sécs. XVI e XVIII45. Exemplo disso foram os Sá de Meneses, que escolheram a capela-mor para seu “panteão” em 1550, os Carneiro que edificaram a Capela de S. João Baptista em estilo manuelino em 1530, os Brandão Pereira que instituíram a Capela de S. Brás, os Teixeira de Braga na Capela de S. Jorge, os “Carneiros Magriços” de Vila do Conde na Capela da Trindade, os Cirne Madureira e os Pamplona entre muitas outras. Estas famílias, para manutenção das suas capelas e para a celebração de missas pelas suas almas, legaram bens, propriedades e rendas, ao convento em testamento ou em contratos de doação de legados ou de instituição de capelas.

Em virtude do Cisma do Ocidente iniciado em 1378 - pelo qual a cristandade ocidental ficou dividida na obediência a dois Papas, o de Roma e o de Avinhão - as custódias dos Frades Menores em Portugal mantiveram-se fiéis ao Papa em Roma, ao contrário das restantes custódias da Província de Santiago. Esta opção foi tomada também em consonância com a posição do rei D. João I a partir de 1382. As três custódias de Lisboa, Coimbra e Évora, separadas das custódias da Galiza e de Castela, estabeleceram assim uma união que, constituindo primeiro a Província de Santiago em obediência a Roma, daria origem à Província de Portugal, reconhecida como tal pelo Papa Martinho V em 141746 e legalizada canonicamente, ou no 33º Capítulo Geral de 1418 ou no 34º Capítulo Geral de 142147. Por conseguinte, a partir de 1418 o Convento de S. Francisco do Porto passou a pertencer à nova Província de Portugal da Ordem dos Frades Menores.

Também foi a partir de 1418 que o Convento de S. Francisco do Porto passou a poder ter como síndico - isto é, como seu administrador económico e procurador jurídico - um clérigo ou

42

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 210, 228, 272, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55210, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55228, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55272.

43

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Op. cit., p. 410.

44

Ibidem, p. 408.

45

Cf. Sobre este assunto, recomenda-se a leitura de SOUSA, Ivo Carneiro de – Legados Pio do Convento de

S. Francisco do Porto. As fundações de missas nos sécs. XV e XVI. [S. l.: s. n., 1982], Separata do Boletim do

Arquivo Distrital do Porto, 1982. Vol. 1.

46

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

de Portugal: segunda parte. Lisboa: Officina Craesbee e Kiana, 1656, p. 399, 402; LOPES, Fernando Félix – Colectânea de Estudos de História e Literatura: Volume I, fontes históricas e bibliografia franciscana portuguesa. Lisboa: Academia Portuguesa de História, 1997, p. 5; AZEVEDO, Carlos Moreira, – História Religiosa de Portugal: Volume I, Formação e Limites da Cristandade. 1ª ed. Rio de Mouro: Círculo de

Leitores, 2000, p. 328; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir. - Ordens religiosas em Portugal: das origens a

Trento: guia histórico, p. 257.

47

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

(20)

20 leigo secular, de acordo com a bula do Papa Martinho V de 18 de Janeiro de 141848, o que veio a acontecer, pelo menos a partir de Junho de 1597, com a nomeação de Gonçalo Rodrigues para síndico do convento49.

Na segunda metade do séc. XV, o Convento de São Francisco do Porto tinha uma enfermaria que servia também outros conventos franciscanos mais próximos: “Feriose por desastre, desfazendo hum madeiro em serviço da sua communidade na Conceição de Matozinhos, onde era morador, & vindo aqui curarse, depois de ter recebido as medicinas da alma, que são as mais importantes, foi convalescer na Patria, onde se gozão bens eternos & saúde perduravel, no

oitavario do Nascimento de Christo, fim do anno 1481”50.

Em 1517, o Convento de São Francisco do Porto tornou-se a sede da Província de Portugal dos Conventuais quando a Província de Portugal foi dividida em duas: a Província de Portugal da Regular Observância (com sede no Convento de São Francisco de Lisboa, convertido de convento claustral para convento observante, e 27 casas, entre as quais as 3 casas na Madeira) e a Província de Portugal dos Conventuais ou Claustrais (com sede no Convento de São Francisco do Porto e 22 casas, entre as quais as 5 casas nos Açores). O Convento de S. Francisco do Porto seria depois também cabeça da Custódia de Trás-os-Montes, Entre Douro e Minho da mesma província. Esta divisão surgiu no contexto da divisão geral da Ordem dos Frades Menores em duas - Claustrais ou Conventuais e Observantes ou Espirituais - decretada pelo Papa Leão X, após a resolução do Capítulo Geral realizado no Convento de Ara Caeli, em Roma, nesse mesmo ano51.

O movimento da Observância tinha já sido iniciado no seio da Ordem dos Frades Menores em Foligno, na Itália, em 1368, por Frei Paulo de Trincis. Os Observantes entraram também em Portugal, vindos da Província de Santiago, e fundaram os seus primeiros oratórios, mas a sua presença em território nacional só é reconhecida a 13 de Abril de 1392 com a licença dada por Bonifácio IX na bula Vestrae devotionis52. Os Observantes ou Espirituais pretendiam viver a regra original com mais rigor e reformar os costumes dentro da Ordem, sem os relaxamentos e sem os privilégios pontifícios obtidos pelos Conventuais, tais como a possibilidade de acumular propriedades 53. A tensão entre o rigor dos Observantes, na vivência da radicalidade da regra, e o modo de vida dos Conventuais originou várias dissensões entre eles, ao ponto do Papa Eugénio IV reconhecer, em 1445, a divisão dos Franciscanos em Conventuais ou Claustrais e Observantes ou Espirituais com a bula Ut sacra Ordinis Minorum Religio54. Em Portugal, foi dado outro passo no

48 Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 27,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55027.

49

Cf. Ibidem, f. 242, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55242.

50

ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de

Portugal: Primeira Parte…, p. 414.

51

Sobre a divisão da Ordem dos Frades Menores em Observantes e Conventuais cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal: Primeira Parte…, p. 411; SOLEDADE, Fernando da – Historia Serafica Chronologica da Ordem de S. Francisco na Provincia de

Portugal. Lisboa: Oficina de Domingos Gonçalves, 1737. Tomo 4, p. 133; HUBER, Raphael M. - A Documented History of the Franciscan Order: 1182-1517. Milwaukee/Washington: [s. n.], 1944, p. 1171;

SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir. - Op. cit., p. 258;. 52

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

de Portugal: Segunda Parte, p. 418-421; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir. - Op. cit., p. 257.

53

Cf. HUBER, Raphael M. - A Documented History of the Franciscan Order: 1182-1517, p. 1171. 54

Cf. JOSÉ, Pedro de Jesus Maria – Chronica da Santa e Real Provincia da Immaculada Conceição de

(21)

21 caminho da separação quando o Papa Eugénio IV, a 6 de Agosto de 1446, separou oficialmente os conventos observantes - até então constituídos em Vigararia própria - da Província de Portugal pela bula Dum praeclara55. Por fim, como as divergências continuavam com uma expressão imprópria do espírito monástico e os monarcas europeus faziam chegar várias queixas ao Papa Leão X, este convocou em 1517 todos os prelados franciscanos em Capítulo Geral e neste foi oficialmente declarada a separação dos Observantes e dos Conventuais. Leão X determinou na bula Ite vos in vineam meam que o Vigário Geral dos Observantes passasse a ser denominado Ministro Geral e os Vigários Provinciais da Observância a serem denominados Ministros Provinciais, e na bula Omnipotens Deus que o Ministro Geral dos Conventuais ou Claustrais passasse a ser denominado de Mestre Geral e que os Ministros Provinciais a serem denominados de Mestres Provinciais 56. Após esta bula, também conhecida como a “da concórdia”, iniciou-se um período de paz entre os dois ramos da Ordem dos Frades Menores57. Outros movimentos reformadores dentro da Ordem dos Frades Menores foram surgindo, principalmente ao longo do séc. XVI: os Capuchinhos, os Recolectos ou Reformados, os Barbadinhos e os Descalços ou Alcantarinos.

Em 1568, o Cardeal D. Henrique extinguiu os “claustrais” em Portugal, sendo Pio V o Papa nessa altura58. Com a extinção do ramo conventual, o Convento de São Francisco do Porto, que era a sua sede, foi reformado a 15 de Março desse ano, passando a pertencer aos Frades Menores da Regular Observância59.

A 1 de Fevereiro de 1583, o Convento de São Francisco do Porto recebeu autorização do Governador do Porto, Pedro Guedes, para prestar serviço de capelania na Cadeia da Relação do Porto, a que tinha sido obrigado. Esta obrigação, que foi confirmada por alvará de D. Filipe I a 5 de Julho de 1585, foi suspensa durante alguns meses do ano de 1721, durante os quais o Convento de Nossa Senhora da Conceição de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia, assumiu esse cargo60. O Convento também prestou serviço de capelania ao Convento de Santa Clara do Porto61. Em

Manescal da Costa, 1760. Tomo 2, p.9; SOUSA, Bernardo Vasconcelos e, dir. - Ordens religiosas em

Portugal: das origens a Trento: guia histórico, p. 257.

55

ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de

Portugal: Segunda Parte, p. 698.

56

ALMEIDA, Fortunato de – História da Igreja em Portugal. Porto/Lisboa: Livraria Civilização Editora, 1967. Vol. 2, p. 143.

57

Loc. cit. 58

Sobre a extinção dos Claustrais ou Conventuais em Portugal cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia

Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal: Segunda Parte, p. 451-452;

JOSÉ, Pedro de Jesus Maria – Op. cit., p.9; CARVALHO, José Adriano de Freitas - Quando os Frades faziam

história: de Marcos de Lisboa a Simão de Vasconcellos. Porto: Centro Interuniversitário de História da

Espiritualidade, 2001, p. 10; SOUSA, Bernardo Vasconcelos, e - Op. cit., p. 258. 59

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

de Portugal: Primeira Parte…, p. 412; DIAS, Francisco - Memórias quinhentistas dum procurador del-rei no Porto. Porto: Gabinete de História da Cidade da Câmara Municipal do Porto, 1937; AMORIM, Maria Abigaíl

da Costa - Inventário dos Documentos do Convento de São Francisco do Porto, p. 17.

60

Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tomo Segundo dos Títulos das Capelas e Legados, f. 327, 330, 331, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/002/6048/48327, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/002/6048/48330 e PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/002/6048/48331.

61

Cf. ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Terceiro do Convento, f. 22, 30, 68,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56022, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56030,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56068; ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Quarto do

(22)

22 1586, os frades do convento serviram de enfermeiros quando a peste deflagrou pelo Porto e vários incêndios ocorreram na cidade62.

Várias confrarias e irmandades estavam associadas ao Convento de São Francisco do Porto, onde tinham a sua sede. Uma das mais representativas foi a Confraria do Cordão e Chagas de São Francisco, que a 28 de Julho de 1623 se uniu com a Confraria do Santíssimo Sacramento, formando a Irmandade do Santíssimo Sacramento e Cordão e Chagas de São Francisco63. A Confraria do Cordão e Chagas de São Francisco, mesmo antes de ter sido licenciada pelo Padre Comissário Geral das províncias franciscanas a 6 de Janeiro de 1612, estava associada ao Convento de São Francisco do Porto já em 1590, como pode ser confirmado pela cópia das suas actas desse ano existentes no Fundo do Convento no Arquivo Distrital do Porto64. Essa confraria tinha sido instituída por Sisto V a 29 de Agosto de 158765. Outra também significativa foi a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, também conhecida na altura por Confraria de Nossa Senhora dos Escravos e do Seu Servo São Benedito66. Esta confraria teve particular importância na libertação de escravos na cidade do Porto.

Em 1633 foi formalmente instituída a Venerável Ordem Terceira de S. Francisco no Porto, associada ao Convento de São Francisco do Porto. O convento foi concedendo terrenos aos irmãos terceiros para aí construírem a sua capela, sacristia e casa do despacho. Os contratos de doação datam de 25 de Novembro de 163867, 9 de Fevereiro de 165768, 13 de Maio de 1673, 20 de Abril de 1676 e 16 de Janeiro de 171169. A 12 de Março de 1734, o convento concede à Ordem Terceira outro terreno do lado da sua cerca de cima, desta vez para os terceiros construírem o seu Hospital70. Apesar da inspiração comum na mesma espiritualidade, também se ocasionaram vários conflitos entre a ordem terceira e o convento ao longo da sua história.

Após 1755, ocorreu um grande incêndio no Convento de S. Francisco71. A reedificação foi iniciada entre 2 de Abril e 10 de Maio de 1764, dia em que foi lançada e abençoada a primeira pedra72. Por várias ocasiões, os irmãos da Ordem Terceira procuraram embargar as obras, mas o convento acabou por conseguir sentenças contra eles73. Em 1792 concluiu-se a construção da actual Igreja de São Francisco, que foi sagrada apenas em Maio de 1805 pelo Bispo Frei António

62

S SOLEDADE, Fernando da – Historia Serafica Chronologica da Ordem de S. Francisco na Provincia de

Portugal. Lisboa: Oficina de António Pedrozo Galram, 1721. Tomo 5, p. 223.

63 ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo do Convento, f. 198,

PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6055/55198.

64

Loc. cit.

65 Loc. cit. 66

Quer o ADP, quer o ANTT possuem fundos com documentos desta irmandade. Cf. PT/ADPRT/CON/INSRSB e PT/TT/CSFP-CNSR.

67

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Terceiro do Convento, f. 79, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56079. 68 Ibidem, f. 77, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56077. 69 Ibidem, f. 97, 104, 294, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56097, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56104, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56294. 70 Ibidem, f. 463, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6056/56463. 71

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Segundo dos Títulos das Capelas e Legados, f. 476, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/002/6048/48476

72

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo Quarto do Convento, f. 146, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/001/6057/57146, Tombo Terceiro dos Títulos das Capelas e Legados, f. 157, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/002/6049/49157; AMORIM, Maria Abigaíl da Costa - Inventário dos Documentos

do Convento de São Francisco do Porto, p. 17.

73

(23)

23 de S. José e Castro. A conclusão da reedificação geral do convento aconteceu em Junho de 1802, tendo sido o seu custo total de 379 mil e 950 reis.

Aquando das invasões francesas, iniciadas a 20 de Novembro de 1807, o Convento de S. Francisco do Porto e a sua igreja foram invadidos, utilizados como quartel e saqueados. Na introdução de um dos tombos do convento no Arquivo Distrital do Porto, está registado que o principal saque deu-se a 29 de Março de 1809, durante a segunda invasão74. Durante este saque, o arquivo do convento também foi danificado e muitos documentos perderam-se ou ficaram dispersos. Após a expulsão das tropas francesas, o cartório do convento iniciou um trabalho de reforma dos tombos entre 1811 e 1815.

A 24 de Julho de 1832, durante o Cerco do Porto pelas tropas miguelistas, outro grande incêndio destruiu por completo o Convento de S. Francisco do Porto, subsistindo apenas a sua igreja75. É muito provável que não tenha sido iniciada a reconstrução do convento após o incêndio, uma vez que passados dois anos foi declarada a extinção das ordens religiosas em Portugal pelo decreto de D. Pedro IV de 30 de Maio de 1834, cessando assim o Convento de São Francisco do Porto a sua actividade76. O lugar do extinto convento foi adquirido pela Associação Comercial do Porto em 1841 e aí ergue-se hoje o bem conhecido Palácio da Bolsa. A Igreja de S. Francisco serviu de armazém da Alfândega do Porto até 183977, tendo sido depois cedida à Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, que a administra até aos dias de hoje.

De entre os frades ilustres que viveram no Convento de São Francisco do Porto destacam-se78: Frei Paulo de Azevedo, que foi missionário na América do Sul, onde veio a morrer; Frei Gonçalo de Valbom, Ministro Geral da Ordem; Dom Frei Egídio, Bispo Foliense; Frei André do Porto, que fundou o Convento de São Bernardino da Atouguia; Frei Pantaleão do Porto, Frei António do Porto e Frei António do Padrão, que foram missionários na Ásia e martirizados na Índia; Frei Amador do Porto e Frei Martinho do Porto, tidos como exemplo de santidade na Província de Santo António; Frei Manuel da Piedade, vigário provincial; e Frei Francisco das Chagas, de Lisboa, que foi missionário e morreu com fama de santidade. O cronista da História Seráfica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco da Província de Portugal, Frei Manuel da Esperança ( 1600 - 26/11/1670), era natural do Porto e tornou-se guardião do Convento de S. Francisco do Porto em 1636. Também leitor jubilado em Teologia, secretário do comissário geral, vigário provincial e ministro provincial, foi nomeado como examinador das três ordens militares79. Também o cronista Frei Fernando da Soledade (17/08/1663 – 29/12/1737) era natural do Porto, tendo sido nomeado Provincial a 24 de Julho de 173480. Destacaram-se como modelos de fé e de

74

ADP, Fundo do Convento de S. Francisco, Tombo dos Legados sob Administração do Síndico, introdução, PT/ADPRT/MON/CVSFPRT/003/6059

75

AMORIM, Maria Abigaíl da Costa – Op. cit., p. 17.

76

ARAÚJO, António de Sousa; SILVA, Armando B. Malheiro - Inventário do Fundo Monástico-Conventual. Braga: Arquivo Distrital de Braga / Universidade do Minho, 1985, p. 59.

77

Cf. ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL DO PORTO – CASA DO INFANTE - Livro 35 das Próprias, f. 60.

78

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

de Portugal: Primeira Parte…, p. 413.

79

Cf. ESPERANÇA, Manuel da – Historia Serafica da Ordem dos Frades Menores de S. Francisco na Provincia

de Portugal: primeira parte…, p. 1.

80 Sobre estes dois cronistas cf. FARDILHA, Luís de Sá – Uma introdução à História Seraphica… na Província

de Portugal. In CARVALHO, José Adriano de Freitas, dir. - Quando os Frades faziam história: de Marcos de

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