'de
Dxepaitamento de Psicologia
Programa
de
Pós-Graduação
em
Psicologia
Área
de
Concentração:
Psicologia
e
Sociedade
Dissertação
de
Mestrado
O
Abandono
nos
Cnrsos
'
de
Graduação
da
UFSC
em
1997:
A
Percepção dos
Alunos-Abandono
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA
À
UNIVERSIDADE FEDERAL
DE
'SANT
A
CATARINA
PARA
A
OBTENÇÃO
DO
GRAU DE
MESTRE
EM
PSICOLOGIA
MARIA
APARECIDA
SILVEIRA
I=IoTzA
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA CATARINA
'Centro
de
Filosofia
e
Ciências
Humanas
Programa
de
Pós-Graduação
em
Psicologia
-
Mestrado
0
ABANDONO
Nos
CURSOS
DE
GRADUAÇÃO
DA
UFSC
EM
199
7.-A
r
PERCEPÇÃO
DOSAL
UNOS-ABANDONO
O
v
Maria
Aparecida
Silveira
Hotza
Dissert{ação.l defendida
como
requisitolubásicopara
obtenção
der Grau:de Mestre
no Programa
de Pós-
'Graduação
em-
Psicologia-
Mestrado,
Área de
Concentração:
Psicologia eSociedade
e'aprovada
pelaA
Banca Examinadora composta
pelos seguintes
š
(Í
tA
professores:
. rof. Dr. José Carlos Zanelli
Coordenador do
Curso
Banca
Examinadora:
ÃMJL5
Prof*
Dr”
Dulce Helena Penna
Soares.(UFSC)
O
Orientadora
K ./
. ` _f.
3; 'tômo
Pedro
S~
(UFSC)
¿
Pro
. Dr.
Kleber Prado
Filho(UFSC)
IV
Agradecimentos
À
Dulce,por
sua orientação ecompreensão ao
longo detodo
o trabalho.À
Coordenadoria
do Programa
de Pós-Graduação
em
Psicologia,em
especial à Janete, pelo apoiorecebido. '
À
CAPES,
pela apoio financeiro atravésda
concessão deuma
bolsa de mestrado.Ao
Prof.Antônio Pedro
Schlindwein, ex-Presidenteda Comissão Permanente
do
Vestibular-
COPERVE/UF
SC,
pelo incentivo para a pesquisa epor
sua participaçãona
Banca Examinadora
deste trabalho. ¬
'
Ao
Prof.Kleber
Prado
Filho, pela sua contribuiçãocomo membro
da
Banca Examinadora
destetrabalho. ~
A
João Maria de Lima,
Pró-Reitorde
Administração, e MuriloCésar
Ramos,
Diretordo
Depar-
tamento de
Serviços Gerais -DAG/PRA,
pelo apoio financeirona
impressão e enviodos
questio-nários para os participantes.
Aos
Professores José Carlos Zanelli, Edite Krawulski, Lucídio Bianchetti,Marcos
Ribeiro Ferrei- ra e aos colegasde
mestrado, pela inestimável colaboraçãocom
o
projeto.Aos
participantesda
pesquisa,que
gentilmente colaboraram e incentivaram este trabalho.Sumário
1 2 34
Introdução 1A
Escolha
eo
Abandono
deum
Curso
Universitário A4
2.1 Contextualizando a
Escolha
Profissional 52.2
Abordagem
Interdisciplinar 92.3
A
Evasão no
Sistema de Ensino Universitário 1 ll2.4
Estudos
sobreEvasão
em
Cursos
Superioresno
Brasil eno
Mundo
12 2.5Evasão
em
Cursos de Graduação da
UFSC
172.5.1
Formas
de
Ingresso eEgresso na Graduação da
UFSC
172.5.2
Alunos Egressos da
UFSC
entre 95/1 e 97/2 21Método
25
25
25
3 .l Pressupostos
Metodológicos
3.2
Escolha dos
ParticipantesF
3.3
Estudo
Preliminar26
3.4 Instrumento
de
Pesquisa28
3.5 Análise das
Questões
28
Resultados e Discussão
32
4.1
Apresentação
eDados
Gerais32
4.2 Análise Individual das
Questões
34
4.2.1
Que
cursode graduação
eque
períodovocê
freqüentavaquando
deixoua
universidade?
35
4.2.2
O
que
levouvocê
a fazer vestibular para este curso?39
4.2.3
Quais
eram
suas expectativasno
momento
em
que você
ingressouna
universidadepara fazer
o
curso?'
41
4.2.4
Durante o
curso,o que
ocorreu paraque você começasse
a pensarem
deixar auniversidade?
46
VI
4.2.6
Agora
(nomomento
de
responder a este questionário)você
achaque
tomaria estamesma
decisão? Explique. ‹ 554.2.7
Caso
não
tenhaficado
algomuito
claroem
suas respostas,posso
contatá-lo paraque
possamos
conversar?59
4.3 Proposta de Perfis
de
Comportamento
614.3.1 Perñl 1:
Ambiente Externo
64
4.3.2 Perfil 2:
Ambiente
UFSC
68
4.3.3 Perfil 3: Indivíduo 71
Conclusões
77
6 Referências Bibliográficas 81
Anexo
84
Resumo
Partindo
de
uma
população de 1216
alunos-abandonona
UFSC
nos
semestres 97-1 e 97-2,
foram
enviados941
questionários àquelesque tinham
endereço postal completo.Houve
80
respostas, 73 das quais consideradas válidas.
Os
resultados mostramziquerhouveuma
distribuiçãohomogênea
de
respondentes dentre os vários cursosda
universidade euma
concentraçãode
abandono
nas primeiras fases,que
pode
se justificar pela faltade
informação e conseqüente de-cepção
pelo curso.Procurando
identificar pontosem
comum
no
discursodos
respondentesque
justificassem
um
determinado tipode comportamento
em
relaçãoao
curso universitário escolhido,propõe-se
que
existam três perfis básicos nos quais sepode
identificarum
aluno-abandono.As
diferen as
de
com
ortamento
estão baseadasem
características individuais 7do
ambiente intemo
da
UFSC
e das condições exteriores a esta instituição.O
perfil mais freqüenteno grupo
analisadofoi
o
fator “indivíduo”como
dominante na
escolha.Neste
perfil,não
haviade antemão
um
inte-resse
maior do
aluno pelo curso e,por
conseguinte,pouca
ou
nenhuma
expectativa positivaem
relação à sua conclusão.
A
partirde
algum
momento
durante a graduação,houve
uma
mudança
de
interesseque
ocasionouo abandono.
O
alunoque
deixou a universidade nestas condiçõesnão
se arrepende
de
sua decisão.No
perfil “ambienteextemo”,
cuja ocorrência foi a desegunda maior
fieqüência,
o que
ocorre éum
interessedo
aluno pelo cursonum
primeiromomento,
uma
expec- tativa positivaem
relação à sua conclusão e a possibilidadede
exercer a carreira escolhida.Em
algum
momento
durante a graduação,o
fator externo é preponderantena
escolhado
abandono,
e este aluno continuariao
curso, caso as condições externas lhefossem
favoráveis.Em
menor
fre-qüência,
aparecem
os fatores ligados à própria estruturada
UFSC.
Neste
caso, apesardo
interes-se inicial
do
aluno pelo curso, eda
expectativa positivaem
relação à sua conclusão e a possibili-dade de
exercer a carreira escolhida, a partirde
algum
momento
durante a graduação,algum
fatorintemo da
instituição foi definitivona opção
peloabandono
e este aluno tomaria amesma
decisãonovamente.
Conclui-seque
se,do
ponto
de vista institucional,o abandono
éuma
perda, parao
jovem
este foium
momento
de
reflexao, aindaque
tardio, sobre seus valores e perspectivasde
fiituro. Tal decisão foi, para a maioria dos ex-alunos pesquisados,um
momento
importante e po-viii
Abstract
C
The
populationof
this surveywas
formed by 1216
studentswho
abandoned
the UniversidadeFederal de Santa Catarina
(UFSC)
in the semesters 97-1and
97-2.A
totalof
941 questionnaireswere
sent to those studentswho
had
complete postal addresses.There were 80
answers, 73of
which were
considered valid.The
resultsshow
that therewas
ahomogeneous
distributionof
re-spondents
between
the several coursesof
the universityand
a concentrationof
abandonment
inthe first phases,
what
can
be
justified for the lackof
informationand
consequent deception for the course. Trying to identify points incommon
in the speechof
the respondents,which
could justify a certain typeof
behavior in relation_to thechosen academic
course, three basic profileswhich
can identify a studentwho
abandoned
the undergraduation course are proposed.The
differencesof
behavior arebased
on
individual characteristics,on
the internalenvironment of
UFSC
and
on
the external conditions to this institution.
The most
frequent profile in the analyzedgroup
was
the factor “individual characteristics” asdominant
in the choice. In this profile, therewas
not a largeinterest
of
the student in the beginning for the course and, consequently, little orany
positive ex-pectation in relation to its conclusion. In
some
moment
during the undergraduation, therewas
achange of
interest thatcaused
theabandonment.
The
student that left the university in these con- ditions is not sorry for his/her decision. In the profile “external environment”,whose
occurrencewas
thesecond
in frequency,what
happens
isan
interestof
the student for the course in a firstmoment,
a positive expectation in relation to its conclusionand
the possibilityof
exercising thechosen
career. Insome moment
during the undergraduation, the extemal factor is preponderant inthe choice
of
theabandonment, and
this studentwould
continue the course, if the external condi-tions
were
favorable. In smaller frequency appear the factors linked to theown
structureof
UFSC.
In this case, in spiteof
the student's initial interest for the courseand
of the positive ex- pectation in relation to its conclusionand
the possibility to exercise the chosen career, insome
moment
during the undergraduation,some
internal factorof
the institutionwas
definitive in theoption for the
abandonment
and
this studentwould
make
thesame
decision again. Concluding, ifunder
the pointof
view
of
the institution theabandonment
is a loss, for theyouth
thiswas
amo-
ment
of
reflection, although late,on
their valuesand
future perspectives.Such
decision was, for1
Introdução
Segundo
o
Relatóriodo
Vestibular97
[COPERVE/UF
SC,
1997: p. 208],o
número
de
estudantesque
ingressaramna
Universidade Federal de Santa Catarinade 1982
a 1991 eque
con-cluíram os seus cursos
de graduação
num
períodomáximo
de
seisanos
foi de38%
na
média.Em
outras palavras,
62%
dos
alunosnão
segraduaram
no
períodonormal
dos cursos,trocaram de
curso ou,
na
sua maioria, simplesmenteabandonaram
a Universidade.De
acordo
com
aComissão Permanente do
Vestibular [idem, 1999], parao
ingressono
ano
letivode
1999, aUFSC
ofereceu 3.780 vagas, para os quais29.977
candidatosfizeram
ins-4 .
criçao,
o que
representouo
contingentemáximo
de vestibulandosna
história da Universidade. Estesnúmeros
demonstram
que
égrande
a procura pelo ensino superior eque
sóuma
minoriados
candidatos inscritos(12,6%)
é selecionada.Os
jovenstêm
buscado cada vez
mais, atravésda
universidade,uma
possibilidadede
crescimento pessoal e profissional. Entretanto,tem
ocorridoque
apóso
esforçode
vencero desafio
seletivodo
concurso vestibular,uma
parcela significativados
alunos seevade dos
cursos,gerando
um
grandequestionamento
sobre quais razões os teriamconduzido
a tal ação.O
índicede evasão de
uma
instituição educacional éum
dos
parâmetrosde
avaliaçãodo
desempenho da
mesma
[Schwartzman,
1997: p. l49].Uma
alta taxa_de evasãopode
estar relacio-nada
às deficiênciasdo
processode
ensino e/ou aos aspectos sócio-econômicos e pessoaisdos
alunos.
Os
indicadores atuais referentes à evasãona
UFSC
estão limitados aum
levantamentodos
percentuais
dos
alunosque não
concluíram seu cursonos
'prazos previstos.Os
motivos que levam
os alunos a seevadirem da
instituiçãonão foram
ainda pesquisadossegundo
uma
abordagem
qua-litativa
em
nossa
universidade.De
fato, sãopoucos
os estudos específicos a respeitodo
problema
da
evasaono
ensino superior brasileiro.A
evasãono
ensino superior éum
processo que,além de
frustrar os objetivos maioresda
universidadel, traz
como
decorrênciao
acréscimodo
custo social referenteao
ensino público su-I
Os
objetivos daUFSC
[UFSC, 1996: art. 3] são “produzir, sistematizar e socializar o saber filosófico, científico, artístico e tecnológico, ampliando e aprofimdando a formação do serhumano
para o exercício profissional, a refle-xão crítica, a solidariedade nacional e internacional, na perspectiva da construção de
uma
sociedade justa e demo- crática e na defesa da qualidade de vida”.2
perior. Esses custos
de
.educaçaotêm
como
principais elementosde
despesa as instalaçoes, osequipamentos
e os recursoshumanos
(corpo docente e administrativo).Independentemente da
evasão serum
problema
crônicoem
muitos
cursos de graduação, auniversidadenecessita
manter toda
uma
estrutura formalem
funcionamento.Na
UFSC,
por
exemplo, cursos
como
Matemática,
Geografia
e Filosofia,nos anos de 96
[COPERVE/UF
SC,1996: p. 174] e
97
[idem, 1997: p.206]
apresentaram percentagensde
alunosformados
inferioresa
10%,
após
6 anosde
curso.Dos
alunosque
restaram, a grande maioria se evadiuda
universida-de. _
-
-V
As
altas taxas de evasãoque
existem hoje nas instituiçõesde
ensino superior brasileiras revelamque
os estudantesentram nos
cursos freqüentementesem
sabero que
os espera. Assim, os estudantes teriammuito a ganhar
se dispusessemde
informações fidedignasnão somente
quanto aos aspectos formais
dos
cursosque
escolheram,mas
principalmente quanto à qualidade e à naturezada
experiência educacional e formativaque
os espera.A
escolhados
cursos superioresnunca
é feita pelos estudantesde forma
totalmente livre.As
influênciasda
família,dos
amigos, dos professores, dosmeios de comunicação
são, muitasvezes, determinantes.
Além
disso os estudantes estarão limitados pelosconhecimentos
adquiridosno
curso secundário e pelas dificuldadesde
mobilidade geográfica.A
tendência atual,no
entanto, éno
sentidodo
aumento
progressivoda
liberdadede
escolha e a reintrodução dosexames
vesti-bulares
por
áreade conhecimento
éuma
indicação importante desse fato.Segundo
Soares-Lucchiari [1993: p. 95], “entre os jovensque
buscam
o Serviçode
Ori-entação Profissional
da
UFSC,
40%
são alunosda
própria universidadeque
estão insatisfeitosem
seus cursos e
procuram
uma
confirmação
da
escolhaou
uma
nova
opção”.Esse
éum
dado
preo-cupante,
que merece
estudosmais aprofimdados.
De
acordo
com
indicadores atuaisque
se referem à evasãodos
cursosde graduação da
UFSC
[Schlindwein, 1997],“33%
dos
seus alunos segraduam no
curso pelo qual iniciaramo
curso universitário.
Os
outros67%
abandonaram
a universidadeou
trocaram
de carreira [ou aindanão
concluíram seus cursos].Algumas
destas trocasenvolvem
trêsou
mais
cursos, _atéo
aluno se definir. Estas estatísticasnão
são ainda mais perversasporque grande
parte dos cursosde
altademanda,
aquelesque supostamente permitem
profissõesmais
rentáveis,não apresentam
quaseevasão,
o que não
significa identidade vocacionalde
seus egressos.”O
conhecimento da
naturezados
cursos superiorespode
não
só levar a melhores escolhasde carreira
ou
de
faculdade,mas
também
fazercom
que
muitas pessoas desistamde
prosseguircom
seus estudos universitários ebusquem
outrasopções
educativas e profissionais,o que
em
sijá seria
um
resultado bastante significativo.[Schwa1tzman,
1988: p. 27]O
exposto evidencia a importância de se adotar,num
sistema dinâmicocomo
é a universi- dade,um
processopermanente
de avaliaçao das razoesque
motivam
a evasao,como
é realizadopor algumas
instituiçõesde
ensino superior brasileiras,como
aUFRGS
[1991] e aUnicamp
[Car-cinel, 1996].
O
objetivode
tais processos é fornecer subsídios para abusca de
ações concretasque
venham
reduziro
número
daquelesque
abandonam
o
ensino superior. Atravésfdeum
dia-gnóstico preciso é
que
sepode
repensar asfimçoes
da
universidade, dentro dos princípiosde
uma
sociedade democrática, voltada para
o
desenvolvimentohumano
integral.A
questao centralde
pesquisa deste trabalho é: .°
Qual
a percepçãoz dos alunos sobre o
seuabandono
dos
cursosde
graduação da
UFSC
no ano de
1997?
Algumas
questoes derivadasda
questao central sao:°
Há
perfis característicosde comportamento
do
aluno-abandono?
°O
aluno-abandono
tinhao
curso universitáriocomo
projetode
vida?' Fatores relativos
ao
ambiente internoda
UFSC
influenciaramna
decisãodo abandono?
° Fatores externos (sócio-econômico, família, saúde) são definitivos para
que
ocorrao
'
abandono?
V
2
Por percepção, entende-se o “processo pelo qual se captam estímulos e se interpreta o seu significado ou sentido,
ressalvando que: a) diante da diversidade de dados disponíveis, tende-se a selecionar aqueles que permitem perce- ber
um
objeto adequado à capacidade da pessoa; b) a pessoa tende a completar sua percepção, analisando as infor-4
2
A
Escolha
e
o
Abandono
de
um
Curso
Universitário
Na
literatura consultada,nao
seencontram
teoriasformais a respeito especificamentedo
abandono
deum
curso universitário ou,em
outras palavras,da
desistência deuma
“escolha” pro- fissional prévia.No
entanto,podemos
considerarque o
referencial teóricodos
fatoresque levam
um
indivíduo atomar
uma
decisão de ingressarou
de
evadir a universidadepertencem
àsmesmas
disciplinas
do
conhecimento:Educaçao,
Psicologia, Sociologia,Economia,
entre outras.De
qualquer perspectiva-
dequem
escolhe entrarou
de
quem
escolhe sairda
universida-de
-
surge a questão fundamentalda compreensão dos
aspectosque
determinam,condicionam
ou
influenciam
essemomento
de
decisão.Os
aspectos relativos à escolha profissional-
e,por
exten-são, aqueles relativos
ao abandono de
um
curso superior-
podem
ser agrupadosde
modos
dife-rentes para
fins
didáticos. Assim,podem-se
considerargrupos de
aspectos individuais (ou psico- lógicos) e ambientais (sociais, políticos, econômicos, educacionais e familiares),conforme
Soares[1987: p. 25].
Silva [1995: p. 25] e
Levenfus
[l997, p. 3l],de acordo
com
o
aspectoque julgam
deter-minante
da
escolha profissional,propõem
uma
classificação das teoriasem
psicológicas,econômi-
cas e sociológicas:“...
as
teorias psicológicas' seatêm às
características pessoaisdos
indivíduos eaos pro-
cessos psíquicos
que
governam
suas escolhas profissionais, considerandoa
estrutura so- cial eeconômica
como
condiçõesdadas que
meramente
impõe
os limitesnos
quais essesprocessos
psicológicosoperam.
Já
as
teoriaseconômicas
examinam
o
modo
pelo qual
a
estruturade
salários e os fatoreseconômicos canalizam
o
fluxoda
força de
trabalho,desconsiderando,
no
entanto,os processos
psicológicos atravésdos
quais essasforças
sócio-econômicas
setornam
efetivas.Já
as
teorias sociológicasfocalizama
estrutura so- cial estratiƒicadaem
detrimentodas
característicasdos
índivz'duosou da
organização
da
economia
analisando
os efeitosdo
statusdos pais
sobreas
oportunidadesda
criança,sem no
entanto explicitar osmecanismos
atravésdos
quais taisfenômenos
se reprodu- zem. ” [Silva, 1995: p. 25]Na
literatura existeuma
predominância das teorias psicológicasda
escolha profissional [Cidral, 1998: p. 26].Para
Ferreti [l988: p. 16], a ênfase nas abordagens psicológicas éde
natu- reza ideológica, pois permiteuma
justificativa científica para a adaptaçãodo
individuoao
trabalho e encobre fatores ambientaisque
intervémno
processode
escolha.De
acordocom
Bock
[1995,p. 6l], as teorias psicológicas
“prevêem
uma
atuação concreta sobre as pessoas”, e isso explicapredominância
dessas teoriasna
“(...) práticade
orientação profissionalno
Brasil”.2.1
Contextualizando
a
Escolha
Profissional
A
escolha profissional constitui,tema
de
pesquisa e atuaçãopor
partede
profissionaisda
Educação,
Psicologia, Sociologia,Economia, cada
qual tratando a problemática relativaao
as- suntode formas
específicas às diversas disciplinas.De modo
geral surge a questãofundamental da
compreensão dos
aspectosque
determinam,condicionam
ou
influenciam
a escolha profissional,podendo-se
agrupá-losde acordo
com
Soares [l987: p. 25]em
fatores individuais (psicológicos) e fatores ambientais (sociais, políticos,econômicos,
educacionais e familiares).Os
aspectosou
fatores individuais se relacionam auma
variedadede
característicasque
tem
como
elementocomum
a atribuiçãoao
individuoque
escolhe.A
preocupação
com
o
indiví-duo
e a escolhada
profissão aparecedocumentada
pela primeiravez
em
1575
em
uma
obra
do
médico
espanholJuan Huarte
[Wa1ther, 1962: p. 21],afirma
que
parapoder
orientar é preciso saber quais são as aptidõesque permitem
exercer convenientemente as diversas profissões”.E
para isso,“que
classesde
talento (do indivíduo)podem-se
distinguir e aque ramos
das ciênciasmelhor
corresponderão.”Pode-se
considerar a obrade Huarte
como
o
marco
de fundação da
própria orientação vocacional
ou
profissional-
entendidacomo
ajuda aalguém que
vai escolheruma
ocupação.Com
o
adventoda
revolução industrial, associada àsmudanças
sociais e à aberturade
um
novo mercado
de
trabalhono
iníciodo
séculoXX,
a orientação vocacionaltomou novo
impulso.Em
1908, Parsons [Pimenta, 1981: p. 21] criouum
Serviçode
Orientação Profissionalna
Associ-ação
Cristãde
Moços,
em
Boston,nos Estados
Unidos.Segundo
Parsons, a adaptaçãoao
mundo
do
trabalhodepende da harmonia
entre as aptidões e característicasdo
indivíduo,por
um
lado, e as exigênciasda
profissão,por
outro. Assim, se lançava (ou se retomava)a
idéiado
“homem
certo
no
lugar certo” (“the rightman
in the ríghtplace”).A
participaçãodos Estados Unidos na
IIGuerra Mundial
fazcom
que
surja a necessidadede
selecionar e classificarhomens
para as forças armadas.Com
isso, aparece a teoriados
traços efatores, dirigida às características individuais,
embora
apreocupação maior
fosse a seleçãodo
indivíduo para
o
lugaronde
esse seriamais
produtivo enão
como
uma
ciência voltadaao
interes-6
A
teoriados
traços e fatores,que resume
toda a caracteristicada
psicologia vocacionalde
1900
a 1950, estábaseada
em
dois ponto:”I)
O
indivíduo éportador
de
característicasdeterminadas
(interesses, aptidões, limita-ções, traços
de
personalidade)que
diferemde
índivíduopara
indivíduo;2)
Toda
equalquer
atividadeprofissional
exigea
execução de
uma
sériede
tarefas,mais
ou
menos
específicas. ” [Levenfus, 1997: p. 32] 'Assim, a escolha
de
uma
profissão
está relacionada simultaneamentecom
as característicasindividuais e as exigências profissionais.
O
ajuste entre estes aspectos,segundo
a teoria, garanteo
bem-estar pessoal
como
resultadodo
bem-estar social. Esta teoria propõe, ainda,um
determinis-mo
vocacional,ao
invésde
uma
decisão vocacional, jáque
as aptidoes sao entendidascomo
inatas, bastando, portanto,
que
estas sejam identificadas atravésde
testes psicométricos.No
campo
da
Psicodinâmica,segundo
Rivas [1988],pode-se
falarde
trêsabordagens
ateoria psicanalítica, a teoria
da
satisfaçãodas
necessidades individuais, e a teoriada
tipologia.Em
comum,
estas teorias apresentam as idéias analíticasda
personalidade,do
desenvolvimento qualitativo a partir das primeiras experiências infantis eem
unidades explicativasde
amplo
alcan- ce.iEntretanto, as teorias diferemprofundamente na forma de
pensar a questão vocacional indivi- dual.A
abordagem
psicanalítica utiliza conceitoscomo
identificação, desenvolvimentode
me-
canismos de
defesa, sublimação para explicar característicasde
personalidadeque influenciam
a escolha profissional [Levenfi1s, 1997: p. 33].De
acordo
com
Pimenta
[1981: p. 29],enquadram-
se aqui as teorias psicanalíticas, baseadasna
psicanálise ortodoxa, para a qualo
indivíduo seadapta às
expectativas ecostumes
sociais,sublimando os
desejos eimpulsos
que
experimenta,como
um
resultadode sua
natureza biológica.Pela
socializa- ção,o
indivz'duoaprende
a
satisfazersuas
necessidadesde
maneira
a
contarcom a
apro-
~vação
do
meio.Os
mecanismos
de conduta que o
indivíduoadota
para
fazer
frenteà
vida, constituem seu caráter e personalidade e
são
a
basepara
a
escolhade
uma
ocupa-
ção.”Representantes dessa linha de pensamento, citados por
Pimenta
[1981] eLevenfi1s
[1997] são Bordin,Nachmann
e Segall. Estes pesquisadoreselaboram
a teoriado
desenvolvimento voca- cional,dando
ênfase aos primeiros seis anosde
vida,na
estruturaçãoda
personalidade ena
cria- çãode
necessidadesque
serão expressas mais tardena conduta
vocacional.O
segundo grupo
das teorias psicodinâmicas é constituído pelas teoriasbaseadas na
sa-tisƒação
das
necessidades. Nestas, apreocupação
central são os desejos e necessidadesque
esti-mulam
o
indivíduo a preferiruma
ocupação
a outra.Sua
principal representante éAnne
Roe, que
defende a idéia
de
que
as primeiras experiênciascom
a familia (satisfações e frustraçõesde
neces-sidades básicas) irão determinar
o
estiloque o
indivíduo escolhe para satisfazer suas necessidades[Pimenta, 1981: p. 30;
Levenfus
[1997: p. 35].Sem
se distanciar dasconcepções
psicanalíticas,Roe
realiza suas experiências psicossociaiscom
a família,entendendo o
efeitoda
mesma
na
for-mação
de necessidades ena
estruturaçãoda
energia psíquica.Segundo
a pesquisadora, amaneira
como
o
indivíduoaprende
a satisfazer suas necessidades detenninará quaisde
suas capacidades, interesses e aptidões serão desenvolvidos.O
principalproblema
dessa teoria éque
elanão
escla-rece
o
mecanismo
que
relaciona as primeiras experiências à posterior escolha profissional.A
tipologiade Holland
constituio
terceirogrupo
das teorias psicodinâmicas [Pimenta1981: p. 31;
Levenfiis
[1997: p. 36]. Partindodo
princípiode
que o comportamento de
um
indi- víduopode
ser explicado pela interaçãode
seupadrão de
personalidadecom
seu ambiente,Ho-
lland classificou as pessoasem
seis tipos diferentes: realista, intelectual, social, tradicional (ouconvencional),
empreendedor
(ou renovador) e artístico.Essa
teoria,no
entanto,nao
apresentauma
explicação plausívelde
como
epor que
as pessoas sedesenvolvem conforme
um
tipo espe- cífico.As
teorias desenvolvímentistas (ou evolutivas)da
escolha vocacionalpartem
da
idéiade
que
a escolha éum
processoque
se iniciaao
finalda
infância e terminano
inícioda
idade adulta. Esses estudos se iniciaramna década
de50
com
Ginzberg,um
econornista de tendências freudia-nas, juntamente
com
alguns colaboradores [Levenfus, 1997: p. 38].Outros
pesquisadores,como
Super,Tiedman
e O'I-Iaratambém
colaboraramna
elaboraçãoda
teoria desenvolvimentista. [Pi- menta, 1981: p. 32].Ginzberg
divideo
processo de escolhaem
3 fases: fantasia (até 11 anos), tentativa (12 aos17 anos) e realista (entre 17 e 21 anos). Ele
afirma
que o
processo é irreversível e implicaem
al-gum
compromisso
(concessãoque o
indivíduotem
que
fazer frente às limitaçõesda
realidade).[Pimenta, 1981: p. 33].
Super
criticao
conceitode “compromisso” de Ginzberg
e focalizao
processode
decisãocomo
dependentesde
uma
interaçao de fatores,que
compreendem
“as necessidades pessoais e os8
outro.
O
primeiro inclui as necessidades, os valores, os interesses e as aptidões.O
segundo
com-
preende as oportunidades, experiências e exigências
do
lar eda comunidade”
[`Mattiazzi, 1974: p.301. .
1
As
teoriasda
decisão utilizammodelos de
decisãoformulados
no campo
da Economia.
Três contribuições
merecem
destaque: Gellat; Hilton;Hershenson
eRoth
[Pimenta, 1981: p. 39].Gellat considera
que todo
processode
decisão possui duas características:há
um
indivíduoque
deve tomar
decisão ehá
doisou
mais
caminhos,dos
quais eledeve
escolherum,
a partir das in-fonnações que
possui sobre esses caminhos. Elepropõe
queo
indivíduo adoteum
sistema racio-nal para decidir [Levenfi1s, 1997: p. 42].
Hilton apresenta
um
conceitode
tomada
de
decisao relacionadocom uma
teoria geralda
conduta [Pimenta, 1981: p. 40].
“A
escolha é explicadacomo
tentativade
reduçãodo
nívelde
dissonância cognitivas, elevado a níveis intoleráveis
por
um
estímulo ambiental. Hilton preocupa-se
em
observarde que forma
estímulos ambientaispodem
interferir, alterando e distorcendo aspremissas e planos
do
sujeito”. [Levenfus, 1997: p. 42]Hershenson
e Roth,por
fim,
enfatizamque
“as 'escolhas ocupacionais,no
decorrerdo
des-envolvimento vocacional, são presididas
por duas
tendências (progressiva eliminaçãode
altemati-vas e reforço das alternativas
não
excluídas)que
restringem gradativamentea
gama
de
opções, ~ ›aumentando
a certezada
decisao' [Ferreti, 1975: p. 39].O
processo é diferencial e privativode
cada
sujeito etem
a vercom
a base experiencial e sua história pessoal.As
teoriaseconômicas procuram
explicarporque o
número
de
trabalhadores é diferentenas várias
ocupações
(que fatores são determinantes paraque
os indivíduosescolham
com
mais
freqüência
uma
profissão
emenos
outras?).Para
os economistas clássicos, a resposta a estasquestões passa pela liberdade
de
escolha. Assim,o
indivíduo escolhe aocupação que
julga lhetrará 'maiores beneficios (ou seja,
maior
salário).A
maior
partedos
economistascontemporâneos,
no
entanto, reconheceque
a escolhade
uma
ocupação depende de
variáveiscomo
o
prestígioda
3_Dissonância cognitiva é
um
conceito psicológico que exprime a idéia de que a pessoa sempre tende a adaptarum
novo conhecimento dentro de
um
quadro de referências já conhecido, demodo
a não conflitarcom
o mesmo.É
ocaso da raposa que se julga muito esperta e hábil, mas não consegue apanhar as uvas que quer. Ela diz: “As uvas estão verdes”. Ela “prefere” perceber inábil para apanhar as uvas maduras. [Neiva, 1995: p. l4],
profissão, a segurança
do emprego,
e os requisitos ocupacionais (característicasdo
trabalhador) exigidos pelas profissões.[Pimenta, 1981: p.27]`
Para
as teorias cultural e sociológica,o
fator mais importantena
determinaçãoda
escolha vocacional é a influênciada
cultura eda
sociedade. Tais fatores para Miller eForm,
citadoem
Pimenta
[1981: p. 28], são: “cultura (ocidental, oriental, eurasiana); subcultura (região geográfica, classe social, antecedentes raciais);comunidade
(conjunto de pares,grupo
étnico);ambiente
ime-diato (família, escola).” V
2.2
Abordagem
Interdisciplinar
As
teorias clássicasda
escolha profissionaltêm
sido criticadaspor
considerarem só os fa-tores ambientais (sociais, políticos,
econômicos,
educacionais e familiares)ou
só os psicológico(atribuídos
ao
sujeitoque
escolhe)como
determinantena
escolha.Segundo
o
autorcontemporâneo Bohoslavsky
[1975: p.15],“a
escolha está multi e so-bredeterminada pela familia, pela estrutura educacional e pelos
meios
de comunicação
em
massa,como também
pela estrutura dialética social e a estrutura dialética subjetiva”. Assim,quando
seconsidera
o
caráter multidetenninadoda
escolha profissional, pode-se inscrevê-lacomo
um
fenô-meno
que não
pode
sertomado
apenas sobo
prismade
seus fatores individuaisou
de
seus fatores ambientais.Quando
se privilegiauma
dessas classesde
fatores, acarreta,por
vezes,um
problema
bastante conhecido das ciências sociais: a dicotornização indivíduo-sociedade.”Nesse
sentido, tantoBohoslavsky
[1998]como
outros autorestambém
contemporâneos,
procuram complementar
uma
abordagem
psicológicacom
o
contexto social. Ele criticao
deter-minismo
do chamado modelo
estatístico (quepode
sercomparado
aos conceitosda
teoriade
tra- ços e fatores) epropõe
uma
abordagem
que denomina
clínica,na
qual a decisão a respeitoda
profissão
é vistaem
termos de
elaboraçãode
conflitos e ansiedadesquanto ao
futuro.O
modelo
clínico parteda
idéiade
que
as potencialidades parao
exercíciode
uma
profissão não
podem
sermedidas
(contraposição aos princípiosda
psicometria) e semodificam
no
decorrerdo
desenvol-vimento
do
sujeito.Complementando
aabordagem
clínica,eminentemente
psicológica,Bohoslavsky
[l983, p.19]
afirma
que o
contexto social maisamplo
influina
escolha através,por
exemplo,do
sistemade
valores
que
osgrupos compartilham
em
tennos
do
destino de seus integrantes edo
papelda
edu-10
Além
da remuneração
das diversas profissões, aspectos relativosao
statusque
determina- das profissõestêm no
meio
socialem
que
se vive,devem
ser consideradoscomo
determinantesno
processo
de
escolha.O
Vestibulandopode
optarpor
uma
profissão
socialmente valorizada e reco- nhecida,sem
se dar contada
totalidade destaprofissão
(da trajetóriaque
teráque
percorrer tantopara se
tomar
um
profissionalcomo
para exercer suas atividades).A
identificação sefundamenta
inteiramente
no
estereótipodo
profissionalbem
sucedido.Assim
éo
casodo
filhoque
queria ser engenheiro, igualao amigo do
pai, pois este erarico, estava
sempre
com
o
carrodo
ano
e tinhauma
mulher
lindaao
seu lado.Na
verdade
o que
ele queria era a posição socialque
este engenheiroem
especial tinha.De
acordocom
Magalhães
et al. [l998: p.36] “pessoas
que
apresentamum
projeto de vidabaseado
apenasna
aspiraçãode
status elevado,
mostram
preocupação
com
um
padrão
de
vidaque
possibilite conforto e satisfaçãode
lazer econsumo”.
Há
ainda a escolhaque
é feitaem
cima da
atividadecom
a
qual
se teve contato diretoou
para
a
qual
setem
uma
habilidade especzfica.Assim
acontececom
quem
tem pouco
contatocom
diferentes áreas ocupacionais, e se decidepor
uma com
a qual esteve diretamente relaciona- do.É
o
casodo
jovem
que
optapor
Educação
Físicaporque
gostade
jogar bolaou
surfar, con- fundindo muitas vezeshobby
com
profissão
e apresentandodesconhecimento
de outras possibili-dades.
Além
disso,há
aqueleque
escolhe fazerComputação
porque
tem
alguma
habilidadecom
digitação,
sem
considerar outros fatores envolvidosna
escolha profissional.Assim,
há
a necessidadede
se aprofundar acompreensão
a respeitoda
abrangênciados
fatores ambientais e individuais
no
processode
escolha profissional.Esse
processo se encontrana
fronteira
de
estudosda
Psicologia eda
Sociologia,em
especial e, desta maneira,o entendimento
mais
completo
deste processo só se dará pelaconcepção
interdisciplinardo problema da
escolha.Estas teorias apresentadas
nos permitem
avaliar acomplexidade da
questãoda
“escolhaprofissional” e
nos
levarão acompreender melhor
os“motivos
do
abandono”
deum
determinado
curso superior.
Podemos
considerarque “abandonar
um
curso” étambém uma
“escolha” e du- rante a realizaçãoda
pesquisapoderemos
avaliarem
que medida a
“falta” dos “quesitos” básicos2.3
A
Evasão
no
Sistema
de
Ensino
Universitário
A
conclusãoou
não
do
curso dentrodo
prazodeterminado
pela instituição,no
número
de
semestres curricularmente
programado, pode
ser entendidacomo
um
dos
indicadoresda
eficiênciado
sistema.Uma
discrepância acentuada entre aduração
teórica (prevista) e aduração
efetiva (real) dos cursos, afeta os índices de produtividade e indica deficiênciano
sistema cujas causas necessitam ser estudadas. .«
Poignant [l976, p. 8],
no
uso de
um
conceito simplista,afirmava
que
“o sistema escolarideal, totalmente eficiente, seria aquele
no
qual os alunos matriculados saíssemdiplomados nos
prazos normais, significando
um
rendimentode
100%”.-A avaliação
da
universidade certamente permitirá avançarno
campo
diagnósticode cada
instituição pela identificação realística
de
suas potencialidades e deficiências, possibilitandode
forma
naturalo
estabelecimento de projetos institucionaisde
desenvolvimento, compatíveiscom
suas reais necessidades e vocações.
[CRUB,
1988: p. 16] ..‹No
Brasil, a partirde
1993,tem
inícioo
Programa
de
Avaliação Institucional das Univer-sidades Brasileiras,
propondo
em
sua metodologiao
uso de
indicadores definidoscomo
um
con-junto
comparável de
informaçõesque permitam
o diagnósticoda
situaçãoem
estudo, seja ela glo- balou
parcial.Na
proposta nacional, a taxade
sucessona graduação
éum
indicador sugeridoque
se relaciona à relação
número
de diplomados/número de
iniciantes.Um
problema
associado a este critério é a desconsideraçãode
que
diferentes cursos pos-suem
diferentestempos
mínimos
emáximos
de
integralização curricular ede
créditos, eque
osgraduados
em
unidetenãarlo
ano
podem
pertencer aturmas
diferentes quantoao ano de
entra-da
[Grego, 1997: p. 108].Não
se avaliam, ainda, as causas efetivasda
evasão,que
necessitam ser levadasem
conta para secompreender
omovimento
do
processode
integralização curricular rea- lizadona graduação
[Bicudo, 1995: p.20].Alguns problemas
adicionaispodem
ser detectados[Schwartzman,
1997: p. 168].O
nú-mero
de diplomados
pode
estar superestimando, senão
for considerado apenas0
primeiro diplo-ma. Este é
um
problema
que
surgirá freqüentemente nas licenciaturas.O
número
de
ingressantesdeve
incluir todos aquelesque entram
pelo vestibular e osque
ingressampor
transferênciasou
obtençãode
novo
título.Para que
a relação tenha significado,não
pode
havermudanças
abruptas12
determinado ano, entre outras. Idealmente, portanto, a taxa
de evasão deve
refletiro
número
de
alunos
que não concluem o
cursoem
relação àturma
original. Isto é, paraum
determinadogrupo
que
ingressena
universidade, é importante saber qual aporcentagem que não
seforma
em
um
determinado período
de
tempo. ,. .É
importante ressaltarque
nesta pesquisao abandono não
seráenfocado do ponto de
vista institucional,mas
sobo
aspectoda
percepção individual dos alunosque abandonaram
a universi-dade.
No
entanto,segundo
estudos sobre evasão realizadosem
outras universidades- como
des-crito mais adiante,
uma
boa
parcela deproblemas
levantados pelos alunos evadidos estao relacio-nados
à instituição.A
.
2.4
Estudos sobre Evasão
em
Cursos
Superiores
no
Brasile
no
Mundo
De
acordo
com
um
recente estudo feitopor
uma
comissão de
Pró-Reitoresde Graduação,
por
solicitaçãoda
Secretaria deEducação
Superior(SESu)
do
Ministérioda
Educação
edo
Des-
porto
(MEC),
aponta que o
indicemédio de
evasãode
cursos nas universidades públicas brasilei- ras é40,4%
[Carcinel, 1996].Esse
índice é inferiorao de
países desenvolvidos,como
Estados
Unidos
(50%)
eFrança
(65%).Na
Argentina,um
caso extremo,81%
dos
ingressantesacaba
dei-xando
a universidade.O
objetivo desse estudo foio
defomecer
subsídios paraque o
índicede
evasão se igualeao
registradona
Alemanha
ena
Suíça (médiade
25%).
No
entanto,o
estudonão
esclarece as particularidades
de cada
sistemade
ensino,ou
os aspectos socioculturaisque
podem
explicar aparentes discrepâncias. '›
.
O
estudoda
SESu/MEC
abrangeutodos
os cursosde graduação de
53IES
públicas,o
que
corresponde a67,1%
das universidades brasileiras e89,7%
das federais.Nesse
trabalho, foicaracterizada a evasão
de
curso nas seguintes situações:abandono,
desistência, trocade
curso eexclusão pela instituição. Estabeleceu-se
o segundo
semestrede 1994
como
limitede
conclusão dos cursos analisados, retroagindo, curso a curso, ao ano/períodode
ingressosegundo o
prazomáximo
de
integralização.O
mesmo
procedimento
foi aplicado aosanos
anteriores a 1994, atéque fossem
totalizadas três gerações completasem
cursoscom
ingresso anual e cinco geraçõesem
cursoscom
ingresso semestral.Para
aComissão
de Pró-Reitoresque
organizou o estudo,algumas
universidadesnão
têm
o
controle idealdo
percursodo
alunoapós o
términodo
período permitido para a integralizaçaodeixa
o
curso enão
oficializao abandono.
A
universidadeque não
mantém
um
controle periódico sobre amigração
ou
o abandono
continua considerandoo
aluno matriculado,o que provoca
dis- torçãonos
dados.O
estudo ainda concluique
a criseno
sistema de ensino superiorna
atualidade é a dificuldade de inserção profissional,que
sesobrepõe
àsmotivações
pessoais e habilidades dosestudantes
que
nele ingressam.A
síntesedos
resultados dessa pesquisapode
ser vistana Tabela
2.1.A
pesquisa indicaque
a áreada
saúde apresenta osmelhores
indicadores,enquanto que
a áreade
ciências exatas eda
terraapresentam
os piores resultados.O
estudodemonstra
aindaque
esses resultados são si-ag ga :Hay QYOMW Mana gøä Nbmxwâ :gw ECF ñõdm as NFKN gq: ämvd Ogñ QVMÓN _Êp_L
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Unicamp,
a universidade pública brasileiraque
detém o
menor
índicede
evasão, atribuiesse feito a
um
longo trabalhoque
vem
sendo
feito pela instituiçãodesde 1988
[Carnicel, 1996: p. 7].De
fato a taxa decresceu progressivamente:em
1988
erade
35%,
em
1990
caiu-para25%
eem
1995
para19%.
Entre asmedidas tomadas
desde1988 que
resultaramna queda da
evasão,podem
ser citadas: .0 proibição
de
matrículaem
dois cursos (dentroou
forada Unicamp),
0 exclusão
dos
alunosque
seausentam
nas primeirassemanas de
aula, proibiçãode
tran-camento nos
dois primeiros períodos letivosdo
curso, 10 vagas decorrentes
de evasão
preenchidas atravésde concurso de vagas
remanescentes, 0 cancelamentode
matrículaquando
o
aluno forreprovado
em
todas as disciplinasem
qualquer
dos
dois primeiros períodos letivos, -0 prioridade
no
preenchimento de vagas
para a primeiraopção de
cursodo
candidato, 0um
programa de
recepção, integração eacompanhamento
de
calouros,em
que o
in-gressante recebe orientaçao sobre
o
estudo-das disciplinasdo
primeiro ano,0
um
programa de
tutorias,em
que
alunos mais adiantadosde graduação
ou
de pós dão
aulas para alunos
com
dificuldades.Apesar
de pesquisas quantitativas detalhadas,como
o
estudodo
MEC/SESu,
não
tem
ha-vido
no
Brasilum
número
destacadode
trabalhoscom uma
abordagem
qualitativado
problema
da
evasãono
ensino superior. Analisandoo
número
de
publicações sobre evasãono
Brasil, nota-se
que
a maioria absoluta desses estudosaborda
a evasão escolarno
1°ou
2°grau
[Brandão,1983; Lima, 1994].
As
pesquisas publicadasnos
últimosanos
sobre a evasaono
3 °grau
estao limitadas aalgumas
dezenas de trabalhos[]NEP,
1980-;UFRGS,
1987]. São,em
sua maioria, dissertações realizadasem
diferentes universidades e,em
alguns casos, limitadasa
cursos especí-ficos, cujos resultados são
de
divulgação quasesempre
limitada à instituiçãode
origem.A
seguir, são resenhadasalgumas
pesquisas representativas sobre evasão universitáriano
Brasil nas duasúltimas décadas.
Costa
[1979] estudou aevasão
em
diferentes cursosde graduação da
UFRGS,
ao
longode um.período de
conclusão considerado normal.Os
resultados obtidos evidenciaramque
a eva-são é
menor
para cursosde
1“ opção, emaior
para alunoscom
rendimento escolarmais
baixo.Em
outra pesquisa realizada
na
Universidade Federaldo Rio Grande
do
Sulao
longodo
triênio 85/8716
nessa universidade é a colisão de horários entre
o
curso e a atividade profissional.Outras
causasrelacionadas foram:
modificação de
interesses pessoais,decepção
com
o
curso e,em
alguns cur-sos tecnológicos, a precariedade
de
aparelhos ede
material disponível.Maia
[1984] caracterizao
aluno evadidodos
cursos degraduação da
Universidade Federalda
Paraíba entre1975
e 1980.Os
motivos de abandono
são ligados a fatores individuais, sócio-econômicos
e institucionais.Moraes
[1986] avalia osmotivos que condicionam o
jovem
a aban-donar
os cursosde graduação da
USP
ao longo de
três anos.São
citados dentre os motivos:custo
econômico, desapontamento
com
a realidade encontrada nos cursos, desajustecom
anova
metodologia de
estudo.Moreira
[1988] identifica as razões relacionadascom
a evasãodos
alunosdo
cursode
biblioteconomiada
UFRJ
no
período
1981-85.O
estudo apontao
horáriodo
curso,que
impossibilita conciliar trabalho e estudo,como
a principal razãoda
evasão.No
âmbito da
UFSC,
a evasão foi referenciada inicialmenteem uma
pesquisade Guesser
[l978],
quando
da
implantaçãodo
sistemade
matrículaspor
disciplinano
finalda
década de
se- tenta.Os
resultadosdemonstraram que o
índice globalde
eficiência,em
relação aos alunosque
iniciaram juntos
o
mesmo
curso eo
concluíramno
tempo
previsto, é baixo. Fatoresendógenos
eexógenos
são relacionados à perdade
eficiênciado
sistema.Mais
recentemente, foi defendidauma
dissertaçãode Mestrado
em
Administraçãona
UFSC
sobreo
tema
evasãona
UFSC
[Souza,1999], cujo texto definitivo,
no
entanto,não
se encontra disponivelno momento.
O
problema da
evasãoem
cursosde pós-graduação
também
foi focode
pesquisasno
Bra-
sil.
Seu número,
no
entanto, ébem
inferior aos estudosde
graduação.Andreola
[1977] avalia aevasão
nos
cursosde pós-graduação da
Universidade Federaldo
Rio Grande
do
Sul.A
disponibi- lidadede
tempo
parao
curso, condicionada acompromissos
profissionais dos alunos e à sua situ-ação econômico-financeira aparece
como
variável determinanteno fenômeno
da
evasão.O
pro-blema da
evasãode
um
cursode
pós-graduação,Mestrado
em
Educação
na
UFRJ
no
período 1979-83, foienfocado por
Tomé
[Tomé,
1988].Os
alunos evadidosapontam o não
atendimentodas expectativas, a falta de avaliação
do
curso eproblemas
pessoaiscomo
causasdo
afastamento.De
maneira
geral, osmotivos da
alta taxade
evasão relatados nas pesquisas publicadaspodem
estar relacionados tanto a falhas das instituições, quanto a aspectos econômico-financeiros e/ou psicológicosdos
alunos, taiscomo:
0 precariedade
de
aparelhos ede
materiais disponiveis0 desleixo
da
universidade paracom
os cursosde
baixo prestígio, 0decepção
com
o
curso/professor ,0 colisão
de
horários entre curso e a atividade profissional,0 modificações
de
interesses pessoais,0
longo
percurso atéo
local das aulas, _0 falta
de
aptidões para aprofissão
escolhida,0 desejo
de
experimeritarum
novo
curso,ou
0 por
motivo de
saúde.Algumas
sugestõesno
sentidode
diminuir os índicesde
evasãoem
cursos universitáriosforam
também
relacionadasem
algumas
pesquisas,como:
' _0 flexibilidade
com
os horários,0 evitar
regime
integral,0
maior
disponibilidadede
professoresnos
três turnos,0
maior
número
de vagas
e/ou cursos noturnos, e0 necessidade
de
uma
orientação profissional.2.5
Evasão
em
Cursos de Graduação da
UFSC
2.5.1
Formas
de
Ingresso
eEgresso
na
Graduação
da
UFSC
Com
base
no
Regulamento dos Cursos
deGraduação aprovado
peloConselho
Universitá-ãõwuã