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Enfermagem e enfermagem veterinária

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Academic year: 2021

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ENFERMAGEM E “ENFERMAGEM VETERINÁRIA”

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RESUMO

Diversos autores, a partir da realidade vivenciada ao logo dos tempos pela enfermagem, têm procurado compreender o sentido da profissão resultando daí diversos suportes teóricos para os cuidados prestados. Não há dúvida que os modelos teóricos em enfermagem têm constituído uma base conceptual imprescindível, essencial para a profissão. O presente artigo salienta precisamente a imprescindibilidade dos modelos teóricos em enfermagem e o seu papel crucial na sua autonomia e problematiza o nome atribuído a um novo curso que emergiu recentemente no nosso país – a “Enfermagem Veterinária”. À luz dos conceitos que especificam a enfermagem procura demonstrar-se, que só deverá ser atribuído o nome de enfermeiro a quem cuide de pessoas.

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ÍNDICE

RESUMO... 2

INTRODUÇÃO... 4

I - MODELOS TEÓRICOS EM ENFERMAGEM: ASPECTOS CONCEPTUAIS ... 6

II – “ENFERMAGEM VETERINÁRIA”: INCOMPATIBILIDADE NA UNIÃO DOS TERMOS ... 10

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INTRODUÇÃO

Quase sempre quando falamos em modelos teóricos de enfermagem, nos assiste uma estranha sensação, que não me é fácil explicar. Mas, numa primeira impressão, direi que agradável não é. Penso que se os modelos teóricos fossem pessoas, surgiriam no seio da nossa existência como aquela espécie de “persona non grata”, por quem se cria uma aura repulsiva. Numa expressão mais leve, poderei dizer que é um tema pouco simpático para quase todos. E acho que isso chega a acontecer inclusive na própria comunidade científica de enfermagem. Depois, os modelos teóricos constituem um conhecimento pouco atractivo. Na sua essência parece não haver o aroma

agradável que entusiasma para a técnica. Parece que os modelos teóricos não preparam para o saber-fazer. E, pode até parecer, que em pouco ou nada contribuem para se ser um bom enfermeiro.

A verdade é que constituem uma base conceptual imprescindível, essencial para a profissão de Enfermagem. Riehel e Roy, dois autores de enfermagem, definem modelo como “um conjunto de conceitos sistematicamente construído, cientificamente fundamentado e logicamente relacionado que identifique os componentes essenciais da prática de enfermagem, junto às bases teóricas destes conceitos e dos valores necessários para a sua utilização por quem a pratique...”( Rooper N.; Logan W. W. ; Tierney A. J.1990: 13). Por isso se diz que neles está a essência da enfermagem. É a eles que recorremos para clarificar dúvidas relacionadas com o ser da enfermagem. Mas esta imprescindibilidade, de facto, parece não ser suficiente para tornar os modelos teóricos um tema apetecível e próximo de nós, acontecendo, precisamente o inverso. O que se verifica, é que, os modelos teóricos são percebidos como um tema mais ou menos enfadonho, pouco acessível e algo distante. Não admira pois, que seja um conhecimento reservado àqueles que têm todo o tempo do mundo (pensamos nós), para entregar o seu cogitus a estes temas, que consideramos abstractos, muito limitados a aspectos conceptuais e em que o seu interesse prático chega a ser questionado. Normalmente lemos sobre modelos teóricos, quando a isso somos obrigados. Por

responsabilidades profissionais acrescidas e, quase sempre, em âmbito académico.

Grande parte do que li sobre este tema, também aconteceu naqueles contextos e por isso, de alguma forma revejo-me neste enquadramento.

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5 nenhuma imposição profissional ou académica. Apeteceu-me reflectir sobre esta matéria por duas razões.

A primeira, foi sobretudo a necessidade de lembrar, organizar e sistematizar para mim própria, algumas ideias sobre o tema. Fi-lo, norteada por dois objectivos:

1 - Questionar se faz sentido, passado mais de um século da existência da enfermagem, que se continue a manter alguma inquietação e até mesmo alguma imprecisão sobre a essência da enfermagem, sobre a natureza dos cuidados prestados;

2º- Evidenciar aspectos conceptuais dos modelos teóricos.

A segunda razão, relaciona-se com uma certa inconformidade pessoal, face ao nome atribuído a uma nova profissão que vai emergir recentemente no nosso país. A esta nova “profissão”

chamaram-lhe Enfermagem Veterinária. O cumprimento dos objectivos a que me propus, ajudar-me-á certamente a entender o sentido, ou ausência dele, relativamente àquela designação. Esta segunda razão antecede a primeira e ao mesmo tempo decorre dela. Ou seja, foi ela que me ajudou a definir os tópicos a abordar, e simultaneamente, foi o aprofundamento desses tópicos que tornou possível uma reflexão mais segura sobre o assunto. Posso dizer que a inconformidade pessoal face a este facto talvez tenha sido a que mais pesou na elaboração do presente texto.

Este artigo teve como ponto de partida leituras anteriores em fontes credíveis e das quais fui retirando ideias chave. Agora, através de uma reflexão crítica sustentada por literatura actualizada, desenvolvi-as de forma organizada. Procurei dissecá-las e problematizá-las segundo o meu pensamento, tecendo uma análise compreensiva sobre o tema. Tentei também construir uma racionalidade que me envolva afectivamente com o tema, e evite assim a tal sensação estranha de que falei inicialmente.

Em concordância com os objectivos atrás definidos sistematizei o tema em dois pontos: - O primeiro, evidencia os aspectos conceptuais de um modelo teórico: identificam-se os componentes, e as características de um modelo e referem-se exemplos de alguns modelos; - O segundo, consubstancia uma reflexão sobre o nome atribuído à nova profissão de enfermagem, questionando-se o sentido que lhe foi atribuído – “Enfermagem Veterinária".

Esta reflexão deve ser entendida como uma construção de um instrumento de formação pessoal, porque foi concebido nessa base. Só por isso valeu a pena. Naturalmente, que a compensação será exponenciada pelo contributo que, eventualmente, possa vir a proporcionar a outros que o lerem.

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6 I - MODELOS TEÓRICOS EM ENFERMAGEM: Aspectos conceptuais

A enfermagem manteve durante muitos anos uma atitude exclusivamente orientada para a realização de tarefas. Como consequência, foi norteada durante longos anos apenas por um conhecimento empírico, em vez de elaborar simultaneamente um conhecimento teórico que justificasse a sua prática. A necessidade de clarificar os desempenhos profissionais levou algumas enfermeiras, sobretudo americanas, a desenvolver modelos conceptuais para a profissão numa tentativa de identificar os conceitos principais considerados específicos à enfermagem.

Pearson e Vaughan (1996: 14), oferecem uma definição de modelo de enfermagem como “uma imagem ou representação do que a enfermagem é na realidade.De facto, “os modelos conceptuais de enfermagem são as apresentações formais de algumas imagens privadas de alguns enfermeiros sobre a enfermagem. Consistem nos conceitos principais que identificam os componentes

essenciais da disciplina; mostram o relacionamento entre os conceitos e podem introduzir teorias já estabelecidas de outras disciplinas (...)”( Rooper N.; Logan W. W.; Tierney A. J.1990: 13 - 14). Ao contrário de uma teoria, que pode fundamentar várias disciplinas, o modelo conceptual só é útil à disciplina para a qual foi concebido.

Na perspectiva de Evelyn Adam considera-se modelo conceptual sempre que se verifique uma concepção completa de enfermagem, que englobe todos os elementos essenciais a um modelo conceptual, isto é se tudo estiver enunciado de modo formal (Adam 1994: 28). Esta mesma autora ao citar Jonson a partir de Riehel e Roy (1980), dá a conhecer os três componentes de um modelo conceptual: os postulados, os valores e os elementos. É sobre os elementos que centro a minha atenção uma vez que a descodificação do termo é fundamental para perceber o sentido de uma profissão. Os elementos, segundo a mesma autora são o quê da concepção. Pode dizer-se que os elementos são a essência de uma concepção, estando na base das actividades daqueles que adoptam essa concepção. Os elementos são: o objectivo; o utente; o papel profissional; a origem da dificuldade sentida pelo utente; a intervenção do profissional e as consequências da actividade profissional. De entre estes elementos é precisamente o segundo elemento, ou seja o alvo da actividade que me importa realçar. O alvo da actividade, é o objecto da actividade da enfermagem que pode ser, a pessoa ou um grupo de pessoas. Estes são percebidos, pela enfermagem de uma

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7 determinada maneira. É por isso que é necessário clarificar o modo como se encara o utente. Ele é considerado um todo complexo.

Os modelos de enfermagem, apoiam-se em teorias sobretudo oriundas das ciências sociais e humanas. Têm em comum uma perspectiva de cuidados centrada na pessoa como sujeito activo desses mesmos cuidados e uma relação de parceria entre quem presta e quem recebe cuidados (Collière 1989).

“Todos os modelos em qualquer disciplina têm a sua origem em teorias e conceitos. Três grandes teorias são reconhecidas como sendo relevantes para a enfermagem - a teoria dos sistemas, a teoria do desenvolvimento e a teoria da interacção” (Pearson e Vaughan 1982: 28). Alguns modelos centram-se principalmente sobre uma destas teorias, alguns associam duas delas ou todas as três; mas todos os modelos incluem em si a essência de todas elas, de uma forma ou de outra.

Apesar de cada modelo de enfermagem estar mais ligado a esta ou aquela teoria, existe no entanto uma perspectiva mais ou menos uniforme que assenta, na visão holística da pessoa, na visão humanista da pessoa, na autonomia de doentes e clientes e na necessidade de se estabelecer uma relação produtiva e terapêutica entre os que prestam cuidados de enfermagem e aqueles a quem são prestados (Pearson e Vaughan 1982: 37). No entanto existe uma concordância entre os autores acerca dos conceitos chave dos modelos: os conceitos de pessoa, de saúde, de ambiente e de enfermagem.

As várias classificações dos modelos derivam essencialmente das teorias em que os modelos se apoiam para a explicitação dos seus conceitos chave: homem, saúde, ambiente e enfermagem e das relações entre estes.

A partir de Marriner-Tomey (1989; 1994) no seu livro Modelos Y teorias de enfermería é possível agrupar as várias correntes de teorias ou modelos de enfermagem, assim como os autores que as integram. Assim temos:

- Centradas na corrente humanista - Virgínia Henderson, Dorothea Orem, Evlyn Adam, Madelein Leninger, entre outras.

- Centradas nas relações interpesoais - Hildegard Peplau, Ida Orlando, Imogene King entre outras.

- Centradas na teoria dos Sistemas - Callista Roy, Dorothy Johnson e Betty Neuman, Pearson e Vaughan na obra “Modelos para o exercício da enfermagem” referem uma classificação dos vários modelos segundo os autores:

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8 - Modelo de enfermagem de actividades de vida - (Roper, Logan e Tierney )

- Modelo de enfermagem de auto-cuidado - (Dorotheia Orem 1980) - Modelo de enfermagem de adaptação - (Calista Roy 1960)

- Modelo de enfermagem de sistema de cuidados de saúde: (Betty Neuman1980) - Modelo de enfermagem de interacção - (King 1971)

- Modelo de enfermagem de desenvolvimento - ( Peplau 1969) - Modelo de enfermagem de Promoção da Saúde - (Pender 1975)

Qualquer que seja o modelo eleito, o seu objectivo é oferecer uma estrutura para o profissional de enfermagem planear uma abordagem individualizada e adequada às necessidades do indivíduo, família ou comunidade. O modelo de referência escolhido pelos profissionais de enfermagem deve valorizar a saúde como um processo social dinâmico, sujeito a múltiplas variáveis inter-activas e globalizantes. Tem de valorizar não só o indivíduo como pessoa única em crescente formação e desenvolvimento desde que nasce até à sua morte, como também a família, como grupo primário, fundamental a essa formação e a esse equilíbrio, inserida num determinado contexto

sócio-ambiental. A promoção da saúde em todos os contextos de vida é uma estratégia que tem que estar presente na profissão do enfermeiro e mais ainda quando este está directamente ligado à saúde de uma comunidade. Considero que os modelos de enfermagem de Nancy Roper, Madeleine

Leininger e de Pender, respondem e valorizam estes critérios. Por isso, uma pequena nota a cada um deste três modelos. O modelo de enfermagem de actividades de vida de Nancy Rooper, valoriza a ideia de que todos os indivíduos estão envolvidos em actividades, num continuum de vida que se situa entre dois pólos dependência versus independência. O desenvolvimento máximo do indivíduo e a forma como realiza as suas actividades de vida, nesse processo continuum, é um conceito fundamental em enfermagem. O modelo de cuidados culturais de Madeleine Leininger, valoriza o sistema social e cultural das pessoas, para melhor se compreender os seus modos de vida e, consequentemente, se poderem prestar cuidados congruentes e adaptados a cada pessoa, grupo ou comunidade. O modelo de Promoção da Saúde de Pender valoriza o paradigma

salutogénico. Pender identificou a promoção da saúde como objectivo do séc. XXI e clarificou que o papel da enfermeira deverá ser no sentido de proporcionar serviço de promoção da saúde a

pessoas de todas as idades.

Cada um dos modelos teóricos, permite clarificar a razão de ser da enfermagem bem como o seu contributo no vasto domínio da saúde. Esta evidência, permite-me reafirmar a sua importância

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9 inquestionável no desenvolvimento da enfermagem e no seu processo de autonomia. Os princípios conceptuais evidenciados em cada um deles, constituem os alicerces sólidos em que os

enfermeiros têm que assentar, construir e desenvolver as suas práticas. Foi através deles que a nossa profissão consolidou o seu nome. O nome, enfermagem, é a nossa primeira identificação e é também através dele que adquirimos a noção de identidade.

Sabemos que nenhuma das concepções é perfeita; cada uma delas representa o trabalho de um ser humano, correndo por isso o risco de comprovar, uma vez mais, que a perfeição é algo que não existe. Nenhum modelo pode ser perfeito e não existe um único texto que possa esgotar a

discussão de algo tão complexo como a estrutura conceptual da enfermagem e a sua aplicação na prática. Por outro lado, também sabemos que qualquer sistema teórico desenvolvido, pode a todo o momento chocar com a realidade observada. Parafraseando B. Bettelheim “dados de acordo com o sistema, podem ser sobrevalorizados enquanto outros, igualmente sólidos mas em contradição com a teoria, podem ser ignorados. Daí resulta uma verdadeira deformação das observações que se pretendem tornar conformes com o sistema estabelecido. O sistema esteriliza-se, cada vez mais, a ponto de bloquear a nossa compreensão em vez de a facilitar” (Collière 1989: 221).

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II – “ENFERMAGEM VETERINÁRIA”: incompatibilidade na união dos

termos

Como atrás ficou claro, os modelos teóricos fazem parte da disciplina de Enfermagem, e ajudam-nos a explicá-la. Todavia, qualquer que seja a realidade ela é sempre inesgotável, daí que, qualquer conclusão ou conhecimento produzido acerca dessa mesma realidade deverá ser considerado insuficiente por continuar a assumir um carácter hipotético e provisório. A respeito da realidade humana nunca se pode dar uma explicação total. Adoptar esta concepção, impede que o

conhecimento se feche sobre si próprio, dando lugar ao necessário questionamento sobre o mundo em constante devir, sobre as “coisas” que o mundo nos traz. E às vezes o mundo traz-nos coisas, que não se encaixam em nenhum dos modelos que aprendemos. Estou a referir-me à tal “profissão” de que falei inicialmente - a “Enfermagem Veterinária”. A formação nesta área não tem ainda expressão nem tradição, não só no nosso país como também a nível internacional. Para além de não existir enquadramento legal, nem regulamentar, não se sabe como será feito o reconhecimento profissional, nem tão pouco está garantida a empregabilidade destes diplomados. São questões muito pertinentes, por isso não podemos com rigor, falar ainda da Enfermagem Veterinária como uma profissão. Nesta perspectiva justifica-se que aquela expressão surja entre comas.

Gostaria ainda de reforçar a importância da atribuição de um nome a uma profissão, ou a qualquer outra coisa. Como disse atrás o nome é a primeira identificação e é também através dele que se adquire noção de identidade. Seja daquilo que for. Por isso, acrescentar uma segunda palavra a um nome, cujo significado é incompatível com o significado da primeira, pode ter efeito absolutamente perturbador, corrosivo e até mesmo destrutivo. A oponência das palavras, neste caso, tem efeito de entropia, e por isso desordena os conceitos, baralha-os.

À luz de tudo o que foi dito, permitam-me que manifeste a minha discordância quanto a chamar-se enfermeiros aos cuidadores de animais. Mais ainda. O Curso de Enfermagem Veterinária nos perfis e competências de formação do respectivo curso, define esta nova profissão como uma actividade auxiliar e de assistência no âmbito da medicina veterinária, tanto nas tarefas de rotina de índole científica e cirúrgica, como no âmbito da medicina veterinária (…) Silva, A. J.; Martins C.; Carvalheira, J.

http://www.aac.uc.pt/pelouros/informacao/MisteriosBolonha/pareceres/ProcessoBolonha_Medicina_

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11 ministrada permitirá formar o profissional que na verdadeira acepção da palavra seja um

auxiliar/assistente do médico veterinário nas suas tarefas profissionais quotidianas, nas mais variadas situações de clínica e de cirurgia, tanto ao nível hospitalar como ao nível de campo independentemente de se tratarem de animais de companhia ou de espécies pecuárias.

http://www.esaelvas.pt/cursos/objectivos.asp?curso=6 (consulta: 15/02/2006).

É justo lembrar que a enfermagem, cujo alvo de actividade é a pessoa ou grupo de pessoas, nos seus primórdios assumia aquela característica. Actualmente a definição do papel de enfermagem e das suas competências encontram-se conceptual e profissionalmente definidas. O Regulamento do Exercício Profissional dos Enfermeiros (REP) consubstanciado no Decreto-Lei n.º 161/96, de 4 de Setembro, alterado pelo Decreto-lei n.º 104/98, de 21 de Abril clarifica conceitos, procede à caracterização dos cuidados de enfermagem, especifica a competência dos profissionais legalmente habilitados a prestá-los e define a responsabilidade, os direitos e os deveres dos mesmos

profissionais, dissipando, assim, dúvidas e prevenindo equívocos por vezes suscitados não apenas a nível dos vários elementos integrantes das equipas de saúde mas também junto da população em geral.

Quanto às teorias que sustentam a profissão de Enfermagem - as teorias humanistas, de inter-acção, entre outras, considero que devem, naturalmente, estender-se e aplicar-se a todos os elementos vivos do nosso planeta, bem como a todos os elementos dos diversos sistemas do universo. Como é dito por vários teóricos, entre eles George (2000: 18), “as teorias devem ser simples e generalizáveis. Devem ser usadas por profissionais para orientar a sua prática”. Qualquer que seja o profissional, entenda-se. Daí fazer todo o sentido que também os animais sejam tratados à luz das “nossas” teorias. O mesmo não pode acontecer nunca relativamente aos modelos. Como disse atrás, ao contrário de uma teoria, que pode fundamentar várias disciplinas, o modelo só é útil à disciplina para a qual foi concebido. Por isso é impensável pensar a “enfermagem veterinária”, à luz dos nossos modelos teóricos. Coloca-se então a questão que é, saber quais o postulados, os valores e os elementos que caracterizam esta nova profissão. Talvez que na especificação de todos os conceitos que estão subjacentes a esta nova profissão se encontre o nome adequado para ela.

Pelo que atrás ficou demonstrado, o alvo da actividade em enfermagem (humana – a que cuida das pessoas), é, para todos os modelos de enfermagem que foram apresentados, a pessoa ou grupo de pessoas. Assim sendo e nesta perspectiva é para mim um absurdo, chamar enfermeiros aos cuidadores de animais.

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NOTA CONCLUSIVA

Foram e continuam reconhecidos, definidos e desenvolvidos diversos modelos e teorias específicas à enfermagem. Os modelos conceptuais oferecem uma perspectiva única a partir da qual os enfermeiros podem desenvolver os conhecimentos que sirvam para a sua prática (Fawcet, citado por Kérouac et al., 1996). Os vários modelos apoiam-se nas teorias humanistas, sendo o holismo uma corrente fundamental na profissão de enfermagem.

Foram identificados os componentes essenciais que orientam a prática de enfermagem. Os componentes de um modelo incluem os postulados, os valores e os elementos. Todos estes conceitos foram clarificados por cada um dos modelos. Os elementos incluem o objectivo da profissão, o alvo da actividade da enfermagem, a origem da dificuldade sentida pelo o utente, a intervenção do profissional e as consequências da actividade profissional. De entre estes

elementos, reforço a ideia, de que, o alvo da actividade em enfermagem é, para todos os modelos de enfermagem, a pessoa ou grupo de pessoas.

Os modelos conceptuais orientam não só a prática da enfermagem, definindo o objectivo que persegue e especificando as actividades de cuidados, mas também servem de guia para a

formação, investigação e gestão dos cuidados de enfermagem. Servem para precisar os elementos essenciais da formação dos enfermeiros, os fenómenos de interesse para a investigação em enfermagem, assim como as actividades de cuidados e as consequências que destas se esperam para a gestão dos cuidados.

Todos eles se caracterizam por pensar os cuidados de enfermagem fora do determinismo biomédico.

Não se me oferecem dúvidas quanto à imprescindibilidade dos modelos teóricos, na autonomia da enfermagem, na medida em que eles constituem as principais bases conceptuais da profissão, e oferecem a estrutura basilar para um crescimento e um desenvolvimento próprio.

Procurando responder à questão que coloquei no primeiro objectivo. Depois deste aprofundamento penso o seguinte. O facto de passado mais de um século da nossa existência, ainda se continuar a manter alguma inquietação e até mesmo alguma imprecisão sobre o ser da enfermagem, sobre a natureza dos cuidados prestados não é certamente, devido à ausência ou escassez de modelos de

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13 referência. Será talvez uma inquietação necessária. Necessária porque a partir dela podem emergir reflexões úteis que validem ou contrariem conhecimentos construídos. O conhecimento constitui sempre um processo e não poderia ser imobilizado nos seus estados momentâneos.

Além disso, uma coisa, é o conhecimento que os teóricos produzem com a sua reflexão sobre determinado assunto, outra coisa, é a reflexão crítica efectuada pelo profissional de enfermagem a partir desse conhecimento, tomando como ponto de partida que os cuidados de enfermagem não se podem encerrar em sistemas de referência pré-estabelecidos.

Quanto à nova profissão emergente – a Enfermagem Veterinária, e tendo em conta os conceitos que especificam a enfermagem, o nome que lhe foi atribuído assume, para mim, um carácter estranho. Parece-me absurdo, desajustado e incoerente com os princípios conceptuais que

caracterizam a Enfermagem. É impensável entender a “enfermagem veterinária”, à luz dos nossos modelos teóricos. Porém, já é possível que se apliquem as mesmas teorias, na medida em que elas têm um carácter genérico, podendo ser aplicadas a múltiplas profissões.

Note-se que as notas que agora dou por terminadas propuseram-se, essencialmente, dar

referências para a compreensão de factos que podem explicar a razão de ser da enfermagem, da enfermagem que cuida de pessoas, e ajudar a identificar a natureza dos cuidados prestados. Foi pois, à luz deste princípio, fundamentada em diversos autores, que foi possível relembrar a base de conhecimentos próprios e singulares à enfermagem. O conhecimento científico é demasiado importante para se guardar só para os teóricos. O pensamento teórico será algo de muito mais útil, na medida em que for capaz de gerar em nós um pensamento crítico, assente na (des)construção de ideias. Essas ideias serão, certamente, o ladrilho sólido que ajudará a concretizar as mudanças de atitudes e comportamentos que se afigurem necessárias no quotidiano da enfermagem, ou de qualquer profissão.

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BIBLIOGRAFIA

Adam, Evelyn

1994 Ser Enfermeira, Lisboa: Instituto Piaget. Collière, Marie – Francoise

1989 Promover a Vida, Lisboa: SEP. George, Júlia B. et al

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1994 Modelos y teorías de enfermería ,Madrid : 3ªEd. Mosby/Doyma libros. Nunes,

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Sites consultados:

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http://www.esaelvas.pt/cursos/objectivos.asp?curso=6 (Consultado:21/02/06). http://www.ordemenfermeiros.pt/index.php?page=168 (Consultado: 05/03/06).

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Referências

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