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PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL DE PESSOAS COM BAIXO PESO E FATORES ASSOCIADOS

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Academic year: 2021

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Mariana Gabriele de Souza Ferreira1 Mariana Machado Bueno2

RESUMO

A busca pelo corpo socialmente visto como ideal têm sido uma preocupação, principalmente das mulheres, no decorrer do tempo, interferindo diretamente no estado nutricional e nas relações interpessoais. Nesse sentido, objetivou-se analisar a percepção da imagem corporal de pessoas com baixo peso e fatores associados. Trata-se de um estudo transversal, qualitativo, realizado com 7 universitários de uma instituição de ensino superior privada, localizada em Juazeiro do Norte, Ceará, entre março e abril de 2018. Os dados foram coletados através de entrevista semiestruturada e utilizou-se a análise temática de Minayo. Os critérios de inclusão foram: universitários dos cursos da área da saúde, maiores de 18 anos de idade, em estado nutricional de magreza pelo IMC, e exclusão, gestantes e portadores de alguma patologia com utilização de algum medicamento que pode levar à condição de magreza. Percebeu-se então, que há insatisfação e que a autoestima é influenciada pela própria imagem corporal; os mesmos Percebeu-se Percebeu-sentem afetados e influenciados pelo que veem e ouvem com relação à corpos; genética e alimentação emergiram como causas do baixo peso; não se abalar psicologicamente foi o principal desafio enfrentado; e, como métodos utilizados pra promover o ganho de peso, estão a academia e estimulantes de apetite. Portanto, a percepção da imagem corporal de pessoas com baixo peso, em suma, não é satisfatória, ficando susceptíveis à influências do meio em que vivem, e gerando, assim, consequências que interferem na autoestima, no convívio social e na saúde.

Palavras-chave: Magreza. Belo. Autopercepção.

ABSTRACT The search for the body socially seen as ideal has been a concern, especially for women, over time, directly interfering with nutritional status and interpersonal relationships. In this sense, the objective was to analyze the perception of body image of people with low weight and associated factors. This is a cross-sectional, qualitative study, carried out with seven university students from a private higher education institution, located in Juazeiro do Norte, Ceará, between March and April 2018. Data were collected through semi-structured interviews, using Minayo's thematic analysis. Inclusion criteria were: university students from health courses, aged over 18 years, in nutritional status of thinness by the BMI, and exclusion, pregnant women and people with some pathology using some medication that can lead to thinness. There is dissatisfaction and self-esteem is influenced by the body image itself; they feel affected and influenced by what they see and hear in relation to bodies; genetics and food have emerged as causes of underweight; not being psychologically shaken was the main challenge faced; and, the methods used to promote weight gain include the gym and appetite stimulants. Therefore, the perception of body image of people with low weight, in short, is not satisfactory, being susceptible to the influences of the environment in which they live, thus generating consequences that interfere with self-esteem, social life and health.

Keywords: Thinness. Beauty. Self-Concept.

ORIGINAL

PERCEPÇÃO DA IMAGEM CORPORAL DE PESSOAS

COM BAIXO PESO E FATORES ASSOCIADOS

PERCEPTION OF BODY IMAGE OF PEOPLE WITH

LOW WEIGHT AND ASSOCIATED FACTORS

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INTRODUÇÃO

A busca pelo corpo socialmente visto como ideal têm sido uma preocupação, principalmente das mulheres, no decorrer do tempo. Diversos padrões corporais de beleza já foram impostos, sendo os indivíduos impelidos a tentar alcançá-los, a todo custo. Essa insatisfação com a própria imagem corporal é influenciada por diversos fatores, inclusive a baixa autoestima, e é frequentemente encontrada na população, independente do estado nutricional em que se encontram.1,2

A cultura fitness que tem predominado ultimamente, enfatiza um tipo de corpo dito como belo e saudável, com formas e tamanhos determinados, jovem, induzindo com isso o sentimento de inferioridade àqueles que não se enquadram nessas características, podendo gerar distúrbios. Universitários de cursos da área da saúde, principalmente Nutrição e Educação Física aparentam ser os mais propensos a sofrerem pressões advindas da sociedade e da mídia em geral no sentido de adequarem-se aos padrões de beleza que são estabelecidos.3,4

Nesse sentido, questiona-se qual a percepção que as pessoas abaixo do peso têm em relação à pressão de ter um corpo ideal. Supõe-se, portanto, que indivíduos em estado de magreza tendem a sofrer pressões externas, como a mídia e a sociedade em geral, que prejudicam a aceitação da imagem corporal, podendo levar à transtornos psicológicos e alimentares, acarretando, ainda, a busca por alternativas, sem a prescrição de um profissional qualificado para reverter a situação, as quais podem gerar consequências indesejadas para a saúde.

A construção da imagem corporal está diretamente ligada as relações estabelecidas pelos sujeitos com familiares, pessoas próximas, além de sofrer influências externas, dentre outros. O corpo magro, atlético, ou seja, perfeito do ponto de vista social, não se detém aos aspectos saudáveis e nem às diferentes estruturas físicas existentes. Nisso, enquadram-se também aqueles que querem ganhar peso, porém, métodos adequados não são comumente utilizados.5

Diante da intensa pressão que a sociedade exerce sobre a imagem corporal, que impõe um corpo dito como perfeito para todos, vários indivíduos entram em uma busca profunda para adequar-se à esse padrão de beleza. Entretanto, os métodos nem sempre são os melhores e os mais saudáveis, o que pode trazer riscos para o indivíduo como um todo.6

A realidade entre o que a mídia apresenta e o que de fato acontece, muitas vezes é bem distante. Portanto, estar com uma condição de saúde adequada é sempre um fator que se deve buscar, por isso, quando se trata de magreza é importante atentar-se para recuperar o estado nutricional precocemente, para assim, evitar danos à saúde, diminuir alguns distúrbios na fase adulta e prevenir a perda óssea.7

Deste modo, a partir do momento que é evidenciado uma percepção que muitas vezes é oculta, uma realidade que não é notada, apenas julgada, corrobora para um novo olhar sobre o tema, uma nova maneira de lidar com a situação e assim, novas possibilidades de mudança para resolver o caso. Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo analisar a percepção da imagem corporal de pessoas com baixo peso e fatores associados.

MÉTODO

A pesquisa em questão é de natureza qualitativa e é classificada como um estudo transversal de caráter descritivo.

A coleta de dados para a realização desta pesquisa ocorreu em uma instituição de ensino superior privada, localizada na cidade de Juazeiro do Norte, região metropolitana do Cariri, pertencente ao Estado do Ceará, entre março e abril de 2018.

A mesma foi direcionada à indivíduos em estado nutricional de magreza de acordo com o IMC, universitários dos cursos da área da saúde e maiores de 18 anos de idade. Estando definidos como critérios de exclusão: gestantes e portadores de alguma patologia com utilização de algum medicamento que pode levar à condição de magreza.

Após aprovação no Comitê de Ética e Pesquisa da própria instituição, sob número do parecer 2.657.984, o projeto foi apresentado à coordenação pedagógica da instituição por meio de ofício.

A busca por indivíduos que se enquadraram na pesquisa foi dividida por cursos A, B e C e semestres 1 a 10. Ao abordar um indivíduo, fez-se o IMC dele através do peso e altura autorreferidos. Estando dentro da faixa de magreza (<18,5 kg/m²),8 e dentro dos critérios de inclusão, o convite para participar da pesquisa foi feito, esclarecendo o método que seria utilizado e do que se tratava o estudo.

Os indivíduos dispostos a participar foram abordados para a entrevista (agendadas em dia e horário de acordo com a disponibilidade do participante e da pesquisadora), a partir de um questionário previamente elaborado com 7 perguntas subjetivas sobre autopercepção da imagem corporal, autoestima, métodos para ganho de peso e influências advindas de outros, a qual ocorreu em uma sala isolada na própria instituição e foi gravada no formato de áudio. O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) foi entregue para proteção e segurança do entrevistado.

As falas foram transcritas na íntegra para o computador e armazenadas em arquivo do Microsoft® Office Word®. O agrupamento e categorização das mesmas, foi realizado de acordo com a Análise Temática de Conteúdo descrita por Minayo,9 que é um procedimento baseado nas opiniões e resposta de conteúdo semelhantes e/ou iguais. A partir da análise das entrevistas emergiram as temáticas: Satisfação corporal, autoestima e autopercepção física; Influência da mídia, amigos e familiares para aceitação corporal do indivíduo; e, Possíveis causas do baixo peso, desafios enfrentados e métodos utilizados para o ganho de peso.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizadas sete (07) entrevistas semiestruturadas, com duração de no máximo nove (09) minutos, sendo os participantes, universitários dos cursos de Enfermagem, Farmácia e Nutrição de períodos distintos, seis (06) pessoas do sexo feminino e uma (01) do sexo masculino, com idades entre 18 e 25 anos e IMC variando de 14,7 à 17,7 kg/m².

Os dados obtidos foram separados por categorias segundo Minayo9 e complementados com a literatura que apresentava temática e objetivos semelhantes a este estudo. Com o intuito de garantir o anonimato dos participantes, os

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seus nomes foram substituídos pela palavra entrevistado, seguido do número de ordem da entrevista.

Temática 01: Satisfação corporal, autoestima e autopercepção física

A temática buscou verificar a satisfação com o corpo atual, se a autoestima é influenciada pela aparência e como é a autopercepção física dos entrevistados. No quesito aparência e relação com a autoestima, emergiram as seguintes categorias, a partir das falas dos entrevistados: interfere na autoestima; não interfere; e interfere um pouco; onde a maioria deles relatou haver interferência entre ambas. Os depoimentos apresentados abaixo representam como essa questão é percebida pelos sujeitos entrevistados.

“Interfere. Porque eu [...] odeio ser magra (risos). Ser alta não é problema não, mas eu não gosto de ser magra demais.” (ENT.7)

“Interfere. [...] eu já tive a minha autoestima mais baixa por conta de ser magra só que aí eu percebi que realmente fazia parte da minha genética [...]. Mas, às vezes me dá raiva sim, porque às vezes eu queria ter [...] mais massa muscular, engordar um pouco [...]” (ENT. 6)

Já na questão da satisfação corporal, as categorias emergentes a partir das falas dos participantes foram: satisfeito com o corpo, pouco satisfeito e insatisfeito, na qual a maioria referiu estar pouco satisfeito; e insatisfeito com a sua imagem corporal. Os depoimentos abaixo evidenciam essa percepção:

“Eu diria que não sempre, mas em alguns pontos, principalmente em ambientes coletivos, é... por exemplo, o exemplo mais simples que eu tenho seria ir pra um banho [...] eu não me sinto às vezes muito à vontade, dependendo da situação e... e também em relação [...] à algumas roupas... é mais difícil você achar né?! [...]” (ENT.2)

“Insatisfeito.” (ENT.6)

Resultados semelhantes de insatisfação também podem ser vistos com as pessoas em estado nutricional de obesidade, de acordo com o estudo de Macedo et al.10, as quais se sentiam frustradas e não aceitas socialmente pelo fato de serem diferentes do padrão da magreza, por outro lado, existiam algumas que apesar do peso, estavam bem consigo mesmo.

A cultura de que a magreza é um fator imprescindível para aceitação do indivíduo, deixa ressalvas com o presente estudo, pois mesmo os participantes se encontrando em estado de magreza pelo IMC, não se sentem muitas vezes satisfeitos com o seu próprio corpo e aceitos socialmente, talvez porque o conceito de magreza como “belo” não seja estimado por todos. Ou porque, o sinônimo de magreza como corpo ideal esteja relacionado aos números encontrados por Damasceno et al.11: para as mulheres e homens gira em torno

de 20,5% e 9,8% de gordura, 20kg/m² e 23,1kg/m² de IMC, respectivamente. Sendo com menos volume para elas e com mais volume para eles.

A valorização exacerbada do padrão de beleza visto como ideal socialmente, acarreta mais casos de anorexia e bulimia, aumento do número de pessoas que praticam musculação e a crescente tendência de cirurgia plástica para modificar partes do corpo não aceitas, que provocam insatisfação.12 Assim como, tem crescido também, o consumo de produtos para emagrecer e para aumentar a massa muscular.13

Todavia, a força de vontade, persistência e o acompanhamento de profissionais qualificados são essenciais para se obter o que se deseja, independente do estado nutricional. Como foi evidenciado por Viana et al.14 em seu estudo com uma população obesa, em que a maioria conseguiu perder peso, alguns até mais de 10% do seu peso inicial, com a terapia prescrita por profissionais e o acompanhamento regular dos mesmos, porém, é importante salientar que houve também os que não conseguiram atingir tais resultados, provavelmente pelo fato do intervalo entre as consultas serem maiores e o acompanhamento multidisciplinar ser inferior.

Temática 02: Influência da mídia, amigos e familiares para aceitação corporal do indivíduo

Essa temática objetivou averiguar se os entrevistados se sentem afetados pelas imagens corporais que são veiculadas diariamente, tanto pela mídia, como dentro do ambiente familiar e de pessoas próximas, e se sofrem influências externas para tomada de decisões, comportamentos rotineiros e para sua própria aceitação.

Quando os participantes deste estudo foram questionados a respeito de se sentirem afetados pelo que veem e ouvem com relação à corpos, obteve-se as categorias: não me afeta; e me afeta; de acordo com os relatos dos entrevistados, onde, me afeta foi o mais relatado. As falas a seguir demonstram essa perspectiva:

“Assim, eu vejo que existe, é fato, existe um estereótipo de beleza ou de físico né?! que é jogado pra gente. A mídia ela não... eu não me preocupo tanto [...] em relação à mídia, mas, mais o ambiente familiar mesmo, eu vejo que... que ele sempre tem essa preocupação em [...]: Ah! *** você tá muito magro! Ah! *** você tem que fazer alguma coisa pra melhorar. Sabe?! Então, na mídia eu sinto que existe aquela [...] padronização, mas que chega a mim, é... assim... a me incomodar mais seria por parte dos familiares mesmo.” (ENT. 2)

“Afeta. Assim, principalmente a mídia, dentro dos familiares não, porque família tem... tem aquela coisa de ver qualidade na pessoa, já [...] em relação à mídia, é... acho que é quase inevitável você ver um corpo bonito e não querer desejar aquele corpo e logo em se tratando que você tá com uma situação que

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num tá dentro do padrão digamos assim.” (ENT. 4)

Ao serem interrogados sobre serem influenciados por algo ou alguém e de que forma, as categorias que surgiram a partir do relato dos participantes foram: não me sinto; e me sinto influenciado. Dentre elas, prevaleceu esta última, conforme ilustra os depoimentos abaixo:

“Ah! Eu me sinto influenciada pela minha... meu curso, pela [...] profissão (risos) que eu escolhi, principalmente por isso. Mas, por pessoas não, mais [...] pelo ramo de trabalho que eu escolhi. Porque quando eu... quando eu tive contato com a nutrição né?! eu pude ver os prejuízos que esse peso que eu tô pode me trazer [...]” (ENT. 4)

“[...] às vezes eu tenho influência boa, por exemplo: quando meu namorado ele cozinha pra mim, eu acabo me alimentando melhor, ele faz comida melhores, mais... tipo com mais temperos, com mais... coisa assim. Às vezes eu também tenho influência negativa de comer mais besteira, tipo massa, refrigerante, esse tipo de coisa. E... é, eu acho que isso me influencia na [...] minha alimentação e tem outras pessoas que tentam me influenciar pra mim, tipo, já tem amigas que me chamam pra ir pra academia, só que eu não tenho coragem de ir pra academia é... é... é tipo preguiça mesmo, não é cora... às vezes é um pouquinho de vergonha de vestir as próprias roupas, porque por eu ser magra, [...] eu tenho impressão quando eu visto aquelas roupas justas que eu fico mais magra ainda. Aí eu acabo não deixando influenciar nessa questão, agora na questão da alimentação, eu sou aberta à [...] descobrir coisas novas [...]” (ENT. 6)

Alves et al.15 destaca que a cultura sempre foi fundamental no sentindo de determinar a conduta do ser humano, sendo que o grau de satisfação da imagem corporal é resultante dos atributos que são definidos culturalmente, advindos da mídia, em boa parte, que reforça um padrão ideal para todos, incentivando à busca constante desse padrão para sentir-se aceito e realizado.

De acordo com Oliveira e Paulo16 um aspecto inerente à autoestima é a mídia. Esta, por sua vez induz à padronização de conceitos, gostos, estilos, desejos, que propiciam baixa autoestima corporal nas pessoas, levando à insatisfação, pelo fato de não se encaixarem nesses requisitos vistos como “ideais”.

Lopes e Mendonça17 em seu estudo com jovens entre 18 e 29 anos de idade, frequentadores de uma academia de classe média alta, situada numa cidade do interior do Nordeste brasileiro, observou também nas falas dos participantes que a família, a sociedade em geral, a percepção sobre o corpo de outras pessoas que culmina nas comparações e os padrões midiáticos são fortes influenciadores dos conceitos e das

condutas, os quais dependendo da visão do indivíduo, podem afetar negativamente ou positivamente, neste caso, gerando incentivo.

Já com relação à profissão escolhida, resultados similares foram encontrados no estudo de Araújo, Pena e Freitas18, porém, com nutricionistas do sexo feminino obesas, em que uma das entrevistadas afirma que também se sente influenciada, pois a sociedade não consegue aceitar a existência de uma nutricionista obesa e que ela também é um ser humano.

Nesse sentido, o meio sociocultural está fortemente atrelado ao surgimento e evolução de transtornos referentes à imagem corporal, uma vez que o ambiente em que se vive e as pessoas próximas estão intrinsicamente relacionados à forma corporal que se quer obter e aos motivos ou comparações primordiais para esse anseio.19,20

Temática 03: Possíveis causas do baixo peso, desafios enfrentados e métodos utilizados para o ganho de peso

A temática almejou verificar as possíveis causas do baixo peso, os desafios que as pessoas com esse estado nutricional enfrentam mediante à sociedade e quais os métodos, como medicamentos, atividade física, e outros, foram ou estão sendo utilizados para promover o ganho de peso corporal.

Quando os participantes do estudo foram questionados sobre o motivo do estado nutricional de magreza, a partir das falas emergiram as categorias: não sei; questão genética; ansiedade; metabolismo; e alimentação. Entre eles, genética e alimentação predominaram. Os depoimentos apresentados abaixo representam como essa questão é percebida pelos sujeitos entrevistados.

“Genética. Tipo, eu já seguia dieta pra ganhar, não ganhava, é... me alimento bem, considero minha alimentação boa.” (ENT. 3)

“Alimentação desequilibrada, porque eu moro só [...] é pura preguiça às vezes de fazer comida (risos), aí fica sem comer. E morar fora também, aí atrapalha também, porque não é sempre que tem tudo assim pra fazer.” (ENT. 7)

Ao serem interrogados sobre os desafios enfrentados mediante o estado nutricional que se encontram e a pressão que a mídia e a sociedade em geral impõem, surgiram a partir das falas do entrevistados, as categorias: encontrar roupa com um tamanho adequado para o corpo; não se abalar psicologicamente; cobrança dos familiares para engordar; bullying; e fazer comida. Dentre eles, não se abalar psicologicamente representou a maioria. Quanto aos métodos utilizados para promover o ganho de peso, emergiram as seguintes categorias: estimulante de apetite; academia; suplemento alimentar; e pilates; dos quais, academia e estimulante de apetite foram os mais citados. Representando esses achados, estão os depoimentos apresentados abaixo:

“Eu acho que o maior desafio assim, de quem é [...] magro, é de certa forma, assim como o obeso, é ter um raciocínio, uma mente

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equilibrada, porque a mídia diz que uma pessoa bonita é quem tem peito, perna e tudo mais. E quem é magro, como eu, é... eu tenho 20 anos, mas minha aparência não é de 20 anos, muitas vezes porque meu peso não condiz com a idade que eu tenho, tipo, o porte físico não condiz, então, maior dificuldade é saber lidar [...] com tudo isso [...] não se encucar com o que o povo diz [...]” (ENT. 5)

“Todos. Todos que você imaginar, de suplemento, de academia, já tentei. [...] eu lembro que eu já tomei cobavital, eu já tomei apevitin, já tomei... que mais meu Deus? Ah, não lembro, eu sei que já tomei muitos, muitos, muitos. E, de atividade física, eu só fiz academia até agora.” (ENT. 1)

De acordo com Shils et al.21 os fatores genéticos são essenciais para determinar o peso corporal de um indivíduo, uma vez que, a maioria deles tem o peso regulado dentro de uma abrangência estabelecida.

A aceitação e o sentimento de pertencimento nos contextos sociais e familiares são colocados em associação à forma física e à beleza, de forma que, em um contexto disfuncional, é preferível seguir os padrões de beleza atuais, do que se arriscar a ressignificar tais conceitos e não ser valorizado socialmente. Por isso, um dos maiores desafios encontrados foi ter uma boa saúde mental.22

Diante disso, têm crescido também o consumo de produtos para emagrecer e para aumentar a massa muscular, pois, ao mesmo tempo que muitos querem emagrecer para adequar-se ao padrão físico da magreza, outros querem sair desse padrão, pois se consideram muito magros, como é o caso de adolescentes, principalmente do sexo masculino, que relataram utilizar medicamentos ou suplementos para aumentarem o peso corporal.13,23 E Kubota24 observou que a utilização de drogas para ganho ou perda de peso foram maiores para os adolescentes muito magros e para os muito gordos.

Liz e Andrade25 constataram em seu estudo, que um dos principais motivos para prática de musculação em academias de Florianópolis (SC) é a estética corporal, além do bem-estar e a melhoria da saúde. Com isso, é possível perceber como a preocupação com a aparência física também está atrelada à academia, e como esta informação é difundida para a população deste estudo, visto que muitos relataram aderir ou já ter frequentado a mesma, com o intuito de promover o ganho de peso e consequentemente alterar a estética corporal.

No entanto, a busca por um corpo dentro do padrão considerado “bonito”, pode ser resultante da competitividade, da comparação e não ser motivado por questões de saúde e bem-estar. Por isso, é importante ter cuidado e atenção ao se tratar desses quesitos.26

CONCLUSÃO

Foi possível verificar que a satisfação corporal, autoestima e autopercepção física da maioria das pessoas com baixo peso são ruins, que há a influência da mídia, amigos e familiares para aceitação corporal do indivíduo, as quais se

sentem incomodadas com comentários, situações e com o que é exposto socialmente, e quanto às causas, desafios e métodos utilizados para promover o ganho de peso percebeu-se que existem diversos.

Portanto, a percepção da imagem corporal de pessoas com baixo peso, em suma, não é satisfatória, ficando susceptíveis à influências do meio em que vivem, e gerando, assim, consequências que interferem na autoestima, no convívio social e na saúde, através de pressões psicológicas para se ter o corpo dito como ideal e o uso de estimulantes de apetite e suplementos alimentares sem orientação de um profissional qualificado.

Como limitações desse estudo têm-se: uma amostra pequena e a recusa de alguns em participar, talvez por constrangimento. Nesse sentido, sugere-se, que em estudos posteriores, a amostra seja maior, com uma faixa etária mais ampla e em outros locais, a fim de observar a prevalência desses resultados em outros âmbitos.

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Referências

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