• Nenhum resultado encontrado

Migração e Rede Urbana: procedências e inserção ocupacional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Migração e Rede Urbana: procedências e inserção ocupacional"

Copied!
35
0
0

Texto

(1)

Migração e Rede Urbana: procedências e inserção ocupacional

*1

Ralfo Matos

UFGMG/IGC

Fernando Braga

UFMG/IGC

Palavras chave: migrações internas, rede Urbana, população, espaço.

1. INTRODUÇÃO

Em países de grande tamanho e complexidade física como o Brasil, compreender a configuração, o sentido de expansão e as hierarquias existentes na rede de localidades urbanas é uma necessidade que se impõe aos agentes econômicos e um objetivo básico do planejamento territorial nas diversas esferas de governo.

Isto porque é aceitável supor que uma rede ou sistema de localidades ‘centrais’ mais equilibrado representaria uma forma de se introduzir mais equidade e justiça econômica e social nos espaços territoriais. A integração, não raro, é uma resultante da densificação das redes urbanas, mesmo que a durabilidade desses sistemas seja passível de controvérsia, em face da dificuldade de previsibilidade de seu comportamento e evolução.

Ações do Estado voltadas à descompressão espacial existem no Brasil desde os anos 50, quando elaboravam-se projetos, programas e diretrizes de políticas visando, ou o desenvolvimento das regiões “atrasadas”, ou, um pouco depois, o desenvolvimento das cidades de porte médio, de modo a interiorizar mais efetivamente o crescimento econômico.2

*

Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

1

Esse trabalho integra-se a uma pesquisa maior financiada pelo CNPq.

2

À época, discutia-se muito sobre os efeitos dinâmicos do crescimento econômico disseminados dos espaços centrais até as periferias. Sobre esse grande tema ver, entre outros, CHRISTALLER (1966), FRIEDMAN (1977), HIRSCHMAN (1958), MYRDAL (1957), PERROUX (1967), FRANCISCONE e SOUZA, (1976).

(2)

Desde então a urbanização expandiu-se, ganhando complexidade e abrangência, envolvendo cidades de diversos tamanhos - além dos centros metropolitanos - em meio a um crescimento sem precedentes da malha viária. O dinamismo da urbanização, o crescimento demográfico, as migrações de tipo campo-cidade, a industrialização e as mudanças no mercado de trabalho explicam boa parte das alterações territoriais ocorridas no país desde os anos 50, como atestam, por exemplo, MARTINE et al (1990), SANTOS (1993), FAISSOL (1994), FARIA (1976), CANO (1985), CORRÊA (1997a, 1997b).

A simples observação da evolução do grau de urbanização no país entre 1940 e 2000 evidencia a intensidade dessas mudanças. De 31,2% da população residindo em domicílios urbanos em 1940, para 44,7% em 1960; 67,6% em 1980; 75,6% em 1991, 78,4% em 1996 e 81,2% em 2000.

Por outro lado, boa parte da expansão da rede urbana nacional nas últimas décadas deriva dos efeitos de “espraiamento” originários da histórica concentração urbano-industrial no Sudeste, onde, afinal, estava quase metade dos centros urbanos em 1980, entre os quais as três principais áreas metropolitanas.

A associação entre a descompressão espacial e a rede de localidades centrais em expansão é, por definição, bastante evidente. Isto porque baseia-se no pressuposto da existência de uma estrutura espacial organizada (só aparentemente desorganizada), na qual as relações de interação são inerentes à circulação de bens e serviços que a urbanização produz. Nela emergem três níveis de sistemas de localidades, como bem observa FAISSOL (1994, p. 150): um sistema urbano/metropolitano de grandes cidades

(...); um sistema de cidades médias, beneficiárias diretas dos transbordamentos metropolitanos (...); um sistema de cidades pequenas, em geral sem centralidade (...). Em conjunto com os centros de zona (...) farão a ligação com o sistema de cidades médias, de um lado, e com a economia rural de outro, assim integrando todo o sistema.

É inegável, que parte importante da urbanização brasileira foi resultado do chamado “êxodo rural”, isto é, saídas maciças de população de áreas rurais estagnadas e/ou semi-estagnadas para centros urbanos em expansão. No entanto, com a predominância das migrações de tipo urbano-urbano sobre as de tipo rural-urbano, gradativamente, reconfiguram-se as áreas de atração na rede de cidades, introduzindo

(3)

maior complexidade sócio-espacial aos mercados urbanos em expansão. Analisar mais profundamente as características e os impactos dos novos fluxos migratórios é uma tarefa necessária, sobretudo tendo em conta os prováveis diferenciais em termos de procedência rural ou urbana dos migrantes. Os de origem urbana provavelmente ostentam mais experiência, mais informação e/ou maior preparo para o trabalho.

Nos últimos anos, um novo estudo sobre as “Aglomerações Urbanas” do país realizadas pelo IPEA, UNICAMP e IBGE, veio atualizar e enriquecer o entendimento das tendências da rede urbana brasileira a partir de 1970. Nesse estudo, as migrações internas e a redistribuição da população no espaço foram ressaltadas, partindo do suposto de que houve uma “radical alteração nos padrões de mobilidade espacial da

população, e no padrão migratório do país” e tendo também em conta o surgimento de

novas dimensões nos movimentos tais como: ”redução dos fluxos em direção às

fronteiras econômicas e às áreas metropolitanas do Sudeste; maior seletividade nos fluxos migratórios, baseada em requisitos de escolaridade, renda, idade, etc.; maior circularidade dos movimentos migratórios, com migração de retorno e vários estágios migratórios; baixo dinamismo dos mercados urbanos de trabalho, com o surgimento de novas formas de marginalidade urbana” (grifos nossos). (MOTTA e AJARA, 1999,

p.3).

2. REDE URBANA E MIGRAÇÕES INTERNAS; ÁREAS DE ESTUDO CORRELATAS

Alguns dos primeiros estudos realizados no Brasil retratando a evolução da rede urbana foram feitos pelos pioneiros Pierre Deffontaines e Aroldo Azevedo. Seus trabalhos remontam aos anos 40 e foram publicados em revistas de geografia e anais de encontros3. Em seguida, devem ser mencionados os trabalhos de MONBEIG (1952, 1954) e GEIGER (1957 e 1963), estudos que se detiveram na evolução da rede urbana que se desenhava nos anos 50. Dignos de nota foram também os trabalhos levados a

3

Deffontaines investigara a constituição da rede de cidades brasileira em publicação do Boletim Geográfico de 1944. Azevedo, por seu turno, estudou os “embriões das cidades brasileiras”, além de várias cidades isoladas, em artigos publicados no Boletim Paulista de Geografia, nos Anais da Associação de Geógrafos Brasileiros (AGB) e na Revista Brasileira de Geografia.

(4)

cabo pelo próprio IBGE, estudos de regionalização mediante critérios baseados no avanço da urbanização e das redes de interdependências.4

Nos anos 70, DAVIDOVICH e LIMA (1975) e DAVIDOVICH e FREDRICH (1976) identificaram no país estruturas urbanas experimentando um intenso processo de expansão, nas quais distinguiram ”uma hierarquia de áreas urbanas” em tamanhos e complexidade crescentes. À mesma época, vários trabalhos surgiram ocupando-se da problemática das cidades médias e do planejamento urbano voltado para a descompressão espacial (após o lançamento pelo Governo Federal do Programa de Cidades Médias), a exemplo de FARIA (1976 e 1983), ANDRADE, T.A. e LODDER, C.A. (1986) e FRANCISCONE, J.G. e SOUZA, M.A.A. (1976).

A partir da escassez de recursos financeiros internacionais a fundo perdido, da crise da dívida externa e do relativo fracasso dos planos implementados até o início dos anos 80, ocorre uma diminuição no número de trabalhos na área, isto durante quase 20 anos. Nos anos 90, contudo, ressurge a discussão sobre território e redes, nesse caso, indo além das redes urbanas estrito senso. Alguns exemplos dignos de nota: SANTOS (1993), BENAKOUCHE (1989), CORDEIRO (1990), CORRÊA (1993, 1997a, 1997b), RANDOLPH (1990), DIAS (1995 e 1996), HAESBAERT (1995) e SOUZA (1995).

Nesse mesmo período expandiram-se muito os trabalhos sobre movimentos migratórios, na forma de artigos e livros editados por universidades, publicados em Anais de Encontros da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e da Associação Nacional de Planejamento Urbano e Regional (ANPUR), nos Anais dos Encontros Nacionais sobre Migrações Internas, na Revista Brasileira de Estudos Populacionais, entre outros.5

Todavia, trabalhos procurando articular as duas perspectivas temáticas ocorrem mais no âmbito dos estudos de regionalização, por meio da aplicação de modelos

4

São estudos diversos, tais como os publicados em 1972, 1987, 1988, entre outros (ver bibliografia), geralmente derivados da contribuição de Christaller e Brian Berry, que objetivam avaliar a evolução da rede de cidades e a reconfiguração da hierarquia urbana e das respectivas áreas de influência.

5

A exemplo dos que tratam das novas tendências dos fluxos migratórios envolvendo São Paulo e o país: BOGUS (1990), CUNHA (vários) e BAENINGER (1994, 1996, 1998); dos que se detém sobre aspectos metodológicos: CARVALHO (1985), CUNHA (1987), CARVALHO e MACHADO (1992), RIGOTTI (1998), RIBEIRO, CARVALHO, WONG (1996). Cite-se as teses e dissertações tratando da migração geralmente dentro de uma perspectiva regional, intra-estadual ou histórica, como as de SALIM (1993), CUNHA (1994), RIGOTTI (1994), MATOS (1995), RIBEIRO (1997), BRITO (1998).

(5)

matemáticos, nos quais a migração comparece como uma taxa ou indicador de volume e distribuição.

A análise de dados de estoques populacionais em diferentes pontos no tempo, vis-à-vis a rede de cidades, foi empreendida por REDWOOD (1985). O autor afirmava que o Brasil experimentava um processo de desconcentração nas principais áreas metropolitanas brasileiras na década de 70 a favor de áreas urbanas imediatamente próximas e cidades médias.6 Contudo, o estudo não utilizava-se de dados sobre fluxos migratórios e mantinha sua ênfase em níveis de observação mais agregados em termos geográficos.

Na verdade, trabalhos analisando a rede urbana combinadamente aos movimentos migratórios são pouco numerosos no país. Faltam estudos focalizando localidades de tamanho menor que os estados, a exemplo de municípios e microrregiões. São grandes as possibilidades de uso dos Censos Demográficos brasileiros, especialmente mediante a exploração dos dados amostrais no que tange as migrações internas. Um exemplo nesse sentido, embora pouco sensível à questão das diferenciações dos lugares, são os trabalhos elaborados no âmbito do IPEA, como os de ANDRADE e SERRA (1998), e SERRA (1999), nos quais analisam o desenvolvimento recente das cidades médias brasileiras e a desconcentração de oportunidades de trabalho considerando a presença do trabalhador migrante nessas localidades.

6

A propósito dessa questão, é bem provável que a concentração econômica tenha atingido seu pico nos anos 70, e a desconcentração tenha então se iniciado. Evidências nesse sentido foram mostradas nos trabalhos de MARTINE e DINIZ (1989), AMARANTE e BONDIOLI (1987), REDWOOD (1984) e TOWNROE e KEEN (1984), não obstante as discordâncias sobre o grau de generalidade desse processo, como assinalaram AZZONI (1986), HADDAD (1989) e DINIZ (1993). De toda forma, continuam acumulando-se evidências importantes de desconcentração a favor das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, mediante novos investimentos geradores de postos de trabalho, mesmo que estes não requeiram altos níveis de qualificação profissional. Outrossim, já se pode demonstrar que certos investimentos têm evitado áreas densamente ocupadas do Sudeste por conta de fatores associados à deseconomias de aglomeração e sobrecustos operacionais diversos.

(6)

3. REDE URBANA E POPULAÇÃO; UM EXERCÍCIO DE REPRESENTAÇÃO

Pode-se fazer um exercício de quantificação e mapeamento da evolução recente da rede de cidades do Brasil por meio de dados dos Censos de 1980 e 2000, nesse caso sem considerar fluxos migratórios do período 1991/2000 (por não estarem ainda disponíveis).

A idéia é produzir um desenho da rede de fluxos supracitada, de modo a indicar os vetores territoriais de crescimento demográfico como expressão das tendências predominantes

na hierarquia urbana brasileira. Propõe-se, com isso, uma forma metodologicamente simples, de representar analiticamente o formato, a localização e a configuração espacial da rede urbana brasileira.7 O princípio teórico subjacente a essa representação é o de fazer aflorar contextos espaciais em que compareçam municípios 'relativamente' pouco populosos, mas de importância estratégica em termos geoeconômicos na rede urbana regional (como em diversos casos envolvendo as regiões Norte e Centro-Oeste). De outra parte, cumpre dar clara visibilidade aos muitos municípios populosos, de grande porte ou de porte médio, comuns no Sudeste e Sul. Tais critérios definem teoricamente nossas divergências com outras formulações disponíveis na literatura que adotam padrões mais homogêneos de classificação dos centros integrantes da rede.

Os critérios que orientam a seleção dos pontos (nódulos) da rede de cidades partem do peso populacional das localidades urbanas em seus estados e da existência de articulações viárias entre tais pontos, segundo o recorte físico-territorial de 1991. Tais articulações são as mais importantes regionalmente e exprimem a existência de rede de transportes rodoviário ou hidroviário permanente, como esta representado na Figura 18.

7

Cabe observar, que esse exercício procura estabelecer um esboço do desenho da rede urbana, passível de ser explorado analiticamente, mediante dados censitários (particularmente os de migração), de acordo com pesquisa que se encontra em andamento. Com isto não se ignora a existência de outras propostas que, inclusive, são metodologicamente mais robustas do que a que é aqui apresentada, embora as concepções teóricas que fundamentam tais propostas sejam distintas. Por outro lado, os resultados aqui alcançados e o próprio desenho da rede coincidem em grande medida com outras formulações recentes disponíveis na literatura (ver bibliografia).

8

A definição cartográfica privilegiou a produção de mapas com os ponto100

s referentes às sedes dos municípios; alguns representam as regiões metropolitanas, outros referem-se ao conjunto restante dos principais municípios brasileiros. Desta forma, encontravam-se na rede urbana um total de 165 pontos em 1991. As regiões metropolitanas consideradas correspondiam a São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba e Belém.

(7)

As cidades, ou centros urbanos, são simplificadamente definidos, como as áreas urbanas dos municípios, incorporando portanto o que os censos do IBGE identificam como ‘cidade’ e ‘vila’. Os municípios comparecem como unidades mínimas de observação, mas podem assumir a forma de aglomerações municipais, a exemplo das Regiões Metropolitanas (como definidas em 1991). Mais especificamente, os critérios adotados para a seleção dos ‘pontos’, ou ‘nódulos’, consideram: i) municípios integrantes das Regiões Metropolitanas oficiais (cada região metropolitana comparece, na rede urbana, como um nódulo de primeira ordem); ii) município com população urbana superior a 100 mil habitantes (pontos da rede relativos às chamadas Cidades Médias); iii) município cuja população urbana representasse mais de 3% da população urbana do respectivo estado (pontos que procuram dar visibilidade a cidades de importância 75sub-regional, mas com representatividade estadual); iv) município com população urbana superior a 3% da população urbana do estado do Amazonas excluindo Manaus (pontos de uma rede dentrítica sem visibilidade diante do tamanho de Manaus).

(8)
(9)

4. A REDE URBANA EM TRÊS FRAÇÕES E A DINÂMICA POPULACIONAL

A Figura 1 mostra os pontos de destaque da rede de fluxos migratórios segundo tamanho populacional e expõe a divisão da rede em três grandes frações: a fração Norte, englobando, além da região Norte, uma parte do Centro Oeste; a fração Centro-Sul, abarcando as regiões Sul, Sudeste e o restante do Centro Oeste; e a fração Nordeste, porção menor que as demais, não ultrapassando os limites da Grande Região homônima. Essa divisão se justifica por pelo menos dois parâmetros. O primeiro, de fácil constatação visual, refere-se a existência de interstícios espaciais observáveis entre as áreas mais densamente ocupadas por centros urbanos articulados e a simultânea rarefação de articulações viárias. O segundo remete-nos à semelhança desta divisão com o desenho proposto por Geiger (1967) quando dividia o Brasil em três grandes regiões geoeconômicas.

A divisão do país em cinco Grandes Regiões torna-se, na atualidade, pouco adequada para diversos tipos de estudos, daí as tentativas de redefinição dos recortes regionais feitas por vários analistas regionais. O Sudeste, na verdade, abriga a mais densa rede de cidades e o maior contingente de população urbana do País. Sua influência e dinamismo econômico alcançam diretamente grande parte do território nacional, a exemplo das sub-regiões fronteiriças no Sul e Centro Oeste, onde investimentos em infra-estrutura básica já articulam o Norte do Paraná com boa parte do Mato Grosso do Sul, Goiás e o subespaço formado por Brasília, Goiânia e Anápolis. É dessa forma que surge então uma nova configuração espacial supra-regional, de alta densidade econômica e demográfica, aqui denominada fração Centro-Sul da rede urbana.

Embora mais distante dos eixos dinâmicos do País, a fração Norte, além de possuir peculiaridades bem próprias dadas por sua geografia física (impedindo, em muitos trechos, a ocupação humana permanente), exibe um processo de urbanização acelerado, com forte atração de migrantes, tanto em função da presença dos maiores centros, Belém e Manaus, quanto das capitais estaduais e outras áreas urbanas que vêm se estruturando articuladas com o Centro-Sul e Nordeste.

Com respeito à fração Nordeste, não obstante os investimentos que a Região tem acumulado nas últimas décadas, tudo indica que ela ainda mantém, no período aqui

(10)

analisado, sua característica emigratória, embora em níveis inferiores que os de décadas atrás. Suas metrópoles e nódulos urbanos não-metropolitanos mais importantes têm registrado taxas de crescimento superiores à média nacional entre 1991 e 2000 (como se verá a frente), certamente absorvendo grande parte do êxodo rural que ainda tipifica a região, e refletindo a urbanização regional em espaços econômicos específicos, nos quais os fluxos de retorno à região são importantes.

4.1. CRESCIMENTO URBANO NA REDE URBANA

Os dados evidenciam, em grande medida, a intensificação do processo de urbanização das últimas décadas, e sugerem a existência de um processo de redistribuição da população vis-à-vis o aprofundamento da integração físico-territorial, tanto no Sudeste, quanto em vários outros subespaços urbanos articulados diretamente a ele. A rigor, as evidências indicadas nos mapas das Figuras 2 e 3 conferem com uma constatação correlata que convém sublinhar. Todas as Grandes Regiões brasileiras aumentaram sua participação na população urbana do País, em especial o Centro-Oeste, o Norte e também o Nordeste, áreas com características dominantemente rurais até bem pouco tempo atrás.9

A expansão da fração Norte da rede urbana tem sido contínua nos últimos 20 anos. No ano 2000 havia 13 núcleos com mais de 100 mil habitantes enquanto em 1980 esse número não ultrapassava oito. Na fração Nordeste em 2000 havia 27 pontos, três a mais que os 24 registrados em 1980, indicando um pequeno incremento. Já o Centro-Sul, com 70 núcleos em 1980, chega a 83 em 2000, atestando um aumento importante, sobretudo se levarmos em conta a magnitude das populações envolvidas e a densidade demográfica dessa parte da rede urbana do país.

Da mesma forma, o ritmo de crescimento das populações urbanas da fração Norte tem se situado bem acima da média nacional (2,44% a.a.), com vários casos ostentando médias acima de 5% a.a. Entre 1980 e 2000, o período 1980-1991 foi de maior

9

No conjunto, aumenta o número de pólos regionais com maior tamanho populacional. Afinal os centros com população inferior a 100 mil habitantes diminuem entre 1980 e 2000, enquanto amplia-se em quase 20% o número de centros com mais de 100 mil habitantes (102 em 1980 e 123 no ano 2000), mesmo tendo em conta a fixação em 1991 dos 165 pontos da rede urbana aqui proposta. O incremento de oito

(11)

crescimento, contudo, entre 1991 e 2000, as áreas que continuaram mantendo um crescimento demográfico elevado foram principalmente as da fração Norte, secundadas pelas áreas litorâneas da fração Nordeste. No centro sul, a Figura 3 expressa um certo arrefecimento do crescimento populacional, especialmente no período mais recente de 1991-2000, se examinadas as classes com crescimento inferior a média nacional. Isto se explica tanto em face do estágio mais avançado da transição urbana da porção sul-sudeste, quanto da magnitude dos estoques populacionais presentes nos pontos dessa parte da rede, algo que impede a continuidade da expansão urbana sob taxas elevadas, especialmente se levar-se em conta, também, o estágio mais avançado da transição demográfica nessas áreas.

centros de 1980 até 1991, ou seja de 157 pontos para 165, deveu-se exclusivamente ao aumento da participação da fração Norte com mais oito centros urbanos.

(12)
(13)
(14)

4.2. CRESCIMENTO URBANO E MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO NO ESPAÇO Os dados mapeados na Figura 4 conferem com as tendências assinaladas acima. As áreas onde o peso dos imigrantes era maior em 1991, digamos acima de 30% em relação à população total, eram principalmente as que reuniam pontos da rede Norte no arco oeste e no corredor Tocantins/Belém-Brasília. Além dessas, muitos outros centros urbanos difusamente localizados na rede (mais de 55) destacavam-se com participações de imigrantes respondendo por mais de 1/5 da população total, aspecto esse que deve explicar grande parte do crescimento populacional verificado no período.

Os imigrantes residentes nas localidades da rede em 1991 já deviam ser de origem predominantemente urbana, uma vez que o processo de urbanização no país possui uma certa 'longevidade'. De fato, os dados mapeados na Fig. 5 deixam evidente que as mudanças domiciliares de tipo urbana-urbana são amplamente predominantes. A trajetória U-U foi predominante em 80 localidades, nas quais mais de 70% dos imigrantes fizeram esse tipo de movimento. Visualmente fica evidente que na fração Centro-Sul os movimentos U-U são bem mais expressivos que nas demais frações da rede.

Outra trajetória importante, que denota uma inserção tardia na transição urbana, é a de tipo campo-cidade (R-U). Nesse caso, não obstante o fato de os números percentuais serem bem inferiores aos do tipo U-U, verifica-se que nas áreas periféricas da fração Centro-Sul, e em muitos pontos das frações Norte e Nordeste os percentuais de imigrantes que fizeram esse movimento foram significativos. 84 nódulos onde as trajetórias R-U respondiam por mais de 20% de todos os movimentos (U-U, U-R, R-R, R-U).

Quanto as trajetórias U-R e R-R, cujas participações são relativamente bem menores que as anteriores, convém salientar que o destino rural mostra-se diferenciado espacialmente, sobretudo ao se contrapor as frações Centro-sul e Norte. Na primeira os dois movimentos em conjunto raramente ultrapassam 10% do total das imigrações, já na segunda, principalmente em Rondônia, há registro de movimentos ultrapassando os 20%, indicando que o declínio do campo como local de residência ocorre de forma diferenciada segundo as porções da rede urbana.

(15)

Se a transição da condição rural para a urbana é fato no país, pode-se cogitar a hipótese de que os migrantes deslocam-se inicialmente entre áreas rurais só depois transferindo-se para as áreas urbanas, mais ou menos como propunha Ravenstein em sua clássica formulação sobre a migração por etapas.

Nesse caso, pode-se separar os migrantes do período 1981-1991 em dois grupos: os com menos de um ano de residência, os recentes, e os com tempo de residência entre 1 e 9 anos, os não-recentes. Entre as frações Centro-sul e Nordeste não há diferenças significativas entre os imigrantes recentes e não-recentes quanto as trajetórias domiciliares predominantes. Em ambos os casos as trajetórias U-U e R-U são amplamente predominantes, respondendo juntas por 95% dos movimentos no Centro-Sul e 90% na fração Nordeste. Contudo na fração Norte há diferenciações. Tanto as trajetórias domiciliares de tipo R-R e U-R são mais representativas e as proporções relativas aos fluxos U-U são menores (embora predominantes), quanto há distinções entre os migrantes recentes e não-recentes. Os dados sugerem que os imigrantes recentes vêm em massa para as áreas urbanas (62% e 18%), todavia muitos deles remigram ou retornam a suas regiões de origem (fora do Norte) ou, com o passar dos anos, vão fixando domicílio em áreas rurais (dados não mostrados).

(16)
(17)
(18)

A análise dos movimentos da população no espaço geralmente requer alguma atenção sobre as distâncias relativas percorridas pelos migrantes. Desde Ravenstein, no século XIX, esse tipo de questão acompanha os estudos migratórios. Contemporaneamente, é plausível admitir que, dada as facilidades de transportes no país e o encurtamento do tempo de deslocamento, diminui sensivelmente o atrito da distância como impedimento aos movimentos migratórios.

O primeiro mapa da Fig. 6 indica dois tipos de evidências. A primeira expõe as áreas onde os movimentos interestaduais, geralmente os que envolvem maiores distâncias, são dominantes. A fração Norte destaca-se claramente nesse sentido, o que confere com sua condição de espaço em processo de ocupação e expansão demográfica. Além disso, são dignos de nota os pontos da rede geralmente postados próximos a fronteiras entre estados. A segunda evidência, relativa aos movimentos intraestaduais, indica que a maioria deles exibia predominância de movimentos intermicrorregionais (144). Os 21 casos de predominância intramicrorregional põe em relevo várias localidades mais urbanizadas, a exemplo das regiões metropolitanas, espaços relativamente pequenos, mas que incorporam vários municípios e grandes estoques populacionais. Em outras palavras, no período 1981-1991, os movimentos intraestaduais entre microrregiões geográficas foram amplamente predominantes na rede urbana aqui proposta, o que demonstra o alto grau de redistribuição da população no espaço, algo que deve se manter por muito tempo ainda, sobretudo se levarmos em conta que muitas localidades importantes do país iniciaram tardiamente seu processo de transição urbana e expansão econômica.

Uma informação adicional sobre a procedência dos imigrantes pode ser associada à expressão relativa dos movimentos com origem em grandes centros urbanos. Se vimos que as trajetórias de tipo U-U são fortemente predominantes, caberia indagar se os grandes centros urbanos estariam redistribuindo população, nos marcos de um processo de desconcentração demográfica.

(19)
(20)

Mesmo que as cidades da rede sejam áreas onde a urbanização esteja intensificada, é plausível esperar que a maioria dos imigrantes provenham de cidades hierarquicamente menores ou mesmo de áreas rurais, espaços estes que compõem a hinterlândia dos pólos urbanos dominantes. Por essa razão, é que passa a ser importante refletir sobre um sentido inverso e diverso, o da contribuição dos grandes centros para a redistribuição populacional no interior da rede urbana. Nesse caso, considerou-se como alta a participação dos imigrantes procedentes de grandes centros (localidades com mais de um milhão de habitantes) se representarem mais de 1/5 do total de imigrantes. O segundo mapa expõe essa informação, apontando algumas das tendências do processo de desconcentração populacional que vinha se dando no período. Entre as 64 localidades destacadas convêm atentar para as situadas na fração Centro-Sul (a maioria), algumas na franja litorânea nordestina e outras no corredor fluvial do rio Amazonas, nas proximidades de Manaus (nesse caso é razoável esperar a existência de muitos fluxos de retornados de Manaus).10

É evidente que a tentativa fracassada de fixação dos migrantes pode estar parcialmente quantificada por meio dos dados de migração de retorno ao município de nascimento. O terceiro mapa mostra alguns dos pontos nos quais a proporção de retornados foi mais expressiva (digamos, acima de 15% do total de imigrantes na localidade). Dos 37 casos mapeados assume importância relativa, principalmente, os 13 pontos localizados na fração Nordeste (área histórica de emigração, onde a migração de retorno é reconhecidamente expressiva), os seis pontos localizados nas margens do Amazonas (como indicado acima), e os 18 restantes na orla periférica da fração Centro-Sul.

10

Os nódulos da rede que representavam grandes centros urbanos com mais de 1000 000 de habitantes no ano 2000 eram as regiões metropolitana de Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Belém, Brasília, além de Manaus e Goiânia. As trocas envolvendo diretamente tais localidades segundo os dados do Censo de 1991 indicavam que os centros nos quais a contribuição de imigrantes provenientes desse mesmo conjunto (exceto a migração intranódulo, como a intrametropolitana, por exemplo) foi mais importante em Brasília e Manaus, com proporções de 18,2% e 18,1%, respectivamente. Além desses casos, contribuições superiores a 10% da população imigrante do período 1981/91 ocorreram também em Goiânia (12,9%), RM do Rio de Janeiro (11,7%), RM de Salvador (11,2%), RM de Belém (10,7%), RM de Fortaleza (10,4%), RM de Recife (10, 3%).

(21)

5. A CONTRIBUIÇÃO RELATIVA DOS MIGRANTES

A contribuição da imigração na expansão da rede urbana brasileira parece ser bastante evidente, porquanto a rede é, por definição, uma estrutura sócio-espacial alimentada por fluxos de natureza diversa, e a migração compõe parte importante desses fluxos. Fluxos complexos que tanto redistribuem informações, experiências e aportes culturais, quanto internalizam fatores de produção, geralmente força de trabalho e pequenos capitais em movimento.

Uma das formas de estimar mais precisamente a contribuição dos migrantes, com base em dados censitários, utiliza-se de comparações com a população não-migrante por meio de dados sócio-econômicos, como os de instrução e ocupação. A idéia é que se os migrantes se revelarem melhor situados que os não-migrantes a contribuição passa a ser positiva.

A Figura 7 permite estabelecer algumas conclusões iniciais. Em primeiro lugar verifica-se que, de um modo geral, entre a população adulta, os migrantes são mais instruídos que os não-migrantes. Em 71 pontos da rede, a escolaridade média dos imigrantes é superior a seis anos de estudo. Entre os não-migrantes isso ocorre apenas em 54 centros. No extremo oposto, os dados registram um número relativamente elevado de localidades, 43, nas quais os não-migrantes detinham em 1991 menos de quatro anos de estudo. Entre os imigrantes esse número é bem menor, apenas 19.

Uma outra constatação derivada da espacialização dos dados refere-se a localização dos pontos da rede onde é mais evidente a presença de imigrantes relativamente mais instruídos. Visualmente fica claro que a maioria desses pontos fazem parte da fração Centro-Sul, o que não causa surpresa, já que é nessa porção do país que estão a maioria dos estabelecimentos educacionais, assim como são mais definidos os requerimentos de qualificação para o trabalho. Contudo, convém ressaltar a existência de nove nódulos fora do Centro-Sul onde também ocorre a mesma coisa: quatro na fração Norte, Manaus, Belém, Tabatinga, Guajará-Mirim e Porto Velho; cinco no Nordeste, São Luís, Natal, Recife, João Pessoa e Salvador.

Ao considerar-se o conjunto com mais de quatro anos de estudo, pode-se verificar melhor, nas frações Norte e Nordeste, os pontos nos quais é mais expressiva a

(22)

contribuição dos imigrantes (especialmente ao se fazer a comparação com o mapa dos não-migrantes). Destacam-se os seguintes espaços: um no interior do Nordeste articulado à franja litorânea, outro no corredor Belém-Palmas-Brasília; outro no arco oeste articulado por Porto Velho; e o último no eixo fluvial articulado por Manaus.

(23)
(24)

5.1 QUALIFICAÇÃO DE MIGRANTES E NÃO-MIGRANTES

Outra forma de avaliar a contribuição dos imigrantes nas localidades de destino pode ser feita através de simples comparação com os não-migrantes por meio de variáveis censitárias que dêem uma visão da qualificação para o trabalho de cada grupo. Para amenizar os efeitos da idade exclui-se as pessoas com menos de 20 anos de idade do universo dos que trabalharam no último ano anterior a data do censo. Utilizando-se de tipologia ocupacional própria obtém-se uma classificação simplificada dos trabalhadores em dois grupos, o dos qualificados e o dos não-qualificados.11

A Figura 8 apresenta os pontos da rede urbana em que os imigrantes são proporcionalmente mais qualificados que os não-migrantes (82), assim como, em sentido inverso, os pontos/localidades onde os não-migrantes são mais qualificados que os imigrantes (83).

As conclusões principais derivadas da análise do mapa podem ser organizadas em dois níveis. No primeiro, emergem as localizações onde os imigrantes mostravam-se mais qualificados que os não-migrantes. Aqui surgem vários dos subespaços assinalados nos mapas de escolaridades, ou seja, comparecem o arco oeste, envolvendo o Acre e Rondônia, o eixo Manaus, o corredor Tocantins, o eixo nordestino litoral-interior, a franja litorânea polarizada por Salvador, e parte da periferia da fração Centro-Sul. Uma outra conclusão, sintomaticamente surpreendente, e em visível discrepância com a espacialidade dada pelo nível de escolaridade (Fig. 7), refere-se a prevalência dos não-migrantes em muitos pontos integrantes da porção mais central do Centro-Sul, especialmente no estado de São Paulo. Os dados devem estar indicando que grande

11

A estratificação das ocupações segundo a qualificação, é derivada do Censo Demográfico. O Censo entende como ocupação “o emprego, cargo, função, profissão, etc., exercido durante a maior parte dos

meses anteriores a data de referência do censo ou, excepcionalmente, a ocupação exercida na data de referência do censo, quando adotada com a intenção de ser definitiva.” (IBGE, Censo demográfico de

1991, documentação dos microdados da amostra). A tipologia ocupacional aqui empregada, desenvolvida e simplificada a partir da utilizada em MATOS (1995), foi submetida a sucessivos testes até que se resolveu utilizar a variável escolaridade como um filtro adicional para distinguir melhor os trabalhadores qualificados dos não qualificados. Assim, além das ocupações nas quais a qualificação é um requisito mínimo indispensável, algo que pressupõe formação profissional ou aprendizado prático e técnico, adicionou-se, na identificação dos trabalhadores qualificados ocupados, a exigência de pelo menos quatro anos de instrução formal, mediante o emprego da variável censitária “anos de estudo” (o que corresponderia ao ‘primário completo’ ou ao atual ‘Ensino Fundamental’). Em caso contrário, a pessoa passa para o grupo dos “não-qualificados”. Nesse grupo também se incluem as pessoas que freqüentavam curso de alfabetização de adultos, independente do tipo de ocupação. A relação detalhada das ocupações em cada grupo encontra-se em Matos (2001).

(25)

parte dos imigrantes residentes nessas áreas, mesmo que possuam o primeiro grau completo, não ocupam a maioria dos postos de trabalho que requerem maior formação técnica, pelo contrário, a presença de trabalhadores braçais com pouca instrução, na indústria e nos serviços, deve ser muito expressiva. Adicionalmente, convém ressaltar um aspecto amplamente documentado: as redes migratórias constituem um mecanismo de proteção a milhares de imigrantes nordestinos, não qualificados ou qualificados precariamente, que chegam anualmente ao estado de São Paulo. De outra parte, mas reforçando as evidências acima mencionadas, cabe também considerar a existência de outros tipos de mecanismos sócioculturais12 de proteção praticados por não-migrantes (nativos e imigrantes antigos), que também lhes favorece na seleção das melhores oportunidades em um mercado de trabalho altamente competitivo, em expansão, e em que os requerimentos de qualificação são crescentes e excludentes. Deter informação, possuir conhecimentos técnicos e nível de escolaridade equivalente, por exemplo, ao segundo grau completo, pode ser uma condição inacessível a milhares de migrantes internos, muitos deles errantes, sem pouso certo, percorrendo grandes distâncias a procura de trabalho.

12

Que, afinal, guardam certa analogia com as redes sociais da migração. Os não-migrantes, não raro, também estabelecem formas protecionistas que lhes favorece, inclusive contra uma suposta ameaça dada pela forte presença dos migrantes.

(26)
(27)

5.2 AS ATIVIDADES PRINCIPAIS QUE OCUPAVAM MIGRANTES E NÃO-MIGRANTES

A análise da inserção ocupacional das populações migrantes com base em dados censitários serve para aprofundar e qualificar melhor parte das conclusões anteriores e deve ser útil para o estabelecimento de características econômico-demográficas próprias às frações da rede urbana aqui definida. Além disso, convém sempre que possível tentar esclarecer melhor algumas idéias muito difundidas sobre como os migrantes conseguem trabalho nos centros urbanos.

Faz parte do senso comum e mesmo da literatura especializada a premissa de que a grande maioria dos trabalhadores migrantes são aproveitados em setores como Indústria da Construção e Serviços Domésticos. Na verdade, essa afirmativa deve ser requalificada, a favor de uma maior precisão, já que tais ocupações não são uma espécie de prerrogativa da condição migrante. Os dados do Censo de 1991 indicam claramente que em todas as três frações da rede os setores Indústria da Construção e Serviços

Domésticos Remunerados são os que mais ocupam mão-de-obra, tanto migrante quanto

não-migrante. Convém observar, adicionalmente, que não obstante a presença mais numerosa da mão-de-obra não qualificada, há também indivíduos qualificados trabalhando nesses setores.

A questão da diferenciação entre migrantes e não-migrantes não é tarefa muito simples. É sempre útil considerar que os não-migrantes, por força mesmo dessa condição, possuem informações mais complexas e detalhadas sobre as condições de trabalho e os empregos oferecidos nos mercados de trabalho locais. Informações que o conhecimento do lugar e o apoio de familiares propicia. Assim, é plausível esperar que sua distribuição pelo conjunto de atividades deva se dar de forma mais homogênea, como se a eles fossem oferecidas um rol mais amplo de atividades. No caso dos imigrantes, pelo contrário, é razoável esperar que se concentrem mais em um conjunto mais restrito de atividades, mesmo que se beneficiem das redes sociais da migração. Talvez por essa razão se justifique a crença disseminada de que a eles só restariam a

construção civil e o emprego doméstico. A Tabela 1 ajuda a distinguir alguns

diferenciais entre esses dois grupos vis-à-vis a geografia dos lugares expressa nas três frações da rede urbana. Uma conclusão inicial diz respeito a maior dispersão dos

(28)

não-migrantes pelo conjunto de atividades, já que as 10 principais atividades da PEA concentravam sempre mais migrantes do que não-migrantes (48,0% na fração Norte, 52,9% na fração Nordeste e 44,4% na fração Centro-Sul). Outras conclusões podem ser estabelecidas para cada uma das frações.

Na fração Norte, os dados sinalizam para a existência:

a) de uma relativa especialização econômica nessa porção da rede em face da presença forte de atividades associadas ao setor primário (o que condiz com vários dos atributos geográficos que tipificam essa grande área do país)13;

b) maior concentração relativa dos imigrantes nos serviços domésticos e indústria da construção, não obstante a forte presença dos não-migrantes nesses setores em termos absolutos. Atividades em que são numerosos os trabalhadores qualificados, como ensino público, comércio e serviços de alimentação ocupam indistintamente tanto migrantes como não-migrantes, da mesma forma como são também indistintos nas atividades associadas a silvicultura, agricultura e pecuária.

A fração Nordeste parece guardar algumas semelhanças com as duas outras em termos de setores de atividade, pois incorpora setores tipicamente urbanos assim como outros mais vinculados ao mundo rural (agropecuária, extração vegetal e pesca, artesanato, etc). Os dados indicam:

a) um relativo predomínio de atividades de tipo urbano, como as ligadas ao comércio e serviços, não obstante a presença de migrante e não-migrante em atividades que se associam a agricultura e extração vegetal como "culturas agrícolas não

discriminadas" e "indústrias alimentares”;

b) mesmo com a maior concentração de migrantes nos serviços domésticos e

indústria da construção, é muito expressiva a presença de não-migrantes nesses setores,

tanto em termos relativos (8,6% e 7,6%) quanto em números absolutos. Não existem diferenciais

Tabela 1

13

Não causa surpresa a presença de muitas atividades tipicamente urbanas nas localidades da fração Norte, onde tem sido intensa a expansão da urbanização. Contudo, ainda assim, atividades não-urbanas mantém-se muito expressivas, a exemplo das que constam na Tabela 1 e de outras também importantes como as associadas ao extrativismo como: indústrias de madeira; faiscação e garimpagem de minerais

(29)

Principais Ocupações da População Economicamente Ativa Não-Migrante e Migrante das Localidades da Rede Urbana

FRAÇÃO NORTE NÃO-MIGRANTES IMIGRANTES Atividade Ocupado s % Atividade Ocupado s %

Indústrias da construção 87754 7.7 Serviços domésticos

remunerados 44731 10.4

Ensino público 72728 6.4 Indústrias da construção 40547 9.4 Serviços domésticos

remunerados 71134 6.3 Ensino público 19013 4.4

Comércio de gên. Aliment. e

bebidas 44786 3.9 Cultura de arroz 17457 4.1

Comércio ambulante 41026 3.6 Comércio de gên. Aliment. e

bebidas 17363 4.0

Cultura de mandioca 40774 3.6 Comércio ambulante 16923 3.9 Cultura de arroz 29015 2.6 Culturas não discriminadas/

S. Prim. 14899 3.5

Serviços de alimentação 28243 2.5 Cultura de café 12739 3.0 Culturas não discriminadas/

S. Prim. 26938 2.4 Serviços de alimentação 11621 2.7 Serviços reparação/manut.

veíc. leves 26778 2.4 Pecuária 11127 2.6

SUB-TOTAL 469175 41.3 SUB-TOTAL 206419 48.0 PEA NÃO-MIGRANTE 1136186 100. 0 PEA NÃO-MIGRANTE 430027 100. 0 FRAÇÃO NORDESTE Atividade Ocupado s % Atividade Ocupado s %

Indústrias da construção 308810 8.6 Serviços domésticos

remunerados 192882 19.2

Serviços domésticos

remunerados 274105 7.6 Indústrias da construção 99906 10.0 Ensino público 202819 5.6 Comércio ambulante 50198 5.0 Comércio ambulante 152336 4.2 Serviços de alimentação 41819 4.2 Serviços de alimentação 123884 3.4 Comércio de gên. Aliment. e

bebidas 39546 3.9

Comércio de gên. Aliment. e

bebidas 116064 3.2 Ensino público 32017 3.2

Serviços reparação/manut. veíc. leves 83462 2.3 Comércio de tecidos/vest. e armarinho 24878 2.5 Comércio de tecidos/vest. e armarinho 76352 2.1 Indústrias de produtos alimentares 18851 1.9 Transportes rodoviários de passageiros 58269 1.6 Transportes rodoviários de passageiros 17983 1.8 Indústrias de produtos alimentares 53731 1.5

Culturas não discriminadas/

(30)

SUB-TOTAL 1449833 40.2 SUB-TOTAL 530731 52.9 PEA NÃO-MIGRANTE 3603431 100. 0 PEA NÃO-MIGRANTE 1003647 100. 0 FRAÇÃO CENTRO-SUL Atividade Ocupado s % Atividade Ocupado s %

Indústrias da construção 1230291 7.9 Serviços domésticos

remunerados 523793 12.6

Serviços domésticos

remunerados 1100167 7.1 Indústrias da construção 469665 11.3 Indústrias metalúrgicas 751781 4.8 Serviços de alimentação 204821 4.9 Ensino público 605588 3.9 Indústrias metalúrgicas 203916 4.9 Serviços de alimentação 597767 3.8 Comércio de tecidos/vest. e

armarinho 90130 2.2 Comércio de tecidos/vest. e armarinho 414455 2.7 Indústrias de produtos alimentares 83890 2.0 Banco, financeiras e capitalização 385921 2.5 Comércio de gên. Aliment. e bebidas 72976 1.8 Transportes rodoviários de

passageiros 272106 1.7 Ensino público 70828 1.7 Serviços reparação/manut.

veíc. leves 248458 1.6

Transportes rodoviários de

passageiros 67220 1.6

Serviços médicos

particulares 175790 1.1 Comércio ambulante 62343 1.5

SUB-TOTAL 5782323 37.2 SUB-TOTAL 1849582 44.4 PEA NÃO-MIGRANTE 1554936 7 100. 0 PEA NÃO-MIGRANTE 4163834 100. 0 Fonte: Censo Demográfico de 1991 (dados

amostrais)

muito notáveis entre migrantes e não-migrantes em termos de inserção ocupacional em atividades mais ou menos qualificadas. Contudo os dados sinalizem para uma ligeira predominância dos não-migrantes em determinadas atividades urbanas que requerem maior formação técnica como nos serviços de reparação e manutenção de veículos

leves, ensino público e serviços administrativos estaduais.

O Centro-Sul, porção do país mais urbanizada e economicamente desenvolvida, possui um elenco bem diversificado de atividades, além de oferecer a maior parte dos postos de trabalho do país. Os dados da Tabela 1 permitem mostrar algumas de suas especialidades em relação as duas outras porções da rede urbana, especialmente ao exibir no rol das 10 principais atividades a presença mais enfática do emprego industrial e de atividades do terciário moderno. Os dados indicam:

(31)

a) um amplo predomínio de atividades de tipo urbano-industrial, como as ligadas à indústria metalúrgica, aos serviços financeiros e aos serviços médicos particulares, ocupações que agregam pessoal qualificado e que só comparecem tão enfaticamente nessa região do país. De outra parte, desaparecem do rol importantes atividades nas duas outras frações e de baixo grau de qualificação técnica a exemplo do comércio

ambulante (entre os não-migrantes) e do comércio de gêneros alimentícios, bebidas e estimulantes ;

b) superioridade dos não-migrantes sobre os imigrantes em termos de qualificação, confirmando evidências apontadas anteriormente. As proporções de trabalhadores não-migrantes ocupados em atividades que reúnem um maior número de qualificados é notável entre os não-migrantes (3,9% no ensino público, 2,5% nos bancos, financeiras e

capitalização, 1,6% nos serviços de reparação e manutenção de veículos, exclusive trens, tratores e máquinas de terraplanagem, e 1,1% nos serviços médicos particulares), algo que não ocorre entre os imigrantes. Estes últimos distribuem-se

fortemente por atividades industriais, comerciais e de serviços de requerimentos de qualificação relativamente menor. Aliás, a maior inserção do imigrante, sobretudo do sexo masculino, em atividades industriais (por exemplo, na indústria da construção,

metalúrgica, produtos alimentares e de material de transportes) sinaliza para a hipótese

de destinos previamente delineados provavelmente apoiados pela rede social da migração em operação nessas áreas há várias décadas.

(32)

6. CONCLUSÕES

A Rede Urbana aqui apresentada identifica os lugares urbanos de maior peso populacional em seus estados, aqueles que exercem a função de pólos regionais, reunindo-os em três subespaços diferenciados.

A expansão da população brasileira nas ultimas décadas se estruturou em grande medida nessas localidades, em contextos amplamente favorecidos pelos movimentos populacionais. A contribuição dos imigrantes foi decisiva no processo de redistribuição espacial da população, como mostraram os fluxos intermicrorregionais predominantes na maioria das localidades. Nesse sentido, ficou também evidenciada a participação dos emigrantes de grandes centros urbanos, indicando dimensões pouco conhecidas da dinâmica da desconcentração econômico-espacial, revelando a diversidade dos fluxos dentro da rede e as diferentes formas de articulação entre os nódulos.

As articulações entre os pontos da rede ocorrem sob vários aspectos e as variáveis sócio-econômicas são essenciais para a análise da contribuição dos imigrantes sobre as localidades receptoras. De modo geral os imigrantes apareceram mais instruídos que os não-migrantes e sua maior qualificação coincide com os pontos da rede onde eles também eram mais escolarizados. O detalhamento das atividades exercidas predominantes mostrou grande proximidade entre migrantes e não-migrantes nas Frações Norte e Nordeste. No entanto, na Fração Centro-sul, os imigrantes parecem estar exercendo atividades menos qualificadas que os não-migrantes.

As análises permitiram concluir que as migrações internas têm sido fundamentais nos processos recentes de redistribuição e desconcentração espacial da população no Brasil contemporâneo. Atuam na redinamização da rede de localidades centrais, difundindo inovações derivadas de grandes áreas urbanas, viabilizando enfim a ocupação de antigos vazios demográficos. As migrações contribuem de forma significativa, mediante criação de novos núcleos economicamente densos, para o desenvolvimento de atividades urbanas, tanto nas extensões das áreas de influências do eixo mais desenvolvido no Centro-sul, quanto nas demais frações da rede. Investigações dessa natureza justificam o aprofundamento de estudos voltados a compreensão mais fina desses processos, na perspectiva de aliar conhecimentos demográficos, geográficos e econômicos voltados a enfoques mais desagregados, sem os quais os lugares e as comunidades tornam-se muito pouco visíveis.

(33)

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, T.A e SERRA, RV. O recente desempenho das cidades médias no crescimento populacional urbano brasileiro. IPEA. (Texto para discussão 554). 1998. ANDRADE, T.A. e LODDER, C.A. Sistema urbano e cidades médias no Brasil. IPEA/INPES, Rio de Janeiro, 1979AMARANTE, Luis A., BONDIOLI, Paulo. A apropriação regional da renda nacional no Brasil; 1975-85. São Paulo em Perspectiva, Revista da Fundação SEADE, São Paulo, v.1, n.3, out/dez, 1987.

AZZONI, Carlos R. Indústria e reversão da polarização no Brasil, São Paulo, IPE/USP, 1986.

BOGUS, L. M. M. et al. Processos migratórios no Estado de São Paulo. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, Caxambu. Anais do VII Encontro. 1990. São Paulo: ABEP, 1990, (V.1).

BRITO,F. População, espaço e economia numa perspectiva histórica: o caso brasileiro. Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 1997 (Tese de doutorado em demografia).

CANO, Wilson. Desequilíbrios regionais e concentração industrial no Brasil;1930-1970. Rio de Janeiro: Global, 1985.

CARVALHO, J.A.M. e MACHADO, C.C. Quesitos sobre migrações no Censo Demográfico de 1991. REVISTA BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 9(1), 1992.

CHRISTALLER, W. Die Zentralen Orte in Süddenstschland, Iena, Gustav Fischer, 1933 (tradução americana de C.W. Baskin), Central Place in Southern Germany, N. Jersey, Prentice-Hall, 1966.

CORDEIRO, H.K. e BOVO, D.A. A modernidade do espaço brasileiro através da rede nacional de telex. In: Revista Brasileira de Geografia, 52 (1), jan-mar, 1990, p. 107-155

CORRÊA, Roberto L. Trajetórias geográficas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1997b. CUNHA, J.M.P.Mobilidade populacional e expansão urbana; o caso da região metropolitana de São Paulo. 1994. Tese (doutorado). UNICAMP.

(34)

DAVIDOVICH, F., BUARQUE DE LIMA, O.M. (1975). Contribuição ao estudo de aglomerações urbanas no Brasil, REVISTA BRASILEIRA DE GEOGRAFIA, ano 37, n. 1, jan/mar, 1975, p. 50-82.

DEFFONTAINES, P. Como se constituiu no Brasil a rede de cidades. In: Boletim geográfico 14, 1944 e Boletim Geográfico 15, 1944.

DIAS, Leila C. Redes: Emergência e Organização. In: Geografia: Conceitos e Temas, org. por CASTRO, I.E., GOMES e CORRÊA, P.L. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1995).

DINIZ, C.C. Desenvolvimento poligonal no Brasil; nem desconcentração, nem contínua polarização. Belo Horizonte, NOVA ECONOMIA (Revista do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG). V.31. N.11. Set. p. 35-64. 1993.

FAISSOL, S. O espaço, território, sociedade e desenvolvimento brasileiro. In: FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA - IBGE, Rio de Janeiro, 1994.

FARIA, Vilmar. O sistema urbano brasileiro; um resumo das características e tendências recentes. Estudos CEBRAP, São Paulo, n.18, p. 91-115, 1976.

FRANCISCONE, J.G. e SOUZA, M.A.A. A política nacional de desenvolvimento urbano; estudos e proposições alternativas. Brasília, IPEA/ILAN, 1976.

FRIEDMAN, J. Planejamento regional: problema de integração espacial. In: SCHWARTZMAN, J. (org) . Economia Regional; textos escolhidos. CEDEPLAR/CETREDE-MINTER, 1977.

GEIGER, Pedro P. Evolução da rede urbana brasileira. Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Ministério da Educação e Cultura). Rio de Janeiro. 1963. 464p.

HADDAD, Paulo. Economia Regional; teorias e métodos de análise. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1989.

MARTINE, G. et al. A urbanização no Brasil: retrospectiva, componentes e perspectivas. In: PARA a década de 90; prioridades e perspectivas de políticas públicas. Brasília: IPEA/IPLAM, 1990.

MATOS, R.E.S. Dinâmica migratória e desconcentração da população na macrorregião de Belo Horizonte. Belo Horizonte. CEDEPLAR (tese de doutorado), 1995.

(35)

MONBEIG, P. Aspectos geográficos do crescimento de São Paulo. Boletim Geográfico. Rio de Janeiro. 1954, n12. V119 p 144-147.

MOTTA, Diana M. e AJARA, Cesar. “Rede urbana brasileira-hierarquia das cidades”. Curso de Gestão Urbana e de Cidade EG/FJP-WBI-PBH-ESAF-IPEA, ago, 1999

MYRDAL, Gunnar. Economic theory and under-developed regions. London, Gerald Duckworth, 1957. 167p.

RANDOLPH, Rainer. Modernização e rede urbana; tendências das transformações nos Sudeste brasileiro na década de 70. In: METROPOLIZAÇÃO e rede urbana, org. por RIBEIRO, A.C.T. e MACHADO, D.B.P., IPPUR/UFRJ, set, 1990.

RIBEIRO, J.T.L. Estimativas da migração de retorno e de alguns de seus efeitos demográficos indiretos no Nordeste brasileiro. 1970/1980 e 1981/1991. Belo Horizonte:UFMG/CEDEPLAR, 1997 (Tese de doutorado em demografia).

RIGOTTI, J.I. Técnicas de mensuração das migrações, a partir de dados censitários: aplicação aos casos de Minas Gerais e São Paulo. Belo Horizonte, MG, CEDEPLAR/UFMG, (Tese de doutorado), 1999.

Referências

Documentos relacionados

Foi lavado com este Magnesol um biodiesel virgem, para que assim fosse possível a comparação entre o biodiesel lavado com um adsorvente virgem, e outro biodiesel lavado com

–Enlace compartilhado entre dois ou mais dispositivos –Capacidade do enlace é dividida para as transmissões.. Classificação

–Nível inferior oferece serviços (o que o nível faz) para o nível imediatamente superior. –Uma interface especifica como acessar os serviços de

• Suponha que dois segmentos são transmitidos, e que haja perda apenas do reconhecimento para o primeiro segmento. • Caso 1: o reconhecimento para o segundo segmento chega antes do

• Camada física e de enlace do modelo OSI rede.. OSI x IEEE x TCP/IP: Padrão

• O receptor utiliza os bits enviados e divide pelo gerador para verifica se os bits estão

quando M nós querem transmitir, cada um pode enviar na velocidade média de transmissão R/M.

• The definition of the concept of the project’s area of indirect influence should consider the area affected by changes in economic, social and environmental dynamics induced