V
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
SANTA
CATARINA
cENTRo
DE
c|ÊNc|As
DA EDUCAÇÃO
~PRDGRAMA
DE
Pós-GRADUAÇÃO EM EDucAÇÃo
QO.
As
RE|_AçoEs
ENTRE
EsTADo
E
soc|EDADE
c|v||_
NA
REA|_|DADE BRAs|LE|RA,
Dos
ANos
10
Aos
so: u|v|A
ANÁ|.|sE
GRAMsc|ANA.
¬.
Cezar
Luiz
de
Mari
CEZAR
LUIZ
DE
MARI
As
RE|_AçoEs
ENTRE
EsTA|:›o
E
soc|EoADE
civil.
NA
REA|_|DAoE
BRAs||_E|RA,
Dos ANos
1o
Aos
so:
uMA
i
ANÁL|sE GRAMsc|ANA.
Dissertação
apresentada
como
requisito parcial para aobtenção do
graude
mestreem
educação.Área
de
Concentração:
Educação
eMovimentos
sociais.~
Programa de
Pós-Graduação
em
Educação
I
Universidade Federal
de
Santa Catarina'
Orientadora: Profa. Dra. Maria
da Graça Boilmann
- -:`_:
'
= --._-J .z
UNIVERSIDADE
FEDERAL DE
sANTA
CATARINA
CENTRO
DE
CIÊNCIAS
DA
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
CURSO DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“AS
RELAÇÕES ENTRE ESTADO E
SOCIEDADE
CIVILNA
REALIDADE
BRASILEIRA,
DOS ANOS
70
AOS
90:UMA
ANÁLISE GRAMSCIANA”
Dissertação
submetida ao
Colegiadodo
Curso de
Mestradoem
Educação
do Centrode
Ciênciasda
Educação
em
cumprimento
parcial para a
obtenção do
título de Mestreem
Educação.
APROVADO
PELA
COMISSÃO
EXAMINADORA
em
23/10/98vt 14 Dra.
IÊÊÊ
da
G
ça~rientadora)
Dr. S ` 'ssmann
fióáz
_Dra. Ivete SI Ionatto
É
°Í ÉI1 aí eaDra. Maristela Fantin (Suplente)
Cezar Luiz de
Mari
AGRADECIMENTOS
À
Mariada
Graça
Bollmann, pela orientação, estímulo e confiança, e peloacompanhamento
desta dissertação.À
Ivete Simionatto, pela orientaçãona
leiturade Gramsci
e pelaforma
humilde
e
respeitosano
trabalho intelectual.Ao
professor SilvinoAssmann,
pelaamizade
e incentivono
estudode
Gramsci.
À
Maria CéliaMarcondes de
Morais,Coordenadora da Pós-Graduação
em
Educação,
sempre
prestativa, motivadorae preocupada
com
asproduções dos
mestrandos.
À
Marlene,minha
amada
companheira
de
vida e esperança.Ao
Pe. Vilson Groh,companheiro
de
luta, por terme
ensinado a jamaisceder
nos
princípiosque
nos
marcam como
trabalhadores..
À
Gabriela, pelas correçõesiniciais
da
dissertação e por compartilharde
ideais nobres
de
uma
sociedademais
justa.Ao
Gustavo, pelaamizade
humilde e dignidade, valores especiaisnos
diasAos
companheiros do Curso
de
Mestrado
em
Educação,
pela possibilidadede
trocade conhecimento e
pelo florescimentoda
amizade.Aos
professoresdo
Mestrado, pelo incentivono
decorrerdo
Curso.A
Comunidade
do
Mont
Serrat, pela acolhidaem
Florianópolis e pelaaprendizagem na
organização popular.Ao
CEDEP
(Centrode Educação
e
Evangelização Popular),que
me
possibilitou
alaprendizagem
e a evoluçãocom
os
simples.À
minha
família, berçoem
que
aprendio
valordo
estudo eda
disciplina.Ao
Luize ao
Marcelo, pela revisão finalda
dissertação.Ao
CNPq
e à
CAPES,
pelo auxílio financeiro tão importante parao
aprofundamento
dos
meus
estudos.E
a todos aquelesque
compartilhamcomigo
da esperança
de
superação
Ofereço
este trabalho à Marlene,minha
amada
companheira
de
vida e esperança,
ao
Vilson pelo incentivo e à Zulmir e Elza peloRESUMO
Este estudo é
um
resgate históricodas
relações constituídas entreo
Estado e a
sociedade
civil brasileira,na
perspectiva gramsciana.No
períodoabordado, entre
a
década de 70
e os anos
90,procuramos
traçaruma
linhacondutora
no
intuitode
demonstrar
que
oprocesso
de
desenvolvimentoda
hegemonia
capitalistano
Brasil desenvolveu-se pormeio
de
revoluções passivase decisões "pelo alto", tendo
como
aliado principalo
Estado,que
na
década
de 60
é
assumido
pelos militares, cujo golpe se prestouao solapamento da
crescenteforça
das
classes subalternas.A
sociedade
civil,enquanto
representaçãodos
aparelhos privados
de hegemonia
das
classes subalternas, une-sena
tentativade
superação do domínio
sem
consenso,na
construçãode
saídas democráticas,que
envolvem
órgãoscomo
CUT, OAB,
ABI,CNBB,
PT
eos Movimentos
Sociaise
Populares.
O
crescimentodo
dissensoda sociedade
civil ocasiona aqueda do
regime, constituindo
a
abertura democrática, cujoprocesso
tevecomo
maior
expressão as
movimentações
pelademocratização
"Diretas Já", a constituinte e,o
dado
mais
significativo,o
florescimentoda
sociedade
civilenquanto
representante
das
classes subalternas, recriando as relaçõescom
oEstado
na
busca do
Estado regulado.Porém,
a organizaçãoe
opoder
econômico
da
classesdominantes
seimpõem
na
Nova
Repúblicade
talmodo
que
o
Estadopermaneceu
sob
oseu
comando
e suas
decisões "peIo alto", especialmente noprocesso
constituinte e
no
encaminhamento do
país parao
neoliberalismo, concretizadona
eleição
de Fernando
Collorde
Mello. Ocorreuma
crisede hegemonia
durantemarcada
pela crisedas
organizações civis tradicionais,de
forçanas
décadas
anteriores, e pelo franco desenvolvimento
das
idéias neoliberais atravésdo
governo
Femando
Henrique Cardoso,que
imprime as reformasdo
Estado
solicitadas pelosórgãos
econômicos
internacionais.Desenvolve-se
um
consenso
ativo
ao
redordo
projeto neoliberal,amalgamado
pelo blocodominante
que une
a
elite
de
São
Paulo e as oligarquiasdo
nortedo
Brasil.Usamos
as categoriasde
Gramsci
para ler esta realidade, porcompreender
que
sejam
as maisadequadas
para penetrar
nas
síntesesdas
múltiplasdeterminações e
como
aberturade
RIASSUNTO
Questo
studio èun
riscatto storico delle relazioni costituite tra lo Statoe
lasocietà civile brasiliana nella prospettiva gramsciana. ll periodo affrontato si localizza
tra la
decade
di '70e
gli anni '90,cercando
di tracciareun
filo conduttorecon
loscopo
di dimostrareche
ilprocesso
di evoluzione dell'egemonia capitalista nelBrasile si
è
sviluppato attraverso rivoluzioni passive e decisioni “dall'alto",avendo
come
alleato principale lo Stato,che
nelladecade
di '60 viene assunto dai militari, ilcui colpo di stato servi
a
minare la crescente forza delle classi subalteme.La
societàcivile, inquanto rappresentanza degli apparati privati di
egemonia
delle classi, siunisce nel tentativo di superare il dominio
senza
consenso, nella costruzione di vied'uscita democratiche,
che
coinvolgono organi qualiCUT, OAB,
ABI,CNBB,
PT,movimenti sociali e popolari. L'ampIificazione del dissenso della società civile
provoca la caduta del regime, costituendo I'apertura democratica, il cui
processo
ebbe
come
maggior
espressione le movimentazioni per la democratizzazione,“Dirette Già", il
processo
costituentee
il dato piu significativo: Ia fioritura dellasocietà civile inquanto rappresentante delle classi subalterne,
che
ricrea le relazionicon
lo Stato nella ricerca dello Stato regolato. Tuttavia Vorganizzazionee
il potereeconomico
delle classi dominantiimpongono
un
tracciato allaNuova
Repubblica ditale
forma che
Io Stato rimase sotto ilsuo
comando
e lesue
decisioni “daII'alto”,specialmente nel
processo
costituente e nell'avviamento delpaese
verso ilgoverno
avvieneuna
crisi diegemonia
che è
subito riordinata dal gruppo dominante.La
decade
di '90 sarà segnata dalla crisi delle organizzazioni civili tradizionali diforza nelle decadi anteriori e dal libero sviluppo delle idee neoliberali, attraverso il
governo Fernando Henrique Cardoso che imprime
le riforme allo Stato, sollecitate dagli organi economici internazionali. Si sviluppaun consenso
attivo intorno alprogetto neoliberale,
amalgamato
dal bloccodominante che
unisce l'eIite diSãn
Paolo e le oligarchie del
Nord
del Brasile.Usa
si Ie categorie diGramsci
per leggerequesta realtà
comprendendo
che
queste siano Ie piüadeguate
per penetrare nellesintesi delle multiple determinazioni e
come
apertura dicammini che
indichino vie"Existe
necessidade
quando
existeuma
premissa
eficiente
e
ativa, cujoconhecimento nos
homens
se
tenha tornado operante,
ao
colocar fins concretosà
consciência coletiva
e
ao
constituirum
complexo
de
convicções
e
de
crençasque
atuapoderosamente
como
as
'crenças popuIares'.Na
premissadevem
estarcontidas, já desenvolvidas,
as
condições materiaisnecessárias
e
suficientespara
a realizaçãodo
impulsode
vontade coletiva;mas
é
evidenteque
destapremissa
'maten'al', quantitativamente calculável,não
pode
ser afastadoum
certo nívelde
cultura, isto é,um
conjunto
de
atos intelectuais,e
destes(como seu
produto
e
conseqüência),um
certocomplexo
de
paixões
e
de
sentimentos imperiosos, isto é,que
tenham
a
forçade
induzir àação
'a todo custo"'.suMÁRIo
INTRODUÇÃO
... ..14cAPíTuLo
I1.o-
BRASIL:
Do GOLPE
MILITAR
À
"ABERTURA
DEIvIocRÁTIcA"
... ..21 1.1-A
"REvoLuÇÃo
PAssIvA"No
I=RocEsso
DA REsTRuTuRAçÃo Do
cAPITAI.IsMoNo
BRASIL ... ..27
1.2-
A
SOCIEDADE
CIVILBUSCA
A
HEGEMONIAI
DA GUERRA
DE MOVIMENTO À
GUERRA
DE
I=osIçÃo ... ... ..41 1.3-CERGEAMENTO DA
socIEDADE
CIVILDURANTE o
REGIME
MILITAR ... ..481.4-
O
EsTADo EM FUNÇÃO Dos
INTEREssEs
DA
cI_AssEDDMINANTE
... ..62cAPíTuI_o
II2.0-
O
BRASIL
NA
DÉCADA
DE
80:DA "ABERTURA
DEMOCRÁTICA"
AO
NEOLIBERALISMO
... ..702.1 -
A
socIEDADE
cIvILNA
TRANsIçÃo:AVANÇOS
E LIMITES ... ..70 2.2-O
AcoRDo
"PEI_o ALTo"DA
NovA
REPÚBLICA
coMo
NEGAçÃo Do EsTADo
AIvIPI.|ADo ... ... ..79
2.3-
O
PRocEsso DA
CoNsTITuINTE EA
DISPUTAENTRE
A
coNcEPçÃo
DE
EsTADo
2.5-
O
EsTADO
OOM
FERNANDO COLLOR
DE MELLO:
ABERTURA
AO
NEOLIBERALIsMOE
A
CRISEDA HEGEMONIA BURGUESA
... ..10O'
1
CAPITULO
III3.0-
O EMBATE
ENTRE
ESTADO
E
SOCIEDADE
CIVIL
NOS
ANOS
90 ... ..1123.1- ESTADO,
sOcIEDADE
EMERCADO
NA
TRILHADO cONsENsO
NEOLIBERAL ... ..1 12'
3.1.1-
As
REFORMAS
EDucAcIONAIs EA
EscOI.AOOMO
APARELHO
PRIVADODE
HEGEMONIA
... ... ..124 3.2-O
MODO
DE
PRODUÇÃO
FLE><ívELEO
MUNDO
DO
TRABALHO
... _. 136
3.3-
A
"cULTURA
DA
cRIsE"OOMO
MEIODE FORTALEOIMENTO
DA HEGEMONIA
BURGUESA
... ..149CONSIDERAÇOES
FINAIS:ATUALIDADE DE
GRAMSCI
NO
FINAL
DO
sÉcuLO
xx
... ..155|NTRoDuçÃo
Este estudo apresenta
uma
abordagem
das
relações entre Estado eSociedade civil*
dos anos 70
aos 90, à luzdo pensamento
gramsciano. Procuraidentificar as formas
de
organização e o papeldo
Estadono
períodoque
compreende
a ditadura militar e a abertura à democracia
da
Nova
República, analisando osprocessos de revolução passiva e seus
desdobramentos na década de
90,apontando
às novas formas
de
relação entre Estado e sociedade civil a partir das tendênciasneoliberais. _
O
motivoque
nos leva aoempreendimento
deste estudo esta vinculado àtentativa de
compreender
as relações de continuidades e descontinuidades entre oEstado dos militares e o Estado
da
Nova
República,bem
como
seus
desdobramentos.
Houve
continuidade, enquanto o Estadodo
capital passou peloregime militar
de
uma
fomwa estatizante e centralizada, atravésde
uma
ditadurasem
hegemonia, para o "Estado democrático",
com
decisões "pelo alto", vindo a assumira forma neoliberal
com Femando
Collorde
Mellode
Mello eFemando
HenriqueCardoso.
Há
descontinuidadena medida
em
que
o processoda
abertura democráticarompe
com
a visãode
intervenção estatal, partindoao
Estado mínimo, na tentativade
'
Essa terminologia gramsciana é utilizada para referir-se às organizações da sociedade civil que se
constituem
em um
contraponto ao Estado do capital, na medida que apontam para uma nova cultura,compreendida como maior participação nas decisões e na construção de
um
Estado democrático. Sãoespaços organizativos, enquanto base material da sociedade civil, que exercem
um
papel fundamentalreduzir a influéncia
do
Estado juntoao
mercado.O
mercado, porsua
vez, é entendidonessa
concepção
como
uma
espéciede
temwômetro auto-regulável, capazde
gerir osseus
empreendimentos
sem
a necessidadeda
baliza estatal. Trata-sede
um
movimento
lógico,onde
as politicasde
relações entre Estado e sociedade civilsofrem alterações
de
acordocom
osdesdobramentos
das conjunturas,num
processo deembate
entreambos,
expressando a defesade
dois.modelosde
Estado: o Estado do Capital e o Estado democrático, resgatando a sociedade civilcomo uma
dimensão
decisória no Estado.
A
sociedade civil exerceuum
papel fundamentalna
contraposição aessa
fomta
de
Estado,numa
perspectivade
construção deum
novo
modeloque não
possuía
uma
compreensão
únicado
projetode
sociedade,mas
envolvia propostasque
oscilavam entre o socialismo e a social-democracia.Na
luta pela construçãode
hegemonia
da sociedade civil, enfrentou-seuma
sériede
dificuldades, ressaltando-seo
embate
com
o Estadodo
capital,que
escondia os interessesda
classe dominante,motor
do
desenvolvimentodo
capitalismo,em
detrimentodos
interesses das classessubaltemas.
Os
modelos
de
Estado sob os quais o Brasil foi estruturado, nesteperiodo, inicia-se pela ditadura
dos
militares (64 até 84) até a forma neoliberal(década
de
90),onde
as decisões dosrumos da nação
passam
pelo crivoda
classedominante, adiantando-se
à
sociedade civilem
decisões "pelo aIto"2.Nessas
decisões, o uso
do consenso
ativo e da coerção estão presentes, sobretudono
modelo
neoliberal,onde
apromessa da
modemidade
e da entradado
Brasil para oprimeiro
mundo
constituiu-secomo
chave
ideológicaque
justificou o projetodo
Estado mínimo.
A
complexidadeda
sociedade civil, entrecortada por interessesde
classe, favorece as investidas
das
classes dominantes para a concretizaçãode
um
consenso
ativoao
redordo
seu projeto.Esse
Estado ataca,com
estratégiascoercltivas, as organizações resistentes,
como
sindicatos,movimentos
sociaise
partidos
de
esquerda3.2Observa-se que até
mesmo
a passagem para a Nova República deu-se de forma negociada, aomelhor estilo mineiro, de modo que a sociedade civil organizada é até solicitada, mas como instância de
movimentação de massa para o rompimento com o autoritarismo.
A
própria condução do GovernoSarney, que inicialmente tinha amplos objetivos, rende-se às pressões dos defensores da
reorganização do Estado nos moldes neoliberais, embora com a retórica da "Nova República".
3 Para
exemplificar, no Governo dos militares o slogan mais conhecido que falava sobre o Brasil dizia:
"ame-o ou deixe-o". Estar contra os militares significava odiar o país. Hoje o refrão mais repetido
em
toda a imprensa como forma de ataque à oposição da sociedade civil é: "a oposição é atrasada", e porisso justifica-se até o uso da coerção violenta.
Maquiavel (1973) já dizia
que
afunção do
Príncipe eramanter
opoder
dos.Estados
acima
de
tudo,e
as elites brasileirascompreenderam
ecompreendem
muito
bem
oque
isso quer dizer: opoder
em
funçãoda
classe dominante.Às
classes subalternas resta a organização
como
estratégia paraum
embate
mais
eficaz.
Essa
lógica, altamente antidemocrática, exigesua superação
poruma
outra lógica
que
prescindede
uma
reestruturação intelectual e moral, a serconstruída
na sociedade
civil. Significafundamentar
anecessidade
da
construçãode
uma
vontade coletivaque
una
o nacionalao
popular, possibilitandoque a
escola exerça papel decisivo
na
difusãode
uma
culturade
participação ativae
democrática junto
aos demais
aparelhos privadosde hegemonia.
Este é odesafio
lançado à
sociedade
civil: construiruma
hegemonia que
una
o micro e o macro,o
nacional e o popular,
na
concretizaçãoda
democracia.Para entender melhor essas relações,
usamos
algumas
categoriasde
Gramsci",
como
ade
aparelhos privadosde
hegemonia, sociedade civil, Estado,Estado ampliado, partido político, hegemonia, crise, guerra
de
movimento, guerrade
posição, revolução passiva, democracia, escola e classe social.
A
utilizaçãodessas
categorias será feitasem
privilégio dealguma
em
especial,
mas
considerando-as,na medida de
sua importância,como
instrumentosde
análise,como
chaves
de
desvelamentodo
real,tomando-se
em
conta osignificado histórico
dessas
categorias e as peculiaridades vividas pelanação
brasileira, como, por exemplo, a
demora
em
conhecer a obra gramsciana.Apesar das
poucas
referênciasde
Gramsciao
continente americano, éde
fundamentalimportância a contribuição
da
sua teoria para acompreensão
das relações entreEstado e sociedade civils e para a continuidade
de
um
marxismo
renovado.A
metodologia deste estudo consistenuma
pesquisa documental,em
fontes4 As
obras de Gramsci entram no Brasil na década de 60 e influenciam sobretudo as ciências sociais,
sendo
um
instrumento decisivo na releitura do marxismo. Constitui-se leitura fundamental para os quesustentavam uma abordagem de corte marxista
em
épocas de expansão das teorias neoliberais.SA concentração dos esforços de Gramsci se detiveram no âmbito da sociedade civil e do Estado,
sem
minimizar a infra-estrutura que compreende os fatores econômicos da sociedade, até porque Gramsci
a entende dentro de
uma
relação dialética com a superestrutura. Marx já havia demonstrado muitobem
o significado histórico da base econômica, e Gramsci enfocou com maior determinação a sociedade
bibliográficas consagradas, teses, artigos
de
revistas e jomais, enfatizando-se asquestões delimitadas no objeto
de
estudo.Com
esta metodologia de trabalho,pretendemos
interpretar a realidade,uma
vez
que
é nela e a partir delaque
sepode
diagnosticar omovimento
realdas
classes subaltemasem
vistas da hegemonia.Gramsci, nesse sentido, foi
um
intelectual que, apesarde
bem
situadoem
sua época,não
se restringiuapenas
a seu tempo.O
resultadode
sua genialidade foi a aberturados horizontes para a
compreensão do que
viria.O
seu esforço mais intensoconcentrou-se no real enquanto síntese das múltiplas determinações.
A
metodologiaquer significar o esforço de inflexão sobre o periodo de
70
a 90,em
análise histórico-crítica, a partir
das
categorias gramscianas.As
questões
norteadoras deste estudosão as
seguintes: aconfiguração
do
Estado
neste período, os projetos políticos defendidos pela sociedade civildas
classes subaltemas, as formas
de
organizaçãoda sociedade
civilno
embate
com
o
Estado,a
correlaçãode
forçasno processo de hegemonia,
asformas
de
expressão
da sociedade
civilna
conjuntura atuale
os processos'de
reordenamento
do
Estado.Quanto aos temas que penneiam
o trabalho e a divisão dos capitulos,falamos sobre o
embate
entre a sociedade civil e o Estado e a pemwanente correlaçãode
forças, necessária para a configuraçãodo
processo hegemônico, asseguradorde
poder
do
direção ede
consenso.Na
tentativade
identificar essas relações, dividimosa dissertação
em
três capitulos.O
primeiro consisteno
recorte a partir dosanos
70,década
em
que
se viveu as conseqüênciasdo
endurecimento militar iniciadoem
64
com
a ditadura, as perseguições, mortes, e o "milagre econõmico" no estilo maisintenso
de
uma
ditadurasem
hegemonia, instaurada por intermédiode
uma
revolução passiva, enquanto a
passagem
do
domínio foi feita pela classedominante
unida
aos
militares,em
detrimentoda
participaçãoda
sociedade civil.A
virada militarfoi
acompanhada
poruma
grave crise econômica,com
altada
inflação, recuodas
exportações, baixa produção e, conseqüentemente,
um
baixo investimentode
capitalestrangeiro,
ao
ladode
fortesmovimentações
sociais, fortalecimento dos' sindicatos,organizações populares urbanas e rurais, motivadas ideologicamente por
um
pano de
fundo socialista
que
emergia no pais.No
nivel macro, havia a RevoluçãoCubana,
desafiando
ahegemonia
norte-americana, e a guerra fria entre os blocos comunista ecapitalista.
Essa
conjuntura propiciavaum
climade
mudança
no país.A
classedominante estava
preocupada
com
o veloz desenvolvimento das esquerdas' ecom
aameaça
deuma
revolução comunista.Os
sindicatos, porserem
a categoriamais
ativa, constituíram-se os alvos centrais
do
ataque da classe dominante.A
ditadura (1964-1984) foiuma
formade
capitalismo estatizadoque
destruiutoda iniciativa popular e as relações participativas entre
govemantes
egovemados
no
interior das superestruturas e das instituições, oque
caracterizouum
distanciamento entre sociedade civil e sociedade -política.
Quando
essa espéciede
dominação
prevalece sobre a direção,quando
a classe dirigente perde a própriabase
de
massa
expansiva,quando
o Estado substitui- a classecomo
motorde
desenvolvimento
econômico
social, chega-se auma
ditadurasem
hegemonia.Esta ditadura proporciona a continuidade
da
revolução "pelo alto"no
Brasil,caracterizada pelo objetivo
da
modemização
capitalista, substituindo a "revolução democrático burguesa", cujos exemplares estão na social-democracia européia. Estapassagem
detennina muitas configuraçõesdo
Estadono
nível político, econômico,social e cultural
das décadas
posteriores,na medida
em
que
o projetocapitalista éaprofundado.
A
intervenção militar,do
pontode
vista econômico, caracterizouuma
nova
relaçãodo
Estadocom
o capital intemacional,baseada
noaumento
das
taxasde
exploraçãoda
forçade
trabalho para investimento e crescimento da economia.internamente os militares resolveram o
impasse das
resistências pormeio
da
pressão,
impondo
à sociedade civil o silêncio.A
questão era estabilizar o pais afim
de
ter o aval dos países controladoresdo
capital, atraindo novos investimentos e issosó ocorreria
com
o sufocamentoda
resistência civil.Até 1973, as estratégias
dasociedade
civil seresumem
a protestosde
massa
reprimidos
com
violência,um
partidode
oposição cerceado pelo Al5 e a organizaçãodas guerrilhas.
A
sociedadenão
podia contarcom
um
partidoque
aglutinasseextensivamente
uma
discussão sobre a democracia, abrindo possibilidade parauma
guerra
de
posição.As
esquerdas encontravam-se divididas e prejudicadasem
largaescala por
uma
falsa análiseda
realidade brasileira,enquadrada
dentro dos limitesda
leitura semi-feudal trazida pelo Partido
Comunista
Brasileiro -PCB.
Somente
em
1979,
quando
o sistema sindicalpassa
porum
processo de amadurecimento,emerge
o Partido dos Trabalhadores - PT,
um
dos partidos mais representativos das relaçõesÚnica
dos
Trabalhadores -CUT,
com
o intuitode
aglutinaras
forças trabalhadorasdo país.
A
década de 70
foi profundamentemarcada
poruma
série demovimentações
civis no nivel
de
massa,passando
àdécada de
80com
uma
perspectiva.de maior
organização coletiva.
O
final dosanos 70
e iníciodos anos`80
émarcado
poruma
forma de organização
da
sociedade civil mais politizada, enquanto aglutinavamovimentos sociais, politicos, sindicais, através
de avanços
na democracia.O
objetivo era interferir
na condução da
abertura política ena
garantia dos direitosdas
classes subaltemas. Destacaram-se muitos movimentos, entre os quais, o
novo
sindicalismo, as instituições
como
a Associação Brasileirade
imprensa - ABI,Ordem
dos
Advogados do
Brasil -OAB
e a Conferência Nacionaldos
Bispos Brasileiros -CNBB,
na sua ala progressista e a União Nacionaldos
Estudantes -UNE. Essas
instituições pretendiam,
em
primeira instância, orompimento
com
oGovemo
autoritário
em
busca da
democracia.A
partir de'1973
vive-se o Estadoda
"distensão",que
caminha para aabertura, de
modo
lento e gradual.Não
foiapenas
lenta,mas
logicamentepensada
pela elite militar,
na medida
que
acertaum
acordo "pelo alto", para a devoluçãodo
govemo
aos civis.Em
contrapartida, os crimes praticados durante a ditaduranão
seriam julgados e alguns setores
do
Estado continuariam ligados às forças armadas,com
a garantiade
certos privilégios,como
altos investimentosem
forças bélicas,aposentadorias
de
"marajá" e outros .Os
Governos
dos generaisEmesto
Geisel eJoão Battista
de
Oliveira Figueiredo levam acabo
esta aliança.-_
O
segundo
capitulocompreende
o períododa
Nova
República (1984) até o"impeachment"
de
Femando
Collorde
Mello (1991).Em
1984, o Partidoda
FrenteLiberal - PFL, dissidência conservadora
da
antiga União Democrática Nacional -UDN,
articula-secom
o Partidodo Movimento
Democrático Brasileiro -PMDB,
reunindo facções
de
centro esquerda e centro direita e intitulando-secomo
oposição na disputa contra o Partido Democrático Social -PDS,
representando a direita ligadaaos militares.
A
oposiçãovence
com
a maioriados
votosdo
congresso,numa
demonstração nítida
da
abertura democrática eda
continuidade do processo politicoconservador,
com
uma
nova configuração, arregimentada agora pelos civis.Por caracterizar
apenas
reformas,sem
erradicar o processo autoritárioincrustado no Estado, por realizar-se
sem
a democratizaçãoeconômica
às classessubaltemas e por ter sido acordada na
base de
aliançacom
a elite política eintelectual, por isso
chamamos
a virada para aNova
Repúblicade
conservadora.Constituiu-se
uma
passagem
pacíficaao
poder civil,sem
perder orumo da
lógicacapitalista iniciada pelos militares,
desembocando
nosGovemos
deFemando
Collorde Mello (1989) e
Femando
HenriqueCardoso
(1994).Essa
continuidade refere-se àsuperação da ditadura
numa
construção maishegemônica de
consenso,onde
oprocesso
de condução do
Estadonão
permitiuum
rompimento
com
as estruturasde
acumulação, apesar
de
todas as formasde
resistencia ede
organizaçãoda
sociedade civil pela configuração
de novos espaços
de controle ede
desenvolvimento político
capazes
de
colocarna
pauta novas discussõesque
penneassem
toda a classe subaltema,como
as questões salariais, a necessidadede
um Govemo
democrático eque
considerasse a maioria expressaem
movimentos
pelas "Diretas Já", Constituinte, entre outras.
Sob
o prismada
organização política,a sociedade civil teve avanços, só
não
foieficaz
na
mudança
da
estrutura econômica,que
continuou favorecendo a concentraçãode
capital.A
Nova
República caracterizouuma
transição conservadora e deixou pública a sua ineficiëncia, poisnão
conseguiu ultrapassar a gestãobaseada
na tecnocracia.Persistiu na ênfase
do
primadoda
racionalidade técnica, das políticasem
francodescompasso
com
o alargamentoda
participação política pela revitalizaçãodo
movimento
sindical e pelo revigoramento da sociedade civil.Estavam
na pautado
Govemo
daNova
República questõescomo
oredirecionamento
da
concentraçãode
rendas, a democratização política eo
cumprimento
da
temática sobre a justiça social.A
unidadeao
redor destes pontosnão durou muito
em
vista das divergências entre os gruposque
dominavam
aNova
República.
A
Constituinte (1988) revela essas contradições namedida
que incorporaà sua pauta direitos trabalhistas, civis e políticos,
ao
ladoda
agenda
damodemidade
em
sua versão neoliberal.Aos
poucos, orumo da
equipegovemamental
priorizará ocombate
à inflação,em
detrimentodas
questões sociais, o nacionalismo vaicedendo
espaço
à globalização.O
discursoda
aberturaao mercado
intemacional procuratomar
obsoleta a permanêncianuma
visãode mercado
nacional ou demercado
Mello e Luiz lnácio
da
Silva -LULA.
Foi oembate de duas
posições antagônicas, o neoliberalismoem
defesado
Estadominimo
contra o Estado democrático eas
refomias sociais.
Com
a vitória deFemando
Collorde
Mello, consolida-se o pactode
Washingtons e inicia-se o império
do
plano racional,com
o objetivode
compatibilizara vida social à eficácia capitalista moderna. Para isso, foi estabelecida
uma
relaçãodireta
com
asmassas
desorganizadas, imobilizando o congresso, os partidos e ossindicatos, no intuito
da
extraçãoda
vontade políticada
sociedadeem
favordo
Estado minimo.
Femando
Collorde
Mello,com
o Planode
Estabilização, queria aconsecução de
uma
hegemonia
perfeitado
capital, reduzindo, a vida social àsua
expressão econômica.
Desse modo,
escondia a face autoritária, antiliberal eantipopular de seu
Govemo.
Da
Nova
Repúblicaao
Govemo
Femando
Collorde
Mello,houve
uma
grande
mudança
de agenda, oque
significa dizeruma
reorientaçãoda
bússolade
acordocom
a reorganização exigida pelo capital mundial. Contraditoriamente aosavanços
políticos
da
Nova
República, convivia-secom
a paradoxal piora das condiçõesde
vida da maioria
da
população ecom
o atrelamentodo
país à ideologia neoliberal.Ao
contráriodo que
se pensava, o processoda
transição não havia sido concluído.José
Samey
não
conseguiu levarao
fim
asmedidas
de controleeconômico
dos PlanosCruzado
I e ll.A
ineficiênciade
seugovemo
pemiitiuque
aclasse dominante pressionasse o pais à entrada
no
ritmo mundialdo
neoliberalismo.As
expressõesda
sociedade civilnessa
fasedemonstram
um
altoamadurecimento.
As
organizações civiscumpriram
um
papel fundamentalno
movimento
pelas "Diretas Já" (1984). Atravésde
uma
grande mobilização nacional, estiveram presente nas pressões pelanova
Constituinte e conseguiram lançarem
1989
um
candidatoque
catalisava as intençõesde
votos pormeio
deuma
propostade
democracia.Nesse
embate, o projeto neoliberal saiu vencedor, implementando o“projeto modemizador",
que
em
outras palavras significouuma
reestruturaçãodo
Estado
em
vistada
crisehegemônica
vividanessa
década
pelo capitalismo mundial esua exigência
de
manter os patamaresde
acumulação.O
discurso empresarialdo
° Acordo firmado
pelos Governos latino-americanos com os países credores, comprometendo-se a
colocar os paises no rumo do mercado internacional, abrindo as portas para as economias estrangeiras
e proporcionando
um
controle de gastos internos por meio das reformas no Estado.W
if"
reordenamento
do
Estado, jáno
processo constituinte,tomou
a forma de críticaao
Estado construído pelos militares, agora considerado
como
atraso e justificativa fortepara as reformas neoliberais.
As
novas medidas
vêm
acompanhadas
do
discursoda
"crise",que tem o
objetivo
de
cnar a "cu|turada
crise"hegemônica
para a incorporação das classes subaltemas.Esse
discursotem
o papelde
unificar todos para "resoIver' a criseda
acumulação do
capital.É
uma
formasagaz da
classe dominante tentar oconsenso
com
as classes subaltemas,uma
vezque
estasencontram
dificuldadesem
criaruma
visão
de
mundo
capaz de
interferir eficazmente nocampo
de
lutas.Sob
a égideda
crise, são tratadas questõescomo
o solapamento do projetosocialista, o papel
do
Estado na regulaçãoeconômica
e atémesmo
questõescomo
opagamento
da divida extema, oaumento
do déficit público, a fome, odesemprego
e acorrupção. Neste sentido, o discurso
da
crise foi formador de cultura politica,que
procurou negar os referenciais teóricos politicos e ideológicos
que
pemiitiram,no
caso brasileiro, até a
metade da
última década, identificar propostas e práticasdiferenciadas por parte
das
classes trabalhadorase
capitalistas acerca da situaçãosocial
e econômica do
pais.Assim
a visão liberalde
Estado se concretizano
distanciamento entre Estadoe Sociedade Civil.
A
"culturada
crise"tem
servidocomo
estratégia dos anos 80aos
90
para o reforço das politicasdo grande
capital, favorecendo o consentimento ativodas classes subaltemas e a estruturação dos
campos
de
luta, frentes consensuaise
construção
de espaços
de aliançasda
classe dominante.O
terceiro capitulo aborda adécada de 90 que compreende
a reestruturaçãoneoliberal a partir
da
entradade
Femando
HenriqueCardoso
(1994),um
Condottiereperfeito das classes dominantes, pemiitindo
que
esta amplie o quadro deconsenso
na
medida do
aprofundamentodo
discursoda
crise.O
colapsodo
socialismo,que
ajuda
na
desestruturação das ideologias anti-capitalistas e a parada cardíacado
welfare State,
que
quebra o paradigma das reformas sociaisdo
sistema capitalista,conferem
uma
ofensiva maiorda
classedominante
fortalecida pelosGovemos
Femando
Collorde
Mello eFemando
Henrique Cardoso. Este periodo mostraparceiro
do
capital.Assim
o ideário neoliberal consisteem
minar todas as formasde
resistência dos «setores
da
sociedade civil,como
objetivode
construirum
projetoconsensual pela persuasão à sua visão
de mundo.
Apesar de
considerarmosuma
continuidadedo
processoeconômico
do
capital,
temos de
admitiruma
nova cena
que
envolve as classes politicasdominantes,
na
proporção da conquista hegemônica,onde
o consenso ativoda
população lhes permite ser
não
só classe dominantemas
classe dirigente.. Dentro disso, a classe dominante quer construir
um
conformismobaseado na
fragmentação
da
vontade coletiva,que
assim inviabilizauma
ampla
unidade anti-capitalista, e
navontade
corporativa,que desune
a classe trabalhadora, principalinstrumento
de
resistênciaao
capitalismo. ‹A
sociedade civiltem
sido resistenteao consenso
ativo, tendocomo
pano
de
fundo
uma
rupturacom
a lógicado mercado
ecom
as representações societáriascentradas
no
mercado. Assim,no
lastrode
uma
transiçãosem
rupturas, odelineamento
de
tais projetos caracteriza a existênciadas
práticasde
classesno
Brasil dos
anos 80
em
direção aos 90.Essa
é a razão pela qual o projeto das classessubaltemas,
mesmo
cheio de contradições e crivadode
impasses politico-organizativos, transforma-se
em
alvoda
ofensiva burguesa,que tem
pormeta
asubstituição
das
lutas coletivas pelas lutas corporativas.Logo, a classe dominante,
com
o discursoda
crise incentiva o corporativismodas classes trabalhadoras, o
que pode
se configurarcomo
a renúncia auma
busca
de
hegemonia
anticapitalista, pois os interesses particulares e imediatostomam-se
superiores aos projetos nacionais.De
qualquermodo,
a crise do capital estáconseguindo praticar
uma
ofensiva contra a classe trabalhadora pormeio
da
reestruturação
do
mundo
do
trabalho,com
odesmonte dos mecanismos
de proteçãosocial no interior
de
uma
estratégia politicamarcada
pela historicizaçãodas
conquistas sociais, impedindo-as
de
articularem-seem
um
plano coletivo. Issotem
gerado
uma
transmutação dos movimentos,que
nosanos
80estavam
enfronhadosem
lutas coletivas, eque
agora .entram nosmovimentos
de solidariedadede
corteclassista.
De
outro lado,podemos
considerarque
a complexidade da sociedade civilinibe as classes dominantes
de
tentaremuma
saida coercitiva e transfonnista,favorecendo a apelação para o
consenso
nas decisões "pelo alto", sobretudocom
as instâncias civis ligadas
ao
projeto capitalista, resistentes aum
projetode
transformação e colaboradoras
da
reestruturaçãodo
Estado neoliberal.Os
anos
90
também
sãomarcados
pelas reformas do Estado,em
acordocom
os interessesdo
capital intemacional.São
reestruturaçõesem
funçaodo
Estadomínimo,
comprometendo
osganhos
sociais, osavanços
das classes trabalhadoras edestruição dos
espaços
públicos.A
expressão "alienaçãodo
Estado aos interessesda classe dominante" explica
com
muita justeza essa década.Constitui-se
um
desafio
para a sociedade civil administrar omomento
em
que
se vive, sobretudo
quando
a ofensiva burguesa de ideário neoliberal é diananas
privatizações,
no
discursoda
ordem, na violência contra os sem-terra, na diminuiçãode verbas para a
educação
e saúde,na
mortede
indios, nos massacres,no
desemprego
estrutural e na exclusão social.As
saídas coletivasexigem
maioresforço de recriação a partir
do que
está posto, sobretudo pela reorganizaçãodos
paradigmas politicos sociais,
econômicos
e culturais. Neste sentido, adécada
de 90
étambém
marcada
como
a fasedo
refluxo das organizações da sociedade civilde
cunho
combativoque
hegemonizavam
acena na década de
80.O
movimento
neoliberal,
ao
ladodo consenso
ativo, refomwula o Estado e dificulta a possibiãlidadede
diálogocom
as velhas expressões. "_ u _ ~
"Se
é
necessário,no
perene
fluirdos
acontecimentos,fixar conceitos,
sem
os
quais a rea/idadenão
poderiaser
compreendida, deve-se
também
- aliás,é
imprescindível - fixar
e
recordarque
rea/idadeem
movimento e
conceitoda
rea/idade,se
podem
ser
logicamente distinguidos,
devem
serconcebidos
historicamente
como
unidade inseparáveI".1.o-
BRAs|L:
Do GOLPE
MILITAR
À "ABERTURA
DEMocRÁT|cA"
1.1-
A
"revolução passiva"
no
processo da
restruturaçãodo
capitalismono
Brasil «
Essa
partedo
estudoaborda
o
conceitode
revolução passivaem
Gramsci,o seu
significadoenquanto
categoria utilizadana
leiturada
realidade italiana esua
aplicação para
compreender o
movimento do
capitalismono
Brasil, a partirdo
golpe militar.
Na
análisede
Buci-Glucksmann
(1977, p.120), o conceitode
revoluçãopassiva" foi
usado
porGramsci
em
1933,retomando
osseus
escritosdo
primeirocaderno,
quando
oselementos
essenciaisda
revolução passiva jáestavam
desenvolvidos.
Gramsci
analisouo
"Risorgimento" italiano”onde
colocaa
revolução passiva
como
o “corolário crítico necessário”à
“Introdução à Críticada
Economia
Politica”de
Marx.Como
coroláriodevem
ser entendidos os princípiosteóricos políticos próprios
de
toda fasede
transição:“o conceito
de
revolução passivadeve
ser deduzidodos
doisprincipios
fundamentais
da
ciência política: 1)Que nenhuma
formação
socialdesaparece enquanto as
forças produtivasque se
desenvolveram
nela aindadispõem de
condições paraum
ulteríormovimento
progressivo; 2)Que
asociedade não se
coloca tarefas“
A
temiinologia revolução passiva nãofoi cunhada por Gramsci
mas
por Cuoco: "Trata-se,como
é sabido, de
uma
fórmula mutuada pelo juizo dado por Cuoco sobre os acontecimentosrevolucionários italianos de 1799 e dos anos sucessivos, e
com
cuja exatidão fundamentalGramsci concorda" (Felice, 1978, p. 193).
12 Terminologia
para cujas soluções ainda
não
se
tenha criadoas
condiçõesnecessárias” (Gramsci, 1977, p. 1774).
Gramsci
advertiuque esses
princípiosnão
poderiam
serusados
de
maneira fatalista-mecanicista.
A
advertência foi posta para afastar a interpretaçãomecanicista
do
prefácio à "lntrodução à Críticada Economia
Polit¡ca"de
Marx,que
não
visavauma
teoria geralda
transição.Gramsci
levouem
conta o conceitode
revolução passiva,como
no
"Risorgimento", e lhedeu
uma
característicae
importância metodológica._
"O conceito
de
revolução passivaparece-me
exatonão
só para altália,'
mas
também
paraos
outrospaíses
que
modernizaram
o
Estado
atravésde
uma
sériede
reformase
de
guerras nacionais,sem
passar
pela revolução políticade
tipo radica/-jacobino"(Gramsci, 1977, p. 504).
‹
Não
se tratavade
considerar o conceitocomo
programa de
intervençãopolítica
das
classes trabalhadoras, pois eraconservador sob o
ponto de vistado
rompimento
com
a dialética, porengendrar apenaswreformismos
"pelo alto"._
Logo,
a
revolução passivanão
só
serviu àGramsci
ao entendimento
histórico,
como
lhedeu elementos
paracompreender
que
as revoluçõesque
passavampelo
Estado
estavam baseadas
na
forçada
coerção edominação
e,portanto,
sem
consenso. Isso reveloutambém
aforma
de
serdo
capitalismo,que
se adapta às crises
de
forma plástica,sem
perdero seu
domínio.O
estudodessa
formulação,
na
Itália, tevecomo
"pano
de
fundo"as
transformaçõesdo
capitalismo
da
década
de
30, a falênciadas
revoluções socialistasdo
Ocidente,o
Estado Fascista, estabelecendo
uma
revolução “pelo alto”após
a crisede
1929.A
categoria
da
revolução passiva reveloucomo
a burguesia construía as relaçõescom
asociedade
civil e oEstado no
estabelecimentodo
seu poder. Portanto,consistiu
no
estudodas modalidades
políticasda
superação de
um
modo
de
produção.
O
conceitode
revolução passiva foiusado
inicialmente porGramsci
para estudar
a formação do Estado
unitário italiano e depois foi estendidoao
jacobinismo
no
"Risorgimento",ou
seja, a faltade
aliança entreo
campo
e
cidade, entre a classe dirigentedo
norte eos
camponeses
do
sul”.No
nível econômico,a
revolução passiva italiana traduziu-se
na
incapacidadeda
burguesiaem
fazeruma
economia
democratizada, isto é, a revolução passiva concretizou-seno
nívelda
superestrutura'4,sem
a participaçãoda sociedade
civil.Os
conteúdos
e as estratégias políticasda
transição italiana foram alvosdo
estudo
na
revolução passivade
Gramsci
(1977, p. 2228). Elenão
se limitou aanalisar a oposição entre a "guerra
de
movimento",de
enfrentamento diretoà
revolução passiva,
mas
aprofundou o
significadode
duas
“guerrasde
posição”15:uma
representada pelas classesdominantes e
a outra pelas classes subalternas.A
busca
da
hegemonia
traduziu-sede
forma
diferente,com
conteúdos
próprios.Gramsci,
ao
referir-se às classes subalternas, previu estratégias para estaschegarem
ao
Estado, exigindouma
nova
práxis política, porquea
classedominante
já tinha a sua. Isso permite concluirque
importânciado
estudo sobreo
Estado
em
Gramsci
estátambém
na capacidade de
investigar as classesdominantes
que
nele se unificam."A construção
desse Estado
é de
forma
autônoma
e
dessimétricaque
visanovas
formas
políticas (conselhos, sindicatos ef partidos).A
formação
da hegemonia da
classe operária,preocupação
maiorde
Gramsci,
é mais
complexa, pois partede
'baixo para cima',na
formação
de
um
bloco social ativodo
qualo
partidoé o
guía" (Buei-Glucksmann,
1977, p. 126).Para Buci-Glucksmann
(1977, p.127-128), aautonomia
que
nascia a partirdos
conselhosde
fábrica foicontinuamente
ameaçada
pelos gruposque
criavamnovos
partidosquando
percebiam a
possibilidadede
perda, aexemplo
do que
13
Em
"A questão meridional', Gramsci(1987) analisa as relações entre os operários do norte e os
camponeses do sul,
com
o objetivo de estabelecer a hegemonia das classes subaltemas na ltália.A
superação do corporativismo e a criação deum
projeto global impunha-se como saída, para aclasse trabalhadora concretizar o poder de Estado democrático.
14
Gramsci diferencia a estrutura da superestrutura.
A
primeira está para as relações econômicas, enquanto a segunda diz respeito à sociedade civil e à sociedade política, na fomwação do Estado.15
Guerra de movimento e guerra de posição são duas categorias que expressam estratégias de
conquistas do Estado.
Ambas
serão retomadas adiante. _ocorreu
com
o
partido fascista.Na
Itália, outro aspecto notórioem
época de
crisefoi a coexistência
de
duas
formasde
violência punitiva: ado
Estadoburguês
e a
do
Fascismo.Os
efeitosda
crise entre1919
e 1920
também
se refletiramna
classe operária italiana,
que
demonstrou
força insuficiente para unificar todaa
classe,ao
ladode
um
partido socialista dividido, cujascosmovisões
acabavam
por dividir toda a classe.
Um
dos
motivosdo
fracassoda
luta revolucionáriatambém
devia-se asua
instabilidadehegemõnica. Gramsci
fez a análiseda
autonomização da
classe operáriaque
seexpressou na sua
organização(conselhos
de
fábrica edemocracia
de
base),ao
ladoda
análisedas
relaçõesde
forças econômicas, políticas e político-militares,
retomados
do
“18 Brumán'o”'6de
Marx.
Como
é conhecida,a
análisede
Marx
foimais apurada no
que
se refere àestrutura econômica,
sem
prejuizo para oaspecto
político, porém,em
Gramsci
este último aspecto é mais enfatizado,
tomando-se
em
contaque
elee
Marx
construíram
suas
análisesde maneira
dialética, isto é,numa
visãode
totalidadesocial.
As
análises dialéticas foram determinantes paracompreender
a revoluçãopassiva
que
ocorriaem
dois estágiosdo
modo
de produção
capitalista: “o'Risorgimento'
que
acentua
o elemento da
revolução passivanas
superestruturase
o
fascismo-americanismo,que
acentua a
revolução passivanas
relaçõesde
trabalho e
produção"
(Bucí-Glucksmann, 1977, p. 128).'
Essas
análisesajudaram
a rever aquestão
políticano
encaminhamento da
transição,
ao
ladode
uma
nova
visãodo
Estado
no
processode
revoluçãopassiva.
Na
análisedo
"Risorgimento" italiano,Gramsci
(1977, p. 937)observou
um
mistode
revoluçãoburguesa
e
compromissos
com
as velhas classesdominantes. Tratou-se
de
uma
revolução conservadora, pornão
envolveras
massas
no processo da
condução do
Estado.Gramsci
foi muito claroquanto
a
esse
tipode
revolução:"a revolução
em
que
o Estado
(coerção)é
protagonista, enão as
direções vindas
da
hegemonia
como
resultadodo
consenso,constitui-se
uma
revolução 'pelo alto', pois privilegiao
elementoda
*° "Uma
genial 'análise de conjuntura' escrita por Marx entre dezembro de 1851 e março de 1852"
dominação.
A
revolução realizada pela classeburguesa
na
concepção
do
direitoe
portantona
funçãodo
Estado, consisteespecialmente
na
vontadede
conformismo
(logo, eticidadedo
direitoe
do
Estado).As
classesdominantes precedentes
eram
essencialmente
conservadoras
no
sentidode que não
tendiama
elaborar
uma
passagem
orgânicadas
outras classesà
sua,a
ampliar a
sua
esferade
classe técnicae
ideo/ogicamente:a
concepção de
casta fechada” (Gramsci,1977, p. 937).Ao
definirsua
visãode
Estado,Gramsci
colocou-aem
termosde
hegemonia,
isto é,sociedade
política (coerção )mais sociedade
civil (consenso).Quanto mais
oEstado
incluía asociedade
civil epromovia
o consenso,mais
seriahegemônico
emenos
coercitivo, distanciando-seda
visãode Estado
stalinistada
tradição economicista-maximalista
da
ditadurado
proletariado. Posição estadiferente daquela
expressa
pela idéiade
supremacia, conceito utilizado paraexplicar os
casos
onde
havia odominio
e a direçãode
uma
determinada classesobre outra:
domínio enquanto
controle ideológico e coercitivo das classesinimigas
e
direçãoda sua
própria classe".Como
dizBuci-Glucksmann
(1977, p.132),a
visãode
Estadoampliado
gramsciano
ajudou aromper
com
a
tradição stalinista burocrática e vislumbrouna
democracia de
base,fundada
na
democracia das massas,
oespaço
de
socialização política.A
URSS,
segundo
amesma
autora, foi peculiarquando
o
Estado tornou-se partido, logo,
não
construiuhegemonia
de
classe,mas
de
um
grupo social sobre o todo,
o
que
levou auma
forma
elitistade Governo e
de
“centralismo burocrático”, privilegiando o
grupo
dirigente etendendo
a sufocaras
forças
de base que o
contrastavamw.17 "A Supremacia de
um
grupo social se manifesta de dois modos: como domínio e como direçãointelectual e moral.
Um
grupo social é dominante sobreum
grupo adversário que tende a liqüidá-loe submete-lo
com
a força armada e dirigir o grupo afim.Um
grupo social deve fazer-se dirigenteantes de conquistar o poder (essa é
uma
condição principal para a conquista do poder). Depois,quando exercita o poder e
também
se o tem fortemente nas mãos, deve continuar sendo dirigentede seu grupo" (Gramsci, 1977, p. 2010).
18
A
autora refere-se ao Estado da
URSS em
poder de Stalin, que a partir de 1926 tomou-seenrijecido pelo centralismo burocrático.