CURSO DE
GRADUAÇÃO
EM
crÊNc1As
EcoNôM1cAs
I'
`1>EscA
ARTESANAL
OUMA
ABORDAGEM
ECOLÓGICA POPULAR
_. 'J '
Monografia
submetida aoDepartamento
de CiênciasEconômicas
para obtençãode
cargahorária na disciplina
CNM
5420
-
Monografia.
Por: Roberto
Bruno
Fabiano _Orientador:
'Armando
deMelo
LisboaÁrea
de Pesquisa:Economia
EcológicaPalavras
-
chaves: 1. pesca artesanal2.
economia
ecológica V3. praia da
Armação
- FlorianópolisFlorianópolis, 21 de
Setembro
de 1998. 'UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA CATARINA
cURso
DE
GRADUAÇÃO
EM
c1ÊNc1As
EcoNóM1cAs
A
Banca
Examinadora
resolveu atribuir a nota(..ao
(à) aluno (a)RÚBGW
BRUNO
P×~\'2=^f*0
... ._ na disciplinaCNM
5420
-
Monografia,
pela apresentação deste trabalho.,usa/‹' â ~ -
oLisboa
_ A ' esidenteBanca
Examinadora:Má
Prof
\^/_MÊQHÊÕÚ
Membro
Prof. ,-Membro
H , _,\\ .À-..
I
I I
J
4
AGRADEc1MENTos
A
Armando
deMelo
Lisboa, por sua orientação, por ter compreendido. muitoantes de eu iniciar este__ trabalho quais
eram minhas
aspirações"_frente aomundo
da
economia.Aos meus
pais, por todapaciência que
tem
comigo, e porsempre
me
apoiarem-na
descoberta dosmeus
anseios de vida.
Aos
pescadores artesanaisda
praia daArmação
porme
darem
aoportunidade de apreender e conviver
junto a eles.
E
principalmente aoMar
e a toda a sua inconstância_ de ventos e marés,que
me
atraem emostram
quais osverdadeiros significados da vidaä
l ' \-i F. ~". 1, .`x.z' lr ` '¡,‹' f .' W . , I 1” .-._‹¡_' ,.\. ¢.›‹ ,. f' ..-L - Â ¬
"z
, ~.‹›^SUMÁRIO
RESUMO
... ..viCAPÍTULO
I ... ..1 1.O
Problema
... ..1 1.1. Íntrodução.. ... ..1 1.2. Objetivos ... ..4 1.2.1. Objetivo Geral ... ..4 1.2.2. Objetivo Específico ... ..4 1 .3. Metodologia ... ..5CAPITULO
II ... ..8 2. Fatores transformadores ... ..8 2.1. Histórico...._ ... ..8 2.1.1. Pesca da Baleia ... ... ... ..112.2.
Turismo
e Especulação Imobiliária ... .. 132.3.
Desenvolvimento
Capitalista eExpansão do
Consumo... ... .. 162.4.
Dominação
Cultural ... ..19CAPITULO
III...._ ... 3.O
Processo de Comercialização eo
Financiamento dos_Meios deProdução
... . .223.1. Caracterização
da
Pesca Artesanal ... ... ..223.2. Salário e
Lucro/ Acumulação
de Capital ... ..243.3. Experiências Cooperativas
em
Santa Catarina ... ..263.4.
A
Associação de Pesca daArmação
de Sant`Ana
... ..284. Utilização
do Espaço Marinho
e seus Recursos ... ..314.1. Recursos vivos
do
mar
... .; ... .. 4.2. Poluiçãonosoceanos
... ..334.3. Pesca artesanal
x
Pesca Industrial ... ..35CAPITULO"
V
... ..4l 5.Economia
Ecológica da Pesca Artesanal ... .. 5.1.O
pensamento
EcológicoEconômico
... .. V 5.2.Ecologismo
Popular ... ... .. 5.3. Pesca Altesanal e'Ecologia ... ..CAPITULO
VI..; ... .. 6. Conclusão ... ..5OBIBLIOGRAFIA
... ..53ANEXO
... . . ... ..41 ... ..41 ... ..43 ... ..47 ... ..50A
pesca artesanal se encontraem
um
“becosem
saída”.O
capitalismovêm
historicamente alterando não só as relações de produçãodo
pescadocomo também
asforma
de apropriação dos recursos marinhos. zPara tanto, estudou-se a pesca artesanal na
comunidade
deArmação,
situadano
sulda
Ilha de Santa Catarina. « 'As
frentes de expansão capitalistas severificam
atravésda
-crescente especulaçãoimobiliária,
do
turismo,do
desenvolvimento capitalista e suas implicaçõesno aumento da
demanda.
A
questão cultural surgecomo
fator marcante demudança
de costumes e deideologia
de
vida. VFaz.-se
uma
breve análise da pescada
Baleia devido acomunidade
estudada ter sidouma
antigaarmação
baleeira. Relata-se não só a pescada
Baleiano
séculoXVIII
como
também
uma
segunda fase de exploraçãoem
1957. ,Dentro
do
desdobramento internodo
processo de produção pesqueira artesanal,faz-~
se necessária a caracterização
da
pesca artesanal,bem
como
suas implicaçoesna
remuneração
dos meios e fatores de produção.As
experiências cooperativas pesqueiras realizadasem
Santa Catarina são aqui relatadascomo
frustradas, sendo feitoum
breve relato sobre a situação da associaçãodepesca
da
praia daArmação.
_-
Os
espaços marinhos são analisados biologicamente e fisicamente. Pois é a partirda análise bioÍfisica que se
compreende
os reflexosno meio marinho
das diversas fonnas de apreensãodo
pescado.A
poluição mostra sinais de degradação nos oceanos, desmistificando os marescomo
um
ambiente infinito eetemamente
renovável.A
Economia
Ecológica, estuda as relações de distribuição e acesso aos recursosnaturais.
Tem
como
meta
uma
distribuição equitativa dos recursos' naturais, não sóno
presente,mas
também
em
relação às futuras gerações.O
ecologismo popular, éuma
forma
de luta socialimpregnada
de conceitos ecológicos diretosou
não.Sendo
au manutenção.do
modo
de apreensão de pescadoartesanal, tratado
como
mais ecológico e sustentável queo
modo
empresarial-industrial. A _í
A
luta pela preservaçãodo
modo
de pesca artesanal é amesma
que
preserva abiodiversidade marinha, e portanto a preservação da cultura tradicional
da
pesca artesanal se faz diretamente ligada a preservaçãoda
naturezacomo
um
todo.A
conclusão surge decorrente das análises expressas ao longo»do
trabalho, sendo necessária aadoção
de medidas que preservem a culturado
pescador artesanal e suasformas
de
exploraçãodo
mar, pois ao se preservar estas culturas se preserva os recursos marinhos.1.
O PROBLEMA
1.1.
INTRODUÇÃO
A
Monografia
aqui apresentada surge- da insatisfaçãoem
ver cada vez mais adegradação de
modos
de vida tradicionais ocasionada pela ganância e busca incessante de lucropor nossa arrogante “civilização desenvolvida”.
Degradando
não
só comunidades históricas ericas
em
tradiçõescomo
também
a natureza, que é tratadacomo
recurso único parava indústriade transformação, não sendo realmente valorada e respeitada
como
parte integranteda
vidado
homem.
A
pesca artesanal se encontrabem
no meio
deste debate, pois possuimodos
própriosde relacionamento-, desde a produção, na qual a estrutura épeculiarpor associar os
ganhos
com
os ciclos naturais, até o saberdo
pescador, passado de geraçãoem
geração, de pai para filho.A' questão
da
tradição está relacionadatambém ao
ceme
da
própria
pesca
artesanal:o domínio do
saber-fazer edo
conhecerque
forma
o
cerneda
profissão. Esta é entendidacomo
o domínio
de
um
conjuntode
conhecimentos e técnicasque permitem
ao
pescador
se reproduzir enquanto tal. Esse controleda
arteda
pesca
se aprendecom
osmais
velhos ecom
a
experiência.Com
eles se aprendetambém
a
representação simbólicado
mundo
natural que se traduz pelo respeito às leis queregem o
mar
e seusrecursos. (Diegues, 1995, p. 35)
Hoje
ascomunidades
pesqueiras estão perdendo seus espaços nas praias para acrescente especulação imobiliária; o resultado
da
produção encontra-se totalmente nasmãos
de intermediários; a crescente depredaçãodo
ecossistema, a conseqüente escassezdo
pescadona
costa e a constante invasãodo
espaço pesqueiro artesanal pela pesca industrial, sãoexemplos
toda
uma
cultura própria destas -comunidades, gerando graves problemas sociais e gerações de descendentessem
perspectivas de vida, tanto seoptarem
por serem pescadorescomo
setomarem
orumo
do
desenvolvimento urbano, pois nos centros urbanosdo desemprego
restamapenas subempregos.
i
ç
Não
hácomo
elaboraruma
pesquisa consistentesem
a relevância ambiental,pois
o meio
ambiente encontra-se
bem
no
centro deste debate sobre os descasos e futuroda
pesca artesanal.A
natureza e oshomens
estão indissoluvelmente ligadosno
mesmo
destino.A
questão ecológica surgecomo
uma
busca pela qualidade de vida para aquelesque
vêem
a naturezacomo
algo dissociadodohomem,
mas
para o pescador artesanal, a natureza éo
seu própriohabitat, o seu
meio
de trabalho, e principalmente deonde
tira diariamenteo
seu sustento.A
degradação
do
ambiente marinho surge pela pressão- urbana, enão
pelomodo
de
vida relativamente harmônicodo
pescador artesanalcom
o mar.A
defesa dos pescadores,vem
impregnada pela defesa
da
natureza. E, são estes, os pescadores artesanais, os primeiros asentirem a degradação
do meio
ambiente, portanto os defensores diretosda
natureza.Se
elesdesaparecerem, desaparecerá junto -a -verdadeira vanguarda pela luta
do meio
ambiente marinho.O
entendimento das relações econômicas e sociais enfrentadas pelo pescador artesanal,reflexo dos relacionamentos
humanos
intemos (entre os sereshumanos)
eextemos
(com
o
meio
ambiente, e todos os seres vivos).,r.evelam a ineficácia dos padrões» de desenvolvimentoreinantes, baseados na ilusão
do
crescimentoeconômico
infinitocomo
solução tanto para osproblemas de desigualdade social,
como
para resolver os problemas ambientais e de escassezde
recursos futuros.
O
mercado não
levaem
conta as extemalidades ambientais, equando
leva,julga-se capaz de monetarizar todo o
meio
ambiente, valorando a naturezaconfonne
padrões de lucro, não garantindoque
a econornia se encaixe na ecologia.Os
obstáculos ecológicosao
crescimento econômico, esuas conseqüências ecológicas,
negados
tantopor
liberais esocial-democratas
como
pela
maioria dos marxistas, far-se-ãosentir
cada
vez mais, sendo difícil entreter ospovos
com
universal. Tanta cegueira voluntária deveria vir
acompanhada
de orelhas
de
burro. (Martínez Alier, 1998,' p. 29).O
pensamento
ecológico de Martínez Aliernega o
consenso deque
a solução se enconire via desenvolvimento econômico, apoia-sena
análise científicado
fluxo
de energia e materiais, visando a conservação da biodiversidade, respeitando antes de maisnada
o serhumano
presente e o futuro, critica omodelo econômico
de desenvolvimento sustentável,revelando a falácia
do pensamento
desenvolvimentista, pois assinalaque
não
é possívelprognosticar se haverá
ou
não crescimentoeconômico
nos quaiso
fluxo
de energia e- materiaisestá ausente. t
'
A
discussão ultrapassa os valoreseconômicos
ou
omodo
de produção, seja ele capitalistaou
socialista, e passa a ser universal, envolvendo ahumanidade
como
maisum
fator presenteno mundo,
sujeita a temperança das forças naturais eda
energia universal.A
presença dahumanidade
surgecomo
um
fator temporal dentrodo
contexto quase que atemporalda
existênciado
planeta terra. A»mudança
nas fomias de apropriação da natureza não se diferemmuito das apropriações de
um
serhumano
pelo outro-
não
falo aqui de escravidão e sim das persistentes condições sub-humanas aque
um
homem
submeteo
outro.Não
se vislumbrasolução
em
nenhuma
teoriaeconômica
pois aeconomia
está sujeita ao seu agente,que
éo
homem,
e este, enquanto lutar por questões materiais e individualistas, tratarásempre
aeconomia
como
a melhor forma de explorar a natureza eo
serhumano.
_A
luta dos pescadores artesanais,como
outros tantosmovimentos
populares, é aquianalisada
como uma
luta social-ecológica, pois ao se manifestarem contra a pesca empresarial-industrial de arrasto,
ou
ao uso intenso de barcos maiores e mais portentosos, lutam contrao
padrão de evolução que caminha a humanidade.
A
desigualdade social entre as nações eintemamente
no
Brasil, é reflexo das formas de apropriação dos recursos naturais,da
exploração e da
“economia
de rapina”, dominanteem
nosso país desde a históriada
colonização,ou
melhorchamada
da “usurpação” de recursos naturais. Neste sentido, a lutasocial dos pescadores artesanais é
uma
luta ecológica,na medida
que preserva formas maisprodutora e geradora destes, e conscientemente
ou não propõe
outros caminhos daquelesimpostos pelo mercado. _
Deve-ser aprender
com
as formas antigasde
apropriação dos recursos naturais, preservando-aš, para servirem deexemplo
sobrecomo
deve ser a apropriação e exploraçãosustentável dos recursos naturais.
Com
certezauma
nova
maneira de interação e respeito entre os homens, e destescom
a natureza, que dêmenos
valor amodelos econômicos
em
prol dosfluxos
de energiana
natureza e das relaçõeshumanas
e trate de pensar mais na felicidade eno
amor
que
cada serhumano, ou
melhor cada ser vivotem
para trocarcom
os outros.\
1.2.
OBJETIVOS
1.2.1.
OBJETIVO
GERAL
Como
objetivo. geral, este trabalho visa discutir se a preservaçãodo
modo
artesanal deapropriação dos recursos marinhos se faz de maneira mais ecológica e sustentável
que
a pescaempresarial-industrial.
Busca
aqui demostrar se a luta pela sobrevivênciado
pescador artesanal é amesma
lutaque
preserva omar
e a biodiversidade marinha,devendo
assim ser tratadacomo
uma
forma
deEcologismo
Popular.1.2.2.
OBJETIVO
ESPECÍFICO
Como
objetivos específicos, visa desnudar a relação ecológica existente entre Omodo
de vida
do
pescador artesanal e omar
e seus recursos marinhos. Trabalhando as questõesdo
turismo,do
desenvolvimento urbano, da crescentedemanda
pelo pescado e da degradaçãoambiental dos ecossistemas litorâneos.
O
confrontocom
a pesca empresarial-industrial recebe destaque, por serem estes os doismodos
deprodução
e apropriaçãodo
pescado. Pretende-setambém
tratar a questão ecológica,como
fi'utodo
modelo
de desenvolvimento. E, tentahomens. Para tanto estudou-se a
comunidade
pesqueira deArmação
de Sant'Ana, localizadano
sul da Ilha de Santa Catarina, cidade de Florianópolis.
'
1.3.
METODOLOGIA
Inicialmente foi feito
um
levantamento- bibliográfico de autores.que
trataramdo
assuntopesca artesanal e desenvolvimento,
em
fontes primárias e secundárias,bem como
de autoresque abordam
aEconomia
Ecológica e oEcologismo
Popular. Para atingir os objetivosdo
trabalho optou-se pela observação-participante,no
convívio diáriocom
os pescadoresna
comunidade, e saídas
em
baleeiras para a pesca diária, por buscar desde o* início novas -formasde obtenção de conhecimento que ultrapassem . as massificantes entrevistas e perguntas
acadêmicas (logo de início se revelou a desilusão
que
os pescadoresmostram
perante arealização de pesquisas e questionários, acadêmicos
ou
não; que via de regra nãoretomam
nada
para a comunidade) . Foiuma
inserçãono meio
pesquisadomenos
estruturadano
planoformal,
conforme
sugere Torrensfi Pna
medida
em
que
seprocura
viver juntocom
os observados compartilhandoo
seumodo
de
vida,a
sua cultura eo
seu cotidiano, deve-se conversarao
invés de entrevistar, conviverno
lugar de visitar, ver, observar, e ouvirem
vezde
gravar ou
fazer anotações, aceitaro
silêncio e aprendera
escutar
em
vez dea
todomomento
fazer perguntas. Trata-se, pois, deuma
pesquisaem
que,para
se obterum
melhor
relacionamento
com
a
comunidade ou o grupo
estudado,adquirindo
confiançade
sua
parte, é importante secundarizaro
papel
dos questionários, dos gravadores e, inclusive,dos
i observação
não
éformalmente
estruturada. (Torrens, 1984, pg.11).
Talvez a melhor parte
do
trabalho, a pesquisa de observação-participante visou viver todas as etapasda
pesca na comunidade, sendo, para o autoruma
extensãoda
sua própria vidapor conter elementos de 'relacionamento único e pertinente àqueles
que
vivem
e
revivemdo
mar.As
saidasem
baleeiras para a pesca se iniciavam às cinco horas damanhã
com
o encontro na praia, os últimos preparos paraquem
vai passaro
dia inteirono
mar, e conversas e devaneios sobre quais seriam os locais de pescaria neste dia.Todos
aqueles que estãona
praiaajudam
a descer a lancha para a água, independente de ser esta a sua lancha de pescaou
deum
companheiro pescador. Vive-se então a união-em
proldo
trabalho comunitário,onde
um
depende
do
outro para efetivar a sua produção.Barco
na água, segue-seem
direção ao altomar
porumas
duas horas, enquantoum
companheiro -o mestre- está ao leme, outro,o camarada
cozinheiro já preparaum
bom
caféda
manhã, e nós três
ou
quatro, cochilamos,acordamos
para vero
sol desgrudarno
horizonte, ejogamos
conversa foranuma
típica conversade
pescador. Jogar a rede de caceiona água
levauma
meia
hora, pois suas quatrocentas braçastem que
deslizar perfeitas sobre o costadodo
barco para então correrem para a água.
Muita
conversa embalao
chacoalhar das ondulações,de
onde
saíram grande parte deste trabalho.Após
outros cochilos,o
peixe deita sobre a panelado
cozinheiro, e vejo seis famintosolhos (contando
com
o meu), saborearem omesmo
e sempre inédito pescado. Inícioda
tarde, já é .hora de recolher a rede, segue-se então duas horas de fila indiana sobreo
barco,puxando
cuidadosamente a rede para cima para
não
rasgá-la, etambém
para não perdernenhum
peixeque
possa estarmeio
preso à rede.É
muito dificil permanecerem
pé no
barcoque não
para debalançar,
sempre
com
asmãos
ocupadasna puxada
-de redeou no
trabalho de desmalharo
peixe. Ocorresempre
um
revezamento destasfimções
durante as duas horasde
puxada de
rede.Oras o caceio trazia
uma
boa
quantidade 'de peixe, unscem
quilos nos alegravam diferente,outras vezes a rede subia
da
água praticamentecomo
tinha descido, anão
ser pelos plásticos epescadores
que
na praia esperavam para ajudar napuxada da
lancha para cima da areia, e paraouvir e falar sobre a pesca neste dia. eat”-wa
Muitos
dias se seguiram neste cotidiano,que
de cotidianonão
tinhanada
pois a cadanovo
dia,um
novo
mar
se apresentava,com
novas ondulações,novo
ventomas
semprecom
a figurado
velho e solidário pescador artesanal.Após
esta primeira etapa de pesquisa de observação-participante, já possuindoum
bom
relacionamento
com
acomunidade
estudada, elaborou-seuma
entrevistacom
o
“seu Aldo”,um
senhor pescador
que
muito teve a contribuir neste trabalho. Optou-se pelo seguimentoda
pesquisa ao se-somar
a primeira etapa de observação-participantecom
uma
segunda etapa dedepoimento único de
uma
pessoa tradicional da comunidade, vivida e extremamante lúcida sobre os problemasdo
pescador artesanal.Em
seguida foi feita pesquisaem
órgãos oficiais, para a coleta de dados quepudessem
ter relação
com
a realidadeda
vidado
pescador artesanal.Mas
tal pesquisa na busca dedados
oficiais se mostrou totalmente debilitada pois grande parteda
produçãodo
pescador artesanal,figura
como
sendo industrial devido ao fato das empresas pesqueirasque
compram
o
pescadodo
pescador artesanal serem na verdade grandes empresas capitalistas de pesca.`
Paralelamente, a contínua pesquisa bibliográfica, já agora centrada
em
alguns autores (Diegues, 1983, 1995, Martínez Alier, 1998, Teixeira&
Teixeira, 1986, Lago, 1983, 1996).A
conclusão surge da análise da bibliografia e dos dados vividos e coletados, reflexo _fielda
realidade vivida durante parte
do tempo
de estudo junto àcomunidade
e ao dia a diado
pescador artesanal. _
Tempo
este curto,sem
dúvida,mas
repleto de aprendizado e2.
FATORES
TRANSFORMADORES
2.1.
HISTÓRICO
A
históriada
colonização da Ilha de Santa Catarina inicia-seno
século XVII,com
a instalação de grupos vicentistas.A
coroa portuguesa fez concessões de terrasna
ilha,com
o
intuito de
povoar
com
moradores pennanentes, para garantir sua posse.Grandes
porções deterras para
poucos
proprietários, seguindo-se então omodelo
adotadono
restoda
Colônia, delatifúndio primário exportador.
Mas
a verdade éque
os grandes empreendimentos agrícolasem
nenhum momento
chegaram
a se instalar aquina
Ilha de Santa Catarina.Embora
as terras concedidasaos
vicentistas, primeirospovoadores
da
ilha (após os índios Carijós, vitimados pelas-bandeiras
predadoras
de-escravos) ,tenham
seguidoo modelo
da
.grande propriedade,por
variadas causas, entre elasa
escassez'de
capital dos donatáríos e as invasões espanholas,aqui
nunca
se implantoua
grande
exploração, e sima pequena
propriedade, voltada
para
a
produção de
alimentospara
a
população
local. (Lago, 1983).Célia Silva
em
um
excelente trabalho entituladoGanchos:
ascensão e decadênciada
pequena
produção mercantil pesqueira (1992), contesta a tese de queem
nenhum
momento
se instalou a grande exploraçãona
Ilha de Santa Catarina.Afinna
simque
houve
a fase da grandeexploração,
mas
não a agrícola e sim a exploração da pesca da baleia nos moldesda
grande exploração colonial capitalista.Contudo,
a formação
socialdo
litoral catarinenseainda
se apresentoucom
especificidades maiores. Pode-secomeçar
a
.detecta-las
já no
processode ocupação
da
área meridionalda
colônia, pois nela
a
expansão
colonizadora fazia' partede
um
projeto visandonão
sóao povoamento do
território,como
também
à
instalaçãode
bases político*-militares Uortiƒicações),além
do
estabelecimentode
-umapequena
produção
mercantilde
açorianos e madeirenses,
ao
ladode
uma
grande
produção
manufatureira (armações), associada
à
intermediação comercialportuguesa. Este processo manufatureiro tinha
por
objetivoproduzir derivados ida baleia, principalmente
o
óleo destinadoao
mercado mundial
e,para
tanto, valia-se deuma
combinação
quanto
à
forçade
trabalho:mão
deobra
escravacom
o
trabalhode
pequenos
produtores mercantis. (Silva, 1992, p. 24)No
século XVIII,tem
início a colonização açorianana
Ilha de Santa Catarina,onde
encontrou excelentes locais para o desenvolvimento das atividades agrícolas e pesqueiras.
O
povoamento
açoriano trouxe para a Ilha de Santa Catarinauma
populaçãoformada
por casais e seus filhos e, particularmente, mulheres jovens.A
perspectivada
coroa portuguesa era a deestabelecer
na
região sulda
Colôniauma
população depequenos
produtores rurais.O
objetivo era o de assegurar o domínio dos limites e a produção de alimentos a baixos custos para a tropa sediada na região..Além
de se constituir a população masculinaem
reserva de elementos para amesma
tropa.A
cessão depequenos
lotes de terra aos migrantes trazidos das Ilhas Portuguesasconfirmou
a instalação dapequena
propriedade privada, trabalhadacom mão
de obra familiar.Neste início de povoamento, a agricultura e a criação de animais
sempre
ocuparam o
primeiro planocomo
base para a subsistência da família.A
pesca ainda tinhaum
papel secundáriono
dia a dia das pequenas propriedades litorâneas, pois o suprimentode
suas necessidades baseava-se principalmenteno
cultivo da terra. Outra fonte de alimentação e sustento foi bastante explorada, trata-sedo
rico sistema natural- terra emar
-,onde
haviaabundância e facilidade de coleta de
uma
série de alimentos, taiscomo:
os frutos silvestres, oA
grande
maioria das localidadesno
interiorda
ilhadedicava seu
tempo
quaseque
exclusivamenteà
agriculturade
subsistência, tendoa
pesca,que
era abundante,como
atividade secundária. (...)a
pesca
erauma
atividade de inverno, poisnos
meses de
setembroa
abril os lavradores estavam dedicadostotalmente às tarefas agrícolas, só indo
ao
mar
pelamanhã
ou
tardeou
em
outros lancesde
redeou pesca de
linha. (Fantin,1990, p. 14).
Nos
séculosXVIII
eXIX
a agricultura és a preocupaçãoeconômica
fundamental, apesca associada a agncultura
tem
um
caráter acessóriona
econornia.Todos
os pescadoreseram
pescadores e agricultores ,por exemplo,um
pai naqueletempo
l
tem muita família, muita família, muitos filhos, então uns ƒilhos
iam
prá
pesca
e outrosiam
prá
lavoura. (..)A
época
da
tainha elesvinham
aquiprá
pesca,prá
praiada
Armação,
esse pessoalque
trabalhavana
agricultura,_ que trabalhava
pro
sustento deles, aíno
invernoeles
vinham
pra
tainha ),Nós
dificilmentecompravamo,
eratudo produzido,
a
epesca
eramais
fraca, tinha muito peixemais
era
mais
fraca,porque além
disso,como
não
tinha muitocomércio,
o
comércio eramais
pouco
do
peixe, (Ç) aqui tinha terrapra
planta bastante, hojeo pescador
precisapesca
mais,ganhá
dinheiropra
pode
come, antes não,dava
pro
gasto né...(Anexo)
H
I
A
partir da segundametade do
séculoXIX
observa-seuma
diversificação dasatividades tradicionais e a pesca
começa
a assumiruma
importância maior pelas perspectivas desubsistência, quer a sazonal, destinada à comercialização, passou a organizar a vida das
comunidades
litorâneas.` V
No
processo de transformação ocorrenão
só a decadênciada
agricultura familiar,mas
também,
a divisão sazonal e sexual 'do trabalho.A
pesca, além deuma
atividade sazonal éuma
atividademarcadamente
masculina.Até
meados
deste século, foi a articulação entre a agricultura e a pescaque
garantiram asubsistência dos pescadores artesanais.
O
aumento do
turismo, e a conseqüente especulaçãoimobiliária
provocam
forte pressão sobre as áreas de lavoura,tomando
escassas as áreascultiváveis. Concomitantemente, há o desenvolvimento dos transportes e
armazenamento
edistribuição
do
pescado.Foram
esses dois fatores, principalmente, que levaram a pescaartesanal para o primeiro plano de importância dentro
do
sustento da família.O
peixe, de produtocomplementar
à roça, na subsistência, passou a sero
produtoda produção do
pescador, direcionado não mais para a subsistência,mas
sim para a venda, para a partirdo
dinheiro obtido
com
a venda, poder entãocomprar
os alimentos de sustento.Dentro
da estrutura produtiva familiar, ohomem-pescador
passa a ter vital importância poisnão
vem
mais da lavoura a alimentação, e simda
produção da pesca artesanal.A
família passa a depender deum
único produto, e o pescador a ser o responsável pelo sustento de toda a família. (Teixeira&
Teixeira, 1986).`
2.1.1.
PESCA
DA
BALEIA
Durante o século XVIII,
com
a pesca da baleia, se dá a exploração da pescacom
finscomerciais.
Com
o
estabelecimento de Armações,que
utilizandomão
de obra escrava etambém
não
escrava, de colonos madeirenses e açorianos, pescava e transformava a baleia.A
atividade baleeira representouuma
forte relaçãoda
província barriga-verdecom
os grandes capitais portugueses.foram
pescadas, conta-nosLucas
Boiteux.A
lembrança de que
esta atividade se concentra em, doismeses
do
ano, revelasua
escala e intensidade.A
pesca
da
baleia se estabeleceucomo
uma
grande produção
manufatureiro-escravista que, associadaà
pequena produção
mercantil, se articulava aos interessesda
acumulação
primitivade
capitalna
Europa. Esta associaçãopossibilitou
que
algunspequenos
produtores constituíssemuma
classe senhorial local.O
ciclo baleeiro, entretanto, teve breve duração, tendo entradoem
colapsono
primeiro quarteldo
século
JHX
(Cecca, 1997, p. 198).Pescar baleias
no
séculoXVIII
não eranem
um
pouco
parecidocom
a pesca de baleiaque uns
poucos
países ainda praticam: os pescadoresque
entravam nos lanchões ancoradosjunto à praia não tinham a
menor
idéia dequando
- e se-
voltariam a terra. Antes de tudo ospescadores tinham de possuir noções práticas
de
meteorologia e- mar.Os
pescadores,um
arpoador,
um
timoneiro e seis remeiros ao encontraremcom
a baleia, tentavam atingi-lacom
arpões repetindo golpes até
o
animal perder quantidadede
sangue suficiente para ficarenfraquecido. Depois de capturar a baleia, os trabalhadores voltavam à terra
com
o
animalamarrado à embarcação.
A
partir daío
trabalho dos escravos consistiaem
dividir e esquartejar a baleiaem
largas tiras de mais decem
quilos,que
após serem picadas,eram
lançadasem
caldeiras para serem fundidas.Começava
entãoo
processo de fabricaçãodo
óleono
engenho.No
Brasil,onde não
havia óleo mineral, iluminou-secom
óleo de baleia as cidades,foram
feitasconstruções, usou-se o “charque” para alimentar os escravos, etc. (Diário Catarinense,
28
deMarço
de 1998)A
comunidade da
Armação também
passou porum
novo
ciclo da pesca da Baleia porvolta
do
ano de 1957, sob o incentivo da iniciativa privada,que
rendeu poucas capturas e logofoi proibida pelo governo.
Conforme
conta seu Aldo, antigo morador:A
primeira, feita pelos escravos, (...) elesarpoavam
a
Q. Ê:que tinha
a
senzalados
negros, alí erao
quartel deles, e alí éque
trabalhavama
calde1`ra,(...) dizemmeus
antepassadosque
elesmatavam
uma
basede
100,200
Baleiaspor
ano. (...) Agora,I depois
de acabá
a
pesca
da
Baleia, essedono
da
Pioneira, eleinventôƒazê
a
pesca
da
Baleia,(..) isso foiem
57, (..)mataram
cinco nessa época, eu até fuina
lancha embarcado.Essa
éa
segunda pesca
da
Baleia,mas
aí veiouma
leique
não
sepodia
mata
mais
no
Brasil, elepesco
uns três anos, elecompro
uma
ematô
cinco... (Anexo)2.2.
TURISMO
_
EsI>EcULAÇÃo IMOBILIÁRIA
Partindo da visualização de
como
se organizava espacialmente a comunidade, a lavoura e a pescana
localidade, passa-se ao detalhamento das consecutivas transformações sociais eeconômicas e seus reflexos
na
organização espacial,mudando
não
só a configuração espacial,como
também
os relacionamentosna
produção e reproduçãoda
pesca.A
comunidade
deArmação,
assimcomo
as demais localidades litorâneas de Desterro, se estmturoucom
base na lavoura,em
largas faixas de terra,onde
os imigrantesque
aqui se instalaram, cultivavam a roça e criavam animais.A
pescada
baleia teve vital .importânciana
estruturação dacomunidade
deArmação,
pois ali seiniciou a antigaArmação
da Lagoinhaem
1772, conforme Célia
Maria
e Silva (1992).Com
baleeiras próprias para a capturado mamífero
que
era então esquartejado e transportado atéenormes
tanques de resguardo de óleo,que
hojeencontram-se soterrados junto a praia sob restaurantes e casas de veraneio.
\
Surge então a figura, ainda incipiente,
do
especulador imobiliário, sujeitoque
se introduz nacomunidade
amigavelmente,ou
simplesmente falsificadocumentos de
posse, para, a partir disso, obter o título de compra.Tudo
ocorria dentro da “legalidade burocrática”,onde
era preciso entrarcom
registrono
cartório de imóveis, juntocom
a publicaçãono
Diário Oficial, aguardar90
dias; e não aparecendoninguém
reclamando direitos sobre a terra,o
grileiro burocrata rapidamente obtinha
o
título decompra ou
a escritura. Outros especuladoresque
se introduziam amigavelmentena
comunidade, tinham por intuito acompra
das terras,que
eram
vendidas a preços irrisórios, para aguardar posterior valorização e venda, quasesempre
na forrna de loteamentos.
Os
habitantes dacomunidade não podiam
imaginar a constante valorização,nem
a construção de estradas melhores,que
iriam facilitar o acesso e aumentaro
valor das terras.A
terra,para
essascomunidades
não
tinhaum
caráter especulativo, ela representava efetivamentea
possibilidadede
subsistência,o que
infelizmentesua perda
para o
capital imobiliário inviabilízou,forçando
esses produtoresa
buscarem
outrasformas
de subsistência,onde
aparece, então,a
pesca
artesanalcomo
alternativa concreta,porém
limitada, devido àssuas particularidades . (Teixeira
&
Teixeira, 1986, p. 68) .A
mais importante transformação vivenciada por lavradores foi a perda das terras.Quer
por venda, quer porque não tinham registro legal de suas propriedades, os lavradores e
pescadores
foram
perdendo suas terras.Não
só aquelasem
que
plantavam,mas
aquelasem
que
residiam, etambém
os ranchosna
praia usados para guardaro
barco e apetrechos de pesca.O
acesso aomar
setoma
sempre mais dificil, sendoum
importante fator de expulsão dos pescadores artesanais.O
turismo,componente
importanteno
processo de transformação, cria algumasoportunidades de assalariamento, utilizando a força de trabalho local
em
atividadesque não
requeiram maior qualificação.
Uma
parte destas ocupações és sazonal e são utilizadascomo
altemativas de sobrevivência.
As
pressões sócio-econômicas levam auma
rápida desarticulação das unidades domésticas de produção e pressionamno
sentido deque
os lavradores epescadores ingressem
no mercado
de trabalho, o que significa nos níveis mais baixos deassalariamento. e
Tem-se
então, apassagem
deuma
comunidade
centradana
agricultura,que
tinhana
centrada na pesca,
ficando
então a atividade agrícolacomplementar
à .atividade pesqueira.O
turismo, continuando semprenum
crescente, a especulação imobiliária só vê aumentar osvalores de comercialização. Agora, o pescador,
que
tendo praticamenteabandonado
a lavourapara se dedicar exclusivamente à pesca,
vê
esta pressão imobiliária avançando sobre os seusranchos de barcos na beira
da
areia, local essencial para se ter o acesso aomar
e a possibilidadepara guardar seus apetrechos de pesca e efetuar reparos na embarcação.
O
homem
urbanotem
cada vez mais “invadido” os espaços litorâneosem
busca
dequalidade de vida e de lazer nas férias.
O
contínuoaumento da
especulação imobiliária edo
turismo junto as praias traz conseqüências não só nos espaços terrestres litorâneos,mas
também
dentro da águado
mar.O
turista,ou
mesmo
osnovos moradores
nas praias advindos de centros urbanosem
busca de qualidade de vida trazem consigo hábitos de convívio
que
sechocam
diretamentecom
o
processo de produçãoda
pesca artesanal.Ocupam
aágua
para a prática de esportes náuticos, atrapalhando o pescador artesanal, espantando os peixes junto as praias e vez por outradanificando as redes fundeadas próximas a areia.
É
no
verãoque
seagravam
os conflitos devido a presença dos Jet Skis, lanchas depasseio e pessoas
nadando
e mergulhando. Inúmeros pescadoresreclamam da
falta de respeitodos turistas para
com
as redes, pois diversas vezes estas são rasgadas pelo hélice dealguma
lancha de passeio.O
Jet Ski, alémdo
barulho infemal produzido, imitando os pescadoresque
estão na areia consertando suas redes, provocatambém
o
barulho dentroda
água, impossibilitando o aparecimento de qualquer cardume.A
cada verão os pescadores se encontram mais complacentescom
os turistas, poisdevido a escassez crescente
do
pescado,vêem
no
fluxo
turístico de verão a possibilidade deganharem algum
dinheiro extra,`com avenda
de peixe direta parao
turista ecom
os inúmerosempregos
esporádicos quesurgem
nessa temporada.Hoje
em
dia, na praia daArmação,
duranteo
verão, os pescadores se organizam para levar turistas para a Ilhado
Campeche
(pólode atração turística), situada a 10 rninutos de barco da praia.
A
organizaçãotem
porfim
aumentar ofluxo
desta linha de turismo e renda, ampliando a participação dos pescadoresno
turismo, e evitando conflitos intemosno
transporte por excesso de barcos, o que levaria auma
depreciação
do
serviço, concorrência de preços e conseqüentes desavenças entre ospescadores.
i
Mas
não
é sóno
verão que os pescadoresvêem
sua produção atrapalhada pelosnovos
moradores. Durante o ano todo
ocorrem
casos de conflitos entre pescadores e surfistas.O
surfistaocupa
o espaço marítimoque
vai desde a areia até a linha da arrebentação (localonde
quebram
as ondas), espantando os cardumesque
por aí estiverem, e impedindo a aproximação dos barcos de pesca junto a arrebentação. Durante osmeses
deMaio
a Julho, a maioria daspraias de Florianópolis
fica
“ fechada” para os esportes náuticos, devido a esta ser aépoca
da
safrada
Tainha, omesmo
ocorrecom
a praiada Armação.
Mas
mesmo
nestaépoca
severificam conflitos, devido ao desrespeito a lei, desrespeitando na prática a safra da tainha e
o
pescador artesanal. 1 »
sim todo
ano também
tem atritocom
os surfista, elestem
o ano
todoprá
brinca, só que aquina
praiada
Armação
tem'
um
limitepra
suićnos
meses
demaio
e junho, sóque
elesnão
respeitam, elesvem
aquina
barraaonde
ospescador
pescam a
tainha de tarrafae
uma
prancha
daquelas corridavem
no
mar
passandoiencostadono
cardume
de peixe, eo
peixe vai semandá,
sai correndo, aívem
o
atrito,todo ano
dá
essa« confusão. (Anexo)
2.3.
DESENVOLVINIENTO
CAPITALISTA E
EXPANSÃO
DO CONSUMO
O
processo produtivoda
pesca artesanalem
Santa Catarina sofreu, ao longo dosúltimos dois séculos e meio,
uma
transformação, radical. Inicialmente, quasenão
havia diferenças entre os integrantes dos grupos de pesca,mas
com
o passardo
tempo, àmedida que
o desenvolvimento das formas de
produção
e concentração de recursos financeirosforam
se1
desenvolvendo, os pescadores
foram
progressivamente especializando-seem
suas tarefas e subordinando-se àquelesque
detinham os instrumentos de obtençãodo
pescado.A
tal pontoque
hoje a pesca encontra-se estrangulada e aesmagadora
maioria dos filhos de pescadores jánão
segue a profissão dos pais.Mas
busca nas atividades urbanasum
meio
mais seguro e constante de sobrevivência. VDiversos
foram
os fatores que impulsionaram aprodução
pesqueira de encontro aomodo
de desenvolvimento capitalista.A
melhoria dos meios de transportes facilitaram a comercializaçãodo
pescado nos centros urbanos, a utilizaçãodo
gelo 'permitiuuma
permanência maior
no
mar
bem como
a ofertado
pescado fresco nosmercados
urbanos.O
aparecimento dos barcos motorizados, junto
com
as inovações tecnológicas introduzidas pela ecossonda, radar, sonar, etc, vieram a alterar as relações de produção não só na pescaartesanal,
mas
em
todaforma
de apreensãodo
pescado.É
no
surgimento deuma
nova
categoria de pesca, a pesca industrial, que se vislumbrao
reflexo ao desenvolvimento capitalistana produção pesqueira.
A
introdução de relações sociaisde
produção
capitalistanafpesca se
dá
com
a
separação efetivado
pescador
e osmeios
de
produção
epela
introduçãoda máquina a
bordo. Efetivamente, nos grandes arrastões modernos,a
rede é lançadae recolhida mecanicamente, sendo
a
operação
comandada
a
partir de
um
painelde
controleno
convés.Da
mesma
forma,a
posiçãoda
rede durante o- arrastopode
ser corrigidaa
partirdo
painel de controle,
sem
necessitara
intervenção doshomens do
convés.
As
próprias redes são tão grandes epesadas que
dificilmentepoderiam
sermanejadas
diretamente pelospescadores.
A
introdução desses equipamentos se reƒlete diretamentena
composição
da
própria tripulaçãoonde o
número
de
maquinistas tende
a
aumentar.Um
grande
arrastãode
pesca
oceânica,por
exemplo,além
do
maquinista-chefeemprega mais
três outros maquinistas,
além de
técnicos de refrigeração, técnicosde
radiocomunicação, etc.além
disso,na medida
em
que o pescado
é beneficiadoa
bordo, oshomens do
convéspassam a
teruma
atividade industrial tão importantequanto
a
'
da
própria captura.Dessa
maneira, av estrutura altamentecomplexa de
um
barco pesqueiromoderno
fazcom
que
ele seaproxime
de qualquer unidade industrialem
outros setores,onde
as tarefas se
tornam cada
vezmais
especializadas e impostas pelo ritmodas
máquinas.O
recolherda
redenão
émais
ditadopela
cadênciado
braçohumano,
e, sim, pelonúmero
de
rotaçõesdo
guincho...o
ritmoda
filetagema
bordo
não
émais
impostopela
habilidadedo
pescador
em
manejar,a
faca,mas
pela
máquinafiletadora. (Diegues, 1983, p. 73)
A
demanda
peloconsumo
de pescado cresce a cada ano, pressionada pelos centrosurbanos.
A
produção pesqueira deixa de tercomo
objetivo a obtenção dosmeios
desubsistência, e passa a se
tomar
mercadoria.Além
da
pressão imobiliária sobre os terrenos delavoura, foi o
mercado
que, requerendo sempre maiores quantidades de pescado, atraíao
pescador para a pesca, pois possibilitava
retomos
muito mais rápidos.do
que
a agricultura.Ou
seja, deum
lado a pressão imobiliária, e de outro ademanda
crescente, transformando osmodos
de
relação produtiva dentroda
comunidade. Inviabilizada a atividade agrícola, o pescador se vê pela dependênciacom
omercado
urbano, sendo obrigado a consumir produtosindustrializados, substitutos da
pequena
produção caseira alimentar e de artesanato.Só
que
para se obter mercadorias industrializadas, se consumir o produto urbano, é necessária a posse de dinheiro para a troca. Então, é justamente
no aumento
dademanda
pelo pescado, a possibilidade de obtenção de dinheiro para acompra
de produtos urbanos.O
dinheiro apenaspassa
momentaneamente
pelasmãos
dos pescadores paranovamente
retomar à cidade.Temos
então fechado o círculo de dependência deconsumo
do
pescador,que
muda
a sua lógicade
produção (de subsistência) e passa a assumir a lógica
do
modo
capitalista de produção, baseadoO
capitalismo incorporanovos
espaços mediantenovos
meios de comunicação paraextrair os recursos naturais; a produção
no
espaço incorporado já não é regidasegundo
osvalores
nem
segundo ostempos
de reprodução da natureza.O
antagonismo
entreum
tempo
econômico,que
devemarchar segundo o
rápido ritmo imposto pela circulaçãodo
capital ea
taxa de juros, eo tempo
biológico, que transcorre'conforme
o
ritmoda
natureza (para produzirmogno, ou
sardinha,ou
para
regenerar superfícies contaminadas,ou
para
produzir petróleo), expressa-se
na
destruiçãoda
natureza edas
culturas quevaloram de
outramaneira
os recursos naturais.Ao
colocarem
valornovos
espaços, modificanios ostempos de
produção, e
o
tempo
econômico-crematístico triunfa sobreo
tempo
ecológico. Esta vitória, está claro, éapenas
aparente. (Martínez Alier, 1998, p. 248)2.4.
DoM1NAÇÃo~
CULTURAL
Cada
indivíduo possui sua própria identidade, estaque
lhe veiofiuto do
localonde
nasceu e viveu, de ser filho de únicos pais, e de
todaa
históriado
dia a dia de sua vida.Assim
como
falamos de identidade individual,podemos
falar daidentidade social, que nada mais édo
que a somatória, o grupo, a
comunidade
que se identificanum
mesmo modo
de vida,com
seus valores típicos e característicos.Quanto
mais estreitas as ligações entre as pessoas,menos
complexa
a sociedade, mais visível a existência deuma
única identidade cultural.Na
comunidade
pesqueira estes valores sedemonstram
pela relaçãodo
pescadorcom
o
mar,na
relaçãocom
o
vento, as marés a lua,.... gerandouma
“cultura marítima”, constituída, “pela prática dos pescadoresnum
ambientemarcado
pelo perigo, risco, mobilidade emudanças
físicas” . (Diegues, 1995, p. 30) .O
homem
urbano, o turista, chegaimpondo
seus valores,que
se baseiamno
individualismo,na
propriedade privada de todos os bens e dos meios deprodução
eno
extremo consumismo.Na
valorização únicado
seumodo
de vida, eo
repúdio irônico aomodo
tradicional de- vida pesqueira.
O
desenvolvimento traz valoresque impregnam
a vidada
comunidade,
mudando
seus costumes atravésda
imposição amigável. Se hoje se acha irônicoo
fato de os antigos índios guaranis se deslumbrarem com. presentescomo
o
espelho,que
diferençahá
no
consumo
televisivo imposto pelo desenvolvimento atual,mudando
os costumes tradicionais, eimpondo
culturas e padrões deconsumo
totalmente fictícios, fruto de escritóriosde publicidade e de estúdios de televisão.
u
(..)
o
amigo,o que mais
mudô
as cultura são os festejoque tinha,
por
exemplo o
boide
mamão,
o
terno de reis,mudô, o
turista
mudô
muito, principalmentea gauchada
mudou
muito,porque nós tamo
deixandoa
nossa culturade
Santa Catarina,prá
usáa
culturados
outro, tá desaparecendotudo' (..) éuma
tradição que ta se acabando. (..) é tanto sexo, tanta violência (..) pelo
amor
de deus, então isso aí,cada
veiza
televisão tamostrando
mais.Bota
violência nisso, (..) hoje tá tudomudado,
a
televisão tdacabando
com
a
cultura, evão
buscá outracultura, de outros tipo né, coisa que
não
é nossa,o qué que
a
gente vai fazê. (Anexo)O
choque
culturalfica
evidentequando o
pescadorvem
ao centroda
cidade e se defrontacom
uma
realidade distante de seu dia a dia (Anexo).Os
meninosque
pedem
esmolas, os barracos nos morros, as filas nos bancos e o trânsito tiramdo
pescador as referências deque
necessita para viver: a tranqüilidade eo
mar. Evitando os deslocamentos para forada
comunidade
de origem, os pescadores hoje assistem seus filhos partirem para o centroda
cidadeem
busca deum
novo
trabalhoque não
a pesca.De
acordocom
a pesquisa realizada auma
tendência nos pescadores a estesde oútras pessoas,
mas
apenasdo
mar, das redes edo
barco,o
pescadortem
a sensaçãoda
liberdade,podendo
dispor de seutempo
da maneiraque
mais lhe parece conveniente.Por
saberonde pode
encontrar alimento para sobreviver, o trabalhador da pescamenospreza
muitas das “necessidades” colocadas pela sociedade deconsumo.
Assim,poucos
são os pescadoresartesanais que buscam, através
do
trabalho, oganho
exagerado.A
maioria contenta-secom
o
que
dispõe,sem
lutar pela conquistada
cidade,do
mercado,do mundo.
.A conquistaque o
3.
E
O
PROCESSO DE COMERCIALIZAÇÃO
E
O
FINANCIAMENTO DOS
MEIOS
DE
PRODUÇÃO
3.1..
CARACTERIZAÇÃO
DA
PESCA
ARTESANAL
Enquanto
uma
forma
específica de produção, a pesca artesanal estabelece relaçõesfundamentais passíveis de caracterização. Primeiramente, há a ausência de assalariamento de
mão
de obra e vínculos empregaticios legais.O
pleno domíniodo
processo de trabalho, aliadoao conhecimento empírico, passado de geração para geração, das condições naturais
da
pesca.Em
um
segundo plano, há a ausência de acumulaçãode
capital, e a constante Iusticidade dosinstrumentos de trabalho
-
embora tenham
adquiridopequena
tecnologiacom
O tempo.Segundo
Diegues,em
diversos trabalhos, aforma
artesanal deprodução
pesqueira seenquadra
no
conceito depequena
produção mercantil,onde
uma
das característicasfundamentais dessa
forma
de produção é sua articulação a outras formas de produçãoque
lhe são dominantes,como
éo
caso da pesca artesanal e sua relaçãocom
a comercialização.Uma
articulação de dependência,onde
uma
necessitada
outra para se reproduzir.É
de fundamentalimportância para
O
capital comercial que a pesca artesanal continue a ter suas relações própriade assalariamento e reprodução, pois assim retira da esfera
do
capital comercial os possíveis prejuízos e investimentosem
produção. 'Essa
articulaçãotampouco
éuma
justaposiçãode
formas
diferentesde
produção.Cada
uma
delas tem leispróprias de reprodução
de
seus fatores e de suas relaçõesde
produção, (...)
cada
uma
das
formas
temum
ciclo definidode
reprodução de seus elementos
que
se influenciammutuamente
quando
articulados. É,no
entanto,o tempo
ou
ciclode
as modalidades
da
reproduçãodo
sistemacomo
um
todo. (Diegues, 1983, p. 204)A
pesca artesanal será aqui trabalhadacomo
sendo aquela realizada por grupos depescadores,
com
tripulaçãoque
varia de 2 a 5 pessoas,em
barcos denão
mais de 12 metrosde
comprimento
- sempre abertos -,
com
utilização de remos, para barcos pequenos,ou na
suamaioriamotores de centro a diesel.
A
tecnologiaempregada
seresume
a utilização de motor,eao
emprego
de redes de náiloncompradas no
mercado,não
mais feitas artesanalmente pelos pescadores.A
produçãodo
pescadotem
como
fim
o
mercado, isto é, a pescatem
como
finalidade a venda, sendo regida pelo princípio da mercadoriacomo
forma
de obter dinheiro, para se adquirir outras mercadorias(M-D-M).
A
unidade de produção é normalmente familiar,ou
de vizinhança, sendocomo
forma de remuneração aadoção
da divisãoem
partesou
~
quinhao.
O
sistema da pesca artesanal se caracteriza pela utilização comunitária de determinadosrecursos,
como
os peixes.São
recursos naturais renováveis de propriedade de todos aquelesque vivem
na comunidade,ou
seja, a gestão comunitária esta subordinada a propriedade coletivaonde
todos os dacomunidade
tem
acesso.Não
éuma
propriedadeembasada
em
fatos legaisou
burocráticos,mas
sim na históriada
comunidade,no
dia a dia de vida e aprendizado de preservação, poisdependem
desta preservação comunitária para manter-seo
acesso comunitário aos recursos.É
relevante a relaçãodo
pescador artesanalcom
a natureza, relação esta básica para se determinar a pescacomo
artesanal.Uma
caracteristica-fundamental éque
todoo
conhecimento,o
sucessoou o
insucesso da pescaria se deve ao pescador, pois é- na sua relaçãocom
o
mar,o
vento, a lua, a temperatura, a época certa e a rede certa para cada espécie de peixe,
que
este traduz a sua experiência, valoriza suamão
de obra, e estabeleceuma
relaçãosem
igualcom
os fatores ambientais. Juntocom
estabagagem
de sabedoria,o
pescador artesanal respeita osciclos de desova e crescimento, pois sabe
que
destes depende as próximas safias.A
sobrepescaque se realiza hoje
compromete
a pesca da safra seguinte, e o pior, a pesca feita fora de sua época,na
épocada
desova, diminui consideravelmente os estoques de pescado,sempre
num
CTCSCCIIÍC. i
É
importante a sobrevivência dessas culturashumanas
paraque
omeio
ambienteem
que
elasvivem
seja preservado.As
comunidades de pescadores artesanais apresentam inúmeros exemplos de proteção e usoadequado
dos recursos naturais edo meio
ambiente queservem
delição
não
só à sociedade brasileiracomo
um
todo,como
também
aosmovimentos
ambientalistas.3.2.
SALÁRIO
E
LUCRO
/ACUMULAÇÃO
DE
CAPITAL
A
particularidade na remuneração salarial, dentrodo
modo
de produçãodo
pescador artesanal, segue a lógica de socializaçãoda
produção,onde
todos (patrão, mestre e camaradas) dividem a produção, sendo favorávelou não
para todos.Forma-se
um
contrato de parceria,agrupando os pescadores independentes; tanto os possuidores dos barcos e dos apetrechos de
pesca,
como
os despossuídos de meios de produção (camaradas),mas
inseridosno
modo
de
vida da pesca artesanal-
grande maioria dos pescadores artesanais.A
remuneração sedá
pelo sistema de partes, quinhãoou
partilha.Do
total da produção,metade fica
parao
proprietárioda
embarcação e da rede, e a outrametade
é dividida entre os que participaramda
produção, o mestre e os camaradas.Caso
o mestre não seja odono
dos meios de produção, este recebetambém
um
quinhão dos50%
referentes ao proprietário dos meios de produção.Quanto
ao óleo diesel utilizado na produção, há casosem
que
se descontao
valor correspondente ao óleo antesda
divisãoda
produção, e casosem
que o proprietário da embarcaçãoassume
os custosdo
óleo, dentro dos-seus50%
pertencentes.Deste
modo,
o pescador camarada, despossuído de quaisquer meios de produção,participa
do
processo unicamentecom
sua força de trabalho e saber da pesca.Recebe
paratanto, parte percentual