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Percepção dos residentes sobre a classificação do Douro como Património da Humanidade

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PERCEPÇÃO DOS RESIDENTES SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DO

DOURO COMO PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

Dissertação de Mestrado em Gestão

ANA FILIPA AMARAL PINHEIRO

Orientador: Professor Doutor Carlos Peixeira Marques

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

PERCEPÇÃO DOS RESIDENTES SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DO

DOURO COMO PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE

Dissertação de Mestrado em Gestão

Autor:

Ana Filipa Amaral Pinheiro Orientador:

Professor Doutor Carlos Peixeira Marques

Composição do Júri:

Professora Doutora Carmem Teresa Pereira Leal Professora Doutora Ana Paula Rodrigues

Professor Doutor Carlos Peixeira Marques

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Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão, sendo apresentado na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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Agradecimentos

Agradeço a toda à minha família, especialmente aos meus pais pela preocupação diária e à GG pela ajuda preciosa nos questionários e prontidão em me substituir no trabalho, as palavras são insuficientes para exprimir a gratidão que tenho para contigo.

Agradeço ao Carlitos por todo o apoio mesmo suportando a minha constante ausência. Agradeço à Cátia companheira desta aventura, o esforço valeu a pena pela tua amizade.

Agradeço também ao meu orientador pelo auxílio na realização deste trabalho. A todos o meu muito obrigado.

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Resumo

A designação Património Mundial da Humanidade (PMH) atribuída pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) constitui um marco importante num território, acarretando desafios culturais, económicos e de preservação. Neste sentido, torna-se importante a inclusão no poder de decisão local da população residente, agente fulcral na gestão de um destino turístico classificado.

A presente dissertação estuda a percepção dos residentes locais face ao Douro classificado como PMH. Assim, foram analisadas as percepções dos habitantes de dois locais pertencentes ao Douro Património da Humanidade (DPH) – a cidade do Peso da Régua e a aldeia de Vila Marim – obtendo-se 300 questionários válidos. Procedeu-se à adaptação de uma metodologia quantitativa, onde os resultados permitiram concluir que os inquiridos estão satisfeitos com a designação atribuída ao Alto Douro Vinhateiro (ADV).

Das quatro variáveis independentes estudadas (benefícios, impactes, ligação ao local e relação com turistas), apenas os benefícios percebidos e os impactes da classificação PH explicam a variável dependente satisfação.

Os resultados apontam ainda para percepções positivas dos residentes face aos benefícios e impactos oriundos da designação PH. Indicam também uma forte ligação dos residentes à Região Duriense e constata-se uma evolução positiva em relação ao acolhimento do visitante pelos locais. Nesta perspectiva, para além da análise das mudanças provocadas pela classificação do DPH, os resultados sugerem que se deve dar maior ênfase à população local nos projectos de desenvolvimento, uma vez que a sua percepção é a de que a designação DPH teve efeitos positivos sobre a imagem do Douro e a actividade turística que não se terão concretizado em benefícios concretos para os residentes, particularmente no que respeita ao acesso a bens culturais.

Este estudo preenche a carência de estudos nacionais sobre a satisfação da população local com a classificação Património Mundial da Humanidade, nomeadamente sobre o papel das atitudes relativamente aos efeitos e impactes da designação na satisfação com a mesma, neste caso 10 anos após a sua ocorrência.

Palavras – Chave: Douro Vinhateiro, Residentes, Património Mundial da Humanidade, Satisfação, Turismo.

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Índice

Agradecimentos ... iii

Resumo... iv

Índice de tabelas ... vii

Índice de figuras ... viii

Lista de abreviaturas ... ix

Capítulo 1. Introdução ... 1

1.1. O contexto do estudo: Douro Património da Humanidade, história e conceptualização ... 1

1.2. Pertinência e contribuições do estudo ... 14

1.3. Problema de investigação e objectivos... 14

1.4. Questões de investigação ... 15

1.5. Estrutura global da dissertação ... 17

Capítulo 2. Enquadramento conceptual ... 19

2.1. Investigações de estudos base - percepção turística ... 19

2.1.1. Impactes da classificação PMH ... 19

Impactes na Imagem ... 21

Impactes na Paisagem ... 21

Impactes no Turismo ... 22

Impactes nas Relações... 24

Impactes nos Transportes ... 25

Impactes na Cultura... 26

2.1.2. Benefícios da classificação PH... 26

2.1.3. Relação com Turistas ... 27

2.1.4. Ligação ao local ... 28

2.2. Modelo Conceptual e Hipóteses ... 30

Capítulo 3. Metodologia ... 31

3.1. Tipo de investigação ... 31

3.2. Construção do instrumento de recolha de dados ... 31

3.3. População-alvo e amostra ... 32

3.4. Métodos e técnicas de análise... 36

Capítulo 4. Apresentação e Discussão dos Resultados ... 37

4.1. Caracterização da amostra ... 37

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4.2.1. Impactes da Classificação DPH... 39

Impacte na Imagem ... 39

Impacte na Paisagem... 39

Impacte no Turismo... 40

Impacte nas Relações ... 40

Impacte nos Transportes ... 41

Impacte na Cultura ... 41

4.2.2. Benefícios da classificação ... 42

Efeitos nos Residentes ... 42

Efeitos nos Agentes Turísticos ... 42

4.2.3. Relação com Turistas ... 42

Conviver ... 43

Contactar ... 43

Informar ... 43

4.2.4. Ligação ao local ... 44

4.2.5. Satisfação com a classificação PH ... 44

4.2.6. Média global das escalas ... 45

4.3. Verificação das hipóteses ... 46

Capítulo 5. Conclusão ... 49

5.1. Implicações académicas e sociais ... 51

5.2. Limitações do estudo ... 51

5.3. Futuras linhas de investigação ... 52

Bibliografia ... 53

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Índice de tabelas

Tabela 1 – Salvaguarda do Alto Douro Vinhateiro ... 10

Tabela 2 – Caracterização da amostra por habilitações literárias ... 37

Tabela 3 – Caracterização da amostra por género ... 37

Tabela 4 – Caracterização da amostra por estado civil ... 38

Tabela 5 – Caracterização da amostra por actividades relacionadas com o turismo ... 38

Tabela 6 – Impacte na imagem ... 39

Tabela 7 – Impacte na paisagem ... 40

Tabela 8 – Impacte no turismo ... 40

Tabela 9 – Impacte nas relações ... 41

Tabela 10 – Impacte nos transportes ... 41

Tabela 11 – Impacte na cultura ... 41

Tabela 12 – Efeitos nos residentes ... 42

Tabela 13 – Efeitos nos agentes turísticos ... 42

Tabela 14 – Conviver ... 43

Tabela 15 – Contactar ... 43

Tabela 16 – Informar ... 44

Tabela 17 – Ligação ao local ... 44

Tabela 18 – Satisfação ... 45

Tabela 19 – Média global das escalas ... 45

Tabela 20 – Correlação entre variáveis ... 46

Tabela 21 – Resultados da regressão linear – método stepwise ... 47

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Índice de figuras

Figura 1 – Região Demarcada do Douro e Douro Património da Humanidade ... 3

Figura 2 - Processo de classificação Património da Humanidade ... 8

Figura 3 - Modelo Conceptual ... 30

Figura 4 – Proposta de novo modelo conceptual ... 48

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Lista de abreviaturas

ADV- Alto Douro Vinhateiro

AEVP - Empresas do Vinho do Porto

CCDRN – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte CGAVAD - Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro CPH - Centro Património da Humanidade

CPM - Convenção Património Mundial DPH - Douro Património da Humanidade EMD - Estrutura Missão do Douro

FRAH - Fundação Rei D. Afonso Henriques

GTI - Gabinete Técnico Intermunicipal do Alto Douro Vinhateiro ICOMOS - International Committee on Cultural Tourism

INE - Instituto Nacional de Estatística IPT - Instituto de Turismo de Portugal IVDP - Vinhos do Douro do Porto

NUT – Unidades Territoriais Estatísticas de Portugal

PDTVD - Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro PENT - Plano Estratégico Nacional do Turismo

PEPR - Plano Estratégico do Município do Peso da Régua PETD - Pólo Estratégico Turístico no Douro

PH - Património da Humanidade PIB - Produto Interno Bruto

PIOT - ADV - Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro PMH - Património Mundial da Humanidade

RDD - Região Demarcada do Douro

UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization UTAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro

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Capítulo 1. Introdução

A classificação Património Mundial da Humanidade - PMH pela UNESCO1 (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization) é tida como uma alavanca de desenvolvimento sobretudo nas economias rurais (Jimura, 2011).

Graças à classificação da Região do Douro como Património da Humanidade – DPH e consequente desenvolvimento da actividade turística, o património duriense ganhou valor económico, verificando-se iniciativas dirigidas para a revitalização e requalificação do mundo rural, criadas com o intuito de fortalecer o território, as actividades agrícolas e a promoção turística da Região (Medeiros, 2010).

Devido à importância da classificação PMH e à actividade turística na Região Duriense, torna-se imperativo o desenvolvimento sustentável de um território, sendo o papel dos actores intervenientes fundamental. Entre estes agentes encontra-se a população residente que “de

forma mais ou menos activa, é actor participante indissociável num cenário compósito como é o destino turístico” (Guerreiro, Mendes, Valle & Silva, 2008).

Considera-se, assim, fundamental entender a percepção dos residentes locais sobre os impactes da classificação Património da Humanidade - PH, no sentido de implementar políticas de intervenção e salvaguarda que envolvam a população local e equacionem um íntegro desenvolvimento sustentável na Região.

1.1. O contexto do estudo: Douro Património da Humanidade, história e conceptualização

“Beleza Absoluta” foi como Miguel Torga, (2001) definiu a Região demarcada mais

antiga do Mundo - o Douro. Esta paisagem única combina a habilidade do homem com o esplendor da Natureza (Aguiar, 2002), constituindo uma manifestação de firmeza, audácia e inteligência humana (Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território – PIOT, 2001).

1

No fim da Segunda Guerra Mundial, 37 países reuniram-se numa conferência com o intuito de criar uma organização que prevenisse o mundo de uma terceira grande guerra e que implementa-se a “solidariedade moral e intelectual na

humanidade”, deste modo no dia 16 de Novembro de 1945 foi fundada em Londres a UNESCO (Jimura, 2011), com o

objectivo de criar diálogo entre as civilizações espalhando uma mensagem de paz. Esta organização tem como missão global a eliminação da pobreza, a implementação da paz, o desenvolvimento sustentável e a interacção multicultural através da educação, ciências, cultura, comunicação e informação (UNESCO, 2014), por outro lado, é sua missão o incentivo à identificação, protecção e preservação do património mundial de valor excepcional para a humanidade, alertando toda a população para a sua preservação e sustentabilidade (Hitchcock, 2002).

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A plantação de vinha, o fabrico do vinho e as origens durienses remontam aos Romanos, subsistindo ainda nos dias de hoje alguns lagares cavados na rocha e estruturas de armazém em villae que atestam os primórdios durienses (Aguiar, 2002).

Durante a Idade Média, a importância da actividade vinícola encontra-se manifestada através de forais pertencentes a ordens religiosas, outrora detentoras de grandes quintas produtoras do vinho generoso (PIOT, 2001) e que desde logo deixaram importantes marcas na paisagem da Região (CCDRN, 2011).

No séc. XVI a qualidade do vinho já era reconhecida em toda a Europa, surgindo posteriormente em 1675 a denominação de “Vinho do Porto” num documento referente a exportações para a Holanda (Figueiredo, 2006).

Com o aumento da comercialização do vinho do Porto durante o século XVII, o negócio trouxe novos habitantes de diferentes culturas ao Douro, essencialmente galegos que se deslocavam com o intuito de participar nos labores das vinhas (CCDRN, 2011).

Foi com a implementação do Tratado de Methuen2, em 1703, que o Vinho do Porto passa a beneficiar de taxas aduaneiras na exportação para Inglaterra (cujas transacções estão catalogadas desde 1651), conseguindo preferência e consequente desenvolvimento regional (Sousa, 2002). Assim, o aumento da produção de vinho e o seu reconhecimento internacional impulsionaram as vendas, iniciando-se uma fase de desenvolvimento e consequente extensão de: povoações, armazéns vinícolas, vinhas, casas e quintas, muros de xisto, e socalcos - traços de um árduo trabalho de conquista na transformação de pedra em terra cultivável (PIOT, 2001).

Em meados do século XVIII, face a uma crise de superprodução, o Marquês de Pombal, ministro do Rei D. José, institui através de uma proposta elaborada por lavradores do Douro e homens-bons do Porto a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro (CGAVAD) (Pereira, 1994), cujos objectivos focavam o “fomento da cultura da vinha no

Alto Douro, a protecção da pureza do produto e o controle dos preços” (PIOT, 2001).

Criava-se assim a primeira região vitícola regulamentada e demarcada do mundo. Esta denominação no presente representaria a designação de origem controlada.

A Região Demarcada do Douro (RDD) ficou composta por 22 municípios distribuídos por três sub-regiões o Baixo Corgo, Cima Corgo, e o Douro Superior, compreendendo cerca de 250.000 hectares (Turismo do Douro, 2014).

2

O Tratado de Methuen ou Tratado dos Panos e Vinhos realizou-se entre Inglaterra e Portugal, onde os britânicos se comprometeram a consumir o vinho português e em contra partida os portugueses comprometeram-se a consumir os têxteis ingleses.

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Figura 1 – Região Demarcada do Douro e Douro Património da Humanidade

Fonte: Sousa, 2013

A constituição da CGAVAD e a decorrente delimitação da Região Demarcada do Douro culminou num processo de cadastro de propriedades e de uma rígida legislação regulamentadora constituída por um mecanismo de categorização e certificação de qualidade dos vinhos, distinguindo os vinhos de feitoria –“vinho fino”, destinado à exportação para o mercado Inglês. Houve ainda um parcelamento das vinhas e um cálculo da produção de cada Quinta com o objectivo de classificar os vinhos e as parcelas em função da qualidade (Tavares, Pádua, Coimbra, & Sousa, 2010).

Em 1756 surgem no Douro as primeiras directrizes regulamentadoras, que em oposição ao sucedido previamente em outras regiões demarcadas (Chianti a 1716 e Tokay a 1737) compunham mecanismos essenciais para uma inspecção de qualidade e um plano de ordenação e apreciação de vinhos realizados através do registo de vinhas. Com estas medidas implementadas, a Região transforma-se num modelo pioneiro tido como exemplo por vários países (Aguiar, 2002), sendo que algumas destas dimensões encontram-se ainda hoje na base de gestão de vários produtores de vinho por todo o mundo (CCDRN, 2011).

Assim, a partir de meados do séc. XVII o Douro apresenta um importante papel económico e politico no panorama nacional, devido sobretudo à relevância adquirida na balança comercial portuguesa (Medeiros, 2010 cit Gaspar, 1993).

Por outro lado, desde a constituição da CGAVAD houve uma preocupação na harmonização paisagística, com a proibição de construções junto ao Rio Douro e destruição de cachoeiras, assim como abolição do famoso Cachão da Valeira. Estas medidas tiveram

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como propósito a uniformização da paisagem e o alinhamento do Rio Douro no sentido de obter melhor escoamento do produto até ao Porto (Figueiredo, 2006). Por outro lado, a via-férrea denominada como a linha do Douro foi inaugurada a 1887 aumentando assim, as acessibilidades à região com cerca de 203 quilómetros sendo estes maioritariamente construídos junto às margens do rio Douro (Lourenço-Gomes & Rebelo, 2012).

A modelagem paisagística Duriense, iniciada na Idade Média, toma forma de socalcos atingindo o seu auge nos séculos XVIII e XIX, destacando-se este último pela inserção do caminho-de-ferro e das pontes metálica que estão presentes na paisagem de toda a Região (Figueiredo, 2006).

A delimitação do território duriense iniciou-se entre 1757 e 1761, tendo sido realizada através de demarcações pombalinas e da utilização de 201 marcos graníticos - Marcos Pombalinos (CCDRN, 2011). Segundo alguns autores (Pereira, 1994) e (Aguiar, 2002), estas delimitações possuem ainda hoje uma forte carga simbólica para a comunidade local constituindo um símbolo de orgulho e poder Regional.

No seguimento, desde a demarcação até ao presente o Douro conheceu vários institutos reguladores, responsáveis pelas normas, fiscalização do vinho e pelo correcto desenvolvimento da Região. Presentemente as principais instituições regulamentadoras são:

- Casa do Douro, representante dos trabalhos vínicos e possuidora do cadastro da região.

- Associação das Empresas do Vinho do Porto (AEVP)

- Instituto do Vinhos do Douro do Porto (IVDP), instituição reguladora do Estado com o objectivo de “fiscalizar o processo produtivo, controlar a qualidade do vinho e defender a

denominação de origem, tanto em Portugal como no estrangeiro” (Sousa2002).

A Região Duriense não é apenas conhecida pelo fabrico do melhor vinho licoroso da terra – o Vinho do Porto (Aguiar, 2002). O Douro integra ao mesmo tempo um panorama vitícola sem igual e um património único, “pela sua história, pela diversidade e qualidade

reconhecida dos seus vinhos, por uma paisagem excepcional, resultante de uma actividade humana secular na criação e valorização económica da viticultura”(Sousa, 2002).

Traduzindo a excelente integração entre a escassez do solo e da água e o declive acentuado da terra (PIOT, 2001), estas especificidades que advêm da compreensão e experiência do cultivo do vinho em posição tão hostil fazem do Douro o ponto geográfico mais relevante da Região Norte (Sousa, 2002).

(17)

A RDD possui ainda, um troço que se estende ao longo das encostas e dá nome aos quilómetros de xisto e anfiteatros - o rio Douro, “elemento estruturador de todo o ADV” (Aguiar et al., 2001) que constituiu veículo de correspondência e deslocação decisivo até finais do séc. XIX, e que no presente “possibilita navegação turística, comercial e

recreativa” (Carvalho et al., 2009). Por ele outrora, foram transportados barcos rabelos com

vinho generoso, indivíduos e produtos. Possuidor de caracter e ambição, “entra e sai de

Portugal a desgastar pedra” (Torga, 1945), “ocupando o primeiro lugar na importância dos rios peninsulares”(Carvalho et al., 2009).

Assim, “a paisagem cultural do Alto Douro Vinhateiro - ADV é demasiado rica e

importante pelo que era urgente e estrategicamente importante o reconhecimento do seu património a nível mundial” (Carvalho et al., 2009), deste modo, as especificidades

paisagísticas e culturais do Douro fizeram com que a 30 de Junho de 2000, tenha sido entregue em Paris a candidatura do Alto Douro Vinhateiro – ADV a Património da Humanidade.

O conceito de Património da Humanidade foi introduzido pela UNESCO em 1972, através da Convenção do Património Mundial3 - CPM (Jimura, 2011). Segundo Leask, (2006), existem três tipos de classificação de Património Mundial da Humanidade: Património classificado como Cultural, Natural e Misto, sendo o património cultural composto por três categorias: monumentos, grupos de edifícios e sítios (UNESCO, 2014).

Em 1992, foi reconhecida a importância das tradições vivas e prosseguidas que unem pessoas aos lugares, assim surgiu um novo tipo de bem: as paisagens culturais que apresentam

“obras conjugadas do homem e da natureza” (UNESCO, 2014).

O desígnio Património Cultural foi introduzido em 1998, como o maior exemplo de expansão da designação PH (Jimura, 2011). No sentido de conservar os bens culturais, os Estados parte, reúnem esforços para:

a)Adoptar uma política geral que vise determinar uma função ao património cultural e natural na vida colectiva e integrar a protecção do referido património nos programas de planificação geral;

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A UNESCO adoptou em 1972 a Convenção do Património Mundial, Cultural e Natural, que tem por objectivo proteger os bens patrimoniais dotados de um valor universal excepcional, possui guias de gestão que visam entre outros aspectos elucidar a comunidade para a valorização e orgulho dos sítios classificados através de meios educacionais e de programas de informação, por outro lado exige aos Estados Partes que envolvam a população e que esta tenha um papel activo em todas as fases que a classificação acarreta (Grimwade & Carter, 2000).

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b)Instituir no seu território, caso não existam, um ou mais serviços de protecção, conservação e valorização do património cultural e natural, com pessoal apropriado, e dispondo dos meios que lhe permitam cumprir as tarefas que lhe sejam atribuídas;

c)Desenvolver os estudos e as pesquisas científicas e técnica e aperfeiçoar os métodos de intervenção que permitem a um Estado enfrentar os perigos que ameaçam o seu património cultural e natural;

d)Tomar as medidas jurídicas, científicas, técnicas, administrativas e financeiras adequadas para a identificação, protecção, conservação, valorização e restauro do referido património;

e)Favorecer a criação ou o desenvolvimento de centros nacionais ou regionais de formação nos domínios da protecção, conservação e valorização do património cultural e natural e encorajar a pesquisa científica neste domínio (UNESCO, 2014).

Segundo a Convenção para a Protecção do Património Mundial Cultural e Natural, para a inscrição de bens culturais na lista do Património da Humanidade é essencial ter em conta os seguintes critérios: “autenticidade, que no caso das paisagens culturais se traduz

pelo seu carácter e as suas componentes singulares e sustentabilidade regulamentar e de gestão, traduzida por um conjunto de condições jurídicas, institucionais e organizativas que assegurem a protecção do Bem Cultural, implicando garantias de gestão, conservação e acessibilidade pública do bem” (Sousa, 2002).

Subsistem ainda itens que fundamentam a denominação de valor universal excepcional, onde cada bem cultural tem de possuir pelo menos um de seis critérios, não sendo necessário a sua conjugação, a saber:

• “Obra-mestra do génio criativo;

• Testemunho de importantes intercâmbios de influência sobre a criação de paisagens, numa área cultural determinada ou durante um determinado período;

• Testemunho único ou pelo menos excepcional de uma tradição cultural ou de uma civilização viva ou desaparecida;

• Exemplo evidente de uma paisagem ilustrativa de um ou de vários períodos significativos da história humana;

• Exemplo evidente de ocupação territorial representativa de uma cultura ou culturas, sobretudo se apresenta factores de vulnerabilidade face à mutações irreversíveis;

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• Associação directa ou material a acontecimentos ou tradições vivas, ideias, crenças ou obras artísticas e literárias de significado universal excepcional (não sendo este critério suficiente por si só) ” (Sousa, 2002).

Após análise dos critérios propostos pela UNESCO, entendeu-se que das seis parcelas durienses analisadas até então (Douro de Transição, Alto Douro, Arribas do Douro, Las Vegas, Ribera del Duero e Montaña) só o ADV reunia condições para ser classificado Património da Humanidade. Para o reconhecimento do ADV como território preferencial para classificação, foi necessário descrever quais os seus pontos fortes e os pontos fracos, a saber:

Pontos Fortes:

- “Características geomorfológicas de interacção homem-natureza e de memória

preservada e valorizada que permitiram a aplicação do conceito de paisagem cultural; - A Região constitui uma excepcional obra conjugada da natureza e do homem; - O Alto Douro constitui a primeira demarcação no mundo de uma zona de denominação de origem, podendo dizer-se que a demarcação histórica precedeu o próprio conceito;

- As características de excelência de uma paisagem cultural evolutiva viva, que apresentavam fortes potencialidades de sustentação do ponto de vista produtivo;

- A afirmação, nos tempos mais recentes de uma imagem exterior (nacional e internacional) de excelência e qualidade;

- A existência de firmas internacionais e de produtores locais interessados e apostados na valorização da plantação de vinha em socalco como instrumento de uma imagem de qualidade e prestígio” (Sousa, 2002).

Pontos Fracos:

- "Território com capacidade endógena enfraquecida, não só no plano demográfico,

como no domínio empresarial;

- Eixo urbano em torno do qual se organiza a fileira de serviços da economia do Vinho no Douro – Régua e Vila Real – que não constituía a base urbana e patrimonial exemplar do ponto de vista da complementaridade de funções;

- A classificação da paisagem cultural do Douro exigia e uma dinâmica de associativismo intermunicipal bastante embrionária” (Sousa, 2002).

No seguimento, iniciou-se “o processo de classificação que é relativamente

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Figura 2 - Processo de classificação Património da Humanidade

Fonte: (Jimura, 2011)

Todo o processo de candidatura do ADV a PH deveu-se à Fundação Rei D. Afonso Henriques – FRAH4, instituição financiadora de todas as investigações referentes ao parecer da UNESCO e responsável por reunir uma equipa multidisciplinar produtora de todos os estudos inerentes á candidatura. Por forma a fortalecer a mesma, foi necessário uma conexão entre valências técnicas, agentes locais e regionais que identificaram a relevância e bem comum da classificação do ADV como Património da Humanidade.

Segundo o autor (Sousa, 2002) esta candidatura teve como principais objectivos homenagear todos aqueles que durante anos construíram em condições por vezes adversas o

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FRAH é uma instituição Hispano-Portuguesa privada com participação pública, que pretende reforçar as parcerias entre Portugal e Espanha em termos de desenvolvimento socioeconómico e cultural no Douro e em todo o país (Fundação Rei Afonso Henriques, 2014).

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Douro majestoso que hoje gozamos. Por outro lado, constituiu objectivo desta proposta a valorização da Região e os seus recursos despertando acções com vista ao desenvolvimento sustentável e promovendo ao mesmo tempo o desenvolvimento económico por forma a melhorar a qualidade de vida da população local.

A área da Região do Douro a classificar como PH foi escolhida por um estudo de caracterização paisagístico organizado pela FRAH, ficando compreendida por uma décima parte da RDD com cerca de 24 mil hectares uma zona a que se chamou ADV. Esta zona ficou composta por treze concelhos representativos das três sub regiões durienses que compilam um conjunto de valores significativos em bom estado de conservação e exemplificam da melhor forma o Douro como um todo (Turismo do Douro, 2014).

As investigações realizadas pela FRAH serviram de directrizes para o reconhecimento do “valor excepcional e universal” da Região. No seguimento, e com o intuito de estabelecer regulamentação para os Municípios envolvidos e gerar responsabilidade em relação à paisagem e património foi deliberado a execução do Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território – PIOT, cujos objectivos focaram a: “definição de uma estratégia intermunicipal

para a salvaguarda e gestão da paisagem cultural, articulação com outros planos e programas de interesse local, regional e nacional, análise das redes intermunicipais de estruturação do território com as componentes de povoamento, infra-estruturas, transportes e equipamento, análise das actividades económicas e sua incidência na dinâmica, económica, social e ambiental numa perspectiva integrada de valorização, protecção e utilização dos recursos naturais e dos valores culturais em presença”(PIOT, 2001).

Face à UNESCO foi indispensável apresentar garantias de gestão e salvaguarda do bem que se propunha para inscrição (ver tabela 1). Assim, no sentido de apoiar a defesa e gestão do património foram criadas duas entidades, o Gabinete Técnico Intermunicipal do Alto Douro Vinhateiro (GTI) que auxilia todos os municípios na gestão paisagística e a Associação Promotora do Alto Douro Vinhateiro que intervém como mediadora entre o sector público e privado auxiliando os Municípios em consultoria e Gestão da paisagem, sempre em parceria com o GTI.

As três instituições acima citadas foram criadas pela FRAH e estabelecidas pelo Programa ON, Media 2.1 Douro, designado por Ordenamento e Gestão do Alto Douro Vinhateiro a Património Mundial (Sousa, 2002).

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Tabela 1 – Salvaguarda do Alto Douro Vinhateiro

 Planos Directores Municipais

 Plano Intermunicipal de Ordenamento do Território do Alto Douro Vinhateiro (PIOT-ADV)

 Gabinete Técnico Intermunicipal do Alto Douro Vinhateiro

 Liga dos Amigos do Douro – pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, sob a forma legal de associação cultural e de intervenção cívica

Fonte: Sousa, 2002

No seguimento, a paisagem a classificar evidencia “os valores, uns mais anímicos

outros mais materiais, que permitiram ao fim e ao cabo, que chegassem aos nossos dias testemunhos de um passado que orgulham e emocionam” (Patrão, 2008).

As delimitações foram executadas segundo componentes físicos como, rodovias, trilhos, pequenos rios consultados através da Carta militar de Portugal. Deste modo a área a classificar abrange 24 600 hectares, cerca de uma décima parte da RDD (250 000) incluindo no Baixo Corgo os concelhos de Mesão Frio, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Sabrosa, Vila Real, Armamar e Lamego, o Cima Corgo representado pelos concelhos de Alijó, São João da Pesqueira, Tabuaço e Vila Nova de Foz Côa, e o Douro Superior já totalmente no distrito de Bragança abrange os concelhos de Carrazeda de Ansiães e Torre de Moncorvo (Figueiredo, 2006), a restante área da Região foi considerada “zona-tampão” (Aguiar, 2002).

O concelho com maior área abrangida a classificar é S. João da Pesqueira com cerca de 4.71 ha que representa 19,29% da área total, correspondendo a 17.75% da área do concelho, contudo o concelho com maior área classificada é Mesão Frio com cerca de 29,22% em todo o seu território, apesar de corresponder apenas a 3,91% da área global. Por outro lado, os concelhos com menor área classificada são Vila Real e Torre de Moncorvo com cerca de 600 ha de área correspondendo a cerca de 1,64% e 4,52% respectivamente da área total dos concelhos (Tavares et al., 2010).

A candidatura foi aprovada pela Comissão Nacional da Unesco e pelo Centro do Património Mundial, e após decisão do Comité do Património Mundial na 25ª sessão realizada em Helsínquia (CCDRN, 2011), a adaptação desta paisagem-recurso à actividade vinhateira multissecular, enraizada em diversas culturas, levou a UNESCO a considerar, a 14 de

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Dezembro de 2001, o Alto Douro Vinhateiro como uma paisagem cultural evolutiva viva, com um valor excepcional e universal de paisagem vitícola (Pereira, 2004).

Segundo a declaração de valor da UNESCO, a classificação do ADV teve por base critérios territoriais, culturais, económico e sociais, pois “ o Alto Douro produz vinho desde

há dois mil anos, e desde o séc. XVIII o seu principal produto, o vinho do Porto, é mundialmente famoso pela sua extraordinária qualidade. Esta longa tradição produziu uma paisagem cultural de beleza excepcional que é ao mesmo tempo o reflexo da sua evolução económica e social” (UNESCO, 2014).

Para o ICOMOS o ADV deveria ser inscrito como PM pelos seguintes critérios, a saber (Cf. Anexo 4):

“Critério III: A Região do Douro tem produzido vinho à cerca de 2000 anos e a sua

paisagem foi moldada pela actividade humana;

Critério IV: Os componentes da paisagem do Alto Douro são representativos de todas as actividades associadas à produção de vinho, atestados pelos terraços, quintas, aldeias, capelas e estradas.

Critério V: A paisagem cultural do Alto Douro é um brilhante exemplo da produção tradicional do vinho na Europa, reflectindo a evolução desta actividade humana ao longo dos tempos” (UNESCO, 2014)

A classificação do Douro como paisagem cultural, evolutiva viva veio dar o seu contributo e impulso a várias alterações que já estavam iniciadas na região, visto o projecto de candidatura definir um conjunto de medidas, ver tabela 1 de ordenamento e gestão do território, qualificação e valorização ambiental, entre as mais importantes encontra-se a elaboração do PIOT-ADV.

Por outro lado, veio potencializar a internacionalização da região duriense, passando esta a ser reconhecido em todo o mundo pelo seu caracter evolutivo e valor excepcional, contudo esta oportunidade de desenvolvimento acarreta a grande responsabilidade de homenagear todos os que durante anos colaboraram para a edificação do Douro como ele é hoje (Aguiar, 2002).

Após a classificação DPH, a região tem sido aclamada como um destino turístico único e de valor, contudo a oferta turística no Douro está confinada na sua maioria aos cruzeiros fluviais no rio Douro (Carvalho et, al., 2009).

No panorama turístico a Região tem sido alvo de diversas iniciativas, através sobretudo do apoio de fundos comunitários, no sentido de revitalizar e gerir o valor do

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turismo sobretudo através do Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT) que concebeu o Pólo Estratégico Turístico no Douro (PETD). A criação de Pólos Estratégicos por parte do Turismo de Portugal, I.P. possibilita o aumento da oferta turística e minimiza a submissão dos territórios face às três principais regiões do turismo nacional, respondendo estes da melhor forma à procura turística, estimulando a actividade a nível nacional e gerando receita económica a nível regional (Turismo2015, 2014).

Assim, os PETD detêm aptidão financeira própria, desenvolve parcerias com os privados e o Turismo de Portugal, I. P. no sentido de desenvolver projectos que promoção a actividade turística na Região Duriense (Carvalho et al., 2009).

No seguimento, foi também criado o Plano de Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro (PDTVD). No sentido de gerir e implementar PDTVD foi criada a Estrutura Missão do Douro (EMD) que colabora com o Instituto de Turismo de Portugal (IPT) e detém como missão “dinamizar acções para o desenvolvimento integrado da Região do Douro e

promover a articulação entre as entidades da administração central e local com competências na região, bem como estimular a participação e a iniciativa da sociedade civil”, por outro lado é da competência da EMD o auxílio e protecção do PIOT e da

classificação do DPH possuindo como metas a defesa da paisagem, do ambiente e da cultura duriense (CCDRN, 2014).

Consta na Agenda Regional de Turismo um Plano de Acção para o Desenvolvimento Turístico do Norte de Portugal, que prevê em 2015, uma taxa de crescimento anual de dormidas na Região de cerca de 7%, esperando efectuar-se cerca de 7,2 milhões de dormidas, mais 3.36 milhões que o ano 2006, onde se registaram cerca de 3,84 milhões (Carvalho et al., 2009). Este apontamento terá repercussões no DPH.

Esta designação acarreta não só benefícios mas também muitas responsabilidades ao nível da preservação e gestão. A classificação pode constituir barreiras na construção de infra-estruturas e no desenvolvimento de indústrias, podendo estes conduzir a impactos ambientais, paisagísticos (Jimura, 2011) e nos modos de vida das populações locais (ICOMOS, 1999).

Não obstante, existem impactos positivos na paisagem, como por exemplo a construção e preservação de muros de xisto, a abolição de lixeiras e a transformação de cais e zonas ribeirinhas. Estas alterações foram introduzidas por um documento desenvolvido pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – UTAD (Carvalho et al., 2009), PIOT, garantia de gestão e salvaguarda do património aquando do processo de classificação pela UNESCO.

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Segundo a UNESCO Centro Património da Humanidade – CPH existe um fundo que oferece aos estados parte: assistência de preparação, cooperação técnica, treino de assistentes, assistência de emergência, assistência para a educação. Por outro lado, após classificação de um sitio a UNESCO verifica regularmente se os critérios estão a ser bem geridos, se existem falhas na conservação, excesso de conservação ou desastres naturais. E caso exista algum problema a denominação pode vir a ser retirada (Shackley, 1998).

Assim, após a classificação é fundamental a existência de um plano de conservação, para encorajar a população local à preservação (Smith, 2002). Segundo Jimura, (2011) “O

desafio do planeamento de uma área classificada passa por balançar a procura turística com os desejos dos residentes”, o ideal será que cada sitio classificado possua o seu plano de

gestão, e partilhe com os visitantes (Jimura, 2011). Todavia, existirá sempre dicotomia entre a conservação PH para futuras gerações e a disponibilidade do património nos dias de hoje para questões educacionais (ICOMOS, 1999).

Neste sentido para o DPH a EMD “desenvolverá esforços para cooperar na protecção

do património, contribuindo na manutenção de um justo equilíbrio entre conservação, sustentabilidade e desenvolvimento. Visando garantir, simultaneamente, a protecção dos bens do património mundial, o desenvolvimento social e económico e a qualidade de vida das comunidades”. Esta organização propõe-se concretizar parcerias entre os vários agentes

económicos, quer públicos e privados “no sentido da valorização económica do território e

do fomento da competitividade e coesão territorial da região “, enaltecendo “a marca "Douro”, em benefício do desenvolvimento regional” (CCDRN, 2014).

Segundo o autor Smith, (2002) levanta questões sobre a problemática das infinitas classificações PH, que no futuro levará à desvalorização do significado e valor da classificação PH, por outro lado alguns sítios classificados começam a competir com outros no sentido de obter mais turistas, este fenómeno começa a ganhar maior dimensão ano para ano (Evans, 2002).

Assim, todos os sítios classificados têm por obrigação exibir um bom modelo de gestão, no sentido de administrar da melhor forma a actividade turística de um local Património Cultural (Boniface, 1995), visto que “a genuinidade, beleza e diversidade de

atributos, fazem do Vale do Douro um território com potencial para se tornar num dos produtos turísticos de referência no País” (Carvalho, 2009 cit CCDRN, 2004).

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1.2. Pertinência e contribuições do estudo

Segundo Jimura (2011), a classificação PMH acarreta mudanças positivas e negativas na comunidade local, existindo três factores fundamentais para estas alterações, a saber: o rápido e instantâneo desenvolvimento turístico após a denominação; o elevado nível de apelo ao turismo doméstico; e a atitude dos residentes face à conservação da cultura local e designação atribuída.

Do ponto de vista académico, as atitudes dos residentes são a chave para a identificação, importância e análise das mudanças causadas pelo turismo (Hall & Page, 1999; Ryan & Montgomery,1994). Focando esta perspectiva, e reconhecendo a falta de estudos na comunidade científica que analisem a satisfação dos residentes face à denominação PMH, torna-se imperativo estudar quais os impactos da classificação nos locais, visto que a falta de envolvimento dos residentes pode implicar falhas no desenvolvimento sustentável de uma localidade classificada (Nicholas, Thapa & Jae Ko, 2009). Assim, o presente estudo analisa a perspectiva dos residentes face ao DPH.

Esta investigação poderá auxiliar a comunidade científica nacional e internacional na compreensão das motivações dos residentes de uma área classificada, possibilitando um processo integrado para as localidades que aspiram pela denominação PMH, poderá também contribuir para o desenvolvimento sustentado da actividade turística na Região e para a consciencialização dos agentes económicos e governamentais sobre a importância da população no planeamento e na gestão de um sítio classificado, no sentido de promover a sua conservação.

Espera-se ainda que este trabalho possa vir a contribuir para que a população local possa sentir-se não apenas como receptora de visitantes, mas como comunidade representativa do património classificado (International Committee on Cultural Tourism - ICOMOS, 1999).

1.3. Problema de investigação e objectivos

As investigações que abordam os territórios classificados pela UNESCO analisam essencialmente os impactos da actividade turística (Jimura, 2001) desvalorizando as consequências que a classificação PMH acarreta por si só. Sendo a designação PMH um forte motivo para a atracção de turistas ao local classificado, é importante a inclusão da comunidade local no plano de sustentabilidade, gestão turistica e patrimonial da Região, visto

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que “nos territórios classificados o envolvimento dos residentes é crucial para a criação de

uma experiência memorável ao turista” (Zamani & Farahani, 2008).

Não obstante, o valor cultural e natural deve ser preservado, no sentido de promover um desenvolvimento sustentável e medidas de gestão que incorporem os pontos de vista e o envolvimento de todos os agentes, principalmente os residentes locais (Nicholas et al., 2009), pois a autêntica satisfação dos residentes depende mais do seu ponto de vista do que da análise dos impactos gerais da classificação PMH (Jimura, 2011).

Assim, no sentido de colmatar a falta de investigação científica sobre o DPH, e perceber as motivações dos residentes, decidiu-se reflectir sobre a percepção dos residentes face à classificação PMH. A recolha de dados foi efectuada em dois locais durienses com dimensões distintas (aldeia e cidade) e que representam da melhor forma a população global.

Pretende-se que a elaboração deste estudo culmine num Douro sustentável, através de estratégias que conservem e estimulem as características sociais e financeiras dos residentes, assim como a preservação do património natural, edificado e cultural (Rodrigues, Marques, Vieira & Teixeira, 2013) implementando medidas que harmonizem as carências e aspirações da população local, originando “sustentabilidade social, económica, cultural e ambiental” (Guerreiro et al., 2008).

Constitui objectivo desta investigação a identificação das percepções dos residentes relativamente ao processo e resultados da denominação DPH, nomeadamente:

- Identificar os impactos resultantes da classificação DPH; - Perceber os efeitos decorrentes da classificação DPH;

- Avaliar a satisfação dos residentes com a classificação DPH.

1.4. Questões de investigação

- A partir do objectivo desta investigação foram elaboradas algumas questões às quais se pretende dar resposta:

- Os Residentes Durienses estão satisfeitos com a classificação do Douro a Património da Humanidade?

- Quais os impactos da classificação sobre os residentes?

- O desenvolvimento do turismo está directamente relacionado com a classificação do Douro a PH?

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- Existem benefícios percebidos para os residentes e agentes económicos após a classificação?

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1.5. Estrutura global da dissertação

A presente investigação encontra-se dividida por cinco capítulos, a saber: introdução, enquadramento conceptual, metodologia, apresentação e discussão de resultados e conclusão.

No primeiro capítulo é introduzido o tema em estudo e são explicadas as contribuições, pertinência e problema de investigação, objectivos, questões de investigação e estrutura global da dissertação. No capítulo dois são expostas as investigações que serviram de base à elaboração do presente estudo, bem como o modelo conceptual da investigação. No capítulo três será exposta a metodologia, com destaque para as várias fases de construção do questionário e para os métodos e técnicas de análise.

No capítulo de apresentação e discussão dos resultados far-se-á uma análise descritiva do perfil dos respondentes, procedendo-se ainda à verificação das hipóteses do estudo. Por fim, na conclusão exprimir-se-ão as principais deduções do estudo, a sua utilidade do ponto de vista académico, empresarial e político, sendo ainda expostas as suas limitações e novas propostas de investigação.

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Capítulo 2. Enquadramento conceptual

Neste capítulo, após a revisão da literatura que “auxilia na realização do balanço de

conhecimentos referentes ao problema de partida” (Campenhoudt & Quivy, 2003),

definir-seá o modelo conceptual que orientará a pesquisa empírica.

2.1. Investigações de estudos base - percepção turística

2.1.1. Impactes da classificação PMH

Após pesquisa bibliográfica verifica-se a ausência de estudos que relacionem a satisfação da população local face à designação PMH, optando-se pela adaptação de alguns estudos sobre atitudes dos residentes face ao turismo, no sentido de justificar da melhor forma o modelo em estudo.

A grande maioria das investigações turísticas analisa os turistas, sendo dada pouca importância aos residentes locais. Contudo, a perspectiva dos residentes sobre as mudanças ocorridas são mais importantes para o desenvolvimento de um território do que o conhecimento que realmente ocorre num local devido ao crescimento do turismo e à designação PMH (Jimura, 2011).

No geral, os estudos turísticos analisam os impactos económicos inerentes à actividade descorando outras consequências. Segundo Jansen-Verbeke (1995), cingir a análise da actividade turística aos impactos económicos pode acarretar não só antagonismo social nos residentes face à actividade turística, como pode causar danos irreversíveis na cultura da comunidade. Deste modo, Jimura (2011) identifica no desenvolvimento da actividade turística não só impactos económicos, mas também impactos sociais, culturais, físicos e de atitude.

Assim, como mencionado anteriormente, não subsistindo muitas investigações referentes a sítios classificados que analisem os impactos do turismo e os impactos da designação PH, por si só nos residentes, compôs principal artigo de apoio ao presente trabalho, a investigação de Jimura (2011). Este artigo analisa os impactos da classificação PMH nas comunidades locais, e referencia quatro mudanças a ela inerentes: as mudanças

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económicas, socioculturais, físicas e de atitude. Segundo o autor, existem vários modelos de estudo que analisam sítios culturais classificados como PMH, contudo na sua perspectiva, não basta analisar um território classificado, torna-se também fundamental investigar as mudanças ocorridas no local PH no sentido de conciliar a gestão desta designação, o planeamento de um destino turístico e um território favorável para viver.

Por outro lado, os artigos que analisam a perspectiva dos residentes locais sobre a actividade turística numa zona classificada como PMH apresentam-se como investigações fundamentais na elaboração do presente trabalho. Neste sentido, para Nicholas et al., (2009) e Lee, (2012), é fundamental o conhecimento do nível de apoio dos residentes face à actividade turística e a sua sustentabilidade num local classificado. Os resultados das suas investigações apontam para uma falha do envolvimento da comunidade local na classificação PH, esta lacuna implica problemas na sustentabilidade da designação PH e no território como destino turístico.

No seguimento, Ribeiro, et al,. (2012) analisa também a percepção dos impactos e as atitudes dos residentes face à actividade turística num local classificado, examinando impactos positivos, negativos e de governação e a consequente necessidade dos residentes serem ouvidos e chamados a participar no desenvolvimento turístico, no sentido de elaborar politicas de planificação para o progresso da actividade. Os resultados deste estudo revelam, entre outros resultados, que os residentes que habitam numa zona mais urbana e que possuem maior grau de escolaridade tendem a identificar mais frequentemente a ocorrência de impactos positivos oriundos da actividade turística. Neste sentido, optou-se no presente trabalho por analisar uma sítio rural e outro urbano no sentido de obter maior homogeneidade de resultados.

Noutra perspectiva, analisando os artigos de Zamani-Farahani & Musa, (2008); Vargas-Sánches, et al., (2010) e Eusébio & Carneiro (2010) sobre a percepção dos residentes locais face ao desenvolvimento da actividade turística, constata-se que apesar do forte apoio dos locais no desenvolvimento do turismo, e da identificação de maior número de impactos positivos que negativos ocorridos pelo desenvolvimento do turismo, os habitantes locais verificam-se pouco envolvidos no planeamento e na gestão da actividade, sendo necessário a sua participação para o correcto desenvolvimento da actividade e sustentabilidade numa Região.

Para a análise da interacção entre residentes e turistas serviu de auxilio o artigo de Reisinger & Turner, (1998), que defende a importância do contacto entre culturas diferentes

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para a existência de consequências positivas entre turistas e visitantes, satisfação da visita e repetição da mesma por parte do turista.

Impactes na Imagem

A imagem “conceito complexo e multidisciplinar” (Carvalho, Salazar, Neves, 2009) é a forma como cada um de nós percepciona um item de maneira não deliberada, sendo os

“componentes psicológicos ou intangíveis de difícil medição por estarem ligadas ao imaginário e psique de cada um” (Carvalho et al., 2009).

Considera-se que o reconhecimento de valor num território pela UNESCO e consequente classificação PMH promove a imagem de um território trazendo visibilidade e reconhecimento nacional e internacional a um local (Shackley, 1998).

A nobreza da designação facultada pela UNESCO traduz um grande prestígio para o local classificado (Smith, 2002), simbolizando um selo de autenticidade e qualidade para o mercado turístico (Bianchi, 2002).

Por outro lado, sendo o reconhecimento e imagem fundamental para o desenvolvimento da actividade turística, países desenvolvidos e subdesenvolvidos anseiam pela classificação PMH e pela projecção que esta conduz (Jimura, 2011).

A atmosfera de um local classificado cria uma imagem de um destino turístico na mente das pessoas, proporcionando uma identidade visual para os visitantes e um motivo de orgulho para os residentes (Jimura, 2011).

Assim, a classificação PH e o turismo transformam um local, trazendo impactos positivos na imagem de um destino (Law, 2002).

Impactes na Paisagem

Os impactos físicos na paisagem de uma área classificada, principalmente nas áreas fragilizadas e que não possuem um bom plano de gestão, podem ser negativos, e advir da criação de infra-estruturas de apoio ao turismo que transformam a paisagem. Por outro lado, o excesso de visitantes constitui uma ameaça na preservação paisagística (Smith, 2002).

Não obstante a designação PH emprega limitações na “manutenção de elementos mais

tradicionais com a procura de soluções técnica e economicamente eficientes na cultura da vinha e mesmo em imobiliárias, ligadas, por exemplo, à habitação, turismo, adegas e armazéns agrícolas, para a sua protecção é importante contemplar informação prestada por peritos de áreas distintas de vários estudos e do envolvimento dos residentes locais”

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Deste modo, a salvaguarda do património será penosa, sendo necessário a harmonização entre os componentes culturais e a expansão económica, focando sempre a qualidade de vida dos seus residentes (Lourenço-Gomes & Rebelo, 2012).

Impactes no Turismo

O turismo é apontado como o primeiro e maior sector económico a nível mundial (Richter, 1989) representando 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial (Brida, Monterubbianesi & Zapata-Aguirre, 2011). Esta actividade complexa cujo “exercício

equilibrado depende do funcionamento de um variado conjunto de outros sistemas” (Cunha,

2001) relaciona-se com vários campos do conhecimento (Przeclawski, 1993), produzindo efeitos multiplicadores5 entre os vários actores no espaço onde actua.

Com a crescente dinamização do turismo, o papel dos actores que intervêm na actividade é decisivo para o sucesso de um destino. Entre estes actores encontra-se a população residente que “de forma mais ou menos activa, é actor participante indissociável num cenário

compósito como é o destino turístico” (Guerreiro, et al., 2008).

O modo como o turismo é dirigido e projectado leva à percepção dos seus impactos pelos residentes (Mason, 2003). Segundo Rodrigues et al. (2013), o “apoio dos moradores ao

desenvolvimento do turismo pode ser afectado pela percepção dos impactos (económicos, sociais, culturais e ambientais) do turismo, tanto negativos como positivos”.

Deste modo, sendo o turismo uma actividade em permanente crescimento, é essencial reconhecer que esta não produz efeitos apenas positivos, sendo importante acompanhar a sua evolução e estar atento, em especial, a todos os eventuais impactos de carácter negativo, ao nível económico e social (Cristóvão, Medeiros, & Melides, 2010). No seguimento torna-se relevante que os fundamentos da gestão turística de um território resultem na concepção de projectos motivadores no sentido de envolver os residentes e reduzir os impactos negativos (Rodrigues et al. 2013).

A percepção dos impactos no turismo pelos locais permite um íntegro planeamento da designação PMH. Embora este desafio de sustentabilidade influencie as regiões urbanas, toma configurações singulares nas regiões rurais, “menos auto-suficientes e autónomas e mais

sensíveis às tendências internacionais” (Martins, 2003).

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Segundo Luís, (2002) os efeitos multiplicadores constituem os resultados económicos que se reflectem para além do momento em que o consumo turístico se efectua, em sectores relacionados com a actividade ou não.

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Por outro lado, a visita a um sítio classificado como Património Cultural pela UNESCO tem sido cada vez mais o principal motivo pelo qual as pessoas viajam (Zamani-Farahani & Musa, 2008).

Segundo Nicholas et al. (2009) na maioria dos destinos turísticos a população não se encontra envolvida nas decisões e planos de gestão, contudo existe uma conexão positiva entre os locais e o apoio ao turismo. Assim, existindo envolvimento entre o visitante e os locais, o conceito de comunidade pode aumentar assim como os impactos positivos do turismo levando logicamente à redução de impactos negativos (Lee, 2012).

Todavia, a percepção dos residentes face à classificação PMH é vital para um desenvolvimento sustentável da actividade turística (Jimura, 2011).

No geral os residentes admitem que o turismo afecta positivamente um território (Andereck & Vogt, 2000), sendo as pessoas que trabalham directamente na actividade ou que possuem familiares a trabalhar, as que detêm maior percepção de benefícios oriundos do turismo (Vargas-Sánchez, et al., 2010).

Os impactos percebidos primeiramente pelos residentes são os de carácter económico (Vargas-Sánchez, et al., 2010), entendendo-se que “a percepção dos residentes face aos

impactos do turismo está relacionada com o nível de desenvolvimento turístico” (Waitt,

2003).

Admitindo que existe uma relação entre a classificação PMH e o número de visitantes (Rodwell, 2002), e que essa designação aumenta o turismo no seu todo e especialmente o turismo doméstico (Jimura, 2011), compreende-se que a população local identifique no turismo alguns impactos positivos após a classificação PMH, nomeadamente no potencial para gerar emprego (Nicholas et al., 2009), na junção de gerações, na construção de infra-estruturas para a comunidade (Jimura, 2011), no orgulho dos residentes pela sua cultura e classificação (Hall & Page, 1999), na solidariedade entre a comunidade local (Jimura, 2011), no aumento da variedade de negócios, no desenvolvimento de actividades culturais, na restauração de centros históricos no aumento do sentimento de identidade étnica (Ribeiro, et al., 2012), atribuição de valor económico ao território e melhor forma de vida para os residentes (Greffe, 1994).

Deste modo, a percepção de impactos positivos no turismo leva a uma atitude positiva dos locais em relação ao mesmo (Vargas-Sánchez, et al., 2010). Todavia os residentes têm melhor percepção dos benefícios ocorridos pelo turismo quando: possuem maior contacto com

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turistas, moram em sítios urbanos, detêm níveis de educação superiores (Ribeiro, et al., 2012) e maior conhecimento acerca do turismo (Cordero, 2008).

Não obstante, impactos negativos ocorridos no turismo são enumerados em algumas investigações, como impactos ambientais, socioculturais e económicos (Kausar, 2011). Segundo Hall and Page, (1999) os locais com maior desenvolvimento da actividade turística são os que possuem maior taxa de desemprego e ao mesmo tempo maior número de taxa de emprego precário, devido sobretudo, à sazonalidade, contratação de equipas do exterior, baixos salários, trabalhos braçais e com baixa qualificação, trabalhos em part-time, baixo reconhecimento, alta taxa de rotatividade (Jimura, 2011 cit Simms et al.,1988; Gordon & Brian, 2000; Krippendorf, 1987; Pearce, 1989; Williams, 1998) e “demasiada dependência de

trabalho feminino” (Pearce, 1989).

A classificação PMH pode também conduzir ao aumento de trânsito e degradação de áreas naturais e culturais (Ribeiro, et al. 2012), construção de infra-estruturas só para visitantes, como parques de estacionamento (Page, 1995), barulho, aumento nos custos de vida (Hall and Page, 1999) e nas economias rurais não desenvolve a agricultura, sendo em muitos casos a principal actividade económica no território (Kausar, 2011).

Pearce, (1994) afirma que os residentes do centro de um destino turístico têm maior percepção de impactos negativos do que os que vivem mais distantes, sendo os residentes com idade mais avançada os menos positivos em relação aos efeitos do turismo na sociedade (Ritchie, 1988). Em relação à diferença entre culturas, é de referir que segundo Pearce, (1982) quanto maior a diferença cultural entre residentes e visitantes, maior a percepção de impactos negativos oriundos do turismo. Porém, é importante mencionar que “a percepção de impactos

negativos não afecta a atitude dos residentes” (Vargas-Sánchez, et al., 2010).

Assim, para minimizar impactos negativos oriundos do turismo “acredita-se que as

necessidades dos moradores das regiões turísticas têm prioridade no planeamento da actividade, e estes devem ser incluídos de forma justa nas decisões e execução da actividade turística” (Gomes, Romaniello, Silva, 2006), pensando sempre no turismo como fenómeno

social e como actividade económica (Argolo & Bomfim, 2011).

Impactes nas Relações

Com a classificação PMH a relação entre os residentes apresenta-se com maior união e solidariedade, constituindo esta designação um motivo de orgulho entre os locais e de união entre os diferentes agentes económicos (Jimura, 2011). Esta designação, leva ao aumento do número de população no local classificado, através da criação de emprego pelos agentes

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económicos, ou através da criação do próprio emprego pelos habitantes que decidem permanecer ou regressar ao seu local de residência (Grimwade & Carter, 2000).

Por outro lado, a designação PMH atrai visitantes ao local classificado arriscando trazer assimetrias na relação com os locais, pois enquanto os residentes “trabalham e tentam

satisfazer as suas necessidades de sobrevivência, os turistas tentam usufruir do seu tempo de lazer” (Eusébio & Carneiro, 2010). Assim, espera-se que a cultura dos locais seja semelhante

à dos visitantes para que não exista impactos e diferenciação de valores (Ribeiro, et al., 2012). Segundo Jamal & Getz, (1999) um local classificado pela UNESCO pode ser partilhado por moradores, turistas, sector público conduzindo o aumento da actividade turística à coesão da população local (Ryan, 1991).

Neste sentido, é importante analisar a interacção entre locais e turista, no sentido de potencializar o respeito, tolerância, aprendizagem, disponibilidade e satisfação entre ambos (Pearce, 1982). Esta interacção entre visitante e residente possibilita ao turista maior conhecimento da cultura local em particular e do destino em geral, contribuindo desta forma para maior satisfação do visitante face à viagem.

Todavia, este contacto quando composto por culturas significativamente diferentes pode causar impactos negativos e mau estar geral, influenciando o comportamento e experiências de ambos (Reisinger & Turner, 1998). Estes impactos podem advir da diferença linguística (entrave na comunicação e entendimento), da interacção, de sentimentos (Reisinger & Turner, 1998), da disparidade de idealismos, de crenças e percepções (Sutton, 1967).

Sabe-se que as consequências do contacto entre residentes e turistas está largamente associado “a aspectos culturais e às condições de interacção” (Reisinger & Turner, 2002). Assim, após revisão literária conclui-se que de maneira geral quanto maior a semelhança cultural entre residentes e turistas maior a interacção, contacto, compreensão e aprendizagem entre ambos.

Impactes nos Transportes

Não existem na literatura artigos científicos que analisem impactos no sector dos transportes após a classificação PMH, em contrapartida este item é estudado na actividade turística (Jimura, 2011).

Pese embora, a consequência mais evidente da classificação PH está intimamente relacionada com o aumento significativo do número de turistas e excursionistas (Jimura, 2011), sendo importante perceber a complexidade da actividade turística, visto que esta

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congrega em si um alargado conjunto de actividades e produtos de diversas naturezas, envolve uma multiplicidade de agentes económicos e os seus impactos fazem-se sentir transversalmente por toda a economia.

No sentido de planificar a actividade turística e a designação PH é importante que vários especialistas analisem variados itens, assim como o desenvolvimento dos transportes (Jimura, 2011).

O desenvolvimento dos transportes permite o acesso dos visitantes a locais classificados, segundo Page, (1995) as principais infra estruturas que podem surgir devido ao desenvolvimento do turismo são: aeroportos, estradas, auto-estradas, parques de estacionamento, que trazem não só importantes benefícios para os turistas mas também para os residentes.

Impactes na Cultura

O termo cultura é difícil de definir (Page & Hall, 2003). Segundo Tylor, (1924) a cultura representa “o conhecimento, crenças, arte, leis, costumes e outras capacidades

adquiridas pelo homem enquanto membro de uma sociedade”. Porém, a cultura de um local

não é apenas composta por itens intangíveis como a identidade, costumes e tradições, mas também por itens tangíveis como monumentos, produtos locais e paisagem (Jimura, 2011).

Cada território possui valores culturais distintos o que difere cada turista e cada residente (Reisinger & Turner, 1998). As diferenças culturais, individuais e colectivas por vezes unem os indivíduos, proporcionando proximidade entre residentes e visitantes oferecendo ao habitante local melhor compreensão da sua própria cultura (Williams, 1998).

Segundo Long, (1984) o turismo pode trazer mudanças no caracter social do destino. Este caracter social refere-se à forma como a actividade turística conduz a algumas alterações na população local, tais como: o nível de valores, qualidade de vida e crenças.

Por outro lado, a classificação e o consequente desenvolvimento da actividade turística proporciona o aumento da cultura local, a revitalização de tradições, actividades, eventos, sentimento de orgulho e união entre residentes, possibilitando experiências de autenticidade ao turista Hall & Page, (1999).

2.1.2. Benefícios da classificação PH

Segundo Jimura, (2011), de todos os benefícios percebidos após a classificação, os benefícios económicos constituem os mais importantes para os residentes locais. Sendo os

Imagem

Figura 1 – Região Demarcada do Douro e Douro Património da Humanidade Fonte: Sousa, 2013
Figura 2 - Processo de classificação Património da Humanidade Fonte: (Jimura, 2011)
Tabela 1 – Salvaguarda do Alto Douro Vinhateiro
Figura 3 - Modelo Conceptual
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Referências

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